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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24088: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte III: A fuga para Dacar, nos princípios de 1960, com a ajuda do madeireiro e antigo deportado político Fausto da Silva Teixeira


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal). A Associação (também comhecida por Câmara do   Comércio de Bissau) ficava junto ao palácio do governador... O projeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves (1920-1981), e a remonta  à segunda  metade da década de 50. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974, a sede da Associação Comercial  passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou seja dos novos senhores da guerra, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.

Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que Portugal  deixou  em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.

Nascido em Santo Antão, Cabo Verde, J
orge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.

Foto: © Agostinho Gaspar (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Anúncio comercal, publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.  Digitalização: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné LG. O Mário Vasconcelos faleceu, infelizmente, em 2017.]

1. O madeireiro Fausto da Silva Teixeira podia ser considerado "simpatisante" da causa nacionalista (leia-se: do PAIGC). Mas nunca foi "militante"... Tinha serrações modernas, mecânicas, em Bafatá, Fá Mandinga e Banjara, antes da guerra.   A sua firma foi fundada logo em 1928. Sabemos que em 1947 já estava plenamente integrado na sociedade guineense, sendo um empresário respeitável... Como o próprio Amílcar  Cabral (AC), conceituado engenheiro agrónomo até 1960...

No nosso blogue temos uma dúzia de referências ao Fausto Teixeira. Num dos postes que já publicámos (*), reproduzimos um documento, de setembro de 1966, dactilografado, de 16 páginas (capa incluída), que tem a chancela do PAIGC, e  que se destinava a dar a conhecer (e a combater) "os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde" (sic) (*). Estranhamente (ou nem por isso),  não vem o nome da firma Fausto da Silva Teixeira.

De facto, no ponto XII, há referências aos "madeireiros", mas as empresas citadas são apenas três, e nenhuma delas nossa conhecida... A omissão do nome do Fausto da Silva Teixeira, é capaz de fazer sentido.

Na altura dissemos que, em relação à fonte da informação documental, no essencial, e tendo em conta o detalhe dos dados, parecia-nos ser de origem portuguesa, fornecida pelos meios oposicionistas que então combatiam o regime de Salazar. (talvez a partir de Argel).

O nome de Fausto Teixeira  também  não aparece na lista das 600 personalidades que constam, como tal, no respetivo blogue e na respetiva página do Facebook ("notas biográficas de cidadãs e cidadãos que lutaram contra o fascismo e o colonialismo"). 

Mas o mesmo acontece com outros dos seus companheiros de desventura: de facto, também não contam dessa lista os nomes de Gabriel Pedro (1898-1972) (igualmente desterrado para a Guiné e depois para o Tarrafal, tal como o seu filho Edmundo Pedro) e de Manuel Viegas Carrascalão (1901-1977) (operário gráfico, anarcossindicalista, preso sob a acusação de bombismo e de pertencer, tal como Fausto Teixeira e Gabriel Pedro, à "Legião Vermelha", acabando por ser desterrado para Timor em abril de 1927, no navio "Pêro de Alenquer", numa viagem que vai demorar 5 meses, com passagem por Cabo Verde, Guiné, onde desembarcam alguns deles e entram outros, e Moçambique onde é rendido o comandante do navio.).

No caso do Fausto Teixeira, a omissão do seu nome,  talvez possa ser devida ao facto de lhe terem perdido o rasto, desde que, com vinte e poucos anos, foi desterrado para a Guiné, em 1925, não pelo "fascismo" da Ditadura Militar / Estado Novo,  mas ainda pela I República em fim de vida.

De qualquer modo, Guiné e Timor eram dois dos piores sítios do nosso glorioso Império para onde o Estado mandava os desgraçados dos "desterrados políticos", sendo ali entregues à sua sorte. Para este inferno, que eram estas duas colónias, iam em geral os indivíduos de profissões manuais ou, no caso de militares, os soldados e os marinheiros. Enfim, até no exílio e deportação, todos eram iguais mas uns eram mais iguais do que outros.

Em todo o caso sabe-se, desde pelo menos a publicação, em Portugal, em 1984, das memórias do Luís Cabral ("Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 464 pp., uma edição miserável, o livro, brochado, em que as folhas nems equer são cosidas, apenas coladas, desconjuntando-se todo...), que a fuga deste para Dacar, capital do  Senegal, em princípios de 1960, só terá sido possível com a cumplicidade  e ajuda de dois portugueses, deportados políticos, e oposicionistas ao Estado Novo:

(i)  Maria Sofia Carrajola Pomba [Amaral da Guerra, por casamento], farmacêutica, dona da Farmácia Lisboa, em Bissau (alguns dos seus ajudantes ou empregados destacar-se-iam depois como militantes  do PAIGC, o Epifânio  Souto Amado e o Osvaldo Vieira); apesar de ter ficha na PIDE, vai para a Guiné, nos princípios dos anos 50, com o marido:

(...) "o seu apoio, ao embrionário nacionalismo independentista, é reconhecido pelos históricos dirigentes do PAIGC  que não poupam elogios ao seu papel na luta anticolonialista, nomeadamente no auxílio à organização clandestina de reuniões, na prestação de informações relevantes sobre prisões iminentes, como a de Carlos Correia, e na preparação de fugas, como a de Luís Cabral (auxiliado também por Fausto Teixeira)" (**)

(ii)  Fausto Teixeira (há dúvidas sobre a sua idade: um seu neto diz que nasceu em 1900 e morreu em 1981, mas sabe-se que desembarcou na Guiné em 1925).

2. Vamos ver, na "Crónica da Libertação",  algumas passagens sobre a fuga do Luís Cabral (LC)

O LC era "guarda-livros" (noutras passagens intitula-se contabilista...)  na Casa Gouveia, que pertencia ao Grupo CUF. Mas o seu trabalho político clandestino, no seio do PAI (ainda não se usava a sigla PAIGC) começou a levantar suspeitas da polícia política, mais organizada e ativa depois dos "acontecimentos" de 3 de agosto de 1959 (greve dos marinheiros e trabalhadores das docas do Pijiguiti). 

Na altura o PAI ainda estava confinado a Bissau e era formado por pouca gente,  sobretudo de origem cabo-verdiana, pequeno funcionalismo de 3 ou 4 empresas: além da Casa Gouveia, a NOSOCO, o BNU, os CTT... E a versão sobre o Pijiguiti, onde a Casa Gouveia e o seu subgerente, António Carreira, tiveram muitas culpas no desfecho trágico da greve (pp. 65-70) está muito mal contada por  LC: o PAI quis chamar a si, indevidamente, os louros...

Em contrapartida, "na Casa Gouveia, o meu trabalho profissionalmente sério continuava dando os seus frutos, num momento em que os homens do grupo CUF (Companhia União Fabrl) começavam a aceitar a necessidade de alguma africanização dos quadros superiores da empresa" (pág. 81).

Com uma boa opinião dos patrões, gabinete novo, casa própria, um bom salário, a mulher também tinha um bom emprego, um casal com respeitabilidade e  prestígio na comunidade, etc., o LC tinha tudo para fazer uma boa carreira na empresa. Mas a sua opção foi outra: seguir o irmão, AC, na luta pela independência da Guiné e Cabo Verde. 

Estamos na véspera na inauguraçao da Associação Comercial, Agrícola e Industrial da Guiné, um edifício moderno, de arquitetura arrojada para a época, pago pelo Governo central.

Aristisdes Pereira,  que era chefe da Estação Telegráfica dos CTT (e o Fernando Fortes era  o chefe da Estação Postal, na prática os "donos" dos CTT) , em Bissau, consegue interceptar um telegrama em que o administrador da Gouveia (que tinha vindo  de propósito de Lisboa para assistiir às "festividades" em Bissau)  telefonou para a sede a pedir um novo guarda-livros para a empresa, já que o LC ia ser preso... Mas só "depois de encerradas as contas  do ano comercial findo",  a pedido da própria empresa...  (pág. 83), o que dá uma ideia da promiscuidade entre a PIDE e alguns meios empresariais...

A notícia, confirmada pela dra. Sofia Pomba Guerra (que tinha bons contactos com, pelo menos,  um oficial do exército), pôs em marcha o dispositivo para a fuga: "um antifascista português estava pronto a encarregar-se de me fazer sair, a todo o momento, do país" (pág. 83).

Fausto Teixeira é descrito como um "deportado político e muito conhecido pelas suas opiniões contra o governo fascista".

Pormenores da fuga, relativamente segura e discreta,  podem ser lidos nas páginas 83-87.

(i)  na véspera de partir o LC não escapou aos rituais da superstição que os seus "camaradas de Partido" lhe impuseram: ao sair de casa tinha que deixar cair um ovo no chão; se ele não se partisse,  devia desistir da viagem (!) (pág.  84);

(ii) o automóvel do Fausto era um Peugeot 203, pintado de cor azul forte ("se a memória não me falha") (pág .85);

(iii) o LC entrou no carro do Fausto, ja era noite, frente ao cinema UDIB, um dos sítios mais iluminados da Av. da República,  deitou-se no chão,  enquanto o carro  seguia lentamente pela Av. da República acima:

(iv) O condutor, por sua vez, "ia tranquilamente saudando as pessoas pelo caminho e  até parou  escassos segundos para dizer  algumas palavras ao inspector da PIDE que estava sentado na esplanada na Pastelaria Império " (pág. 85);

(v) a PIDE nunca suspeitou do plano: esperava que o LC caísse na armadilha de levar o seu próprio carro, daí ter posto guardas na ponte de Ensalma e à entrada de Mansoa: Fausto usou um dos seus camiões para ludibriar a vigilância dos guardas...

(vi) conhecido dos guardas, o Fausto não teve necessidade de parar: o LC atravessou a ponte escondido no  camião: já na estrada de Nhacra,  saiu do camião e voltou a entrar no automóvel e tudo correu bem até ao fim da viagem, perto da fronteira com o Senegal:

(vii) (...) "foi uma viagem agradável. O meu companheiro falou muito da sua vida política em Portugal, da sua prisão e do seu envio para a Guiné. Aqui o Governador deportou-o para a ilha de Bubaque, donde não podia sair.  Pouco a pouco a pressão  foi no entanto diminuindo, até ele poder viver como toda a gente" (pág. 85).

(viii) o LC acrescenta mais, para justificar o gesto altruísta do madeireiro:

 "Queria ajudar a luta de libertação da Guiné. (...) Considerava-se devedor dessa contribuição. Para já, estava em condições de tirar do pais qualquer militante que tivesse que sair. (...) Tinha pintado uma tira branca numa grande árvore, mesmo à entrada do entroncamento  que conduzia à serração, partindo da estrada de Mansabá a Bafatá" (pp. 86/87).

(viii) E conclui:

(...) "Entrámos na serração e logo a seguir continuámos em direção à fronteira, perto da localidade de Fajonquito. A  estrada tinha sido aberta pela Missão Geo-Hidrográfica e nunca era utilizada. A mata era tão cerrada que muitas vezes o caminho parece de longe não poder dar passagem a um carro. (....) Pouco depois, passávamos ao lado da tabanca de Fajonquito e  em seguida o meu companheiro parava o carro e mostrava-me  a tabanca senegalesa de Salekenié. (...) Devia ser por volta das três horas da madrugada quando nos separámos. (pág. 87).

Admitindo que o Fausto e o LC tenham partido às 20h00 de Bissau e chegado às 3h00 da manhã, à fronteira, logo a seguir a Canhanima (com Fajonquito à esquerda) e Cambaju (o "chão" do nosso Cherno Baldé) terão percorrido pouco mais de 200 km em 6/7 horas... Na época, e em plena estação seca (estávamos em janeiro), e ainda não havendo guerra (minas, emboscados, abatises...) até foi uma boa média... (No tempo das chuvas, e em plena guerra, eu cheguei a fazer um quilómetro por hora, na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho...)

Como não conhecemos outras versões deste episódio, não podemos confirmar ou infirmar a veracidade dos factos. Mas tudo indica que se terá passado mais ou menos assim como o LC descreve. (****)

PS - A grafia correta da aldeia fronteiriça senegalesa, em frente  a Cambaju,  deve ser Selikenié, segundo o mapa da Google,  e não Salekenié, como escreve o LC. (Mas aqui o Cherno Baldé deu-nos uma ajuda: a grafia portuguesa é Saliquinhé; não confundir com  Saliquinhedim, a sul de Farim, que os militares portugueses conheciam melhor por K3; os topónimos guineenses são tramados.)




Guiné > Carta da província (1961) > Escala 1/500 mil  > Provável percurso do Luís Cabral e do Fausto Teixeira, numa noite de janeiro de 1960, de Bissau até à fronteira do Senegal (Selikinié / Saliquinhé), passando por Mansoa. Mansabá, Banjara, Camamudo, Contuboel e Cambaju... Segundo o Cherno Baldé, os nossos homens teriam evitado Bafatá e seguido de Banjara para Camamudo, e depois apanhando a estrada Bafatá-Contuboel-Senegal... Fajonquito fica ao lado de Canhámina(estamos em pleno coração do "chão" do nosso amigo Cherno Baldé).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

___________

(***) Vd.postes de:


18 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (84): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)

16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (83): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...

8 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17447: (De) Caras (75): Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas (Fá Mandinga, Banjara...) a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e respeitável em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960..."Quem foi, afinal, o meu avô?", pergunta o neto Fausto Luís Teixeira (nascido em Ponte Nova, Bafatá, onde viveu até aos três anos)..

(****)  Vd. postes anteriores da série:

2 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24031: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos- Parte I: Ainda não foi desta que o autor nos contou toda a verdade...

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22633: (De)Caras (178): Viriato Madeira (1938-2011), ilustre cidadão da Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, Açores, ex-alf mil, CCAÇ 557 (Cachil, Bafatá, Bissau, 1963/65), citado no "Diário de Guerra", do Cristóvão de Aguiar


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (1963/65) > 1964 > A contar da esquerda: o açoriano de Santa Bárbara, Ribeira Grande, ex- alferes miliciano Viriato Madeira, comandante do 1º pelotão; a seguir o também açoriano, picaroto, ex-alferes miliciano Mário Goulart, comandante do 3º pelotão que todos os anos faz questão de nos acompanhar no almoço de convívio da CCaç 557; o algarvio, ex-alferes miliciano, Ildefonso Leal, comandante do 2º pelotão; e, em primeiro palno, à direita, o aveirense, ex-tenente miliciano médico, Rogério Leitão [, já falecido, em 2010].

Esta e outras fotos, do Cachil,. 1964, sãoão de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da  minha  CCAÇ 557. 

O quarto alferes miliciano, comandante do 4º pelotão e 2º comandante da companhia (, e que não aparece aqui neste fotograma,)  era o  José Augusto Rocha (1938-2018), destacado dirigente estudantil (em 1962) e depois advogado, defensor de muitos presos políticos sob o marcelismo. (Tinha uma posição radical sobre a guerra colonial, a da denúncia ativa, razão por que declinara, em 2015, delicadamente, o nosso convite para integrar a Tabanca Grande; era um hoem afável mas firme nas suas convicções.).

Foto (e legenda): © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados
. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Viriato Madeira foi aqui citado no "Diário de Guerra", do Cristóvão de Aguiar (**):

Camamudo, 12 de Junho de 1965

Vim a este destacamento de Bafatá en­con­trar-me com o meu amigo Viriato Madeira, que está prestes a terminar a sua comis­são. Esteve anteriormente, com a sua companhia, na Ilha do Como, durante cerca de um ano, rodeado de arame farpado e sem poder sair do aquartelamento de cam­panha, im­plan­tado no chamado reino do Nino, onde ninguém se atre­via a entrar ou a sair. Vie­ram de lá todos bem marcados. 

Foi tal a nossa alegria, que chorámos como duas crianças perdidas que se reencontram e abraçam uma à outra. E, para festejar o nosso encon­tro, preparou-me uma bebida, que ele chama bomba, espécie de cocktail revolu­cio­nário, que me pôs a dormir ou em coma alcoólico quase ins­tan­tanea­mente. Quando des­pertei, já era tarde para seguir para Contuboel. Mandei um rádio a prevenir que passava a noite em Ba­fatá, na sede do batalhão.

2. Comentários ao poste P9360 (*):

José Câmara:

Caro Colaço: Por informação recebida de Carlos Cordeiro, o Alf Mil. Viriato Madeira faleceu o ano passado.

Segundo a mesma fonte, o Viriato mantinha grande actividade cívica. Por isso mesmo granjeou grande simpatia entre a população da Ribeira Grande, Ilha de São Miguel. (***)

Um abraço amigo,
José Câmara

16 de janeiro de 2012 às 04:14

Carlos Cordeiro:

Caros amigos,

De facto, o Viriato Madeira foi uma pessoa de notável intervenção cívica. A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou, por unanimidade, um voto de pesar pelo seu falecimento:
http://base.alra.pt:82/Doc_Voto/IXvoto354_11.pdf (que se reproduz emnoata de rodapé (***)

Um abraço,
Carlos Cordeiro

16 de janeiro de 2012 às 13:00

José Botelho Colaço: 

O ex-alferes Viriato Madeira era um grande comunicador,  sempre bem disposto, ultimamente os nossos contactos eram menos assíduos devido ao seu estado de saúde segundo me dizia era do foro pancreático-

Estive nos Açores não o visitei porque o programa não contemplava a visita à Ribeira Grande.
A sua deslocação aos almoços da CCaç 557 só uma vez esteve presente, primeiro por motivos de trabalho e ultimamente pelo seu estado de saúde não o permitir, iam ficando sempre adiado para o próximo ano.

O Viriato dizia-me sempre quando eu me deslocasse à Ribeira Grande que não me preocupasse com hotel porque punha a casa dele à minha ordem.

E assim é aqueles que da lei da vida se vão libertando, a roda da vida não pára. (***)

Um abraço, Colaço

16 de janeiro de 2012 às 14:17

_____________



(***) O seu nome foi dado, por exemplo, a um equipamento de grandes prestígio e utildiade público, o Coplezo de Piscinas Viriato Madeira. Entre outras funções cívias, foi presidemte da direção dos Bomabeiros Voluntários da Ribeira Gramnde (2001-2011).

A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou, por unanimidade, um voto de pesar pelo seu falecimento em 2011:






Disponível em: http://base.alra.pt:82/Doc_Voto/IXvoto354_11.pdf 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22628: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VI: Contuboel (mai-set 1965), com gozo licença de férias nos Açores (de 24/8 a 25/9/1965) onde se foi casar...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)  > "A necessidade faz o órgão": com três pirogas, o Beja Santos improvisou  uma jangada, sem qualquer apoio técnico do BENG 447,  e, perante a incredulidade geral, levou um velho reboque para a outra margem (direita) do Rio Geba Estreito  e dali até Missirá... Ele tinha fama de levar tudo o que encontrava à mão na sede do batalhão,  o BCAÇ. 2852, já que em Missirá não tinha nada: por isso o pessoal de Bambadinca gritava uns para os outros, mal avistavam o Pel Caç Nat 52 a atravessar a bolanha de Finete: "Eh, malta, em guarda, vem aí o Tigre de Missirá!"... Como se fossem piores que  os corsários bérberes que infestavam as costas  algarvias no saudoso tempo do reino de Portugal e dos Algarves.

Três anos antes, o pessoal da CCAÇ 800 que chegou de viatura, de  Bissau, via Mansoa, até à margem direita do Rio Geba Estreito. frente a Bambadinca, deve ter utilizado a mesma engenhoca, uma jangada improvisada para cambar o rio e prosseguir viagem, via terrestre, até Bafatá e depois Contuboel. No seu "diário", o Cristóvão de Aguiar diz que esta simples operação de cambança levou "dois dias e duas noites" (25 e 26 maio de 1965). Chegaram a Bambadinca a 24 e a Contuboel a 27.

Foto (e legenda): © Beja Santos (2006). 
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra" (*), do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada dia 5, aos 81 anos (*). Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote (,a partir da parte VI, Carlos Vinhal).

Estes excertos, que o autor cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue, fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (**)




Cristóvão de Aguiar.
Foto: Wook (com a devida vénia...)


Diário de Guerra

por Cristóvão de Aguiar



(Continuação)

Contuboel, 27 de Maio de 1965

Demorámos dois dias e duas noites para atra­ves­sar o rio Geba com todo o nosso material de campanha. Não tivemos outro re­médio senão comer rações de combate e beber água meio choca e bi­chen­ta. Dor­mi­mos, isto é, atravessámos as duas longas noites com muita mosquitada a atazanar os miolos e a pele. E não houve repelente que a afastasse. 

Chegámos ao que vai ser a sede da nossa companhia anteon­tem ao princípio da noite. Estavam aqui apenas nove homens e um furriel miliciano, que comandava a re­s­pectiva secção de armas pesadas. 

Com a guerri­lha a apertar cada vez mais, os chefes desta guerra estão a guarnecer melhor certas posições-chaves. Fui cum­primentar as forças vivas da terra: o chefe de posto, um branco, ex-furriel e ex-semi­narista, e dois comerciantes − um português, oriundo do concelho de Góis, ainda novo, e res­pectiva consorte; e um li­banês, tam­bém casado, cujo estabelecimento fica em frente da messe. 

Ambos os tra­ficantes não se podem ver um ao outro, como mandam as re­gras da boa vizi­nhan­ça. Não lhes dei grandes con­fianças, sobretudo ao chefe de posto que, para se mostrar valente diante de mim, es­bo­feteou um cipaio que se não levantou à minha passagem na varanda do posto. Cha­mei-lhe a atenção para o facto e ele pare­ceu-me que não ficou nada satis­feito, pelo menos senti-o pelo olhar, que agarrei pelo cabo e devolvi ao seu dono.


Contuboel, 1 de Junho de 1965

PROMESSA

Trago à cabeça
Um cesto de rimas
Que é uma promessa
De novas vindimas...

Meu Avô era tanoeiro:
Fazia pipas e selhas,
Tonéis, dornas e barris...
Meu Pai é serralheiro:
Forja foices e relhas,
Machados e picare­tas...
Somente eu pouco fiz:
- Apenas versos e tretas!



Camamudo, 12 de Junho de 1965

Vim a este destacamento de Bafatá en­con­trar-me com o meu amigo Viriato Madeira, que está prestes a terminar a sua comis­são. Esteve anteriormente, com a sua companhia, na Ilha do Como, durante cerca de um ano, rodeado de arame farpado e sem poder sair do aquartelamento de cam­panha, im­plan­tado no chamado reino do Nino, onde ninguém se atrevia a entrar ou a sair. 

Vie­ram de lá todos bem marcados. Foi tal a nossa alegria, que chorámos como duas crianças perdidas que se reencontram e abraçam uma à outra. E, para festejar o nosso encon­tro, preparou-me uma bebida, que ele chama bomba, espécie de cocktail revolu­cio­nário, que me pôs a dormir ou em coma alcoólico quase ins­tan­tanea­mente. Quando des­pertei, já era tarde para seguir para Contuboel. Mandei um rádio a prevenir que passava a noite em Ba­fatá, na sede do batalhão.


Contuboel, 22 de Junho de 1965

Acabei de riscar a sexagésima cruzinha no ca­len­dário. É uma espécie de desobriga que pratico todos os dias, à noite, antes de me dei­tar. Ainda faltam tantas centenas, meu Deus! Será que chego ao fim? Comprei doze livros de Aquilino Ribeiro num estabelecimento de Bafatá. Cada um custou-me qua­renta e cinco escudos. Tenho muito que ler, se para tal tiver cabeça.


Contuboel, 29 de Junho de 1965

Fui com o meu pelotão reforçar a com­pa­nhia de Fajonquito numa operação de dois dias ao mato do Caresse. Chegámos ontem. Ao descalçar as botas de lona e tirar as peúgas grossas, encardidas, vieram-me pe­daços de pele a elas agarrada. 

Anteontem, a um domingo logo de manhã, ainda an­tes da missa na minha freguesia, na Ilha, onde assisti, durante a emboscada, à en­trada e à saída para lhe receber o sorriso e ficar comungado para o resto do dia, tive então o meu baptismo de fogo. 

Foi cerca de uma hora e meia (o tempo da missa ar­rastada do senhor padre Joaquim) que estive debaixo de metralha constante. Não vi nenhum ini­migo, mas senti-lhe a presença. Fumei quase um maço de cigarros Sa­gres e bebi toda a água do meu cantil e a do meu guarda-costas. 

Os velhinhos da companhia a que nos juntámos, a quatro meses apenas do fim da comissão, estão tão tarimbados nisto, que nem fizeram grande caso do tiroteio, nem sequer respon­deram. A dada altura, piraram-se no en­calço do capitão, para uma clareira onde já não havia perigo de maior. E fiquei mais o meu pelotão ainda durante algum tempo na mira dos guerrilheiros, mas não houve nem mortos nem feridos.


Contuboel, 25 de Julho de 1965

O TEU ANIVERSÁRIO

Neste dia dos teus vinte e um anos,
Dependurei uma violeta
No meu lembrar-te.
Queria oferecer-te açafates
De ternura
E beijos buliçosos
Como estes pássaros
Nos fios de alta tensão...

Lembrei-te
Como quem se demora
No beber uma memória antiga
Em fotografias desmaiadas...


O meu recordar-te
Foi um cortejo de martírio
Ao longo de canadas íntimas
Do saber-te cada vez mais longe,
Fictícia,
E no entanto perto,
Tão aconchegada ao meu peito,
Que deixaste de ser fora de mim...



Bissau, 23 de Agosto de 1965

Parto amanhã para Lisboa em gozo de férias. Vou dar um passo importante na vida e, se calhar, não estou para ele preparado nem ama­du­re­cido. Que se lixe. Preciso urgentemente de um descendente que me pro­longue, no caso de vir a morrer com um tiro na cabeça um dia destes nesta desal­mada guerra de nervos e do resto. 

O livrinho que publiquei não vai dar boa conta de mim [. "Mãos vazias", poesia, 1965]. Precipitei-me. Já tinha plantado uma árvore. Tem apanhado bordoada da críti­ca, que até ar­repia. Vide Pinheiro Torres, no Diário de Lis­boa, e Jaime Gama, no Açores

Quanto ao as­sunto que me leva de viagem, devia es­pe­rar mais algum tempo para depois ler, com outra reflexão e outro descanso, Um Casamento do Pós-guerra, de Carlo Cas­sola.

Pico da Pedra [, terra natal do escritor, ilha de São Miguel] , 19 de Setembro de 1965

Domingo de procissão de Nossa Se­nho­ra dos Prazeres. Durante o almoço familiar, estalejaram alguns foguetes, anun­ciando o le­vantar a Deus da missa da festa. Quando dei por mim, estava deitado no chão, de­baixo da mesa. O que são os reflexos condicionados! Na guerra, temos de actuar o mais rápido possível: mal se ouve um tiro ou qualquer detona­ção, tem uma pessoa de se ati­rar logo para o chão, caso contrário.


Pico da Pedra, 23 de Setembro de 1965

SONS DE DESPEDIDA

No magoado cantar desta chuva,
Es­cuto tristes sons de despedida:
- Amargurados prantos de viúva
Suplicando que o amante torne à vida.

Partir só de braços livres, sem destino,
Como esta chuva caindo sem fim:
- Ter um barco e um sonho de menino,
Que o mar já o trago dentro de mim.

Partir é soltar a tranca da porta
Desta alma que vive quase morta
Na jaula duma luta que se não cansa...

Se o mar que me deixaram em herança,
Me desse uma resposta, uma esperança,
Eu fingiria um tiro na lembrança...


Lisboa, 25 de Setembro de 1965

Acabaram-se as tréguas. Vou de novo de re­gresso a Bissau, sem ânimo de qualidade nenhuma. Quando chegar ao mato, vão de­certo al­guns estranhar que tenha voltado. O sargento Cabaço dizia, em segredo, an­tes de eu vir a férias, que o alferes Aguiar nunca mais poria os pés no teatro de guerra, com certeza iria desertar. E teimava que o sabia de fonte limpa e segura.


Contuboel, 29 de Setembro de 1965

EU E A NOITE

Abro as mãos
E a noite poisa,
A noite pesa-me.

Trago a noite
Vestida
Muito justa
No corpo todo.

Se fecho as mãos,
Não esmago
A noite,
Porque a noite
É tudo
E eu sou
A própria noite.

A noite não se anula
No fogo das estrelas...
Nem a guerra se cala
Na boca das ar­mas.

Nas mãos estendidas,
O peso da noite
E um vendaval de tosse
Na casa­mata do peito...

__________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 6 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22606: In Memoriam (410): Luís Cristóvão Dias de Aguiar (1940-2021), ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 800 (Contuboel e Dunane, 1965/67), falecido no dia 5 de Outubro de 2021

quarta-feira, 15 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17142: Convívios (784): XII Encontro do pessoal da CCaç 1426, 9 de Julho de 2017, em Odivelas (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.

Camaradas, Junto envio o programa do nosso convívio dos 50 anos do regresso à Metrópole.

Permito-me representar os heróis de BANJARA na capital do OIO, onde apenas tínhamos por companhia todas as espécies de répteis, aves e macacos. 

XII ENCONTRO DA CCAÇ 1426 

06 DE MAIO DE 2017 – SÁBADO

Venho informar que o nosso encontro se realiza no CENTRO CULTURAL, Rua 25 de Abril, em ODIVELAS - FERREIRAS DO ALENTEJO, 7900-370.

Contamos com a vossa presença, para comemorar os 50 anos do nosso regresso à metrópole. Este convívio é histórico para todos nós, porque 50 anos não são 50 dias.

JUNTO ITINERÁRIO

GPS: 38.166155, - 8.148308

De Alcácer do Sal
Direcção ao Torrão pela Estrada N5, no Torrão virar à direita pela estrada N2 até Odivelas 

De Évora
Direcção a Viana do Alentejo – Alvito pela estrada N257até a Odivelas 57 Km, ou direcção Alcáçovas-Torrão pela estrada N 380 virar à esquerda pela N2 até Odivelas 62,2 Km

De Beja
IP8 até Ferreira do Alentejo virar à direita para a estrada N 2 até Odivelas

Do Sul
Direcção a Ferreira do Alentejo sentido estrada N 2 até Odivelas

Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426
___________ 

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16162: Convívios (752): 11º Convívio da CCaç 1426, 9 de Julho, no Seixal (Fernando Chapouto)

1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.

XIº CONVÍVIO - CCAÇ. 1426




Camaradas, 

A Companhia de Caç 1426 (1965/67), vai organizar o seu XI º. Convívio na localidade de Pinhal do General, "Quinta do Conde", FERNÃO FERRO, Seixal, organizado pelo ex-Soldado Condutor Manuel Pereira com a colaboração do ex-Fur. Mil. OpEsp - Fernando Chapouto -, no próximo dia 9 de Julho (Sábado).



Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426

PS: Junto envio itinerário e ementa e novas fotos para vigorarem nos próximos pósteres. 
___________

Nota de MR:

Último poste da série em:

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14632: Estórias avulsas (82): Viatura todo terreno em Camamudo (Fernando Chapouto)



1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.


Camaradas,

Junto envio um veículo que foi nova modalidade na Guiné, se for interessante publiquem.

Como em alguns postes anteriores, andaram a mostrar as habilidades com bicicletas pedaleiras, motorizadas e automóveis, aí vai a nova modalidade de todo terreno… um burro. 

Como apareceu em Camamudo algures em princípio de 1966, um indígena com um burro e, tal como podem deduzir, era um achado encontrar um burro por aqueles lados na Guiné e não vi mais nenhum em toda a comissão, pedi ao ilustre dono para dar uma volta para matar saudades.

Ele era tão “grande” que os meus pés quase chegavam ao chão. 

Todos tiveram oportunidade de dar uma volta grátis e tirar umas fotos para guardar e um dia recordar, como eu faço de vez em quando. 

Agradeci ao senhor em nome de todos com um aperto de mão e ele também ficou contente. 

Foi um divertimento diferente do habitual. 


Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 




quinta-feira, 7 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14580: Convívios (675): X Encontro da CCAÇ 1426, Pinhal do General "Quinta do Conde" FERNÃO FERRO, 11/07/2015 (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, com pedido de divulgação, o seguinte programa da festa da sua Companhia.



A Companhia de Caç 1426 vai organizar o seu 10º convívio na localidade de Pinhal do General "Quinta do Conde" FERNÃO FERRO, organizado pelo ex Soldado Armindo Monteiro com a colaboração do ex Fur Miliç Fernando Chapouto no dia 11 de Julho (Sábado).

Um grande abraço

X ENCONTRO DOS EX COMBATENTES DA
COMPANHIA DE CAÇADORES 1426 – GUINÉ 65/67
11 DE JULHO DE 2015 - SÁBADO

Venho informar que o nosso encontro se realiza em PINHAL DO GENERAL-QUINTA DO CONDE Avenida Associação Amigos do Pinhal do General “RESTAURANTE PIC-NIC ”lote 839 

Contamos com a vossa presença.

GPS: 38.559344, -9.058300

JUNTO ITINERÁRIO 

A2

DE LISBOA: pela ponte 25 de Abril

Saída para Sesimbra encostar á direita para Setúbal continuar sempre até COINA, virara a direita em direção a estação do comboio de COINA na rotunda da estação seguir em frente até outra rotunda sair na 2ª. Seguir pela Rua Luis Dourdil até a uma mini rotunda sair na 1ª. Seguir pela Av Almirante Réis segunda rua a direita Alameda do Poder Local até a rotunda sair na 3ª. Sempre em frente até ao restaurante. 

Pela ponte Vasco da Gama

Saída para Barreiro Setúbal encostar à direita seguir sempre em frente direção Barreiro-Setúbal, depois de passar o cruzamento do Barreiro encostar à direita saída para Auto Europa a seguir aparece uma rotunda sair na 2ª. até ao entroncamento virar à direita, continuar em frente ,em direção Quinta do Conde atravessar a rotunda por cima da EN 10 sempre em frente passar três rotundas até encontrarem uma mini rotunda saída na 2ª. Seguir pela Av Almirante Réis segunda rua a direita Alameda do Poder Local até a rotunda sair na 3ª. Sempre em frente até ao restaurante. 

Do sul

Auto -Estrada: saída na portagem de Coina direção Barreiro até a rotunda contornar toda a rotunda voltar para traz até à rotunda, sair na 2ª. até ao entroncamento virar à direita, continuar em frente ,em direção Quinta do Conde atravessar a rotunda por cima da EN 10 sempre em frente passar três rotundas até encontrarem uma mini rotunda saída na 2ª. Seguir pela Av Almirante Réis segunda rua a direita Alameda do Poder Local até a rotunda sair na 3ª. Sempre em frente até ao restaurante. 
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

6 DE MAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14575: Convívios (675): 38º Encontro da CCaç 3547/BCAÇ 3884, “Os Répteis de Contuboel”... Leiria, 31/05/2015 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9884: Convívios (433): 7º Encontro da CCAÇ 1426, 7 de Julho de 2012, em Vila Amélia (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, com pedido de divulgação, o seguinte programa da festa da sua Companhia.

VII ENCONTRO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1426 – GUINÉ 1965/67
07 DE JULHO DE 2012 (SÁBADO)

Camaradas, 

Venho informar que o nosso encontro se realiza em VILA AMELIA, junto à FABRICA DA COCA-COLA, no CAFÉ RESTAURANTE “A QUINTINHA”. 

Contamos com a vossa presença, no:

CAFÉ RESTAURANTE “A QUINTINHA

EMENTA

Entradas: Pão, azeitonas, manteigas, queijo e Linguicinhas
Sopa: Creme de Cenoura
Pratos Quentes: Bacalhau à casa frito com molho de cebolada e Carne de porco à alentejana
Bebidas: Vinho a jarro, sumos, cerveja, águas e sangria
Sobremesas: Diversas
Mais: Bolo de Aniversário com champanhe, café e digestivo

Contactos
António Sequeira Gomes: Telef: 212880260, TMN: 969073463
Fernando Chapouto: Telef: 210838708, TMN: 965114882

Programa:
11h30 - Concentração junto ao restaurante
13h00 - Almoço convívio

Inscreve-te até 10JUN2012, vem participar no nosso/vosso convívio.
Não faltes, esperamos por ti, nós estaremos lá.

Preços:
Adultos: 25.00 €
Crianças: Até aos 10 anos não pagam.

ITINERÁRIO: 


Coordenadas GPS: 38.557529 – 8.987091
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9882: Convívios (250): Almoço anual da CART 2479 - CART 11 (CCAÇ 11), dias 26 e 27 de Maio de 2012, em Coruche (Abílio Duarte)


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8551: Convívios (361): 6º. Encontro da CCAÇ 1426, 9 de Julho, em Cuba (Fernando Chapouto)




1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos uma pequena reportagem sobre a festa da sua Companhia.


Camaradas,

Realizou-se no passado dia 9 de Julho, em Cuba no pleno coração do Alentejo, o 6º Encontro/Convívio da minha CCAÇ 1426, que andou por terras de Geba, Camamudo, Cantacunda e Banjara, entre os anos de 1965/67.

Infelizmente a grande maioria dos ex-Combatentes da minha companhia não são muito dados a convívios, por diversos motivos, de que se adivinham alguns, tal como o estado crítico do País, os poucos recursos e os problemas de saúde

Mesmo assim, este ano, a adesão superou as melhores expectativas tendo-se verificado a presença do maior número de companheiros presentes nestes nossos convívios, apesar de terem faltado à chamada final alguns que se tinham inscrito.

Foi espantoso verificarmos que 39 combatentes (poucos mas bons) conseguiram reunir, contando com os seus familiares, um total de 114 (cento e catorze) adultos e algumas crianças.

Foi muita a alegria, abraços e natural emoção demonstrados por aqueles que apareceram pela primeira vez, pois tinham-se passado 44 anos sem sabermos nada deles.

Mais uma vez fico muito grato ao blogue, pelo trabalho e boa vontade colocada ao serviço dos ex-Combatentes da Guiné.

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil da CCAÇ 1426
Os Alferes Milicianos, após a colocação de um ramo de flores no monumento dedicado aos Combatentes do Ultramar do concelho de Cuba. Da esquerda para a direita: Almeida, Soeiro e Albardeiro.
O pessoal junto ao mesmo monumento. O último da direita, em pé, sou eu.
Aspecto do grupo que começava a engrossar. Ainda faltavam muitos. Eu estou em 1º plano, do lado esquerdo, em baixo.

O grupo e seus familiares.

Três transmontanos presentes pela 1ª vez. À esquerda estou eu, à direita o Fur Mil Vaqueiro (duas presentes habituais nos encontros) e, ao centro, o Soldado Condutor Santos de Chaves (meu condutor que apareceu pela 1ª vez).
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:

sábado, 11 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8403: Convívios (350): VI Encontro dos Ex-Combatentes da Companhia de Caçadores 1426, 9 de Julho, em Cuba (Fernando Chapouto)




1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, com pedido de divulgação, o seguinte programa da festa da sua Companhia.

VI ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DA
COMPANHIA DE CAÇADORES
9 de Julho de 2011
CUBA

Venho informar que o nosso encontro se realiza em CUBA no RESTAURANTE CASA MONTE PEDRAL Contamos com a vossa presença.

PROGRAMA

10H00 - Concentração junto à sede da Assoc. Antigos Combatentes
13H00 - Almoço convívio
EMENTA
ENTRADAS NO PÁTIO COLON ALMOÇO NO RESTAURANTE
Pão e azeitonas, queijo de cabra e ovelha, presunto, mini rissóis
Sopa
Bacalhau com espinafres e gambas de camarão, pastéis de bacalhau
Grelhada de porco preto do montado
BUFFET DE SOBREMESAS INCLUINDO
Salada de frutas, mousse de chocolate, pudim de ovos e bolo de bolacha
Vinho branco/tinto da região
Água, refrigerantes e café
Aguardente caseira
Bolo comemorativo do 44º Aniversário do nosso regresso
Contactos
Joaquim Bicho : Telef: 284412732 ou TMN: 961412814
Joaquim Recto Delgado: Telef: 219556626 ou TMN: 917128308
Fernando Chapouto: Telef: 210838708 ou TMN: 965114882
Por correspondência ao remetente


Inscreve-te até 25JUN11, vem participar no nosso, vosso convívio, haverá surpresas! Não faltes, esperamos por ti, nós estamos lá.
PREÇO
Crianças até 10 Anos ……………..13,00 €
Adultos …………………………………. 26,00 €


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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série:

9 de Junho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8393: Convívios (343): A CART 1689 comemorou os 44 anos da chegada à Guiné no dia 30 de Abril de 2011 na Póvoa de Varzim (José Ferreira da Silva)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5395: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (16): A caminho de casa - O fim de um pesadelo


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a última fracção das suas memórias. Esta sua série havia sido iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

A caminho de casa
O fim de um pesadelo

A bordo do Uíge, os dias eram passados a jogar às cartas e a contarmos as nossas histórias. É claro que nós, os furriéis das diversas companhias, como estivemos numa quadrícula, só nos víamos de vez em quando e de passagem, ou então, quando fizemos operações em conjunto.

No refeitório do Uíge, em primeiro plano o Furriel Paio, seguindo-se o Marques, o Cardoso (com óculos). Eu fui o fotógrafo.

No dia nove de Maio quando acordei e fui à vigia já vi terra.

Estávamos à entrada da barra, chegou o barco dos pilotos e lá fomos rio Tejo acima, até ao Cais da Rocha.

Neste percurso, quando nos íamos aproximando da Ponte de Salazar, sobre o Tejo, já concluída e inaugurada, olhei para os mastros do Uíge e para altura da ponte. Os nastros eram tão altos que pensei cá para comigo: “Agora não podemos passar porque a maré está cheia.”

Ainda bem que eu estava enganado porque o barco passou facilmente, como é óbvio, e atracamos no cais por volta das dez horas.

Quando vi o barco preso a terra levantei os braços de alegria, por regressar são e salvo.

O navio Uíge que nos transportou de regresso à Metrópole

Descemos do navio e, cumprindo a praxe, desfilamos pelo cais fora, em formatura (coisa a que já não estava habituado), perante as altas individualidades que ali nos vieram receber-nos e passarem a revista às tropas e verem o nosso perfil.

No mato não apareceram eles!

E eu sem botões nos bolsos do blusão. Estavam descosidos e dentro do bolso. Não os cozi, visto já não precisar do blusão. A tropa para mim acabara!

Mais tarde tive de “mobilizar” a minha esposa para voltar a cozer os botões, porque tive que ir às cerimónias do dia 10 de Junho, que decorreram no Porto, receber a Cruz de Guerra.

Em conclusão, hoje sinto-me um herói, não por ter sido medalhado com a Cruz de Guerra, mas sim pelo sentimento de ter cumprido o meu Dever, para com a minha Pátria, porque, na minha opinião pessoal, heróis são todos aqueles que serviram com dignidade e honra nas missões que lhes foram incumbidas.

Mais me sinto orgulhoso, apesar de ver e saber tão maltratados pela Tutela, os ex-Combatentes, neste últimos 35 anos.

Não esquecerei os que tombaram ao serviço da Pátria, esses duplos heróis que estão “esquecidos” pelos nossos políticos e curvo-me perante as suas memórias com todo o respeito e admiração.

Terminou a guerra de G3, no mato, no tarrafo e nas bolanhas, mas não terminou, no meu cérebro, a guerra psicológica. Aquela que passados quarenta anos continua me continua a atormentar.

Más recordações que acabarão um dia… quando… só Deus sabe!

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em: