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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16723: Agenda cultural (515): No passado dia 10 de Outubro, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, foi apresentado o livro "Quatro Rios e Um Destino" do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (Carlos Vinhal)


No passado dia 10 de Outubro, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, foi apresentado o livro "Quatro Rios e Um Destino" do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71.

Foi uma jornada emotiva, não porque o nosso camarada precise de nós, mas antes porque ele próprio é uma força de vida e um exemplo. Somos nós que precisamos dele.

A força da amizade entre ele e o médico que o tratou em Bedanda enquanto não foi possível a evacuação, o ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, ficou bem patente e sabemos que perdurará. Um misto de sentimentos fez com que a assistência se mantivesse em religioso silêncio, com algumas lágrimas a fazer arder os já gastos olhos dos Combatentes, e não só, ali presentes.

Ficámos a conhecer melhor o Fernando, a sua força de viver, aquela que todos quereríamos ter para enfrentar os mesquinhos problemas que nos surgem e que julgamos serem os mais importantes do mundo.

Quem venceu a morte e suplantou a adversidade é digno do nosso respeito e admiração.
Obrigado Fernando.

Segue-se a reportagem.

Carlos Vinhal


Ainda antes do início da apresentação foi possível reunir três distintos médicos e um administrador hospitalar: Dr. Paulo Portela (Índia); Prof. Dr. Amaral Bernardo (Guiné); Dr. Reis Lima (Angola) e Dr. Paulo Salgado (Guiné).



A sala estava composta embora o autor do livro merecesse mais audiência.


Momentos antes do início dos trabalhos, ultimam-se os pormenores.


A Mesa, presidida pelo Coronel Sousa Machado, ao centro, tem à sua esquerda: o Dr. Reis Lima, Presidente da Mesa da AG do Núcleo do Porto da LC e à ponta o Coronel José Belchior, coordenador da Tertúlia e Presidente da Direcção do Núcleo do Porto da LC. À direita do Coronel Sousa Machado: o autor Combatente Fernando Sousa e o apresentador, Prof Dr Amaral Bernardo.


O Coronel Belchior deu início à sessão cumprimentando a Mesa e os presentes, dando a palavra ao apresentador do livro, Prof. Dr. Amaral Bernardo que foi Alferes Médico em Bedanda, nos anos de 1970 a 1972, onde se encontrava aquando do acidente que feriu gravemente o autor Fernando Sousa.

Falar do livro e dos momentos vividos em Bedanda, pelo Fernando, nas primeiras horas a seguir ao infeliz acontecimento, foi doloroso para o nosso camarada Amaral Bernardo, que visivelmente comovido, lembrou o seu papel de médico no mato, sem as condições mínimas necessárias para assegurar a sobrevivência do ferido grave que tinha entre mãos. Fez o que pôde até que a evacuação se efectivasse, para que no hospital, com outros meios, o Fernando fosse devidamente tratado. Disse ainda, que foi com a maior emoção e alegria que, passados mais de 30 anos, o encontrou a andar normalmente e a levar uma vida plena.
Salientou o facto de o infortúnio ter criado uma amizade especial entre o médico e o doente que os unirá até ao fim dos dias.


Amaral Bernardo fala do Fernando Sousa com a maior admiração pela sua coragem e força vontade em suplantar as dificuldades.

Chegou a vez do autor, que dedicou as suas primeiras palavras ao homem a quem deve a sua vida, ao seu Alferes Médico e amigo Amaral Bernardo. Disse que a princípio não lhe ficou reconhecido pelo esforço em lhe salvar a vida porque o que queria era terminar ali mesmo a sua existência, mas que depois de ultrapassadas todas aquelas horas, e foram muitas, difíceis e dolorosas, reconhece o quanto lhe deve.

Falou do seu livro, onde descreve as horas, mais más do que boas, enquanto militar e enquanto sobrevivente e lutador, tentando viver com a maior normalidade possível face à sua deficiência de guerra.

Falou de Bedanda, localidade onde conheceu os piores dias da sua vida, a que dedicou um poema intitulado "Bedanda terra de Magia", que começa assim: Bedanda. Terra de nada, repleta de tudo / Sem ruas de avenidas despida / Onde o Tuga espera quedo e mudo / Nas entranhas de África nascida.
Podem ler o resto na página 230 de "Quatro Rios e um Destino"

Falou dos seus versos, do seu último livro "Sussuros Meus", do qual também leu alguns poemas, um dos quais em homenagem à Mulher.

O autor, Combatente Fernando Sousa, diz aos presentes o que o levou a escrever este livro.

Dada a possibilidade de intervenção aos presentes, falou em primeiro lugar o Combatente Carlos Pinto Azevedo, contemporâneo do Fernando Sousa e do Dr. Amaral Bernardo na CCAÇ 6 - Bedanda. Recordou também os momentos dolorosos que todos viveram com o acidente do autor ali presente, contando que no primeiro convívio dos bedandenses, ainda a caminho, se lembraram do Fernando e até puseram a hipótese de ele não ter sobrevivido aos graves ferimentos infligidos. Se fosse vivo, deslocar-se ia com certeza com muita dificuldade, talvez apoiado em canadianas ou até em cadeira de rodas. Quando reunidos, perguntam pelo Sousa, se estava vivo. Aparece então aquele homem caminhado normalmente. "Sem uma perna e andas assim?" - "Sem uma não, sem duas".
Espanto geral, estava ali vivo e são, um verdadeiro Combatente, alguém digno da nossa admiração.

Aqui o editor pede desculpa, mas a foto com a intervenção do Carlos não estava em condições de ser publicada.

Falou seguidamente o Presidente da ADFA-Porto, o Combatente Abel Fortuna, também ele um mutilado pela guerra da Guiné - S. Domingos.
Falou da dificuldade que os Combatentes têm, especialmente os Deficientes para quem tudo são barreiras

O camarada Abel Fortuna, Presidente da ADFA-Porto no uso da palavra.

Levantou-se também da assistência o Dr. Paulo Salgado, nosso camarada tertuliano, para saudar o autor e dizer o quanto o marcou positivamente o seu exemplo

Paulo Salgado - Ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72

Na fila da frente estava o Superintendente Isaías Teles, Presidente da Direcção do Núcleo de Oeiras/Cascais da LC, que falou das Tertúlias do Fim do Império e do apoio que esta iniciativa tem dado na edição ou divulgação da bibliografia da Guerra Colonial.


O Superintendente Isaías Teles falando aos presentes.

Era inevitável que não se falasse das mulheres das nossas vidas, principalmente daquelas que a seu modo, na retaguarda, viveram a guerra e sofreram pelos filhos, irmãos, maridos, namorados, afilhados de guerra, etc.

Levantou-se uma senhora que agradeceu as palavras dirigidas às mulheres presentes, e ausentes, uma mulher que já visitou a Guiné inúmeras vezes e por lá cooperou mais o marido. Estamos a falar, como documenta a foto, de Conceição Salgado, esposa do Paulo Salgado, e mãe de Paula Salgado, todos eles com publicações no nosso Blogue.

Peço desculpa pela foto, não é das melhores.

Conceição Salgado falando em nome das mulheres que também sentiram a guerra

Habitual interveniente nas tertúlias da Messe da Batalha, o Coronel Manuel Ferreira da Silva, que foi Comandante o COP 5, Gadamael/Guileje, falou também da falta de respeito e consideração que algumas autarquias ainda têm pelos Combatentes, mantendo aquela distância fria, quase ignorando que existem, esperando que vão morrendo no anonimato. Ele que é um activo defensor de quem foi chamado para a guerra, que nunca se ganha pelas armas, até que o poder político a resolvesse, contou algumas peripécias, quase hilariantes, que vai ultrapassando com muita persistência.


O senhor Coronel Ferreira da Silva

Da assistência levantou-se alguém que só faltou a uma das muitas tertúlias Fim do Império que já se realizaram na Messe da Batalha, no Porto, e que nunca tinha pedido a palavra antes, o Presidente da Direcção do Núcleo de Ribeirão da LC, o Combatente José Ferreira dos Santos.

Disse que não se podia calar perante o exemplo de força de vida que era o Fernando Santos. Que ia levar um exemplar de "Quatro Rios e Um Destino" para a sua mulher ler. Que melhor homenagem lhe podia fazer?

O Combatente José Ferreira dos Santos, Presidente da Direcção do Núcleo de Ribeirão da LC.

Ainda estava reservada uma surpresa, porque quando o Coronel Belchior se levanta é para dar fim aos trabalhos e dar a palavra ao Presidente da Mesa. Mas desta feita, o Coronel Belchior levantou-se para intervir, fazendo o paralelo entre o Fernando Sousa e ele próprio, ferido duas vezes em combate. Claro que como militar profissional, tantos anos no campo de batalha, ser ferido é quase como inevitável, mas um jovem miliciano ficar mutilado é sempre uma tragédia.

O senhor Coronel Belchior falando de si e do Combatente Fernando Sousa

Como médico que é, e como Tenente Médico Miliciano em Angola que foi, o Dr. Reis Lima não podia ficar indiferente ao que ali se passou. Cumprimentou o Fernando pela coragem em ultrapassar as dificuldades que a sua deficiência lhe acarreta e pela sua escrita sentida, tanto em prosa como em verso.


O senhor Dr. Reis Lima, Presidente da Mesa da AG do Núcleo do Porto da LC, quando se dirigia especialmente ao autor.


Para encerrar a tertúlia da tarde, o Coronel Belchior deu a palavra ao senhor Coronel Sousa Machado, que aproveitou para dizer que também ele, apesar de não ser contemporâneo, enquanto militar, da Guerra de África, também a sua família sofreu as consequências mais funestas daqueles conturbados tempos.


O senhor Coronel Sousa Machado a encerrar os trabalhos da tarde.

Texto, fotos e legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16709: Agenda cultural (508): Lançamento do livro "25 de Novembro, Reflexões", coordenação do Coronel Manuel Barão da Cunha, no próximo dia 15 de Novembro de 2016, pelas 15h00, na Livraria/Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 92, em Oeiras

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4915: Tabanca Grande (172): Carlos Azevedo, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

1. Mensagem de Carlos Azevedo, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1971/72, com data de 1 de Setembro de 2009:

Caríssimo Luís Graça

Antes de mais vou-me apresentar.
Fui um entre tantos que cumpriram o serviço Militar na bela Guiné.
Tive dois Capitães na Companhia em Bedanda, o Sr. Capitão Carlos Ayala Botto e o Sr. Capitão Gastão, dois Homens com um H Grande!

Não fui herói, nem exemplo extraordinário.

Tenho acompanhado desde o início estes trabalhos no teu blogue, e a dada altura vejo alguém que esteve em Bedanda no meu tempo (71-72), não sei se por ter estado no Pelotão destacado, o certo, é que não encontrei o tal Vietname referido por esse meu Camarada de armas. Claro que as coisas por vezes não eram fáceis, daí ao Vietname.
Passei bons momentos e alguns menos bons!

Fiz grandes amigos nessa CCAÇ 6 (Companhia de Nativos) onde poucos éramos europeus.
No Pelotão (7), entre eles só um trasmontano, Ismael Barros, radicado há muitos anos em França, que me contou que Nino Viera se entregou a ele em Bedanda em 1973, Fevereiro ou Abril, no tempo do Sr. Capitão Gastão, estando em Bedanda uns dias a ser interrogado por pessoal vindo de Bissau. Disse o meu amigo que nesses dias foi um pandemónio em Bedanda. Terá sido levado para Bissau? O certo, é que se lhe perdeu o rasto.

Aquando do exílio do Sr. Nino em Vila Nova de Gaia, o meu amigo Ismael mostrou interesse em falar com ele; pediu-me inclusive para eu tentar contactar com o Sr. Major Valentim Loureiro, que foi cônsul na Guiné, mas eu nunca consegui.

Mas o mais engraçado disto tudo, é que quando em 2000 regressei à Guiné, com entre outros o nosso camarada Albano Costa, indaguei junto do nosso motorista, um tal Tcheno, que me referiu que na altura dos factos era muito jovem, admitindo no entanto essa possibilidade, devido às muitas pressões desde o assassinato de Amílcar Cabral.

Como vês, há tanta coisa por se saber... Histórias muito mal contadas pelos Capitães, nomeadamente os de Bissau, e também os nossos governantes, os de antes e os de agora. Digam a verdade! Esses Senhores que nos respeitem um pouco, porque demos o melhor de nós, fazendo sempre o que nos foi exigido e foi, muito, a troco de nada.

Sabes, o meu camarada trasmontano não mente!

Com um abraço para a Tabanca toda,
Carlos Azevedo

Carlos Azevedo em Bedanda


2. Comentário de CV:

Carlos, bem-vindo à Tabanca.

Se bem te lembras, estivemos a conversar a última vez em Lavra, aquando da inauguração do Memorial aos combatentes da Freguesia.

Sempre resolveste vir até nós, esperamos que para nos contares a tua experiência por Bedanda.

Como sabes, aqui no Blogue pautamo-nos por, dentro do possível, falarmos de factos que vivemos pessoalmente ou que são fundamentados em bases sólidas.

Se for verdade o Nino ter-se apresentado em Bedanda, ser lá interrogado, e de repente perder-se-lhe o rasto, como se justificou a sua fuga, uma vez que não se tratava de um simples guerrilheiro, mas de um alto responsável pela operacionalidade do PAIGC no sul da Guiné? Se ele se apresentou voluntariamente, por que se ausentou de novo sem nunguém dar conta? Esta fuga teria consequências muito complicadas para quem estava responsável pela sua guarda.
Esperemos que apareça alguém a corroborar este episódio.

Camarada, estás formalmente apresentado à Tabanca, agora é só começares a trabalhar.
Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4822: Tabanca Grande (171): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana (1968/69)