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segunda-feira, 8 de maio de 2017

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15413: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - II (e última) Parte




Porto-Bissau... Expedição >  21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva > O tão desejado avião da TAP...


Porto-Bissau... Expedição >  21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva...

O que restou de Portugal, na Guiné-Bissau, por comparção com a herança inglesa (na Gâmbia) e francesa (no Senegal) ? O que resta de Portugal na Senegâmbia ? Fomos os primeiros europeus a chegar a esta vasta região da Africa sariana e subsariana... A pergunta (e a provocação) é do Abílio Machado, que a percocorreu, de jipe, entre 26 de dezembro de 2013 e 9 de janeiro de 2014,,, Ficou de nos mandar fotos, que não mandou... Socorremo-nos de outras, mais antigas, da expedição Porto-Bissau, realizada em abril de 2006, por alguns camaradas nossos (o Xico Allen e o A. Marques Lopes) e onde o Hugo Costa, filho do Albano Costa, se integrou.

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


II (e última) parte da crónica do Abílio Machado


[foto atual à direita; Abílio Machado,  ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]


Porto-Dakar - Parte II

por Abílio Machado

[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ]


Um fim de dia global : na Mauritânia estamos, no Hotel Emira, camaronês, dormimos, no restaurante Huzur, turco, comemos. Bem. Na companhia do grupo espanhol. Boa.


Porto-Bissau, expedição. 10 de abril de 2006. Dia 6.
Rua de Nouakchott, capital da Mauritânia.
Foto: © Hugo Costa (2006)
Quarto triplo : 127 euros. A cotação está alta ou a oferta baixa e muita a procura…


Nouakchott [, a capital], uma cidade em terra batida, onde mal adivinhas um centro, se o há, um chafariz monumental, sem água, em cada multibanco um guarda, o Islão impera, homens de vestes islâmicas, as mulheres de cabeça coberta, algumas emburqadas.

Emborcar é coisa que não farás, se o não trazes, aqui não o compras, não há uma pinga de álcool à venda… Nem cães, não se vêem cães na Mauritânia…

Vê-los-ás de novo no Parque Nacional de Diawling, e verás tucanos, pegas, da azul e da negra, abutres, perdizes, javalis, esquilos, ginetos, e mais pelicanos e garças, uma explosão de vida selvagem, não, não é um safari, embora se veja por aqui muito bicho selvagem, o homem que é o pior de todos, e algumas mulheres…

Porto-Bissau, expedição. 12 de abril de 2006. Dia 8. 

 Viagem de Tambacunda (Senegal) até à Guiné-Bissau... 

Babuínos(ou macacos-cães). 
Foto: © Hugo Costa (2006)
Há algo de diferente hoje : o ar quente, há mais acácias, e mais verdes, ali um embondeiro, capim, enfim a savana… Entramos na África negra : mais escura a cor da pele, a roupa é um revoltear de cores vivas, há um aroma de luxúria, na mulher e na vegetação…

Senegal, cidade de Saint Louis, La langue de Barbarie : ao lusco-fusco, as ruas fervilham de agitação, uma correria de gente e carroças, jumentos amestrados transportam os donos a casa e aos negócios, fazem-se ofertas, vendem-se os últimos produtos…

O Senegal é um mercado só, tudo é uma venda e todos vendedores, até o que julgas ser um favor é um negócio e tem um preço, a polícia de trânsito é o exemplo, a extorsão pratica-se às claras, uma multa - não importa se legítima - é regateada como uma venda, 18.000 fr. cfas podem num ápice reduzir-se a 11.000, nunca mostres o dinheiro que tens, levam-to todo, tiram-to da mão, a venalidade e a corrupção começam de cima, quem os ensinou?...

Da África negra direi : a pobreza, a sobrevivência, as crianças “cadeau, cadeau”, o lixo plástico, os jumentos, os mercados, tangerinas, caju, telemóveis e acessórios, panos, água em sacos, gelo, bolos, doces fritos na hora, bolachas à unidade, melancias, feno, lenha, mancarra, carne, moscas e pau de Cabinda, não sei se me entendem… mas também das acácias vivas, das mangueiras, dos embondeiros, aquela flor do embondeiro lembrou-me a declinação latina “ rosa-rosae”, das palmeiras, dos rios, graves, pachorrentos, das árvores que não florescem como se a flor lhes exigisse demasiado esforço e energia.

Direi mais : dos jovens, deitados, apáticos, sem destino e sem futuro, a fome entristece, a pobreza enlouquece, do calção roto, do pé descalço, também do telemóvel, da parabólica à porta da cubata de adobe.

De súbito, nesta viagem, La Grande Mosquée de Thiamène…um marco nesta viagem, a ela acorrem muçulmanos de todo o Senegal.

Porto-Bissau, expedição. 13 de abril de 2006. Dia 9. 
  Guiné-Bissau: Quinhamel.Foto: © Hugo Costa (2006)
 

Guiné-Bissau

A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição. E a aventura, que sempre me estimula. A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra, gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.

A entrada da fronteira fazia-se pelo leste da Guiné, a região a que pertence Bambadinca, o quartel onde cumpri o serviço militar. Aí tive as primeiras emoções, direi melhor, decepções.

Em Bafatá, a segunda cidade da Guiné, a degradação das antigas casas comerciais é escandalosa, é chocante ver algumas delas, hoje edifícios públicos, ao abandono, os funcionários à porta, desocupados.

Porto-Bissau, expedição. 16 de abril de 2006. Dia 12. 
Mansoa, ponte (portuguesa) sobre o rio
Foto: © Hugo Costa (2006)
Na avenida que conduz ao cais serpenteia-se por entre buracos. A alguns kms de Fá-Mandinga, onde Amílcar Cabral realizou as suas primeiras experiências de agronomia, Bafatá quis lembrá-lo e implantou um busto do libertador, olhando o Geba… Abandonado e sujo está o pai da Nação, os novos líderes esquecidos da sua herança.

No aeroporto que usei tantas vezes, a caminho ou no regresso de Bissau, já não aterram aviões, desde fins dos anos 90 é uma avenida urbanizada, com um hotel/discoteca, algumas tabancas e casas inacabadas.



Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14. 
Saltinho, a ponte (portuguesa) sobre o rio Corubal
ainda lá estava, rija, de pé.
Foto: © Hugo Costa (2006)
Manhã cedo, rumamos a Bambadinca, ao encontro das emoções. Revi amigos, abracei-os, o tempo não corrói a amizade, mas altera as feições, não os reconheceria ao fim de tantos anos. Na face de alguns, algumas, a miséria escreveu rugas e decrepitude, mulheres sós, mortos os maridos, lutam pela vida numa sociedade que lhes é madrasta; a outros, outras, a fome ou a doença derrotou-os.

O pequeno aeródromo que servia o quartel é hoje ocupado por um mercado - é assim em toda a Guiné- onde, como no país vizinho, tudo é vendável.


Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14. 

O mítico  rio Corubal,no Saltinho. Foto: © Hugo Costa (2006)
Do quartel - fui recebido pelo 2º Comandante, dois dos seus subordinados acompanharam-me numa visita às instalações - recuso falar : a degradação total, destruídos os bares, as messes, os quartos, só alguns gabinetes são usados.

De pé e a funcionar, a igreja e a escola missionária S. José : para os alunos, na pessoa do director e professores, deixamos o que levávamos de ajuda humanitária : óculos de sol, roupas, bolas, livros, cadernos, mochilas, canetas. A alegria das crianças guineenses, como em toda a África, é contagiante : nada têm, mas na face um sorriso cativante, sempre, que se transforma em dança, saltos, cabriolas à mais pequena dádiva, um pequeno saco de caramelos solta alegrias, às vezes lutas…

Bissau é a praça da Independência, o Hospital e a Assembleia Nacional Popular…tudo o resto é um cartão de visita calamitoso que o país apresenta ao visitante.

A avenida que conduz ao cais do Pidjiguiti, e as ruas adjacentes, estão tão esburacadas como a credibilidade interna e exterior dos seus lideres políticos.

O país é isto : uma jovem mãe, mulher apreciável, um Mercedes novo, vidros fumados, aguarda o abastecimento de combustível. Descasca uma laranja com os dentes, cospe a casca e depois as pevides, pela janela… Quando aproxima o carro da bomba de combustível, a sua educação mede-se pelos restos cuspidos da laranja, não pelo rasto dos pneus.

Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 15. 
 Empada, escola Foto: © Hugo Costa (2006)
De resto, um país bloqueado, instituições paradas, projectos cancelados, ONG’s em fuga, bolanhas ao abandono, o gado mais nutrido que as pessoas, uma pequena lavra, por vezes…

E como tudo isto contrasta com o belo da natureza : mangueiras abrigam as povoações, mamoeiros, palmeiras, bagabagas, o tarrafo, os rios Geba, Mansoa e Cacheu espraiam e arrastam suas águas turvas rumo ao mar…

Mas há um aroma no ar, ou uma cor, a cor do dinheiro : chegada a expedição a Bissau, as propostas para compra dos jeeps são insistentes, qual o preço, quer vender?, a uma farmácia aonde vais em busca de álcool o dono da farmácia pergunta primeiro o preço do carro…

1 queca : 5.000 fr. cfas.

Apresento-vos a Gâmbia, mais que um país é um rio, do mesmo nome, à volta dele se faz a vida das suas gentes.

Transcrevo da Wikipédia : “…comerciantes árabes criaram uma rota comercial, que comercializou escravos, ouro e marfim. No século XV, os portugueses herdaram este comércio estabelecendo uma rota de comércio do Império MaliEm 1588, António, Prior do Crato, vendeu os direitos de exclusividade de comércio na região do rio Gâmbia aos ingleses, direitos … confirmados pela rainha Elizabeth I ”.

Um pouco de história, da nossa história não aborrece e ajuda a fazer, no ferry, a travessia do rio. A língua é a inglesa, encravada entre o português da Guiné-Bissau e o francês do Senegal, já o trânsito é continental, circula-se pela direita.

Vi um tractor na Gâmbia e um anão negro…

Transpostas as fronteiras, é a hora de uma breve comparação entre estes países. De colonizações diversas, o que se vê, o que ressalta do que ficou?

A herança francesa é visível no Senegal :

(i) identificação e organização das comunidades rurais,
(ii) poste de santé,
(iii) escolas,
(iv) universidade em Ziguinchor,
(v) mais limpeza e sanidade, algumas povoações esmeradas, mesquitas, sinalização e indicativos de velocidade…

A Gâmbia não esconde a colonização inglesa:

(i) estradas em bom estado,
(ii) sinalização e identificação das aldeias, há rails numa das estradas,
(iii) campos cultivados,
(iv) um dos ferries em bom estado e um cais novo em construção,
(v) ruas mais limpas, mercados mais cuidados, polícias, muitas mulheres polícias, todos bem fardados…

Da Guiné-Bissau, valha a verdade,

(i) as estradas do interior estão em bom estado,
(ii) pontes foram construídas sobre os rios,
(iii) os espaços Galp bem arranjados, mesmo se as bombas estão vazias…

Anda há quatro anos fugido à crise, não dorme em hotéis, toca viola, estuda temas da música fula e mandinga, vai de família em família, como as famílias se estendem por países, vai de país em país, fala francês, inglês, espanhol, vimo-lo, o grego errante, perdido, como Ulisses, quase um andrajo, magro, mochila vazia, contente de nada ter

Enfim, a chegada ao Lac Rose…e a estadia no Hotel Campement Lac Rose. O sol escondeu-se, não pudemos ver a reverberação rosa nas águas do lago…

O regresso, apressado ou económico, segundo as opiniões - em 5 dias fizemos o que na ida fizéramos em 14?? - foi feito sem incidentes de maior.

Ao contrário, alguns rallystas da African Race - passaram por nós a toda a brida, motos, buggies, camiões, no parque natural de Diawling - tiveram seus contratempos, rebocados alguns, a nossa Elisabete Jacinto dialogava com os colegas a melhor forma de socorrer um dos camiões, mais atascado que javali na lama.

Agora chama-se Sahara Desert Challenge e vai na 4ª edição...Inscrições ainda abertas!...  Arranca de Coruche no próximo dia 27 de dezembro... (LG)


Do regresso direi mais :

(i) do canto dos muezzins, às seis da manhã, em Nouakchott,
(ii) da raposa tresnoitada a caminho da toca,
(iii) dos ciclistas, sós, algures entre Nouadhibou e Nouakchott,
(iv) do almoço com Maité e Tomás no deserto mauritano, jamon, pão com tomate catalão, conservas, paio português,
(v) do cabo Boujdou (Bojador), “ quem passa além do Bojador, passa além da dor “ [, Fernando Pedssoa],
(vi) do azul do mar sarauhi,
(vii) da chuva, hélas, chuva no deserto, do vento quase um tornado, dos polícias ou soldados que em todas as povoações te obrigam a parar, o Sahara um país ocupado…

Direi dos kms do regresso :

1º dia : Dakar – Nouakchott : 600 Kms
2º dia : Nouakchott – Dakhla : 850 Kms
3º dia : Dakhla – Agadir : 1200 kms
4º dia : Agadir – Jerez de la Frontera 890 kms
5º dia : Jerez – Porto 900 kms

Quem vem e atravessa o rio… Ah, meu Porto sentido, lar, doce lar… Ah cama boa!!!

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Nota do editor:

Vd. poste anterior > 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I