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quinta-feira, 25 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24339: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (2): Op Gavião (Madina / Belel, 4-6 de abril de 1968): 300 homens desbaratados pelas abelhas, armas extraviadas, um cadáver abandonado, um homem perdido, etc.


Cracá do Pel Caç Nat 52 (1966/1974), "Os Gaviões". Divisa: "Matar ou morrer"


Operação Gavião (Madina / Belel, 4-6 de Abril de 1968)  

1. Todos os anos, pela época seca, de preferência entre março e abril, o comando do batalhão sediado em Bambadinca, Sector L1, zona leste, região de Bafatá, mandava uma força de cerca de 300 homens à procura do acampamento IN do Enxalé, algures na península de Madina / Belel, mesmo já no limite do Sector, a sudeste da base de Sara.  Por aqui o IN e a população sob o seu controlo viviam com relativa tranquilidade, só sendo importunados por alguma incursão de tropas helitransportadas ou pelos bombardeamentos da FAP. A ida a Madina / Belel era quase sempre azarada: em geral as NT levavam prisioneiros que serviam de guias, e que procuravam ludibriar as NT, "perdendo-se" propositadamente ou tentando inclusive a fuga (como aconteceu, por exemplo, na Op Anda Cá, 22 e 23 de fevereiro de 1968) (*), 

Todos os anos aconteciam erros de planeamento, guias que se perdiam, itinerários mal escolhidos, PCV (antes da época do Strela...) que denunciavam a presença das NT, falhas no abastecimento de água, progressão para o objectivo a horas proibidas, confusão de (ou chegada tardia aos objetivos), flagelações do IN, tabancas abandonadas e queimadas, casos de exaustão, insolação e  desidratação, indisciplina de fogo, ataques de abelhas, debandada geral, perda de armas e muniçóes, e até de homens, regresso dramático ao Enxalé com viaturas a sair até São Belchior para transportar os mais "desgraçados", tentatativa de recuperação, no dia seguinte, do material perdidos… e, claro, relatórios por vezes fantasiosos, pouco rigorosos, etc....

Em 1968 (Op Gavião), aconteceram também estas coisas, próprias de uma guerra de contraguerrilha, num terreno inóspito para muitas das tropas portuguesas... É também caso para dizer, "tugas pocos pero locos" (**).

2.  Op Gavião: Desenrolar da acção

Iniciada no dia 4 de abril de 1968, às 18h00, com a duração de 3 dias, tinha como finalidade excutar uma acção ofensiva na mata de Belel, começando por um golpe de mão ao acampamento IN  do Enxalé. 

Forças ( c. 300 homens) que tomaram parte na operação:

(i) Cmdt: 2º cmdt BART 1904;

(ii)  Destacamento A: CART 2338 a 4 Gr Com + Pel Caç Nat 52;

(iii) Destacamento B: CART 2339, a 4 Gr Comb + Pel Caç Nat 53


Destacamento A

O Pel Caç Nat 52 deslocou-se de Missirá para a região de Aldeia do Cuorno dia 4 de abril de 1968, às 15h00, onde se instalou protegendo a cambança das restantes forças do Destacamento (CART 2338), cambança essa que foi efectuadas às 18h45 do mesmo dia.

Uma vez completo o Destacamemnto, as NT iniciaram a marcha para Missirá, tendo pernoitado um pouco antes de o atingir, pelas 22h00. 

Reiniciaram o movimento no dia 5, às 5h30, utilizando um guia natural de Missirá, ao qual foi acordado e indicado qual o serviço a desempenhar só pouco antes do início do movimento, por razões de sigilo e segurança.

Ao fim  da tarde do dia 5 atingiu um ponto cerca de 1 km atrás do local previsto onde pernoitou.

Reiniciado o movimento no dia 6, pelas 5h30, foi detectado um sentinela por volta das 7h30. Começou então a instação de 3 Gr Comb para proteger o ataque dos outros dois grupos. 

Entretanto a sentinela detectou as NT e fugiu. Passados poucos minutos o IN emboscou as NT com LGFog e armas automáticas
Zacarias Saiegh, mais tarde,
na 1ª CCmds Africanos,
como  tenente graduado
'comando'

Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade  dignos de serem apontados, reagiu à emboscada,  perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km. 

Deparou nessa altura com a tabanca de Belel que imediatamente atacou e destruiu totalmente, tabanca essa que tinha sido abandonada recentememnte, e que tinha 25 palhotas. Foram destruídos ainda um tanque de água e uma horta grande.

Aquando da  destruição da tabanca pelo fogo, foram ouvidos uns rebentamentos muito fortes, o que levou a concluir tratar-se de um pequeno paiol.

Entretanto, o PCV infornou o Destacamento A que o objetivo destruído era o objectivo do Dest B e deu ordens para reiniciar o regresso para o local previsto onde se devia emboscar durante a acção do Dest B, o que foi cumprido,

Ao chegar ao local previsto, encontrou-se com o outro Dest, que já tinha destruído o objetivo deste Dest (B), e acabava de sofrer um ataque de abelhas que tinha provocado uma grande desorganziação. 

Tendo então recebido ordem do PCV para iniciar o regresso da operação, acordou com o Dest B que seguisse este na frente por já conhecer o caminho. Entretanto, ao iniciar o movimenmto depois da preparação das macas improvisadas para o transporte dos elementos mais atingidos pelo ataque das abelhas, o que demorou um certo tempo, foram emboscados novamente por forças do IN, tendo sido pedido então apoio aéreo, o que foi recusado pelo PCV.

Foi reiniciado o movimento com algumas paragens motivadas por flagelações do IN, com armas automáticas, e mais dois ataques de abelhas na margem do Rio Gandurandim, o que provocou nova desorganização nos Destacamentos. 

Por fim foi atingida a estrada Finete-Enxalé, sendo o Destacamemto recolhido em viaturas em São Belchior, atingindo o Enxalé no dia 6, às 18h30.

Aí, mais tarde, foi constatado o desaparecimento de uma praça metropolitana pelo que o cmdt do Destacamento A resolveu  na madrugada seguinte ir à sua procura, não tendo sido necessário por a praça ter aparecido no Enxalé no dia 7, às 6h00.

Iniciou-se a cambança do Rio Geba para o Xime, e daí, em viaturas, iniciou-se o movimento para Fá que foi atingida no dia 8, às 15h00.

Constatou-se que, durante o ataque de abelhas, duas praças perderam as armas, pelo que o Cmdt do BART ordenou a ida de 1 Gr Comb deste Dest, e um do Dest B no dia seguinte, 8, às 5h00 ao local,  a fim de recuperar as referidas armas, o que foi conseguido. A força regerssou ao quartel em 8, às 20h00.

Destacamento B

A CART 2339 iniciou o seu movimento, em meios auto, no dia 5, às 15h00, de Fá para o Xime onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou a cambança do Rio Geba pelas 18h00, recebeu no Enxalé dois guias e iniciou a marcha pelo itinerário previsto, tendo atingido o local a norte de Madina onde se devia instalar, no dia 6, às 7h00, após alguma hesitações ("exitações", no originnal) dos guias,

Cerca das 9h00, o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a tabanca de Belel e ordenou que se iniciasse o movimento pelo trilho Mandina-Belel, a fim de iniciar a batida à zona a sul do referido trilho.

Durante o deslocamento foi detectado o acampamento de Enxalé. que imediatamente foi atacado e destruído, sem resistência, verificando-se que tinha sido abandonado há pouco tempo. O objectivo tinha 8 palhotas, e forma capturadas 1 espingarda Mauser, 2 marmitas, 1 granada de RPG, e alguns documentos.

Aquando da destruição pelo fogo, foram ouvidos rebentamentos de munições de armas ligeiras e granadas de RPG.

Entretanto, os elementos do Dest instalados, quando se procedia ao assalto, foram atacados pela abelhas, o que provocou uma desorganiozaçáo grande, e pôs 2 homens em estado grave, que não permitiu que se deslocassem pelos seus meios.  

Devido ainda a esse ataque de abelhas, no seu movimento desordenado o Dest encontrou-se com o Dest A instalado no local previsto.

Nessa altura e como havia uma linha de água perto, 3 elementoso do Pel Caç Nat 53, sem autorização, deslocaram-se para se reabastecerem de água. Foram atacados pelo IN tendo sido abatido o soldado milícia 60/64, Tura Jau, e tendo o IN capaturado a sua arma, espingarda G3 nº 035786.

Acorrendo imediatamente ao local, repeliu-se o IN e recuperou-se o corpo  do referido mílicia.

Como o PCV informara que ía Bissau abastecer, foi pedido pela rede de operação a evacuação dos elementos feridos e do morto. Entretanto, ao chegar o PCV, foi pedida novamente a evacuação, tendo o mesmo  determinado que não houvesse evacuações, após se ter inteirado que os feridos picados pelas anelhas estavam a recuperar, e ter decidido o regresso ao quartéis em face dos objectivos previstos terem sido destruídos, o terreno a sul da picada onde nos encontrávamos estar queimado e não havendo possibilidade de se esconderem instalações do IN e ainda pelo facto do Dest GAMA (BCAÇ 1912) não se ter instalado no local previsto para proteger a acção deste Dest.

Por lapso que se explica pelas circunstâncias de momento, o PCV não foi informado que já tinha sido pedida a evacuação pela rede de operações, o que provocou a vinda do héli a Bambadinca, não sendo contudo utilizado.

Depois de uma certa demora, com o Pel Caç Nat 52 e 53 à frente, iniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido 3 flagelações sem consequèncias, e tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.

Já junto da estrada Finete-Enxalé as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos que tiveram de ser transportados às costas.

Continuando a progressão atingiu-se São Belchioronde se foi recolhido por viaturas para Enxalé, que foi atingo cerca das 18h00.

Verificou-se que o morto tinha ficado na zona d0 último ataque de abelhas pelo que foi decidido o Pel Caç Nat 53 ficar em Enxalé, a fim de ir de madrugada no dia seguinte recuperar o corpo, o que foi feito.

A CART 2339 inicou a travessia do Rio Geba, e deslocou-se em viaturas para Fá, que atingiu no dia 7 às 3h00.

Ao conferir o material foi constatada a falta de 2 espingardas G3 e alguns cantis e bornais ("burnais", no original), o que foi comunidacado ao Cmdt do BART que ordenou a ida no dia seguinte à zona do último ataque das abelhas juntamente com 1 Gr Comb da CART 2338, o que foi feito e conseguido recuperar parte do material perdido. As NT regressaram  a Fá, que atingiram no dia 8, às 20h00.

Fonte: Excerto das  páginas 43, 44 e 45 da História da Unidade: Batalhão de Artilharia nº 1904, 1966/68. Relatório da Op Gavião, iniciada em 4 de Abril de 1968: com a duração de três dias, e destinada a executar um golpe de mão contra o acampamento do Enxalé, do PAIGC, na mata de Belel, teve a participação da CART 2338, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 52 (Destacamento A), bem como da CART 2339, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 53 (Destacamento B). Foi comandada pelo 2º Comandante do BART 1904.


Documento digitalizado: © Armando Fernandes (2008). Direitos reservadas.


3. O Armando Fernandes, ex-alf mil cav, cmdt do  Pel Rec  Info,  CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68), mandou-nos em 8 de maio de 2008 fotocópias das páginas 43, 44 e 45 da história da unidade, com base nas quais transcrevemos o texto acima (com algumas adaptações, devido ao facto de estar mal redigido e ter alguns erros de ortografia).

Na altura, o nosso camarada escreveu o seguinte:

Professor Luís Graça:

Chamo-me Armando Fernandes, fui alf mil cav, comandei o Pel Rec do BART 1904 que esteve sedeado em Bambadinca, de Janeiro a Setembro de 1968. Durante todo o ano de 1967 o Batalhão esteve sedeado em Santa Luzia, Bissau, onde rendeu, em Janeiro de 67, o BCAÇ 1876.

Entrei ontem, pela 1ª vez, no seu blogue e chamou-me a atenção o nome de uma operação referido em P2817 (***), Operação Gavião.

Sobre essa operação consta da história do BART 1904, pags. 43/45 (edição não canónica em meu poder) que o fur mil Zacarias Saiegh nela participou, o que está em desacordo com uma resposta do doutor Beja Santos registada em P2817. Parece, também, que relativamente à entrada em Belel há discrepância entre o registado na história do BART e o afirmado no mesmo poste. Onde estará a verdade?

Em anexo envio cópia das páginas que referi.

Apresento os meus cumprimentos, Armando Fernandes

4. Comentário do editor L.G.:

Na altura agradeci ao camarada Armando Fernandes, dizendo-lhe que ia divulgar a sua versão (que era a versão do BART 1904)  (****) e dar conhecimentos aos camaradas que tinham escrito sobre a Op Gavião (Mário Beja Santos, do Pel Caç Nat 52, e Torcato Mendonça e Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, estes dois últimos participantes da Op Gavião) (*****). 

Escrevi então: 

"A nós interessa-nos a verdade e só a verdade... Em muitos casos, há discrepâncias factuais entre os nossos relatórios de operações e os depoimentos pessoais. É normal. O Mário Beja Santos, que comandou o Pel Caç Nat 52 (a partir de agosto de 1968), não poderia obviamente ter participado nesta Operação Gavião (abril de 1968). Socorre-se da memória dos seus antigos soldados, alguns dos quais felizmente ainda estão vivos e vivem em Portugal."

O ex-alf mil Torcato Mendonça e o ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), esses,  infelizmente, já náo estão entre nós...

Na altura também convidei o Armando Ferreira  a ingressar na nossa Tabanca Grande.  Infelizmente nunca mais nos contactou, pelo que nem ele nem mais ninguém representa o BART 1904 no nosso blogue.

De qualquer modo, ficou claro na altura que  o fur mil Zacarias Saiegh, a comandar interinamente  o Pel Caç Nat 52, tinha particiapdo na Op Gavião, e que recebera do comandante da operação, rasgados elogios, como se depreende deste excerto do relatório:

(...) "Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade  dignos de serem apontados, reagiu à emboscada,  perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km. " (...)
__________

Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desaosa operação a Madina/Belel

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24330: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (1): Op Tigre Vadio, 30 de março a 1 de abril de 1970, sector L1, Península de Madina / Belel, zona leste, sector L1 (Bambadinca)

(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)
(****) Vd. poste de 11 de maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)

(*****) Vd. ppostes de:

9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2823: Dando a mão à palmatória (11): Operação Gavião, 5 de Abril de 1968, com as CART 2338 e 2339 (Torcato Mendonça / Beja Santos)

2 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9303: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (1): Op Gavião: Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas

sábado, 22 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22931: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (2): CART 2338, "Os Incansáveis" (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)



CART 2338, "Os Incansáveis"  (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)


 1. Contrariamente à sua "irmã-gémea", a CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69),  a que pertenceram saudosos camaradas e amigos nossos, como o Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça, dois históricos do nosso blogue, a CART 2338 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paunca, 1968/1969) não tem ninguém que aqui a represente condignamente.  

Tem escassas 14 referências no nosso blogue (, contrariamente à CART 2339, que tem 213) mas não tem nenhum representante registado. 

O único nome que temos é do ex-alf mil  José Luís Dumas Diniz, responsável pela segurança da coluna da retirada de Madina do Boé, a fatídica coluna que teve o trágico acidente, na travessia de jangada, no Rio Corubal, em Cheche, em 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).  

Falei um vez com ele ao telefone e convidei-o para integrar a Tabanca Grande.  Cheguei até ele através do seu ex-colega de trabalho, amigo e contemporâneo, o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e também meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). 

Foi o Fernando Calado que me falou dele e me pôs em contacto com ele, José Luís Dumas Diniz. É uma peça-chave para a história do desastre de Cheche. Já correram rios de tinta sobre este trágico acidente,  mas mas ainda nos falta, em primeira mão, o depoimento deste ator-chave, o nosso camarada da CART 2338 que era responsável pela segurança da jangada... Ele vive entre Cascais e Coruche, se bem percebi... Mostrou-se disponível para dar a sua versão, a publicar no blogue.

O Diniz foi julgado, creio, em tribunal militar, e foi absolvido... O próprio Spínola terá sido uma das testemunhas de defesa... Era preciso um "bode expiatório", o elo mais fraco da cadeia hierárquica...

Prometemos que um dia destes, eu, ele e o Fernando Calado, iríamos  até à Casa do Alentejo para pôr a conversa em dia... Dificuldades de agenda, de parte a parte, não nos permitiram  realizar esse encontro, dificuldades eesas que se agravaram com a história da pandemia de Covid-19. Mas o assunto não está esquecido, mesmo que já se tenham passado mais de meio século sobre os aconteciment0s (, 53 anos, em 6 de fevereiro de 2022).


Companhia de Artilharia n.º 2338

Identificação: CArt 2338

Unidade: Mob: RAL 3 - Évora

Cmdt: Cap Mil Art João Carlos Palma Marques Alvesn | Cap Art Manuel João de Azevedo Paulo

Divisa: "Os Incansáveis"

Partida: Embarque em 14Jan68; desembarque em 21Jan68 | Regresso: Embarque em 04Dez69

Síntese da Actividade Operacional

Em 24Jan68, seguiu para o aquartelamento de Fá Mandinga, a fim de efectuar instrução de adaptação operacional, na região de Xitole, de 06 a 13Fev68 e seguidamente tomar parte na actividade do BArt 1904, tendo actuado em diversas acções e operações nas regiões de Galo Corubal, Enxalé, Mato Cão, Ganguiró e Dongal Siai, entre outras.

Em 13Abr68, foi colocada em Nova Lamego, a fim de substituir a CArt 1742 na função de intervenção e reserva do sector do BCaç 2835 e cumulativamente do Agr 2957.

De 12Jul68 a 26Mar69, estabeleceu a sua base operacional em Canjadude, com um pelotão destacado em Ché-Ché (desde 04Ju168 até à sua evacuação em 10Fev69, na operação "Mabecos Bravios"), tendo actuado em diversas acções e operações, patrulhamentos e escoltas realizadas nas regiões de Canjadude, Ché-Ché, Galo Corubal e Satecuta, entre outras.

Em 20Abr69, por saída da CCaç 1790, assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Nova Lamego.

Em 22Mai69, foi substituída pela CCaç 2317, tendo seguido por escalões, em 11 e 22Mai69, para Buruntuma, a fim de efectuar a sobreposição e rendição da CArt 1742; em 29Mai69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá-Ponte do Rio Caium, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2857.

De 19 a 310ut69, por troca, por escalões com a CCaç 2401, foi transferida para o subsector de Pirada, com um pelotão destacado cm Paúnca, voltando à dependência do BCaç 2835 e integrando-se no seu dispositivo e manobra.

Em 01Dez69, foi rendida no subsector de Pirada pela CCaç 2617 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n.º 82 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 458.
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé


Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Há operações que ficaram na nossa memória,por uma razão ou outra, boa ou má...  A Op Mabecos Bravios (retirada do aquartelamento de Madina do Boé, sector L3, de 2 a 6 de fevereiro de 1969) é daquelas que nos marcaram para sempre, pela tragédia que ocorreu na travessia do rio Corubal, em Cheche (ou Ché Ché).  O descritor, Op Mabecos Bravios,  tem já 30 referências no nosso blogue (*). 

Mas faltam aqui ainda outras versões. Como se sabe, continua ainda a haver controvérsia sobre a etilogia do acidente que provocar 47 vítimas mortais. Encontrámos esta versão no livro da CECA (2014), com o valioso testemunho do ex-comandante da infortunada CCAÇ 1790,  o então cap inf José Aparício, hoje cor inf ref.

Corrigimos as datas, que não estão corretas. Mantemos o topónimo Ché Che, usada pela CECA (Comissão para Estudo das Campanhas de África), embora na carta de Jábia o topónimo grafado seja Ché Ché. No nosso blogue temos usado a grafia Cheche (que tem mais de 7 dezenas de referências).

Faz-nos falta ainda, aqui,  um importante testemunho, o do ex-alf mil José Luís Dumas Diniz,  da CART 2338, responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. 

Com a história da pandemia, está por realizar o prometido encontro do nosso editor Luís Graça com ele. Como há tempos escrevemos aqui, uma peça fundamental neste feliz encontro foi (e vai ser) o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz. Enfim, dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer esse encontro a três. O Dumas Diniz vive, a maior parte do tempo, em Coruche, se não erro.


Operação "Mabecos Bravios" , de 2 a 7 de fevereiro de 1968

Forças envolvidas:

CCaç 1790
CArt 2338 (-)
CCaç 2383 
CCAÇ 2403
CCAÇ 2405
CCAÇ 2436
CArt 2440,
CCaç 5 (1 Gr Comb)
Pel Mil 161
Pel Rec Daimler 1258 (-)
Pel Sap /  BCaç 2835

Estas forças, com APAR [, apoio aéreo], efectuaram uma escolta no itinerário Nova Lamego - Madina do Boé - Nova Lamego, pertencente à Zona Leste, Sector L3 [, BCAÇ 2835].

Foi accionada mina A/C no cruzamento de Beli, sem consequências; e foram detectadas e destruídas 2 minas A/C entre Ché Che e Canjadude. Durante a operação, Madina foi flagelada 4 vezes sem consequências.

No regresso, na travessia do rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de 47 militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias).


Guiné > Região de Gabu > Madina do Boé > CCaç 1790 > 5 [?] de fevereiro de 1969 > Missa celebrada pelo Bispo de Madarsuma e Capelão-Mor das Forças Armadas, Brig António Reis Rodrigues (1918-2009) (e também procurador à Câmara Corporativa, na VIII Legislatura, 1961/65, como representante da Igreja Católica).

Foto: Cortesia de CECA (2014), p. 353. (Com a devida vénia)



NOTA:  Acidente no rio Corubal em 6 [e não 8] de Fevereiro de 1969 - Dados fornecidos pelo Tenente-Coronel José Ponces de Carvalho Aparício, à época Cmdt da CCaç 1790 aquartelada em Madina do Boé.

"Na Guiné-Bissau nos anos 60 a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita, como hoje, junto à povoação do Ché Che onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros de 81 mm.

Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portugueses estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de 6 meses) ficavam completamente isoladas.

Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente 2 colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente.

Cada coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.

A travessia do rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo. 

Como segurança do movimento, uma embarcação "Sintex" com motor fora de bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer emergência.

Em Fevereiro de 1969 após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé [,  
Directivas n° 1/68 de 1 Jun, 20/68 de 25 Jul e 59/68 de 26 Dez do Cmdt-Chefe] - sendo que  Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas - foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o comando do agrupamento n" 2957 [, cmdt: cor inf Hélio Felgas]. 

Uma enorme coluna com cerca de 50 viaturas pesadas escoltadas por 2 Companhias de Caçadores, e dois pelotões de autometralhadoras, e com apoio aéreo permanente, chegou a Madina do Boé na tarde de 07  de Fevereiro de 1969.

A esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo.

Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com as toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente; na manhã de 5 [, e não 7,]  de Fevereiro iniciou-se o movimento para o Ché Che, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia. 

Por decisão do comandante da operação, o número de dias previsto para a sua realização foi reduzido de vários dias, para libertar os meios aéreos empenhados; e a travessia do rio Corubal iniciou-se logo de seguida, com inúmeras travessias efectuadas durante a noite com muitas dificuldades e problemas no embarque na jangada das viaturas carregadas ao limite.

Para a realização da operação de evacuação do Boé, foi construída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre 3 canoas. 

Em vez da corda inicial, o movimento da embarcação era garantido pelo "Sintex" com motor fora de bordo amarrado à jangada, do lado de jusante do rio, e operado por um sargento de Marinha requisitado para o efeito. 

A velha jangada esteve sempre acostada na margem direita.

Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados. 

No início da manhã de 6 [e não na tarde de 9]  de Fevereiro de 1969, na última e fatídica viagem, embarcaram a parte que restava dos militares das CCaç 2405 e da CCaç 1790, cerca de 80 a 90 militares. 

A meio do rio, uma aceleração brusca do motor do "Sintex" fez erguer a frente de bombordo da jangada; tendo sido dada logo ordem para reduzir a velocidade, a jangada fez o movimento pendular inverso, desta vez mergulhando ligeiramente no rio a frente de estibordo, as canoas ficaram cheias de água mas o tabuleiro ficou flutuando, com os militares a bordo com água pelos tornozelos.

Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de 47 militares das duas Companhias.

O Comandante da Operação {, cor inf Hélio Felgas,] não permitiu que as duas Companhias [, CCAÇ 1790 e CCAÇ 2405] permanecessem no Ché Che para tentarem recuperar o maior número de corpos possíveis, seguindo por isso logo para Nova Lamego.

O acidente em causa deu origem de imediato a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa no 3.° Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché Che [, pertencente à CART 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Buruntuma, Pirada, 1968/69]
 ".

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Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné -  Livro I  (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 353-355. 
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Nota do editor:

(*) Vd. alguns dos muitos postes sobre este doloroso dossiê:

1 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na
retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)

6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)

13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)

terça-feira, 21 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19811: Memória dos lugares (392): Memoriais da zona de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 16 de Maio de 2019, falando-nos dos Memoriais da região de Nova Lamego:


Memoriais 

Os memoriais de Buruntuma e Camajabá testemunham a presença dos militares portugueses na região de Nova Lamego, sector onde a Companhia de Artilharia 1742 cumpriu a sua comissão de serviço nos idos de 1967, 1968 e 1969.

Mas o que é um memorial?
A palavra foi tomada de empréstimo do inglês pela Língua Portuguesa. Originalmente, por exemplo, memorial indicava um património de pedra, e que era erigido, e ainda é, em determinado local, simbolizando uma conquista ou alguma tragédia, como foi a guerra do ultramar Português, mas é vê-los espalhados por aí, cumprindo a missão para o qual foram construídos, não deixar cair no esquecimento os feitos que os Portugueses fizeram por cá e além-mar.

No que diz respeito ao memorial da CART 1742, à qual pertenci, o seu autor, arquiteto e construtor, foi o Soldado Condutor Auto, João Fernando Lemos, a quem envio um forte abraço.

Por agora é tudo, um grande abraço a toda a tertúlia.
Abel Santos.


Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418

Buruntuma - Memorial da CCAÇ 2724

Buruntuma - Memorial da CART 2338

Ponte Caium - Memorial da CCAÇ 3546 - Foto: Eduardo Campos

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Actualmente

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Abel Santos

Buruntuma - Memorial da CART 1742

Buruntuma - Memorial da CART 1742 - O que resta

Buruntuma - Conjunto de Memoriais ainda existente

Buruntuma - Memorial da CCAÇ 1588

Com a devida vénia a Patrício Ribeiro, Eduardo Campos e eventuais autores das fotos, não referenciados.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19664: Memória dos lugares (391): a velha ponte do rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, e os seus ninhos de andorinha (Jorge Araújo)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15555: Memória dos lugares (328): Buruntuma, dezembro de 2015 (Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas", Bissau)


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Memorial da CART 2338



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 >  Tabanca e rua principal



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Fronteira: serviço de emigração e fronteiras (SEF)


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Antigo abrigo


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Memorial grafitado


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Mensagem. de 27 do corrente,  do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro;

Assunto -  Zona Leste: fotos de Buruntuma

Envio algumas fotos tiradas no Leste, este mês de Dezembro, nos meus passeios.

Viagens de Bafatá para Pirada, Fasse, Pitche, Canquelifá, Buruntuma, etc.

Para os que por lá andaram… recordarem lugares onde também passaram o Natal.

Sempre que estou a fotografar estes lugares, aproximam-se antigos militares portugueses de origem guineense, que me informam o que era aqui ou ali ao lado, que eles pertenciam àquela companhia, quem era o comandante.  etc.

Os caminhos ainda são os mesmos, difíceis para as minhas costas…

Boas festas
Patrício Ribeiro

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Guiné-Bissau
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Nota do editor:

terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14600: Memória dos lugares (290): conjunto musical "Os Bambas D' Incas" em Mansambo, 1969 (José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo, ex-sold mec auto, CCS/BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70, e hoje empresário)



Foto nº 1

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo (CART 2339, 1968/69) > 1969 > Atuação do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Os Bambas D' Incas": dfa esquerda para a direita, Peixoto (viola ritmo), José Maria Sousa (viola solo), Neves (bateria) (também era da CCS), Tony (vocalista) e Otacílio (viola baixo)...





Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo (CART 2339, 1968/69) > 1969 > Atuação do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Os Bambas D' Incas": > A malta em cima de um abrigo > Da esquerda para a direita,  José Maria Sousa (viola solo), de pé;  Tony (vocalista), sentado; Otacílio (viola baixo), de pé; Neves (bateria), sentado;  e Peixoto (viola ritmo), de pé. Até à data, o José Sousa có conseguiu contactar o Peixoto, que é de Ponta da Barca.



Foto nº 3

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Na festa do barbeiro da CCS...





Foto nº 4

Guiné-Bissau > Farim > 2011 > O José Maria Sousa Ferreira no rio Cacheu


Foto: © José Maria Sousa Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.)



1. Mensagem, de 6 do corrente, do nosso camarada José Sousa  [JMSF]


[foto à esquerda: de seu nome completo, José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo do conjunto musical Os Bambas D' Iincas; natural de Braga, é hoje empresário, sendo sócio de várias escola de condução no norte; ex-soldado de rendição individual (BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70)]

 Oi,  Luís,

Como te tinha dito,  envio-te mais algumas fotos de Bambadinca, Mansambo e Farim. 

As fotos onde está o conjunto foram tiradas uma a actuar para a companhia que estava em Mansambo, e a outra em cima de um abrigo também em Mansambo. (**)

Esclareço que nestas fotos aparece também um membro novo que também fez parte do conjunto que é o baterista, 1º Cabo Neves, aliás, esta foto encontrei-a no meu sótão de recoradações. 

Na outra foto da época  [,foto nº 3,] , estávamos numa festa de aniversário do barbeiro da companhia. 

As outras fotos [, a publicar em próximo poste, tendo os editores pedido a troca do formato pdf por jpg, ] foram tiradas quando estive em férias em 2011, onde se pode ver a minha pessoa na varanda do Palácio do Governo, já destruído pela guerra civil, e as outras em Bamdadinca e Farim [, foto nº 4].

Um abraço do tamanho de Braga até Bambadinca e até ao dia 30,  no nosso almoço [, na Trofa].

José Maria (Braga).

Nota - Há umas fotos numa cerimónia que tivemos em Bambadinca, em que eu apareço a colocar um relógio no pulso do chefe militar.

A foto em que tenho a mão pelas costas de um negro, esse negro, era combatente inimigo (terrorista). 
O outro que está ao meu lado,  na mesma foto, era militar português.

José Maria Sousa Ferreira

Foto à direita: o vocalista Tony, que pelo nome e nº mecanográfico terminado em 61, pode ser o 1º cabo nº 14219661 António N. Sousa ("Era refratário, e tinha cinco a seis anos a mais do que nós", diz o Sousa; julga que era condutor, e natural de Lisboa, onde já cantava, com fadistas conhecidos como a Maria da Fé; desconhece-se atualmente o seu paradeiro; foi ele que em Bambadinca, por volta de maio de 1969, cantou para a Cilinha a famosa canção do Alberto Cortez, "Mónica", adaptando a letra].


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Otacílio Luz Henriques, -1º cabo bate-chapas, do pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Augusto, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Era o quinto elemento que faltava identificar. O José Maria anda a tentar falar com ele... Foto, sem legenda, do álbum do Otacílio Luz Henriques (que até há anos atrás morava em Paço de Arcos, Oeiras; o seu telefone não responde)

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendas: LG)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > 1970 > Vista aérea do aquartelamento. Ao fundo, da esquerda para a direita, a estrada Bambadinca-Xitole. Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


O José Sousa esteve várias vezes em Mansambio, na altura da construção do aquartelamento, ainda no tempo do BART 1904. a cuja CCS pertencia... Era mecânico e andava com o reboque, a carregar cibes... E estava lá a 11 de Julho de 1968 quando o IN apanhou à unha o Francisco Manuel Monteiro, soldado de armas pesadas, do 4º Gr Comb  da CART 2339... Lembra-se de vir da fonte, onde foi sozinho, de G3, e ainda deu um tiro numa lata de coca-cola... No regresso ao quartel, deu com o Monteiro (que ele achava que seria Xavier, pela inscrição que recorda ter lido na faca de mato, e ser natural de Penafiel), que vinha em sentido inverso... O Monteiro ia lavar umas peças de roupa.... Teve azar, o IN estava à espera dele... A sua ausência só mais tarde foi notada... Nesse mesmo dia, e na perseguição, em conjunto com as NT, o alferes de milícia de  Moricanhe, cmdt do Pel Milícias 103,  acionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. O José Sousa ainda se lembra bem do estado horrível em que ficou o corpo... Do Monteiro, a malta da CART 2339 só teve  notícias depois do 25 de Abril de 1974. Levado para Conacri, foi um dos 26 prisioneiros portugueses libertado em 22/11/1970, na sequência da Op' Mar Verde (***).



Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Construção, de raíz, do aquartelamento, de que hoje não há praticamente nenhum vestígio...  Fotos Falantes II > Foto nº 34 [Foto do arquivo de Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, 1968/69].

Foto: © Torcato Mendonça  (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14540: Em busca de... (234): Elementos do conjunto musical "Os Bambadincas": o Toni (cantor romântico), o Serafim (baterista), o Peixoto (viola ritmo e cantor pop) e mais um outro 1º cabo, que era viola baixo...Eu sou o o "Braga", viola solo, e queria muito abraçar-vos, na Trofa, no próximo dia 30 de maio, por ocasião do convivio do pessoal de Bambadinca 1968/71

(**) Úlotimo poste da série > 6 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14578: Memória dos lugares (289): Gampará, região de Quínara (Joviano Teixeira, sold cozinheiro, CCAÇ 4142, 1972/74)
(***) Vd. poste de 5 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1248: Monteiro: apanhado à unha na fonte de Mansambo em 1968, retido pelo IN em Conacri, libertado em 1970 (Torcato Mendonça)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13810A: Fotos à procura de... uma legenda (41): dois chavalos e uma cadela, sentados na base do memorial ao alf mil op esp Rogério Nunes de Carvalho, da CART 2338 (1968/69), morto em combate pela Pátria (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 11, Contuboel e Nova Lamego, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Nova Lamego > CART 11 (1969/70) >  Foto tirada em meados de 1970, à entrada do Quartel de Baixo, em Nova Lamego: eu e uma praça africana, mais a cadela 'Judy', que foi connosco de Lisboa... Ao lado o memorial a um alferes, morto no setor de Nova Lamego, em 17/4/1968.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



Valdemar Queiroz
1. Mensagem de Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]...

Data: 27 de Outubro de 2014 às 01:34
Assunto: Uma grande fotografia


Ora viva, caro Luís Graça.

Esta fotografia,  uma grande fotografia de dois jovens. Um europeu, o Fur Mil Valdemar Queiroz, o outro um jovem soldado da CART 11. Qual deles o mais  'chavalo' ?!...

Foi tirada, em meados de 1970,  à entrada do Quartel de Baixo, em Nova Lamego. A cadela 'Judy', que foi  connosco de Lisboa, também lá está.

Também está na fotografia, parte, de um Memorial a um alferes que morreu em combate pela Pátria [, Rogério Nunes de Carvalho, alf mil op esp, morto por explosão de uma mina A/P,  na estrada Cheche-Canjadude, em 17/4/1968; pertencia à CCAÇ 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma, Pirada, 1968/69; era natural do concelho da Guarda].

Afinal, o que é morrer em combate pela Pátria? Infelizmente há muitos memoriais  como este.

Mortos em combate, os  mortos que nem 'tordos' na 1ª.Guerra Mundial, na Flandres, ... é morrer pela Pátria?

Mortos em combate, os mortos na força, de portugueses, que se juntou ao exército nazi, na operação 'Barbarosa', em junho de 1941, contra a ex- União Soviética, ...  é morrer pela Pátria?

Os milhares de portugueses, também, muito longe da sua terra, mortos em combate, em Moçambique, Angola e na Guiné, e não só, ... são mortos em combate pela Pátria?

Afinal o que é a Pátria? Uns dizem que é a terra do nossos pais. Afinal o que é morrer em combate pela Pátria, terra do nossos pais ?

Cá para mim, os nossos pais não mereciam   que os seus filhos morressem, assim, pela terra deles. (**)

Um grande abraço
Valdemar Queiroz

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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12281: In Memoriam (168): A Memória do Cheche, 6 de Fevereiro de 1969 - Lista oficial dos desaparecidos no Rio Corubal (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Transcrevo mail do Luis:
 "Zé: 
Queria republicar postes antigos sobre o desastre de Cheche... (O dia 6/2/2013, faziam 44 naos, passou... mas há coisas ainda para esclarecer... ). Tu andaste com este dossiê, tens autoridade na matéria... Mas em relação à tua lista dos mortos, falta um nome!... Já dei voltas e não descobri: deve ser da CCAÇ 1790... Queres pegar neste material e fazer um poste novo. atualizado ?... 
Um abraço
Luís Graça"

Não sei se era o texto que queriam.
Pelo menos segue a "lista oficial" dos desaparecidos no Cheche.

Abraço
José Martins









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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8610: Efemérides (73): 27 de Julho de 1970: Amélia teve um menino (José Marcelino Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) [, foto à direita, no seu escritório,] com data de 27 de Julho de 2011:

Bom dia a todos

Não sei como, algo me recordou que o penúltimo Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, Prof António de Oliveira Salazar, faz 41 anos que morreu.

Houve muitas anedotas, incluindo aquela que perguntava em que posição, no cortejo fúnebre, ocupava o sucessor,  Marcelo Caetano... Obviamente que ocupava o lugar "atrás das coroas".

Bem, segue um texto do [meu] livro não publicado, REFREGA, sobre os antecedentes, desta efémeride.

Um abraço
José Martins


AMÉLIA TEVE UM MENINO
por José Martins

Se na metrópole algumas notícias levavam tempo a chegar ao conhecimento das pessoas, lá longe, em plena África, só chegavam as notícias triviais que os familiares e amigos enviavam aos militares, cientes de que não haveria problemas, quer para uns quer para outros, se fossem interceptadas.

Por isso, era sempre ansiado o regresso dos companheiros que tinham vindo gozar os seus dias de férias à metrópole. Nessas alturas, além dos petiscos que era normal levarmos, havia noticias frescas, isto é, noticias mais recentes, ou com menos antiguidade, daquelas que os jornais que nos chegavam através do correio levavam, e, sobretudo, aquelas que corriam à boca pequena, e que eram transmitidas quase em surdina.

A uma distância de mais de trinta anos, já não me recordo bem como a notícia da queda do Presidente do Conselho, Doutor Oliveira Salazar, enquanto passava férias na Forte de S. João do Estoril, chegou ao nosso conhecimento nas matas da Guiné. Recordo-me, isso sim, de que pouco ou nada sabíamos.

O acidente tinha acontecido no dia 6 de Agosto de 1968. Muito provavelmente a notícia chegou através de alguém que, depois dessa data, regressou ao nosso convívio.

Naturalmente, especulámos o que se poderia seguir, já que nos encontrávamos numa zona bastante activa, e, entre nós e a fronteira da Guiné-Conacri,  só havia terreno sem controle das nossas tropas.

Como outros, este assunto era tabu e apenas comentado em “círculo” muito restrito. Com as praças europeias, e nessa altura estava connosco a Companhia de Artilharia n.º 2338, não havia comentários e, se alguma tentativa houvesse, decerto que seria desviada; para as praças africanas Salazar era apenas o “Homem Grande de Lisboa”.

Passou, então, a haver um acordo para que, assim que o falecimento do ex-presidente ocorresse, já que tinha sido exonerado em 27 de Setembro de 1968, quem estivesse na metrópole enviaria, para o capitão da CART [2338] , que era o autor da ideia, um telegrama com o texto “Amélia teve um menino”.

É evidente que, quando vim de férias em Novembro de 1968, não deixei de comentar o facto com pessoas de confiança, no caso o meu pai, e dei-lhe a “senha” para o caso de ser tempo de a usar.

E o tempo foi correndo. A CART [2338] saiu de Canjadude em Março de 1969 para Nova Lamego e daí para Buruntuma em Maio, passando por Pirada até ao seu regresso em Novembro de 1969, pelo que nunca mais tive contacto com qualquer elemento da unidade. Eu próprio viria a terminar a comissão em Maio de 1970 e regressado à vida civil, tudo “voltou ao normal”.

Estava a findar a mês de Julho de 1970, era dia 27, e pouco mais de um mês tinha passado desde o meu regresso. Como habitualmente fazia, depois de ir buscar a Manela, minha noiva, ao emprego e deixá-la em casa da mãe, fui para casa para jantar.

O meu opai, com ar de caso, chamando-me à parte, disse:
- “Amélia teve um menino”.
- Amélia ? Que Amélia ?...

A resposta veio rápida, pausada e em voz baixa, como convinha à época:
- Quando cá vieste de férias em Novembro de 68, não me pediste que, caso acontecesse algima coisa na política, em resultado da queda da cadeira do então Presidente do Conselho, para te mandar um telegrama com esta frase para a Guiné...?

Realmente a frase não me era estranha, mas nesse dia ainda não tinha ouvido noticias que, decerto, já corriam de boca em boca.

E concluiu:
- Este telegrama é falado! Salazar morreu!

5 de Setembro de 2002
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8538: In Memoriam (84): No dia 5 de Maio de 2011 morreu o último combatente da I Grande Guerra (José Martins)

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8441: Efemérides (51): A nossa malta no 10 de Junho, em Belém (2) (Arménio Estorninho)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3738: Recortes de Imprensa (13): A minha Guerra - José Paulo Pestana, Correio da Manhã, de 4/1/ 2009 (José Martins)

Mensagem do José Martins, de 5 de Janeiro de 2008

Caros amigos

Como não podia deixar de ser, mesmo antes de tomar o café adquiro o CM, que de imediato me leva ao texto Especial Guerra.

Para mim é uma história pessoal, por isso contada na primeira pessoa, mas que traduz, na realidade, uma vivência colectiva: ninguém esteve sozinho na guerra, pelo que cada história pessoal, passa a história colectiva.

O texto do Cor Ref Nogueira Pestana

No texto enviado pelo nosso camarada, hoje Coronel na Reforma, José Paulo Abreu Nogueira Pestana, consta que viu descarregar, no cais de Pidjiguiti, 47 caixotes de madeira tosca, que continham os restos mortais dos camaradas falecidos em 6 de Fevereiro de 1969 no rio Corubal, aquando do desastre havida com a jangada que fazia a última travessia do rio Corubal, durante a operação "Mabecos Bravios".

Os corpos dos nossos Camaradas não foram recuperados

Foi mal informado, porque os corpos daqueles camaradas não foram recuperados. Os restos mortais encontrados, mais tarde, foram sepultados numa ilhota no meio do rio, enquanto os restantes foram sendo enterrados nas margens do rio pelos elementos do PAIGC.

Sobre este triste acontecimento há muitos textos, inclusive do autor destas linhas que, por inerência das funções que exercia na altura e no local mais próximo do desastre (Furriel de Transmissões e Adjunto do Centro Cripto), Destacamento de Canjadude guarnecido na altura pela CCaç 5 e CArt 2338, foi quem obteve os elementos de identificação dos que NÃO RESPONDERAM À CHAMADA no final da operação.

Este é apenas um contributo para que, cada vez mais, se conheçam os contornos que aquela guerra teve.

José Martins

Fur Mil Trms Inf CCaç 5
Nova Lamego e Canjadude
Guiné Junho/68 a Junho/70

Com a devida vénia, seguem-se algumas passagens do artigo de 4 Janeiro 2009, "Correio da Manhã" , revista Domingo,A Minha Guerra - José Paulo Pesta na

"Conheci os três majores assassinados"

(....) A minha história refere-se à comissão na Guiné, onde cheguei no princípio de Fevereiro de 1969. Estava com a companhia que comandava no cais do Pijiguiti, em Bissau, à espera que o resto do batalhão desembarcasse do navio que nos transportara da Metrópole, quando se aproximou uma lancha da Marinha que depositou no cais, ao pé de nós, 47 caixotes de madeira tosca, que continham os corpos dos camaradas falecidos no desastre da jangada no rio Corubal, no Sudeste do território, durante a evacuação de Madina do Boé.

Nós estávamos destinados a Catió, na foz do rio Corubal, 'chão Manjaco', que não escapava a flagelações diárias de concentrações de tiros de canhão sem recuo. O quartel tinha uma antena de comunicações que fornecia ao inimigo um ajuste perfeito da direcção. Outra das companhias foi para Cufar, onde ficou sujeita ainda a uma maior intensidade diária de fogos.

O sector dispunha de uma companhia adida aquartelada em Guileje, que era a 'carreira de tiro' do inimigo, após a evacuação de Madina do Boé. Fomos sempre ripostando com a nossa artilharia pesada, tarefa a que me dediquei por ser de Artilharia, efectuando tiros de retaliação sobre os constantes ataques de morteiros pesados dos bigrupos comandados pelo Nino (Bernardino Vieira, actual presidente do país) ou seus subordinados, quer ao nosso quartel, quer aos quartéis vizinhos das nossas tropas.

Mais tarde fui substituir o capitão Santana Pereira, ferido com uma mina antipessoal na zona de Có-Pelundo ('chão Felupe'), onde se construía uma estrada entre Bula e Teixeira Pinto. Nunca podíamos descurar as minas colocadas nos trilhos, que já haviam vitimado um alferes e ferido o capitão.

A minha companhia foi depois destacada para Teixeira Pinto, no Oeste, onde substituiu a actividade operacional das três companhias de Forças Especiais, deslocadas para Buba, onde a situação se complicara. Teixeira Pinto estava sob tréguas fingidas, propostas por um suposto grupo dissidente do PAIGC, que convenceu tudo e todos que se iria deixar integrar no Exército Português, chegando a ter postos atribuídos. Após algum tempo, a minha companhia, bastante experiente, pois vinha da zona do Morés, foi de novo deslocada para Norte, para a zona do rio Cacheu, na fronteira do Casamance, onde reforçou o batalhão de Cavalaria 'Os Chicotes', em intensa actividade operacional.

Passámos a actuar na zona onde vieram a ser barbaramente assassinados com catanas os três majores mais prestigiados do Exército (Raúl Passos Ramos, Joaquim Pereira da Silva e Esteves Osório) e um alferes miliciano que os acompanhava em missão pacífica de estreitamento de relações com o falso grupo de integracionistas, que os traiu e os matou de surpresa.

O major Pereira da Silva havia sido meu comandante na minha primeira comissão em Angola; o major Osório, que era o oficial de operações, ia sempre à entrada e à saída da minha companhia em todas as operações em que participei, fosse a que horas fosse, para dar uma palavra de estímulo ou de apreço, e o major Passos Ramos, chefe de Estado-Maior, normalmente sobrevoava num avião de reconhecimento DO27 o agrupamento na mata, referenciando-me aí com granadas de fumo.


O capitão destinado a substituir-me, requisitado à Metrópole, chegou entretanto, mas eu mantive-me em sobreposição com ele várias semanas, pois sendo aquele um oficial de qualidade faltava-lhe a necessária experiência para uma área de risco elevado, visto tratar--se da sua primeira comissão no Ultramar e a minha já era a terceira. Depois, o oficial superior que me comandara uns meses antes em Có achou por bem convidar-me para seu oficial de operações no batalhão que, entretanto, iria comandar. Por isso, segui em demanda de Piche, no Leste , 'chão Fula', onde estive uns meses em operações intensas até à chegada de um batalhão de Cavalaria.

72 (setenta e duas) baixas num só ataque...


(...)Destaco nessa zona uma forte actividade inimiga que havia já produzido 72 baixas num só ataque. Os corpos de militares e civis reunidos no posto de socorros produziam na valeta da rua um apreciável caudal de sangue.

(...) Numa noite, ao princípio da madrugada, enquanto aguardava a hora aprazada para embarcar com parte da minha companhia para mais uma operação, ouvíamos rádio e bebíamos uma última cerveja, quando de súbito irromperam gritos do locutor em linguagem nativa, transparecendo algo de grave.


Radio Conakry



O administrador do posto, dono do rádio, informou que estávamos sintonizados para a rádio Conacri. Os guarda-marinhas que nos iam pôr no mato com as suas lanchas de desembarque ouviam atentamente e concluíram que era um ataque àquela capital feito pelas nossas tropas, pois na véspera todo o material naval da base de Bissau tinha saído para parte incerta.

Era a operação 'Mar Verde', cujo melhor resultado foi a libertação de 35 elementos do nosso Exército presos em Conacri e o pior a deserção do grupo de 17 homens pertencentes ao batalhão de comandos africanos que efectuou o ataque. (...) "


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Notas de vb:

1. Títulos e sublinados da responsabilidade do editor.

2. Sobre a op "Mabecos Bravios" ver artigo em

25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

3. Último artigo da série em

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3706: Recortes de Imprensa (12): Jornal de Notícias: Trasladações de camaradas nossos, mortos em Moçambique (Jorge Picado)

4. Conforme consta nos comentários apensos a este artigo, no depoimento do Cor José P. Pestana ao "Correio da Manhã" existem alguns lapsos que merecem ser esclarecidos:

(I). Catió não fica na foz do rio Corubal;
(II). Catió não pertencia ao "chão manjaco";
(III). Não existem relatos de alguma vez terem ocorrido na Guiné 72 baixas num só ataque;
(IV). Os PDG libertados pela op "Mar Verde", segundo os relatórios oficiais, foram 24 militares do Exército, 1 da FAP e 1 civil.