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sábado, 29 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16655: Inquérito 'on line' (78): Até agora, num total de 26 respostas (provisórias), só temos 2 casos de desertores durante a comissão no CTIG. Vamos chegar às 100 respostas até 5ª feira, 3/11/2016, às 15h34 ?!


Guiné > Bissau > 29 de dezembro de 1971 > Chegada a Bissau do N/M Niassa. Foto do álbum de António Sá Fernandes, ex-alf mil, CART 3521 (Piche) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão) (1971/73). A  companhia independente CART 3521 viajou com o BART 3873, composto pelas CART 3492, Cart 3493 e CART 3494: a partida de Lisboa foi em 22/12/1971.



Guiné > 26 de dezembro de 1971 > CART 3521  (1971/73) > Viagem do pessoal em LDG,  a caminho de Bolama, para a IAO. Mais tarde, a CART 3521 é3 colocada em Piche.

Foto do álbum de António Sá Fernandes,  que vive em Valença, e foi alf mil, CART 3521 e Pel Caç Nat 52, tendo substituído, como comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro e nosso camarigo.


Comentário de Henrique Martins de Castro, em 17/7/2008: 

"Camasradas da Cart3521,  em especial o autor desta foto, em que está o alferes Sá Fernandes, o alf Martins, o alf Coelho e salvo erro alf Novais e mais camaradas da Cart 3521 ,eu, o Castro condutor,  não serei aquele que está sentado no banco com o relógio no pulso direito? Agradeço resposta em comentário,ou para o mail henrique_50_@hotmail.com Um abraço para todos, Henrique Martins de Castro".

Fotos (e legendas):  ©: António Sá Fernandes (2012) [Edição  e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"


1. Nenhum, na metrópole  > 16 (61%)

2. Nenhum, no TO da Guiné  > 21 (80%)

3. Um, na metrópole  > 4 (15%)

4. Dois, na metrópole  > 1 (3%)

5. Três ou mais, na metrópole  > 1 (3%)

6. Um, no TO da Guiné > 2 (7%)

7. Dois, no TO da Guiné  > 0 (0%)

8. Três ou mais, no TO da Guiné  > 0 (0%)


Total de respostas (provisórias), 
até às 18h00 de hoje, 29/10/2016, sábado > 26


Inquérito em curso até  3/11/2016, 5ª feira, às 15h34 (*)


2. O inquérito foi sugerido pelo nosso grã-tabanqueiro António José Pereira da Costa
 [, cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt , CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74,] nestes termos:

(...) "Podemos lançar um inquérito 'à Luís Graça',  com a pergunta: quantos camaradas desertaram na minha unidade no TO daquela PU?  As cinco hipóteses:  nenhum, um, dois, três ou mais de três

Não se aceitam respostas do tipo 'não sei/não me lembro', uma vez que um caso de deserção numa companhia era um caso muito falado." (...) (**)


Esperemos que o número de respostas dos nossos camaradas, até 5ª feira,  chegue pelo menos à centena. 

Uma chamada de atenção: o nosso inquérito desta semana contempla as duas situações:


(i) a hipótese de deserção ter ocorrido na metrópole, 
no decurso da formação da companhia (ou equivalente) 
ou na véspera do embarque 
(caso, por ex., da CCAÇ 2402): 

(ii) ou ter ocorrido já no TO da Guiné, 
durante a comissão (incluindo o período de férias) 
(caso, por exemplo, da CCAÇ 3489)

Podem e devem ser dadas duas respostas: por exemplo, 

1. Nenhum [caso de deserção], na metrópole; e 2. Nenhum [caso de deserção], no TO da Guiné. 

Ou então: 3. Um [caso de deserção], na metrópole; e 2. Nenhum [caso de deserção ], no TO da Guiné.

______________

Nota do editor:



(**) 27 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16647: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (15): Desertor era o militar que (i) foi incorporado, (ii) estava nas fileiras e (iii) as abandonava ao fim de algum tempo... Desconfio um bocado do número de desertores que foi avançado pelos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins, se for aplicada a definição exacta dos regulamentos da época (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13402: Convívios (613): IX Encontro do pessoal da CART 3521, levado a efeito no passado dia 7 de Junho de 2014 (Henrique Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Martins de Castro (ex-Soldado Condutor Auto, CART 3521, Piche, Bafatá e Safim, 1971/74), com data de hoje, 15 de Julho de 2014:

Camarada Vinhal.
Mais uma vez e pela última organizei, no passado 07/06/14, um convívio da CART 3521. Devido à atual conjuntura económica, ao falecimento de alguns camaradas e à falta de vontade de mais de 70% dos ex-militares em estarem presentes, estiveram 19 e as respetivas famílias, e apesar de no convite informar que tinha para oferecer 2 DVD, um com um filme feito por mim na Guiné e o nosso primeiro encontro e outro com 2 horas de gravação com o 1.º, 2.º, 3.º e 4.º encontros, o 7.º está gravado no Youtube, assim como o 9.º, estou desanimado e resolvi encerrar este ciclo.

Agradeço que publiques estas fotos no blogue e que escrevas também que o filme está no Youtube. Para ser visto basta escrever CART 3521.

Henrique Castro


Vídeo do IX Encontro do pessoal da CART 3521 alojado no Youtube

Bolo comemorativo do Encontro da CART 3521

O camarada Vieira e o Comandante da CART 3521

O casal Magalhães, sentados, e a esposa do Coimbra

 A viúva do falecido camarada Massarelos e a esposa do Henrique Castro
 ____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13384: Convívios (612): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 17 de Julho de 2014, em Cascais (José Manuel Matos Dinis)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9700: Efemérides (86): Operação Topázio Maior - Páscoa de 1972 (Adriano Neto)

1. Mensagem do nosso camarada Adriano Neto (ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74), com data de 29 de Março de 2012:
 
Quando regressei da Guiné, pensei que a maneira mais fácil de encerrar o capítulo de 25 meses de calor, sede, humidade, pó, abelhas, minas etc., seria rasgar todas as cartas, aerogramas, outros objectos e apontamentos que tinha trazido, ficando apenas com algumas fotos.
Foi o que fiz. A integração na vida civil tomou o seu rumo normal, sem qualquer mazela ou trauma de guerra.

O Luís que me perdoe, a ideia maravilhosa que teve, em criar e editar o Blogue, que comecei a acompanhar em 2009, mas que só em finais de 2011 passei a integrar, avivou-me memórias que estavam bem enterradas.
Deste modo, não resisto em partilhar com todos os ex combatentes da Guiné e em especial com os da CART 3521, a tão marcante “Operação Topázio Maior".

Como já disse, tudo o que me fazia lembrar a Guiné, foi destruído, assim peço a vossa melhor compreensão para alguma falha no meu testemunho.

Terminado o IAO tirado em Bolama, a CART 3521 chegou a Piche a 29/01/72, onde foi recebida de braços abertos pelo pessoal da CART 3332, Companhia que fomos substituir e do BCAV 2922.

Até 18/02/72 foi feita a sobreposição, sempre com o acompanhamento de grupos de combate da CART 3332, que se despediu de Piche a 19/02/72. Os primeiros vinte dias de acção foram tempo suficiente para percebermos que estávamos em zona de grande perigo, onde a qualquer passo o IN espreitava. Bastava recordar o malogrado dia 26/10/71, na estrada Piche-Nova Lamego a CART 3332 sofreu uma emboscada, onde morreram 4 dos seus homens e vários ficaram feridos.

Continuámos a nossa actividade, com grandes acções de patrulhamento, diurno e nocturno, bem como colunas a Buruntuma, Canquelifá, Nova Lamego, Bafatá etc.

“Zona de Guerra” (foi a mensagem deixada pelos companheiros da CART 3332, corroborada pelo pessoal do BCAV 2922: Buruntuma CCAV 2747, Canquelifá CCAV 2748 e Piche CCAV 2749).

Estávamos em finais de Março de 72, dois meses de acções continuadas, alguns quilómetros de patrulhamento e muitos mais de Unimog ou Berliet. Ainda hoje tenho consciência, que não seria ofensa para ninguém, se à data nos chamassem “periquitos”.

Com ou sem experiência, é sob ordem de alta patente, que muitas vezes era surda, cega e muda, que tínhamos que obedecer. Será que, com apenas dois meses de teatro operacional, seria razoável mandar tropas para a zona de Madina do Boé? Eles eram quem sabia… e sem escrúpulo, mandaram-nos para terras que ninguém gostou de pisar. Assim, com obediência, a CART 3521 teve o seu primeiro baptismo numa grande operação, de código “Topázio Maior” .



CRONOLOGIA “OPERAÇÃO TOPÁZIO MAIOR" 

Dia 31/03/72 (Sexta-Feira Santa)
É sob as ordens do Comandante de Sector que toda a Companhia ainda “periquitos”, partiu de armas e bagagens, para Nova Lamego, com o objectivo de participar na "Operação Topázio Maior", que se desenrolou nos chãos de Madina do Boé e tendo como missão o patrulhamento de Canjadude até Bilonco, eixo Ché Ché-Madina do Boé. Não sei se esta zona, depois do fatídico acidente de 06/02/69, que envolveu as CCAÇ 1970 e 2405 (Desastre de Ché Ché/Retirada de Madina do Boé), mais alguma vez tinha sido patrulhada pelas NT.

À data a (tragédia de Ché Ché) estava bem presente na memória de todos os combatentes CTIG. O pessoal da CART 3521 não foi excepção. Retomando o dia 31/03/72, nesse mesmo dia, o 4.º Grupo de Combate, escoltando o 28.º Pelotão de Artilharia, que nos foi apoiar, deslocou-se para Canjadude e restante pessoal pernoitou em Nova Lamego.

Dia 01/04/72 (Sábado de Aleluia)
O 1.º, 2.º e 3.º Grupos de Combate juntaram-se ao 4.º. Foi em Canjadude, terras da CCAÇ 5 e base de apoio para esta Operação, que os comandos da CART 3521 detalharam ao pormenor o que foram os dias seguintes.

Estávamos em plena época seca, o sol tórrido que fazia subir os termómetros até aos 35º, a zona despovoada para onde íamos seguir, obriga-nos a redobradas atenções, com explicação detalhada a todos os intervenientes, como com coragem e determinação devíamos enfrentar os piores cenários que nos pudessem aparecer.

Dia 02/04/72 (Domingo de Páscoa)
Pelas 7h30, com o apoio de um pelotão da CCAC 5, que foi incumbido de fazer a picagem, a CART 3521, deixou Canjadude e deslocou-se pela estrada de Ché Ché, em direcção à margem direita do rio Corubal. No percurso foram detectadas pelos homens da CCAÇ 5, várias minas anti-pessoais PMD6, no total de 16, sendo o pessoal especializado da nossa Companhia, que com grande sucesso, as desarmou e levantou. Cerca das 11H30, debaixo de um calor escaldante, chegámos ao rio Corubal. Tanto calor e um rio onde a água corria com abundância, convidavam a um banho, alguns soldados ainda o sugeriram, mas não, os perigos eram enormes e foi muito fácil controlar toda a gente.

É com o cenário das águas do rio, deslizando suavemente, que a Companhia se instalou no seu esquema de segurança, garantindo toda a tranquilidade aos homens, que iniciaram a montagem dos barcos, que minutos depois nos transportaram para a margem esquerda (Sul).

Sabíamos que estávamos em zona de domínio total do IN, o pessoal estava apreensivo, à memória de todos, veio o desastre de Ché Ché, pois estávamos no mesmo local e tínhamos que cambar as mesmas águas do Corubal, onde no dia 06/02/69 tinham perdido a vida 47 camaradas.

O ambiente estava pesado, diria mesmo fúnebre e tudo começava a ficar pronto, para que se desse início aos trabalhos, com passagem de toda a Companhia para a outra margem.

Inesperadamente, vindos do céu, ouvem-se ruídos estranhos. Para a maioria do pessoal, o roncar do motor dos T-6, era mesmo uma novidade. Para nossa segurança estes pássaros roncantes patrulharam na zona, toda a margem esquerda (sul) do Corubal, local para onde nos iríamos deslocar. Um T-6 fez mesmo um ou dois voos rasantes ao leito do rio.

Do mesmo modo que os T-6 apareceram, desapareceram! Silêncio absoluto. No rosto dos camaradas foram visíveis sinais de segurança e confiança. Foi dada ordem para avançar, não me lembro qual o primeiro Grupo de Combate que se fez aos barcos, mas foram estes homens na margem oposta e em terras de Ché, Ché que emboscados fizeram segurança, permitindo a continuidade da travessia. Pelas 13h30 foi concluído e ultrapassado este obstáculo. A CCAÇ 5, que fazia segurança aos últimos homens da Companhia que navegavam as águas do Rio, regressou a Canjadude, a CART 3521, já em chão de Ché Ché, seguiu a missão.

Em formação bem ordenada, cumprindo meticulosamente os ensinamentos transmitidos, progredimos em direcção a sul, até à margem direita do Rio Cauchã. Aqui, ainda com sol, sem qualquer incidente, nem sinais do IN, montou-se, conforme mandavam as normas a emboscada nocturna.

Dia 03/04/72 (Segunda-Feira de Páscoa e dia de Páscoa nas terras de muitos dos que compunham a CART 3521).
Com o despontar do sol, deu-se início ao levantamento da emboscada. Um sol escaldante, água a conta gotas, zona totalmente deserta, inimigo que era dono e senhor daquelas terras, era o que constava no detalhe da Operação. Com este puzzle bem definido, iniciámos o patrulhamento em direcção ainda mais a sul, rumo ao monte de Bugafal. Aqui, quando contornávamos em fila de pirilau, o monte pelo lado esquerdo e utilizado o velho meio de comunicação, “palavra passa palavra” foi dada uma ordem de paragem, com indicação que seria necessário informar o Comando Superior, da nossa posição no terreno. A Companhia ficou parada conforme seguia, se não me falha a memória, a posição no terreno dos Grupos de Combate foi a seguinte: à cabeça o 3.º do qual eu fazia parte, seguido do 1.º, 2.º e 4.º.

Expectantes aguardávamos a ordem para avançar, mas esta tardava a chegar. Ouviram-se dois rebentamentos seguidos de dois tiros, logo verificámos que era fogo de armas da nossa tropa. Exactamente. Os tiros foram de G3, os rebentamentos de granadas defensivas. Não tivemos qualquer dúvida, algo de anormal se estava a passar. Segundos depois chegou a informação; situação gravíssima! Estávamos a ser flagelados por um violento ataque de abelhas que atingiu fortemente metade da Companhia, 1.º e 2.º Pelotões, com especial incidência, no nosso querido Agostinho Mendes, homem das transmissões que com a antena do Rádio deve ter tocado nos bichinhos, estes sem hesitar abateram-se sobre ele e não mais o deixaram fugir. Viu-se desesperado e terá pensado que com o rebentamento das granadas resolvia o problema, sem êxito, sem forças e carregado de dores, terá posto a G3 em posição automática e disparou dois tiros no peito, ao nível do coração.

Com o ataque deste exército natural, que eram aos milhões, metade da Companhia fugindo dos insectos, abandonou completamente a zona. Afastaram-se tanto, que cerca de 20 homens perderam totalmente o contacto com o restante pessoal. Com esta flagelação, executada pelos principais aliados do IN, a Companhia ficou operacionalmente reduzida a dois grupos, um à frente e outro atrás do foco do ataque. Tínhamos muita gente dispersa na mata e completamente perdidos. Havia necessidade de os encontrar para que fossem reagrupados. Em poucos minutos formou-se um grupo de homens e iniciou-se uma batida de zona num raio de 2 quilómetros.

As horas passavam, estávamos no pico mais alto do sol que em brasa se abatia sobre nós. Cansados, extenuados, sem água e forças, lá se conseguiu reagrupar quase todo o pessoal, sim quase todo, faltava-nos ainda o Comandante do primeiro Grupo de Combate que continuava a monte. Este companheiro, já antes do ataque, manifestava sinais de grande fragilidade física, arrastando-se com dificuldade. Por esta razão, aquando da paragem, foi logo pedida a sua evacuação.

Com a chegada dos meios aéreos, foi-lhes solicitado que nos dessem apoio, para a localização do oficial que continuava fora do nosso alcance. Foi o piloto do bombardeiro T-6 que fazia protecção ao helicóptero que vinha fazer a evacuação quem detectou, a cerca de 2 quilómetros do local onde nos encontrávamos, o nosso camarada Alferes Jorge O. Martins. Seguindo as orientações dadas pelos pilotos do T-6 e helicóptero e graças à força, coragem e determinação do Alferes José António Novais, conseguimos recolher o camarada completamente desfalecido e brutalmente picado.

Informado do que se passou, o General António de Spínola, deslocou-se ao local, inteirou-se da ocorrência e autorizou a evacuação da vítima mortal, bem como dos feridos.

O cenário foi dramático, muitos companheiros; soldados, cabos, furriéis e alferes, estavam exaustos, sem forças e sem água para molhar os lábios, que de secos teimavam em se colar. Mas era preciso tratar dos feridos e dar início às evacuações por ordem de urgência, pois tínhamos combatentes, que com tantas mordeduras, estavam completamente irreconhecíveis, correndo risco de vida. Depois de prestada toda a assistência, chega finalmente a água que vinha em bidões, talvez por lavar, pois foram visíveis sinais de muita gordura. Mais limpa ou menos limpa, não era importante, precisávamos era do tão precioso líquido e esse brilhou aos nossos olhos.

Controlar tanta gente que quase morria de sede e manter toda a segurança, não foi tarefa fácil, valeu a ordem de comando dos que por força das circunstâncias, tinham sido mais poupados e ainda conseguiam manter a cabeça fria, para ir transmitindo a todo aquele pessoal, que estávamos à beira do abismo, logo a ordem foi; “manter rigor e segurança, cuidar de nós seria o mais importante”. Com muita ordem e moderação, o pessoal bebeu e encheu os cantis do tão desejado líquido.

Admitíamos que o número de evacuados fosse grande, mas só no fim das evacuações, pudemos apurar com rigor o seu total (25): Feridos graves (picadas de abelha) 4, insolação 15, astenia 2, paludismo 1, ataque cardíaco 1, epilepsia 1, mortos 1.

Os grandes aliados do IN, sem utilizarem armas de fogo provocaram uma tragédia. No momento contabilizávamos um morto, mas dado o estado crítico em que alguns companheiros foram evacuados, temíamos que mais pudessem vir a falecer. Felizmente que não e todos recuperaram. Com a Companhia reduzida a 2/3 do seu pessoal e o moral da tropa muito em baixo, o Comando-Chefe depois de informado de toda a situação, deu instruções para que a missão fosse alterada.

Por toda a movimentação dos T-6, bem como do vai e vem dos helicópteros, sabíamos que o IN nos teria bem identificados, tínhamos que sair dali rapidamente. Recebidas todas as instruções, o pessoal abandonou a zona, com uma alteração radical, do que anteriormente estava definido para a missão.

De novo em progressão, a Companhia com menos 25 homens, seguiu em direcção ao Rio Cauchã, palmilhou toda a sua margem direita, até à confluência com o Rio Corubal. Neste percurso avistámos pessoas na margem esquerda, supostamente seriam elementos afectos ao PAIGC, não deram pela nossa presença e nós evitamos o contacto. Continuámos o patrulhamento até ao ponto de altitude 72, aqui, já sem sol, montámos nova emboscada e passámos a noite.

Penso que ninguém passou pelas brasas, primeiro porque sabíamos que o IN andava por perto, segundo porque as duas bocas de fogo do 28.º Pelotão de Artilharia, que nos dava apoio na missão, toda a noite fez fogo com o objectivo de dissuadir o IN.

Dia 04/04/72 - Com o romper do sol e aproveitando o fresco da manhã, dirigimo-nos para o Ché Ché e dali para a margem esquerda do Corubal. De novo tivemos que repetir o que dias antes tínhamos feito. Na margem direita, aguardava por nós um grupo de combate da CCAÇ 5, que nos escoltou até Canjadude e daí até Nova Lamego. Aqui, aparentemente em segurança, pernoitámos em casa emprestada, de 4 para 5/4/72.

Dia 05/04/72 - Em coluna militar, regressámos ao Quartel General (Piche), sem qualquer incidente.

FIM DA OPERAÇÃO
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9290: Efemérides (62): A CART 3521 chegou à Guiné no dia 29 de Dezembro de 1971 (Adriano Neto)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9290: Efemérides (83): A CART 3521 chegou à Guiné no dia 29 de Dezembro de 1971 (Adriano Neto)


29DEZ71 > Chegada a Bissau do navio Niassa - Foto ©: Alferes Miliciano Sá Fernandes CART 3521


1. Mensagem do nosso camarada Adriano Neto (ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74), com data de 29 de Dezembro de 2011:

Caro Luis,

Na nossa vida há dias que jamais esqueceremos, este é um deles.

Camaradas, companheiros e amigos da CART 3521, para os vivos que felizmente são muitos, um grande abraço, aos mortos, que a sua alma descanse em Paz.

Faz hoje 40 ANOS que passámos a integrar o contingente de tropas, no Teatro de Operações da Guiné (CTIG).

No dia 29/12/1971, atracou no porto de Bissau, o navio NIASSA que tinha zarpado de Alcântara no dia 22/12/1971, com a missão de fazer chegar a bom porto a CART 3521 e o BART 3873.

Consciente que a memória, pelo tempo passado, poderá não estar muito bem afinada, creio que só tiveram direito a pisar o chão de Bissau alguns graduados, o restante pessoal ficou na área circundante ao porto, a aguardar a entrada para a LDG, que horas depois começou a navegar na direcção de Bolama.

Foi nesta Ilha que celebrámos a primeira das três passagens de ano em Território da Guiné. Periquitos, cheios de medo, aguardámos com ansiedade que a meia-noite chegasse. Penso que não tivemos direito a "rancho" melhorado, muito menos a champanhe.

Ao longe ouvimos rebentamentos, alguém estaria a embrulhar, não me lembro se chegámos a saber onde foi.

Assim foi a nossa chegada à Guiné e os três primeiros dias em terra de guineenses.

Quis ser breve, pois só no fim de jantar tive oportunidade de escrever esta dúzia de palavras.

Um abraço para toda a Tabanca Grande e um 2012 recheado do que mais desejarem.
Adriano Neto
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9198: Tabanca Grande (311): Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9219: Efemérides (61): A invasão da Índia Portuguesa em 18 de Dezembro de 1961 (José Martins)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9198: Tabanca Grande (311): Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74

1. No dia 30 de Novembro de 2011 chegou ao nosso Blogue este primeiro contacto do nosso novo tertuliano Adriano Neto:

Caro Luis,
Desde 2009 que sou um visitante assíduo do blogue criado e editado pela tua pessoa.
Também como combatente, de 29/12/1971 a 22/01/1974, vivi nessas terras da Guiné, minutos, horas e dias que pareciam não mais ter fim.

Chegou o dia de também querer fazer parte dessa Tabanca Grande, para tal gostava de saber; como e o que devo fazer para me registar no blogue.

Aguardo com expectativa a tua resposta.
Um abraço
Adriano Neto
Ex-Furriel Miliciano


2. No dia 4 de Dezembro foi enviada resposta ao nosso novo camarada:

Caro camarada Neto
Muito obrigado pelo teu contacto e por seres nosso atento visitador.
Chegou a hora de te juntares a nós e de contares à tertúlia as tuas memórias e mostrares as tuas fotos.
Que precisamos?
Manda uma foto tua do teu tempo de Guiné e outra actual, de preferência tipo passe, para encimarem os teus postes.
Diz-nos o teu antigo posto, especialidade, Companhia e Batalhão se for o caso, datas de ida e volta, os chãos que palmilhaste e outros pormenores que julgues que possamos saber de ti.
Escreve para já uma pequena história de apresentação sobre ti ou sobre a tua unidade, junta alguma foto se tiveres. Não esqueças que as fotos devem trazer sempre a respectiva legenda para sabermos quem está nela, local, situação, etc.

A tua correspondência dever ser sempre enviada para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos editores, a saber:
Carlos Vinhal - carlos.vinhal@gmail.com
Eduardo Magalhães - magalhaesribeiro04@gmail.com

Vamos então ficar à espera do teu novo contacto.
Recebe desde já um abraço em nome dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal


3. No dia 12 de Dezembro recebemos este mail do nosso camarada Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74:

Camarada Luis,
Obrigado pela rápida resposta.
Passo à apresentação:

Adriano Lopes dos Santos Neto
Posto - Ex-Furriel Miliciano
Especialidade - Atirador de Artilharia
Companhia - CART 3521 e CCAÇ 11

Depois de ter terminado a 26 de Junho de 1971 o 2.º ciclo de Sargentos Milicianos de Artilharia (Atirador de Artilharia) na EPA Vendas Novas, fui colocado no GACA 2 Torres Novas. Foi nesta Unidade que me chegou a informação do destino africano que me foi atribuído.

Em Agosto/Setembro foi-me passada a guia de marcha para o RAP 2, Serra do Pilar, Vila Nova de Gaia, cujo objectivo seria a formação da CART 3521 e a preparação para o melhor desempenho nas bolanhas da Guiné. Tudo isto se passou até 21/12/1971.

No dia 22/12/1971, depois de cumpridas todas as formalidade que eram obrigatórias, eu bem como todo o pessoal da CART 3521 e do BART 3873, fomos metidos no navio NIASSA rumo à Guiné, onde chegámos no dia 29/12/1971.

A CART 3521 não fazia parte do BART 3873, pois foi formada e mobilizada como uma Companhia Independente, contudo, se a memória não me falha, logo que chegámos a Bissau o destino foi o mesmo, apanhar uma LDG direitinhos a Bolama onde durante um mês fizémos o IAO.

Findo o IAO e de novo de LDG, à data o melhor meio de transporte, rumámos até ao Xime. Daqui o BART
3873 seguiu para Bambadinca e a CART 3521 para Piche, onde passa a fazer o seu Quartel General.

Como já disse, a CART 3521 foi mobilizada como uma Companhia Independente (intervenção), deste modo estava à disposição do Batalhão de Piche e Nova Lamego, sendo o Leste toda a nossa zona de acção, melhor dizendo, estaríamos onde fosse preciso.

Foi assim que de Piche efectuámos colunas, operações, patrulhas nas zonas de Buruntuma, Canquelifá, Nova Lamego, Bafatá, etc, etc., não esquecendo a segurança diária à Tecnil (empresa que construía a estrada para ligar Piche a Buruntuma). Foi esta a actividade da Companhia até ao dia em que recebi a informação que iria ser destacado para a CCAÇ 11, Paunca.

Nestes meses árduos e brutalmente desgastantes já a Companhia tinha duas baixas. A primeira por acidente com arma de fogo, a segunda vítima de ataque de abelhas na Operação Topázio Maior, (já identificados pelo camarada Henrique Castro também da Companhia).

Finais de Junho meados de Julho de 1972, (não tenho a data registada), deixo a CART 3521 e rumo para os chãos de Paunca, passando a integrar a Companhia de Africanos CCAÇ 11, onde permaneci até ao fim da comissão. Na CCAÇ 11, bem como em todas as Compahias Africanas, todo o pessoal à excepção dos graduados e especialistas, eram de origem Guineense. Com este pessoal contruí uma camaradagem sã, tenho saudades de alguns momentos, pese embora também tenha tido alguns conflitos que pontualmente foram resolvidos. Após a Independência não sei o que lhes aconteceu, mas lamento que possam ter sido abandonados.

Nos meses em que estive na CCAÇ 11 a Companhia sofreu três mortos, 01/02/1973 Mamadu Embaló, acidente com viatura NT, que ia socorrer o grupo de combate que tinha sido flagelado, 15/06/1973 Boido Baldé e Saliu Baldé rebentamento de minas anti-carro quando faziam a picagem do trilho.

Em Dezembro de 1973 deixei as terras de Paunca e regressei a Bissau, sem mais voltar à CART 3521, Companhia a que pertencia. Para trás ficavam os chãos onde vivi noites e dias de boas memórias, mas também episódios que jamais esquecerei. Apenas vou referir um; não tenho o dia registado, mas de manhã cedo saímos em coluna militar e civíl de Paunca para Bafatá, via Nova Lamego, na ida tudo bem, no regresso e já bem perto de Paunca 2 a 3Km, uma viatura Berliet, penultíma da coluna, bem carregada de sacos de areia, que era comum, e de arroz que tinhamos recolhido em Bafatá, rebenta uma mina anti-carro de uma potência brutal. Eu e os camaradas que seguíamos na viatura saímos ilesos de quaisquer ferimentos, milagre, pois a viatura ficou com o rodado esquerdo literalmente destruído.

Em Bissau aguardei ansiosamente pelo regresso, prometido para o dia 19/01/1974, em vôo da FAP.
No dia 19/01/1974 de manhã cêdo eu e outros camaradas fomos direitinhos a Bissalanca, cêdo porque se podia fazer tarde, para apanhar um Noratlas que iria chegar de Lisboa. Iria chegar mas não chegou! Depois de 2 horas de espera fomos informados que por motivos técnicos não levantou de Lisboa e não se sabia o dia em voltaria a fazer a viagem.

Desespero total, mais tempo na Guiné não, apanhei um táxi popular que só parou em frente aos escritórios da TAP, onde fiz a reserva para o 1.º voo que saísse de Bissau.

Foi assim, pagando a minha viagem, que no dia 22/01/1974 deixei as terras da Guiné com destino a Lisboa, com um desvio e aterragem em Faro por não haver condições na Portela.

Termino com um abraço do tamanho da Guiné, para todos os ex-combatentes da Guiné e um do tamanho do Mundo para a Tabanca Grande.
Ex-Furriel Neto

CART 3521 > Desfile em Bolama no fim do IAO

Tabanca nos arredores de Piche > Trabalho de Psico

Em Piche, sensação de proteção. Estas Chaimites eram temidas pelo IN

Aquartelamento de Canquelifá. Eu do lado direito, Furriel Ribeiro e pretinho que ficou orfão de pais num ataque ao quartel

Burumtuma eu e o Furriel Ribeiro. São visíveis os estragos provocados pelo ataque do IN uns dias antes da nossa chegada. Daí a necessidade do nosso apoio na zona

Capelinha em Buruntuma. Eu depois de um agradecimento à Virgem Maria

Já estou em terras de Paunca, mas não sei o que estou a fazer. Será que vimos da caça!

Em Paunca Natal de 1972. A refeição não é de bacalhau, mas sim leitão preparado pelo pessoal

Paunca > Alguns furriéis da CCAÇ 11. O único que é da Guiné (cabo-verdiano) é o Reis Pires primeiro lado direito


4. Comentário de CV:

Caro Neto, só duas palavras para te dar as boas vindas ao Blogue, a esta Tabanca, ou Caserna virtual, onde o que nos une é muito, porque todos pisámos aquela terra vermelha, atravessámos bolanhas, suamos debaixo do mesmo sol escaldante, sofremos privações semelhantes e deixámos por lá o nosso suor e alguns até o sangue.

Aqui não conta a idade, o sexo, as habilitações literárias ou posição social/profissional. Tratamo-nos todos por tu, porque a amizade e camaradagem assim o impõem. Não impede isto, o respeito e a aceitação da diferença de opinião. Discutir sempre que se julgue oportuno e necessário, evitando o confronto directo e de tom agressivo e provocatório.

Esperamos a tua regular colaboração de acordo com a tua disponibilidade.

Em nome da tertúlia e dos editores, deixo-te um abraço de boas vindas.
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9194: Tabanca Grande (310): Luís Gonçalves Vaz, professor, filho do Cor CEM Henrique Vaz (1922-2001)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7620: Álbum fotográfico de António Sá Fernandes, ex-Alf Mil da CART 3521 e Pel Caç Nat 52 (Guiné 1971/73) (1): De Mafra à Guiné

1. Mensagem de António Sá Fernandes (ex-Alf Mil, CART 3521 e Pel Caç Nat 52, Guiné 1971/73), com data de 10 de Janeiro de 2011:

Meu caro:
Tendo em vista a publicação no blogue da Guiné, envio estas fotos.

Um abraço
Sá Fernandes
Valença




Mafra - COM

COM - Vendas Novas, 1970


3.º Pelotão V. N. Gaia 1970


Chegada a Bissau-1970


3.º Pelotão da Cart 3521


LCD - Bolama


Construção de pontão


Com o amigo Novais


Bafatá - 1972


Cart 3521
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2788: Tabanca Grande (64): Apresenta-se Sá Fernandes, ex-Alf Mil da CART 3521 e Pel Caç Nat 52 (Guiné 1971/73)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7047: Em busca de... (145): Informações sobre a viatura blindada Chaimite e o seu comportamento no CTIG (Juvenal Amado / Pedro Monteiro)



Guiné > S/l > 1972 > Uma viatura blindada Chaimite V200. Foto de António Rogério Rodrigues Moura [ARRM]. Com a devida vénia...


Fonte: Portal Prof 2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital




Guiné > Bafatá (presumivelmente) > Rio Geba > 1972 >  Uma viatura blindada Chaimite V200, testando as suas capacidades como veículo anfíbio. Na prática, era usada  sobretudo em colunas logísticas , por exemplo na grande estrada alcatroada da zona leste (Xime, Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche...).

Foto de António Rogério Rodrigues Moura [ARRM]. Com a devida vénia... (Pelo que consegui apurar, o António, natural de Cacia, teria pertencido à CART 3521, Piche, Bafatá e Safim, 1971/74, a mesma subunidade onde estiveram ou por onde passaram os nossos camaradas, membros da Tabanca Grande, Henrique Castro e António Sá Fernandes.

Fonte: Portal Prof 2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital





Guiné > Zona leste > Região de Gabú > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Coluna logística, vinda (presumivelmente) de Nova Lamego e a chegar a Piche... À frente uma Chaimite,  seguida de uma White... As duas viaturas deveriam, possivelmente, pertencer ao Esq REex Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)


Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Jacinto Cristina (Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo).


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






1. Resposta de Juvenal Amado a um pedido,  de um leitor nosso (vd. ponto 2), de informações sobre as Chaimites na Guiné:


Caro amigo:


Terei todo prazer em ajudá-lo embora eu não fosse de Cavalaria.


Fiz muitas colunas onde as Chaimites faziam segurança. Felizmente nunca precisaram de actuar na minha presença.


Lembro-me de haver uma equipada com canhão, embora a maioria fosse equipadas com HK  21,  por torre. Depois eram os atiradores que também de dentro podiam fazer fogo.


Quanto ao que a malta pensava sobre a segurança que elas nos davam é difícil explicar. Sabe,  aquilo era uma guerras de pobres e se uma Chaimite corresse perigo mandavam antes os homens à frente.


Eu numa manhã assisti ao efeito que os RPG  perfurantes, fizeram a uma no caminho entre Bafatá e Nova Lamego (Gabu)


Os Guerrilheiros incendiaram e  atacaram na noite anterior uma aldeia, quando a Chaimite chegou ficou toda iluminada e foi violentamente atacada.


Despistou-se e ficou com as metralhadoras num ângulo o qual não permitia defender-se. Foi toda crivada,  tendo havido mortos e feridos.


Penso que o desastre se deveu também em parte a um certo facilitismo pois estariam convencidos que estavam protegidos e avançaram sem segurança.


Bem,  coisas de guerra,  não vale a pena arranjar culpados nem desculpas.


Se puder ser útil em mais alguma coisa estou ao seu inteiro dispor.


Entretanto dei conhecimento ao blogue, pois lá haverá muita malta que lidou de perto com elas.


Um abraço


2. Mensagem enviada ao Juvenal Amada, em 27 do corrente, pelo Pedro Monteiro: (**)


Caro senhor Juvenal Amado,


O meu nome é Pedro Monteiro e sou correspondente para Portugal e colaborador regular de diversas publicações militares (http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/).


Como parte deste trabalho tenho desenvolvido um projecto de investigação sobre o blindado de concepção e fabrico português Chaimite que já levou à publicação de alguns trabalhos na revista portuguesa "Motor Clássico" e [noutras revistas] estrangeiras:


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2008/11/chaimite-research-project-first-article.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2008/12/chaimite-second-article-published.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2009/04/first-article-history-of-familiy-of.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2009/05/gazela-leopardo-and-pantera-history-of.html


 http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2010/04/bravia-chaimite-history-of-first.html


Caso tenha interesse posso, aliás, disponibilizar as digitalizações destes trabalhos.


Estou, pois, a contactá-lo a propósito da sua colaboração com o blogue do senhor Luís Graça onde relata a sua experiência na Guiné. Numa das fotografias surgem duas viaturas Chaimite durante uma visita do General Spínola.


Poder-me-ia dar mais detalhes do emprego operacional das Chaimite na Guiné? Por exemplo, que impressões tinham os militares delas? Quantas estavam ao serviço da unidade de Bafatá? Recorda-se de uma viatura dotada de uma torre Mecar armada com uma peça de 90mm, muito idêntica à Chaimite?


Agradeço, desde já, a sua colaboração! 


Cumprimentos,
Pedro Monteiro (Telemóvel: 93 441 75 34)


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Notas de L.G.:


(*) Último poste da série > 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6960: Em busca de ... (144): O alferes médico miliciano da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63 (George Freire)

(**) Vd ainda os postes:


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4572: Convívios (150): 7º Encontro da CART 3521 - Piche, Bafatá e Safim (1971/74), em Santo Tirso (Henrique Castro)



1. Mensagem do Henrique Castro, Soldado Condutor da CART 3521:


Camaradas,


Mais uma vez, este ano, me coube organizar o convívio anual da minha companhia sendo este o 7º.

Devido à actual conjuntura do país, já era de esperar uma fraca adesão, mas mesmo assim, realizou-se no passado dia 10 do corrente mês (dia de Portugal, das Comunidades e de Camões), em Monte Córdova - Santo Tirso -, junto ao Mosteiro da Nossa Senhora da Assunção.

Por estar um dia bastante chuvoso não nos foi possível sair do restaurante, para ver a beleza exterior e interior do mosteiro, assim como o belíssimo e grandioso parque florestal que o rodeia.

Quero deixar aqui o meu sincero agradecimento á Câmara Municipal de Santo Tirso por ter disponibilizado umas t-shirts, bonés e esferográficas, podendo todos os convivas levar para casa uma lembrança de Santo Tirso, dispensando assim a aquisição do habitual brinde, cujo acrescento tornaria mais dispendiosa o pagamento final do convívio.

Quero também agradecer á filha do nosso camarada Esbrita e ao seu marido, por o excelente trabalho que fizeram, quer nas fotografias, quer no filme.

Quem quiser ver o filme, entra no site www.chaosdanossaterra.tv e clica de seguida na freguesia de Santo Tirso.

Este nosso convívio sofreu um intervalo de 4 anos, em relação ao anterior, que foi em Junho de 2005. Claro que foi muito tempo, pelo que, daqui para o futuro, os convívios serão anuais, independentemente dos locais e da importância monetária que os mesmos acarretem.

Tenho a certeza que há sempre alguém, que não deixará de comparecer dando-me assim bastante força e alegria para continuar.

Faço-o com muito gosto, já o disse no postal de entrada, para o blogue sem qualquer lucro pessoal. Não ganho um euro com isto, apesar de eventualmente alguém pensar que o possa ganhar (o que para mim me é completamente indiferente).

Posso garantir que, antes pelo contrário, pago do meu bolso alguns euros em fotocópias, selos, envelopes, telefonemas e deslocações, para organizar os nossos convívios, além do excessivo trabalho que os mesmos me dão.

Mas, como diz o ditado: Quem corre por gosto não cansa!














Foto 1 – Conjunto dos convivas da CART 3521, excluindo o alferes Sá Fernandes, primeiro tabanqueiro da CART 3521,que teve que se ausentar. Assim, a começar pelo Afonso (casaco branco e óculos), Albano, Leite, Marques, Magalhães, Castro, Esbrita, Capitão, Desidério, Vieira, Sousa, Silveira, Moura, Soares, Matos, Brás Moura, Josué Franco, Brito, Abreu, Caetano e Massarelos.
Foto 2 – As nossas esposas e familiares.















Foto 3 - Eu e minha esposa altamente bem dispostos já depois de comer bem e beber melhor.
Foto 4 - Massarelos e Josué Franco (agora quase vizinhos).













Foto 5 - O nosso capitão junto da minha esposa, a esposa do Albano e a esposa do Magalhães. Parecem preparar uma estratégia de “defesa” mediante um eventual ataque dos maridos. Ao fundo, o Vieira certamente a pensar na vida. O bolo da companhia sem a referência ao “7º convívio da CART 3521”, facto a que sou alheio.
Foto 6 - O capitão e o furriel Albano partem o bolo, eu atrás, e o furriel Magalhães ao lado, observámos o “trabalho” atentamente.

Fotos: © Henrique Castro (2009). Direitos reservados.

Os meus cordiais cumprimentos,

Henrique Castro,
Soldado Condutor da CART 3521
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

terça-feira, 28 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4260: Convívios (119): CART 3521 (Piche, Bafatá, Safim, 1971/74): Monte Córdova, Santo Tirso, 10 de Junho (Henrique Castro)


O nosso Amigo e Camarada Tertuliano Henrique Castro (*), solicita-nos que publiquemos o seguinte apelo a todos os "guerreiros" da CART 3521, seus familiares e Amigos:
Convívio da CART 3521 (Piche, Bafata e Safim 71 - 74)
Vai decorrer mais um convívio desta nossa companhia organizado pelo Henrique Castro, que se vai realizar no próximo dia 10 de Junho de 2009, no Restaurante junto ao Mosteiro da Nossa Senhora da Assunção, em Monte Córdova, Santo Tirso.
A ementa será enviada, oportunamente, a todos os convidados juntamente com o esquema do itinerário.
Contactos:
Telefone: 252 932 774
Telemóvel - 911 927 361.
Também podem inscrever-se via e-mail para: henrique_50_@hotmail.com

Henrique Castro, ex- Sold Condutor Auto,
CART 3521 ( Piche, Bafatá e Safim, 1971/74
__________
Nota do M.R.:

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Henrique Martins de Castro,
Soldado Condutor Auto,
CART 3521
Piche, Bafatá e Safim
1971/74


1. Apresenta-se o ex-Soldado Condutor n.º 10311971 Henrique Martins de Castro, residente em Bairro, V.N. de Famalicão.

Começo por contar uma pequena história da minha vida militar.

Assentei praça no ex-CICA1, no Porto, em 7 de Junho de 1971, e tirei a especialidade no RC6 do Porto.

Certo dia em instrução militar, sofri um acidente de que resultou 1 morto e oito feridos nos quais estava incluído. Prestaram-me os primeiros socorros no Hospital de S. João no Porto e passados poucos dias mandaram-me a conta. Como não fomos culpados no acidente e estávamos em instrução militar, competia ao Ministério do Exército pagar a conta, que eram 550 escudos. Como já estava mobilizado para a Guiné e nem sequer sabia se morria na guerra, não paguei a conta. Deixaram-me ir e vir da guerra e mandaram-me novamente a conta já com os respectivos juros de mora no valor de 850 escudos. Como não paguei, enviaram a conta para as finanças de V.N. de Famalicão para cobrança coerciva, mas como não queria pagar, perguntei o que me acontecia se não pagasse. A resposta foi:
- Vamos a sua casa e fazemos-lhe uma penhora.

Perguntei:
- O que é isso?

Resposta logo de pronto e, muito zangado perguntei:
- Vocês sabem o que eu precisava de ter quando vocês fossem lá a casa fazer a tal penhora?

Pergunta o funcionário em tom bastante agressivo:
- O que era?

Respondo eu ainda mais agressivo:
- Era uma p.... duma HK 21 carregada com uma fita de 500 balas, que eu dava-lhes a penhora!

... Mas lá acabei por pagar.

Fui mobilizado para a Guiné na ex-RAP2 de V.N. de Gaia. Depois de gozar os dez dias de mobilização, foi o BART 3873, juntamente com a CART 3521 num grande desfile, atravessando a ponte de D. Luís do Porto, ver ao Teatro Sá da Bandeira, gratuitamente a peça Uma Cama Para Toda a Gente, intrepetada pelo Camilo de Oliveira e pela Io Apoloni, salvo erro.

Depois seguimos para Lisboa, rumo a Santa Apolónia de comboio, embarcámos em 22 de Dezembro de 1971 no navio Niassa rumo à Guiné, onde chegámos a 29, passando a consoada e o dia de Natal no alto mar.

De seguida embarcámos numa LDG rumo a Bolama para tirar o IAO que durou mais ou menos um mês. Acabado este, fomos novamente de LDG rumo ao Xime onde havia uma escolta militar à nossa espera para nos levar até Piche.

Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872.

O terceiro e quarto Gr Comb alternaram entre si, ficando um em Galomaro e outro em Cancolim até se juntarem à Companhia em Bafatá, em 24 de Dezembro de 1972. O quarto Gr Comb deixa Cancolim e o primeiro deixa Galomaro para irem reforçar a CCAV 3405 em Nova Lamego.

Em 8 de Março de 1973, a Companhia deixa Bafatá rumo ao Combis, perto de Bissau, ficando assim distribuída:
- um Gr Comb em Ponta Vicente da Mata,
- um Gr Comb e duas Secções em Safim e uma secção em João Landim, fazendo patrulhamentos apeados, fluviais, psicos, etc.

Em Piche no dia 28 de Fevereiro de 1972, faleceu, vítima de um acidente com arma de fogo, Joaquim Francisco Rodrigues que está sepultado em Passos-Pinho-S. Pedro do Sul (ver em Windows Internet Explorer em mortos na guerra do ultramar, pesquisa do Google).

Em 3 de Abril 1972, tambem em Piche, sofremos o segundo morto de nome: Agostinho Ferreira Mendes, vitima de um ataque de abelhas na Operação Topázio Maior que começou no 2 de Abril.

Em autêntico desespero com as abelhas, resolveu rebentar com as duas granadas de fumo que trazia para as abelhas fujirem, ficou com um joelho esfacelado e como se pode calcular mais desesperado, pegou na G3, disparou dois tiros, pondo fim à vida. Está sepultado no cemitério concelho de Castro Daire.

Estes dois mortos não constam, como já me apercebi, na placa invocativa dos mortos do Ultramar na ex-RAP2, em V.N. de Gaia. O nosso terceiro morto de nome Octávio José Horta, era Primeiro Sargento Sapador e foi destacado para para outra companhia, morrendo a desmontar uma mina em 17 de Abril de 1973, como consta na placa invocativa dos nossos mortos em Safim, na Guiné-Bissau e na da ex-RAP2 em Gaia.

Embarcámos para a Metrópole com 27 meses e meio de Guiné, depois de sermos sucessivas vezes enganados. Adiaram-nos muitas vezes o regresso. Éramos para vir embora com 18 meses, passamos para os 21, dos 21 para os 24 e dos 24 para os 27. Quando no dia 28 de Março de 1974, embarcámos no navio Niassa, até julgavamos que era mentira. Foi a última viagem que o Niassa fez, chegando a Lisboa a 4 de Abril de 1974. Só nos sentimos seguros quando vimos o Cristo-Rei, nunca mais ninguém dormiu tal era a alegria. De manhã a emoção e a alegria eram tão grandes que havia centenas de militares a chorar por ver os seus familiares à espera. Eu também chorei e não tinha lá ninguém. Ainda hoje me arrepio e me emociono passados 34 anos, só em me lembrar desse dia.

Passados alguns anos tivemos um convite de alguém do BART 3873 e lá fomos 14 ex-militares da CART 3521, a um convívio, salvo erro no dia 10 de Junho de 1987, na Quinta da Paradela, em V.N. de Gaia. Nesse convívio, depois de comermos e de conversarmos sobre a guerra, lá fomos bebendo mais uns copos, sendo, no fim, nos oferecida uma medalha do BART 3873, alusiva ao encontro. Medalha essa que ofereci depois ao meu amigo Antunes, da 3494, que esteve no Xime juntamente com o nosso tertuliano Sousa Castro que pretenceu à mesma Companhia.

Como gostei deste encontro, organizei lá o encontro dos 25 anos de regresso da CART 3521. A concentração foi na ex-RAP2, depois houve uma missa por alma dos que faleceram lá e cá, a deposição de uma coroa de flores, oferecida por mim, aos nossos mortos, numa pequena cerimónia militar, prestada por um piquete, autorizada pelo senhor comandante a meu pedido. Houve um minuto de silêncio e o hino nacional como consta num filme que eu próprio fiz.

Comecei a organizar os convívios depois de 23 anos do regresso, ou seja no ano 1997, depois de um longo trabalho de pesquisa nos arquivos da ex-RAP2, autorizada pelo senhor comandante. Descobrimos, eu, o Sousa, o Vieira e um ex-sargento na reserva, os nomes e as residências dos ex-militares da CART 3521 aquando o seu regresso. Depois foi comunicar através dos telefones e lá se foi arranjando as direcções actuais. Deve-se muito ao Magalhães, que por trabalhar na PT, arranjou mais de cem contactos.

Sendo o organizador de todos os convívios, estou um pouco triste, porque cada vez mais há menos malta a aparecer. Dá-me muito trabalho e eu não ganho nada com isso, faço-o pelo gosto de ver a malta divertida e por ter a certeza que mais ninguém os faz.

No convívio dos 25 anos do nosso regresso, ofereci a coroa de flores de homenagem aos nossos mortos, o Sousa ofereceu uma colcha com o emblema da Companhia, o Vieira ofereceu centenas de t-shirts bordadas alusivas e o Magalhães ofereceu as medalhas também alusivas aos 25 anos do nosso regresso.

Brevemente vou contar uma pequena história sobre a minha ida à Guiné-Bissau, acompanha de algumas fotos.

É tudo por hoje.

Um abraço para todos os que lutaram na Guiné em especial aos da CART 3521.


Postal de Natal


Ponte de Caium em meados de 1972 na estrada que liga Piche a Buruntuma.


Hotel da malandrice > Foto tirada em Piche no abrigo dos condutores.


Abrigo dos condutores: em cima eu, em baixo o Botelho e o Simão.


Foto tirada no primeiro Encontro da CART 3521, passados 23 anos do nosso regresso à Metrópole, em Cucujães, Oliveira de Azemeis, no dia 4 de Abril de 1997.

2.Comentário de CV

Caro Henrique, estás apresentado. Sei que gostas de escrever embora tenhas algumas dificuldades técnicas com o computador. Como me disseste por telefone, és periquito nestas coisas da informática. Não desistas e vai insistindo, porque todos os dias aprenderás algo de novo. Nós cá também daremos uma ajuda.

Já mandaste umas fotos e um texto com a tua apresentação. Nada mal.

Recebe, em nome da Tabanca Grande, um abraço de boas vindas e votos de muita saúde.
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. poste de 15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2947: O Nosso Livro de Visitas (17): Henrique Martins de Castro, CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)