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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25072: Notas de leitura (1658): "Reflexos da Carta Secreta - Caso 12 de abril", por Samba Bari; Nimba Edições, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho 2022:

Queridos amigos,
O Dr. Samba Bari escreveu uma narrativa com bastante detalhe sobre os acontecimentos do golpe militar de 12 de abril de 2012, apoiado por uma parte da sociedade civil. O seu trabalho culmina com uma análise política quanto à doença crónica das insurreições militares que pautam a vida guineense depois do golpe de 14 de novembro de 1980, a partir desta data os militares sentiram carta branca para impor condições aos políticos.

 Como é público e notório, a Guiné-Bissau possui uma das Forças Armadas mais originais de África, tem mais chefes que soldados, é tudo uma questão de soldada, e na indigência ou na cupidez estes militares sentem-se à vontade para participar nos negócios da cocaína ou estar sempre a reclamar aumentos.

 É outra pecha do regime, nunca se encontrou solução idónea, depois da independência, para motivar os antigos combatentes a encontrar um rumo para a vida. Samba Bari dá-nos um bom registo de acontecimentos, pena é que não tenha levado a objetividade ao ponto de documentar as muitas alfinetadas que espeta em Carlos Gomes Júnior, isto de fazer reportagens requer distanciamento e absoluta isenção para que tais trabalhos se tornem documentos para a História.

Um abraço do
Mário



Tentar compreender a impunidade das insubordinações militares na Guiné-Bissau

Mário Beja Santos

Reflexos da Carta Secreta - Caso 12 de abril, por Samba Bari, Nimba Edições, 2021, é um relato detalhado dos acontecimentos de um golpe militar conduzido por António Indjai, um general ligado ao narcotráfico, tudo aconteceu em 2012 e não restam dúvidas que a vida guineense ainda não se restabeleceu deste doloroso caso insurrecional, onde, uma vez mais, vieram à tona apetites oligárquicos, casos de puro mercenarismo, em que uma organização regional (a CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental) mostrou claramente que quer, pode e manda do que ocorrer em território da Guiné-Bissau.

Samba Bari, no final da sua narrativa, procura interpretar as causas do contínuo golpismo na Guiné-Bissau. O Estado independente nasceu sob um projeto ideológico de Amílcar Cabral, a condução política pertencia ao PAIGC, os militares estavam completamente integrados e subordinados – foi assim na luta armada depois de Cassacá, prosseguiu com Luís Cabral, após 1974. 

Nino Vieira, com a sua rebelião de novembro de 1980, potenciou os militares na ribalta política, tinha nascido a cultura do golpismo, das negociatas e cumplicidades de ocasião, da tentativa de predomínios étnicos nas Forças Armadas, a entrada das altas patentes militares em negócios corruptos e no narcotráfico. Este cenário estará presente no afastamento do presidente da República interino e do primeiro-ministro legítimo, em 2012.

Samba Bari não esquece o cenário violento que se seguiu à independência, a ferocidade contra antigos militares das forças coloniais, todos os responsáveis do PAIGC não estiveram isentos de culpas; em 1985, 

Nino Vieira desembaraçou-se do comandante Paulo Correia, tudo num quadro arrepiante de tortura e mentira, assim se chegará ao levantamento conduzido por Ansumane Mané e ao afastamento temporário de Nino Vieira e da sua claque. 

O período que se segue envolve tempos de derrisão com Kumba Ialá, destituições, assassinatos, incluindo o de Nino Vieira. É nesse tempo que chefia as Forças Armadas o vice-almirante Zamora Induta, tendo como ajunto o general António Indjai, o presidente da República eleito, Malam Bacai Sanhá, eleito em 2009, gera um período de estabilidade, mas o presidente está gravemente doente, irá falecer no início de janeiro de 2012.

 Segue-se o período eleitoral, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior não consegue obter a fasquia dos 50%+1, iria à segunda volta com Kumba Yalá, este e outros derrotados insurgem-se perante os resultados eleitorais, reconhecidos pela comunidade internacional como legítimos. Entramos no quadro irrespirável do golpe.

Sem contestar a linha diacrónica utilizada por Samba Bari, confesso o meu desapontamento pelo teor acusativo que vai relevando para certas personalidades, o pior é que não consegue demonstrar documentalmente os fundamentos dessa franca hostilidade. Carlos Gomes Júnior, ou Cadogo, é no seu relato um verdadeiro bombo de festa, parece assumir as funções de um príncipe de Maquiavel, ora apoiando-se numa fação militar ou noutra, mas decididamente com provas provadas de que Indjai tinha ligações diretas ao narcotráfico. 

Aliás, os EUA, que tinham informações claras de quais os militares envolvidos com a droga, depois da nomeação de Indjai para o alto cargo de Chefe de Estado-maior das Forças Armadas, retiraram o seu apoio à reforma do setor da defesa e segurança, Indjai odiava Zamora Incuta, tudo fez para o destratar. A CEDEAO queixava-se repetidas vezes não haver progressos na Guiné-Bissau contra a impunidade, matava-se e não havia culpados, e era preocupante haver naquele ponto de África Ocidental um ponto de passagem de cocaína destinada à Europa, com envolvimento das altas patentes militares.

Estes acontecimentos decorrem num período em que Bacai Sanhá contava com o apoio de José Eduardo dos Santos, Angola garantia ajuda, que se concretizou, a CEDEAO não gostou, entendeu que era uma interferência na sua capoeira. 

Assim se chegará ao quadro bizarro de uma carta que terá sido escrita por Cadogo a José Eduardo dos Santos, depois mostrada pelos órgãos de comunicação social, nunca comprovada como fidedigna, e que terá espoletado a insurreição que conduziu à detenção dos altos dirigentes, a uma quase crise diplomática entre a Guiné e a Angola. Samba Bari esclarece que fez três entrevistas para este seu trabalho, ao Tenente-coronel Daba Naualna, porta-voz dos golpistas, a Manuel Serifo Nhamadjo, presidente da República de transição e a Idriça Djaló, político e analista, não se pode compreender não ter ouvido o Carlos Gomes Júnior, Zamora Induta e António Indjai, figuras de primeiro plano em toda esta trama, isto para já não falar no presidente da República interino, Raimundo Pereira. 

Nunca se documenta se houve ou não alguma fraude eleitoral ou se Kumba Ialá e outros candidatos não se sentiram imediatamente tentados a colaborar no golpe militar.

Saúda-se o modo como são descritos o golpe e o comportamento dos golpistas, não se entende porque é que não foi ouvida a fundo a direção do PAIGC, a força política predominante, e que o golpe expusera ao lamaçal. E fica claro que à CEDEAO era indiferente a essência do golpe, houve que manter internacionalmente as aparências e apoiar uma política de transição, a CEDEAO não queria investir mais apoios financeiros naquele quadro insurrecional, os doadores cortaram todos os apoios e os golpistas entraram na lista negra das Nações Unidas.

 A avidez aos cargos manifestou-se prontamente, abandonaram-se partidos, ir para ministro ou secretário de Estado tem imensas conveniências, abre portas a negócios, a despeito da suspensão de projetos financiados por doadores que podem permitir habilidades.

E no relato também são referidos os acontecimentos de 21 de outubro, um grupo de homens armados tentou tomar de assalto um regimento de elite em Bissau, mau sucedido. Foi preso o cabecilha, Pansau Ntchama, antigo subordinado de António Indjai. Como especular era fácil e demonstrar nunca acontece, as autoridades de transição atribuíram cumplicidades de Portugal, da CPLP e a Cadogo, seriam estes os três autores morais do atentado. 

O objetivo era derrubar o Governo de transição e trazer Cadogo de volta ao poder. O primeiro-ministro Rui Duarte Barros foi mais longe, tudo apontava para uma ação concertada entre elementos recrutados na zona de Casamansa e comandados pelo capitão Pansau Indjama. Toca de enviar uma carta ao Governo português exigindo extradição de Cadogo para Bissau para responder sobre o seu alegado envolvimento nos assassinatos ocorridos nos últimos anos na Guiné-Bissau.

A oposição aos golpistas não esteve propriamente de mãos atadas, formou uma frente, os seus líderes foram surrados, sequestrados, batidos, tiveram que vir fazer tratamento a Portugal. E Bari escreve: 

“Após o ataque armado de 21 de outubro, a situação do país piorou com relatos frequentes de violações graves aos direitos humanos, incluindo espancamento de cidadãos.

Para além disso, alguns elementos do grupo étnico Felupe foram acusados de apoiar o ataque. Os serviços militares de inteligência do país montaram operações de busca. E foi na sequência de uma dessas operações que aconteceu o rapto e tortura do líder da FRENAGOLPE, e Iancuba Djola N’djai, e o líder do Movimento Democrático da Guiné, Silvestre Alves.”

Vejamos como funciona a justiça na Guiné-Bissau com o julgamento de Pansau N’tchama: 

“No dia 26 de abril de 2013, em julgamento no Tribunal Superior Militar, Pansau N’tchama, Jorge Sambu e Braima Djedju foram acusados de crimes de traição à pátria e uso indevido de armas de fogo, condenados a 5 anos de reclusão efetiva. Mas em setembro de 2014 todos beneficiaram de indulto e foram libertados pelo presidente da República José Mário Vaz.”

A situação modificar-se-á com as eleições de 2014, José Mário Vaz é eleito presidente da República. A imprensa, de um modo geral, abona em prol da competência e integridade de Vaz. No entanto, Samba Bari escreve que ele foi peça central de acusação de um alegado caso de desvio de 12 milhões de dólares de ajuda orçamental doados por Angola ao governo do PAIGC de Cadogo. E depois das eleições, Vaz nomeia Domingos Simões Pereira, também do PAIGC, como primeiro-ministro, recomeçam as tricas e as faltas de respeito a nível institucional. Resta registar que foi o único mandato presidencial levado do princípio ao fim.
Os golpistas de 12 de abril de 2012 não esqueceram os roubos e as destruições
Militares no quartel de Amura, após o golpe de Estado
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25061: Notas de leitura (1657): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (7) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24669: Notas de leitura (1617): "Guiné-Bissau: Um Caso de Democratização Difícil (1998-2008)", por Álvaro Nóbrega; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015 (3) (Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Não hesito em classificar este trabalho como incontornável para o estudo do que tem sido a tentativa de democratização na Guiné-Bissau. Álvaro Nóbrega prima pelo rigor e a independência de juízos, dá-nos um quadro minucioso do funcionamento do Estado e dos avanços e recuos democráticos, é muito cuidadoso a avaliar as questões étnicas e as ligações à terra, disseca a elite política da Guiné-Bissau, o papel político dos militares, a questão fulcral do semipresidencialismo que acaba sempre em presidencialismo, a personalização na vida partidária, a permanente atmosfera de intimidação onde não faltam os espancamentos e até as ameaças veladas. Espera-se que o investigador, que nos dá uma visão em ecrã gigante do que se passou na Guiné entre 1998 e 2008 continue os seus trabalhos, reconhecidamente de grande qualidade.

Um abraço do
Mário



Uma soberba investigação sobre uma Guiné-Bissau que viveu a guerra civil, dilacerante (3)

Mário Beja Santos


Álvaro Nóbrega, Doutor em Ciências Sociais e professor universitário, é autor de uma obra de referência "A Luta pelo Poder na Guiné-Bissau (2003)", e na sequência desse primoroso trabalho produziu Guiné-Bissau: "Um caso de democratização difícil (1998-2008)", Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015. Este ensaio, de leitura obrigatória, desvela o itinerário ziguezagueante das instituições democráticas e pluralistas na Guiné-Bissau; o investigador reflete a fundo sobre as condições do nascimento do Estado, após uma prolongada luta armada de libertação nacional, elenca sobre as fragilidades, os erros, a vertigem dos cargos, o nepotismo, a tentação tribal, a Nação firme, mas o Estado volátil; enfim, importa esclarecer se faz vencimento aludirmos a um Estado frágil ou falhado ou supor que haverá outros itinerários, que seguramente requerem imensa coragem, a trilhar para consolidar a democracia e o respeito pelas instituições.

Faz todo o sentido tratar de forma linear o presidencialismo e a personalização do poder. O chefe de Estado africano, de um modo geral, é tentado pela autoridade absoluta, não distingue a independência das instituições, assenta o seu poder em redes de relações pessoais, é um tutor paternal, gere um sistema de recompensas e de punições. Mesmo quando é eleito em eleições vincadamente democráticas é visto como um patriarca, não se vê obrigado em manter os poderes separados, e daí o sem número de dificuldades na coexistência entre presidentes e primeiros-ministros mesmos nos sistemas semipresidenciais. Como já se fez referência, no início do novo Estado da Guiné-Bissau pretendeu-se desvalorizar o papel das autoridades tradicionais e mostrou-se como o tempo se encarregou de tornar os representantes do PAIGC perfeitamente inócuos ao nível da vida das tabancas. E a legitimidade desses régulos foi retomada, até porque há um vazio no Estado na generalidade dos povoados. Não nos esqueçamos que esta obra foi editada em 2015, é só um aviso prévio para se entender o valor da narrativa.

Álvaro Nóbrega recorda os oito presidentes que até então exerceram funções na Guiné-Bissau: Luís Cabral, deposto em 1980, Bacai Sanhá, em 1999, Henrique Pereira Rosa e Raimundo Pereira foram presidentes interinos. Até 2009, apenas dois tinham sido democraticamente eleitos: João Bernardo Vieira (Nino) e Kumba Yalá. Estes dois últimos, se bem que separados pelas gerações e pelo percurso da vida, tinham afinidades no que respeita ao seu carisma pessoal e ao modo personalizado como exercera o poder. Nunca se conformaram ao papel moderador e arbitral constitucionalmente definido, muito fizeram para submeter todas as esferas do poder, ingeriram-se mesmo na vida partidária. Não se resignaram a viver em sistema semipresidencialista, contrapuseram a sua versão do presidencialismo. E aqui vem a necessidade de refletir sobre a legitimidade, tão difícil de resolver num país tão seccionado, étnica e culturalmente. Nino Vieira procurava jogar com o seu passado militar e o mito de grande guerreiro; Kumba não tinha pergaminhos guerreiros, pretendeu valer-se dos seus dotes intelectuais, falava várias línguas, evitava os seus pensamentos alegadamente filosóficos, com um certo espetáculo converteu-se ao Islamismo. Foi sempre patente a difícil coexistência entre presidentes e primeiros-ministros, rapidamente os primeiros invadiam o campo dos segundos. O autor refere entrevistas havidas com políticos guineenses sobre as vantagens deste sistema semipresidencial, face ao mostruário existente há sérias dúvidas do que é mais eficaz, o presidencialismo ou o semipresidencialismo.

Inicialmente o PAIGC apresentava-se como um partido de unidade, com a vida multipartidária surgiram problemas aparentemente adormecidos como as linhagens e os sistemas de clã. E o autor recorda que há dois partidos antigos, o PAIGC e a FLING, a RGB nasceu no exílio como o movimento de resistência ao PAIGC, na contagem que o autor fez em 2008 o número dos partidos ultrapassava os 30, o chefe é o elemento primário, é ele que agrega à sua volta os seus seguidores pessoais. Daí a conceção rigidamente hierárquica do poder, o que se pode traduzir em que um Presidente da República ponha e disponha da nomeação do Primeiro-Ministro ao arrepio das instituições e dos resultados eleitorais ou temendo o primeiro a visibilidade do segundo. Exemplos não faltam como o autor transcreve: No PRS, devido a um clima de suspeição, o seu congresso de 2002 decorreu com as portas cerradas por correntes e cadeados, para que ninguém saísse e ninguém entrasse. À vista de todos há partidos que se lançam no confronto interno, caso do RGB.

Recorda igualmente a exoneração de Carlos Gomes por Nino, as rivalidades no PRS entre os Balantas, partido em que se trabalhou para depor o presidente Kumba Yalá. E Álvaro Nóbrega dá mais exemplos. Há vários temas complexos em cima da mesa, desde a ausência de diferenciação dos programas partidários, as diferenças ideológicas mínimas, a inexistência de discussões sobre as políticas públicas, enfim, quer-se deter o poder como uma volúpia, um sistema de prémios e punições, pelo que se passa rapidamente de euforia ao pleno descontentamento. E há que ter em conta que se analisa um dos países mais pobres do mundo, os cargos do Estado são vistos como a solução para os problemas financeiros de cada um. E quando se é forçado a abandonar o poder há mesmo recusas em perder regalias, que podem ser casas ou carros, Kumba Ialá foi acusado de ter vendido o Bissau Hotel, na Líbia, pouco antes de ser deposto, por dois milhões de dólares.

E Álvaro Nóbrega dirige agora o olhar para uma matéria que lhe é muito cara, a luta pelo poder, como ele observa:
“A luta decorre em múltiplas instâncias. Joga-se na presidência, no governo, no parlamento, nos quartéis, nos tribunais, na própria sociedade civil e ainda numa outra que não é deste mundo cuja influência não se menospreza porque é respeitada a sua ação. A cosmologia africana contempla um mundo povoado por entidades sobrenaturais e pelos espíritos dos antepassados, em que os vivos constituem uma minoria perante a imensidão de mortos que os observam (…) Na política, como nas mais diversas áreas da vivência africana, a magia tem um papel central. A classe política culturalmente ambivalente tende a levar muito a sério as questões do poder dos espíritos. A magia joga um papel importante na política e na luta pelo poder”.

E são elencados alguns exemplos. O tema da justiça e dos direitos humanos é de tratamento obrigatório, há que ter em conta os relatórios da Liga Guineense de Direitos Humanos para perceber que a Guiné é um país de detenções arbitrárias, espancamento de jornalistas, tentativas de assassinato, a intimidação está sempre presente. A sociedade civil é observada, é pequena, o que é para lastimar dado que ela é considerada um dos principais pré-requisitos da democracia e o autor faz um diagnóstico:
“A maioria das associações não tem sustentabilidade para sobreviver fora do quadro dos financiamentos internacionais. Consequentemente, o que determina a sua ação não é o fim social que estabeleceram, mas a disponibilidade de fundos, o que faz com que seja um tipo de associativismo que não existe sem um fluxo continuado de financiamento internacional”.

Álvaro Nóbrega irá ainda fazer referência à liberdade de expressão e de imprensa e à africanização do voto.

Conclui o seu importante estudo relembrando o baixo grau de comprometimento político das elites com a democracia, um Estado com falta de soberania, os exacerbamentos étnicos, a personalização do poder, a colagem dos militares ao poder, e algo mais que acaba de se ver neste texto. A sua investigação termina quando se encetava a eleição do José Maria Vaz, o único Presidente da República que começou e concluiu o seu mandato em conformidade com o ato eleitoral. Nóbrega dirá no final que parecia estar reunido um conjunto de condições favoráveis para a estabilização e desenvolvimento, os doadores tinham voltado. Mas não cabe neste trabalho as novas disfuncionalidades enquanto Estado e democracia.

Oxalá Álvaro Nóbrega continue a trabalhar sobre a difícil democratização da Guiné-Bissau, tal o apuro e o rigor que ele põe nas suas investigações.


Kumba Yalá
O general António Indjai, líder dos militares no golpe de estado de 2012
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Nota do editor

Último poste da série de > 15 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24653: Notas de leitura (1616): "Guiné-Bissau: Um Caso de Democratização Difícil (1998-2008)", por Álvaro Nóbrega; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015 (2) (Beja Santos)

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24641: Notas de leitura (1615): "Guiné-Bissau: Um Caso de Democratização Difícil (1998-2008)", por Álvaro Nóbrega; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015 (1) (Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
É um estudo rigoroso, bem datado, uma observação que cuida do mosaico étnico, das condições da luta pela independência, toma em consideração as sucessivas práticas do poder, visita a transição democrática em África para aquilatar o processo democrático formalmente encetado em 1991 mas que foi sujeito a inúmeros escolhos, interpreta o que há de completamente diáfano no chamado sentido do Estado, como se organiza o poder soberano do mando, e como permanece longínqua a distância entre as leis que se fabricam em Bissau e o quotidiano de quem vive agarrado à subsistência. Um estudo de leitura obrigatória, com bom trabalho de campo, oferece uma reflexão sobre os diferentes fatores que têm induzido a disfuncionalidade do Estado e do processo democrático na Guiné-Bissau, nada de moralização, factos são factos, os guineenses que ponderem sobre a revitalização da sociedade civil, a participação nas decisões de quem está longe dos jogos de Bissau, o tal caminho longe que deve ser feito para erradicar o narcotráfico, o fantasma tribal, as mil e uma manifestações da corrupção.

Um abraço do
Mário



Uma soberba investigação sobre uma Guiné-Bissau que viveu a guerra civil, dilacerante (1)

Mário Beja Santos


Álvaro Nóbrega, Doutor em Ciências Sociais e professor universitário, é autor de uma obra de referência "A Luta pelo Poder na Guiné-Bissau" (2003), e na sequência desse primoroso trabalho produziu "Guiné-Bissau: Um caso de democratização difícil (1998-2008)", Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015. Este ensaio, de leitura obrigatória, desvela o itinerário ziguezagueante das instituições democráticas e pluralistas na Guiné-Bissau; o investigador reflete a fundo sobre as condições do nascimento do Estado, após uma prolongada luta armada de libertação nacional, elenca sobre as fragilidades, os erros, a vertigem dos cargos, o nepotismo, a tentação tribal, a Nação firme, mas o Estado volátil; enfim, importa esclarecer se faz vencimento aludirmos a um Estado frágil ou falhado ou supor que haverá outros itinerários, que seguramente requerem imensa coragem, a trilhar para consolidar a democracia e o respeito pelas instituições.

O autor privilegia, no início do seu trabalho, a análise do processo de liberalização política encetado nos anos 1990, vai forçosamente a décadas atrás e enquadra com a evolução que ocorreu noutros países, regimes autocráticos que simularam ou com um certo grau de sinceridade aprovaram as instituições pluralistas, o respeito pela liberdade de expressão, a independência da justiça e a primazia do trabalho parlamentar. Quando Nino Vieira abriu caminho para as instituições pluralistas, fê-lo com uma pedra no sapato e com enormes resistências no seio do PAIGC. Quando este chegou ao poder em Bissau, em outubro de 1974, parece ter esquecido as advertências de Cabral para as armadilhas que potencialmente Bissau reservava; com a gula do poder, esqueceram-se questões medulares do mosaico étnico-cultural, que o autor elenca, vale a pena uma referência:
“No litoral registam-se as maiores densidades populacionais e congregam-se os povos de cultura animista que resistiram ao processo de islamização que vingou em toda a sub-região. Manjacos, Mancanhas, Felupes, Papéis ou Pepel, Baiotes, Bijagós e Balantas foram o grosso desta população de cultura animista. No litoral sul e no interior do país predominam, por ordem decrescente de importância populacional, Fulas, Mandingas, Beafadas e Nalus/Sossos, Jacancas e Saracolés. Há quem defenda hoje, como no tempo colonial, que o processo de islamização será rápido entre a população que ainda resiste animista. Pode ser que assim aconteça face a um proselitismo islâmico muito ativo, e é uma igreja católica que, pese a sua ação social valiosa, não parece em condições de travar o processo. Mas não se pode esquecer a ação das seitas evangélicas, especialmente as brasileiras, as da torna-viagem, intensamente prosélitas e com rituais e práticas que vão ao encontro do esoterismo das populações africanas”.

Não esquece as etnias transnacionais, são as que demograficamente mais pesam, que têm estreitas ligações com o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Conacri, e daí também um quadro de descentralização política, um verdadeiro tampão contra o Estado coeso. O PAIGC tentou infiltrar-se nas estruturas locais e perdeu, foram as estruturas locais que esvaziaram os comités e os representantes nomeados por Bissau foram desde muito cedo ostracizados. Igualmente a tentativa de modernização imposta não vingou. “A desorganização crescente do Estado, o processo de abertura política, que levou os políticos de volta às tabancas para disputarem intensamente o voto das zonas rurais, conduziu a uma reafirmação do poder tradicional que está bem consciente da importância que tem em tempos eleitorais. Assim se compreende a posição das autoridades administrativas que tanto escrevem documentos de reconhecimento ao poder tradicional, como aconteceu na investidura do novo régulo do Forreá, ou que, chamadas a intervir em chão Papel num conflito de direitos sucessórios, entregaram a sua resolução ao poder regular contra quem tinham sido chamados. Nestes momentos em que o Estado visita a tabanca não é raro que não consiga falar diretamente com o seu povo, nem ouvir o que ele diz, sem recorrer a um intérprete que domine a língua étnica e o crioulo”.


Assim se põe a questão da identidade nacional, ela existe ou não, é possível falar-se ou não de uma identidade guineense? O autor recorda que Amílcar Cabral contornou a questão adotando o princípio de que a nação se forjou na luta de libertação. Mas cedo surgiram clivagens e antagonismos internos, e o autor recorda aspetos nevrálgicos: “entre as etnias não abertas à modernização; entre as classes sociais em vias de formação”. Quando encaramos o conflito armado, era admissível tentar-se uma leitura de que havia uma resposta da Nação coesa contra invasores e opressores internos. O autor observa: “Vencido o opositor, as divergências emergem e começam a minar a unidade firmada nas trincheiras. Além disso a luta, porque é violenta, não é inclusiva e a vitória de uns sempre significou a derrota para outros. E essas são as etnias magoadas da Guiné: os Fulas no tempo colonial, os Balantas nos anos 1980 e os Mandingas nos anos mais recentes”. Como estamos a falar de Ciências Sociais, é apropriado que o autor também lance olhar sobre os escolhos à identidade nacional: “O guineense depara-se quotidianamente com a questão de múltiplas pertenças (comunitária, religiosa, étnica e política), o que, por um lado, coloca em questão a coesão nacional e, por outro, dificulta a governação e a gestão dos interesses nacionais, predominando a identificação, a autonomia e lógica étnica”.

E chegamos a um novo elemento do Estado: o “Tchon”. Nova dissertação histórica nos é apresentada pelo autor, o “Tchon” é o local de nascimento, onde vive a família, a etnia, tem um poder soberano. Do “Tchon” passamos para a fragilidade do Estado, e vem uma recordação datada de 10 de outubro de 2003 em que um jornal de Bissau alerta para as ruínas da Casa da Independência em Lugadjole: “A placa comemorativa da proclamação da independência já desapareceu. Onde foi parar? Ninguém sabe. É provável que o metal deste símbolo da liberdade já tenha sido fundido para fabricar algum objeto fútil, de uso vulgar. Triste reciclagem dos valores da independência!”. É brandido o espetro do narcotráfico e passamos para a sede real do poder que é pertença de militares e civis ligados por interesses patrimoniais e por outros níveis de solidariedade. “É este núcleo informal que detém, em última instância, a capacidade de terminar o exercício da força e da violência do Estado. Tudo tem de ser negociado. Nenhum ato de força do Governo é possível sem a sua concordância e não há poder interno capaz de se lhe impor”.

Nesta teia de constrangimentos, todas as instituições são abertamente frágeis, logo o desempenho e a eficácia da Justiça, o quadro da anormalidade é patente:
“Todos os dias são estabelecidas inúmeras relações jurídicas na Guiné, não se pode dizer que não recorram com normalidade e satisfação para os seus intervenientes. A maioria destas decorre, contudo, ao abrigo da personalização das relações, de contratos ritualizados que comprometem pelo nível de sanções de índole social e espiritual que decorrem do seu incumprimento. A desonra, a vergonha do indivíduo perante as suas relações sociais e o medo dos castigos provindos do mundo espiritual coagem, a quem a honra não obriga, ao cumprimento. Mas no mundo da ambivalência cultural que é a cidade de Bissau, onde as práticas e os povos se misturam, os conflitos são mais frequentes e as instâncias tradicionais, que auxiliariam à sua resolução de uma qualquer comunidade rural, não têm a máxima força. Assim sendo, tende a vigorar a lei do mais forte”.

Tudo é ténue, precário, dominado pelo princípio da anulação ou revogação. Acresce que tudo se promete para melhorar o bem-estar e tudo fica na mesma ou pior por causa das coligações precárias inter e intrapartidárias, é um poder de sátrapas, em que se multiplicam os ministros, secretários de Estado e secretários-gerais, lugares que dão acesso aos benefícios de função com o longo cortejo de chefes de gabinete, assessores e colaboradores, tudo inevitavelmente transformado em mecanismos de corrupção, onde o fantasma tribal não está ausente.

E temos por último a instabilidade política e militar, os ajustes de contas entre Nino Vieira com Carlos Gomes Júnior é um bom exemplo, o assassinato de Veríssimo Seabra só porque houve atraso no pagamento das Nações Unidas ao contingente de manutenção de paz na Libéria, tem-se permanentemente a sensação de que não há avanços seguros, que rapidamente se pode recuar até práticas selváticas ou cavernícolas.

E o autor seguidamente vai-nos dar uma poderosa reflexão sobre a elite política da Guiné-Bissau.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24633: Notas de leitura (1614): "Uma História do Mundo em 100 Objetos", por Neil MacGregor; Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2014 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17626: Notas de leitura (981): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (2) (Mário Beja Santos)

Tagme Na Waie e Nino Vieira


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

Deve-se à Liga Guineense dos Direitos Humanos um labor sem precedentes na análise e no protesto às violações dos direitos humanos no país, e no seu mais vasto ecrã.

Reservámos para esta resenha as suas chamadas de atenção para devastadores crimes ambientais, como sejam os turvos negócios que permitiram um grupo de chineses desflorestar no Sul do país com total impunidade e a criação de um corredor aberto ilegalmente na zona que liga o futuro porto de Buba à estrada Buba-Fulacunda, outra violação miserável. Mais adiante, o relatório da Liga referente a este período chama atenção para o papel quase ditatorial das forças de Defesa e de Segurança que, conforme escreve a Liga, constituiu o principal óbice à sua conversão em forças republicanas.

Um abraço do
Mário


Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, 
Lema: a força sem discernimento colapsa sobre o seu próprio peso (2)

Beja Santos

Trata-se de um importantíssimo relatório onde se analisa o largo espectro dos direitos humanos, incluindo aqueles que se prendem com a inclusão social, tipo educação, saúde e emprego. Referimos no texto anterior os domínios que têm a ver com a antidemocracia decorrente do poder das Forças Armadas que subvertem a vida das instituições democráticas. No período em análise ocorreram o assassinato de um Presidente da República, um Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, houve prisões arbitrárias, torturas, uma completa deriva dos poderes regionais, como é o caso da região do Oio onde os N’Kumans detiveram ilegitimamente o poder, perpetrando toda a casta de furtos, espancamentos e intimidações.

Os crimes ambientais são uma outra vertente que o relatório contempla. No ano 2009 assistiu-se a um escândalo de corte ilegal e desenfreado de madeiras provocado por um grupo de chineses, na zona sul do país, com o único propósito de exportar a madeira para a China, facto que mereceu uma reação dos populares e de alguns deputados eleitos naquela zona; contudo, apurou-se que os chineses atuavam naquela zona a coberto de uma ordem superior em troca de interesses fictícios e de duvidosa legalidade.

Caso de extrema gravidade é o da demarcação de cerca de 25 hectares de terreno pela empresa Bauxite Angola, no Sul do país, com o único propósito de abrir uma estrada em direção ao local onde supostamente irá ser construído o futuro porto de Buba. A abertura desta via de acesso não teve estudo prévio e decorre à revelia dos departamentos do Estado. O mais grave de tudo é que esta zona é reconhecida internacionalmente como uma área protegida denominada RAMSAR, zona protegida das lagoas de Cufada. A empresa angolana procedeu a derrubes desenfreados de milhares de árvores nesta zona protegida. Esta mesma empresa contratou uma sua congénere brasileira para fazer o estudo do impacte ambiental sem ter havido um contrato definitivo com o Estado guineense que espelhasse de forma clara as modalidades e a forma como devia ser conduzida o estudo. Aqui se pode avaliar como o Estado é frágil, não se consultaram previamente as entidades estatais competentes, caso do IBAD, encarregado de gerir o Parque Natural das Lagoas de Cufada, dentro do qual se pretende construir o futuro porto.

 Parque Natural das Lagoas de Cufada

Passando para outro domínio, o funcionamento das instituições democráticas, escreve-se que o desempenho dos órgãos de soberania ao longo deste período ficou caraterizado pela desconfiança, falta de coabitação e primazia de interesses pessoais sobre os interesses institucionais. O princípio da complementaridade institucional, fundado na interdependência dos referidos órgãos não foi observado. O Presidente da República tentou controlar o governo e impor controlo político na administração do aparelho de Estado – esta pretensão esteve na origem do derrube do primeiro governo de Carlos Gomes Júnior, em 2005. Com o termo do mandato do governo em Abril de 2008, o presidente da República foi obrigado a anunciar ao parlamento a necessidade da adoção de medidas para evitar o vazio institucional. A Assembleia Nacional Popular aprovou a Lei Constitucional Excecional e Transitória, em 16 de Abril de 2008, com o objetivo de prorrogar a legislatura e o funcionamento regular e pleno da Assembleia e continuidade do governo do Pacto de Estabilidade liderado pelo Engenheiro Martinho N’Dafa Kabi. Um grupo de deputados submeteu ao Supremo Tribunal de Justiça uma ação de pedido de inconstitucionalidade, e o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que a prorrogação da legislatura não era razoável, fazendo ocorrer o perigo de uma transição constitucional sem eleições legislativas. Com base nesta decisão, o Presidente da República dissolveu a Assembleia, demitiu o governo de Martinho N’Dafa Kabi e nomeou Carlos Correia como novo primeiro-ministro, que liderou o governo de gestão até às eleições legislativas de 2008, ganhas pelo PAIGC. Esta queda de governo inaugurou o corte de relações entre Nino Vieira e Tagme Na Waie. Os dois tinham estado em concertação permanente depois do conflito político-militar de 1998-1999, mesmo estando Nino Vieira com o estatuto de exilado político em Portugal. A perda de Tagme Na Waie como aliado foi um rude golpe para o Presidente. A desconfiança foi de tal ordem que Nino Vieira preferiu recrutar os elementos das milícias, que ficaram conhecidos pelo nome de “aguentas” para lhe servirem de segurança pessoal.


Carlos Gomes Junior


Martinho N'Dafa Kabi

A vitória das legislativas de 2008 pelo PAIGC abriu uma nova luta desenfreada sobre o controlo do poder entre Nino, Carlos Gomes Júnior e Tagme Na Waie, tornaram-se em antagonismos pessoais, a coabitação desequilibrou-se profundamente. Segundo o relatório, o combate ao narcotráfico agudizava a referida relação triangular na medida em que a determinação e predisposição dos três não eram convergentes. A sociedade civil ia reclamando que se adotassem mecanismos eficazes com vista a assegurar a neutralidade das Forças Armadas na vida política.

No que respeita à Assembleia Nacional Popular, este órgão não foi além de empreender esforços para viabilizar diplomas e resoluções em benefício da classe parlamentar e político-partidária. No entender da Liga, o funcionamento da ANP reflete a imagem real da classe política, caraterizada pela falta de ideologias. Os partidos políticos carecem de democracia interna, marcada pelo não funcionamento dos órgãos dirigentes dos partidos, não realização de congressos, partidos unipessoais que se resumem apenas à figura do líder, partidos sem sede e estruturas nacionais. Quanto às iniciativas orientadas para uma verdadeira reconciliação nacional, observa a Liga que esta precisa de um processo preparatório bem pensado e consistente para construir a confiança entre os atores envolvidos, abertura ao diálogo, respeito pela minoria, compromisso com a verdade e determinação contra a impunidade.

E o que se escreve sobre as forças de Defesa e Segurança é também de uma grande importância. Lembra-se neste relatório que estas forças surgiram muito antes da proclamação da independência, são património da luta de libertação nacional, foram concebidas como braço armado de uma luta política e militar de libertação nacional. Pois bem, esta politização perdurou formalmente até 1991, data em que através de revisão constitucional se pôs fim ao regime de partido único. Mas como diz a Liga, a matriz formal destas forças de Defesa e Segurança sobrevive sustentada pelos argumentos de que foram os promotores de independência e conseguintemente têm a responsabilidade histórica de imprimir um determinado rumo ao país. É esta visão que justifica as várias interferências de tais forças na vida política e constitui o principal óbice à sua conversão em forças republicanas.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17614: Notas de leitura (980): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12654: Bibliografia (38): No meu próximo livro intitulado "Bissaulónia", a minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC, governantes da Guiné-Bissau no pós-independência (Mário Serra de Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data de 27 de Janeiro de 2014:

Olá Carlos:
Tentei responder no blogue mas, aparentemente a minha mensagem tinha mais texto que o permitido.
Deste modo, aqui fica para tua consideração, estas primeiras linhas, e no anexo, um excerto do meu próximo livro.

“Agradecendo sinceramente a todos os meus camaradas que tiveram a amabilidade de me dar os parabéns, informo mais uma vez que estou na fase final de terminar o meu próximo livro, intitulado "BISSAULÓNIA".
Sobre o mesmo, creio já ter comunicado que que estaria aberto a receber toda e qualquer questão, relacionada com qualquer “curiosidade” que acaso possa existir na mente de muitos dos camaradas ainda viventes, tendo em conta, o facto de eu ter tido uma estadia na Guiné mais prolongada, que a maioria.
A abertura continua até ao dia da edição.
Depois, já será tarde. 

Para já, e como forma de agradecimento, e a titulo de uma “pequena homenagem” aqui vai um pequeno excerto das paginas inicias de “BISSAULÓNIA”. 

Prometo enviar periodicamente mais algumas páginas, logo que revistas, na procura de algum erro. ACEITO E AGRADEÇO QUALQUER CORREÇÃO. 



Assim, temos… "BISSAULÓNIA"

Um livro onde procuro descrever as mudanças visualizadas em Bissau, no contexto da composição da “textura humana” desde a data da minha chegada à Guiné (Maio de 1967) e o período pós independência.
Procuro também relatar as mudanças feitas na política local, com todas as suas consequências sociais e económicas que, lamentavelmente para mim e minha família, ainda hoje sinto um determinado traumatismo, com uma “raiva interior de impotência” pela “ingratidão" demonstrada para com a minha pessoa, não pelo povo da Guiné nem por todos os membros da “cúpula” do Governo da Guiné, mas sim por meia dúzia de “mal paridos”, aos que eu chamei e chamo – sem hesitação alguma – “batatas podres com pernas”.

Ingratidão para com quem demonstrou uma cega confiança na capacidade de “quem estivesse ao leme”, de saber diferenciar entre aqueles que acaso tivessem tido um comportamento menos apropriado, e a pessoa que arriscou cegamente tudo o que tinha ganho até ali, incluindo ficar empenhado com letras bancárias, para aquisição de outros locais de actividade, onde por certo daria trabalho a algum membros do povo da Guiné.

Como disse, não foi o “povo em geral” que foi ingrato nem tão pouco muitos dos membros “da cúpula”, mas sim uns quantos que se apoiavam na prepotência e no abuso de poder, por terem “compadres empoleirados” da ala politica que mais reinava na ocasião. A ala de Cabo Verde. Nunca esqueci nem esqueço o que me fizeram e tentaram fazer".

Mário Serra Oliveira


Guiné-Bissau
Foto: SIC Notícias, com a devida vénia


INTENÇÃO – OBJECTIVO

A intenção destas linhas, tem como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas, os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné-Bissau.

A razão principal, tem origem no facto de, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma (ou mais, quem sabe?) comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficiais, no coração da cidade de Bissau.

Com esta minha decisão, acabei por ficar na Guiné durante cerca de catorze anos e meio e, como tal, acabei por ser “testemunha” voluntária (1) do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas. No entanto, apesar de ter havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me posso referir aos “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes porque, era aí que eu me encontrava, “abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de 1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro.

Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau. Portanto, no que me diz respeito, além do período pré independência que refiro, desde Maio de 1967, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda a mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981.

Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente. Portanto, perante esta certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência. É pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas.

Aqui, nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana. Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de fazer uma singela homenagem, a TODOS os milhares dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.

A TODOS, um abraço aos ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra “Vos seja leve e o sorriso das flores Vos embale”.
Para a vida e para a morte, sou o sempre Vosso fiel camarada.
Mário Serra Oliveira -
1.º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.
(Mário Tito)

Guiné-Bissau - Bissau Velho
Foto: Road Blog, com a devida vénia


HOMENAGEM - RECONHECIMENTO

Ao mesmo tempo, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente do ponto de vista políticos e acções do passado, sinto-me com o dever cívico de prestar uma homenagem de reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo à minha posição de comerciante no ramo da restauração, os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo (2).

Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efectivamente, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou ocasionais com a minha pessoa. De facto, por parte de alguns destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção destas linhas, se houve algum excesso ou empenho, foi de abuso e prepotência, numa tentativa de “dificultar o mais possível” a minha vida, bem como a da minha família.
O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - politico ou não - aberrantemente paupérrimo. Mas, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças politicas naquela “pobre" Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.

 Deste modo, cada qual pelo seu motivo mas, todos, pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a minha memória me atraiçoa, esquecendo de mencionar algum outro nome.

Temos:
- Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas;
- Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro em 1975, mais tarde assassinado;
- Armando Ramos, comissário do comércio;
- José Pereira, comissário da segurança social (se não estou em erro…);
- Juvêncio Gomes, presidente da Câmara Municipal de Bissau;
- Victor Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros;
- Manuel Saturnino, cuja posição não recordo;
- Marcelino Lima, director dos armazéns do povo;
- um tal senhor ou camarada – como lhe queiram chamar
- Embaló, cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor);
- José Carlos Schwarz, cuja posição que ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobaiana Jazz, autor e poeta, falecido num trágico (?) acidente de aviação em Cuba;
- Carlos Gomes Júnior, (Cadogo) ex 1º Ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.

Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.
Os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente.

No entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em primeiro lugar mais uma vez, os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados.

TODOS ELES, por direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.

Finalmente, espero ter expressado claramente qual a minha intenção e, com isso, conseguir o objectivo a que me proponho.
Sinceramente.
Mário Tito

sexta-feira, 19 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6020: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (16): Um dia de ronco, um lugar de (re)encontros, uma janela de oportunidades (Parte I)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Chegada do Presidente da República, Malam Sanhá Bacai, com a esposa  (à sua esquerda) e o primeiro ministro, Carlos Gomes Júnior, atrás (à sua direita)... Embora esteja de perfil,  reconhecemos, de imediato,  de lado direito, cumprimentando o Presidente, o nosso amigo Domingos Fonseca, quadro técnico da AD, responsável do Núcleo Museológico  (*) e membro da Tabanca Grande.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje  (**) > O Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior, Cadoco, entre a multidão.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Intervenção do Primeiro Ministro. Carlos Gomes Júnior (Cadogo, como é conhecido na sua terra) acaba de realizar uma visita oficial a Portugal, de quatro dias, que inclui uma deslocação, ontem,  ao Porto onde  o PM se encontrou com crianças guineenses, internadas no serviço de pediatria do hospital de São João.

Em entrevista à Rádio Renascença, o chefe do Governo guineense analisou "alguns aspectos da vida do país, como a investigação em curso na justiça à morte do Presidente Nino Vieira e do ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas Tagme Na Waie. 'Há uma comissão de inquérito que está a seguir o processo e temos a garantia das Nações Unidas que vamos ter uma investigação isenta e transparente', disse"... Nas suas preocupações, também está "o combate ao narcotráfico no país".

O PM guineense, de visita a Portugal,  também tem, como objectivo,  "desenvolver várias parcerias, sobretudo na área económica"...

Os nossos camaradas da Tabanca de Matosinhos ainda se organizaram para poder enviar uma delegação ao jantar que foi organizado, ontem, no Porto... Por razões logísticas, acabaram por não poder comparecer. Em contrapartida, tencionavam estar presentes na recepção à Comunidade Guineense que vive no Norte.

Em Maio próximo, o ministro português dos Negócios Estrangeiros irá visitar a Guiné-Bissau,  acompanhado de delegação de empresários portugueses. Tem-se em vista  dar continuidade aos contactos que estão ser feito esta semana no âmbito desta visita do PM guineense que chegou a ser considerado o delfim de 'Nino' Vieira até ao conflito de 1998. 

Carlos Gomes Júnior nasceu em Bolama em 1949. Antes de entrar na política, e chegar a dirigente máximo do PAIGC,  foi um empresário e gestor de sucesso.  Não participou na luta armada como combatente. Gosta de futebol, do Benfica e de Portugal, onde estudou. Conheci, há dois anos, o seu velho pai, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Velho, cuja história de vida está para publicar no nosso blogue (tenho nas minhas mãos um texto policopiado que ele me deu em Bissau, por ocasião do Seminário Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008).
 
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Intervenção do Embaixador da União Europeia na Guiné-Bissau, Franco Nulli.
 
 



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Isabel Miranda, a poresidente da AD - Acção para o Desenvolvimento, promotora da iniciativa.  Um pequeno excerto do seu discurso, já aqui transcrito, em poste anterior (***):

" (...) O Museu 'Memória de Guiledje' é, antes de tudo, uma homenagem à geração de Cabral, a todos os que com o seu exemplo escreveram uma das mais belas páginas da nossa História. Mas é também um lugar de confluência de rios anteriormente desencontrados que hoje procuram um caminho comum.

"Encontro com os militares portugueses, aqueles que, embora em campo oposto, aprendemos a respeitar pela sua coragem e capacidade militar numa luta de longa duração e que, afinal, partilham os mesmos sentimentos de amor pela Guiné-Bissau e pelo seu povo, pela sua humildade, dignidade, valentia e determinação, os quais sempre souberam distinguir o povo português do regime colonial que a ambos oprimia" (...)



 
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Em primeiro plano, à direita, o régulo de Guiledje, Umaru Djaló; a seu lado, o Dr. Alfredo Caldeira, da Fundação Mário Soares, que deu apoio técnico ao projecto museológico.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Dois oficiais portugueses  que , presumo,  integram integram a Missão da União Europeia para Reforma do Sector de Defesa e Segurança da Guiné-Bissau.
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > A nossa representante na cerimónia, Júlia Neto, viúva do nosso camarada José Neto (1929-2007), em conversa com a combatente do PAIGC Francisca Pereira, sob o olhar do nosso amigo Pepito.

 
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > Aspecto da Tribuna de honra... O embaixador portuguê, António Ricoca Freire,  é o 5º  a contar da esquerda, estando ao lado do embaixador da UE.

 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico de Guiledje > A população local, em dia de ronco... Estima-se em 4 mil o número de pessoas que se deslocaram a Guileje, vindas de muitos lados, para assistirem a esta cerimónia.


Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados (Lgendas: Pepito e Luís Graça)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série >   5 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5770: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (15): Um visita virtual (Parte II)
 

(...) "O Museu 'Memória de Guiledje' é, antes de tudo, uma homenagem à geração de Cabral, a todos os que com o seu exemplo escreveram uma das mais belas páginas da nossa História. Mas é também um lugar de confluência de rios anteriormente desencontrados que hoje procuram um caminho comum.

"Encontro com os militares portugueses, aqueles que, embora em campo oposto, aprendemos a respeitar pela sua coragem e capacidade militar numa luta de longa duração e que, afinal, partilham os mesmos sentimentos de amor pela Guiné-Bissau e pelo seu povo, pela sua humildade, dignidade, valentia e determinação, os quais sempre souberam distinguir o povo português do regime colonial que a ambos oprimia .

"Hoje, em liberdade, reencontramo-nos com emoção, com vontade de juntar memórias, recordações, encontros e desencontros, voltar a caminhar juntos num caminho de respeito e progresso.

"Saudamos a presença da Srª Julia Neto, esposa do capitão José Neto que tanto amou este canto e que tanto contribuiu para que o Museu 'Memória de Guiledje'  fosse um êxito. Poucos dias antes de falecer, deixou-nos o seu desejo mais profundo: 'hei-de voltar a Guiledje', disse. A sua esposa, Srª Julia Neto, está hoje entre nós para realizar esta sua última vontade. Através dela saudamos todos os militares portugueses das 12 companhias que passaram por Guiledje e que quiseram deixar um pouco das suas recordações (aerogramas, fotografias, filmes, contos e narrativas).

"Saudamos por fim os nossos irmãos internacionalistas cubanos que verteram o seu sangue e suor nesta Pátria de Combatentes valorosos e, na pessoa dos hoje aqui presentes, saudamos todo um povo que prossegue a sua gesta de solidariedade para com a GB nos domínios da saúde, educação e desenvolvimento do nosso país". (...)