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terça-feira, 20 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22120: Recordações do meu avô Fernando Brito (1932-2014) (Cláudio Brito) - Parte II: Primeiras Fotos do Serviço Militar no Ultramar: Goa, Índia Portuguesa,1955/58


Foto nº 1 > "Foto de Casamento (1955). Da esquerda para a direita: Fernando Pinto Júnior (bisavô), Fernando Brito (avô), Natacha Silva (avó), Cláudia Pinto Fernandes (bisavó). A razão pela qual o meu avô é Brito e os pais Pinto deve-se a uma zanga familiar. Quem registou o meu avô foi um tio, chamado Brito, e ao registá-lo, registou-o com o nome de Brito e não Pinto."



Foto nº 2  >  NRP Afonso de Albuquerque > A caminho da Índia Portuguesa > Egito > Porto-Saíde > 1955 >  Legenda no verso: "À minha querida Natacha, recordação do seu Fernando, tirada em Porto-Saíde, Egito"



Foto nº 3 > Índia Portuguesa > Goa > c. 1955/58 > O Fernando Brito, à esquerda, conversando com um soldado.



Foto nº 4 >  Índia Portuguesa > Goa > 15 de agosto de 1956 > Legenda no verso: "Uma brincadeira fotográfica, mas que lembrará meus pais".

 

Foto nº 5 > Índia Portuguesa > Goa > c. 1955/58 >  Legenda, no verso: "No calor ardente da Ínndia, sabe bem a água do coco"

Fotos (e legendas): © Cláudio Brito (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e membro da Tabanca Grande, nº 697, Cláudio Brito, neto do falecido major SGE, Fernando Brito (1932-2014), que fez duas comissões na Guiné, como 1º srgt,  CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74), tendo passado também pela Índia e por Angola  (*):


[Foto à esquerda: O Fernando Brito, com o neto, pouco antes de morrer]

Data - 30 mar 2021, 11:47

Assunto - Fotos do meu avô Fernando Brito.  Primeiras Fotos do Serviço Militar no Ultramar (Goa/Índia Portuguesa - 1955-1956)


Bom dia,  Luís,

Não me esqueço da nossa série. Aqui vai o fascículo número dois:

Em 1955, cinco  dias depois de casar (anexo fotografia do casamento: Foto nº 1) e 3 anos depois do serviço militar em Portugal (Polícia Militar em Coimbra onde conheceu a minha avó Natacha, cujo verdadeiro nome era Natália), entrou num barco, o NRP Afonso de Albuquerque, e rumou à Índia Portuguesa, pelo Mediterrâneo fora. 

Pela viagem parou em Porto Saíde (Egito), que aparece na foto nº 1 e, mal chegou, refrescou-se nas praias devido ao calor ardente da Índia [Foto nº 5].. Irónico é uma coisa que ele referia: o meu bisavô, seu pai, que era cego, costumava dizer "Nem que vivas 100 anos nunca viajarás tanto como eu".... Com 24 anos, o meu avô foi para a Índia e numa viagem fez mais quilómetros que o pai dele numa vida.

Na Índia Portuguesa (Goa), nos 3 anos que lá passou (1955-1958)  [, Fotos nºs 3 e 4], teve duas funções: organização e manutenção do material bélico e monitorização e cálculo dos ordenados dos soldados, que tinham que ser convertidos em Rupias, o que era uma dor de cabeça. Vinte  dias antes do final do mês,  já começava a calcular os ordenados, os quais eram gastos em duas coisas: pinga e indianas...

Outro problema era a organização e manutenção do capital humano. O material era muito pouco sofisticado (muito dele ainda comprado pelo Rei D. Carlos ao armamento remanescente da Guerra Franco-Prussiana de 1871), mesmo para a altura, e os soldados, profundamente fundidos ou afastados daquele território, sentiam que aquele era um recôndito territorial muito afastado e no dia em que caísse, caía num dia (foi o que aconteceu, a Guerra de Goa é chamada a Guerra de um Dia). 

Todavia, não ficaram amarguras (prova disso é a fusão dos nossos povos - nunca conheceram um Apu Tavares? ou um Majara Silva?). Uma das frases mais emblemáticas que o meu avô me deixou sobre a Índia Portuguesa é a seguinte: "Se os indianos começassem a mijar no topo da montanha dos gatos, os portugueses morriam afogados lá em baixo". Esta frase denota os números avassaladores entre indianos autóctones e portugueses.

Pelo meio desta primeira comissão, conheceu, entre outras pessoas, um tipo chamado Casimiro Monteiro, nascido em Goa [, em 1920, e falecido m África do Sul, em 1993], um tipo 11 anos mais velho e um sanguinário cruel. Ao interrogar individuos responsáveis pelo ativismo libertário goês, muitas vezes esses individuos saiam de maca com o lençol a cobrir a cara (interpretem como quiserem). 

Como é do conhecimento público, Casimiro Monteiro será contratado pela PIDE e planeará o assassinato de Humberto Delgado, assim como o executerá, mas não só!,  Eduardo Mondlane, líder da FRELIMO, foi também uma das suas vítimas mais notórias. 

Foram tipos como estes que fizeram certos soldados perder a fé em Deus e na bondade dos Homens e faziam a Pátria mais pútrida e com sabor a fel, mau grado a doçura calmante dos trópicos. Enfim, são individuos que fazem parte da nossa História, para o bem e para o mal.

Em 1958 volta para Portugal. Passa dois anos em Coimbra, faz dois filhos e tenta a todo o custo salvar a sua Natacha da tuberculose. Em 1961 está na altura de ir para Angola (próximos fascículos).

Um abraço,
Cláudio
________

Legenda das fotografias:

Foto nº 1 > Foto de Casamento (1955). Da esquerda para a direita: Fernando Pinto Júnior (bisavô), Fernando Brito (avô), Natacha Silva (avó), Cláudia Pinto Fernandes (bisavó). A razão pela qual o meu avô é Brito e os pais Pinto,  deve-se a uma zanga familiar. Quem registou o meu avô foi um tio, chamado Brito, e ao registá-lo, registou-o com o nome de Brito e não Pinto.

Foto nº 2 > Legenda, no verso: "À minha querida Natacha, recordação do seu Fernando, tirada em Porte-Saíde, Egito"

Foto nº 3 >   Índia (15-8-1956), Conversando com um soldado.

Foto nº 4 >  Legenda no verso: "Uma brincadeira fotográfica, mas que lembrará meus pais" (Índia, Goa, 15 de agosto, 1956).

Foto nº 5 > Legenda no verso: "No calor ardente da Índia, sabe bem a água do coco".

2. Em 22 de março último, o Cláudio Brito, filho de um filho muito amado do Fernando Brito, o Fernando José Brito (1960-2001) que morreu precocemente num acidente viário, mandou-nos mais a seguinte nota sobre o avô que o criou como filho e que tem uma história de vida que poucos de nós, que com ele privámos na Guiné, conhecemos.

Bom dia Luís Graça,

Agora paro em terras algarvias. Vivo em São Brás de Alportel e trabalho em Faro. Vida de professor. Espero que desta seja de vez .

Sim. Sempre que tiver um momento para escrever um texto, anexar umas fotografias, legendá-las e datá-las convenientemente, fá-lo-ei, com toda a certeza.

O meu avô teve uma vida longa em todos os sentidos. Começou a trabalhar aos 12 anos para o Alfredo da Silva, o fundador da CUF, aos 24 anos para fugir à PIDE (no Barreiro), enveredou pela carreira militar, foi para Coimbra onde se tornou polícia militar, depois casou, 5 dias depois (em 1955) foi para Goa, onde esteve até 1958 e na qual Goa conheceu, por exemplo, o assassino do Humberto Delgado, Casimiro Monteiro, um tipo de uma crueldade inimaginável (segundo as palavras dele).

Voltou para Portugal. Teve dois filhos no entretanto, ambos nascidos em sanatórios, pois a minha avó era tuberculosa. Depois em 1961 vai para Angola até 1968. Em 1969 volta para Portugal, onde participa na inauguração do edifício das matemáticas (há uma filmagem dele no RTP Arquivo), volta para a Guiné em 1969/1970 e só regressa em 1976 [?] [deve ser 1974].

Em Angola aproveita e tira o curso de treinador de futebol. Em 1976 volta para Coimbra. Em 1980 vai para os Açores, onde, além da continuação da carreira militar, treina uma vintena de clubes (entre os quais o Santa Clara, o Atlético, o Águias do Arrife, o Rabo de Peixe, o Mira Mar, etc.), volta para Coimbra em 1989, começa as suas tarefas como olheiro e assistente da direção desportiva da Académica e treinador dos júniores da Académica e do União de Coimbra (onde encontra tipos como o Lucas, o Febras, o Pedro Roma, o Lixa, entre outros), até 2001, altura em que abandona os relvados, já está reformado da vida militar e dedica os últimos anos da sua vida apenas a dar explicações de Matemática e Português, gratuitamente, aos miúdos do meu bairro (o Norton de Matos) no edifício das Forças Armadas, até à sua morte a 18 de fevereiro de 2014.

São 82 anos (1931-2014) com muitas coisas, histórias, álbuns e álbuns de fotografias, slides e slides com histórias e estórias, artefactos e memórias que demoram a organizar, mas com certeza que o farei com muito gosto.

Um forte abraço e até breve,
Cláudio.
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Nota do editor:

sábado, 20 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22021: Recordações do meu avô Fernando Brito (1932-2014) (Cláudio Brito) - Parte I: Angola, Teixeira de Sousa, 20 de janeiro de 1964: "A Pátria são os seus filhos e eu também os tenho"





Angola >  Leste > Província do Moxico > Vila Teixeira de Sousa [, hoje Luau]  > 20 de Janeiro, 1964 > O então 2º Sargento Fernando Brito convivendo com população considerada "terrorista"


Fotos (e legenda): © Cláudio Brito (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso amigo e membro da Tabanca Grande, nº 697, Cláudio Brito, neto do falecido major SGE, Fernando Brito (1932-2014), que fez duas comissões na Guiné, como 1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74) (*):



[Foto à esquerda: O Fernando Brito, com o neto, pouco antes de morrer]



Data - domingo, 7 mar 2021, 14:36

Assunto - Fotos do meu avô Fernando Brito  



Olá, Luís Graça, Espero que esteja bem.

Prometi-lhe há uns anos enviar uma parte do meu espólio fotográfico militar, mas no meio de 4 mudanças de casa, só agora as coisas estão a ser desempacotadas. Mando-lhe 4 fotos e um texto que, sendo da minha opinião, pode utilizar como bem lhe prouver no blogue.

Muita tinta tem corrido ultimamente fomentada pelo debate do que foi o racismo estrutural (ou é), se Portugal é ou não um país racista, se o nosso colonialismo e guerra colonial foram atos criminosos ou heróicos e se temos ou tivemos essas atitudes, na nossa História. Chega a um ponto que as falácias históricas e o discurso carregadinho de ideologia (Esquerda ou Direita) começa a fartar na sua forma de querer ver as coisas preto e branco e cansa ouvir um diálogo sobre adjetivado que, a par e passo, faz juízos de valor sobre situações que, de todo, os interveninentes do diálogo não viveram ou não compreendem ou não se debruçaram sobre o seu estudo.

A conclusão que tiro é simples: é fácil julgar o passado e fácil usar o passado como carne para canhão e arremesso político. O passado já foi, as pessoas já morreram ou estão a morrer ou não falam ou não querem falar e, por isso, chamá-los de "Heróis", "Criminosos", "Racistas", "Intelectuais", "Desertores", "Apátridas", "Fachos", "Traidores", etc, são chavões que eles aguentam bem. Mas a simples verosimilhança de tal está longe de ser comprovada no preto e branco dessas palavras.

Deixo-vos quatro fotografias: Angola, Teixeira de Sousa, 1964, onde o meu avô, um simples 2º Sargento na altura, deleitava-se com um banho e abraçava as crianças do "inimigo" como se suas fossem. (Qual inimigo? Grupos marionetas numa Guerra Fria que apenas queriam a independência da sua terra?)

Numa das fotos escreveu: "Novamente, este terrorista que não tem culpa da ambição do Homem" e noutra escreveu "Jamais as minhas mãos se mancham em crianças".

A História tem estas partes cinzentas, amarelas, verdes, vermelhas e azuis, na qual um guerreiro patriótico é também um pai de família humanista que não vê heroísmo nenhum em matar uma geração de soldados de 18 e 19 anos, em apontar uma arma a um autóctone e a disparar contra um acampamento de mulheres, homens e crianças, por um interesse político/territorial (a ambição do Homem) e, mesmo assim, tudo fará para proteger estes jovens, jamais virando costas à Pátria, porque, como escreveu numa das fotos: "A Pátria são os seus filhos e eu também os tenho".

Urge sabermos respeitar esta gente, estudando friamente o que aconteceu, deixando de lado ideologias que idolatram fantasmas ou praticam a iconoclastia, mas sim compreendendo o que fizemos, porque o fizemos, quais as causas e consequências de tal e quem verdadeiramente praticou atos heróicos (humanistas) e quem verdadeiramente perpetrou crimes muito além do serviço militar. Urge para calar os politiqueiros que usam o passado como se um carregador de uma arma se tratasse.

Um forte abraço, Cláudio Brito.
____________

Anexo > Fotos: Teixeira de Sousa, 20 de Janeiro, 1964.
2º Sargento Fernando Brito
Um banho no mato, para refrescar as ideias.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14969: Tabanca Grande (471): Cláudio Brito, neto do falecido major art ref Fernando Brito (1932-2014)... Novo grã-tabanqueiro, nº 697


1. Mensagem, de omtem, 3 do corrente,  do nosso amigo Cláudio Brito, neto do major art ref Fernando Brito (1932-2014):


Saudações,
Antes de mais, um muito obrigado por este convite [, para integrar a Tabanca Grande,] que, alegremente, aceito, pesando-me, sem dúvida, e alegremente também, a responsabilidade de tal cargo. Porém, se depender de mim, esta Tabanca continuará a ser brindada com fontes históricas para a preservação da sua memória, da nossa memória.


Espero poder contribuir com as fontes selecionadas que trabalharei afincadamente para serem apresentadas ao blogue e quem o segue.

Envio uma fotografia recente minha e, ainda, envio o exemplo fotográfico usado para que o Leão Lopes tivesse podido pintar o quadro [, de meu pai,] que tão artisticamente concretizou.

De facto, podemos verificar uma linha histórica, apenas através da fotografia.

No verso da mesma está inscrito com a letra do meu pai: "Para o meu paizinho [, Fernando Brito,] com muitos beijos de parabéns do filho amigo, Fernando José". Brindado nos anos (a 30 de novembro) com uma fotografia do filho, [o meu avô] retribuiu o amor, mandando pintar um retrato mediante a mesma.

Vemos imediatamente as semelhanças, mas perguntamo-nos "a foto não é a preto e branco?". Sim, pelo que as cores foram imaginadas pelo próprio Leão Lopes ou feitas mediante informação fornecidas pelo meu avô. De qualquer das maneiras, o produto foi concretizado lindamente.

Assim me despeço, prometendo redobrar estas fontes de uma próxima vez.

Um grande abraço a todos, Cláudio Brito.




O pai do Cláudio Brito, Fernando José, em 1971,  aos 11 anos,  Foi com base nesta foto que o Leão Lopes pintou o seu retrato, em Bambadinca.




Dedicatória, no verso da fotografia, dp Fernando José ao pai, Fernando Brito, por ocasião do seu 39º aniversário (em 30 de novembro de 1971).



Retrato do Fernando José, pintado em Bambadinca por Leão Lopes, ex-fur mil, BENG 447 (1970/72)


Fotos: © Cláudio Brito (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

2. Mensagem de anteontem, 2 do corrente, do Cláudio Brito;


Saudações,  Sr. Luís Graça e Camaradas da Guiné,

Espero que esteja tudo bem.

Antes de mais, o meu mais profundo agradecimento por ter publicado este quadro e esta memória que, entretanto, passou a ser uma memória de todos (*). Não se pode perder apenas no meu arquivo pessoal e ficar a colecionar pó numa parede.

Com a graça de Deus e com alguma sorte à mistura, o meu avô falava muito comigo (também me demonstrei sempre interessado) e explicou-me a história ou estória de muitas das fotos, quadros, retratos e objetos que recuperei. A maior das sortes é ter alguém do "outro lado" para partilhar essa história e torná-la comentada e acessível e, por isso, perpetuada.

Relativamente ao quadro (*), ainda posso avançar algumas coisinhas:

(i) "folha de capim" é uma planta que cresce de uma forma comprida e alongada sendo suficientemente firme para, por exemplo, pintar; portanto, concluo que os materiais de pintura não eram de fácil acesso, mas a mão firme do pintor não falhou;

(ii) o meu pai tinha exatamente 11 anos nessa altura, foi em 1971; o meu pai nasceu no ano de 1960, a 18 de abril, sendo registado no dia 19 de março;

(iii) a fotografia, usada como modelo para pintar, detenho-a igualmente, e posso enviar para comparação do trabalho.

Quanto aos restantes materiais, a tecnologia tem-nos provido dos mais completos instrumentos, portanto não há desculpa da minha parte e, brevemente, farei uma escolha extensiva e, equipado com esses instrumentos, passarei os elementos do meu plano de visão para o "plano de todos", ou seja, "o plano da Tabanca", com especial enfoque para as fotografias que detenho. E quem diz fotografias, poderá dizer outras coisas. Coisas que poderão estar esquecidas no tempo aqui, mas que unidas a quem as "tocou", "viveu" e "usou" começam a fazer sentido e a montar um puzzle. Preenche a memória do meu avô e de outros tantos que estiveram lado a lado com ele.

Ficarei honrado com qualquer resposta dada pelo artista [, Leão Lopes,]  que pintou alguém tão querido por mim e fico ainda mais honrado por poder partilhar tudo isto [, no blogue dos amigos e camaradas da Guiné].

Um grande obrigado, abraço e até breve,

Cláudio Brito

 3. Comentário de LG:

Cláudio. obrigado pelas explicações adicionais e pela tua rápida aceitação do meu convite. Como prometido ficas desde já apresentado  à Tabanca Grande. Afinal, tu és, desde o princípio,  um dos nossos: os filho e netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são...

És  o grã-tabanqueiro nº 697, o teu nome passa a figurar na lista alfabética dos grã-tabanqueiros, que consta da coluna do lado esquerdo da página de rosto do blogue (**)... O teu avô era (e continuará a  ser) o nº 641:  o seu nome está na lista dos camaradas e amigos (n=41) que da lei da morte já se foram libertando...

Contamos contigo  para podermos continuar a alimentar este blogue dos amigos e camaradas da Guiné. Sê bem vindo. Tens as regras de convívio na série O Nosso Livro de Estilo.

Um abraço grande. Luis



domingo, 2 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14962: O segredo de... (20): Fernando Brito (1932-2014), ex-1º srgt, CCS/BART 2917 (1970/72): quadro, em "folha de capim", do seu infortunado filho (, morto mais tarde num trágico acidente, em 2001), pintado pelo caboverdiano Leão Lopes, em Bambadinca, 1971 (Cláudio Brito, neto)



Ano de 1971, quadro pintado e assinado por Leão Lopes, em #folha de capim" (sic), com o retrato  de Fernando José Gonçalves de Brito, filho de Fernando Brito (1932-2014) e pai de Cláudio Brito, Detalhes.


1. Mensagem, com data de 28,  do corrente de Cláudio Brito,  neto de Fernando Brito (1932-2014) (foto de avô e neto, à esquerda) 
 


Olá, boa noite, Caro Sr. Luís Graça,

Saudações ao senhor e a toda a sua família e aos camaradas da Guiné.

Sem mais delongas passo a encadear o conteúdo deste mail.


Já passou quase 1 ano e meio desde que o meu avô faleceu (*).

Neste período de catarse, mas nunca de esquecimento, além do trabalho que, graças a Deus, é consistente e me tem comido os dias e as noites, penso bastante em toda a vida que o meu avô levou. Uma vida de aventuras e desventuras, de guerra, de tropa e de camaradagem, a lidar com tantos seres humanos que só os limites da razão e da paixão nos podem fazer equilibrar no ténue comportamento da sanidade (especialmente atendendo a circunstâncias beligerantes).

Por essas razões, assim que o meu avô faleceu, não fiquei de braços cruzados e a empresa de reunião dos materiais de uma vida não ficou por acabar. De facto, tenho-o feito. Lentamente, nos meus tempos livres e com ajuda da minha companheira.

Já tinha prometido a mim mesmo que partilharia fotografias com os vários amigos do meu avô que passaram com ele o tempo da guerra e da tropa e que, além de fotografias, esperaria, deliciado, que eles partilhassem comigo a história por detrás delas.

Porquê? Porque sim! Porque me interesso por isto. Porque os Homens não são nada sem a sua História, aliás, não são Homens. E não há que negá-la. Há, sim,  que fazer como uma casa depois de um desastre natural...  arrumá-la.

Pois bem, nas minhas arrumações, encontrei algo que quero partilhar, esperando que alguém do outro lado se possa rir ou talvez chorar, não sei. O objeto em questão é um quadro, um quadro enormíssimo feito pelo pintor/artista cabo-verdiano Leão Lopes. Corria o ano de 1971 e o meu avô pediu a Leão Lopes que pintasse, em folha de capim, o retrato do filho (o meu falecido pai), Fernando José Gonçalves de Brito.

Poderá ser porque sou filho (e serei sempre suspeito), mas acho o quadro lindíssimo. Tantos anos pendurado na parede, causando-me fascinação em criança, para, agora, reconhecer que tem que ser partilhado com o mundo. Tendo em conta as circunstâncias da sua criação, é para mim um dos mais belos exemplares da troca intercultural e da criação artística em cenário de guerra. Mas, para julgamentos, deixemos a História e os Homens ocuparem-se disso.

Que este artista possa rever uma obra que não sei se terá par, mas também que seja partilhada uma memória tão fascinante num tempo tão negro. Com certeza terá sido um momento bem passado.

E assim partilho uma história, prometendo mais e despedindo-me com um grande abraço para o Sr. Graça e todos os camaradas.

Aguardo notícias, esperando que todos se encontrem bem.

Cláudio Brito


2. Comentário de LG

Cláudio, é uma belíssima e comovente homenagem ao teu avô e ao teu pai... Como te disse por email, decidi rapidamente publicar este teu texto na série "O segredo de...", embora estando de férias...

Não sei exatamente em que o ano o teu pai nasceu, talvez por volta de 1960... Teria então cerca de 10/11 anos quando o Leão Lopes pintou o seu retrato, em Bambadinca, a partir de  uma fotografia cedida pelo teu avô...


Guiné > Zona Leste > Bafatá > "Foto tirada no dia 30 de Março de 1971 em Bafatá, onde o grupo foi jantar, para celeberar os meus 24 anos. Na foto, e da esquerda para a direita temos: Leão Lopes (fur mil, BENG 447, e ex-esposa Lucília; fur mil op esp Benjamim Durães, Fernando Cunha (Soldado condutor), Rogério Ribeiro (1º cabo aux enfermeiro), Braga Gonçalves (alf mil cav) e ex-esposa Cecília; Isabel e o marido José Coelho (furriel mil enfermeiro), e o 1º cabo condutor auto José Brás". O Benjamim Duraes diz que ele, o artista, tambem lhe pintou o seu retrato em 1971

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG].

Recordo-me, mal, do  Leão Lopes... Era furriel do BENG [Batalhão de Engenharia] 447. Em contrapartida, recordo-me bem do Coelho e do Durães...  Julgo que o Durães. por ser casado, não comia connosco na messe de sargentos. Não tenho a certeza.

De qualquer modo, este quadro também vai um surpresa para ele. Hoje é uma figura pública (vd. aqui entrada na Wikipedia), conhecido como pintor e cineasta em Cabo Verde.  Já foi Ministro da Cultura e Comunicações de Cabo Verde, deputado, professor universitário de Assuntos Africanos em França e também fundador e animador da ONG AtelierMar,  em Cabo Verde... Enfim, não o vejo desde então, Bambadinca, 1970/71 (**), e para ele vai um grande alfabravo...

 Já aqui escrevi que a morte do teu avô. por ter sido inesperada, foi um duro golpe para ti. Tu eras o seu neto querido. Ele parecia gozar de excelente saúde, apesar dos seus 82 anos, e as suas várias comissões em África. Mas a vida foi lhe madrasta: há poucos anos tinha perdido a sua companheira de uma vida, a Natacha, tua avó, de que ele falava sempre com tanta ternura e orgulho em Bambadinca. E em 2001, perdera o filho, num trágico acidente de automóvel, o teu pai.

Como sabes, privei/privámos com ele (alguns de nós, grã-tabanqueiros), em Bambadinca, em 1970/71, como 1º srgt da CCS/BART 2917.

O Fernando Brito tinha entrado há pouco para o nosso blogue. Eu falara com ele há menos de um mês, ao telefone. Tinha ficado  entusiasmado com a hipótese de nos podermos reencontrar, ele e a malta da CCAÇ 12, com quem se dava particularmente bem (*), Falou-me, um pouco, dos tempos duros que passou na 2ª comissão, na Guiné, em Madina Mandinga, no setor de Nova Lamgo. E,  claro, pressenti a dor, nunca curada,  da grande perda que foi a morte do seu filho e da sua esposa.

Curiosamente, não sabia da existência deste quadro. Possivelmente foi um encomenda posterior à minha / nossa partida de Bambadinca, em março de 1971, depois de finda a minha /nossa comissão em rendição individual.

Obrigado, Cláudio, pela partilha.(***)

Quando quiseres e puderes, manda-me então fotos digitalizadas, com boa resolução, do álbum do teu avô e meu/nosso amigo e camarada Brito... È a melhor forma de o homenagearmos.

E, claro, que preenchas o vazio deixado pelo teu avô. O seu lugar, na Tabanca Grande, deve ser ocupado por ti. Abraço e coragem para ti. Luís Graça
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12747: In Memoriam (180): Fernando Brito (1932-2014), major art ref, ex-1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)
(**) Vd. poste de 22 de maio de  2009 > Guiné 63/74 - P4399: Em busca de... (74): O caboverdiano Leão Lopes, meu antigo camarada de Bambadinca, BENG 447, 1970/72 (Benjamim Durães)

[Resposta do Leão Lopes ao apelo do Benjamim Durães em maio de 2009:]

Caro Durães,

Ainda me visto de Leão Lopes, apenas isso. Mas o ex-camarada de Bambadinca envaidece-me e é uma grande honra responder por ele.

Não imaginas a emoção que ainda sinto por este reencontro. Já ninguém poderá duvidar que eu também lá estive. Vocês existem e a memória colectiva também. Eu próprio duvidei por vezes desta parte da minha história, quando alguns episódios vividos se confundiam com uma projecção ficcional não tendo por perto quem mos pudesse reavivar, corrigir, confirmar.

Imagina que eu me lembro sempre do nosso capelão Arsénio Puim, do dia em que a PIDE o levou, da minha / nossa revolta. E como eu gostaria de o reencontrar para lhe dar o abraço que não pude dar-lhe nesse dia. A PIDE tinha-me levado antes o Joãozinho e mais outros dos melhores operários nativos que eu tive no destacamento de engenharia. Destes nunca mais soube.

Há alguns anos estive em Bambadinca e, nas ruínas do que foi nosso quartel, encontrei Mariana, a nossa lavadeira, que me avivou na memória muita coisa difusa e talvez esquecida. Por exemplo, que eu pintei o retrato de um camarada. Quem seria?

Sim, lembro-me de alguns de vocês. De ti, do Braga Gonçalves, do Coelho, do Brás. Lembro-me do Vinagre, de Coruche (?) com quem fiz algumas traquinices inventando coisas para driblar o tempo. Chegamos a ser sócios numa moto e nunca contei a ninguém que por um triz teriam hoje que me juntar aos homenageados no minuto de silêncio dos vossos encontros. Sabem dele?

Ainda canto Zeca Afonso e as músicas popularizadas por Adriano Correia de Oliveira que nos ajudavam a resistir e a manter a moral acima de tudo.

As minhas condolências pelo Rebelo.

Parabéns a Luís Graça pelo blog. Um belíssima iniciativa, um belo slogan, um esforço de trabalho imenso.

Um dia destes, numa das minhas passagens por Portugal, tentarei abraçar-vos. Muito obrigado pela fotografia e por me teres procurado e achado.

Até breve,  Leão Lopes

(***) Último poste da série > 29 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14945: O segredo de... (19): António Medina (ex-fur mil, CART 527, 1963/65, natural de Cabo Verde, mais tarde empregado do BNU, e hoje cidadão norte-americano): Desenfiado em Bissau por três dias, por causa dos primos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos"... Teve de se meter num táxi, até Teixeira Pinto, que lhe custou mil pesos, escapando de levar uma porrada por "deserção"!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12747: In Memoriam (180): Fernando Brito (1932-2014), major art ref, ex-1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)

1. Faleceu, no dia 19 de Fevereiro de 2014, o major art ref Fernando Brito. O seu funeral realizou-se hoje, dia 20, 5ª feira, em Coimbra. O seu corpo esteve  em câmara ardente na Igreja de São José.

[Foto, recente,  à esquerda, o Fernando Brito mais o seu querido neto Cláudio Brito]

A informação foi-nos dada pelo   camarada António Barbosa, da 2.ª Companhia do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74) que nos chegou através de mensagem do António Pires (UTW). ´

Quis entretanto confirmar a notícia, através do seu neto, Cláudio Brito (que era o elemento de ligação do Fernando com o nosso blogue). Da casa do avô atendeu-me a sua filha,  Ana Cláudia que me confirmou a funesta notícia. Foi uma morte inesperada, repentina. O Fernando Brito parecia gozar de excelente saúde, apesar da idade, 82 anos. Mas há cerca de 2 anos  tinha perdido a sua companheira de uma vadia,  a Natacha, de que ele falva sempre com tanta ternura e orgulho.  Privei com ele em Bambadinca, eu e outros camradas da CCAÇ 12, em 1970/71, como 1º srgt da CCS/BART 2917. Em 2001, perdera o filho, num trágico acidente de automóvel, Era o pai do Cláudio.

O Fernando Brito tinha entrado há pouco para o nosso blogue. Falei com ele há menos de um mês, ao telefone. Ficou entusiasmado com a hipótese de nos podermos reencontrar, ele e a malta da CCAÇ 12, com quem se dava particularmente bem (*), Falou-me,  um pouco, dos tempos duros que passou na 2ª comissão, em Madina Mandinga. E claro da grande perda que foi a morte do seu filho e da sua esposa.

Teve um funeral com honras militares e a presença de vários camaradas da Guiné que se cdeslocaram de Lisboa, segundo informação da filha. Seguiu fardado até à sua última morada.  É mais um de nós que parte, perdendo-se um elo das nossas memórias. (**)

Um abraço de pesar e de consolo, de toda a nossa Tabanca Grande  para o neto Cláudio Brito e para a filha Ana Cláudia, bem como para todos os camaradas das duas companhias por onde ele passou, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74).
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Notas do editor:

(*) Postes referente ao nosso camarada Fermando Brito:

22 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12621: Tabanca Grande (421): Fernando Brito, ex-1º srgt art, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74), hoje major reformado... Passa a ser o nosso 641º grã-tabanqueiro

15 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12589: Memórias de Gabú (José Saúde) (38): Uma homenagem ao Major, aposentado, Brito, então 1º Sargento

13 de janeiro de 2014 >Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)

6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

7 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12744: In Memoriam (179): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Liliana, amiga da Catarina): O Sr. Carlos, o Pepito, o filho da Calinhas, o marido da Isabel, o pai da Pepas, do Ivan e, especialmente, o pai da Catarina. O pai de um de nós. Para mim, era um herói, vivo