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quinta-feira, 30 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23398: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (6): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte V: o ataque a Guileje


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > Foto aérea de 1972 do aquartelamento e tabanca de Guileje, tirada no sentido oeste-leste. Fo do álbumdo do ex-1º cabo aux enf Amaro Samúdio.

Foto (elegenda): © Amaro Samúdio (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", têm vindo a ser aqui recordados, na véspera da efeméride dos seus 50 anos. (A Op Amílcar Cabral dizem que começou a 18 de maio de 1973, em Guileje, na região de Tombali, no sul... Mas já antes, Guidaje, no norte, na região do Cacheu, esteve a ferro e fogo (*).

Daí esta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA (2015) sobre estes acontecimentos (*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.1. Ataque lN a Guileje

Poucos dias depois do ataque lN no Norte da Guiné,  ao quartel de Guidaje, iniciou-se no Sul o ataque a Guileje sob o comando militar do sul do PAIGC, "Nino" Vieira, integrado na operação "Amílcar Cabral" para mostrar resultados à OUA - Organização de Unidade Africana.

  • Para o início da operação, o PAIGC concentrou em redor de Guileje:
  • a bataria de artilharia de Kandiafara, com morteiros de 82 e 120 mm, canhões sem recuo, canhões de 85 mm e de 130 mm;
  • um grupo de reconhecimento e observação;
  •  cinco bigrupos de infantaria do sector de fronteira.

Deslocou ainda o 3.° Corpo de Exército do Unal para a mata do Mejo e transferiu três bigrupos da região do Boé e dois bigrupos do 2.° Corpo de Exército, no Tombali, para reforço do sector de fronteira.

"No total, o PAIGC concentrou na zona de Guileje um Corpo de Exército (3.° CE), no Mejo, dez bigrupos em reforço ao sector de fronteira e uma bataria de artilharia, com um grupo de reconhecimento. Ao todo, considerando a base numérica de cada unidade do PAIGC utilizada pelos serviços militares portugueses, seriam cerca de 650 homens, efectivo idêntico ao que foi concentrado em Cumbamori para o ataque a Guidaje."  
[Nota: Afonso, Aniceto,  e Gomes, Carlos de Matos, "Guerra Colonial", p. 508]

A guarnição de Guileje integrada no dispositivo e manobra do COP 5 (comandado pelo Major de Artilharia Alexandre Coutinho e Lima), era constituída pela:
  •  CCav 8350/72;
  • 1 Pel/CCaç 3520;
  • 15° Pel Art;
  • 2 Sec/Pel Rec "Fox" 3115;
  • e  Pel Mil 236. 
A população civil era de cerca de 500 elementos.

Em 18Mai, pelas 06h00, uma força constituída pelos 1° e 2° GComb da CCav 8350/72, 1 GComb/CCaç 3520, Pel Mil 236 e 2 Sec/Pel Rec "Fox" 3115, foram realizar a picagem da estrada de Gadamael até ao rio Bendugo, montar segurança descontínua no mesmo itinerário e fazer protecção à coluna auto que se deslocava a Gadamael Porto.

"À hora prevista, a força executante saiu do Aquartelamento começando a fazer a picagem do itinerário. A cerca de 200 metros do local previsto para a instalação do 2° GComb da CCav8350/72, o Comandante do Pelotão de Milícias n° 236, Jan Samba Camará, que nessa altura se encontrava à frente da picagem apercebeu-se de uma anomalia no terreno e fez parar toda a coluna pondo-se a observar o que depois se veio a verificar ser o 3° dos 18 fornilhos colocados ao longo da estrada e nas bermas, num espaço de cerca de 40 metros. Nessa altura, o lN que se encontrava instalado a poucos metros da picada, que é, ao longo de quase todo o percurso, ladeada de mata densíssima, desencadeou a emboscada com um tiro de pontaria à cabeça do Comandante de Pelotão de Milícias e, acto contínuo, com o accionamento dos 18 fornilhos de grande potência e grande quantidade de fogo de armas ligeiras e RPG-2 e RPG-7.

O Pelotão de Milícias n° 236 e o 1° GComb/CCav 8350/72 sofreram, num curto lapso de tempo, 1 morto e 7 feridos graves. Ficou também o referido pessoal extremamente traumatizado pelo rebentamento dos fornilhos verificando-se alguns casos de rebentamento de tímpanos e queimaduras de 1° grau. Por essas razões a sua reacção foi mínima ou nula limitando-se o 2° GComb a ripostar com o morteiro 60 cm.

Quando o inimigo interrompeu o contacto o 1° grupo de combate e o Pel Mil 236 recuaram para trás do 2° grupo, que entretanto se manteve na estrada, transportando feridos e abandonando no local da emboscada o corpo de comandante do Pelotão de Milícias, 1 ferido grave, armamento e material diverso.

O 2° grupo, após efectuar um batimento de zona com morteiro 60 mm e lança-roquetes 37 mm (Dante), progrediu ao longo da estrada (que já tinha sido picada) para recuperar o morto e o ferido. Chegou ao local onde antes se encontravam e ultrapassou-os para fazer segurança à frente sem que o inimigo se manifestasse. Chegados ao local, detectaram os fios de fornilhos sobre a estrada e, do lado onde o lN estivera instalado, vestígios de organização do terreno tais como abrigos individuais e espaldões para metralhadora ligeira.

Entretanto tinham sido pedidas viaturas para evacuar o morto e os feridos. Receberam ordens para se manterem afastados do local aproximando-se apenas a AM "Fox" até ao limite da picagem. O grupo de combate da CCaç 3520 que as escoltava apeou-se cerca de 400 metros antes do local da emboscada não chegando a intervir. Como tivessem sido notados movimentos suspeitos mais adiante no lado esquerdo da estrada resolveu o comandante da força fazer para o local, alguns tiros de mort 6 cm e LGFog  8,9 cm. 

Antes disso o inimigo voltou a abrir abundante fogo de armas ligeiras metendo quase toda a força que se encontrava a proteger a evacuação do morto e do ferido na zona de morte. Houve
oportunidade de ver um elemento lN saltar para a estrada e enfiar ao longo dela num tiro de RPG-2 que causou baixas. Neste contacto as NT reagiram com armas ligeiras e, sobretudo, com cerca de 900 tiros da Browning 12,7 mm da AM Fox. Do mesmo, resultaram para as NT 2 feridos ligeiros e 3 graves um dos quais veio a morrer no quartel, 4 horas depois, por falta de evacuação.

Quando o lN interrompeu o contacto procedeu-se à recolha dos feridos e à retirada de todas as forças para o aquartelamento, ficando sem efeito a coluna prevista.?" (Fonte: Relatório da acção "Bubaque" realizada em 18Mai73 na região de Guileje da CCav 8350/72) .

Na tarde desse dia um GComb, sob comando do Cmdt do COP 5, efectuou o reabastecimento de água, sem contacto com o lN. (Fonte: As transcrições que se seguem são do livro "A retirada de Guileje - 22 Mai73. A verdade de factos",  do Cor Art Alexandre Coutinho e Lima, DG edições 2009 pp. 45 a 86).

A partir da noite de 18Mai o lN passou a flagelar o aquartelamento de Guileje com canhão 85 mm, canhão s/r, morteiro 120 mm e com um novo tipo de arma (julga-se que era um canhão grande, tipo obus 14 cm das NT), que permitia dar à granada uma velocidade muito grande. (
Canhão M-46, calibre 130 mm).

Relação das flagelações a Guileje até ao fim da tarde de 21Mai:

- 18 20h00 a 19 06h00: 7 flagelações - 150 granadas; 

- 19 08h00 a 19 16h45: 5 flagelações - 40 granadas; 

- 19 20h00 a 20 04h30: 9 flagelações - 150 granadas; 

- 20 08h15: 1 flagelação (10 minutos) - morteiro 120 mm; 
 
- 20 20h00 a 21 06h00: 7 flagelações - 80 granadas (morteiro 120 mm);
 
- 21 06h30: 1 flagelação - 20 granadas (canh s/r); 

- 21 07h30: 1 flagelação - 10 granadas (morteiro 120 mm); 

- 21 08h30: 1 flagelação - 15 granadas (canh s/r); 

- 21 14h00: 1 flagelação (5 minutos) - LGFog RPG-7;

 - 21 14h30: 1 flagelação (2 horas) - 200 granadas. 

Houve grandes destruições e 1 morto (Furriel).

Em 20 Mai o Cmdt COP 5, deslocou-se a Bissau e no "briefing" diário expôs a situação e pediu o reforço temporário de uma Companhia de tropa especial. O Cmdt-Chefe não lhe atribuiu qualquer reforço, determinou que regressasse a Guileje na manhã seguinte e que seria substituído no Comando, passando a desempenhar as funções de 2° Cmdt.

Em 210900 (mensagem Relâmpago n° 714/73) o Cmdt da CCav 8350/72 informou: 

"Durante apoio aéreo fomos flagelados. Pessoal não descansa desde 17. Vivemos sem água e ração. Solicito apoio muito urgente tropa especial. Pessoal desta muito cansado. Todos os impactos dentro Quartel".

Em 21 14h15 (mensagem Relâmpago sem número) comunica:

 "Estamos cercados por todos os lados".

Foi a última mensagem emitida. Na flagelação que deu origem à mesma, foi totalmente destruído o Centro de Comunicações, entre outros estragos, apesar de várias tentativas, através de antenas improvisadas, não foi possível restabelecer a ligação rádio.

O Major Coutinho e Lima chegou a Gadamael Porto no final da manhã de 21Mai e decidiu ir a pé para Guileje com 1 GComb/CCaç 4743/72, Pel Mil 235 (-) da guarnição Gadamael Porto e 1 GComb/CCaç 3520 da guarnição  de Cacine. O Cmdt da CCaç 4743/72, também integrou a coluna.

Pelas 18h00 chegou a Guileje. O Cmdt do COP 5 verificou:

"Na flagelação dessa tarde, o inimigo tinha provocado uma baixa (um Furriel morto) às NT; O graduado foi atingido por uma granada, dentro de um abrigo com fraca protecção.

"Estavam destruídos, em consequência das variadíssimas flagelações inimigas: Dois depósitos de géneros. Depósito de artigos de cantina. Cozinha. Forno de cozinha. Celeiros de arroz da população (ainda estavam a arder). Grande parte das casas da população - " moranças" - queimadas.

"Vários abrigos atingidos parcialmente. Muitos impactos nas valas. Variadíssimos rebentamentos (talvez centenas) dentro do aquartelamento.

"Falta de água potável, por não ter sido possível fazer o reabastecimento, o último fora efectuado na manhã de 19Mai. Escassez de munições de Artilharia, já exposta atrás. Escassez de medicamentos.

"Presença do Inimigo nas proximidades do aquartelamento, pelo menos do lado de Mejo: alguns elementos da população que tentaram ir à água à bolanha, a cerca de 500 metros nessa direcção, foram flagelados pelo Inimigo, na tarde de 21Mai e imediatamente recolhidos pelas Nossas Tropas que foram em seu socorro.

"Desde o início das flagelações (noite de 18 / 19Mai), toda a população recolheu aos abrigos das Nossas Tropas, aumentando para cerca de 3 vezes a sua lotação.

"Nas últimas flagelações, tinha-se verificado a "presença" de uma nova arma do Inimigo; os rebentamentos demoravam cerca de 3 segundos após a audição da saída da granada.

"Verificaram-se vários rebentamentos no ar, bem como de algumas granadas perfurantes, tendo sido, eventualmente, uma destas que provocou o morto das Nossas Tropas.

"Desde o dia 19Mai, deixou de ser confeccionado o rancho em virtude das flagelações e das destruições provocadas na cozinha; a alimentação passou a ser ração de combate.

"Todo o pessoal estava arrasadíssimo, quer física quer psicologicamente, pois estava a ser flagelado durante 3 dias e 3 noites consecutivas.

"A população estava preocupadíssima, principalmente pela fortíssima pressão do Inimigo, mas também devido ao desaparecimento do milícia Aliu Bari que, certamente, teria dado informações importantes ao Inimigo, não só relativamente às Nossas Tropas, como ainda em relação aos hábitos da população, incluindo a localização dos campos agrícolas.

"Garantia da não evacuação dos feridos, como já acontecera na manhã do dia 18Mai; a possível evacuação por barco, à semelhança da que se efectuara em 19Mai também não era exequível, não só pela presença do 3° Corpo de Exército do Inimigo nas matas de Mejo, como devido à falta de barcos para o efeito, porque os "sintex" não regressaram a Guileje.

"Este facto da não evacuação era da máxima importância; na realidade, os feridos graves ficavam entregues "à sua sorte", cujo desfecho poderia ser a morte".


No final da tarde, o Comandante do COP 5 tomou a decisão de efectuar a operação de retirada do Guileje:

"Imediatamente após a minha chegada a Guileje, efectuei uma visita rápida ao aquartelamento e de seguida fiz uma reunião informal com o Sr. Comandante da CCav 8350/72 e outros oficiais.

"Os factores em que baseei a minha decisão de retirar de Guileje foram os seguintes:

(1) Forte pressão do Inimigo [ ]

(2) Não atribuição de reforços [ ]

(3) Não evacuação de feridos [ ]

(4) Escassez de munições, especialmente de Artilharia [... ]

(5) Falta de água no aquartelamento [... ]

(6) Defesa da população [... ]

(7) Destruição do Centro de Comunicações [... ]

(8) Novo Comandante do COP 5 [... ]

(9) Previsão do futuro, a muito curto prazo [... ]

(10) Existência de um morto [... ]

(11) Efeito de surpresa [... ].


Dadas as circunstâncias e atendendo a que o inimigo, nessa noite de 21/22Mai, flagelou o aquartelamento por 3 vezes: 21h45/22h00 (cerca de 30 impactos); 01h05/01h30 (cerca de 40 impactos) e 04h00/05h00 (cerca de 60 impactos), as destruições e inutilizações não puderam ser feitos com a profundidade e extensão que o seriam, se as condições fossem outras.

Durante a noite, foi intensificada a actuação da Artilharia, em resposta às flagelações (não só gastando todas as munições completas existentes, como procurando dar ao inimigo a ideia que continuávamos presentes e atentos) antes de serem postos inoperacionais os 2 obuses de 14 cm.
 
[Nota: Ref V/1686/C informo não recolhida qualquer viatura:

1 Mercedes,
4 Berliets,
3 Unimogs 404,
1 Unimog 411,
1 Jeep,
1 AM Fox e 2 White
foram destruídas parcialmente.

Tomados inoperacionais:
3 mort 81 mm,
1 mort 10,7 cm
Posto inoperacional destruindo aparelhos pontaria e percutores.

Recolhidos todos E/R TR 28, AVP-1, Onkyos, Sharp e 2 E/R Marconi do STM, 3 AN/GRC-9 e restante material. Máquinas e documentação Cripto Transmissões e STM tudo destruído.

Obus 14 cm posto inoperacional por meio culatras e aparelhos pontaria recolhidos.

Restantes armas individuais e colectivas recolhidas com excepção 7 Pmetr FBP não destruídas, 2 LGFog 8,9 cm, 7 Esp G-3, 2 Mort 60 mm e 3 Metr Breda danificadas e inoperacionais.

Toda documentação classificada e não classificada foi destruída pelo fogo.

Havia 11 Esp G-3 destribuidas pop Guileje fim colaborarem defesa das quais 4 desaparecidas.

- Mensagem IMEDIATO ,n° 188/C-73 de 231430Mai73. ]

Em 22, pelas 0530, iniciou-se a saída do quartel, após a destruição do material abandonado. Por falta de comunicações, esta acção apenas foi conhecida quando a coluna chegou a Gadamael Porto, a meio da manhã do mesmo dia. Não houve qualquer contacto com o lN.

"O efeito da surpresa foi total, porquanto o inimigo não teve oportunidade de se aperceber, durante a noite, da deslocação das Nossas Tropas, no mesmo itinerário, em 21Mai; tendo sido efectuada a retirada de Guileje na manhã de 22Mai, o PAIGC só entrou no aquartelamento em 25Mai, isto é, 3 dias depois; entre 22 e 25Mai continuou a bombardear a posição que tinha sido ocupada pelas Nossas Tropas."

Em 22Mai, pela manhã, chegou a Gadamael Porto o Cor Para Rafael Ferreira Durão para assumir o comando do CAOP 3.
 
[Nota:  Com início em 21 Mai73, o CAOP 3 foi constituído e organizado, transitoriamente, a fim de fazer face ao forte incremento da actividade inimiga na zona Sul e de assegurar a coordenação da actividade operacional das forças ali instaladas. Foi composto por elementos do CAOP I, desviados para aquela zona com a sede em Cufar e englobando os sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S3), Cadique (COP 4) e Guileje (COP 5), este logo deslocado para Gadamael Porto.  Em 02Jun73, foi extinto e substituído no comando operacional daquela zona de acção pelo ÇAOP 1, que entretanto fora transferido de Mansoa. (Resenba Histórico-Militar das Campanhas de Africa 7° Volume Tomo II "Fichas das Unidades - Guiné" ]

Pelas 12h15 enviou uma mensagem (Relâmpago sem número), para a Rep Oper/Cmd-Chefe:

 "lnfo Cmdt COP 5 decidiu 21 18h30 evacuar tropas e civis de Guileje. Em 22 05h30 deu-se retirada total destruindo incapacitando  todo material que não tinha sido já destruído pelo fogo ln. Devido falta comunicações tal facto apenas conhecido pelas 10h00 de 22, quando chegada Gadamael Porto. Face destruições havidas verifico ser impossível reocupação
tempos próximos. Aguardo instruções."

Daquela Repartição em 22 18h00 recebeu a mensagem nº 1652/C :

"Ref mensagem Relâmpago de 22 12h15 Mai73 s/número solicito informe Cmdt CAOP Cor Para Ferreira Durão que Sexa General Comandante-Chefe determinou seja retirada imediatamente do comando COP 5 Maj Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito auto Corpo de Delito."

O Major Coutinho e Lima seguiu para Cacine, embarcou num navio da Marinha em 26 06h00 Mai 73 e chegou a Bissau no dia seguinte. De 27Mai73 a 12Mai74 esteve preso em Bissau. Foi amnistiado por um Decreto-Lei da Junta de Salvação Nacional e o processo foi arquivado.

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 319-325.

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série;

2 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23319: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (1): A pontaria dos artilheiros... (Morais da Silva / C. Martins)

4 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política

6 de junho de 2022 Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar

18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21779: Notas de leitura (1334): As Grandes Operações da Guerra Colonial, a Guiné, 1972 a 1974, por Manuel Catarino (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O mérito da iniciativa é indiscutível, estes fascículos venderam-se pelo país todo, pode muito bem ter acontecido que os mais jovens tiveram pela primeira vez acesso a imagens da nossa guerra. Houve muito trabalho a angariar os dados, o que se lastima é que a sua apresentação tem tais e tantos ziguezagues que o não iniciado forçosamente anda para ali a dar braçadas em seco, lê-se e o que fica é um produto final difuso, com muitos tiros, mortes e feridos.

Um abraço do
Mário


As Grandes Operações da Guerra Colonial, a Guiné, 1972 a 1974

Beja Santos

Publicada sob a forma de fascículos, em duas séries, os textos de Manuel Catarino contemplaram por diversas vezes a guerra da Guiné. O número 8, a que aqui se faz alusão, inclui na primeira parte uma série de operações (Muralha Quimérica, 1972, Lince Azul, Palanca, Tigre Poderoso e Gato Espantado, 1973) e na segunda parte a viagem de Spínola ao Senegal e o terror dos mísseis.

Há a lamentar que nem sempre as imagens ilustrativas são as mais adequadas para os acontecimentos versados. No caso da operação Muralha Quimérica, foi uma ação militar de envergadura numa zona compreendida entre Ural e Guileje, e que decorreu de 28 de março a 8 de abril de 1972, ao tempo da visita de uma delegação da ONU a outro ponto da região Sul, temos de facto um mapa mas as demais ilustrações nada abonam sobre a operação.

Spínola estava informado da visita da delegação da ONU e pretendeu estragar a festa, contrariando a ideia (comum nos fóruns internacionais) de que a guerrilha controlava a maior parte da Guiné. Três companhias do batalhão de paraquedistas, duas companhias de comandos africanos, a CCAÇ 18, a CCAÇ 3399, a CCAÇ 3477 e um grupo do Centro de Operações Especiais, cerca de 500 homens, organizados em 14 agrupamentos operacionais sob o comando do Tenente-coronel Araújo e Sá. Foi apreendido muito material, houve mortos e feridos de parte a parte, mas a operação foi considerada um êxito.

José Tavares, do Destacamento de Fuzileiros Especial 4, descreve a sua vida em Ganturé (“Não havia lá nada. Fomos nós que construímos o aquartelamento, numa das margens do rio Cacheu, a cerca de 5 quilómetros de Bigene”). Descreve o inferno de Guidage (“A nossa sorte piorou quando ficámos sem comunicações. A minha família pensava que eu tinha morrido. Não morri porque não calhou. Em Guidage já não tínhamos para comer. Sobrevivemos com carne de crocodilo”).

A obra colhe o depoimento do nosso confrade Eduardo Magalhães Ribeiro sobre o último arrear da bandeira portuguesa. Creio haver ali um lapso tratando a viúva de Amílcar Cabral por Luísa Cabral, a viúva chama-se Ana Maria Cabral. 

O episódio seguinte que merece destaque ao autor é a reconquista do Cantanhez, entre dezembro de 1972 e junho de 1973 foram executadas no Sul da Guiné, com especial incidência nas zonas de Cacine, Gadamael e Guileje uma série de ações (com os nomes ‘Lince Azul’, ‘Palanca’ e ‘Gato Espantado’), o objetivo era desarticular e criar forte instabilidade na guerrilha, todas estas ações faziam parte de uma manobra mais alargada designada por Operação Tigre Poderoso. 

Na essência, Spínola estava determinado a transferir para o Sul o principal esforço de guerra na Guiné, seria uma reconquista que tinha como objetivo fazer do rio Cacine a principal linha de defesa do Sul da Província. 

Como observa o autor, era absolutamente necessário que as forças portuguesas ocupassem a Península do Cantanhez, onde instalariam novos quartéis que servissem de apoio aos aquartelamentos de Cacine, Guileje e Gadamael. Foi posta em marcha a Operação Grande Empresa e envolveu-se um formidável contingente. Ao mesmo tempo que se desenvolvia ação militar (na qual participaram duas companhias do batalhão de paraquedistas, dois destacamentos de fuzileiros especiais e um conjunto de unidades de infantaria, cavalaria e artilharia), um outro conjunto de unidades ocupava fisicamente o território. O nosso confrade Vasco da Gama já aqui contou ao detalhe este esforço impressionante.

O fascículo dá permanentemente saltos, é interpolado por depoimentos, chega-se agora à Operação Neve Gelada, que aqui é relatada pelo Coronel Raul Folques, Comandante do Batalhão de Comandos Africanos. Cai imprevistamente no documento uma cronologia de acontecimentos em 1974 e uma análise do que representou a publicação do livro “Portugal e o Futuro”, de Spínola.

A segunda parte retoma de novo o livro que abalou o regime e segue-se a descrição do encontro de Spínola com Senghor, em 18 de maio de 1972, que se realizou em Cabo Skirring, no Senegal, a história é bem conhecida, pelo meio temos o assassinato de Amílcar Cabral, a zanga entre Marcelo Caetano e Spínola. 

E assim se chega ao terror dos mísseis, regista-se a lista dos aviões abatidos pelos mísseis Strela, Spínola descreve a situação como crítica, episódio que está igualmente bem descrito nas páginas do blogue. Salta-se de novo para a reocupação da Península do Cantanhez, vem referência a um nome que nos é muito comum, o então Major Moura Calheiros, Chefe da Secção de Informações e Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas que tinha referenciado a posição do mais importante quartel do PAIGC na região: 

“A posição inimiga, sensivelmente entre Guileje e Bedanda, foi localizada durante um voo de reconhecimento pelo Capitão Morais e Silva. O êxito da Operação Grande Empresa dependia da capacidade portuguesa para atacar e destruir o quartel da guerrilha”

Três foram as tentativas de assalto, o Capitão Valente dos Santos, ferido na primeira tentativa, recusa a abandonar os seus homens, só à terceira tentativa é que o Oficial aceita ser evacuado. 

“O Chefe de Operações do Batalhão de Paraquedistas, Moura Calheiros, que durante os combates esteve sempre no ar a bordo de um DO-27, respira de alívio. Pode dar início à segunda fase da Operação – a ocupação de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijá, por paraquedistas e fuzileiros especiais”.

Não se pode minimizar um trabalho de que resulta sempre apreço ao dever de memória. Tem-se, porém, dúvidas sobre a eficácia destes documentos esparsos e onde o pendor cronológico não é consistente, há documentação repetitiva e erros arreliantes que teriam sido evitados em casos de revisão técnica. Mas não se pode deixar de saudar a enorme difusão que o trabalho teve por todo o país.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21758: Notas de leitura (1333): “De Lisboa a La Lys, O Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial”, por Filipe Ribeiro de Meneses, Publicações Dom Quixote, 2018 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20393: Memória dos lugares (402): Nhacra, a guarda avançada da capital, Bissau: afinal, era um sítio onde se podia ir, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974)


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477, "Os Gringos de Guileje"  (Guileje, Nhacra e Brá, 1971/73) > O fur mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.

Foto (e legenda)  © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Como era Nhacra ao tempo do nosso grã-tabanqueiro Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974) ? (*)


(...) Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AAA 7040/72, além de dois pelotões de Milícias: o 329,  aquartelado em Oco Grande, e o 230, aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.

O IN não possuía, dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento. 

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes:

(i) a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7;

(ii)  e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. 

Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA, a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram: 

 (i) a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra; 

(ii) o itinerário Bissau–Mansoa; 

(iii)  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a impedir que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos milttares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.


Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia, distribuíam-se por dois regulados: 

(i) o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra (Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe);

(ii)  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais.Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.
Bissalanca, BA 12, c. 1972/74: os alf mil
 Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ~
e Jorge Pinto, prontos para ir até Nhacra,
de motorizadas, comer umas ostras (**)...
Foto: Jorge  Pinto (2019).

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).

Os Fulas, de um modo geral,  eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos. (...).

(...) A área do subsector de Nhacra tinha por limite a norte o Rio Mansoa, a sul o Rio Geba, a oeste o Canal do Impernal e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa e, ainda, pela ligação entre Nhacra e Cumeré, também ela em estrada asfaltada. 

A piscina de Nhacra.
Foto de Eduardo Campos (2009)
As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas. Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaracterísticas, em que os relevos praticamente não existiam, apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal. Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada, aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas Zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”. A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies.

Afinal, Nhacra, a 25 / 30 km, a nordeste de Bissau, era um sítio onde se podia ir, de carro, de moto ou de motorizada, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra. (***)
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Notas do editor:



27 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

terça-feira, 4 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19855: (In)citações (133): Entre maio e dezembro de 1972, na altura em que estive com os "Gringos de Guileje", a situação era relativamente calma, a CCAÇ 3477 era temida e respeitada pelo PAIGC...As coisas alteram-se sobretudo em maio de 1973, ao tempo da CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje" (Luís Paiva, ex-fur mil art, 15º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho (reformou.se com o posto de coronel). . A CCAÇ 3325 foi subtituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972), "Os Gringos de Guileje",  a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973), "Os Piratas de Guileje". O 15º Pel Art, a que pertenceu o Luís Paiva, esteve em Guileje com estas duas  últimas  unidades de quadrícula.

Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Luís Paiva (ex-Fur Mil Art, 15.º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/73, ao tempo da CCAÇ 3477 e depois da CCAV 8350, tendo o aquartelamento de Guileje sido abandonado em 22/5/1973)

[É membro da nossa Tabanca Grande desde 30 der outubro de 2009] (*)

Data: quarta, 29/05/2019 à(s) 15:36

Assunto: Solicitação de esclarecimento

Caro Luís Graça:

Em 2009 iniciei no Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" a publicação de alguns "posts" (10, segundo julgo) relacionados com a minha comissão de serviço militar na Guiné, no período que decorreu entre 1972 e 1974, sendo que o último post colocado data já de há cerca de cinco anos.

O primeiro "post" relatava de uma forma sucinta os acontecimentos ocorridos a partir de Maio de 1973 em Guileje e Gadamael no tempo em que ali se encontrava a companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Acontece que num recente almoço-convívio com a Companhia à qual estive ligado anteriormente CCAÇ 3477, conhecida pelos "Gringos de Guileje", tomei consciência de que em alguma(s) dessa(s) minhas intervenção(ões), ocorridas no referido blogue, teria involuntàriamente dado origem a equívocos que ali mesmo procurei desfazer mas que, pùblicamente, me comprometi a tomar a iniciativa de solicitar que fossem devidamente esclarecidos perante todos os leitores do blogue.(**)

Com efeito, se alguma vez dei a entender que a minha estadia em Guileje durante a permanência da CCAÇ 3477 foi relativamente tranquila, terei que, antes de mais, reiterar esta informação, mas acrescentando algo que poderá não ter ficado subentendido e que poderá ter gerado em alguns espíritos alguma confusão e até mesmo desconforto.

Antes de ser colocado em Guileje, eu tomei conhecimento que a zona era extremamente difícil sob o plano militar e que os Gringos que ali tiveram um período bastante difícil, tinham conseguido pacificar a região após várias incursões, e ganho respeito por parte do IN

O PAIGC temia a Companhia dos Gringos e, após várias incursões anteriores à minha chegada, tinham optado por reduzir ali a sua capacidade de ataque pelo que, quando cheguei, deparei com a zona já relativamente pacificada, sobretudo no que se refere a ataques ao aquartelamento, já que naturalmente no exterior a actividade militar e de prevenção da Companhia mantinha-se com saídas constantes e frequentes para o mato.

Deve pois ser salvaguardado o seguinte: eu desempenhava funções de artilheiro pelo que a minha actividade militar era apenas exercida dentro do aquartelamento, e aqui os ataques (após o período em que cheguei) eram reduzidos e aconteciam, tanto quanto a minha memória me permite recordar, numa média de cerca de um por mês.

Fora do aquartelamento -e durante esse período, de Maio a Dezembro de 1972- a situação era diferente mas não me posso pronunciar sobre ela porque eu não saía em missão para o mato.

E se me é permitido comparar com a situação que se iniciou em Maio de 1973, já após a saída da CCAÇ 3477 e durante a permanência da CCAV 8350, a diferença é flagrante porquanto a partir dessa data - e como referi na minha primeira intervenção - o grau e gravidade da situação militar alterou-se por completo dentro do aquartelamento. Dispenso-me de repetir o relato que fiz no Blogue há cerca de uma década sobre esses acontecimentos e que mantém plena actualidade.

Resumindo, e para que fique claro, apenas por interpretação anómala do que escrevi, se pode inferir que a permanência dos Gringos em Guileje foi pacífica porque o que efectivamente afirmei e reitero foi que a minha permanência com a aludida Companhia foi relativamente tranquila face ao que se passaria a seguir, concretamente a partir de Maio de 1973. 

E quando me refiro à minha permanência, refiro-me tão só ao espaço a que eu estava, como furriel de artilharia, confinado, mas também e sobretudo ao tempo em que ali estive com a referida Companhia. Porque, naturalmente, que não me posso pronunciar sobre o tempo anterior à minha chegada e em que aquela Companhia ali esteve na zona e que creio possa ter sido bastante difícil até se ter conseguido razoàvelmente pacificá-la.

Outra eventual interpretação do que escrevi será a partir deste esclarecimento abusiva.

Termino, afirmando que beneficiei na Companhia dos Gringos de grande camaradagem e de um óptimo ambiente de solidariedade que foi o que afinal me levou agora a procurar revê-los após um longo período de cerca de 47 anos.

Solicito que ao presente esclarecimento seja dado o devido destaque por forma a que todos os que leram alguma intervenção anterior minha possam ficar devidamente informados e tomem assim conhecimento que foi apenas uma acidental omissão sobre o tempo em que os Gringos estiveram em Guileje, mas que os meus comentários da altura se referem sobretudo a acontecimentos que tiveram lugar antes da minha chegada e -após a mesma- apenas no exterior do aquartelamento.

É porém voz corrente que presumível e supostamente (talvez antes de eu ser colocado em Guileje), os Gringos teriam capturado diverso armamento. Admito até que isso possa ter ocorrido durante a minha permanência, algo que já não consigo recordar! E reafirmo que a minha opinião tem sobretudo a ver com o teatro de operações dentro do aquartelamento.

Mantém-se o essencial do que escrevi nas intervenções no blogue, relativamente à descrição dos acontecimentos dramáticos que ocorreram em Guileje e Gadamael a partir de Maio de 1973 e já durante o período da Companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Saudações cordiais.

Luís Paiva
Ex-Furriel de Artilharia do 15º Pelart

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Notas do editor:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
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Notas do editor:

terça-feira, 16 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17363: Inquérito 'on line' (115): Fátima... Com 70 respostas no início da tarde, e a menos de 24 horas para o fim do prazo, conclui-se que todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes, durante ou depois da tropa... mais como turistas (58%) do que como peregrinos (18%)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > O ex-cap mil Abílio Delgado, que comandou a CCAÇ 3477 (sediada em Guileje de novembro de 1971 a dezembro de 1972; também conhecida por "Os Gringos de Guileje);

O Abílio Delgado foi, aos 21 anos (!), o capitão miliciano mais novo do CTIG. Membro da nossa Tabanca Grande, residente na Ericeira, foi fotografado pelo nosso editor Luís Graça, em Iemberém, com a estatueta, em metal, da Nossa Senhora dos Milagres de Guileje, a santa protectora dos Gringos de Guileje, "miraculosamente" encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje em 2008, por Domingos Fonseca. Julgamos que esta estatueta estava na capela, construída pela CART 1613 (1967/68).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/72) > Oráculo, com duas  imagens: (i) a  de Nossa Senhora de Fátima (à direita);  e (ii) a do Santo Cristo dos Milagres  (numa redoma de vidro ou relicário).

Na foto, vê-se ainda o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro,   à civil, de óculos escuros. A foto foi-nos disponibilizada, sem legenda,  pelo Pepito, o histórico dirigente da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

No oráculo ao Santo Cristo dos Milagres, pode ler-se a oração em verso, inscrita na base do monumento: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos".

 A companhia era maioritariamente constituída por pessoal dos Açores.  Guileje, por seu turno, sempre foi um dos locais de culto mariano, no TO da Guiné. Recorde-se a capelinha de Guileje, construída sob a invocação de N. Sra. Fátima pela CART 1613 (1967/68).  O culto do Santo Cristo dos Milagres bem como o de Nossa Senhora dos Milagres é muito mais antigo do que o de N. Sra. de Fátima, e ambos são de grande devoção nos Açores.

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas do antigo aquartelamento das NT... Associado aos trabalhos de capela e ao núcleo museológico de Guileje, esteve incontornavelmente o nome do dedicado e incansável Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora foram encontradas por ele,  Por essa razão passou na altura a integrar a nossa Tabanca Grande.

Segundo informação do Samúdio,  o monumento, o oráculo da foto acima,  foi contruído pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de junho de 1972. O oráculo e a capela foram reconstruídos pela ONG AD, com sede em Bissau, com o apoio da nossa Tabanca Grande, e nomeadamente o Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.

Foto: © Amaro Samúdio (2006) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...


As 70 primeiras respostas (até ao início da tarde de hoje):




1. Fui lá ainda em miúdo ou ainda antes de ir para a tropa  > 28 (40%)



2. Fui lá, como militar, antes de ir para o ultramar  > 4 (5%)



3. Fui lá logo depois de vir do ultramar  > 11 (15%)



4. Só fui lá muitos anos depois (de vir do ultramar)  > 13 (18%)



5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente  > 13 (18%)


6. Fui lá como simples turista ou em passeio  > 41 (58%)

7. Nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir  > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir  > 0 (0%)



II. Prazo de resposta: 



até amanhã, dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17352: Inquérito 'on line' (114): Fátima... As 50 primeiras respostas: todos lá fomos, mas a maioria de nós (60%) como "simples turistas ou em passeio"... Prazo para responder termina 4ª feira, dia 17, às 16h53

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10700: Crachás de unidades que passaram por Guileje (CCAÇ 3477 e CCAÇ 3325, 1971/72) e Cacine (CCAÇ 2726, 1970/72) (Mário Bravo, ex-alf médico, 1971/72)










Crachás da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (Guileje, nov 71/ dez 72), CCAÇ 3325, Os Cobras de Guilje (Guileje, 1971) e CCAÇ 2726 (Cacine, 1970/72)


Fotos: © Mário Bravo (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada, médico, Mário [Silva] Bravo (ex-alf med, CCAÇ 6 e HM 241, Bedanda e Bissau, 1971/72)


Bom dia Amigo e Camarada Luis Graça

Há algum tempo que não publico no nosso blogue, por distracção e não por outra razão.

Continuo a ser visita assídua, e considero que a tua gestão é excelente.

Nas minhas buscas, cá em casa, encontrei estes crachás que me foram oferecidos em Guileje (os primeiros: CCAÇ 3325 e CCAÇ 3477) e o outro (CCAÇ 2725), não tenho a certeza. Será que corresponde a alguma unidade de Gadamael, onde também estive ?

O envio destas imagens pode servir para encontrar companheiros dessas épocas, e que gostaria de reencontrar, através do nosso blogue.


Mário

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10394: Os nossos médicos (43): Amaral Bernardo e Mário Bravo, em Guileje, ao tempo do cap Jorge Parracho, comandante da CCAÇ 3325 (1971)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 26 > Bar/messe de oficiais:  convívio de oficiais de duas companhias, presidido pelo cap inf Parracho (ao fundo, ao centro)... O segundo à esquerda, parece-me o cap mil Abílio Delgado, o então mais jovem capitão do exército português (com 21 anos!, se não me engano)... À direita, em primeiro plano, o alf mil médico Amaral Bernardo... É possível que esta foto tinha sido tiradas em finais de 1971, na sequência da rendição da CCAÇ 3325 (Cobras de Guileje) pela  CCAÇ 3477 (Gringos de Guilejm, nov 71/dez 72). Tanto o Abílio como o Amaral são nossos grã-tabanqueiros.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas. Legendagem da responsabilidade de L.G,, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].



1. Comentário do nosso camarada [José Maria Ferreira do ] Amaral Bernardo [, foto atual, à direita,]  ao poste P10390:

Com emoção, reconheço-me na foto nº 26; sou o último à direita, o então alf mil médico Amaral Bernardo.

Só quem teve o "privilégio" de ir a Guileje nessa época, pode entender como era possível, no meio da maior adversidade, num minúsculo redil de arame farpado, perdido algures em África, com condições de sobrevivência no limite...haver alguém para quem a dignidade e a autoestima de todos os militares era uma preocupação prioritária. A porta de armas e a messe são só a parte aparente desse esforço. Quem conhece o então cap Parracho, sabe do que falo.

A última vez que nos encontramos foi num almoço em Quinhamel que teve a gentileza de oferecer.

Abraço rijo, Coronel Parracho

Amaral Bernardo, alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)

2. Comentário de Mário Bravo [, foto atual, à esquerda,] ao poste P10362


Amigos e Camaradas. Nas rápidas idas a Guileje, como médico e estacionado em Bedanda, tive o grato prazer de conhecer o Cap. Parracho. Mal vi a foto publicada no blogue, fácilmente o reconheci. Pouco tempo depois, foi suibstituido pelo Cap. Abílio Delgado com quem contactei durante mais tempo. Como recordação desses tempos, possuo dois crachás - da C.Caç- 3325 e da C.Caç.3477. Apesar das fracas condições de vida dessa época, gostei desses dias. !!

Mário Bravo (alf mil méd, CCAÇ 6, Bedanda,  e HM241, Bissau, 1971/72)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de agosto de 2011 >  Guiné 63/74 - P8624: Os nossos médicos (42): O Teles de Araújo, o Morais Sarmento, o Horta e Vale e o Fernando Garcia (J. Pardete Ferreira / P. Santiago / M. Amaro / A. Paiva / J. Câmara / C. Cordeiro)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guiné 63/73 - P10362: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VI: Atividade operacional, de outubro a dezembro de 1971 (texto: Orlando Silva; fotos: Jorge Parracho)



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 38 > Estrada Guileje-Gadamael (?): progressão no tempo das chuvas


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref   Jorge Parracho > Foto nº2 > O pessoal (todo ou quase todo) da companhia que esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 31 > Reabastecimento por via aérea no tempo das chuvas.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 34 > Reabastecimento por lançamento em paraquedas, no tempo das chuvas.


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Sexta e última parte do texto, da autoria de Orlando Silva,  relativo à estadia da CCAÇ 3325, em Guileje, de janeiro a dezembro de 1971. (Reproduzido aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro) (*).


Atividade operacional (continuação)

De 01 a 31 de Outubro de 1971:

Mais 18 operações de patrulhamento.

A actividade directa do IN tem sido nula. Continua no entanto, a utilizar com frequência o “Corredor de Guileje”, embora certamente com menos à vontade, dado ter accionado várias minas implantadas pelas NT nesse itinerário. Igualmente accionou minas A/P colocadas pelas NT no trilho para Simbeli (perto da fronteira), tendo tido várias baixas conforme vestígios encontrados.

A actividade das NT neste período, esteve orientada no sentido de continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, procurar novos acessos para aquele “Corredor”, continuar a patrulhar com assiduidade as bases de fogos do IN, patrulhar com certa frequência a estrada para Gadamael pois iríamos brevemente iniciar as colunas Auto, e na implantação de minas nos locais perto do quartel passíveis de ser utilizados pelo IN para a instalação de Bases de Fogos.

Neste período, foram efectuadas pela Companhia duas acções ao “Corredor de Guileje”, podendo considerar-se uma delas (acção “Prestígio”) como a mais dura realizada até então pela Companhia. A patrulha teve a duração de 15 horas, sempre por zonas difíceis, dentro de bolanhas e rios ou por mata densa em locais de contacto eminente com o IN, sendo parte dela realizada na ZICC [, Zona de Intervenção do Com-Chefe] perto de Salancaur, onde o IN costumava dispor de grandes efectivos. 

Acrescente-se que o pessoal, durante toda a patrulha, não tomou qualquer alimento, porque as rações que levavam ficaram logo no inicio totalmente inutilizadas pela água. Conseguimos no entanto o objectivo da missão, que era colocar minas no “Corredor de Guileje” num local de passagem habitual do IN, e onde o IN dificilmente admitiria a nossa ida já que, segundo informações do guia, há  mais de 5 anos que as NT não iam àquela zona.

Para que não se perdesse ingloriamente o esforço dispendido nesta patrulha até à altura, tornou-se obrigatória a travessia de um braço do Rio Balana, largo e fundo, infestado de crocodilos (que os soldados desconheciam), mas decisiva para conseguirmos os nossos intentos, possibilitando assim o cumprimento da missão.

Para que isso fosse conseguido, o Alferes Cunha a certa altura, de uma forma destemida e contra o conselho do nosso guia Abdoulai Jaló, lançou-se à água a fim de que os soldados o seguissem. Como o nosso pessoal era de uma maneira geral de baixa estatura, tornou-se necessária a nossa ajuda para que os mesmos efectuassem a travessia, o que conseguimos. Correu tudo bem, montámos as minas A/P planeadas e retirámos de imediato.

O moral das nossas tropas continuava bem, podendo mesmo dizer-se melhor que no período anterior, devido aos êxitos que a Unidade tinha tido, à notícia da nossa rendição por outra Companhia e pela visita de várias entidade militares e de uma equipa da RTP.

De 01 a 30 de Novembro de 1971:

Realizámos mais 21 patrulhas.

O facto mais saliente do período foi a abertura a viaturas do itinerário para Gadamael, ficando assim quebrado o isolamento em que a Companhia se encontrava há cerca de 5 meses.

Fomos rendidos pela CCAÇ 3477, não se notando qualquer incremento de actividade do IN para impressionar esta Companhia, como seria de esperar.

A nossa actividade continuou orientada para continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, manter em constante vigilância as bases de fogos IN e seus itinerários, manter aberta a estrada para Gadamael, e dar a conhecer a Zona de Acção à CCAÇ  3477.

Continuámos a manter em tudo a nossa actividade anterior, e o moral da tropa encontrava-se em alta.
Para essa moralização, contribuíram em parte as palavras de apreço e incitamento que a Companhia tem recebido das entidades que a visitam, sendo de salientar especialmente as proferidas por Sua Excelência o General Comandante-Chefe, que durante o período visitou por duas vezes Guileje.

Iniciou-se entretanto o período de rendição da Companhia pela CCAÇ 3477, e a ida para Nhacra do 1º e 2º Grupos de Combate da CCAÇ 3325, tendo o pessoal daquela Companhia começado a integrar-se muito bem dentro da missão que lhes irá ser atribuída.

A alimentação melhorou com a abertura da estrada, lançamentos em pára-quedas e fornecimento de frescos por avião.

Manteve-se pois sem quebras a actividade operacional, com boa colaboração no final do período da CCCAÇ 3477, prosseguindo também em bom ritmo os trabalhos de beneficiação da defesa e instalações do quartel, e podendo nós  afirmar que continuava a ser excelente o moral da Unidade.

Em Dezembro de 1971:

Realizaram-se em conjunto com a CCAÇ  3477 mais 15 acções.

O IN revelou durante o período grande actividade e agressividade. Efectuou várias flagelações ao quartel, ou para desviar as atenções das NT do “Corredor de Guileje” ou ainda para impressionar o pessoal da nova Companhia.

A actividade das NT neste período, foi totalmente orientada no sentido de procurar dar aos Oficiais, Sargentos e Praças da CCAÇ 3477 um conhecimento perfeito de toda a ZA,  bases de fogos IN, itinerários, localização das nossas minas, que foram todas levantadas e tornadas a montar por pessoal daquela Companhia, dando-se inclusivamente instrução ao pessoal dentro do quartel, de tiro, para adaptação das armas que iam passar a ser distribuídas, e instrução sobre minas e armadilhas, dada a larga difusão destes engenhos na ZA



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 17 >  O com-chefe gen António de Spínola numa  duas visitas que efetuou a Guileje em 1971.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje]


Jantar no Palácio do Governador – 23/12/71

Finalmente, venho recordar com saudade o jantar no Palácio do Governador em Bissau, oferecido aos Oficiais desta Companhia após a saída da mesma daquela zona de guerra, e antes do nosso regresso à Metrópole, pelo General António Spínola, em homenagem à nossa actuação militar.

EM RESUMO…

Como se vê, apesar de tudo o que os Cobras de Guileje passaram, apesar de todos os mortos e feridos, ninguém ouviu qualquer oficial, sargento ou praça desta Companhia, vir gabar-se ou pavonear-se em público, quer fosse em jornais, rádio ou televisão.

Pelas fotos aqui inseridas, podemos ver como estava o aquartelamento quando chegámos e como ficou quando saímos. E tínhamos tempo para jogar à bola e receber visitas por avião.

Seríamos inconscientes?

No Jornal que V. Exa. dirige [, referência ao diário Correio da Manhã], e para uma correcta informação dos leitores, antes de serem publicados aqueles artigos, deveriam ter reunido à mesma mesa todos os intervenientes. Lembro ainda outro artigo, esse publicado na revista do vosso jornal de 24/05/2009, que surge pleno de dramatização e falta de verdade.

Os mortos e feridos merecem melhor!

Da nossa parte, Companhia Independente de Caçadores 3325, bastaria ouvir qualquer oficial, sargento ou praça, que, melhor que ninguém e de uma forma isenta, mostraria ao País o que foi “Guileje”.

Gostaríamos de poder convidar o Sr Jornalista (autor do/s referido/s artigo/s sobre Guileje) a estar presente na nossa próxima reunião anual, que se irá realizar em Maio de 2010, caso seja para isso devidamente autorizado pela redacção do “Correio da Manhã”.

Que [a Guiné] foi a pior zona de toda a Guerra do Ultramar, é o que dizem! Que Guileje foi o pior quartel de toda a Guerra do Ultramar Português (daí a sua importância), isso também foi. Está comprovado.

A verdadeira história do Ultramar há-de ser feita, pois ainda há Portugueses com memória e com sentido da verdade. Só exigimos respeito, principalmente pelos mortos e feridos, igual àquele que nós próprios temos pelos que então eram nossos inimigos.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)