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terça-feira, 7 de março de 2023

Guiné 61/74 - 24124: Memórias cruzadas: A base (logística) de Sinchã Djassi / Hermancono, na fronteira com o Senegal (contributos de Carlos Silva, Leopoldo Amado e A. Marques Lopes)


Guiné > Região do Oio > Carta de Jumbembem (1953) / Escala 1/50 mil >  Posição relativa de Jumbembem e do "corredor de Lamel" (que partindo da estrada Farim-Jumbembem, acompanhava o curso do rio Lamel, afluente do rio Jumbembem, passando por Fantambã e Farincó até à fronteira)... Já em território senegalês havia a base (logística) de  Sintchã Djassi (assim chamada talvez em homenagem a Abel Djassi, nome de guerra de Amílcar Cabral ?!...) ou Hermancono  (também grafada como Hermacono ou até Hermangono). Na fronteira com o Senegal, estão sinalizados os números dos marcos, de 105 a 112. Era por aqui que se localizava a base.

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Excerto de manuscrito do Carlos Silva, ex-fur mil Carlos Silva, ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71). (Trata-se de um livro, inédito, sobre a sua experiência de vida na Guiné, aonde, de resto, foi por diversas vezes, a seguir à independência, em trabalho e em turismo de saudade). O nosso camarada é advogado de profissão; tem um valioso espólio documental (fotográfico e literário sobre a Guiné); é um histórico da nossa Tabanca Grande, para a qual entrou em 20/7/2007.

O manuscrito do IN, encontrado no corredorde  Lamel, em 3/3/1970, vem reproduzido também na História da Unidade, BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), Cap II, pág. 20. Escrito em muito mau português, diz o seguinte (revisão / fixação de texto: LG):

Hermancono, 3-3-70

Oficiais, soldados e fantoches do exército colonial, estão a fazer muito ronco na estrada. Devem saber, e preparem-se,   [a base de] Canjambari já recebeu novo dirigente militar para vos 'tirar no abuso'.   Já estão muito atrevidos no caminho tanto de Bricama como de Sulucó. Temos que vos mostrar qual é o vosso lugar.

Ao nosso primeiro encontro todo o vosso comando tem de vir.

Assinado: FARP. Aviso ao Exército Colonial.




Excertos da História da Unidade - BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), HU-Cap II -Pág. 20: 

(i) No dia 14 de março de 1970, pelas 8h30, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71) detetaram um acampamento IN a Oeste do marco fronteiriço nº 107. Lançado um golpe de mão, foram feridos 2 elementos IN, e capturado 1 LGFog e 2 granadas de RPG 2, entre outro material. O IN reagiu com armas automáticas e morteiro ligeiro, batendo a área do acampamento a partir da Repúbica do Senegal.

(ii) No dia seguinte, 15, forças da milícia de Cuntima, comandadas pelo cmdt da CCAÇ 2549, executaram uma patrulha de reconhecimento ao longo da fronteira até ao marco nº 105. Detetaram dois elementos IN, que perseguiram.

(iii) A 20 do mês, às 13h30, e durante a interdição do corredor de Lamel, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem) detetaram e perseguiram um grupo IN estimado em 80 elementos. que se deslocavam de Sul para Norte, a 400 metros da sudoeste da ponte. O IN não reagiu ao fogo das NT, e retirou para Norte. De Jumbembem form feitos 13 tiros de obus para a zona de retirada do IN. E, a seguir, a FAP, chamada a intervir, fez um ataque ao solo entre o rio Lamel e Fantambã. Feita uma  batida imediata, foram encontradas 10 granadas de RPG 2, entre outro material.

Infografias: Carlos Silva  / Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2023) 


1. O Carlos Silva teve a gentileza, no domingo passado, de me mandar cópia dos dois documentos que acima reproduzimos. Afinal, ele lembrava-se desta base (ou barraca), ou pelo menos do seu nome,Hermancono ou Hermacono. Ficaria no limite do subsetor de Jumbembem, mas já em território senegalês. Nos mails que trocámos, ele esclareceu:

(...) Luís, este nome   [Hermancono]  ficou-me na orelha, Consultei o meu livro e  História do Bat Caç 2879 e cá está ele.

Como referi participei na operação que fizemos à zona, mas não encontramos qualquer vestigio. Segue o panfleto que apanhamos em Lamel. (...)

(...) Eu andei por lá em fins de 1969, Mas quando fizemos a operação, não ouvi falar na base de Hermancono. Não está muito longe de Cumbamori. No meu livro dos Roncos de Farim  eu falo na 1° operação a Cumbamori em dezembro de 1967. (...)

(...) Durante toda a comissão nunca ouvi falar em tal base, apesar de ter ido lá. (...)

(...) As fotos do poste P24110 são de 1973, de certo os gajos deambulavam entre Cumbamori e Hermancono, esta designação não é guineense. (...)

Ao telefone, disse-me que já tinha andado  naquela estrada Ziguinchor-Dacar, duas vezes, quando foi à Guiné. Numa delas entrou por Cuntima, se não erro.

2. Pesquisando no nosso blogue, descobri que o toponónimo, Hermancono (*),  já sido citado mais do que uma vez: pelo historiador guineense, e nosso amigo, Leopoldo Amado (1960-2019), e pelo A. Marques Lopes, que reproduz   o Subintrep nº 32, de junho de 1971. Aqui vão alguns excertos:

(i) Leopoldo Amado, poste P 1566 (**)

(...) Com efeito, Cabral procurou a partir de 1971, estabelecer estruturas sociais de partido-Estado em Tigili/Iador/Sara/Zona Oeste (Biambi), Catió e Quintafine, enquanto que, por outro, se preocupava com as ameaças às áreas libertadas, traduzindo-se tal situação na polarização da sua actividade em torno da estrada Mansabá-Farim, na sua reacção ao reordenamento de Bissássema e na intenção de instalar forças no Unal, visando libertar corredores de infiltração que favorecessem os ataques aos centros urbanos. 

Assim, o PAIGC inicia, a partir desta altura, as acções contra Bissau e Bafatá, há muito anunciadas, num momento em que procede à desconcentração das unidades dos CE 199/A e 199/B, que se haviam deslocado para as áreas de Sano e Cumbamori (Senegal), dando por findo o esforço realizado na área de Barro-Bigene-Guidaje.

Nesta desconcentração, o CE 199/A regressou à área de Campada, enquanto o 199/B foi ocupar e reactivar a base de Hermancono, que voltou a constituir área fulcral na fronteira norte, praticamente abandona­da desde Fevereiro de 1971, aquando da sua transferência para Canjeno. 

Como consequência desta nova ocupação de Sinchã-Djassi, aumentou de forma considerável o trânsito pelo “corredor” do Lamel, que passou a ser o mais usado, seguindo-se-lhe, em menor grau de utilização, o de Canja. (...) (**)

(ii) A. Marques Lopes, poste P3258 (Subintrep nº 32, junho de 1971 - Itinerários de abastecimento do PAICG) (***)

(...) 

- Para a Frente de Morés/Nhacra

Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:

“Corredor” de Lamel

Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Canjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. 

Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. 

O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão  [a sudeste do Olossato] e Fambantã.

O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina: Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono): Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamori: 
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal: 
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano: Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá: Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da República da. Guiné (Koundara) passa, como vimos,  em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da República do Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:
  • “Corredor” de Sitató, com início em Faquina
  • “Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamori
  • “Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi [ / Hermancono]
  • “Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]
  • “Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A. Marques Lopes]
_______________

Notas do editor:

(*) Vd.  poste de 1 de março de  2023 > Guiné 61/74 - P24110: Memórias cruzadas: onde ficava a base (logística e operacional), do PAIGC, de Hermacono? Segundo informação recolhida por Cherno Baldé, junto de um antigo guerrilheiro, ficava na linha de fronteira com o Senegal, no vértice de um triângulo que tinha como base as tabancas (abandonadas) de Farincó e Fambantã, a oeste da estrada Farim-Jumbembem

(...) Comentários de Carlos Silva:

Conheci bem o nosso Sector de Farim e principalmente o nosso subsector de Jumbembem onde estivemos de 2/01/1970 a 16/6/1971.

Quando estivemos em Farim chegámos a fazer uma operação ao Dungal que fica na fronteira na qual eu não participei.

Fomos a Lambã duas  vezes, onde se dizia haver por lá uma base, andamos para diabo e nada.

Estivemos destacados no K3 / Saliqunhedim, e fizemos operações para esse lado para a bem conhecida Fátima onde tivemos contacto com IN e todas as Companhias por lá andaram.

Picagens para Lamel ponto de encontro de Farim/Jumbembem. Patrulhas e operações nessa área até ao rio Jumbembem/Farim/Cacheu.

Em Novembro de 1969, estava o meu 4º Pelotão destacado no K3 e a minha CCaç 2548 foi fazer nomadização para a fronteira norte Sitató/Cuntima onde tivemos o 1º morto a 28 de Novembro.

Palmilhamos todo o subsector de Farim enquanto ali permanecemos. A partir de Janeiro/69 até ao nosso regresso palmilhamos todo o nosso subsctor de Jumbembem que ia da picada Farim - Jumbembem - Cuntima até ao Senegal.

Fui diversas vezes emboscar para Farincó Mandiga, Fanbamtã,  Sare Soriã que fica a oeste de Jumbembem.

Muitas vezes para Sare Mancamã, Saman que fica a norte e fomos fazer operações para a fronteira para os Marcos 109 e 110,  Sare Sofi,  onde tivemos contactos com IN, bem como
fomos lá 2 ou 3 vezes buscar população.

Palmilhamos em picagens, patrulhas Jumbembem/Lamel; Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari; Jumbembem/Norobanta, e em todos estes percursos levantámos muitas minas e tivémos azar com 2 camaradas, um ficou sem o pé no percurso Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari e outro já a chegar ao termo da picagem Jumbembem/Norobanta.

Das operações à fronteira aos marcos, saímos de Jumbembem via Sare Mancamã, Samã e regressávamos via Galgega e apanhávamos as viaturas em Norabanta de regreeso a Jumbembem.

Tivémos contactos Fanbamtâ e Sare Soriâ bem como ao longo das picadas, principalmente Jumbembem/Lamel.

Nunca ouvi falar em Hermacono / Hermangono, mas perguntei aos meus amigos de Jumbembem que me disseram que existe no Senegal próximo da fronteira uma tabanca com esse nome, que não aparece nos mapas.

Como disse fomos a Lambã duas  vezes e não ouvi falar dessa tabanca. Para mim, Lambã ficou-me na memória porque da 2ª vez que lá fomos o meu camarada Furriel Enfermeiro já falecido, quando da retirada perdeu a pistola na bolanha e andamos a pisar o terreno até encontrá-la. (...)

(...) Cumbamori fica a uma dúzia de quilómetros a noroeste de Guidaje. Sambuiá (corredor de Sambuiá) fica a oeste de Bigene e a sul de Talicó, na picada de Farim - Bigene - Barro - Ingoré. Já fiz esta picada 2 vezes em férias, a primeira em 1997 ainda não havia a ponte de S Vicente,  e a 2ª vez já atravessei a ponte. (...)

(...) No nosso Sector de Farim enfrentávamos os Corredores de Lamel e Sitató. Em Lamel no meu tempo ficava lá emboscado e patrulhava a zona diariamente e alternadamente um pelotão de Farim; Nema ou Jumbembem.

Colunas e picagens desde 1970 até regressarmos, fazia-se colunas diárias para abastecimentos alimentares, transporte de cibes e materiais para a construção das tabancas.

De Jumbembem saíam 3 pelotões para picagens para sul, Lamel/Farim; para norte Norobanta/Cuntima e para este Sare Tenem / Canjambari.

Para além desta actividade das picagens, patrulhas, operações etc, ainda tivemos a tarefa de construir um aldeamento completo, demolição das tabancas velhas e construção de tabancas novas. (...)

sábado, 5 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23763: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (2): amostra de mensagens recebidas entre setembro e dezembro de 2021


Formulário de Contacto do Blogger: disponível na coluna estática, do lado esquerdo do blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Seleção de mensagens recebidas através do Formulário de Contacto do Blogger, entre setembro de 2021 até ao final do ano (*). É um veículo importante de comunicação imediata e fácil entre os leitores e os editores do blogue.

 Nalguns casos, já houve uma resposta direta dos nossos editores ou um reencaminhamento para outros destinatários. Também num caso ou noutro a mensagem pode já ter dado origem a um poste (**).

Algumas destas mensagens são extremamente lacónicas, limitando-se a cumprimentar-nos, o que de qualquer modo nos sensibiliza, mas não vamos publicá-las aqui. Noutros casos, os autores procuram antigos camaradas... Outras há que são incompletas ou imprecisas, ou têm a ver com outros territórios que não a Guiné (Angola, Moçambique, Brasil, etc.).

Evitamos, em princípio, divulgar o endereço de email de cada um destes contactos, a menos que haja interesse para o próprio (nos casos, por exemplo, em que divulga um livro ou a realização de um encontro: ou procura informação que extravasa o âmbito do blogue, o qual, como é público e notório, é centrado nos antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, que estiveram na Guiné, no período que vai entre 1961 e 1974).

Podemos fornecer o email a quem no-lo pedir, para respostas a pedidos ou futuros contactos. Lamentavelmente, só agora, por manifesta falta de tempo, nos foi possível, selecionar, organizar e listar estas mensagens. Omitimos as expressões protocolares (saudações, cimprimentos, etc.). A lista está organizada cronologicamente por data / hora.



2021 (setembro/dezembro)

29/12/2021, 11:37

Sou de 15 de setembro 1950, venho por este meio felicitar os obreiros deste blogue simplesmente formidável. Bravo!... Fiz tropa no BENG 447,  Brá, de 1972 a
1974. Se puder ajudar em alguma coisa é de boa vontade na medida do possível sou reformado e vivo na Suíça. Americo Aflalo.

Resposta do coeditor Carlos Vinhal (que também serve para mensagens semelhantes de camaradas que manifestam interesse em integrar a Tabanca Grande):

Caro Américo Aflalo: Muito obrigado pelo teu contacto via Formulário do Blogger. Se te quiseres juntar a nós e ser admitido na tertúlia para que possas ver publicadas as tuas memória e fotos, manda-nos um mail para luis.graca.prof@gmail.com ou carlos.vinhal@gmail.com, com indicação do teu nome, posto, especialidade, unidade em que foste integrado para a Guiné (ou rendição individual se for o caso), localidades onde estiveste e outras informações que julgues úteis para te conhecermos. Deverás enviar ainda uma foto actual e outra dos teus velhos tempos de Guiné e, se quiseres, uma pequena história. Ficamos na expectativa de novo contacto teu.


22/12/2021, 21:05


Queria enviar uma mensagem a todos os meus camaradas e amigos da CCAÇ 2548.
Um grande abraço a todos amigos do 1º pelotão que me acompaharam desde 1969 a 71.
José Dias de Sousa

21/12/2021, 23:14

Eu estive na Guiné de setembro 1971 a dezembro de 1973. Estive na zona de
Teixeira Pinto no destacamento de Batuca. BCAÇ 3863, CCAÇ 3461. Jorge Reis.



5/12/2021, 13:51

Pergunto se têm conhecimento onde se encontra o meu camarada Idálio Reis, da CAÇ 2317 (Gandembel, Balana e Cansissé, 1968/69) ?

António José Silva Nabais Pinheiro  (presumivelmente a viver no Brasil, pelo seu endereço de email).


24/11/2021, 8:25


Há vidas que se esquecem, mas há recordaçºoes que perduram pro muito que se queiram esquecer. Guiné, CCAÇ 4942/72, 5 jan 73/ Out 74. Manuel João Sampaio Lima.


9/11/2021, 17:20


Mantanhas para todo o pessoal da Tabanca Grande. A propósito do fardamento, lembro-me de uma ocasião, já a minha gente tinha manga de tempo na terra sabi, ter pedido para Bissau a substituição dos mosquiteiros, que já pouco mais eram do que farrapos remendados vezes sem conta, e nos foi respondido num ríspido ofício dos serviços da administração que os ditos cujos tinham uma duração de não sei quantos anos e, portanto, os nossos ainda tinham que aguentar uns mesitos mais até poderem ser substituídos... Não houve outro
remédio, o nosso primeiro-sargento foi a Bissau comprar panos de mosquiteiro que o alfaiate mandinga de Buba transformou em mosquiteiros próprios mesmo... E. Esteves de Oliveira.


14/10/2021, 10:06

Bom dia camarada Luis Graça, sou residente no Vimeiro, concelho da Lourinhã há 43 anos pois sou natural de A dos Cunhados.. Casualmente há dias , passou por aqui um individuo à minha porta, ia visitar a campa de camarada Eduardo  Jorge. E a minha mulher chamou-me a atenção, pois o sr. andava para trás para a frente olhando para tudo. Fui espreitar à janela, e qual o meu espanto, disse para a minha mulher, conheço este sr. Fui de imediato à Net e procurei, e acertei mesmo, era o camarada e conterrâneo João Crisóstomo.

Fui à rua chamei-o e claro confirmou. Ficou muito satisfeito por o reconhecerem, falamos um pouco da nossa terra, e lá foi prestar homenagem ao Eduardo Jorge. Desculpa, mas achei que devia partilhar este momento feliz, para mim que conheci o João Crisóstomo e para ele que ficou satisfeito de o conhecerem pela Net.  Artur Eduardo Januário Inácio.


25/9/2021, 14:08

Boa tarde o meu pai fez parte dessa CCAÇ 797, na Guiné, comandada pelo Capitão Carlos Fabião, é o Manuel Marques Lamarosa, era atirador. João Manuel Marques.

19/09/2021, 12:12

Diamantino Paiva Leite, soldado condutor da CART 1526 que prestou serviço na Guine nos anos 1966 a 1968, a residir em França desde 1971. solicitou-me que soubesse algo dos seus antigos camaradas que com ele viveram esse tempo de luta na Guiné. A saúde não lhe permite aceder a estes meios. Em seu nome, o meu muito obrigado. Arlindo Moreira da Silva (ex-soldado cond, CCS / BCAÇ 1933, Guine 67/69).



9/9/2021, 19:08

Chamo-me Nuno Inácio e sou filho de um Comandante do Pelotão de Caçadores Nativos 67, Alf Mil Gil da Silva Inácio,  conhecido como "O Gringo" - Cufar, Guiné 1973.

Tomei conhecimento deste website através de um grande amigo que viu um artigo onde mencionava um Alf Mil na Guiné conhecido como "o Gringo" e como outrora lhe tinha referido essa alcunha do meu pai fui verificar e de facto é o meu pai.

Estimo informar que o meu é vivo, cheio de saúde e ainda pronto para as curvas. Neste sentido gostaria de saber se alguns dos inúmeros heróis aqui presentes e representados conheceu o meu pai, gostaria de saber mais histórias desses tempos, porque o meu pai tem algumas reservas em partilhar essas histórias e se ainda existem encontros de ex-combatentes desses GE e, em caso afirmativo, pedia o favor a V. Exas. ser notificado para o efeito. Nuno Inácio (Indica o nº de telemóvel). (**)
 

8/9/2021,19:54

Com referência ao post do camarada António Abrantes, lembro-me da emboscada e da passagem da sua companhia por Buba, onde me encontrava na altura. A companhia que fez a escolta entre Aldeia Formosa e Fulacunda foi a CCaç 411, de Buba. A atribulada viagem da CCaç 423, que ficou conhecida como a "Volta à Guiné de Camioneta", deu pano para mangas sobretudo peo final, no fim de contas era a maneira mais lógica - por via marítima. 

Se fosse possível, agradecia que o Abrantes confirmasse se o ten Carlos Afonso Azevedo (falecido em combate) fazia parte da sua companhia. E. Esteves de Oliveira.

2/9/2021, 21:09

Eu António Lopes Pereira sou o ex-1º cabo da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832. Estive
em Mansoa, Braia e Infandre de 1970 a 1973, sou o nomero 701 da Tabanca Grande. António Lopes Pereira.



23/8/2021, 13:07

Estive na Guiné de novembro de 1966 a outubro de 1968. Na CArt 1612 / BArt 1896 até agosto de 1967, primeiro em Bissorã e depois em Buba, transitando depois para Bissau, para o Comando Chefe do CTIG:

Recebo os e-mails da vossa Tabanca, quase desde o princípio. Jorge Paes da Cunha Freire.



18/08/2021, 19:16

Caros camaradas militares: anseio por voltar ao nosso convívio; para quando está previsto - se está - o próximo encontro? Francisco Vilas Boas.



16/8/2021, 17:38


Estive na Guiné de 68/70 na 16ª Companhia de Comandos da qual em 69 o Marcelino da Mata fez parte . Um abraço a todos quanto por la passaram. Sou de Coimbra. Luis Cunha


10/8/2021, 01:04

Boa noite! Alguém por aqui do BAA 3434, 191/73, "As Avezinhas - Venham
Comigo Os fortes" ? António Martins.


10/08/2021, 09:09

 Os meus Bons Dias desde as «arábias». 
Faz hoje quarenta e nove anos (1972.08.10-2021.08.10) que vários elementos do contingente militar da CART 3494, a terceira unidade de quadrícula do BART 3873, tiveram de “mergulhar”, sem o desejarem, nas águas revoltas, escuras e lodosas do Rio Geba, na região do Xime/Bambadinca (Sector L1), onde, por efeito da falta de bom senso mesclado com alguma improvisação, perderam a vida três jovens milicianos, naquele que ficou gravado como o «Naufrágio do Geba».

Ao recuperar esta horrenda efeméride que a todos marcou, naturalmente mais aos que viveram e sobreviveram à experiência, quero prestar a minha sentida homenagem aos que pereceram naquele acidente náutico: ao José Maria da Silva Sousa, ao Manuel Salgado Antunes e ao Abraão Moreira Rosa.

Para compreender a trágica ocorrência devem-se ler os P10246; P13482 e P13494.  Jorge Araújo

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20996: Memória dos lugares (408): Ponte Alferes Nunes, sobre o Rio Costa Pelundo na Região de Cacheu (Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) com data de 19 de Maio de 2020:

Olá Carlos
Dado que recolhi mais elementos sobre a Ponte Alferes Nunes existente sobre o rio Costa Pelundo, região do Cacheu, fiz um vídeo para que os tertulianos tomem conhecimento na sequência do que muito já se escreveu no blogue sobre a obra de arte da Engenharia nos posts: P2275; P3743; P4364; P4381; P4382 e P9625 e com certeza mais alguns.

Aqui vai o link da minha página Jumbembem do Youtube onde tenho mais vídeos alojados sobre a Guiné: https://youtu.be/Acp92_WHSvs - 2020-05 Guiné-Bissau - Ponte Alferes Nunes – História



A designação de Ponte Alferes Nunes (Alferes José Nunes) militar português, Administrador da região do Cacheu na Guiné no início do Séc. XX e que numa batalha contra os naturais daquela terra, que se travou nas proximidades da travessia do rio Costa Pelundo, acabou por falecer e daí ter ficado conhecida a ponte aí existente com o seu nome.

Presumo que tal designação nunca foi oficializada.

Abraço
Carlos Silva
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20863: Memória dos lugares (407): Cuntima: a hortinha da CCAÇ 14 (1969/71) (Eduardo Estrela)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)


Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) >  Foto nº 1 > Vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo  3 casas com chapa de zinco; a primeira, era  a messe conjunta e quartos dos alferes; a segunda, era o quarto do capitão e quartos dos furréis; e a uma outra, que era era o que restava da antiga tabanca demolida  no tempo da CART 2548.




Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) >  Foto nº 2 > A parada e as 2 casas, messe à esquerda;  e a do capitão e furriéis,  à direita  onde se vê a janela do quarto do Carlos Silva.

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



1. Mensagem, de ontem, do nosso amigo e camarada Carlos Silva, jurista, ex-fur mil arm pes inf,  CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879,Jumbembem, 1969/71), membro da Direcção da ONGD Ajuda Amiga 

Assunto: Poste  P13729 - Cap Rui Romero (*)

Luís

Aqui vão 2 fotos de Jumbembem, onde se pode ver a zona principal do aquartelamento:

Foto nº 1, a preto,  vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo  3 casas com chapa de zinco:

(i) A 1ª,  messe conjunta e quartos dos alferes;

(ii) A 2ª , quarto do capitão e quartos dos furréis;  a cabeceira da minha cama encostava à janela que se vê;

(iii) E outra era o que restava da antiga tabanca demolida no meu tempo, pois construímos uma cidade nova...

Ao centro era a parada que se estendia até às árvores.

Na foto nº 2,  a cores, tirada  de um slide, vê-se bem a parada e as 2 casas, messe à esquerda e a do capitão e furriéis à direita  onde se vê a janela do meu quarto.

Presentemente apenas existem estas 2 casas.




Guiné > Região do Oeste > Setor O2 > Farim > Jumbembem > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74) > 1974 > Parada do quartel e chegada de um helicóptero com o correio.

Foto: © Fernando Araújo (2010). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

Na foto publicada do Fermando Araújo,  que esteve lá a seguir ao batalhão que me foi render, vê-se as 2 janelas da secretaria/arrecadação viradas para a parada.

Nesta foto as 2 janelas são para W para o lado do refeitório.

Na minha foto colorida, anº 2, vê-se as 2 casas,  sendo que a da esquerda está afastada 10 mts da casa da arrecadação/secretaria.

A casa da esquerda era messe, zona das esteiras e sala de convívio com janela, os quartos ficavam atrás. Casa da direita,  em frente à bandeira,  a porta do quarto do capitão e a janela que se vê era onde encostava a cabeceira da minha cama. A parada era tudo que se vê, mas no tempo do Artur  Conceição (1964/66) e no início da minha estadia,  existia a tabanca velha que encostava ao meu quarto e prolongava-se até aos mangueiros e estrada Farim- Jumbembem-Cuntima.

Podes publicar para ajudar a compreender. (**)

Um abraço
Carlos Silva

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)

(**) Último poste da série > 9 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorá-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12632: O segredo de... (16): Ricardo Almeida (ex-1.º cabo, CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71): Como arranjei uma madrinha de guerra, como lhe ganhei afeição e amor, e como por causa da minha terrível doença fui obrigado a tomar uma dramática de decisão de ruptura... A carta de amor pungente que ela me escreveu, em resposta...

1. Mensagem, com data de 12 do corrente, do nosso camarada Ricardo Almeida [, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]


Boa tarde,   Luís,   com um abraço.

Dando seguimento à solicitação de segredos guardados enquanto combatentes... Com alguma relutância, amargura e muita tristeza que me vai consumindo a alma, divulgo como o destino se encarregou de torturar-me, enquanto tiver vida para recordar.

Esta recordação que nunca apago da mente nem do coração, reporta-se a uma madrinha de guerra à qual devo gratidão eterna pelo apoio moral e psicológico que me deu enquanto combatente, doente com uma moléstia terrível, redundando isto num amor fraterno, solidário e muito apego à vida que ela me transmitia tanto nas cartas que me escrevia, como depois pessoalmente, como quando trocámos promessas de vida em comum e casamento, testemunhado no interior duma capela pelo santo que lá existia e que parecia concordar com a nossa decisão. 

Hoje vou-lhe pedindo perdão no silêncio dos meus silêncios, pela atitude que tomei, enquanto ela espera por mim,  cumprindo a promessa de nunca ter a seu lado outro amor na sua vida. Hoje, ao refletir na minha atitude, só encontro uma explicação: a moléstia de que eu padecia e os médicos dizerem-me que era muito grave, levaram-me assim a proceder. O meu raciocínio parava no tempo,  os pensamentos atropelavam-se,  levando-me muitas vezes a devaneios e loucuras.

Como poderia eu cumprir a promessa se não tinha a certeza se ficaria bom e capaz de constituir família, submeter-me a internamentos e não ter meios para angariar subsistência familiar? Por isso tomei aquela atitude da qual ainda não saí nem voltarei a sair enquanto respirar. Então surge no meu cérebro o clique do rompimento,  dando-lhe a primeira sapatada tão violenta e demolidora que até eu chorei ao reler o que lhe escrevi. 

Toda a história tem um princípio e um fim e a minha não é diferente: sou do [BCAÇ] 2879 e da [CCAÇ] 2548 sediado em Farim,  sendo que a dita companhia subdividia-se em pelotões que, por sua vez,  eram colocados em vários sectores,  sendo o meu, o  terceiro [pelotão],  colocado no K3. Certo dia ao regressar duma patrulha tive a ideia de escrever vários aerogramas, com os seguintes dizeres: 

( Ao carteiro da terra tal:) À  primeira moça que encontrar o desconhecido; levando como remetente, um coração triste no mato o desiludido. 

Dos ditos [aerogramas] só um foi respondido. Vejamos o que dizia:

(...) Foi-me entregue no dia 22/10 de 69 um aerograma que li com atenção e regozijo-me ser sua madrinha de guerra apesar de saber que não me era dirigido. Mas, no entanto,  se deseja uma madrinha e não se importa em ser eu, responda-me de novo. (...)

Então a esse aerograma sucederam-se mais, dando origem a que ganhasse afeição e  amor a essa jovem. Já no HMDIC [ Hospital Militar de Doenças Infecto Contagiosas, ou Hospital Militar de Belém] ]e com as hemoptises [, expectorações de sangue,]  por companhia,  tentei escrever-lhe para dar-lhe a notícia que me encontrava em Lisboa mas fui aconselhado a não fazê-lo,  devido ao meu estado debilitado e agora alguns aerogramas eram-me remetidos pelo SPM 6118. 

Até que, debaixo do meu estado febril, consegui articular algumas palavras ao soldado ali de serviço, o que ele acedeu de bom grado. A partir daí desenrolam-se as viagens e consequentemente as visitas quase diárias. Perdura na minha mente, na primeira ou segunda visita, ter uma hemoptise tão violenta que o sangue espirrou sem o poder conter e ela, com a mão na minha cabeça, dando-me alento e coragem para não desanimar,  que tudo se comporia.

Foi debaixo deste sentimento que tomei a decisão de tudo acabar ali,   deixando-a livre para governar a sua vida,  uma vez que era jovem e poderia arranjar um companheiro que lhe desse alguma segurança pela vida fora. Tal não veio a acontecer, conforme o acima relatado. Então,  já me podendo soerguer na cama,  escrevo-lhe a célebre carta:

(...) Hoje desprezo-me a mim próprio por tê-la conhecido e deixar que as coisas tomassem o nefasto rumo.  (...) 

só peço que ao receberes
esta carta afinal
tenhas o que mereceres
pois não te desejo mal.
Peço-te unicamente
que me dês o que é meu
por eu não ser coerente,
sofres tu e sofro eu.
Não sei se isso para ti
ainda tem significado,
creio que já sugeri
que tudo isso é passado.
Da minha parte acabei,
não voltes a pedir-me amor
pois de ti já nada sei,
já não alimento essa dor.
Eu não queria conhecer-te
na menina que amei.
pois já não quero rever-te,
reconheço que me enganei.
Peço desculpa se ofendo
mas não é minha intenção
porque eu isto revendo
só torturo o coração.
Já sofri muito, o bastante,
quando deixei de te amar.
hoje sou homem constante,
já nem quero recordar.
De certo vais estranhar
esta carta assim escrita,
pois não é para admirar,
meu coração já não grita.
Jurei à vida indiscreta
por ti, por mim e por mais
que esta coisa é certa,
de nos vermos nunca mais!
Se hoje estás arrependida,
tu mesma foste a culpada
por não saberes que a vida
só por si é já amada.
Agora para terminar
peço-te um grande favor,
esquece que está a acabar
o nosso sedento amor.
Vou terminando a final,
esperando que me escrevas,
pois não te levo a mal
o que digas ou o que pensas.

Interpretando a carta à sua maneira, a resposta [dela]  era a seguinte:

(...) Meu amor,  desejo em primeiro a tua saúde. Rik, recebi onde vi tudo quanto me dizias. Então estás assim tão desanimado! Nem tens mais confiança em minhas orações, porquê,  Rik? Se eu te amava agora mais do que nunca te amo,  com mais fervor, visto que sofres tanto. Não me interessa; não me importo esperar por ti dois ou três anos , quero casar contigo mesmo assim; nada me importa do que digam ou do que possam dizer; mais uma vez te digo que não quero perder-te por nada, não te quero trocar por ninguém. Quando comecei a namorar-te,  portanto quando te aceitei namoro, já te encontravas no hospital, já te encontravas também doente; por isso, tentei sempre dar-te coragem, calma e continuo a fazê-lo,  meu amor. Fizeste-me chorar amargamente como nunca tinha chorado em toda a minha vida e continuo a fazê-lo. Cada vez que penso no que me dizias na tua carta e quereres dar fim a tudo...

Mas eu ainda não o fiz, ainda não pus fim nem vou fazê-lo a tudo isto, ao nosso amor. Deixares-me assim sem quê nem para quê, que tristeza; nunca supus isso de ti.

Rik se me abandonas assim desta maneira, eu dou cabo de mim! Porei fim á minha vida ou adoecerei, quem sabe? Não quero mais homem nenhum; amo-te e amar-te-ei até ao fim da minha vida; até à hora da minha morte que talvez seja mais rápido do que todos pensam.

Eu que só quero a felicidade de todos e ela, para mim,  não vêm; ela não quer nada comigo. Não me queres amar mais ou então nunca me amaste; terás outro alguém que tirou o meu lugar no teu coração? Preferia que me dissesses se é isso que aconteceu! Mas se não aconteceu e se é por estares doente, acredita em mim esperarei por ti o tempo que for necessário. Quero-te tal qual como és; sabes que o amor não escolha a saúde ou a doença; o amor é uma coisa tão forte que não olha a nada disso; amo-te e é tudo.

Ricardo,  amar-te-ei sempre...

Se eu era incansável a pedir a Deus por ti, hoje mais do que nunca o faço porque sei como te encontras. Mas hás-de curar-te felizmente. Há tantos assim! Ou não é verdade? Muitos ainda em pior estado que tu! Não desanimes e pede a Deus por ti e por mim. Ele nos há-de ajudar, Ele te há-de curar, Ele é bom e nunca nos abandona,  pelo contrário, nós é que o abandonámos,  nos. esquecemos Dele. Vamos então orar-Lhe por ti, não queiras sofrer mais nem fazeres-me sofrer assim. O amor,  a Paz,  é tudo tão lindo! Mas eu quero sofrer também contigo.

Oh se eu pudesse dar a vida pela tua saúde, acredita que o faria; porque sabia que iria dar saúde àquele que tanto amo e que só ele para mim existe. Disse-te mais que uma vez que se algum dia me deixasses que não queria mais homem algum e continuo a dizê-lo constantemente até quando Deus quiser.
Quero sofrer neste mundo e alcançar a vida eterna; ir para junto dos seus anjos.

Teus pais, teus irmãos e o resto da tua família sabem de tudo isto? Da tua doença e da tua conduta para comigo? E que me queres deixar assim tão repentinamente? Diz-me; escreve-me sempre nem que sejam só como amigos.

Mas tu para mim és o meu primeiro amor e continuarás a sê-lo,  o meu único amor,  quero saber sempre noticias tuas. Agora uma coisa que te peço,  que te suplico-te, Rricardo: nunca me amaste, pois não? Eu não era a mulher que tu supunhas encontrar? uma moça simples,  simples de mais. Se não me amavas porque não me disseste logo? Então porque me beijaste? Preferia que isso nunca tivesse acontecido. Mas eu pressentia o que me poderia acontecer; lembras-te quando te disse que não devias beijar-me! Então porque quiseste saber tudo à cerca de mim e da minha família? Agora sei que quiseste fazê-lo para saberes como eram!

Disse-te tantas vezes que o amor está acima de tudo isto. Achas que procedes bem com essa tua atitude? E porque não me achas mais a mulher escolhida por Deus e por o destino? Só eu estou no mundo para receber tudo isto mas, apesar de tudo,  continuo a amar-te e amar-te-ei sempre. Quem sabe se até com isto tudo e de tanto pensar, eu irei também para junto de ti? Doente, sim; não achas que é caso para isso? Tu, se continuasses a amar-me,  pensas que me interessava se as tuas melhoras fossem a pior? Que me importava que dissessem que eu amava um homem morto,  como tu lhe chamas? Não, Ricardo, nunca teria boca para renunciar ao amor dum homem que lutou por mim, pela Pátria, por nós todos. Quero ver-te curado, quero ver-te feliz porque tu merece-lo ser. Se é que não me enganaste,  claro! Mas nunca supus isso de ti. Dizias que nunca esquecerias a minha amizade mas esqueceste o meu amor,  a coisa mais valiosa que te dei. Esqueceste tudo isso; mas pronto, faz o que quiseres.

Mas fica sabendo que nunca deixarei de te amar. Cada vez que penso nisto nem sei para o que me dá... Tirar-me já do mundo mas isso era um pecado que Deus não me perdoaria, por isso estarei aí chorando horas esquecidas, e prostrada de joelhos toda a noite, velando pela tua saúde e pelo teu bem estar nesse hospital. Não sou assim tão má e dura como pensas porque, como sabes, Deus perdoou a quem o matou,  Ricardo. Porque não fazemos o mesmo?

Perguntas-me se quero as minhas fotografias, então é porque já estás cansado de vê-las. Ou não as podes ter contigo? Oferecidas com o pensamento em ti,  ao homem que veio despertar meu coração para o amor e, agora, o deixa ou deixou tão triste, tão escuro e tão magoado. Mas, enfim, vocês,  homens, não pensam, não sabem, o quanto isto custa sofrer por amor e morrer.

Jesus morreu pelo amor dos homens, pelos nossos pecados e eu morrerei de amor por aquele que ia considerar meu marido.

Por hoje está tudo e peço-te, chorando,  que me dês sempre noticias, quer onde te encontres e como te encontres. Envio um beijo ao homem da minha vida. Mais uma vez te peço que me dês sempre notícias, sejam elas quais forem,  e estás perdoado por tudo. Chorando loucamente por quem não me ama mais ou nunca me amou,  te digo,  por último, que sempre detestei a mentira,  disse-to tantas vezes! Perdoa,  se estou a ofender-te.

Com o coração destroçado termino.
Para a eternidade. (...)
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12627: O segredo de... (15): Processo concluído (Augusto Silva Santos)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11394: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/7) (7): Hotel Santa Maria, servindo de Hospital militar, no Caramulo



1. Textos enviados em 9 e março último, pelo nosso camarada Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim,Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (*).


Recorde-se que a sua guerra também foi travada contra a tuberculose pulmonar (no HM 241, em Bissau, e depois no sanatório do Caramulo). É hoje DFA. Estes dois poemas são dessa época em que esteve em tratamento no Caramulo.


Quem me leva o agasalho
Que me deixa a tiritar,
Será a morte com seu orvalho
Que comigo vem brincar?

E meu coração arrefece,
Já não tem amor p'ra dar.
Porque já não sei quem sou!
E, para o lugar que vou,
Haverá lugar para amar?


Sinto-me fugir da terra
E já não sei quem eu era;
Estou numa onda diferente,
Minha vida está acabar
E do meu corpo voar
Para longe, firmemente.

E, para o lugar que vou,
Porque já não sei quem sou,
Haverá lugar para amar?
Meu coração arrefece
Já não tem amor para dar.
 
Hotel Santa Maria,
servindo de Hospital militar no Caramulo
s/d

Hoje foi mais uma festa, meu amor!

Foi a festa do reencontro:
Que alegria foi ver as lágrimas nos olhos,
Nos meus olhos.

Nos olhos dos vivos,
Que, pelos outros que tombaram, 
As lágrimas vertidas,
Não são suficientes para apagar
Da memória,
A sua imagem.

E, meu amor, estou feliz por me sentires vivo,
Por encontrares no meu ombro,
O aconchego
Que apesar de frio
Me sussurras ao ouvido.

Que abençoados fomos nesta eternidade...
Mesmo que eu não tivesse tempo,
De te dar amor inteiro.
Porque o meu coração
Pula de emoção em emoção,
Sabendo que se aproxima de novo
O dia do reencontro...


Hotel Santa Maria,
servindo de Hospital militar, no Caramulo
s/d

Marques de Almeida
CCAÇ 2548 


[Revisão /fixação de texto: LG]

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de ab ril de 2013 > Guiné 63/74 - P11344: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (6): Em Farim... Dei-lhe o título de sonho

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11344: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (6): Em Farim... Dei-lhe o título de sonho

1. Texto enviado em 10 de março último, pelo nosso camarada Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (*):


Em Farim... Dei-lhe o título de sonho.

Quem de tão longe me conversa,
encontrará ao pé das dunas,
pendurado nas palavras,
o mar inteiro.
Neste sentido
encontrarão,
das coisas do tempo
e dos seres,
o poeta irreconhecível.

Cantar-te-ei de mansinho e doce como tu és, ao deitar do sol. 

Quando o tempo chegar,
e o mistério que te suporta, 
e a mistura harmoniosa que nos une.
Destes tempos não sei que fazer 
e descrevê-los é tão difícil como pensá-los. 
Direi, imperturbável,  como tu és serena,
mais que todos os pacíficos. 
E voltarás ainda a animar o dia previsto! 
A água não sobe mais além, o meu corpo,
de quem é o canto que me beija as mãos a esta hora...
Eu e ainda eu...
Todos lá chegaram.
Direcção (como dizer) esta (língua a ler como quiserem),  
não encontrareis,
só o que me escape.
E esta acalmia,
aqui estou seguro,
as questões são as minhas e ninguém virá procurar-me.
De resto onde encontrar-me? 
A escrever,
amaldiçoando o dia.
Finalmente dia,
nem noite pisando a garganta, 
num momento de coragem agora como habitualmente, 
o sol levanta-se: 
Escrito em todos os livros,
o meu emprego do tempo,
sabeis...

O constante barulho nauseabundo dos últimos dias 
subiu-me à garganta 
como se ele tivesse chegado a este lugar, 
todavia tão pacato e simples.
Assim não serei nunca eu, 
o rio tranquilo,
nem o nome daquele que eu me dei, por algum tempo!Das palavras a criar...
Ainda há sol e letras nos campos verdes ao amanhecer.
Direi:
Enquanto o tempo for o mesmo 
e manifestar a insignifícancia do estar aqui... 
Estarei por cá!
 Não é uma questão de tempo;
 e continuamente, enquanto houver verão,
direi a nostalgia de outros meandros e outros corações. 
Então, por cá...assim é,
escreverei por caminhos entre giestas na serra.Por caminhos tortuosos a noite não tem estrelas. 
Sinto um odor forte: manhã! 
O navio volta guiado pelo vento. 
Terra! 
O vento bate forte, acentuando o ar doentio (do poeta). 
Não é ter muita força. 
E o vento faz novamente inchar as velas.O sol tinha desaparecido e passeava-me ainda contigo,
como se nada tivesse acontecido.
Guine retém ainda a frescura dos primeiros dias, recordas-te? 
Tão longe, direi eu... 
 E o meu íntimo tão alegre. 
No porto a velha casa está cansada. 
Os garotos brincam nas ruínas, um instante; 
silêncio entre a chegada e a partida dos dois navios. 
Faz-se tarde como habitualmente à mesma hora. 
Não, nada pode segurar-me. 
Nem o sol nem a velha casa nem a ponte.O poente já não serve. 
É isso: armadura, a velha casa,  
do lado de fora puxam-me com força. 
A palavra pode difícilmente significá-la.
O barulho acabou agora: os garotos desaparecem; 
no velho porto, fico eu sozinho. 
Poder talvez alcançar a miragem de um repouso infinito. 
No sitio onde as árvores fossem verdadeiras árvores. Sem mais! 
Chegou a manhã. 
Acordo,  percorro praças, ruas, lugares do sonho.
Espraio-me inteiro no olhar desconhecido que passa. 
As confidências tomam cada vez mais a proporção da paixão.
Avanço no futuro, como a paisagem dum país ao sul, 
com o sol ao meio dia:Guiné, junto-me a vós, amigos.

Em forma de carta estas linhas. 
O monólogo: por detrás da escrita, a moral.
A vós todos. O diálogo.
A TI.

De oiro e púrpura se vestiam os bosques. 
O sol resplandecente brincava com a copa das árvores.
Esperava: e os dias perdiam-se com o acabar dos meses.Dias agonizantes, milhares de dias. 
Sei portanto algumas palavras.
Interessa que as esgote, 
antes que empregá-las não tenha cabimento.Ainda o sol não chegado ao fim:
Grito pelo silêncio que estas palavras criam.

Marques de Almeida
CCÇ 2548 /  BCAÇ 2879

[Fixação de texto: L.G.]
_________


terça-feira, 19 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11274: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (5): Farim (Poema de saudade e nostalgia), K3 (Homenagem às mulheres que tratam da seara da mancarra), Bissau (À janela do HM 241)



Bajuda no Cais de Bambadinca. Quadro a óleo pintado, em 2007, por Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70, e membro da nossa Tabanca Grande. Edição e reprodução, com a devida vénia.


Foto: © Jaime Machado (2008). Todos os direitos reservados.


1. Três poemas  Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)... Três poemas de amor e guerra... Para celebrar a primavera que chega e o Dia Mundial da Poesia (21 de março de 2013).


Poema de saudade e nostalgia,
escrito em Farim,

no regresso duma operação arriscada


Como barco naufragado,
Encalhado,
Rolando ao sabor das ondas,
Vou procurar-te ao passado,
Fracassado,
Onde quer que tu te escondas.

Voo  nas asas do vento
Porque o amor neste momento
Clama por ti.
Quero-te:
Quero beijar tua boca
E, por saber-te aqui,
Quero beijar teu corpo,
Teus cabelos e teu rosto;
E deixando-te louca,
Inundando-te de amor.
Quero beijar teus seios.
O teu ventre,
E sentir no ar o teu odor a canela!

Quero beijar o teu ninho de langor
E, sem pudor
Provar-te inteira.


Homenagem às mulheres que tratam da seara da mancarra,
no K3


Uma rosa vem beijar-me
Ao peitoril da janela,
E diz que vem beijar-me
Porque eu não vou com ela.

Neste queixume sentido,
E seu perfume diluído
Em nuvens de solidão,
Vai entrando devagarinho,
Até com certo jeitinho,
P'ra não acordar meu coração.

Diz que ele pode ser de outra
Mas que isso não importa,
Que foi quem me viu primeiro,
E estar em lugar cimeiro
Na ordem da sedução;
E, até se eu quiser,
Para mais vezes me ver
Muda-se para outro canteiro...

À janela do Hospital Militar 241,
Bissau

Vi-te passar apressada,
Nem chegámos a falar
Mas ias muito calada,
P'ra quem gosta de cantar!

E teu coração abrasado
De tanto amor desperdiçado,
Sendo por mim tão amado,
Que ás vezes chego a pensar
Ser castigo lá do alto!
Por de ti tanto gostar,
E viver em sobressalto
Porque não sei se é reciproco...
Este amor tão verdadeiro,
Deste ser tão altaneiro,
Que não gosta de te ver
tão apressada passares
E, por um momento olhares,
Mesmo sem gostares,
Não passes tão apressada!!!
___________


Nota do editor:


Último poste da série > 17 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11265: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (4): Já não sei quem sou

domingo, 10 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11232: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (3): Homenagem à minha lavadeira em Farim


Guiné > Zona leste > Setor L1 < Bambadinca < CCAÇ 12 (1969/71) > Lavadeiras... no rio Sindangola, um afluente do Rio Geba em Bambadinca...  Foto do álbum do Arlindo T. Roda ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb da CCAÇ 12.

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.

1. Poema enviado ontem pelo Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)



Homenagem à minha lavadeira, em Farim


Vou p'ro baile, vou bailar.
Para acalmar meu coração,
Contigo quero dançar
E tua mão apertar,
Perdoa se é sedução.

Quero sentir o suor da tua delicada mão
E tua face rosada beijar,
Do calor que me transmites!
E espero que nada omitas,
Que sejas franca comigo,
Que eu sou franco contigo;
E viver mais não consigo
Se não te tiver a meu lado,
E dizer ao vento que passa
O teu nome soletrado;
Para ele levar recado
A outros ventos e sois,
Que fico com saudades
De afagar teus caracóis.

De afagar teus caracóis,
Que fico com saudades,
A outros ventos e sois
Para ele levar recado
O teu nome soletrado
E dizer ao vento que passa.

Marques de Almeida
CCAÇ 2548
BCAÇ 2879


_____________

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10665: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (2): Ainda a morte do Lajeosa, o nosso quarteleiro, vítima de tuberculose pulmonar

1. Mensagem, de 5 do corrente, do Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) , na sequência de diversos comentários  ao seu 1º poste da série (*):

Meus amigos e camaradas tabanqueiros:

Boa noite para todos com o meu abraço solidário e bem assim os meus agradecimentos por aquilo que comentaram a meu respeito, os quais me deixaram muito sensibilizado.

Peço desculpa por ter cometido o lapso de não concretizar os locais por onde andei, no que respeita à minha estadia na Guiné. Infelizmente para mim,  com muita tristeza e mágoa por não ter acompanhado a companhia na totalidade do tempo de serviço na Guiné, devido a uma doença terrível que contraí, uma tuberculose pulmonar, que me ia levando para o outro lado.

Para atestar o acima exposto, relato um poste do camarada Carlos Silva na sua página A Guerra da Guiné, elemento da minha companhia, a CCAÇ 2548, e que versa o seguinte:

O Ricardo, homem da bazuca do terceiro pelotão, teve o azar de contrar uma doença terrível, "tuberculose pulmonar", e por isso foi evacudado por doença, em 13/11/1969, de Farim para o Hopsital Militar de Bissau, em janeiro de 1970, e dali para a Metróplo, para o Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas da Boa Hora, em Lisboa, onde permaneceu algum tempo, sendo internado posteriormente no sanatório do Caramulo.

Durante este seu percurso da sua vida, o Ricardo, com dotes de poeta, quer na caserna quer nas suas saídas para o 'mato', ia escrevendo nos papeis que embrukhavam as rações de combnate e quando nºãio tinha papel escrevia no ponche da proteção das chuvas. Quando tinha vagar, em horas de descanso, passava os seus escritos a limpo, continuando posteriormente a escrever, não permitindo que a morte, que o espreitava a todo o momento, o agarrasse.

Travou uma luta tenaz entre a vida e a morte. Foi sempre escrevendo. Felizmente recuperou da sua doença e, embora com as sequelas que o marcam, está vivo, está entre nós para nos legar o seu testemunho.

Depois da sua recuperação, começou a trabalhar na CUF [, Companhia União Fabrilo,], no departamento de segurança, no controlo de entrada e saída de matérias e produtos.

É deficiente das forças armadas [, DFA,] e actualmente está na situação de refornado pelo regime da segurança social, sem deixar de escrever. Sempre na luta, até que a morte me leve (o leve).
Um alfa bravo, camarada Ricardo, e continua por muitos anos.

Sobre a morte do camarada Lajeosa [, o quarteleiro,] (*) foi evacuado também com a mesma doença que eu. E por condão meu, foi com muito afecto e também muita tristeza que o vi partir, como descrevo em outros locais.

Atesto que se encontra sepultado no cemitério de Lajeosa do Dão [, concelho de Tondela,] ao qual me desloquei um para lhe prestar a minha homenagem e gratidão, fazendo por ele o meu luto. Por todos os que por lá ficaram para sempre, [aqui ficam] estas lágrimas que derramo. Ainda o meu coração não descansa sem que lhe seja prestada homenagem, e também gratidão da República Portuguesa pelos  sacrifícios que nós, miúdos com 20 anos,  por lá passamos.

Com um abraço sentido de solidariedade para todos vós.

Ricardo Marques de Almeida

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10619: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (1): A morte do quarteleiro

domingo, 4 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10619: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (1): A morte do quarteleiro

O Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) pediu-nos para juntar os seus textos (prosa e verso) numa só série... Vamos fazer-lhe a vontade, até por que é um direito que lhe assiste, como membro da Tabanca Grande que nos honra com a sua colaboração ativa e continuada... 

Chamámos à série Prosas & versos do Ricardo Almeida". E aqui vai o primeiro poste, "Heranças de guerra"... O editor, contudo, achou por bem arranjar um título mais concreto e sugestivo: "a morte do quarteleiro". (LG)

1. Prosas & versos > Heranças de guerra (1)
por Ricardo Almeida



Dia inesquecível aquele em que um batalhão de caçadores [, o BCAÇ 2879,]  deixa Portugal a caminho da Guiné (ex- ultramar), já tão calcada e espezinhada por milhares de jovens que,  deixando outrora sua família e seu lar, vão enfrentar o caminho da guerra, que lhes foi predestinado, e que deixa nos rostos de cada um expressões de mágoa, de dor e até de ressentimentos, que transportavam nos seus corações. 

Neste monótono turbilhão de coisas que me deixam atordoado, eis que exprimo toda a minha amargura e desagrado por tudo o que vivi com camaradas excepcionais, com outros mais desonestos, mais desumanos, mas, enfim… é tropa e a nada disto se pode fugir quando se cumpre uma missão.

Perante estes factos, destaco um jovem militar que, pelo seu comportamento, não chegou a conquistar a amizade dos seus companheiros, dada a sua personalidade baixa, modos insuportáveis, desordeiros e irrequietos, mas que cumpria a sua missão como tantos outros.

Dispenso-me de citar o seu nome.  
Com a especialidade de condutor auto, foi destacado para a arrecadação, municiando-nos de material quando saíamos para a mata. 

Valeu-lhe aquela colocação a alcunha de Hipócrita.  
Certo dia tive problemas com ele, mas a crise passou e tudo esqueci. Mais tarde de regresso de uma operação no capim, senti como que uma fraqueza infindável e baixei à enfermaria. Ai estive dez dias, até que fui transferido para o hospital de Bissau e seguidamente evacuado para a metrópole. 

Esperava-me o HMDIC [, Hospital Militar de Doenças Infeto-Contagiosas, em Lisboa, Belém,]  e o Caramulo. Resultado:  
“Tuberculose pulmonar”. Moral: desfeita! 

Já em período de restabelecimento e em data que de momento não recordo, após o jantar, entretia-me a ler um pouco para tentar afogar pensamentos horrorosos que tentavam afluir-me à memória.
Um colega, uma triste noticia, um abraço. 
- Almeida, sabes quem está aqui com a morte quase no goto? 
- Não, quem é? Morre-se todos os dias, na frente, na retaguarda e até no Hospital. -  conclui. 

O colega foi directo e espontâneo e com voz rouca, disse:
- “O Hipócrita”da arrecadação de material! 

Apesar de tudo, considerava-o humano, tal como eu, e desloquei-me à enfermaria onde ele se encontrava. A enfermaria 2 era uma espécie de cubículo, onde os “esqueletos vivos” se amontoavam, jogando-se forte na vida.

Espiei-os e encontrei o que procurava. Estava a oxigénio afim de lhe facilitar a respiração. Pronunciei o seu nome mas ele não me ouviu. Tinha os olhos fechados, a boca um pouco  a
berta e a resposta saiu-lhe dos lábios, como que arrancada lá do fundo: 
- Morro...Água! 

Eu não podia suportar aquele drama doloroso. Um homem a debater-se com a morte apesar de tantas ter visto, mas aquele era diferente. Aproximei-me e perguntei-lhe:
- Queres água? Não me conheces? 

O som das minhas palavras abriu desmesuradamente os olhos e num esgar de dor, respondeu:
- Não! 

Não era para admirar, pois que nem eu, às primeiras impressões, o reconheci. Estendi a mão e disse-lhe quem era. Apesar do choque, já refeito, as lágrimas afloraram-me aos olhos, não podia já olhar aquele corpo já inerte, só com a pele a segurar-lhe os ossos e a recordar como mo conheci: Forte, esbelto e saudável. 

– Água, Almeida. Tem dó de mim! 

Ensopei um bocado de algodão em água e coloquei-lho nos lábios, que já me parecia moribundos. 
Consegui mexê-los e, de repente, tentou suprimir todas as dores naquele bocado de algodão introduzido agora na boca.  Retirei-lho e tentei acalmá-lo, mas inutilmente. As lágrimas apareceram-lhe nos olhos e pediu-me perdão. 
–  Estás perdoado,  amigo. –  respondi. 

Fui-me deitar não consegui conciliar o sono nessa noite.  Os dias iam passando e a minha companhia era inseparável da sua cabeceira. Até que chegou o momento mais doloroso para mim, apesar de viver a guerra e estar habituado a ver coisas que os meus olhos nunca sonharam ver, mas que forçosamente eram obrigados a aceitá-las. 

Dia 21 de Outubro daquele ano de 1970.  
Encarando a realidade e sem coragem de me despedir dele, soube que tinha falecido.  Poucas horas decorridas e inesperadamente, vi-o, pela última vez, envolto num lençol, aquele farrapo humano, transportado em maca, pelo corredor de acesso à casa mortuária, onde deveria entrar naquela maldita “urna”, oferta exclusiva do Exército Português! Envolto nos meus pensamentos e alheio até ao lugar que ocupava, dei uma palmada no caixão, como que a implorar-lhe vida: 
 Acabaram-se as tuas forças, as tuas reguilices, a tua fraca reputação. Apesar de tudo eras humano, por isso te rendo homenagem com o coração destroçado e como teu amigo que era, me despeço até um dia…  – Balbuciei!!! 

Ricardo Marques de Almeida
1.º Cabo 089225/68