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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14291: Fotos à procura de... uma legenda (53): Os "Unidos de Mampadá", à despedida, em Nhala, em agosto de 1974... (António Murta / António Carvalho / José Manuel Lopes)


Foto 1A


Foto 1B


Foto 2A


Foto 2B

Guiné > Região de Tombali > Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 >  Os "Unidos de Mampatá", em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª CCAÇ/BCAÇ 4513)... Recorde-se que a CART 6250 foi mobilizada, pelo RAP 2, partiu para o TO da Guiné em 27/6/1972 e regressou em 24/8/1974. Esteve em Mampatá e Ilondé.Comandante: cav mil inf  Luís de Jesus  Ferreira Marcelino, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos (e legenda): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Comentário do António Murta (*) [ex-alf mil inf , Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74]

Olá, José Carlos [Gabriel]. Então não te lembras do rapazinho do saco da TAP? Era o Alf Capelão e chegou a ir várias vezes a Nhala em diligências do seu ofício, sujeitando-se às partidas escabrosas dos alferes anfitriões.

Não recordo o nome dele, nem da maioria dos que aparecem nas fotos, embora me lembre de todos. Agora sei os nomes do António Carvalho (camisa aberta, cinturão, cigarro na boca), e do José Manuel Lopes (à esquerda, camisola azul, bigodinho), porque os encontrei aqui na Tabanca Grande. 

Já quanto ao Alf Carlos Farinha, (por trás à esquerda, de óculos escuros, a esconder-se do fotógrafo, aliás, todos os alferes ficaram na parte de trás do grupo), quanto a ele, dizia, nunca me esqueci do seu nome nem do seu rosto, porque chegámos a ser parceiros de "quarto", aquando da minha estadia em Mampatá com o meu Grupo de Combate. 

O Capelão, confesso, não sei se pertencia à CART 6250 de Mampatá. Que eram todos camaradas magníficos, não tenho dúvidas, Cap Luís Marcelino incluído, também ele camarada tabanqueiro.

António Murta (ou só Murta, para os conhecidos!)

22 de fevereiro de 2015 às 00:35 


2. Comentário do António Carvalho (*) [ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74]

Com referência à 2ª foto [2A e 2B]

Na cabine do Unimog: o Zé Manel, da Régua, na frente, de calções às riscas;  e, por trás, o Nina (Mecânico). [Foto 2A]

Entre as Bandeiras: na frente o levanta-minas (Vilas Boas) , de óculos, sentado [Foto 2A]; por trás,  o Vieira da Madeira, de cigarro na boca e bandeira na mâo; por trás deste, o Carlos Farinha (só se lhe vê a cabeça) era o Alferes que substituía o Capitão [Foto 2A].

À direita das bandeiras ( da esquerda para a direita): Quarto da frente, Rato (de camisola vermelha), eu (de camisa camuflada, calças nº 1 e chinelos de dedo), o capelão do Batalhão e o Simões (professor da companhia) [Foto 2B].

Sete de trás: Benvindo ?  Transmissões? Alferes do Pel Caç Nat,  Pinto... O rapaz da camisa à Jimmy Hendrix, seria o  Murta? Alferes Esteves, de Mirandela e o Fernandes de Lisboa (cigarro na mão esquerda) [Foto 2B] (**)

Carvalho de Mampatá

22 de fevereiro de 2015 às 03:37


3. Poema do Josema [José Manuel Lopes], já aqui publicado há uns largos atrás, e onde se evocam alguns dos supracitados "Unidos de Mampatá" (***)... 

[Na altura, em março de 2008, ainda não o conhecia pessoalmente, falávamos ao telefone... Dele escrevi que se tratava de "uma voz muito original, pessoal, uma surpreendente revelação da escrita poética sobre a guerra colonial na Guiné".] (LG]

Calor, cansaço, suor,
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior,
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa;
nem tudo é mau, afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se, na verdade,
há o Carvalho, 
há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira,
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos [d]e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Josema

Mampatá, 1974


[fixação de texto: LG]
________________


(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 28 de março de 2008 >  Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

Para ter acesso à maioria dos poemas publicados (série "Poemário do José Manuel"), vd  poste de 29 de setembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5033: Poemário do José Manuel (30): O sol queima em Colibuia...

Vd. ainda poste de 27 de fevereiro de 2008 >  Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14277: A minha homenagem aos "Unidos de Mampatá" (CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), António Carvalho, José Manuel Lopes (Josema) e Carlos Farinha... (António Murta, ex-alf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)



Guiné > Região de Tombali > Nhala > 1974 > Os "Unidos de Mampatá", em final de  comissão,  foram despedir-se  dos "periquitos" de Nhala... 

Fotos (e legenda): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do  António Murta [ex-alf mil inf , Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74] [, foto atual à esquerda]

Data: 17 de fevereiro de 2015 às 01:25

Assunto: Aniversário do António Carvalho

​Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal.

Vi há instantes que um dos aniversariantes de hoje, é o António Carvalho, de Mampatá. (*)

Tenho duas fotografias, que anexo, de um momento importante da sua comissão na Guiné e que é, precisamente, o fim dela (comissão). Os rapazinhos estão de malas feitas e vão para a peluda. Foram a Nhala despedir-se e atazanar os periquitos locais. 

Podem reconhecer-se também nas fotos o nosso poeta de Mampatá,  José Manuel Lopes [, Josema,] e o Alfero Carlos Farinha,  todos Grã-Tabanqueiros. 

Tão jeitosos que eles eram!

A qualidade destas reproduções de slides, já de si fracotes, é baixa, mas dá para ver.

Se houvesse oportunidade e espaço, era um momento bonito para as publicar e eu ficava muito agradecido. Se não, ficam para quando der jeito. (Ai, se o dia tivesse 28 horas!).

Um abração para vocês,
António Murta
_____________

Nota do editor:

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13814: Parabéns a você (806): Para o camarada Luís Marcelino, com um obrigado pelo acolhimento em Mampatá (António Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72)



Colibuia, 10JUN73(74?) - Em baixo, a partir da esquerda: (i) Cap Mil João Luís Brás Dias, CMDT da 1.ª CCAÇ - Buba; (ii) Cap Mil Joaquim M. Guerreiro Dias, CMDT da 3.ª CCAÇ - Aldeia Formosa, faleceu em Agosto de 2013;  (iii) Cap Mil Luís Marcelino, CMDT da CART 6250/72 - Mampatá, integrada no nosso Batalhão; e (iv) Alf Mil António Murta, CMDT do 4.º Pel /2.ª CCAÇ - Nhala.  Atrás, um Tenente do QP, de quem não recordo o nome, que ainda conheci com o posto de Sargento-Ajudante. Excelente pessoa e muito bonacheirão.

Fotos (e legendas): © António Murta  (2014). Todos os direitos reservados [Edição de CV]



1. Mensagem do nosso camarada e futuro tabanqueiro, António Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72, com data de 23 de Outubro de 2014:

Camaradas Carlos Vinhal e Luís Graça:

No próximo dia 28 do corrente é o aniversário do camarada Luís Marcelino, ex-CMDT da CART 6250/72 de Mampatá, 1972-74.

Tinha o maior gosto em dar-lhe os parabéns e oferecer-lhe uma fotografia que lhe fiz nesses tempos longínquos. Será um óbice o facto de eu ainda não ter integrado a Tabanca? Mas eu gostava...

Não sei se ele se recordará de mim, mas eu não o esqueci nem o acolhimento que me deu aquando da minha breve passagem por Mampatá.

O mesmo direi em relação ao camarada ex-Alf Mil Carlos Farinha, (também ele tabanqueiro), de quem me separei abruptamente por ele ter sido ferido em combate.

Tínhamos dormido no mesmo "quarto" na noite que antecedeu esse dia azarado.

Oportunamente penso entrar de novo em contacto convosco - estou a organizar papéis e fotografias - para disponibilizar ao Blog todo o meu álbum que, "enterrado" no meu disco externo, não aproveita a mim nem a ninguém. Qualquer dia dá-me uma "malacueca" e...

Depois precisarei de uma dica para saber a forma mais prática de enviar isso.

Caríssimos Luís Graça, Carlos Vinhal, e demais obreiros da prestigiada e Monumental Tabanca Grande, aceitem um grande abraço de reconhecimento do

António Manuel Murta Cavaleiro,
ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513
Aldeia Formosa-Nhala-Buba, 1973-74
____________

Nota do editor

Vd. último poste da série de 28 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13813: Parabéns a você (805): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13370: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (2): No COP 4, no meu tempo, houve duas exceções, major Carlos Fabião e ten cor Agostinho Ferreira (Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)



Guiné > Região de Tombali  > Mampatá > Centro da aldeia e quartel de Mampatá. Foto do álbum de Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250,Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74,


Foto (e legenda): © Carlos Farinha (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Comentário de Mário Pinto ao poste P 13368 (*)

Caros camarigos:

Como sabeis, já há muito que é conhecida a minha atitude crítica  em relação aos  nossos Oficiais Superiores porque o que vi pessoalmente leva-me a  um comentário  não abonatório aos mesmos, salvo raras excepções que,  infelizmente pelo que vamos conhecendo,  foram comuns a todos os períodos de comissão e sectores da Guiné.

Só conheci dois sectore:  de facto foi Buba e Aldeia Formosa. Pertenci a um Comando Operacional que era o COP4 comandado por outro grande militar na altura Major Carlos Fabião ele e o Ten Coronel Agostinho Ferreira. Foram as excepções no meu tempo e nestes sectores. 

Estiveram vários comandantes no sector,  alguns até com reputação, mas não deixaram de ser uma desilusão para todos com as suas decisões desconexas de falta de conhecimento logístico do terreno e mesmo desconhecendo as formas de actuação do PAIGC, por falta de sua presença no terreno e experiência em combate. 

Era gente que regulava-se por mapas e croquis absoletos  em gabinetes fora das realidades do mato e mal aconselhados por Capitães comandantes de Companhia que nem ao mato iam. Chefes operacionais que em vez de acompanharem pessoalmente os movimentos de quem estava destacado no terreno, preferia mandar vir uma DO para do ar e fora de perigo ver onde se posicionavam os Grupos de Combate, correndo o risco de  denunciar ao PAIGC as nossas posições,  como aconteceu por diversas vezes. 

Isto tudo se passou no meu tempo e no meu sector. por isso digo com conhecimento de causa que os nossos Oficiais  Superiores,  salvo algumas excepções,  não cumpriram as missões que lhe foram confiadas,  limitaram-se a deixar correr o tempo e a fazer uns relatórios baseados nas informações e nas acções de quem na verdade andava no terreno operacional.........

Posto isto meus caros, mais não posso dizer-vos que,  na verdade, já vocês não saibam (**)......

Um abraço

Mário Pinto

[ [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71; está na nossa Tabanca Grande desde julho de 2009] (***)




A nova força africana... O major Fabião, na altura (1971/73) comandante do Comando Geral de Milícias... In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).


(***) Vd. poste de 24 de julho de 2009 >  Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71

domingo, 6 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4905: Blogoterapia (123): Aos políticos, governantes, a quem pode decidir (Carlos Farinha)

1. Mensagem de Carlos Farinha (*), ex-Alf Mil da CART 6250/72, Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74, com data de 2 de Setembro de 2009:

Caro Luís e restante equipa editorial

Já há algum tempo que trago algo a incomodar-me e decidi partilhar esta minha inquietação com a Tabanca Grande. Escrevi o texto que anexo e não ficarei ofendido se não puder ser publicado.

Um abraço
C.Farinha


Aos políticos, governantes, a quem pode decidir

Hoje, é um regalo ver as despedidas ou a recepção feita no regresso, aos nossos militares quando partem ou regressam de missões, que nunca excedem alguns meses, no estrangeiro com a gente graúda, militares e políticos, a comparecerem em peso e a mediatização que tais acontecimentos têm sendo amplamente divulgados pelas televisões em horário nobre.

Os tempos são outros, e ainda bem que mudaram, mas não posso deixar de sentir um nó na garganta quando me lembro da minha partida para a Guiné, pela calada da noite, escondidos de toda a gente, como se de um bando de malfeitores se tratasse, com partida ainda de madrugada.

Hoje, os nossos militares têm cumprido missões de guerra em locais perigosos com reconhecida competência mas, segundo se diz, são voluntários e, acho que, bem remunerados, bem treinados e equipados.

Não foi o caso da maioria dos ex-combatentes que foram obrigados a ir, com uma deficiente preparação militar e colocados em locais perigosos militarmente e, muitas vezes, sem quaisquer condições.

Terminado o conflito colonial, parece que houve pressa em colocar uma pedra sobre esse passado incómodo e, nomeadamente, sobre treze anos de guerra e as desgraças que daí resultaram.

Daí que, acho dever fazer algumas perguntas, à laia de desabafo, à classe que nos tem governado, chamo-lhes uma classe porque pelas decisões que tomam ou não, parece que vivem num mundo diferente do meu, o mundo real:

Nunca mais ouvi falar nos ex-combatentes. Seja em programas de apoio psicológico, assistencial ou outro, seja qualquer outro tipo de ajuda que a eles se destinasse. Como todos sabemos, muitos de nós nunca mais atinaram com o rumo certo.
Nunca ouvi falar que tenha sido efectuado o levantamento rigoroso dos nossos mortos que ficaram sepultados em locais inóspitos ou cemitérios e se procedesse ao levantamento e repatriamento dos seus restos mortais. Um país que não respeita os seus mortos que deram o seu bem maior em sua defesa, depois de os obrigar a trilhar esse caminho, não merece o respeito dos seus filhos.
Nunca ouvi falar que aos africanos que acreditaram em nós, que combateram lado a lado connosco e aos quais muitos de nós devem a vida:

- Fossem pagas as pensões devidas.
- Tivessem apoio médico ou outro para fazer face às mazelas ocasionadas pela guerra.
- Fosse atribuída a nacionalidade portuguesa e trazidos para Portugal, se fosse esse o seu desejo.
- Que nas negociações de transição de soberania fosse garantido o respeito pela dignidade humana dos ex-combatentes autóctones.

Portugal tem que assumir o seu passado sem vergonhas, por inteiro. Os nossos políticos, alguns deles também são ex-combatentes, têm de assumir o país como ele é, e os ex-combatentes são uma parte, ainda significativa, desse país. Os nossos governantes andam preocupados com combatentes doutros países, vamos receber dois presos de Guantánamo por questões humanitárias, e não se preocupam com os do seu próprio país que até, provavelmente, lhe entregarão o seu voto. A falta de consideração dos políticos pelos milhares de ex-combatentes, ficou bem patente na novela da contagem do tempo, passado a arriscar a vida, para efeito de reforma. Qualquer funcionário colonial tinha esse direito nós, carne para canhão, não o tínhamos.

Para mim, o que acho mais grave e que mais dói, não é termos sido tratados da forma como o fomos pelo regime anterior, o que considero grave é hoje, nesta democracia que se quer pujante e participada, sermos ignorados e considerarem que já morremos!

Talvez eu esteja enganado em relação ao que escrevi, talvez não seja bem assim e esta opinião se deva à minha ignorância. Oxalá, eu esteja enganado, seria caso para dizer, bendita ignorância!
__________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de Carlos Farinha com data de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4846: O nosso encontro com o PAIGC em Mampatá (Carlos Farinha)

Vd. últimpo poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4773: Blogoterapia (122): Ainda choro e me revolto por todas as nossas mentiras... (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4846: O nosso encontro com o PAIGC em Mampatá (Carlos Farinha)

1.  Mensagem de Carlos Farinha (*), ex-Alf Mil da CART 6250/72, Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74, com data de 2 de Agosto de 2009:

Caro Luís e restante equipa editorial

Quando da minha adesão à Tabanca Grande, enviei algumas fotos relativas ao encontro pacífico da minha companhia CART 6250 com os militares do PAIGC. O Luís no comentário que fez, achou que seria interessante relatar a minha experiência desse encontro.

Então aí vai, mas as lembranças não estão muito nítidas. Fica ao vosso critério a publicação do texto. Se acharem que não tem qualidade, cortem.

Já me ia esquecendo, quando enviamos um texto qual é a melhor forma de nos identificarmos? Só o nome chega? Bom, desta vez, vou indicar, também, o número do primeiro poste que é P4745.

Um abraço
C.Farinha


Junho de 1974 - Encontro com os militares do PAIGC

Segue um relato simples de como decorreu o primeiro contacto pacífico com militares do PAIGC que nos visitaram. As lembranças não estão muito nítidas mas, procurarei dar uma imagem do acontecido da forma como o vivi.

Não sei quais foram as razões para o PAIGC nos escolher para efectuar a visita, só o PAIGC poderá responder a essa questão, de qualquer forma penso que não será alheio a essa situação o facto de não haver quartel, propriamente dito, e a tropa viver misturada com a população. Como curiosidade, gostaria de acrescentar que o quartel/povoação de Mampatá foi visitado algumas vezes por jornalistas estrangeiros, devidamente assessorados pelo Comando do Batalhão de Aldeia Formosa, em que se procurava mostrar e valorizar a relação pacífica com a população em que, fisicamente, não havia barreiras ou qualquer tipo de segregação.

O golpe militar de 25 de Abril foi por todos nós sentido com mais ou menos intensidade dependendo da consciência política de cada um, contudo, para nós que já tínhamos 22 meses de comissão, esse facto ainda veio retardar mais a nossa substituição que, de facto, já não aconteceu tendo a Companhia sido concentrada nos arredores de Bissau, acho que o local se chamava Pujunguto, com menos condições que aquelas que tínhamos no mato, mas porque queríamos ir para casa aceitávamos tudo. Os sentimentos em relação ao 25 de Abril foram um misto de euforia contida, com alguma ansiedade à mistura.

Uma delegação do MFA veio à sede do Batalhão em Aldeia Formosa, no dia 16 de Maio segundo diz o camarada Carvalho (poste P3771**), que nos procurou explicar o novo rumo para o país e, aquilo porque todos suspirávamos, a comunicação do fim das hostilidades com o PAIGC.

Passada esta data, recebemos indicação para levantamento dos nossos campos de minas e, operacionalmente, a nossa actividade ficou reduzida a alguns patrulhamentos sempre nas redondezas do aquartelamento. Nesta actividade, se por acaso fossem detectados elementos do PAIG, a indicação era para não hostilizar.

No início de Junho de 1974, a povoação de Mampatá foi visitada por um Comissário Político do PAIGC que contactou com a população e militares africanos. Não me lembro se, oficialmente, a tropa foi informada desta visita.


Nos fins do mesmo mês uma força militar do PAIGC, penso que dois bi-grupos, vindo pela estrada/picada da Chamarra, chegaram próximo da povoação de Mampatá. Todos nós, militares, acorremos alvoroçados ao encontro dos nossos ex-inimigos com alguma curiosidade mas, sem receio.

Não alimentamos revanchismos ou qualquer tipo de vingança sem sentido porque, tanto nós como os militares do PAIGC, passámos por momentos maus, perdemos camaradas e vimos outros sofrer. Do que se tratava agora, era sarar as feridas abertas por anos de lutas entre os dois povos e encetar um novo relacionamento ajudando a construir um novo país emergente.


Já não me lembro como foi o primeiro contacto, sei que não houve gelo ou hesitações e se procurou comunicar. Pessoalmente, lembro-me que o militar com quem mais falei se chamava Fuam, acho que era este o seu nome, não sei se é assim que se escreve, identificou-se como comandante de bi-grupo (identificado na imagem). Lembro-me, ainda, que uma das conversas que tivemos foi saber se dos contactos que tínhamos tido na estrada Mampatá / Nhacobá, em quais é que tinha participado.


Como este encontro se realizava às portas da aldeia de Mampatá, convidámos os militares do PAIGC a entrar na povoação/quartel onde continuou a confraternização, nomeadamente com a população e militares africanos.
Além das bebidas oferecidas por nós directamente, foi dado arroz à população que o cozinhou e o distribuiu aos militares do PAIGC.

Houve troca de presentes e lembro-me, ainda, que o meu presente para o Fuam foi o meu isqueiro, naquela época ainda fumava, que me ofereceu um par de meias.

Já não me lembro de mais, vou ficar por aqui mas, se algum camarada que ler este texto tiver algo a acrescentar acho que o deve fazer. Desculpem as fotografias que não têm muita qualidade mas, mesmo assim, junto mais uma ou duas.


O comandante da força do PAIGC assinalado na imagem

A força do PAIGC em progressão

A entrada dos militares do PAIGC em Mampatá.

Fotos e legendas: © Carlos Farinha (2009). Direitos reservados
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4745: Tabanca Grande (166): Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250, Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74

(**) Vd. poste de 21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3771: Blogoterapia (86): Recordações da Guiné, nem sempre as melhores (António Carvalho)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4745: Tabanca Grande (166): Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250/72, Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74

1. Mensagem de Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250/72, Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74, com data de 24 de Julho de 2009:

Luís, Amigos e camaradas

Já há algum tempo que, por mero acaso numa pesquisa na internet pela palavra Guiné, descobri o vosso blogue. Confesso que fiquei surpreendido por haver tanta gente com histórias e textos tão bem escritos em que se pormenoriza e se datam acontecimentos vividos. Fui até um pouco crítico quanto à bondade do relembrar, do reavivar certas memórias que a todos, duma forma mais ou menos intensa, nos marcaram. Hoje, visito o blogue com alguma frequência e, confesso que, quer pela leitura de vivências doutros camaradas, quer pela quantidade de testemunhos descritos, já consigo ir relembrando a minha experiência e falar dela como algo que pertence ao nosso passado individual e que não nos envergonha.

Nesta lenta transição do país para uma vivência democrática plena, decorridos que são mais de 35 anos após a queda do regime que tanto nos maltratou, parece que nós os que decidimos não desertar, embora a vontade de fugir não faltasse, cometemos algum crime de que tenhamos de nos envergonhar. Como bem sabem, depois de termos sido usados e deitados fora, nunca mais nenhum organismo oficial se preocupou connosco, se precisávamos de algum apoio, assistência, nem um simples questionário! Houve até um tempo, em que falar do nosso passado não era politicamente correcto. Desculpem-me por este desabafo, mas é o que sinto.

Venho pedir que me aceitem na vossa Tabanca Grande e, embora do meu passado guineense não me lembre de histórias pormenorizadas com datas e lugares ou tenha grande jeito para as contar, prometo que alguma coisa se há-de arranjar.

As apresentações:

Sou Carlos Farinha, pertenci à CART 6250 sediada em Mampatá (Aldeia Formosa, hoje Quebo), era Alf Mil e comandava o 1.º Grupo de Combate. Fiz o serviço militar de Julho de 1971 a Outubro de 1974. Fui mobilizado para a Guiné em Junho de 1972, tendo regressado à Metrópole em meados de Outubro de 1974. Hoje, moro em Coimbra.


Fotografias que quero partilhar:

Foto 1 > Saída para o mato em Mampatá

Foto 2 > Centro da aldeia e quartel de Mampatá

Foto 3 > 1.º GComb em farda de descanso

Foto 4 > Uma das luxuosas casernas

Foto 5 > Frente de trabalhos da estrada Mampatá/Nhacobá em construção

Foto 6 > Uma caserna do nosso Destacamento em Colibuia

Foto 7 > Uma caserna do nosso Destacamento em Colibuia

Foto 8 > Mampatá, JUN74 > Encontro com elementos do PAIGC

Foto 9 > Mampatá, JUN74 > Encontro com elementos do PAIGC

Foto 10 > Mampatá, JUN74 > Encontro com elementos do PAIGC

Foto 11 > Mampatá, JUN74 > Encontro com elementos do PAIGC


Foto 12 > Mampatá, JUN74 > Encontro com elementos do PAIGC

Fotos e legendas: © Carlos Farinha (2009). Direitos reservados.


Despeço-me com amizade
Carlos Farinha

************

2. Comentário de CV

Caro camarada Carlos Faria
Bem-vindo à nossa Tabanca virtual, onde, se bem lembro, tens já três camaradas, Furs Mil José Manuel Lopes e António Carvalho e, o Cap Mil Luís Marcelino, entrado recentemente para a Tertúlia.

Cada camarada que chega até nós e confessa que lendo o nosso Blogue ganha forças para lembrar e falar do seu passado de combatente, assumindo-o sem complexos ou sentido de culpa, é um bálsamo para continuarmos este trabalho a que nos propusemos.

Não precisas de pedir desculpa por estares a desabafar connosco. O fim do nosso blogue é precisamente que se conte as boas e más experiências da nossa passagem pela guerra da Guiné, servido as mesmas como repositório de uma história que queremos deixar, contada na primeira pessoa, e que ao mesmo tempo sirva de catarse a quem as narre.

Consulta por favor o lado esquerdo da nossa página onde te poderás inteirar dos nossos princípios, aquilo que (não) somos e as nossas normas de conduta.

Pretendemos discutir tudo o que se relacione com a guerra da Guiné, tão abertamente quanto possível e com a maior lisura, respeitando sempre as opiniões contrárias à nossa.

Recebe caro Carlos um abraço de boas-vindas de toda a tertúlia.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4742: Tabanca Grande (165): António Dâmaso da CCP 123/BCP 12, Guiné, 1969/71