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quinta-feira, 23 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24165: Facebook...ando (73): "Palco Sombrio", de Alice Caetano (Almada, Emporium Editora, 2020, 276 pp.): Uma narrativa dinâmica centrada nos relatos do homem de teatro e ex-cap mil, Carlos Nery, CMDT da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)



Capa do livro de Alice Caetano, "Palco Sombrio:  Guiné - Guerra Colonial e Actos Cénicos" (Almada, Emporium Editora, 2020, 276 pp.)


1. Mensagem de Alice  Caetano Tabanca Grande Luís Graça, com data de ontem, 19h00:

Boa tarde. Escrevi este livro recentemente. Intitula-se "Palco Sombrio: Guiné . Guerra Colonial e Actos Cénicos". Para a sua construção contei com a contribuição de algumas entrevistas a antigos militares, entre as quais a Carlos Nery, obtendo o seu maior contributo. Havendo interessados em adquiri-lo, enviarei pelo correio. Obrigada.


2. Sinopse do livro:

Com a Guerra Colonial na Guiné em pano de fundo, “Palco Sombrio” é uma narrativa dinâmica centrada nos relatos do capitão miliciano e ator, Carlos Nery de Araújo. Nunca será demais desconstruir, desmistificar e descolonizar o pensamento, repor a verdade e a mentira de histórias de sofrimento e coragem. Num magistral jogo de alternância entre o histórico, o biográfico e o ficcional, Alice Caetano transporta o leitor para coreografias de vida e teatros de guerra, palcos de irreversíveis ações individuais e coletivas onde, para o bem e para o mal, tantos gestos de amor e de ódio aconteceram.

Fonte: Emporium Editora (com a devida vénia...)


Leiria Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 26 de Junho de 2010. V Encontro Nacional da Tabanca Grande > A paixão do teatro e da Guiné: o João Barge (e o Carlos Nery... (*).  "Os Gandembéis", poema de autoria coletiva (mas com forte contributo do poeta João Barge, 1944-2010), escrito em 1969, retrata a epopeia da CCAÇ 2317 em Gandembel e Ponte Balana. 

Infelizmente o João Barge iria morrer uns escassos meses depois, no príncipio de dezembro de 2010.(**)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Sobre o Carlos Nery, que vai fazer 90 anos  no próximo mês de maio:

O Carlos Nery Gomes de Araújo, meu vizinho de Alfragide, natural do Funchal, onde nasceu em 1933 (vai fazer 90 anos em maio próximo), bancário do Banco de Portugal, 
reformado, homem do teatro amador (como ator e encenador na Companhia Maior), foi Cap Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)... 

Tem 36 referências no nosso blogue e várias histórias publicadas... Um grande senhor e bom camarada... Apresentou-se à Tabanca Grande em 18/4/2010:



Obrigado, Alice Caetano, pela notícia do livro (***). Um abraço ao nosso camarada e teu sogro Carlos Nery. Diz-lhe que queremos associar-nos à festa dos seus 90 anos!... E dispõe do nosso blogue, agora que és amiga da nossa página no Facebook, Tabanca Grande Luís Graça.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Guiné 61/ 74 - P24011: Recortes de imprensa (125): Partida para o CTIG das CCAÇ 2381, 2382 e 2383, em 30 de abril de 1968 (Jornal do Regimento de Infantaria n.º 2, Abrantes, nº 30, maio de 1968) (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais", 1968/70)


Abrantes > RI 2 (Regimento de Infantaria n.º 2) > 30 de abril de 1968 > Despedida das CCAÇ 2381, 2382 e 2383, a caminho do CTIG





Notícia de 1.ª página do jornal do RI 2, n.º 30, maio de 1968 > Partida das CCAÇ 2381, 2382 e 2383 para o CTIG. Estiveram a frequentar a CIE e o IAO. Cerimónias presididas pelo cor Roldão, com missa na Parada de Honra. (O Comandante Militar do RI 2 na altura seria o cor art José Ventura Roldão?)


Fotos (e legendas): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados.

 [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Documentos que nos foram enviados hoje pelo José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70).





Temos referências a estas três companhias: CCAÇ 2381 (184), CCAÇ 2382 (53), CCAÇ 2383 (3). 

Além do Samouco, temos mais cinco camaradas da CCAÇ 2381 inscritos na Tabanca Gande: José Teixeira, José Belo,  Arménio Estorninho, Eduardo Moutinho Santos, Raul Rolo Brás... Têm sido os três primeiros camaradas os mais ativos como colaboradores do blogue. 

Destaque para o emblema, a divisa e a figura do "Zé do Olho Vivo",  da CCAÇ 2382, que, imaginem!, é da autoria do seu comandante,  o ex-cap mil Carlos Nery, que fez tábua rasa da heráldica militar... Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"...Um achado de humor pouco castrense...

Da CCAÇ 2382 (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70), temos o José Manuel Cancela, o Carlos Nery, o Manuel Traquina e o Alberto Sousa e Silva.


Da CCAÇ 2383 (Cabuca, 1968/70) temos apenas um camarada, o ex-1º cabo apontador arm pes inf Armando Gomes.

Oxalá apareçam mais, está em curso a campanha de angariação de novos membros da Tabanca Grande: queremos atingir os 900 no fim do ano, o que é um objetivo temerário... E precisamos de fotos e estórias... como de pão para a boca (este blogue é glutão, temos de publicar no mínimo 3 postes por dia, 90 por mês...).
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23760: Recortes de imprensa (124): Homenagem a Fernando Cepa e inauguração de obras de requalificação do Pavilhão Gimnodesportivo de Mar, com a devida vénia aos jornais; Farol de Esposende e Correio do Minho

domingo, 23 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19323: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (10): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 e Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF


1. Mensagem do nosso camarada e amigo José Manuel Cancela (ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2018:

Olá,amigos Tabanqueiros. 
Aqui vai a prova que estou cá, e continuarei. 

Um grande abraço a todos, com votos de festas felizes.
José Manuel Cancela

********************

2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 6 de 29 de Abril de 2018:

Caros Amigos
Acho que a proposta que foi feita para aproveitarmos esta Quadra para fazer "prova de vida" foi uma boa iniciativa e tenho pena que esteja com fraca resposta. Por isso vou tentar dar o meu pequeno contributo.

Sim, de facto "estou vivo" e agora com melhor ânimo, já que as análises e outros "elementos auxiliares de diagnóstico" têm dado resultados bons. Não é uma decisão definitiva, afinal a intervenção foi há apenas (vai fazer) 10 meses e é preciso, segundo o urologista, passar mais algum tempo para declarar a "morte dos bichinhos" mas lá que anima, isso sim.

Não quero fazer falsas promessas (deixo isso para os decisores do poder), apenas afirmo a minha intenção de poder aprofundar a minha colaboração com o Blogue.

Entretanto, umas "Festas Felizes"!

Abraços
Hélder V. Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19320: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (9): Faz hoje 47 anos que parti para o CTIG, com o meu BART 3873, e a minha CART 3494 (António Bonito, ex-fur mil)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19289: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (1): Alberto Sousa e Silva, de Vila Nova de Famalicão, ex-sold trms, CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)



Lourinhã >  Praia da Areia Branca >  1 de dezembro de 2018  >  11h18 >  Maçaricos-das-rochas. Nome científico: Actitis hypoleucos.. Estado de conversação: espécie vulnerável... "Com o seu incessante movimento de balanceamento da cauda, o maçarico-das-rochas é uma das mais irrequietas limícolas, que raramente é vista em repouso", diz o portal das Aves de Portugal. ( Os meus antepassados Maçaricos, marinheiros, mareantes, navegantes, pescadores, mercadores, construtores navais... desde Quinhentos, devem ter ido buscar o apelido a estas aves, que eu vejo com frequência junto à foz do Rio Grande, na Praia da Areia Branca.)

Vídeo de Luís Graça (2018). Alojado no You Tube > Luís Graça (1' 15'')


1. Apelo do fundador, administrador e editor do blogue:

Chegámos ao fim de 2018, olhamos para trás
e o caminho percorrido, desde a Guiné,  de1961 a 1974,
desde o fim da "comissão" de cada um de nós até agora,
é já  muito, mais de meio século,
é já muita lonjura, a das nossas vidas,
são muitas e muitas picadas,
muitas minas e armadilhas,
alegrias, tristezas, euforias, depressões...

Somos irrequietos como os maçaricos-das-rochas,
pequenas aves limícolas que ainda abundam na nossa costa...
Mas quantos camaradas não ficaram já para trás, cá e lá?!
Só na nossa Tabanca Grande, contabilizamos 70 de um total de 782,
desde que o nosso blogue existe, vai fazer 15 anos em 23 de abril de 2019...

Quinze anos são, no mínimo,  sete comissões na Guiné, já imaginaram ?!

Mas há camaradas de quem, infelizmente,
não temos notícia há muito tempo...
Na nossa idade, teme-se sempre o pior:
quantos camaradas e amigos não fomos já a enterrar,
mais novos do que nós?!

É verdade,  alguns estão vivos, mas vivem sós,
sofrem de solidão e de abandono,
podem até ter muitos amigos do Facebook,
mas estão sós, terrivelmente sós...
Não  admira por isso que se tenham desligado,
do blogue, da Tabanca Grande, do mundo,
correndo o risco de se desligarem também da vida, um dia destes.

Por isso, fica aqui o desafio:
por favor, amigos e camaradas da Guiné,
mandem-nos por este Natal e Ano Novo de 2018/19
um "cartanito" de boas festas,
se possível com boas notícias (ou  menos más...).

Aproveitemos esta quadra (, mesmo que ela seja uma ilusão!)
para acrescentarmos mais vida à vida,
mais saúde à saúde,
mais amizade à amizade,
mais amor ao amor...
e pormos mais cores na paleta do nosso arco-íris,
que tem andado tão  tristonho e cinzento...

Mandem, por favor. uma mensagem
 (nem que seja telegráfica,
como se fosse a resposta a um SOS),
com os seguintes dizeres:

"Camaradas, estou vivo!... 
Aqui vai a minha prova de vida!"


Relemebremos aqui os 9 camaradas, membros da Tabanca Grande, que este ano já partiram para a sua derradeira "comissão de serviço", e que nos deixam imensa saudade. Esta lista, infelizmente, pode estar incompleta. A média de idades rondava os  71 anos (mínimo, 66; máximo, 75).

António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Carlos Cordeiro (1946-2018)
Gertrudes da Silva (1943-2018)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Luís Encarnação (1948-2018)
Manuel Carneiro (1952-2018)




Guiné > Região de Tombali > Contabane > CCAÇ 2382 (1968/70) >   O Alberto Silva, ex-sold trms... Em 22 de Junho de 1968,  a aldeia e o destacamemto foram completamente destruídos num ataque do PAIGC.  "Todos os meus haveres foram consumidos pelas chamas que destruíram a palhota que se vê nas minhas costas e que utilizava como caserna"... Foi "noite de São João"... Silva tinha então menos de dois meses de Guiné. Foto da sua página no Facebook: Alberto Silva, a viver em Vila Nova de Famalicão.

Foto (e legenda): © Alberto Silva  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Vamos publicar a primeira mensagem qne nos chega este ano, do  Alberto Sousa e Silva  (ex-soldado de transmissões, que vive em Vila Nova de Famalicão,  não tivemos notícias  dele ao longo do ano que vai findar; costuma mandar-nos um "cartanito" de Natal; e já tem organizado os convívios anuais da companhia).

Da rapaziada desta desta companhia (CCAÇ 2382, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70) que faz parte da nossa Tabanca Grande,  temos ainda os nomes do Manuel Traquina (ex-furriel miliciano) e do Carlos Nery (ex-cap miliciano), além do José Manuel Moreira Cancela ( ex-soldado apontador de metralhadora pesada).

Descobrimos  há tempos também o ex-1º cabo Alfredo Ferreira, o "Geada", que era o padeiro da companhia... Vive na Murteira, Cadaval.


Distintivo da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70).
Cortesia de Manuel Traquina.


Mensagem do Alberto Sousa e Silva (ex-soldado de transmissões), da CCAÇ 2383  (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70): 


11 de dezembro de 2018 às 17:18

Amigo,

Que tenha um Feliz Natal e agradeço a publicação,  no blogue, da mensagem  em epigrafe, destinada aos componentes da CCaç 2382 – 1968/1970.

Um abraço,

Alberto Silva
CCAÇ 2382

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18350: (D)o outro lado do combate (20): Os fracassos assumidos pelo PAIGC no ataque a Buba, de 12 de outubro de 1969… E os outros que se seguiram (ao tempo da CCAÇ 2382 e do Pel Mort 2138) - Parte II (Jorge Araújo)


Guiné > Região de Quínara > Buba > Rebentamento de granada no Rio Grande de Buba durante um ataque IN (período 1968/1971 – CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892). Foto do ex-alf. Joaquim Rodrigues, in: http://guine6871.blogspot.pt/ (com a devida vénia).

Infografia: Jorge Araújo (2018)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974)


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC NO ATAQUE A BUBA [12OUT1969]… E OS OUTROS QUE SE SEGUIRAM (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138) - Parte II
por Jorge Araújo


1.  INTRODUÇÃO

Este segundo fragmento relacionado com os dois ataques a Buba ocorridos no último trimestre de 1969 - o 1.º em 12 de outubro e o 2.º em 11 de dezembro - reforça o que, no entender dos responsáveis do PAIGC, foram os seus maiores fracassos registados durante o cumprimento do "plano de acções militares", elaborado para a região do Quinara e Tombali, executado com recurso a uma quantidade significativa de equipamentos de artilharia e com mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros de infantaria.

Esse "plano" (ou "programa"), para o qual foi concebido um calendário concreto, contemplava ataques a oito aquartelamentos das NT, que abaixo se identificam, com a primeira acção a iniciar-se em Buba e que, devido aos resultados desfavoráveis deste, foi entendido que se deveria realizar nova acção, com o segundo ataque a ser agendado para o final desta "campanha", a ter lugar no dia 10 de Dezembro de 1969.

Conforme já referido anteriormente (*), a decisão de escrever esta narrativa surge na sequência de uma investigação por nós realizada a propósito de uma foto de um «espaldão de morteiro 81», localizada no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares. Aí tivemos acesso, também, a um relatório dactilografado, formato A/4, com um total de vinte e três páginas, sem capa e sem referência ao seu autor, elaborado no seguimento "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], onde se referem os aspectos mais importantes anotados antes, durante e depois de cada missão, nomeadamente: efectivos, equipamento, desenvolvimento da acção e avaliação.


2. OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC EM 12OUT1969… E OS SEGUINTES…

Recorda-se que o primeiro ataque a Buba [12 de outubro de 1969] só foi concretizado depois de um longo período de minucioso reconhecimento sobre as melhores condições geográficas para a actuação da artilharia com três posições de fogo distintas. Por outro lado, esse reconhecimento previa também identificar as melhores vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição, uma vez que iriam estar no terreno um universo superior a três centenas de combatentes, comandados pelo cap  Pedro Peralta [cubano] e por 'Nino' Vieira.

Entretanto, durante esse reconhecimento, um grupo de guerrilheiros foi descoberto pelas NT, em 7 de outubro de 1069, quando o sentinela do Pel Mort 2138, colocado no posto de vigia junto à pista de aviação, detectou elemento IN nas imediações da pista. No dia seguinte (dia 8), na continuação do reconhecimento supra, um grupo IN accionou uma mina A/P reforçada implantada pelas NT junto ao cruzamento das estradas de Nhala e Buba (in: História do Pel Mort 2138, p3).

"Esta operação iniciou-se com um atraso de meia hora, devido a dificuldades na instalação dos canhões. Eram 17h30 quando o ataque se iniciou com fogo dos canhões B-10, que falharam os alvos, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo [NT] respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 (já com as 'malas feitas' para o seu regresso à metrópole) + Pel Milícia]. Além disso, unidades inimigas [NT] de infantaria cruzaram o rio [Grande de Buba], pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.

"Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das [NT]. Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria. Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente."


3. O SEGUNDO ATAQUE A BUBA EM 10 EM DEZEMBRO DE 1969… QUE PASSOU PARA O DIA 11 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO,

Desenvolvimento da acção: [conclusão]

Como tivemos a oportunidade de dar conta no texto anterior [Parte I – P18346], o início do ataque deveria começar com o disparo dos foguetões das peças GRAD, seguida dos morteiros 120 para permitir o assalto por parte das forças de infantaria [10 de dezembro de 1969]. Para garantir o cumprimento dos objectivos definidos para esta acção, a comunicação entre o posto de observação e a posição de fogo das peças de artilharia far-se-ia, pela primeira vez, através dos rádios [modelo] "104". Aconteceu, porém, que estes não funcionaram no momento em que devia iniciar-se o ataque pelo que foi decido adiá-lo para o dia seguinte [11 de4 dezembro de 1969], optando-se pela substituição dos rádios por telefones.

No dia seguinte, nova decisão de suspender o ataque devido a uma série de falhas nas instalações telefónicas e, mais tarde desistir da utilização da artilharia, dada a actuação independente da infantaria, com a qual, por falta de meios de comunicação, não foi possível combinar um outro plano em substituição do que estava previsto.

Deste modo, este ataque contou, exclusivamente, com o desempenho da infantaria, que teve o seguinte desenvolvimento:

Actuação da Infantaria

"A infantaria, que não actuou no dia anterior devido à suspensão da operação, seguindo novo itinerário, ocupou as suas posições para a acção do dia 11 [Dez'69]. Duas horas depois da hora estabelecida para a actuação da artilharia (que não actuou), a infantaria atacou com todas as forças de que dispunha: 4 bi-grupos com 6 RPG-7 cada, com 5 obuses cada, tendo o 5.º bi-grupo ficado de reserva. Não obstante a pronta e dura reacção inimiga [NT = CCAÇ 2616/BCAÇ 2892, companhia "piriquita" que havia chegado a Buba em 10NOV69, ou seja, um mês antes + Pel Mort 2138, cujas esquadras eram já muito experientes], com fogo de infantaria, canhões e morteiros, a nossa infantaria permaneceu durante 45 minutos colada ao solo, realizando 5 vagas de ataque durante esse tempo.

"Desconhece-se o número de baixas sofridas pelo inimigo [NT]. Várias casernas foram destruídas. Do nosso lado houve um ferido ligeiro."



Infografia: Jorge Araújo (2018)

4. AVALIAÇÃO (CONCLUSÕES)

Impressões Finais

A páginas 19 e 20 deste "relatório" do PAIGC encontramos uma avaliação ao modo como foram acontecendo os vários ataques previstos no "plano", e os diferentes factores que influenciaram o desenrolar das "operações".

Assim, quanto ao reconhecimento dos quarteis, é referido o seguinte:

1. O reconhecimento aos quarteis inimigos (NT) demorou bastante, já que teve de ser feito completamente novo. Em quase todos os sectores, nunca se tinha levado a cabo um trabalho do género, e portanto não se dispunha de dados concretos sobre as vias de penetração nos campos inimigos (para infiltração da infantaria) e sobre possíveis posições de fogo com as respectivas distâncias (para a artilharia), já que dispomos de poucos mapas.



2. Quanto à questão do equipamento.

Fez-se sentir bastante agudamente a falta de farda e, especialmente, de botas. Para ilustrar bem este caso, basta dizer o seguinte: quando a bataria de artilharia que vinha de Cubucaré, depois do ataque a Cabedu [5.º - 6NOV69], chegou a Tombali, de 72 homens que tinha, só podemos conseguir para o ataque a Empada [7.º - 14NOV69] 5 peças de morteiros 82 (20 homens), porque grande parte dos camaradas estavam com os pés feridos por terem andado descalços e à noite.



3. Quanto à questão da alimentação.

Sujeitos a um grande esforço físico, com pouca alimentação (às vezes nenhuma), os camaradas "adoeciam" muito, dando como resultado uma grande falta de pessoal e enfraquecimento da disciplina.



4. Quanto à questão das comunicações.

Assinalamos as grandes dificuldades e por vezes a total impossibilidade em estabelecer comunicação entre o posto de observação e a posição de fogo e para uma coordenação efectiva entre a artilharia e a infantaria. Em todas as acções em que foram usados telefones ou os rádios de que dispomos actualmente, houve grandes problemas com esses equipamentos.


O "relatório" acrescenta ainda que:

1. O funcionamento do corpo de exército estava melhorando dia-a-dia, quer isoladamente, artilharia dum lado e infantaria doutro lado, quer a coordenação entre as duas armas, e, o que é importante, a infantaria já estava confiando um pouco mais na precisão da artilharia.

2. A actuação da artilharia melhorou sensivelmente. Tanto os canhões sem recuo, morteiros de 82 mm, e particularmente a arma especial (GRAD), demonstraram isso na operação de Cufar [8.º - 24NOV69] (a [pen]última que realizámos).



3. A actuação da infantaria estava melhorando também sensivelmente:

- aproximação rápida e silenciosa dos quarteis inimigos;

- disciplina de fogo;

- grande segurança na ocupação das posições e progressão durante o combate. Basta assinalar que durante todas as operações só tivemos 3 mortos, todos no primeiro ataque a Buba (a nossa primeira operação) – um por mina, durante o reconhecimento, outro por acidente com arma de fogo e o terceiro por estilhaço de morteiro na resposta inimiga [NT] ao ataque de artilharia – e oito feridos ligeiros.

4. Apesar de todas as dificuldades materiais, e do grande esforço físico exigido no transporte dos materiais pesados, o moral dos nossos combatentes esteve sempre elevado.



5. O uso das armas antiaéreas durante as operações, pelo seu peso com a respectiva munição, revelou-se uma carga demasiado pesada para as nossas unidades (para transportar com relativa facilidade uma peça DCK com a sua munição são necessários uns 10 homens). Além disso, à excepção de Cacine [4.º - 4NOV69] (1ª operação iniciada às 16h45) todas as outras operações foram desencadeadas a horas em que a aviação e os helicópteros não podem já agir com eficácia.

Iremos continuar a desenvolver este tema com a apresentação dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.

Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
22FEV2018.
______________

Nota do editor:

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Guiné 61/ 74 - P18346: (D)o outro lado do combate (19): Os fracassos assumidos pelo PAIGC no ataque a Buba, de 12 de outubro de 1969 … E os outros que se seguiram (ao tempo da CCAÇ 2382 e do Pel Mort 2138) - Parte I (Jorge Araújo)



Guiné > Região de Quínara > Buba  > Material capturado ao PAIGC em 23 de novembro de 1968: granadas, minas, cunhetes de munições, medicamentos, géneros alimentícios enlatados, material diverso, incluindo um "poster" (ou retrato em tamanho médio, tipo 18'' x 24'')  de 'Che' Guevara, seguramente trazido pelos cubanos...

Foto do camarada Francisco Gomes, 1.º cabo escriturário da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael (1968/1969). In: https://guine6869.wordpress.com/album/  (com a devida vénia.


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974)


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE  > OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC NO ATAQUE A BUBA [12OUT1969] … E OS OUTROS QUE SE SEGUIRAM  (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138 - Parte I


por Jorge Araújo


1. INTRODUÇÃO

Nas últimas três narrativas estivemos focalizados na região de Buba, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138, com a primeira visita a acontecer por acaso, quando encontrámos uma foto de um «espaldão de morteiros 81» no Arquivo Amílcar Cabral, localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares, e que, após identificado o local, nos permitiu chegar ao episódio de um ataque a esse Aquartelamento ocorrido em 12 de Outubro de 1969, domingo. Desse ataque foi produzido um “Relatório do Ataque”, como procedimento habitual, redigido pelo CMDT da CCAÇ 2382, ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo [vidé P18223].

Por efeito da pesquisa com ela [foto] relacionada, na qual se adicionou o contributo escrito das NT, tivemos acesso, «do outro lado do combate», a um relatório, sem referência ao seu autor, elaborado a propósito “das operações militares na Frente Sul”, realizadas pelo PAIGC no último trimestre de 1969, onde se incluía a análise crítica a um primeiro ataque a Buba efectuado naquele dia 12 de Outubro, com se indica acima [http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_40082 (2018-1-20).

Aí são apresentadas as principais razões para os fracassos contabilizados nessa acção [P18244].

Finalmente, e para concluir a investigação sobre os Pelotões de Morteiros que passaram pelo Aquartelamento de Buba, foi elaborado um cronograma com essas Unidades, tendente a identificar os períodos das suas respectivas comissões, no quadro temporal iniciado em 1964 até 1974 [P18283].


Por todas estas razões, o presente trabalho procura dar sequência ao modo como os responsáveis do PAIGC (re) agiram aos fracassos anteriores e o que preconizaram fazer depois disso, e com que resultados.


2. OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC EM 12OUT1969… E OS SEGUINTES…

Recorda-se que este primeiro ataque só foi concretizado depois de um longo período de minucioso reconhecimento sobre as melhores condições geográficas para a actuação da artilharia com três posições de fogo distintas. Por outro lado, esse reconhecimento previa também identificar as melhores vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição, uma vez que iriam estar no terreno um universo superior a três centenas de combatentes, comandados pelo capitão cubano Pedro Peralta e por Nino Vieira.

Entretanto, durante esse reconhecimento, um grupo de guerrilheiros foi descoberto pelas NT, no dia 7 de Outubro, quando o sentinela do Pel Mort 2138, colocado no posto de vigia junto à Pista de aviação, detectou um guerrilheiro nas imediações da Pista. No dia seguinte (dia 8), na continuação do reconhecimento supra, um grupo IN accionou uma mina A/P reforçada implantada pelas NT junto ao cruzamento das estradas de Nhala e Buba (in: História do Pel Mort 2138, p3, recorte abaixo). 


Pelo acima exposto, confirma-se, então, o que é descrito no relatório da acção do PAIGC; “no cumprimento desta última missão de reconhecimento temos a lamentar a morte de um camarada e o ferimento de outros dois, entre os quais o camarada CAETANO SEMEDO, em consequência da detonação duma mina antipessoal” [P18244].

"Esta operação, que deveria ter início pelas 17 horas, só se iniciou meia hora mais tarde devido a atrasos na instalação dos canhões. O ataque iniciou-se com fogo dos canhões B-10, que falharam os alvos, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo [NT] respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metrelhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia]. Além disso, unidades inimigas [NT] de infantaria cruzaram o rio [de Buba], pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros".


Citação: (1963-1973), "Irénio Nascimento Lopes; ensinando os combatentes do PAIGC a manobrar um canhão sem recuo [B-10] de origem soviética", [será que se trata do actual presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau - Manuel Irénio Nascimento Lopes “Manelito”?] CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_43809 (2018-2-2).

"Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo [NT]. Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria. Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente."


Infogravura adaptada do livro «Guerra Colonial», do Diário de Notícias, p. 295. 

As setas a amarelo servem para referenciar a zona onde se iniciou o ataque. 

Em função do desempenho das NT, que certamente teria provocado uma “louca correria” [digo eu] dos diferentes grupos em direcção a terrenos mais protegidos e estáveis, o que não é de estranhar neste contexto, não houve tempo para utilizar a totalidade do material de guerra transportado para o local do ataque e que, em princípio, seria todo para “queimar”. Assim sendo, e porque era mais cómodo e mais fácil correr sem pesos nas mãos ou noutros locais, grande parte desse material ficou no terreno, sendo recolhido no dia seguinte pelas NT. Disso dá-nos conta a “História do Pel Mort 2138, p.90”.

Como curiosidade, uma outra situação de captura de material ao PAIGC já se tinha verificado um ano antes, mais concretamente em 23 de Novembro de 1968, sábado, pelas 15h30, quando elementos da mesma Unidade - CCAÇ 2382/BCAÇ 2834 (1968/1969) -, que se encontravam perto do cruzamento de Buba, contactaram com uma coluna de reabastecimento IN, causando a estes baixas prováveis. 

Foram apreendidas [, vd. foto acima]: 
 - 74 granadas RPG; 
- 16 granadas de Morteiros 82;
- 3 minas anticarro;
- 11 minas antipessoais;
- 20 cunhetes 7,9 mm;
- muitos medicamentos e géneros enlatados, incluindo um "poster" do 'Che' Guevara [in; História da Unidade, da qual retirámos a citação que abaixo se reproduz].



Como consequência dos sucessivos fracassos observados nas suas acções contra o contingente sedeado em Buba [NT], foi aprovado pelos comandantes da Frente Sul [que desconhecemos] a realização de um segundo ataque a esse aquartelamento, com a inclusão de alterações estratégicas e de outros procedimentos operacionais.

Como elemento histórico, seguidamente daremos conta do seu conteúdo, dividido em pequenos fragmentos, ficando a sua conclusão para a Parte II, a publicar oportunamente.


3. O SEGUNDO ATAQUE A BUBA EM 10DEZ1969)… QUE PASSOU PARA 11DEZ1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO

"Dado o fracasso da primeira operação contra Buba, tentada no dia 12 de Outubro [1969], foi decidido cumprir a missão de atacar Buba na fase final da campanha [último trimestre]. Para isso levámos a cabo novos reconhecimentos: novas vias de acesso para a infantaria e escolha de novo posto de observação.

As nossas forças deviam actuar no dia 10 de Dezembro [1969], quarta-feira, com os seguintes efectivos [indicam-se no quadro abaixo, como elemento de comparação logística, as quantidades utilizadas no 1.º ataque]:


Desenvolvimento da acção: 

"Deviam actuar primeiro as peças do GRAD, em seguida os morteiros 120 da mesma posição de fogo que as peças do GRAD e, por último, a infantaria devia assaltar o quartel."



"Utilizávamos, pela primeira vez, os “rádios 104” para garantir a comunicação entre o posto de observação e a posição de fogo. Infelizmente, estes não funcionaram no momento em que se devia iniciar a operação, forçando-nos a adiá-la para o dia seguinte, com a substituição dos rádios por telefones."


Citação: (1963-1973), "Operador de rádio da guerrilha", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43758 (2018-2-2) 

"De novo tivemos de suspender a operação que devia ter lugar no dia 11 [Dez’69], devido a uma série de falhas nas instalações telefónicas e, mais tarde desistir da utilização da artilharia, dada a actuação independente da infantaria, com a qual, por falta de meios de comunicação, não foi possível combinar um outro plano em substituição do que estava previsto."


Final da Parte I.

Na Parte II deste tema, serão abordados os seguintes pontos:

1 – Conclusão do desenvolvimento da acção e respectivos resultados.

2 – Análise crítica sobre os aspectos que influenciaram a marcha das operações, como sejam: o reconhecimento dos quartéis; equipamento (fardamento); alimentação; comunicações e funcionamento do corpo de exército.

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

05FEV2018.
__________________

Nota do editor::

Último poste da série > 23 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18244: (D)o outro lado do combate (17): ataque a Buba em 12 de outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138: os fracassos assumidos pelo PAIGC (Jorge Araújo)

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18244: (D)o outro lado do combate (17): ataque a Buba em 12 de outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138: os fracassos assumidos pelo PAIGC (Jorge Araújo)


Foto nº 1 > Guiné-Bissão >Região de Quínara > Buba > Esquadrão de morteiro 81 >

Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl > Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmente do Pel Mort 2138 [e não 2139], que esteve em Buba (1969/71). Como o espaldão está desativado, a foto deve ser posterior ao 25 de abril de 1974.


Citação: (1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_44169 (2018-01-20)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1969/71) > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba [poste P18231]


Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974)


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE  > ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969  (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138): OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC


por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Como tive a oportunidade de referir na anterior narrativa sobre este tema, uma foto de um “espaldão de morteiro” localizada na Casa Comum - Fundação Mário Soares - na pasta: 05360.000.325, com o título/assunto: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138, do exército português… estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138” [poste P18223] deu lugar a uma nova investigação, tendo duas questões de partida [foto nº1]:

(i) como chegou ela (foto do espaldão) às mãos da guerrilha e/ou aos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973);

(ii) em que aquartelamento das NT teria ele sido construído?

Quanto à primeira questão, creio ser difícil, quase impossível, obter uma resposta fiável, a não ser que o seu autor tomasse a iniciativa de se identificar. Quanto à segunda, foram várias e imediatas as respostas, dando-nos conta tratar-se do «Espaldão do morteiro 81», colocado na embocadura do rio Grande de Buba, junto ao arame farpado do Aquartelamento de Buba. [foto nº 2]

Para além da preciosa ajuda dos nossos camaradas tertulianos que por lá passaram, destaco aqui o contributo do Fernando Oliveira (Brasinha) do Pel Mort 2138, que fez o favor de nos mandar algumas fotos desse local [poste P18231] … com história, e que muito agradecemos.

Para que conste, apresentamos acima duas fotos desse espaldão, a primeira, talvez de 1973 ou princípios de 1974 [ou mais tarde] (a do arquivo de fotos de Amílcar Cabral), a segunda do tempo do Pel Mort 2138 (1969/1971), do baú de memórias do camarada “Brasinha”.



2. O ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969


A análise ao modo como o PAIGC planeou este ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382 (1968/1970), ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo, bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN. Este foi redigido a partir da informação obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano Pedro Rodrigues Peralta, na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro’69, durante a «Operação Jove» [vidé poste P18223].

Recorda-se que este ataque foi liderado por Pedro Peralta e 'Nino' Vieira. De acordo com as informações do camarada Fernando Oliveira, este ataque foi lançado pela parte superior da pista de aterragem de aeronaves, tendo o IN estado muito próximo do arame farpado. O especial desempenho vai para o Esquadrão de Morteiros, junto à pista. Este ataque foi o baptismo de fogo do Pel Mort 2138, coincidindo com a despedida da CCAÇ 2382, comandada pelo Cap Carlos Nery Araújo.

Na infogravura abaixo, retirada do livro «Guerra Colonial», do Diário de Notícias, p. 295, as setas a amarelo servem para referenciar a zona onde se iniciou o ataque.




3. RELATÓRIO DO PAIGC SOBRE O PRIMEIRO ATAQUE A BUBA

- 12 DE OUTUBRO DE 1969

Como instrumento de investigação histórica «do outro lado do combate», visando encontrar eventuais elementos contraditórios entre versões, recorremos, uma vez mais, à principal fonte de consulta (privilegiada) que são os Arquivos de Amílcar Cabral, localizados na Casa Comum – Fundação Mário Soares.

Aí encontrámos referência a este ataque a Buba, realizado em 12 de Outubro de 1969, que pode ser consultado em: (1969), “Relatório das operações militares na Frente Sul”, 
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20).

Nas primeiras duas páginas desse relatório de um total de vinte e três, cujo autor se desconhece, e que abaixo se apresenta dividido em pequenos fragmentos, é referido:

Na introdução:

“Após um longo período de minucioso reconhecimento e preparação das condições para a actuação da artilharia (tiro directo e indirecto) distribuída por 3 posições de fogo distintas, dedicou-se especial atenção em encontrar as vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição. No cumprimento desta última missão de reconhecimento temos a lamentar a morte de um camarada e o ferimento de outros dois, entre os quais o camarada CAETANO SEMEDO, em consequência da detonação duma mina antipessoal”.




Efectivos:

Dispunhamos para a operação dos seguintes efectivos:

Artilharia

- 9 canhões sem recuo B-10, com 90 obuses;

- 9 morteiros 82, com 180 obuses;

- 2 peças GRAD, com 7 foguetes;

Infantaria

- 5 bi-grupos para o assalto ao quartel;

- 3 bi-grupos para isolar Buba dos visinhos;

- 1 bi-grupo para a segurança da artilharia;

Defesa anti-aérea

- 12 DCK



Desenvolvimento da acção:

A operação devia ter início no dia 12 de Outubro [1969] às 17 horas, mas devido a atrasos na instalação dos canhões, só foi possível iniciá-la às 17h30.

Os canhões efectuariam tiro directo a uma distância de 1.200 metros; os morteiros 82 e GRAD estavam em ligação telefónica com o posto de observação, situado a 800 metros do quartel. A posição dos morteiros estava a 2.200 metros e a das peças de GRAD a 3.950 metros do quartel.

Primeiro abriram fogo os canhões B-10, que falharam completamente, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia], concentrando sobre o posto de observação (possivelmente já descoberto por ele), sobre a posição do fogo dos canhões e sobre o itinerário percorrido pela linha telefónica; como resultado da explosão dos obuses o fio telefónico foi cortado em 7 [sete] lugares diferentes, ficando a ligação interrompida.

Além disso, unidades inimigas de infantaria cruzaram o rio, pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.


Conclusão:

Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo.

Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria.

Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente.



Fonte: Casa Comum >  Fundação Mário Soares >  Arquivo Amílcar Cabral

Pasta: 07073.128.011. Título: Relatório das operações militares na Frente Sul. Assunto: Relatório das operações militares do PAIGC contra Buba, Bedanda, Bolama, Cacine, Cabedu, Empada, Mato Farroba, Cufar. Utilização dos foguetes. Algumas impressões sobre a utilização da arma especial (GRAD) na Frente Sul durante os meses de Outubro e Novembro de 1969. Data: c. Novembro de 1969. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. [Guileje]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


Em jeito de conclusão, podemos dizer que os dois relatórios se complementam, pela adição dos detalhes particulares observados em cada um dos lados do combate.


Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

22JAN2018.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18086: (D)o outro lado do combate (16): razões e circunstâncias da prisão e condenação do arcebispo católico de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo (1920-2011), na sequência da Op Mar Verde: de "santo" a "diabo", aos olhos do "guia iluminado", Sékou Touré: o testemunho do mais célebre prisioneiro político do sinistro campo de Boiro (excerto com tradução de Jorge Araújo)