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quarta-feira, 15 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23353: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (4): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte III: Cerco e ataque IN (650/700 elementos) a Guidaje, de 8 de maio a 12 de junho de 1973



Guiné > Região do Cacheu > Carta da província da Guiné (1961) > Escala 1/ 500 mil > Detalhe: A fatídica picada Binta - Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)




1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, ou a "batalha dos 3 G" (ou batalhas ?),  já aqui tão acaloradamente discutida, analisada, comentada, ao ponto de alguns de nós termos perdido a serenidade e a contenção verbal que devem ser apanágio deste blogue de antigos combatentes...

Em 2023, os três G vão fazer meio centenário... Bolas, como estamos velhos como o c...!

Mas ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). (*)

Nestes dia que correm de fim de prinevera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil  poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA )2015) sobre estes acontecimentos(*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN a Guidaje, no Norte (de 8 de maio a 12 de junho de 1973)



(...) O inimigo desencadeou no mês de Maio uma operação que tinha por finalidade isolar Guidaje, tendo para o efeito flagelado esse aquartelamento e Bigene, quer para obrigar ao abandono e posterior destruição, quer ainda para impedir o auxílio da artilharia e das NT. 

Além disso deslocou elevado número de elementos para a estrada Binta-Guidaje com o fim de tentar neutralizar qualquer tentativa de reabastecimento.

No início de Maio, a guarnição militar de Guidaje (sob comando operacional do COP 3 com sede em Bigene), era constituída pela CCaç 19 e 24° Pel Art (10,5 cm), num total de um pouco menos de 200 militares.

Os efectivos do PAIGC, que se encontravam na região de Cumbamori 
[no interior do Senegal a escassos 7 km da fonteira] Senegal, julgam-se que eram os seguintes:
  • Corpo de Exército 199/B/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; 
  • Corpo de Exército 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; grupos de foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; 
  • três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bataria de artilharia do Corpo de Exército 199/A/70 deslocados de Sare Lali (Zona Leste) (efectivos estimados em 650 a 700 homens).
[Veja-se a cronologia dos acontecimentos: ]

(i) Em 8 de Maio, Guidaje esteve debaixo de fogo por cinco vezes num total de 2 horas; dia 9 sofreu 4 ataques; dia 10, três e até 29Mai todos os dias foi flagelada, num total de quarenta e três ataques principalmente com artilharia, foguetões e morteiros. Todos os edificios do aquartelamento ficaram danificados. A guarnição teve 7 mortos e 30 feridos militares e a população 15 feridos .

(ii) Em 8Mai pelas 16h00,numa acção de escolta a uma coluna de viaturas no itinerário Farim-Guidaje por forças de 1 GCom 1ª C/BCaç 4512/72 e 1 GComb/CCaç 14, accionaram uma mina anticarro que danificou uma viatura. A seguir as forças foram emboscadas durante 15 minutos por um grupo lN fazendo uso de armas automáticas, morteiros e LGFog 
RPG-2 e RPG-7. Pernoitando no local, no dia seguinte pelas 05h20, as
 forças foram atacadas durante 4 horas. Devido à falta de munições as forças foram compelidas a retirarem para Binta. O lN teve 13 mortos e vários feridos prováveis. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves e 10 ligeiros. Quatro viaturas foram incendiadas e destruídas.

(iii) Em 10Mai, uma força constituída por 2 GComb 1ª C/BCaç 4512/72, 2 GComb/ 2ª C/BCaç 4512/72,2 GComb/CCaç 14 e 1Bigrupo da 38ª CCmds, encarregada de escoltar uma coluna entre Farim e Guidaje, accionou 2 minas A/P , cujo rebentamento provocou 1 morto, 1 ferido grave e 1 ligeiro às NT.

No mesmo dia, 2 GComb/CCaç 19 saíram de Guidaje para executarem a picagem e abertura do itinerário até Cufeu, juntamente com 2 GComb/CCaç 3 (da guarnição de Bigene e que foram reforçar Guidaje) que realizavam a protecção à picagem e tinham por missão continuar a mesma até Genicó, onde se daria o encontro com a coluna saída de Binta.

A força da CCaç 19, accionou 1 mina A/P reforçada com 1 mina A/C , de que resultou 1 ferido grave e 1 ligeiro.

A força da CCaç 3: 

"Antes de entrar na região do Cufeu, foi por mim pedido fogo de artilharia para ambos os lados da estrada de modo a ser batida a bolanha.

Entretanto instalei o pessoal em linha do lado esquerdo da estrada no sentido Guidaje-Binta [... ]

"A Artilharia entretanto fez um dos tiros pedidos, do que resultou saírem do lado esquerdo da bolanha 22 elementos ln nos quais foram referenciados alguns de cor branca. No contacto resultante, o lN foi posto em fuga, seguindo para o lado direito da Bolanha.

"Em virtude do acontecido e visto os restantes tiros pedidos não terem ido executados, dei ordem para seguir para a tabanca do Cufeu. Ao entrar na referida tabanca o lN desencadeou forte emboscada, a partir de lado direito da estrada, com apoio de canhão sem recuo, morteiro 82 mm e armas pesadas. Tendo em vista a situação dei ordem para avançar, saindo assim da zona de morte do mort 82 mm, tendo pedido de novo apoio ao Pel Art de Guidaje e aos 2 GComb da CCaç 19 que faziam a picagem.

"Não tendo sido prestado esse apoio, [... ] dei ordem para retirar por secções, tendo como pontos de encontro Guidaje e Genicó. Com um grupo de 8 elementos tentei seguir para Genicó a fim de contactar com o Comandante da coluna saída de Binta; [... ] tal foi no entanto possível [... ], tendo então dado ordem aos elementos em melhor estado físico de seguir para Guidaje, onde exporiam a situação. Com os 4 elementos restantes prossegui a deslocação tendo pernoitado a noite na bolanha de Fajonquito, Rep Senegal, e atingido Guidaje em 11Mai73, pelas 7h30. [... ]

De acordo com as informações recebidas o lN sofreu 12 mortos confirmados e 9 feridos, as NT tiveram um ferido ligeiro. [... ]". 
 

[Nota: Relatório de acção de protecção à picagem no sentido Guidaje-Genicó realizada em 10Mai73 pelo Cmdt da coluna da CCaç 3. ]


(iv) Em 12Mai, uma coluna de reabastecimento, ida de Farim, escoltada pelos DFE nºs 3 e 4, conseguiu atingir Guidaje. Em 15, no regresso a Farim, as NT accionaram 2 minas, sofrendo 2 feridos graves; mais tarde foram emboscadas, sofrendo 5 feridos.


(v) Em 15Mai uma força constituída por 2 GComb/CCaç 3518, Pel Mil 322 e 1 GComb da CCaç Africana Eventual-Cuntima  [sic] , comandada pelo Cmdt da 2ª C/BCaç 4512/72, efectuou uma coluna de reabastecimento a Guidaje partindo de Farim. Tinha apoio para execução de picagem de 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 Grupo de Milícias de Farim e 2 GComb/ CCaç 3; 1 DFE emboscado no Cufeu e o apoio de artilharia do 24° Pel Art e 27° Pel Art. Chegou a Guidaje pelas 15h30 do mesmo dia, sem contacto com o lN.

O retorno da coluna a Farim, reforçada com 2 GComb/CCaç 3 e um agrupamento do DFE, faz-se pelas 10h00 do dia 19Mai.

Antes da coluna ter penetrado na tabanca do Cufeu, a equipa que seguia picando o itinerário accionou uma mina anticarro que originou um morto e um ferido grave às NF. Pouco depois, accionada outra mina anticarro por uma viatura Berliet, que ficou parcialmente danificada,
mas incapaz para prosseguir o deslocamento. De seguida um civil ficou ferido por ter accionado uma mina antipessoal. Pelas 12h20, na zona de tabanca do Cufeu, a coluna é emboscada, frontal à sua testa, por um grupo lN estimado em cerca de 100 elementos.

A força dos DFE nºs 1 e 4 reagiu à emboscada, tendo sido pedido apoio aéreo e fogo da Artilharia de Guidaje. Pelas 12h55 o lN activou dois mísseis terra-ar que partiram do lado sul da bolanha do Cufeu. Pelas 13h20 é dada ordem de regresso a Guidaje em virtude do esgotamento de munições; abandonou-se a viatura Berliet minada. 

No total as NT sofreram 5 feridos. A coluna permaneceu em Guidaje, de 20 a 29Mai, tendo sofrido 4 mortos num ataque lN a Guidaje em 26Mai, às 23h00. 

Em 30 a força, incorporada numa coluna organizada em Guidaje, com forças ali estacionadas e outras chegadas a 19Mai, regressou a Farim".

 [Nota: Extractos do Relatório da Operação "Reabastecimento a Guidaje realizado em 15Mai73" da 2ª C/ BCaç 4512/72 e dos Relatórios da "acção realizada em 19Mai73" dos Iº e 20º  GComb/CCaç 3.]


(vi) Em 23Mai, saiu de Binta, uma coluna de reabastecimento com destino a Guidaje. Era constituída pelas seguintes subunidades: CCP 121, DFE nºs 1 e 4, 1 GComb/CCaç 14 e 1 GComb/CCaç 3.

"Até Genicó a coluna correu sem dificuldades. Em Genicó o GComb/CCaç 3 começou a picagem, correndo também sem dificuldades até ao momento que 1 elemento accionou uma mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou morte imediata. Segundo um elemento do GComb/CCaç 3 que conhecia mais ou menos a zona, devia a coluna estar aproximadamente a 3 Km do Cufeu. Entrou-se logo em contacto com Águia (Cmdt COP 3 Avançado) o qual mandou prosseguir, apesar de haver já um morto. Ia a coluna a prosseguir, outro elemento do GComb/CCaç 3 accionou uma outra mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou também morte imediata e 1 ferido grave do mesmo grupo. [... ] Entrou-se logo em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado informando-o da situação actual da coluna.

"Foi-nos dada ordem do mesmo para prosseguirmos com a coluna a corta-mato. Estávamo-nos a preparar para progredirmos com as viaturas a corta-mato, quando um elemento dos DFE nºs 1 e 4 accionou uma mina antipessoal a uns 4 metros da picada, que lhe decepou uma perna e mais ferimentos. De novo entrámos em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado, informando-o da situação actual da coluna. Logo após termos accionado a 1ª mina, entrámos em contacto com o Grupo da CCaç 14 que tinha ficado em Genicó, para ir ao nosso encontro a fim de transportar os feridos e os mortos para Binta. Passados 3/4 de hora, apareceu um grupo junto de nós, mas não era da CCaç 14, mas sim 1 GComb da 2Ç CCaç/BCaç 4512/72 de Jumbembem. 

"Entretanto o Cmdt do COP 3 Avançado deu-nos ordem para regressarmos ao ponto inicial da partida. Do local onde nos encontrávamos até Binta, a coluna correu bem. Chegados a Binta, tratamos de evacuar os dois feridos e de arranjar urnas para os dois mortos. De Binta a Ganturé fomos transportados pelo NRP Hidra sem problemas. De Ganturé para Bigene também não houve problemas.?" 

 [Nota: Relatório da coluna Binta-Guidaje realizada em 23Mai73 pelo GComb/CCaç 3.]

Como já referido foi decidido que a coluna regressasse a Binta com excepção da CCP 121, que recebeu a missão de atingir Guidaje. Pelas 16h30, na região do Cufeu, a CCP 121 é emboscada por numeroso grupo inimigo, sofrendo 4 mortos e 2 feridos graves e provocando, com o apoio da Força Aérea, baixas não controladas ao lN. A CCP 121 atingiu Guidaje ao final do dia.

(vii) Em 29Mai, o COP 3 levou a efeito uma coluna de reabastecimento e abertura do itinerário entre Binta e Guidaje, articulando as suas forças em seis Agrupamentos:

A - 2 Bigrupos/38* CCmds e Pel Sapadores do BCaç 4512/72

B - 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 GComb/2ª C /BCaç 4512/72, GE Mil 342 e 2° GComb/CCav 3420

C - CCav 3420 (-)

D - CCaç 3414

E - CCP 121

F-DFE

A CCP 121 montou emboscada na região do Cufeu. O DFE montou emboscada na clareira de Ujeque. O 24º Pel Art, em Guidaje, apoiou o deslocamento a partir da antiga tabanca do Cufeu.

O Agrupamento B levou um D-6 do BEng 447.

"Pelas 05HOO o Agr A saiu de Binta seguido do Agr B. Iniciou-se a progressão até Genicó indo o Pel Sap e GE Mil 342 de Olossato, do Agr B, alternando-se na picagem da estrada. Seguidamente continuou-se a progredir ao longo da picada de molde a atingir-se o limite Sul de um suposto campo de minas ln, na zona das viaturas destruídas. Nesta zona um picador accionou uma mina A/C  ao picar, causando-lhe morte instantânea e ferimentos graves num Furriel desta CCmds e ferimentos ligeiros em vários militares. a morto e os feridos foram transportados para Genicó por um GComb/2ª C/lBCaç 4512/72. Imediatamente se começou a abrir uma nova picada para oeste utilizando o D-6.

"A abertura fez-se em bom andamento devido à arborização do terreno. Nesta altura, atendendo a que o Agrupamento B se encontrava desfalcado de um GComb que fez a evacuação para a retaguarda, fez--se a junção dos Agr A e B.

Pelas 11h30 do lado Nordeste elementos ln foram detectados pelo Soldado "Comando" NM - 15306371 Santos Silva que abriu fogo, tend o lN ripostado. Debaixo do combate aceso o Agrupamento A lançou-se ao assalto; entretanto o Alf Rocha do mesmo Agrupamento conseguiu colocar o mort 81 mm em posição batendo a zona do ln. Durante o assalto o ln redobrou o fogo dos morteiros 82 mm, RPG e armas ligeiras pelo que o Agrupamento A não conseguiu concretizar o assalto; noentanto em resposta o Agr A redobrou o fogo tendo calado o fogo lN.

"Passados 10 minutos numerosos elementos ln vindos de oeste o dispondo-se em linha começaram a avançar para a frente noroeste das NT; então o Agr A formou também uma linha para dar combate ao lN.

"As NT abriram fogo tendo o lN ripostado com fogo cerrado de armas ligeiras e pesadas nomeadamente canhão sem recuo e mort 82 mm.

"Salienta-se nesta altura o Soldado António Mendes que correu atrás trazendo o mort 81 mm para a frente noroeste ao pé de mim e montou-o com a ajuda da guarnição, fazendo de apontador, de pé, indiferente ao cerrado fogo do lN. [... ] a lN abandonou a posição acabando por retirar em direcção a Uália. [... ]

"Às 13h00 a coluna voltou a pôr-se em movimento com o mesmo dispositivo de segurança ( 2 GComb em linha à frente e segurança lateral), depois do Cmdt do cap 3 ter dado ordem para prosseguirmos até Guidaje. Atravessou-se a bolanha do Cufeu e entrou-se em contacto
com Agr E (Paras) e daí fez-se um desvio para a picada Cufeu- Ujeque. Mal se entrou na picada um Unimog 404 da CCaç 3414 accionou uma mina anticarro de que resultou a destruição do Unimog, a morte do condutor e ferimentos em vários militares. 

"Nesta altura um Soldado Milícia de GE Mil 342 accionou uma mina antipessoal que estava na berma e que lhe originou amputação duma perna. Em virtude destes acontecimentos, voltou-se a abrir nova picada paralela à antiga até Ujeque onde se encontravam emboscados os Fuzileiros (Agr F); a coluna voltou à picada antiga e a testa e uma viatura foram emboscadas a 3 Km de Guidaje, sem consequências, com armas pesadas (mort 82 mm), lgfog e armas automáticas.

"Às 18H30 todas as forças atingiram Guidaje. [... ]" 

 [ Nota: Transcrito do Relatório da "escolta entre Binta e Guidaje em 29Mai73" da 3S" CCmds, do Relatório da operação "reabastecimento a Guidaje em 29Mai73" do Agr B/COP 3 e do Relatório da operação de "abertura do itinerário Binta-Guidaje e reforço ao COP 3 que decorreu de 2SMai a 30Jun73" da CCav 3420.] 
 
O IN teve feridos prováveis e foi-lhe capturada 1 granada de RPG-2 e uma granada de mão F -1". As NT sofreram 2 mortos, 1 ferido grave e 11 feridos ligeiros .

(viii) Em 5Jun um GComb da guarnição de Binta efectuou a picagem do itinerário Binta-Farim e a segurança a uma coluna. Quando esta acabou de transpor a ponte do rio Caur,  um elemento do grupo accionou com a pica uma mina A/C tendo morte instantânea, tendo a mesma causado ferimentos ligeiros a outro elemento. Acorreu em auxílio, dada a hipótese de haver elementos lN na zona, 1 GComb/2ª C/BCaç 4514/72 e 1 GComb PMil 282, que transportaram o morto e o ferido para Farim.

(ix) Em 11Jun, às 05h00,  saiu uma coluna auto de Guidaje com destino a Binta, abrindo novo itinerário. A força era constituída por 1 GComb/lª C/BCaç 4512/72, Pel Sap do BCaç 4512/72, GMIL 342, 1 Sec AM Panhard do ERec 3432, Pel Caç Nativos 56 e 65.

Forças de 3 GComb/CCav 3420, 38ª CCmds e 3ª C/BCaç 4514/72 emboscaram na ponta nordeste da bolanha do Cufeu, entre 1000 metros nordeste da ponta nordeste do Cufeu e Alabato, todas estas forças balizando e definindo o itinerário de marcha. A coluna chegou a Binta pelas 15h00 sem contacto com o lN. Regressou a Guidaje pelas 16h30 com mais sete viaturas da 3ª C/BCaç 4514/72 carregadas com reabastecimentos percorrendo o itinerário aberto em sentido inverso, também sem contacto IN. 

  [
Nota: Relatório de acção realizado em 11Jun73 do Posto Comando Avançado do COP 3.]
 
(x)  Em 12Jun, constitui-se nova coluna que saiu de Guidaje pelas 09h00 com destino a Binta que à medida que percorria o itinerário, foi recolhendo os 3 GComb/CCav 3420 e 38ª Cmds. Depois da passagem da coluna a 3ª C/BCaç 4514/72 recolheu a Guidaje. O Tenente-Coronel de Cavalaria António V. Correia de Campos, que comandava o COP 3, veio também na coluna .

(xi) No mês de Junho de 1973 o Inimigo apenas flagelou por uma vez Guidaje o que indica que desistira das suas intenções sobre este aquartelamento.

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 306/313. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos,  pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série;


6 de junho de 2022  Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23145: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte IV: Histórias pícaras: (vii) Os Mais dos... Progressistas (divisa da companhia e também título do jornal de caserna)



O jornal de caserna da CCAV 3420 (Bula, 1971/3), Os Progressistas - Quinzenário de Divulgação, Cultura  e Recreio da CCAV 3420. Director: Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia. SPM 1898.


Detalhe do guião da CCAV 3420, que tinha duas divisas: "Os Progressistas" e "Perguntai ao Inimigo Quem Somos"...




Guião da CCAV 3420 (Bula, 1971/73), comandada pelo cap cav Salgueiro Maia


1. O jornal de caserna podia ser (e deve ter sido)  uma forma interessante de manter alto o moral das tropas, no CTIG,  e fazer a ligação com a Metrópole  (embora não devesse lá chegar). Alguns jovens capitães do QP, como o Salgueira Maia, o Mário Tomé, o Carlos Trindade Clemente, o Jorge Golias e outros (como o nosso António J. Pereira da Costa,  membro da Tabanca Grande) perceberam a sua importância (*).

A lista de "jornais militares" ou "jornais de caserna" devia ser mais extensa do que aquela que se conhece. Alguns títulos já aqui foram referidos como O Jagusdi, O Saltitão, O Serrote, O Seis de Camtanhez, Os Progressitas...

De qualquer modo, esta faceta do Salgueiro Maia, como director de um jornal de caserna chamado Os Progressistas (CCAV 3420, Bula, 1971), é capaz de ser um aspecto menos conhecido (e até desvalorizado) do seu currículo militar. Tanbém há quem estranhe que ele tenha conseguido dar à sua companhia, para mais de cavalaria, esse nome, Os Progressistas. Pelo sim pelo não, e talvez para "despistar" no verso do guião da CCAV 3420 pode ler-se uma segunda divisa: "Perguntai ao inimigo quem somos". 

Em Portugal, na época, em pleno marcelismo, o termo "progressista" tinha uma certa conotação político-ideológica: por exemplo, falava-se dos "católicos progressistas", do pós-Vaticano II, para os distinguir dos mais ortodoxos e tradicionalistas... Mas o vocáculo que é adjetivo e nome é relativamente neutro: progressista é aquele que é partidário do progresso, que professa ideias de progresso... Mas na época entendia-se que era toda a gente do "reviralho", os que eram contra  a "situação" (não só o regime político vigente como a "guerra colonial")... e como tal "inimigos da Nação".

Imagino que este, como os outros jornais de caserna,  tivesse um formato A4 e fosse feito a stencil ( hoje diz.se "estêncil", o termo já está grafado nos nossos dicionários)... Nessa altura, a máquina a stencil (ou duplicador) estava muito vulgarizada na Guiné... Todas as companhias e batalhões tinham de ter um duplicador, pro causa das ordens de serviço e outra documentação.  Ainda não havia as fotocopiadoras... 

Na secretaria da minha companhia, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Cntuboel e Bambadinca, 1969/71) havia uma, foi graças a ela que eu pude fazer um edição, quase clandestina, da nossa história da unidade, (com cerca de meia centena de página, escrita e dactilografada por mim)...Fizeram-se umas escassas dezenas de exemplares de uma brochura que foi distribuída pelos graduados à revelia do cap inf Carlos Alberto Machado de Brito (um bom homem que hoje é cor inf ref, e que eu espero    que ainda esteja bem de saúde).

Do quinzenário O
s Progressistas não sei sei quantas edições se fizeram. De qualquer modo, o José Afonso era um dos seus colaboradores.   E revelou-se um bom contador de histórias, como já aqui pudemos comprovar (**). 

Hoje republicamos mais um texto, que deve ter surgido no "jornal da caserna" por altura do Natal de 1972 e em que ele faz uma "ronda" pelos "craques" da companhia, no fundo, as figuras mais "castiças". É a história nº 7 das "Histórias pícaras" (**).


2. Mas, "en passant", deixem-me ainda aqui fazer uma confidência:   o Salgueiro Maia foi, circunstancialmente, meu colega, no ano lectivo de 1975/76, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS), embora eu pouco ou quase nada privasse com ele, porque eramos de cursos diferentes (eu, de ciências sociais; ele,  de antropologia), com o estatuto de trabalhadores-estudantes. E penso que andávamos em anos diferentes, ele já tentara inscrever-se no ISCSP em 1969, antes de ir para a sua primeira comissão, em Moçambique.

Íamos às aulas à noite e a algumas Reuniões Gerais de Alunos (RGA), numa altura em que o ISCSP passava por um período de vida muito conturbado (saneamento de praticamente todos, senão todos, os docentes com assento no Conselho Científico, pelo menos os professores catedráticos  e associados...), o que levou no final do ano lectivo de 1975/76 (ou nas férias...) ao seu encerramento, por ordem do então Ministro da Educação, o socialista Sottomayor Cardia (1941/2006), e ao consequente início de um duro processo de luta estudantil contra a tutela e o regresso das múmias (como, depreciativamente, eram então chamados os professores doutorados, alvo de saneamentos selvagens, de natureza claramente político-ideológica, incluindo o Prof Doutor Adriano Moreira, antigo Ministro do Ultramar).

Além disso, num ambiente, claramente esquerdista como era então o ISCSP, virado do avesso, com diversas fações a digladiarem-se (da UEC ao MRPP, do MES à UDP...), o Salgeiro Maia do 25 de Abril era ofuscado pelo Salgueira Maia do 25 de Novembro... Esta ambivalência não terá facilitado as aproximações pessoais...

Salgueiro Maia, como bom alentejano e como militar, oriundo da Academia Militar, era, por outro lado, um homem reservado e discreto... E rigorosamente apartidário.  O início do ano letivo de 1975/76 foi claramente  agitado pelo contexto, interno e externo, incluindo as "sequelas" quer do"verão quente" quer do "25 de novembro". 

O  facto de ele ter estado na Guiné não me dizia nada: definitivamente eu esquecera a Guiné!... Foi um processo de denegação por que muitos de nós passaram. Vivi os cinco anos pós-Guiné com culpa e denegação: Guiné ? Não, nunca ouvi falar... Perdi, com isso, a oportunidade única de ter conhecido (isto é, privado com) um herói vivo... Creio que nem ele, na altura, tinha completa consciência do papel histórico que tinha desempenhado no 25 de Abril de 1974. E comportava-se, ali, como um "anti-herói"...Nunca me apercebi que trivesse tiques de vedeta. Era um estudante como os outros... Aliás, um trabalhador-estudante.  Mas devo acrescentar que era preciso coragem, naquela época, naquele ano letivo de 1975/76 ( e mesmo nos seguintes), para dar aulas... 

Em 1976/77, frequentei o então ISEF - Instituto Superior de Economia e Finanças, na rua do Quelhas, e só depois no ano seguinte fui ara o ISCTE, onde me licenciei em sociologia, em 1980.  Perdi, pois,  o rasto ao Salgueiro Maia que entretanto começara a ser, logo em 1976,  vítima de "bullying" castrense: a hierarquia militar fez-lhe a vida negra, procurando humilhá-lo e discriminá-lo... Mas isso são outras histórias.


Histórias pícaras >  (vii) Os craques, os "Mais" dos "Progressistas"

por José Afonso

Era uma vez... Assim começam todas as histórias e a minha também, para não fugir à tradição. Certamente estão a pensar que vão ter uma história de Natal, mas enganam-se: esta história é um sumário de muitas histórias, começadas em Março de 1971 em Santa Margarida, e continuada em Bula, Mansoa, Cacheu, Capunga; Pete e Ponta Consolação. 

 A minha história refere a existência de uma colecção de craques, são eles eles "Os Mais... dos Progressistas". 

 A abrir, o camarada BIGODES, assim chamado por ter possuído em tempos um farfalhudo bigode, estilo Gengis Khan, e ter uma maneira de viver que o faz andar sempre de pelos eriçados; não é mau tipo apesar de não topar o Lino nem os turras; nas horas vagas faz versos que até costumam rimar. 

 Vem depois o VELHINHO, a instituição mais respeitável de Capunga City; é sapateiro remendão, mata vacas, esfola porcos etc. Tem um ar de Golias de trazer por casa, usa os calções mais "pop" em todo Teatro de Operações. Há tempos por causa de um macaco...,  bem, ia sendo o fim da macacada.

 A seguir temos o CAJADO, rapaz esbelto, guerrilheiro de todas as panelas, usa faca na liga, que já fez manga de ”mortos”. Passa a vida a refilar com todo o mundo, nunca se sabe bem porquê. 

 Continuemos com o MOUCO que em tempos o foi, até um certo dia! Bem não falemos de coisas tristes. Pois o Mouco é homem que trabalha com o morteiro 81, a arma mais técnica que a Companhia possui; é só olhar para o seu aspecto de homem conhecedor de morteiro 81, por não se impressionar com o barulho das granadas a sair do tubo. O Mouco é um homem desiludido: passou 17 meses a convencer o pessoal de que é Mouco e ninguém acreditou. 

 Temos a seguir o TERRINAS, o homem mais trabalhador da Companhia, e o mais comedor, também conhecido por RUÇO; será por isso que é o homem mais procurado pelas bajudas de Pete? É um trabalhador nato, domina todos os ofícios mas considera-se com pouco valor comparado com o da sua noiva. É um homem feliz. 

 Temos ainda o clarim MATA, não toca a lavar mas quase. Há 17 meses que toca o clarim que faz uivar todos os cães das redondezas, e não consegui ainda deixar de nos mimosear com as suas fífias. É um homem calmo no tipo dos barman dos bares do Texas, talvez por isso seja “o homem do tosco”. É especialista em convencer os “gaseados”, para não arranjarem problemas. 

 Vem agora o RATO o homem que não gosta de andar de Jeep e que está perto de lerpar o cabelo, porque não fez ainda o “Menino Jesus” para o presépio de Pete. Gosta pouco de beber e é sem dúvida o mais crava da Companhia. Passa o mês a cravar, no fim deste, paga a quem deve e, como fica sem dinheiro volta ao princípio. Bem esperamos que com o 13.º mês o rapaz acerte a escrita. 

 Ao falar do Rato temos que falar no BARBEIRO, a alma gémea do Rato, que é o único no género, pois só corta cabelos quando está sem patacão. É o protótipo do soldado do futuro, pequeno para criar pouco alvo; com um capacete onde ele cabe quase todo, cheio de granadas à volta do corpo parece o homem dos pneus Michelin. Com o dinheiro ganho a cortar os cabelos já poderia ter ido à Metrópole, mas como é possuidor das maiores sedes do CTIG, só foi à cerveja; passa a vida a dizer para lhe darem ferramenta nova, pois não tem dinheiro para a comprar. 

 Temos agora o BÁRTOLO, especialista em sopa de nabos, e que afina quando lhe dizem que é triste  que deixem entrar miúdos para a tropa, ou que ele vai fazer de "Menino Jesus" no Presépio. 

 Já me esquecia do GRÁCIO. Este é o das mil e umas maneiras para conseguir ir a Bula, ou jogar futebol. É sempre voluntário quando a coisa dá para o torto, mas fora disso anda sempre a tentar desenfiar-se. 

 Estes são OS MAIS, e por hoje ficamos por aqui, mas, há muitos mais, desconhecidos, de que daremos público conhecimento oportunamente. Esta foi a prenda de Natal publicitária para os craques.

Aos simples mortais desejamos um Bom Natal e um Melhor Ano Novo. Em resumo: Que a Comissõa Não Nos Pese.

José Afonso

(Continua)

[ Revisão / fixação de textos e títulos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 1 de agosto de  2019 > Guiné 61/74 - P20025: Jornais de caserna publicados no CTIG (de 1961 a 1974) (n=47) (Jorge Santos / Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

5 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23142: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte III: Histórias pícaras: (iv) A "guerra de Bissau": guardando as costas dos nossos "maiores" ; (v) Capunga: o furriel de calções à "pop"; (vi) O "Velhinho", antigo refractário

4 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23140: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte II: Histórias pícaras: (i) Os matraquilhos e a astúcia do capitão; (ii) Uma heli-evacuação e a enfermeira paraquedista que não queria levar o "passageiro" em pelota; (iii) As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião

terça-feira, 5 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23142: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte III: Histórias pícaras: (iv) A "guerra de Bissau": guardando as costas dos nossos "maiores" ; (v) Capunga: o furriel de calções à "pop"; (vi) O "Velhinho", antigo refractário


Guiné > Região de Cacheu > Bula > CCAV 3420 (1971/73) > Natal de 1971: o cap cav Salgueiro Maia, falando à sua tropa


Foto (e legenda): © José Afonso (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Infografia: Rede de Segurança de Bissau (COMBIS, Cumeré), c. 1971.  Cortesia de José Afonso. 

Ver aqui carta de Bissau (1949), escala 1/50 mil




1. Na altura em que passam 30 anos da morte do Salgueiro Maia (1944-1992), continuamos a publicar algumas histórias dele e da sua companhia, já aqui contadas em 2009, pelo José Afonso (ex-fur mil, 3º Gr Comb,  CCAV 3420 (Bula, 1971/73)-

O nosso camarada, que é até agora o único representante da sua companhia na Tabanca Grande, foi bancário na CDG, no Fundão, está reformado, e vive hoje em Freixial de Cima, Castelo Branco, onde gere o património agrícola da família (foto à esquerda) (*)


(Continuação)

(iv) A "guerra de Bissau": guardando as costas dos nossos "maiores"


Havia determinadas datas em que se fazia a chamada Guerra de Bissau. Datas como Natal e Páscoa, datas do aniversário do PAIGC e datas em que Bissau sofreu alguns ataques.

Assim fazia-se deslocar tropa para os sítios donde o IN alguma vez atacou Bissau ou para zonas de onde era possível atacar. Assim, 2 Pelotões da CCav 3420 por duas vezes foram mandados para Nhamate. Foi o 1.º pelotão por 2 dias duma vez e o 3.º de 19 a 24 de Novembro de 1971.

Fizemos Bula – Binar - Nhamate a pé, para ali passar 5 dias. Em Nhamate, estava a Companhia de Artilharia 3330, não só aqui como nos destacamentos de Manga, Unche e Changue mas era em Nhamate a sua sede de comando. (Esta CART 3330 teve como 1ºcomandante o cap art José Joaquim Vilares Gaspar, o célebre "Gasparinho", de que temos algumas histórias para contar; proovido a major, foi para o Cop de Mansabá)

Achamos estranho quando no primeiro dia, ao pôr-do-sol, toca o clarim para a formatura do arriar da Bandeira. É formada a secção em frente mas o engraçado é que depois da bandeira descida, em vez de o Furriel mandar direita volver, manda meia volta volver. E, nesta posição, de costas para o pau da bandeira, cantava-se:
- E viva a Pátria, viva o nosso General! 

Ao mesmo tempo mandavam como que um coice e gritavam:
- PUM!!!


(v) Capunga: o fur mil Afonso de calções... à "pop"

Cap cav Salgueiro Maia, Lisboa,
Terreiro do Paço, 25 de Abril de 1974.
Foto de Afredo Cunha


Um dia no Destacamento de Capunga aparece um helicóptero a sobrevoar a Zona e, de seguida, faz-se para pousar no minicampo de futebol. Desconhecia-se quem vinha nele, pois não havíamos sido informados. 

O furriel Afonso, que na altura estava a comandar o Destacamento, dirigiu-se tal como estava para receber quem nele vinha. Está vestido como normalmente se anda nos destacamentos. De chinelos, sem bivaque, de t-shirt e calções que já tinham sido calças, agora transformados em calções que, com as vezes que tinham ido a lavar e como não tinham baínhas, se encontravam todos desfiados.

Vinha no helicóptero o Coronel Paraquedista Rafel Durão, Comandante do CAOP1, de Teixeira Pinto, 
e o Comandante da Companhia 3420, 
cap Salgueiro Maia.  Ao ver o Furriel naquela 
figura,  o Coronel pergunta se está apresentável... 
Antes que o furriel Afonso diga alguma coisa, 
Salgueiro Maia olha  para o Coronel e diz:
- Não vê, meu comandante, que está com uns calções...à"pop" ?!


(vi) O "Velhinho", antigo refractário

Havia na Companhia um soldado que quis fugir à tropa e, então deu o salto para França. Mas, quando o irmão foi nomeado padre e disse a 1.ª Missa, não resistiu e, porque era de Monção, atravessou a fronteira para assistir à missa. 

Com a informação da Pide, o nosso amigo, foi preso e acabou por ter que fazer a tropa pelo que apareceu na nossa Companhia já com os seus 30 anos. Era por isso conhecido como o Velhinho. Este era um elemento do 3.º Grupo de Combate, que nas operações gostava de ir sempre à frente com a HK21 e faca de mato à cintura e dizia para o Capitão:
- Se um dia apanho um turra morto, o capitão vai deixar-me cortar uma orelha para fazer um porta-chaves e os testículos para fazer uma bolsa.

Era homem para isso, só que não estava autorizado a fazê-lo.

(Continua)

[ Revisão / fixação de textos e títulos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]
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Guiné 61/74 - P23141: O que é feito de ti, camarada? (16): José Afonso, ex-fur mil at cav, CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (Eduardo Silva / Luís Graça)




José Afonso, ontem e hoje



1. Mensagem do nosso camarada  Eduardo Silva, ex-fur mil, CCAV 3420 e CCAÇ 3 (Bula, K3 e Bigene, 1971/73), em comentário ao poste P23138 (*)


Realmente também perdi todo o contacto com o camarada José Afonso. (*)

Embarquei com ele e restantes membros da CCav 3420 sob o comando do nosso saudoso Cap Salgueiro Maia.

Sou o ex-furriel Eduardo Silva. Estive com a CCav 3420 durante cerca 5 meses até que,  por ordem do General Spínola, muitos Alferes e Furriéis foram chamados para ingressarem num treino de integração nas tropas africanas.  Esse treino teve lugar em Bolama. 

Dali segui para o K3 a 3 km sul de Farim. Também fiz a protecção à construção da estrada em Mansoa, onde reencontrei a minha companhia de origem e o meu Cap Salgueiro Maia. Nessa altura eu estava integrado na CCAÇ 3,  companhia de africanos. Apenas os Furriéis, Alferes, Sargentos e Cabos de transmissões e Maqueiros eram brancos.  

Findo esse trabalho regressei ao K3 e dali fui para Bigene onde fiquei até ao fim da comissão. Tempos difíceis.

Um grande abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande.
Eduardo Silva



Guião da CCAV 3420 (Bula, 1971/73), 
que foi comandada pelo cap cav Salgueiro Maia (1944-1922)



2. Comentário do editor LG:
 
Desde novembro de 2015, pelo menos, que o mail do José Afonso deixou de estar ativo:

josebaptistaafonso1949@gmail.com

Pus-me  saber notícias dele no Fundão, onde tenho uma mana que é enfermeira e  que conheceu o nosso saudoso Torcato Mendonça... 

Sabia que ele estava reformado, pelo menso desde 2006,  da Caixa Geral de Depósitos, agência do Fundão. Foi nesse ano que nos descobriu e contactou. Também sabia que era ele que organizava os convívios da CCAV 3420.

Entretanto descobri o seu número de telemóvel, através do portal Ultramar Terraweb, liguei-lhe e ele atendeu-me.  Tivemos uma longa e proveitosa conversa... Agora é agricultor, em Freixial de Cima, Castelo Branco. E usa outro endereço de email. Fiquei a saber que vai organizar no dia 28 de maio, em Abrantes, mais um convívio da companhia. É o 20º que ele organiza. O Salgueiro Maia organizou três, em vida, e depois da sua morte houve um interregno. 

Gostei muito de falar com ele. É um excelente contadot de histórias. E contou-me mais algumas histórias do Salgueiro Maia e dos seus bravos... Histórias de Bula, de Capunga, de Bissau, que eu gostaria que ele pusesse no papel, a acrescentar às histórias que já nos contou e que eu estou agora a republicar... 

Percebo agora melhor o respeito e admiração que tinham por ele, Salgueiro Maia,  os seus homens. Porque era recíproco: ele defendia sempre os seus homens, das arbitrariedades dos senhores oficiais superiores... (A CCav 3420, "independente", estava adida a uma batalhão em Bula...).

No último dia em Bissau, antes do regresso à metrópole, o capitão fez um almoço de despedida com as praças, no Pelicano (se bem percebi), foi a companhia que pagou. Não era uma prática habitual... E à noite jantou com os graduados... Perderam o último autocarro para os Adidos (que levava a malta que ia ao cinema à noite), ficaram à espera de táxis, perto da Praça do Império e do palácio do Governador... A cantar canções "proibidas" na época... Alguns já com um grãozinho na asa... Mas quem tinha voltado a vestir o camuflado para socorrer Guidaje, merecia tudo... É bom lembrar essa história que não vem nos livros da CECA...

Fico feliz por ter (re)localizado o José Afonso (**). E também por receber a mensagem do seu antigo camarada e amigo, Eduardo Silva, a quem já forneci os contactos do José Afonso, e quem já convidei para integrar a Tabanca Grande.



3. Mensagem que enviei ao Eduardo Silva, por voltas 20h00 de ontem, e que obteve imediata resposta: ele aceitou o meu convite para integrar a Tabanca Grande, e compromete-se a mandar as duas fotos da praxe.

Eduardo:  já te pus em contacto, por email, com o José Afonso. E mandei-te também  seu nº de telemóvel. (**)

Ele é um excelente contador de histórias. E estou a recuperar algumas... Reformou-se por volta de 2006, da CGD, trabalhava no Fundão onde ainda tem casa. Dedicou-se, com paixão à história da companhia e da guerra da Guiné, tem organizado os encontros da malta, mas também descobriu outra vocação que agora lhe ocupa o tempo quase todo: a de agricultor. O que é bom, é um forma útil, ativa, produtiva e saudável de gerir o chamado envelhecimento (estamos a envelhecer desde que nascemos, e esse processo foi agravada com a maldita rifa que nos calhou na nossa história de vida, a Guiné...).

Gostei de o conhecer, ao telelé... Pode ser que nos encontremos, um dia, no Fundão. Mas ele agora vive no Freixial de Cima, Castelo Branco. E vai organizar o próximo encontro da companhia, em Abrantes, no dia 28 de maio. Já é o 20º encontro que organiza. Ele tem muito orgulho nessa missão. A viúva do Maia comparece sempre.

Outra coisa: quero que te juntes à malta da Tabanca Grande. Manda duas fotos digitalizadas, uma do tempo da Guiné, e outra mais ou menos atual. Tens aqui um histórico da Tabanca Grande, o António Marques Lopes, que esteve em 1968 na CCAÇ 3, a comandar o pelotão dos "Jagudis"... Hoje é coronel DFA, reformado... Escreveu um notável livro de memórias autobiográficas. Se acompanhas o blogue, sabes quem é. Aqui tens o seu nº de telemóvel, ele vai gostar de falar contigo (apesar de estar a enfrentar problemas de saúde) (...)

Um "alfabravo". Luís Graça 
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


4  de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23138: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte I: Um cartão pessoal... para a história: "Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné", disse-me ele, agradecendo um telegrama de felicitações, enviado logo a seguir ao 25 de Abril de 1974

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23140: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte II: Histórias pícaras: (i) Os matraquilhos e a astúcia do capitão; (ii) Uma heli-evacuação e a enfermeira paraquedista que não queria levar o "passageiro" em pelota; (iii) As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião


Guiné > Região de Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1964/66) > c. 1965 > A ganadaria da "companhia do quadrado"..

Fonte: Belimiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira: "A nossa luta: dois anos de muita luta: Guiné 1964/66, CCAÇ 675)" (edição de autor, il.. Lisboa, 2017, 606 pp.). Com a devida vénia... (*)

1. Eis  algumas histórias,  já aqui contadas em 2009, pelo José Afonso (ex-fur mil, 3º Gr Comb, foto à esquerda), sobre o cap Salgueiro Maia e os demais bravos da CCAV 3420 (Bula, 1971/73). (**)


(i) Os matraquilhos e a astúcia do capitão

 Quando a Companhia de Cavalaria embarca em Lisboa, leva já consigo a sua 1.ª receita: um jogo de Matraquilhos que em 6 dias de viagem esteve sempre ao serviço. Trabalhava de dia e noite sem parar. Foi um bom Fundo de Maneio. 

Quando chegámos a Bula, o mesmo jogo foi posto em frente do alçado da caserna dos soldados da Companhia, continuando ali a dar a receita pretendida.

Talvez vendo a fonte de receita que ali tínhamos, o Comandante do Batalhão   [BCAÇ  2928] pede a Salgueiro Maia que mande retirar dali os respectivos matraquilhos, pois estavam em local central do Batalhão e não davam muito bom aspecto.

Não se tendo conseguido nessa altura demover a tomada de posição do Comandante do Batalhão, lá tiveram que ir os Matraquilhos para o Esquadrão de Reconhecimento Panhard. Aqui a receita era insignificante já que os homens eram muito menos, e também nem sempre o pessoal da Companhia ou Batalhão se deslocava cerca de 300 metros para jogar matrecos.

Salgueiro Maia tinha de arranjar maneira de os matrecos regressarem à origem. Como o Batalhão tinha falta de padeiros e os dois da Companhia estavam emprestados ao Batalhão, Salgueiro Maia vai dar a volta ao Comandante, dizendo que, com a falta de pessoal que tinha, necessitava dos padeiros da Companhia para alinharem para o mato. Levava já na manga a hipótese de deixar os padeiros onde estavam e, como contrapartida, os Matraquilhos regressarem ao Batalhão e colocados nas traseiras da caserna.

A esta proposta o Comando do Batalhão cedeu e uma vez mais Salgueiro Maia venceu.


(ii) Uma heli-evacuação  e a enfermeira paraquedista que não queria levar o "passageiro" em pelota

Quando a 28 de Novembro de 1971, um elemento da Companhia acciona uma mina, ficando sem uma perna e outro elemento também ferido, ambos do 3.º Grupo de Combate,  é solicitada a evacuação por via aérea para o Hospital de Bissau.

Ao chegar o helicóptero, sai dele uma enfermeira que,  ao ver o soldado Santos sem roupa,  diz que assim não leva o ferido. Para ser socorrido, utilizaram-se os restos das calças para fazer garrotes à perna e ao braço. E com tiras da roupa seguram-se alguns pensos que tapam feridas menores. O homem estava nu.

Para satisfazer o pedido da enfermeira, foi pedido ao enfermeiro que tinha uma camisola interior vestida para que a tirasse e com ela tapasse o soldado ferido.


(iii) As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião

Em Abril de 1972 aos elementos da Companhia que estavam no período de descanso, Salgueiro Maia pede voluntários para ir ao Km 13 da Estrada Bula – S. Vicente onde o 1.º Pelotão da Companhia estava emboscado e necessitava de apoio devido a um grupo de Balantas, que vinha do Senegal onde tinha ido roubar vacas, ter caído no campo de minas e algumas vacas andarem na estrada. Assim vão elementos da CCAV 3420 até ao local.

São apanhadas 2 vacas que são carregadas numa GMC. Satisfeitos os elementos da Companhia, com Salgueiro Maia à frente entram em Bula, gritando:
- Queremos carne.

À entrada do Batalhão   [BCAÇ  2928]  está o Comandante que manda parar a coluna de 4 viaturas. Quando se pensava que ia dar um louvor aos voluntários, houve-se uma reprimenda do Comandante por a tropa vir a fazer muito barulho e, dá ordens para que a coluna entre na sede do Batalhão (a CCAV 3420 era uma Companhia de Cavalaria independente mas de reforço ao Batalhão de Infantaria). Toda a actividade mais perigosa era desempenhada pela 3420.

Contrariando as ordens do Comandante, Salgueiro Maia manda avançar a coluna para o Esquadrão de Reconhecimento Panhard 2641 que ficava aí a 300 metros do Batalhão pois, era ali que as vacas iriam ser comidas. Ao regressar ao Batalhão o Comandante dá ordem a Salgueiro Maia para que entregue as vacas porque diz ele que todo o material capturado ao IN tem de ser entregue ao Batalhão. Salgueiro Maia diz então que as vacas não foram capturadas, mas sim oferecidas e que foi o pessoal da Companhia que as foi buscar estando de descanso e o Batalhão não mandou sair nenhumas forças.

Mais diz Salgueiro Maia:
- As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião.

José Afonso (2009)

 (Continua)


[ Revisão / fixação de textos  e títulos, paar efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P23138: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte I: Um cartão pessoal... para a história: "Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné", disse-me ele, agradecendo um telegrama de felicitações, enviado logo a seguir ao 25 de Abril de 1974




Reprodução de um cartão pessoal, manuscrito, de Salgueiro Maia, ex-comandante da CCav 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Bissau, 1971/73, 1971/73), agradecendo ao José Afonso, seu ex-fur mil, do 3º Gr Comb, o telegrama que este lhe enviara, felicitando-o pela sua participação no golpe militar do 25 de Abril de 1974 e pelo sucesso do movimento dos capitães... Documento s/d, mas próximo do 25 de Abril de 1974, talvez maio de 1974.(*)

Salgueiro Maia voltara, entretanto, à unidade de origem, a  EPC - Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Repare-se que ele ainda utilizou papel da sua ex-companhia, tendo por timbre, cortado por um traço, o brasão da CCAV 3420, "Os Progressistas", sediada em Bula, SPM 1898.

O nosso camarada José Afonso, ou José Baptista Afonso, por sua vez,  é bancário, reformado da CGD, dividindo, em 2009, o seu tempo entre Castelo Branco, de donde é natural, e o Fundão, onde trabalhou e tinha residência.. Não temos notícias suas desde esse ano. Nasceu em 1949, e deixou de ter o endereço de email que tinha. Não temos o seu nº de telemóvel.


Teor do cartão, sem data:

 [ Ao canto superior esquerdo, Brasão  da CCAV 3420, Os Progressistas, SPM  1898 (Particular)]:

"Caro amigo: Só agora tenho tempo de agdecer o agradável telegrama. Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné. Do pessoal da Comp[anhia] guardo as melhores recordações mesmo depois de fazer o balanço dos maus bocados. Um dia que nos encontremos poderemos esclarecer muitas situações.

"Há pouco esteve aqui o ex-fur[riel] Gomes. O 1º [sargento] Beliz mandou vir e foi  expulso do curso para oficial mas deve agora [depois do 25 de Abril] ser readmitido. O 1º Pascoal continua aqui [na EPC, Santarém] como dantes.

"Sem mais, um abraço do amigo ao dispor. (Ilegível)"


 [A foto acima é, de  há muito,  um ícone,  foi tirada pelo grande fotógrafo português Alfredo Cunha, no 25 de Abril de 1974: é apenas um detalhe da foto original. Cortesia de Wikipedia.] 

Foto (e legenda): © José Afonso (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guião da CCAV 3420 (Bula, 1971/74). 
Coleção de Carlos Coutinho, com a devida vénia


1. O capitão Salgueiro Maia, de seu nome completo Fernando José Salgueiro Maia (Castelo de Vide, 1 de julho de 1944 - Santarém, 3 de abril de 1992), ficará na história de Portugal como um dos nossos heróis do séc. XX.

Passado quase meio século depois do 25 de Abril de 1974, e trinta depois da morte do mais famoso capitão de Abril, parece haver hoje um amplo consenso na sociedade portuguesa sobre o seu lugar na história da nossa Pátria. 

O homem que comandou a coluna de cavalaria que veio de Santarém, cercou os ministérios do Terreiro do Paço e levou Marcelo Caetano a render-se no quartel do Carmo, sede da GNR, é um exemplo das melhores virtudes pátrias que pode ter uma militar: coragem (física e moral), serenidade, bom senso, liderança, abnegação, honestidade intelectual, coerência, amor à república, amor à Pátria...

Mas não nos compete, a nós, blogue, escrever aqui "hagiografias" (Nem biografias, não somos historiadores.) Para nós, foi um dos nossos camaradas na Guiné (regressado em outubro de 1973), e isso basta, não nos podendo todavia esquecer, muito menos ignorar ou escamotear, que ele se irá distinguir depois pelo seu papel, decisivo, nobre, orajoso e impoluto, no 25 de Abril de 1974. 

Morreu, precocemente, aos 47 anos, vítima de cancro. Quiçá amargurado, pelas injustiças de foi vítima, sobretudo por parte do poder instituído, não apenas militar como político.




José Baptista Afonso, ex-fur mil at cav, 3º Gr Comb,
CCAV 3420 (1971/73). Natural de Freixail de Cima, Castelo Branco,
tem casa também no Fundão onde trabalhou, 
e conhecia o nosso saudoso Torcato Mendonça.


2. Vamos, por estes dias, recordar a  ação do cap Salgueiro Maia, nomeadamente na Guiné, enquanto comandante da CCav 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Bissau, 1971/73, 1971/73). E sobretudo a partir dos testemunhos de quem o conheceu no CTIG. 

Infelizmente só temos um representante da CCAC 3420 na Tabanca Grande: o nosso camarada José Afonso (fotos acima), de resto um excelente contador de histórias.

E começamos justamente pela reprodução de um cartão pessoal, escrito pelo Salgueiro Maia, já depois do 25 de Abril de 1974, talvez em Maio, enviado ao José Afonso que o havia felicitado  pela acção na Revolução dos Cravos (documento acima reproduzido).

Nas neste primeiro poste de homenagem a este homem da nossa geração e nosso camarada da Guiné, de que muito nos orgulhamos,  é bom sabermos algo mais sobre a CCAV 3420 que ele comandou. 

Depois iremos repescar algumas das histórias do José Afonso sobre o Salgueiro Maia e outros bravos da CCAV 3420, esperando, por outro lado, que ele, José Afonso,  volte a dar notícias,  o que não acontece há muitos anos (desde, pelo menos, 2009).

PS - Já pusemos as notícias em dia, e tenho o atual endereço de email, além de "carta branca" para republicar as suas histórias do Salgueiro Maia e dos demais bravos da CCAV 3420.


Ficha de unidade > Companhia de Cavalaria n.º 3420

Identificação:  CCav 3420

Unidade Mob: RC 4 - Santa Margarida

Cmdt: Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia

Divisa: "Progressistas" - "Perguntai ao Inimigo Quem Somos"

Partida: Embarque em 04Jul71; desembarque em 09Jul71 | Regresso: Embarque em 030ut73


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 12Jul71 a 06Ag071, no CMI, em Cumeré, seguiu em 11Ag071 para Bula, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCav 2639.

Em 29Ag071, iniciou a actividade de intervenção e reserva do BCaç 2928, substituindo a CCav 2639 a partir de 20Set71, e actuando nas regiões de Choquemone, Cuboi, Ponta Matar-Ponate e outras, bem como nas acções de contrapenetração e na segurança e protecção dos trabalhos da estrada Bula-Binar,

De 05Mai72 a 08Jul72, foi deslocada para Mansoa, em reforço do BCav 3852, com a missão principal de garantir a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Mansoa-Namedão-Bissorã, recolhendo a Bula quando os trabalhos atingiram Namedão e voltando à dependência do BCaç 2928 e depois do BCav 8320/72.

Em 09Jul72, rendendo a CCaç 2789, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Ponta Consolação e Capunga, com vista à execução e controlo dos trabalhos de construção, dos respectivos reordenamentos e promoção socioeconómica das populações. 

Em 07Dez72, assumiu, em acumulação, por saída do CCaç 3328 e extinção do subsector de Ponta Augusto Barros, a responsabilidade daquela zona de acção, mantendo a sede em Pete e guarnecendo então os destacamentos de João Landim, Capunga e Mato Dingal.

Em 23Mai73, foi substituída nos reordenamentos pela 1ª Comp/BCav 8320/72 e seguiu, em 25Mai73, para Farim e depois para Binta, a fim de reforçar as forças do COP 3 empenhadas no início dos trabalhos da reabertura do itinerário Binta-Guidage; em 29Jun73, foi rendida nesta missão pela CCav 3568, recolhendo então a Bissau.

Em 30Jun73, substituiu no sector de Brá a CArt 3521, ficando integrada no dispositivo e manobra do COMBIS, a fim de garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 30Set73, foi substituída no subsector de Brá pela CCaç 3476, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 99 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 515/516
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Nota do editor: