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domingo, 14 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23525: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (11): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém", poema de Luís Jales de Oliveira (ex-fur mil trms, CCAÇ 20, 1972/74)


Capa do livro de poemas, do Luís Jales de Oliveira, "Corre-me um Rio no Peito", Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal n.º 307277/10.


Mondim de Basto > 29 de agosto de 2019 > Junto ao monumento aos combatentes do ultramar > Da esquerda para a direita, a Nitas (Ana Carneiro Pinto Soares), o Luís Graça, o "Ginho" [o escritor e poeta Luís Jales de Oliveira] e Alice Carneiro.(*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal nº 307277/10-


1. O Luís Jales de Oliveira, carinhosamente tratado por "Ginho", na sua terra  natal, Mondim de Basto, é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008 (*), tendo sido fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).
 

É, sem favor, o autor de um dos mais belos poemas, que eu tenho lido, sobre a a Guiné e a guerra do ultramar / guerra colonial, de ressonância bíblica: "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)" (**).

Lembrei-me dele, hoje, que a 83ª Volta a Portugal Continente chega à mítica Senhora da Graça, em Mondim de Basto (Paredes - Mondim de Basto - Senhora da Graça), atravessando também a não menos mítica EN 304, uma das mais belas estradas da  Europa. 

E telefonei-lhe: com felicidade, apanhei-o em casa. E, em 5 minutos, pusemos a conversa em dia. Problemas de saúde de um lado e do outro, não nos irão impedir de, ainda um belo dia destes, a gente se voltar a encontrar na sua terra e, desta vez, "subir" à N.ª Sra. da Graça. E eu lá, já sem as canadianas, quero  "rezar com ele"  o seu poema:

GRAÇA

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que olho para ela,
Apetece-me voar…
E humilde peregrino,
Vou em ânsias de menino,
Lá rezar.

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que entro nela,
Vivo um mistério profundo:
Senhora,
Que feitiço derramais,
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é Rei do Mundo?

Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995 [Obra, de 49 pp.,  subsidiada pela programa LEADER Probasto], pág. 43

Pelo telefone soube dos seus novos projetos, um livro que está pronto para ser lançado dentro em breve (ficando nós, aqui no blogue, a aguardar notícias para o poder divulgar) e outro, para o ano, sobre Gadamael. Lembre-se que foi em 7 de julho de 1973, que a sua CCAÇ 20, comandada pelo então ten grad 'comand0' Tomás Camará, acabada a instrução no CIM de Bolama, foi colocada em Gadamael e lá ficou até ao fim, até sua extinção em agosto de 1974, perfazendo pouco mais de um ano de existência (****). 
 

2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 20

Identificação; CCaç 20
Cmdt: Ten Grad Cmd Tomás Camará | Alf Grad Cmd Malan Baldé | 1.° Sarg Grad Cmd Quebá Debá
Início: 05Jun73 | Extinção: princípios de Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada, de 5 a 9jun73, no CIM, em Bolama, e foi constituída por pessoal natural da Guiné, de diversas etnias, na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo realizado a sua instrucção de 11Jun73 a 7Jul73.

Seguidamente, foi colocada em Gadamael, como subunidade de intervenção e reserva do sector do COP 5, tendo realizado diversas acções ofensivas, patrulhamentos e emboscadas nas regiões de Cacoca, Lamoi, Madina e Sangonhá, entre outras.

Em princípios de Ago74, foi desactivada e extinta.

Observações: Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 641
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de agosto de  2019 > Guiné 61/74 - P20110: Os nossos seres, saberes e lazeres (350): a mítica estrada nacional, EN 304, em pleno Parque Natural do Alvão, entre Mondim de Basto e Vila Real... E finalmente conheci o "Ginho", "ao vivo e a cores", na sua terra natal, em terras de Basto, na "Casa do Lago"...(Luís Graça)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)


(****) Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23487: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (10): o massacre do alf mil Artur José de Sousa Branco e do seu pequeno grupo, nas imediações de Gadamael, em 4/6/1973 (J. Casimiro Carvalho / Manuel Reis / Carmo Vicente / Manuel Peredo / Jorge Araújo)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20


Capa do livro "Corre-me um Rio no Peito", de Luís Jales de Oliveira, ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. Capa de Samara (João Campos). Dedicatória do poeta,  manuscrita, em baixo, ao nosso editor Luís Graça.



Oluveira (2010). p. 7


1. O Luís [Manuel] Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão [, rio e monte referidos no poema abaixo] [, foto à esquerda]:

foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).

O poema qie a seguir se reproduz, com a devida autorização do autor, é um dos mais belos que eu tenho lido. relacionados com a Guiné e a guerra colonial.

Descortino-lhe uma dupla fonte de inspiração:  (i) a biblíca, a do Salmo 137, Livro dos Salmos Antigo Testamento;  e (ii) as não menos célebres redondilhas de Babel e Sião, de Luís de Camões: Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me achei,« / Onde sentado chorei / As lembranças de Sião / E quanto nela passei. (...)

O Luís Jales disse-me que este poema foi "inspirado pelo Rio Cacine", mas com o Rio Tâmego no coração, quando, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocada a sua CCAÇ 20:

(...) Na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir. Já não conheci o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia. 


"Não participei na 'batalha de Gadamael' pois coincidiu com a nossa partida de Bolama e com a chegada a Cacine, onde fiquei acampado, na praia, vários dias a guardar os equipamentos da  Ccaç 20. 

"Vivi a fase posterior de incontáveis bombardeamentos e contactos de cada vez que se punha o nariz de fora do arame farpado. Prometo que hei-de desfiar, na nossa Tabanca, as estórias e aventuras relacionadas com o incrível Gadamael". (...)


Disse-lhe,  a ele, ao Albano de Matos e ao Valdemar Rocha, companheiros de aventura do "Poilão" (Bissau, dezembro de 1973 / fevereiro de 1974):

(...)" Foi pena a Margarida Calafate Ribeiro e o Roberto Vecchi,  'olheiros' dos poetas da guerra colonial,   não vos terem 'apanhado', desconhecendo muito provavelmenet a existência do 'Popilão' (que nem sequer consta da PorBase - Base Nacional de Dados Bibliográficos)... Eles organizaram uma extensa (e de qualidade desigual) antologia de textos poéticos sobre a nossa guerra" (Afrontamento, 2011)" (...).

Aqui fica o meu convite para os nossos leitores lerem  este poema em voz alta, pausadamente, num fim de tarde, à sombra de um choupo, na margem do rio da vossa aldeia. Ao poeta, tiro o quico, o chapéu, e rogo às musas dos rios Tâmega e Cacine que o protejam e que o continuem a inspirar!,,,  (Pequeníssimos detalhes como o "chão manjaco" posto pelo poeta na região de Tombali ou o míssil Strela mal grafado não rmancham em nada este poema quase perfeito, obrigatório numa futura antologia da poesia da guerra colonial, a  organizar um dia pela Tabanca Grande, se Deus, Alá e os bons irãs nos derem tempo de vida e saúde)... (LG)




(Oliveira, 2010, pp. 25/26)
Oliveira (2010). pp. 25-26


In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010,  72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito  Legal nº 307277/10-

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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de junho 2016 > .Guiné 63/74 - P16195: Blogpoesia (452): E, se de repente..." e "Minhas articulações...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16205: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (103): O Paul McCartney do Grupo Coral do CISMI... Afinal, o Luís Jales de Oliveira, poeta, músico, ex-fur mil trms, Agr Trms Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael, 1972/74)



Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 > "Não foi assim tão mau [, o CISMI,] e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro. Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode, que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto" .(*)

O guitarrista Jales [, à direita], com aquela guedelha e bigode (!), de repente pareceu-nos mesmo um sósia do Paul McCartney, um dos famosos Beatles que incendiaram o imaginário da nossa geração e ajudaram o mundo a pular e a avançar... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  Comentário. de  9 de outubro de 2014 , do Luís Jales de Oliveira ao poste  P12784, do Henrique Cerqueira, publicado em 1/3/2014 (*):


[Foto à esquerda: o Luís Manuel Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, um antigo vulcão  foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74), companhia africana onde serviu  às ordens do tenente comando graduadoTomás Camará,  que foi ferido em combate e, depois, às ordens do capitão comando graduado Sisseco (ambos oriundos da 1ª companhia  do batalhão de comandos africanos); poeta e escritor, tem já obra vasta, e é membro da Academia Luso-Brasileira de Letras]

 
Meu caro Henrique Cerqueira:

Só hoje descobri esta tua publicação [, com data de 1/3/2014] e confesso que fiquei emocionado. Por várias razões: porque revivi, recordei e evoquei momentos adormecidos nas catacumbas da memória, porque confirmei que já tive uma profusa e escurecida cabeleira (hoje completamente esbranquiçada para mal dos meus pecados) e, também, um pujante bigode, coisa rara e provocatória, à época, aqui no teatro militar metropolitano; e, por fim e principalmente, porque passados 42 anos ainda conseguiste, no meio daquela angelical composição de "querubin"  fardados, identificar-me e arriscar que eu me chamaria "Jales". 

Pois foi na mouche, sim senhor. Notável, meu caro Henrique, a tua pontaria evocatória!

Direi, respondendo também à pergunta do nosso caro "comandante" Luís Graça, que comentou, com muita graça, que eu, de repente, até parecia ser o sósia de um dos Beatles, que sou o Luís Jales de Oliveira, mais conhecido, na tropa, como Luís Jales e que publiquei o P2467 na “Tabanca Grande (54)”, em 21 de Janeiro de 2008.  (*)

Como deves calcular arranjei uma caterva de “imbróglios" por ostentar aquela trunfa exuberante durante todo o meu serviço militar. Em Tavira aconteceu uma coisa muito engraçada: Era forçoso que quando eu estivesse na formatura de revista para sair, e por mais que tentasse esconder, com a boina, o raio daquele excesso capilar, o oficial de dia parava, irremediavelmente, nas minhas costas, batia-me no ombro e mandava-me, em passo de corrida, para a caserna. Mas, naquele dia, depois de me mandar às malvas, voltou para trás e perguntou, pelo sim, pelo não 
–Por acaso o menino não toca no conjunto do senhor abade, pois não?

Eu respondi:
– Toco, toco, meu alferes – e ele imediatamente: 
– Pois então faça o favor de regressar à formatura. A porta d’armas, para si, está escancarada.

Isto serve bem para demonstrar o poder que tinha o nosso capelão de Tavira. Coitado daquele oficial que retivesse um de nós, nos dias marcados para os ensaios da Missa Dominical…

Resta-me dizer que não sou Açoriano, mas genuíno Transmontano de Mondim de Basto, a cerca de 100 km do Porto e que faço questão de te abraçar um dia destes.

Ao nosso caro Luís Graça prometo, agora que sempre consegui a reforma, que começarei a enviar montes de textos com lembranças e evocações:

(i) sobre a revista “ZOE”,  do Agrupamento  de Transmissões  de Bissau onde fui “correspondente de guerra”;

(ii)  sobre “Os Reactores” e “Os gloriosos malucos da aparelhagem electrónica”, onde tocava e que, para além doutras actuações, animavam os fins de semana do Clube de Sargentos de Santa Luzia; 
e, com muito mais interesse julgo eu,

(iii) sobre a “realidade” de Gadamael Porto que sorvi, bomba a bomba, durante 365 intermináveis dias.

Obrigado pelas emoções que me provocaste. O meu contacto é luis.jales.oliveira@gmail.com.
Grande e reconhecido abraço.


2. Comentário do editor LG:

Ao Jales (, afinal "meu vizinho", já que também tenho casa por ali perto, Marco de Canaveses, que integra a bela e nobre região do Vale do Tâmega,  berço da Nação,com o Vale deo Sousa ...), já pedi desculpa, por mail,  por na altura não me ter apercebido do seu comentário (de 9/10/2014) ao poste do Cerqueira (de 1/3/2014)... Não me apercebi ou já não me lembro...

De facto, ninguém tem a pedalada dos 20 anos para acompanhar tudo, fazer tudo, alinhar em tudo... É até por falta de tempo. Houve um desfasamento de vários meses, entre o poste e o comentário,  não conseguindo os editores ir com a devida regularidade à nossa caixa de comentários (que já vai em cerca de 64 mil comentários, alguns extensos e, muitos, interessantes).

Tínhamos prometido recuperar este, integrando-o num poste autónomo e justamente para provar, mais uma vez, a propriedade e a justeza da nossa máxima: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!" (***)...

Os pedidos desculpa são extensivos ao Henrique Cerqueira, sempre leal e generoso greã-tabanqueiro... Ao Jales desejo boa continuação da merecida reforma e das pescarias no rio Tâmega e no mar das letras!.. Quanto às prometidas colaborações, elas serão sempre bem vindas, em prosa ou em verso...

Um abraço do tamanho do Tâmega e do Cacine... 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

(***) Último poste da série >  8 de junho de 2016 >  Guiné 63/74 - P16175: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (101): no convívio deste ano, do pessoal do BCAÇ 3872, quem é que eu vou reencontrar? O meu antecessor, o hoje ilustre prof Pereira Coelho, bem como o Ussumane Baldé que estagiou comigo quando eu era subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16186: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (14): dois poemas ("Letargia da carne" e "Escravidão", de Armando Lopes, natural do Porto)



Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. (*)

A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (A história do GDC dos Empregados do BNU remonta à a 1924).



1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (hoje rara) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: 

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU, infelizmente já falecido; era o coordenador da secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau; 

e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império", é natural de Castelo Branco, e vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo) [, foto a seguir, em Bissau, em 1972/73].

A antologia reune 24 poemas de 11 poetas (guineenses, caboverdianos e metropolitanos, neste caso militares em servi no TO da Guiné, em 1973-74).




Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74). Há dias soubemos notícias dele.. Aqui vai um excerto de uma mensagem de 16 de maio último: 

Caro Luís: há um ano que ando nos médicos. Duas operações à coluna, fisioterapia, pé pendente... Mas está a passar. Conduzo o carro e faço a vida normal.

O Valdemar Rocha morava em Padrão, Rebordosa, mas creio que actualmente reside em Gondomar. Vou comunicar-lhe. Aqui vai o Endereço do Valdemar [...]  O Jales está em Mondim de Basto, creio que na Câmara. Endereço do Jales de Oliveira [....]. Só há uns 3 anos tive contactos com o Jales.

Há uns anos, a professora Inocência Mata, de São Tomé, fez uma apresentação de «Poilão», no Centro Nacional de Cultura, numa sessão sobre Literatura Africana de Expressão Portuguesa. Ofereci-lhe o Caderno.

Vou enviar-te uns apontamentos de Angola e Guiné, que me serviram na apresentação do meu livro «Meninos de Mucanda», no Programa «Fim do Império», na Livraria Verney, em Oeiras.
Grande abraço do Camarada Albano Mendes de Matos.


O Luís Jales de Oliveira é membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008. Foi  fur mil trms inf,  Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74). Continua a escrever e a publicar. Falaremos dele (e dos seus livros) muito em breve. (***)




O Albano Mendes de Matos era sócio da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau


2. Hoje publicamos mais dois poemas. desta antologia: são de Armando Lopes, sobre o qual sabemos que era "estudante, natural do Porto", de passagem pela Guiné, onde estava a cumprir o serviço militar (no GA 7), tal como Valdemar Rocha e Jales de Oliveira. Não sabemos qual o seu paradeiro atual.



Recorde-se que o editor literário desta antologia e ele próprio poeta,  Albano Mendes de Matos, passou pelo  GA 7 e QG/CTIG, Bissau, no período de 1972/74, como tenente da arma de artilharia: foi o "último soldado do império" (**); é  natural de Castelo Branco, vive no Fundão. 



 


Armando Lopes, pp. 30-32




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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales de Oliveira, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

Luís Jales
ex-Fur Mil Trms Inf
Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20
Bissau e Gadamael Porto
1972/74


1. Mensagem do nosso camarada Luís Jales, em 17 de Janeiro de 2008:


Ex.ºs Senhores :
Luís Graça
Carlos Vinhal
Virgínio Briote

Caros amigos : (Permitam que assim os trate)

Chamo-me Luis Jales [de Oliveira], tenho 57 anos, sou casado, tenho duas filhas, moro em Mondim de Basto, Trás-os-Montes e exerço funções de Adjunto do Presidente na Câmara Municipal.

Prestei serviço militar na Guiné de 1972 a 1974, como Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria.

Mobilizado em rendição individual para uma Companhia de Comandos, fui colocado, por insondáveis desígnios do destino, no Agrupamento de Transmissões de Bissau, na Secretaria Geral, até 1973 e depois despachado para a CCAÇ 20, do CTIG, que se formou em Bolama e que partiu para Gadamael Porto onde permaneci até ao fim da Comissão (12 de Maio de 1974).

Sou, portanto, daqueles que, respondendo ao apelo da Pátria herdada, do Estado imposto e do Governo não votado, partiram, um dia, por essas estradas, com os olhos coalhados de Tâmega e suplicantemente ajoelhados aos pés de Nossa Senhora da Graça.

Daqueles que foram arrancados violentamente do colo materno, do aconchego do lar e das telúricas fragas do Marão sagrado, para partirem, de madrugada, deixando a cama desfeita e, quantas vezes, uma vida a germinar na barriga das companheiras.

De todos aqueles que voaram sobre os continentes, navegaram sobre os oceanos e desembarcaram, de peito feito, nas praias escaldantes duma África que os enfeitiçou.

De todos aqueles que durante dois estáticos e intermináveis anos comeram o pão que o diabo amassou, comungaram dos horrores da guerra revelada e beberam do cálice que transbordava de sangue, que transbordava de suor e que transbordava com as lágrimas derramadas. O amargo cálice das saudades, o amargo cálice da fome, da sede, do calor, da ansiedade e do desespero, das febres e das viroses, da distância e da loucura, do pasmo e do horror, do silencio e do sofrimento. Do cálice da dor, do cálice do martírio, mas também do cálice da redenção.

De todos aqueles que por obras valorosas da lei da morte se foram libertando, partidos pelas rajadas, estilhaçados pelos morteiros, rachados a foguetão e nas minas crucificados. De todos aqueles a quem a alma foi arrancada, a quem a alegria foi interrompida e a quem a esperança foi degolada,

De todos aqueles de quem o Estado cobardemente se esqueceu e de todos aqueles a quem a sociedade, estupidamente, apontou o dedo castigador.

De todos aqueles que foram ultrajados e sobre quem pesa o estigma condenatório.

Mas também de todos aqueles que vão saldando, aos poucos, as contas com os processos pendentes dum passado que não passou e que continua e há-de continuar excessivamente presente até ao fim.

Porque os nossos corpos ainda tresandam a África e as nossas noites continuam povoadas de fantasmas, bombardeadas de sobressaltos e minadas de pesadelos.

Sou, portanto daqueles que voaram sobre o maciço do Futa-Jalon, contemplando entre o Cabo Roxo, a Norte, e a Ponta do Café, a Sul, os palmares, os mangais e as lalas, a floresta e a savana, as terras vermelhas e os baga-baga, as queimadas e as culturas de rotação, o tarrafe e as bolanhas, o lençol omnipresente que penetrava apaixonadamente aquela mulher negra e sensual que um dia foi baptizada com o nome de Guiné.

E que viram, no ventre daquela mulher africana, pulular búfalos, hienas e leopardos, macacos do tarrafe, cachoros de mango, ratos voadores, gazelas de lala, porcos pretos, irãs cegos, jibóias e cobras cuspideiras, lagartos e ratos das palmeiras, macacos-cão, pelicanos, abutres, garças, gaivotas e maçaricos, rolas, perdizes e pombos torcaz, cachos calderon, colibris, galinhas do mato e íbis sagradas.

E que viram , nas suas veias, nadar peixes-sereia, bicas, bicudas e cações, candambas, safias e bentanas, jotós, peixes saié e tubarões.

De todos aqueles que voaram nas asas dum passarinho parecendo escutar o mavioso som dos violinos Fulas, que Djagras de barbas brancas acariciavam debaixo dos venerandos Bissilon, nas margens da lagoa de Cufade, onde os nenúfares explodiam em luxúria multicolor.

Eu sou daqueles em quem permanecem, gravadas a fogo, as imorredouras imagens em que se agigantam, como emblemáticas, a dança dos flamingos cor de rosa nas margens silenciosas dos rios de maré e o recorte das bajudas semi-nuas balançando, com graça e altivez, os chalavares dos camarões, nos indescritíveis poentes rubros das bolanhas do chão sagrado.

Eu sou daqueles onde permanecem, também, sacramentados, o cheiro seco do mato após as queimadas, o odor desagradável dos pântanos e das bolanhas, a dor dos olhos cansados pelo sol do meio dia, o buque-buque enigmático dos tantãs guerreiros durante a noite, o ondular das lalas verdejantes, a arte dos Nalus, o brio das mancanhas e o porte dos homens grandes ornados com a dignidade dos barfacon.

Eu sou, portanto daqueles que dormiram, primeiro, nas valas e nos abrigos e depois numa tabanca, deitados numa maca de campanha inglesa, com um cantil a servir de travesseira e que perderam a conta, por não terem máquina calculadora, ao número das morteiradas 120, das canhoadas sem recuo supersónico, e dos foguetões Strella, ou SAM 3 com seis buracos de propulsão, que sobrevoaram aquele chão com o nosso nome etiquetado como destino.

E eu que sou da Tabanca de Gadamael e que servi às ordens de Tomás Camará e de Adriano Sisseco, venho bater, agora, à porta da Tabanca Grande da camaradagem, ansiando por um abrigo e para que possam partir comigo a castanha de cola de tantas e tão marcantes recordações.

Um grande abraço.
Luís Jales

Morada : Rua Comendador Alfredo Alvares de Carvalho
4880 Mondim de Basto

Telm : 966495651
Tel. Casa : 255.382011
Tel. Serviço : 255.389300 – 255.389304
luisoliveira@cm-mondimdebasto.pt
luis.jales.oliveira@gmail.com


2. Comentário de CV

Caro Luís Jales

Bem-vindo à nossa Tabanca Grande, onde não é preciso pedir licença para entrar.

A porta está sempre aberta para algum camarada que se nos queira juntar ou amigo da Guiné-Bissau, que por gostar, de algum modo, da terra onde passámos dois dos mais árduos anos da nossa vida, é também nosso amigo.

Por muito que tenhamos sofrido, aquela terra marcou-nos definitivamente, para o bem e para o mal, e com isso viveremos até ao fim dos nossos dias.

Fica combinado que a partir de hoje deixarás essa coisa horrível, entre camaradas, que é o excelentíssimos disto e daquilo. Os verdadeiros camaradas, independentemente dos postos que tiveram, tratam-se por tu.

Acomoda-te, prepara as tuas estórias e as tuas fotografias e conta-nos aquilo que tens guardado em papel ou na memória do tempo, para aumentares o nosso espólio.

A nós, Tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não vão acusar de deixar esquecer o passado duma geração que viveu uma guerra esforçada. Aos nossos filhos e netos deixaremos um legado histórico contado pelos intervenientes.

Na nossa página, do lado esquerdo, poderás consultar as nossas dez normas de conduta, que são afinal, preceitos de gente civilizada que se respeita e tolera ideias diferentes.

Deixo-te um abraço de boas vindas em nome de toda a Tabanca.

CV