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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24743: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (2): Nova Lamego, 5 de abril de 1970: seis "jactos do povo", sem consequências, contra a nova pista de aterragem (Valdemar Queiroz e Abílio Duarte, CART 11, 1969/70)



Infografia: Nuno Rubim (2007)


1. Iniciámos uma nova série,  "Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos" (*). Temos hoje os comentários ao poste P24735 (**), de dois camaradas nossos, da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), os ex-fur mil at inf, Valdemar Queiroz e Abílio Duarte, que estavam em Nova Lamego, quando a nova pista de aterragem (renovada para receber os Fiat G-91) foi   flagelada com seis "jactos do povo" em 5 de abril de 1970, sem consequências.

Esta e outras acções do IN, nos anos de 1969 e 1970, estranhamente não vêm mencionadas pela CECA (2015), embora se fale do aparecimemto da nova arma, sem se precisar a data e o local da sua estreia (que terá sido Bedanda,  em 24 de outubro de 1969) (***).



Guiné > Região de Gabu > Carta de Nova Lamego (1957) (Escala: 1/50 mil) > Posição relativa de Nova Lamego, aeródromo e Coiada

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


(i) Valdemar Queiroz:

Oi, ouvi-os passar por cima da cabeça que pareciam foguetes a subir zzzeeeeeeee ao céu para rebentar em dia de romaria, mas com pouco entusiasmo.

Foi em Nova Lamego a 5 de abril de 1970. Na História da Unidade está escrito:

"05Abr - Cerca das 20h30 o IN desencadeia uma flagelação a Nova Lamego com foguetões 122. Os disparos foram executados com grandes intervalos, tendo sido encontrados seis pontos de impacto entre Coiada e a estrada de Bafatá, junto ao topo Oeste da nova pista de aterragem.

Não resultou qualquer baixa ou prejuízo para as nossas tropas nem para a população.
Qualquer que tivesse sido o objectivo a atingir, povoação e instalações militares ou a
pista de aterragem, a precisão dos disparos revelou-se bastante precária".


Julgo que seria para acertar na nova pista de aterragem, mas nenhum rebentou. No outro dia, foi o meu Pelotão que descobriu o local da instalação da "rampa" de lançamento dos 122, que devia ter sido accionada por baterias auto (?), a cerca de 12 km de Nova Lamego. (...)

8 de outubro de 2023 às 14:13

(ii) Abílio Duarte:

Olá,  Valdemar, era esta situação que tu relatas, que anteriormente quis relatar.

Então , é assim:  estava eu e mais alguns camaradas a jantar no libanês, em Nova Lamego, depois de um bom bife, e estava na sobremesa, verdade, um gelado, quando começaram a assobiar os foguetes sobre Gabú...

De seguida, sem fazer conta com o dono do restaurante, a malta começou a correr para o nosso aquartelamento (Quartel de Baixo, como era conhecido).

Porra, estava de havaianas, comecei a correr como um desalmado como os outros e cheguei ás nossas valas, descalço, e os pés todos f_d_dos.

Por isso estranhei anteriormente, falarem nestas armas do PAIGC, só em 73 e 74, quando em 70 já estávamos a levar com elas.

Este ataque a Nova Lamego foi antes da inauguração da renovação da pista para terem os Fiats, que foi inaugurada pelo Silva Cunha, ministro da ditadura. (****)

A minha companhia. CART 11, nesse dia fez a segurança móvel a Nova Lamego, sempre em movimento, e em viaturas, e no palanque do evento, nunca tinha visto tantas amarelas, eram oficiais da NATO e mais, tudo a monte, naquele pequeno território.

No reconhecimento que o Valdemar fala, o meu pelotão também esteve presente, assim como no local onde os foguetes caíram, deram cabo de um cajueiro, no fim da pista. A pista não tinha sido atingida, e as celebrações, foram efetuadas.

8 de outubro de 2023 às 15:31


(iii) Valdemar Queiroz:

Certo Duarte, eu estava de serviço no Quartel.

Na primeira passagem zzzzzzeeee ninguém se apercebeu o que era, foi preciso alguém (?) dizer 'é um ataque', correr à nossa caserna (#) buscar a G3 e vir para a Parada juntar o pessoal, que a nosso serviço era a defesa do gerador público.

No Quartel, estava de passagem um 1º. sargento velhote que ficou dentro do edifíciom encostado à parede e disse-me 'despe essa camisola branca'.
Juntei os soldados que apareceram e saímos para o gerador, e passaram outros zzzzeeeeees, mas nada de rebentamentos ou tiros.

Não me lembro de mais nada, quem ficou nas nossas valas,  e se o Canatário das armas pesadas chegou a fazer fogo com o morteiro 81. (O abrigo/espaldão do morteiro 81 era no meio da parada.)
 
(#) O mais correcto seria dizer correr para os nossos quartos. As instalações do Quartel de Baixo, em Nova Lamego, eram umas divisões/salas de parte do edifício da Administração Regional que nos foi cedida, e que transformámos em quartos dormitório de oficiais e sargentos.



(***) Vd, Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro II,  Lisboa: 2015, 608 pp.

(****) Segundo um apontamento meu, e com base na história da minha unidade, a CCAÇ 12, 1969/71, a ida do Silva Cunha, ministro do Ultramar,  a Nova Lamego deve ter sido em 14 de março de 1970, sábado, quinto da visita á Guiné: 

(...) Em 14 de Março, o Ministro do Ultramar, acompanhado do Com-Chefe e do comandante do Agrupamento nº 2957 (Bafatá), visitou o Reordenamento de Bambadincazinho. Foi montado o devido cordão de segurança por forças da CCAÇ 12 e outras subunidades. 

Na véspera, Bafatá tinha sido elevada a cidade, em cerimónia presidida pelo Dr. Silva Cunha, o homem grande de Lisboa (vd. reportagem fotográfica do nosso camarada Américo Estorninho sobre a recepção do Ministro do Ultramar por parte das autoridades e população de Bissau). (...)

Mais concretamente: a inauguração do aeródromo de Nova Lamego foi no quinto dia da visita do ministro do Ultramar à Guiné (aonde chegou a 10 de março de 1970), conforme reportagem da RTP que passou no noticionário nacional de 19 de março de 1970. Ver aqui: Vídeo, 28' 32'', RTP Arquivos


Resumo analítico (da responsabilidade da RTP - Arquivos, com a devida vénia...):

Vistas aéreas a partir de helicóptero; Nova Lamego: revista às tropas; inauguração do Aeródromo do Gabú; Monsenhor Amândio Neto, prefeito apostólico, faz a bênção; descerramento da placa inaugurativa; Silva Cunha cumprimenta populares e recebe oferendas da parte dos régulos; discursos do General António de Spínola e de Silva Cunha.

Festival aéreo realizado pelo Grupo 1201 da base aérea nº 12 da Força Área da Guiné; cartazes dando vivas a Portugal; travessia das ruas a pé e em jipe (multidão); plantação de tomate e instalações pecuárias.

Viagem de helicóptero militar à região do Boé; inauguração e visita à estação central militar da base aérea n.º 12 de Bissau em Bafatá; visita às regiões de Guileje (guarnição), a Gadamel, a Cassine (sic) [ Cacine] (guarnição e bairro em construção), às ilhas Melo e Como (cerimónia de receção); à Ponta de São Vicente (construção de estrada) e a Jolmete (aquartelamento)
[ em 16 de março, segunda-feira] . 

Inauguração de obelisco em Pelundo; visita a Chulame (casas em construção); a Teixeira Pinto (multidão, honras militares, hospital, capitão-médico Tavares de Pina, campos de arroz, mesquita), a Có (construção de casas) e a Bula (população a correr junto do carro).

Travessia de barco entre Cacheu e Bissau; vista em movimento de povoação.


Vd. também poste de 26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15159: O nosso querido mês de férias (3): 10 de março de 1970: eu a partir e o ministro do ultramar, Silva Cunha, a chegar, no mesmo Boeing 707, da TAP ( Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24579: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (3): Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, “Os Lacraus” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) - Parte II


Foto nº 13  > Capa do álbum da minha saudosa mãe, "Honra e Glória"


Foto nº 14 >  A foto da ordem, a farda nº 1, emprestada...


Foto nº 15  > Eu e o famoso e afamado Pechinchado meu pelotão, o 3º, CART 2497 / CART 11 (1969/70); era  fur mil op esp, e desenhador na vida civil...
 

Foto nº 16 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2497 / CART 11 (1969/70) > O Abílio Duarte na messe, em Nova Lamego, decorada pelo Pechincha, lendo a revista brasileira "O Cruzeiro"...


Foto nº 17 >  Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2497 / CART 11 (1969/70) > Uma parelha de Fiat G-91 na pista de Nova Lamego


Foto nº  18 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel  > CART 2497 / CART 11 (1969/70) >1969 > Praia de Contuboel, no rio Geba





Fotos nº 19  e 19A>  Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2497 / CART 11 (1969/70) > Vista aérea de Piche... Pormenor do espaldão do obus, valas e abrigosSão visíveis, para além das instalações do perssoal e o perímetro de valas que circundavam o aquartelamento.

(...) Era um quartel novo, com razoáveis instalações para a CCS e para mais duas companhias operacionais. Tinha água canalizada e gerador elétrico. As instalações do quartel incluíam trincheiras, base de fogos do morteiro 81, três peças 11,4 e as habituais casernas, messe, cozinha e posto de socorros, tudo rodeado por arame farpado, com a respetiva Porta de Armas" (...)  (Mendes Paulo, maj cav, 1932-2006)...


Foto nº 20 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego ou Piche (?)  > CART 2497 / CART 11 (1969/70)  > Corte de cabelo, do soldado que, para mim, era um mistério: pessoa muito recatada, os outros obedeciam-lhe, sem qualquer dúvida; muito calmo, dialogante, julgo agora que ele era um líder religioso.


Foto nº 21 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor L6 (Pirada) > Paunca >  CART 2479 / CART 11 ( 1969/70) > Cerimónia do Ramadão de 1970 em Paunca. Nesse ano o Ramadão começou a 31 de outubro e terminou a 30 de novembro.


Foto nº 22 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 2479 / CART 11  (1969/70) > Algures  >  Uma aldeia atacada e destruída pelo IN...


Foto nº 23 > Guiné > Zona Leste > s/l  >    CART 2479 / CART 11  (1969/70)  > Algures no Corubal... Foto do 3º Pelotão: ao centro,  Abílio Duarte bebe água...   

(...) A nossa companhia foi constituída por soldados de 2ª linha, provenientes da evacuação de Madina do Boé, Cheche e Beli, ao sul do Rio Corubal.

Foi dada instrução militar, em Contuboel, donde se formaram duas Companhias de Fulas [CART 11 e CCAÇ 12] e um Pelotão de Mandingas, que foi depois enviado para a Zona de Bambadinca e Xime.

A nossa Companhia era comandada, pelo cap mil Analido Aniceto Pinto  [já falecido, trabalhou na Petrogal, com o Tony Levezinho, por exemplo],  que muito considero, pois alinhou sempre.

Depois da Formação e Juramento de Bandeira em Bissau, fomos colocados no Leste da Guiné como força de Intervenção subordinada ao Com-Chefe, e depois ao COP 5 de Bafatá.

Durante 14 meses de Operações Militares de toda a espécie, Nomadizações, Colunas, Emboscadas, Segurança na Fronteira com o Senegal, Apoio Logístico no conflito de Buruntuma (Fronteira com a Guiné-Conakri) e Apoio no Deslocamento de Rebeldes de Nova Lamego até à Fronteira com a Guiné, para o Golpe de Estado contra Sekou Touré [, Op Mar Verde], tudo foi feito com dignidade e honra" (...).




Fotos nº 24  e 24A > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca  >   CART 2479 / CART 11  (1969/70) >  "Eu, dentro do possível, fazendo psico"...


Foto nº 25 > Guiné > Zona Leste > Regiáo de Gabu > Paunca>   CART 2479 / CART 11  (1969/70) >  "Refrescando-me no SPA de Paunca"... [O depósito de água é um bidão de gasolina da SACOR, Bissau]


Foto nº 26 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca>   CART 2479 / CART 11  (1969/70) > A nossa cozinha...



Foto nº 27 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca> CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Na suite do Ali Babá em Gabu (Nova Lamego).





Foto nº 28 > Moita, Praia do Rosário > 13 de maio de 2023 > CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus", 1969/70 > Convívio >  Um grupo de resistentes... O primeiro da esquerda para a direita, na primeira fila (sentados): eu, Abílio Duarte, o Pais de Sousa, o Manuel Macias, o Alf Martins e um camarada condutor, que agora não recordo o seu nome. De pé, e também da esquerda para a direita: o Pechincha, o Silva, o Reina, o Saraiva, o Artur Dias e o Cândido Cunha.

Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte de uma seleção das fotos (*) do Abílio Duarte, ex-fur mil art MA, CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11), "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70).

Faz parte da Tabanca Grande desde 27/8/2010. Tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue. Esteve no CTIG de fevereiro de 1969 e a dezembro de 1970.

Na CART 2479/CART 11 havia vários militares equipados com máquinas fotográficas além do Abílio Duarte, o ex-fur mil Cândido Cunha, o ex-1º ccabi trms Pais  (já falecido) e o  ex-alf mil Pina Cabral (também já falecido). Infelizmenmte destes quatro nomes, só o Abílio é membro da nossa Tabanca Grande.

Bancário reformado, residente na Amadora, o Abílio Duarte continua a fazer alguma fotografia, nomeadamenmte por ocasião dos convívios anuais dos "Lacraus". As fotos agora selecionadas são provenientes dos postes abaixo identificados (**)

2. Sobre a primeira máquina fotográfica Canon que comprou a bordo do T/T Timor, escreveu ele:

(...) Entrando na tertúlia das máquinas fotográficas, não quero deixar de deixar algumas palavras sobre a minha CANON.

Comprei-a a bordo do navio que nos levou à Guiné, o "Timor", e que me acompanhou em toda a comissão, tendo ido muitas vezes para o mato.

Foi a minha 1.ª câmara, que me despertou muito para a actividade de fotógrafo, e com ela tirei centenas de fotos e slides. Aprendi o que era abertura vs velocidade, grandes planos, campo de profundidade, etc.

Era uma máquina bastante resistente e tinha um bom estojo, que a salvou de muitas quedas, e apanhou bastantes chuvadas. Tive-a até bastante tempo depois de regressar, mas um dia caiu e já não teve conserto, para tristeza minha. (...)

Uma coisa que estranhei, quando estava na Guiné, é que quando mandava slides para revelar, para a Alemanha, nunca me desapareceu nenhum rolo, o que na altura me deixava bastante satisfeito. (...)


3. Comentário do editor LG (ao poste P15886):

(...) Abílio, então ouve lá: não sabes se as fotos "etnográficas" são de Piche, Contuboel, Nova Lamego ou Paunca...? Sei que passaste por muitos sítios, mas, vá lá, faz um esforço de memória... 

Eu sei que, quando a gente mandava a uma foto à família, não tinha a preocupação de mandar uma legenda completa... Uma foto era apenas uma forma de "prova de vida"... Se tivesse algum "exotismo", melhor... "Eu e bajudinha", "eu e o homem grande", "eu, junto ao rio Geba, a pensar no rio da minha aldeia"... E "já só faltam 600 dias para vos beijar e abraçar!"... O que eram 600 dias na vida de um homem, mobilizado para defender as costas dos grandes senhores do império?!...

Para a família, a milhares de quilómetros de distância, fazia alguma diferença que a gente tivesse em Paunca ou Piche?!... Coitados dos nossos pais, irmãos e amigos, eles sabiam lá onde ficavam esses lugarejos do fim do mundo!... Eles sabiam lá onde ficava a Guiné, a não ser que ficava a cinco dias de viagem por barco!... E que havia mosquitos, crocodilos e "turras"...

Tirando eles, os nossos pais, irmãos e amigos íntimos, quem dos restantes 10 milhões de portugueses se preocupavam connosco!?... Só quem tinha filhos ou irmãos ou amigos íntimos na Guiné, no ultramar, na guerra!... (...)

Vd. poste inicial da série > 15 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24555: Por onde andam os nossos fotógrafos ?  (1): Luís Graça

(**) Fotos selecionadas de:

17 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24321: Facebook...ando (28): Convívio anual da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) em que apareceu, pela primeira vez, o Pechincha, que já não via desde 1969 (Abílio Duarte)

27 de abril de  2016 > Guiné 63/74 - P16023: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte V: A FAP no Gabu

<> 

22 de maqrço de 2016 > Guiné 63/74 - P15886: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte II

16 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15862: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte I

31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

14 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

2 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12380: O que é que a malta lia, nas horas vagas (2): a revista brasileira, ilustrada, "O Cruzeiro" (Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

13 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11092: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paúnca, 1969/70) (Parte II)

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24321: Facebook...ando (28): Convívio anual da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) em que apareceu, pela primeira vez, o Pechincha, que já não via desde 1969 (Abílio Duarte)


CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus", 1969/70 > Convívio > Moita, Praia do Rosário > 13 de maio de 2023 > Um grupo de resistentes... O primeiro da esquerda para a direita, na primeira fila (sentados): eu, Abílio Duarte, o Pais de Sousa, o Manuel Macias, o Alf Martins e um camarada condutor, que agora não recordo o seu nome. De pé, e também da esquerda para a direita: o Pechincha, o Silva, o Reina, o Saraiva, o Artur Dias e o Cândido Cunha.

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foto e mensagem do Abílio Duarte, postadas na página do Facebook da Tabanca Grande, em 16 do corrente, 17h09:

[Foto à direita: Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70]

Continuando a recordar. Foto do último almoço-convívio, dos veteranos da CArt 2479  (CArt / CCaç 11), Guiné 1969/70. 

Encontrei o Pechincha, que já não via desde 1969, quando se desenfiou para Bissau. Cá vamos resistindo. 

Nesta foto, temos pessoal que nos acompanhou, desde Penafiel  à Guiné, como o Manuel Macias, o Cândido Cunha, o Pechincha, o Pais de Sousa (Fur Mecânico), o Silva (Fur Transmissões), o Reina,  o Alf Martins, meu Comandante de Pelotão, e outros soldados e cabos, como o Dias e o Saraiva. Tudo em forma. Abraço a todos. Abílio Duarte.

2. Comentário do editor LG:

Abílio, obrigado, pela fotos e pela legenda, agora mais completa. Finalmente, "apanhamos" o Pechincha, que era há muito procurado, "vivo ou morto"... O Macias também é nosso tabanqueiro... O Valdemar, infelizmente, não foi ao vosso convívio, por razões de saúde (conhecidas de todos), nem é "facebook...eiro", embora seja um ativo comentador do nosso blogue. O Cândido Cunha gostava de o ver aqui, mais vezes, a "dar a cara",  passando a integrar a Tabanca Grande. O convite que lhe fiz há muito, continua válido... Um alfabravo para esses  todos "lacraus", que estiveram comigo em Contuboel... em junho/julho de 1969... 


Espinho > Silvalde > Fevereiro de 1969 >  CART 2479 / CART 11 >   IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional > Uma "foto histórica" um "ninho" de lacraus, designação do pessoal da futura CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/70)

CART 2479 constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês

O  percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969; passou por Bissau, Contuboel, Nova Lamego,  Piche; o comandante era o cap mil art Analido Aniceto Pinto (1934- 2014) (trabalhou na Galp Energia, com o nosso Tony Levezinho, da CCAÇ 12); foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11; em maio de 1972 a CART 11 passou a designar-se CCAÇ 11. No CIM de Contuboel, no 1º e 2º trimestre de 1969l formaram-se, entre outras, as futuras CART 11 / CCAÇ 11 e CCAÇ 12.

Na foto, e graças aos contributos do Valdemar Queiroz  e do Abílio Duarte, podemos identificar os seguintes 1ºs cabos milicianos (futuros furriéis milicianos. "Lacraus" da CART 2479 / CART 11), da esquerda para a direita:

(i) na primeira fila, Manuel Macias (8), Pechincha (que era de operações especiais) (7), Abílio Duarte (5) e Aurélio Duarte (, de Coimbra, falecido em 2015);

(ii) na segunda fila, Canatário (que era apontador de armas pesadas) (9); o Ferreira (
vaguemestre) (10);  o Cândido Cunha (3)") (**) ; e o Abílio Pinto (11);

(iii) na terceira fila,  o Vera Cruz ("este rapaz era um tratado a jogar à lerpa, bons momentos, muito stressado, mas com saída com as miúdas na Guiné"(13); e o Renato Monteiro (já falecido, em 2021) (2):

(iv) na última fila, o Bento (14), o Sousa (já falecido (4), (14) e o "indomável Valdemar Queiroz da Silva, grande contador de histórias" (1).

"Todos duma excecional colheita de "bioxene", garante o Valdemar.  Na foto faltam os restantes da colheita, os ex-fur.mil. Pais de Sousa (Mecânico), Silva (Transmissões) e Edmond (Enfermeiro).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine.]
___________

Nota do editor:

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24228: (Ex)citações (426): Recordações dos Comandos Africanos em Paunca, em setembro de 1970 (Valdemar Queiroz e Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 11, 1969/70)


 
Guiné > Zona Leste > Regiãod e Gabu > Paunca > CART 11 (1969/70) > Rua principal e quartel, com o Valdemar Queiroz numa das portas de armas, na primeira foto.

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste P24224 (*), da parte de dois "Lacraus", ex-fur mil, Valdemar Queiroz e Abílio Duarte, da CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, "Os Lacraus", que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11);  os dois passaram por  Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, e outros sítios do Leste, 1969/70; sabemos que o Abílio Duarte estava em Paunca na altura do Ramadão de 1970, que nesse ano começou a 31 de outubro e terminou a 30 de novembro; sobre Paunca temos mais de 7 dezenas de referências.


(i) Valdemar Queiroz:

Em Setembro de 1970, eu a minha CART 11 estávamos em Paunca e no destacamento de Guiro Iero Bocari.

Eu não me recordo da Companhia de Comandos Africanos estar no nosso Quartel em Paunca [sem setembro de 1970], talvez por andar numa segurança à vacinação que se efetuou na população das tabancas da zona.

Dentro do triângulo Sara Bacar-Paunca / Sonaco-Pirada havia várias tabancas sem tropa (não sei se em autodefesa) e fazíamos visitas com frequência. Também, com a chegada da nossa CART 11, de soldados fulas, ou com falta de efetivos a partir do Senegal, deixou de haver incursões do IN naquela zona

Calhando, o Abílio Duarte se lembre dessa visita.

Valdemar Queiroz | 15 de abril de 2023 às 16:45 

(ii) Abilio Duarte:

Com certeza... Amigo e camarada Valdemar, como se fosse ontem.

Estava em Paunca, na altura em que a Companhia de Comados do cap Bacar Jaló foi fazer uma operação ao Senegal.

Sem mais nem menos, ninguém sabia de nada, e entra aquela malta toda no nosso aquartelamento em Paunca, e eu digo para mim: "Porra, estes gajos vêm a fugir de onde?!...

Passada a surpresa, vim a saber o que se tinha passado, e o capitão Aniceto  Pinto chamou a nossa malta, e fez um breve briefing: era necessário pôr a malta nas valas e abrigos, pois os comandos tinham a sensação que vinham a ser seguidos pelo PAIGC.

Em seguida , o cap Jaló deu umas coordenadas, e fez-se fogo do obus 140 mm, e de morteiro 80 mm.

Ainda nesse fim de tarde, apareceu uma coluna de Unimogs, que vieram buscar os Comados Africanos, e zarparam, não sei para onde.

Estava tudo combinado, e nem o Aniceto sabia  de alguma coisa. O segredo é a alma do negócio.

Só ouvi falar novamente desta gente, na operação em Conacri, em que o pelotão do ten Januário foi apanhado, e fuzilado.

Recordando a Operação Mar Verde,  eu dormia numa tabanca, e numa manhã, veio o dono da dita, me acordando: "Furiel , tuga está em Conacri !!!"...

Fui ouvir a rádio que ele estava a sintonizar e...tudo de boca aberta, apesar do meu mau francês, lá percebi o que se estava a passar.

Ligando para o PIFAS, e Emissora Nacional, era tudo mentira.

Abraço Valdemar e as tuas melhoras.

Abílio Duarte | 15 de abril de 2023 às 17:25 

(iii) Valdemar Queiroz:

Duarte, ainda bem que te lembras do que aconteceu. Não me lembro de nada, nem sequer de ouvir falar do que tu agora contaste. Até o História da Unidade não refere esse acontecimento.

Devia estar em Guiro Iero Bocari ou com um grande bioxene que limpou o disco rijo.

Abraço e saúde da boa


Último poste da série (Ex)citações: P24227 (**)




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Carta  de Paunca (1957) (Escala 1/50 mil) > Detalhes: posição relativa de Paunca, Paiama, Sinchã Abdulai e Guiro Iero Bocari, junto à fronteira com o Senegal.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)

___________

Notas do editor:

(*) vd. poste de 15 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24224: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIV: As previsões agoirentas do adivinho Mamadu Candé que nos via, a mim e ao João Bacar Jaló, a viajar num barco para desembarcarmos numa grande cidade e aí a sofrer muitas baixas (... só não nos disse o nome da cidade: Conacri...)

(**) Último poste da série > 16 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24227: (Ex)citações (425): o recurso ao pensamento mágico, à superstição, aos amuletos e às artes adivinhatórias, etc., na guerra, de um lado e do outro (Luís Graça)

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24204: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIII: Na 1ª CCmds Africanos em 1970: de Fá Mandinga a Bajocunda, Pirada e Senegal, respondendo ao terror do PAIGC


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > CIM Fá Mandinga > 1ª CCmds Africanos > 1970 > Recrutas do curso de Comandos. Soldados Quintino Gomes (morto em combate, em 1973), o 1º da esquerda,  e Abdulai Djaló Cula, o último, à direita. Foto de Amadu Djaló, reproduzida na pág. na 158.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > CIM Fá Mandinga > 1ª CCmds Africanos > 1970 > Grupo de 26: d
a esquerda para a direita: 



(i) o 1º, Abdulai Djaló Cula (A); furriel José Mendonça (o nosso 1º morto, mina A/P, Ponta do Inglês, Xime) (B); José Vieira (morto em Cumbamori), Op Amestista Real, 19/5/1973) (C);  ao meio de boina o 2º sargento Carolino Barbosa (fuzilado pelo PAIGC) (D) e furriéis Júlio César Sá Nogueira (D) e Mário Teixeira (E) (ambos à direita, fuzilados em Conakry, grupo do Tenente Januário,  na sequência da Op Mar Verde, novembro de 1970). 

(ii) De joelhos, Laurindo Ribeiro (G), Mamo Djana (H) (morto em emboscada na estrada entre Pirada e Bajocunda), o 3º homem, soldado Nicolau Cabral (I) (morto em Bajocunda), entre outros que não consigo identificar. Foto do autor, reproduzida na pág. 159. 

[Edição e legenda complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2023]



Guiné >Zona leste > Região de Gabu > Vista aérea de Bajocunda. Foto cedida por 
Amílcar Ventura, ex-Furriel Mil. Mec., Bajocunda, 1973/74, e reproduzida na pág. 161.


1. C
ontinuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital,  do seu livro 
"Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote,  facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.


[Floto à direita > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149) ]

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri,  começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii)  depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido,  por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757; 

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló; 

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal.

 

Capa do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um    luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIII:  
 
 
Na 1º CCmds Africanos em 1970: de Fá Mandinga a Bajocunda, Pirada e Senegal, respondendo ao terror do PAIGC (8pp. 158-165) 


Em fevereiro [1] de 1970 estávamos em Fá Mandinga. Depois de três dias a preparar o terreno, começámos o curso. Na primeira parte houve vários feridos, foram eliminados vários, a maior parte por falta de capacidade física.

 Finalmente arrancámos para a parte da formação dos grupos, a que se seguiu o treino operacional.

Aqui já tivemos dois mortos, o furriel José Mendonça e o soldado Nicolau Cabral. O furriel[2] pisou uma mina anti-pessoal e ficou cortado em dois. Os membros inferiores nunca apareceram.

Numa das primeiras saídas, entre 25 e 26 de Junho de 1970, numa emboscada em Sare Aliu, junto à linha da fronteira na área de Bajocunda, o soldado Nicolau[3] foi satisfazer as necessidades e não avisou ninguém. Era uma noite escura e quando regressava para junto do grupo perdeu a orientação e entrou pelo outro lado da emboscada. Ninguém o reconheceu, nem deu tempo para fazer perguntas.

Num desses dias, em Dinga Bantaguel, o nosso grupo, comandado pelo alferes Tomás Camará, viu um rapaz a caminhar na nossa direcção, debaixo de um sol ardente, acompanhado de vários cães. Nós estávamos dispersos, com alguns sentados à sombra de uma árvore grande, a manjanja, que dava boa sombra.

Costuma ser junto a estas árvores que, na Guiné, o pessoal da tabanca se junta na hora de mais calor. Todos os dias, os homens grandes da tabanca encontram-se ali[4] e, por vezes, mandam vir o almoço e comem todos juntos.

Mal o rapaz, de cerca de vinte anos, chegou, o comandante do grupo começou a interrogá-lo. Eu estava sentado, um pouco afastado, mas a ouvir a conversa. Quando o rapaz se estava despedir, o Tomás Camará disse-lhe para passar a noite connosco, que amanhã íamos para Bajocunda em viaturas[5], mas o rapaz respondeu que não podia. Então, o Tomás disse-lhe que podia ir à vida dele. Nessa altura, levantei-me e disse para trazerem uma corda. Chamei o rapaz.
 
− Olha, anda cá.

Mandei-o encostar-se a um pequeno mangueiro e amarrei-o com a corda.

− Ficas aqui, amarrado, durante a noite. Se formos atacados,  és morto. Ou então, dizes a verdade toda. Se ninguém nos atacar, desamarramos-te e ninguém te faz mal. E, de manhã, podes ir para o Senegal, ou então vais connosco para Bajocunda, se quiseres.

Ele disse que ia dizer a verdade. Que tinha vindo com a guerrilha até à fronteira e que eles o mandaram vir cá saber em que tabanca a tropa estava, para terem informações correctas. Mandei desamarrá-lo.

Ficámos à espera, mas já tínhamos a certeza que iríamos ter visitas essa noite, só não sabíamos qual seria o resultado, mas ataque não ia faltar.

Por volta da 01h00 da madrugada, o Tomás Camará estava a falar em voz alta e um grupo do PAIGC progrediu até de onde vinha a voz, com a intenção de nos atacar. Eu, que era o 2º comandante do grupo e que tinha a responsabilidade de montar a segurança, montei 4 postos: na saída para Bajocunda, na saída para Canquelifá, na saída para a fronteira e na saída para a fonte. A 5ª equipa ficou ao pé do comandante.

O pessoal do PAIGC que vinha da fronteira, entrou na tabanca e orientados pela voz alta do nosso comandante,começaram a progredir nessa direcção. Um soldado nosso viu um homem para aí a cinco metros e disparou uma rajada. Eu e o Tomás corremos para a frente, mas a guerra acabou depressa. Ficou o corpo no local, ao lado de um RPG 2.

De manhã enterrámo-lo e fomos a Panaghar, uma tabanca no Senegal, recolher dois homens do nosso território, que estavam lá refugiados. Tínhamos ouvido dizer que havia gente da Guiné refugiada naquela tabanca do Senegal. E fomos tentar saber por que é que a população estava toda a fugir para lá. Disseram-nos que o pessoal do PAIGC os tinham ameaçado de que deviam abandonar as tabancas. 

A partir dessa altura deixámos de montar a segurança às tabancas que ficavam na linha de fronteira porque estavam completamente mobilizadas pelo PAIGC. E as tabancas que não tinham aderido ao PAIGC começaram a aparecer queimadas.

Encontrávamo-nos Bajocunda[6] quando chegou uma mensagem urgente para nos deslocarmos a Pirada[7]. Preparámos a coluna e partimos sem demora. Quando lá chegámos encontrámos o comandante Calvão[8] na entrada do aquartelamento, à nossa espera.

Deu ordens para virarmos as viaturas para a pista e para nos reunirmos com ele, que tinha uma missão para nós. O comandante chamou os quadros da companhia, afastámo-nos dos soldados e dispusemo-nos em círculo, com o comandante no meio. Disse que havia necessidade de queimar as tabancas de Sare Bocar, de Sinchã Sore e de Perim, todas dentro do Senegal. Sare Bocar ficava mais próxima de Paunca[9] e nós devíamos começar por aí, onde nas proximidades havia um acampamento do PAIGC e depois marchávamos para Sinchã Sore e Perim.

Na reunião com o comandante ficou assente que se algum dos nossos morresse lá, tirávamos-lhe a arma, o equipamento e farda e deixávamos o corpo. Se houvesse algum ferido grave, procedíamos da mesma forma, deixávamos o moribundo nu. Foi por este motivo que o comandante nos tinha mandado ir com ele para longe do resto do pessoal

Era uma decisão muito dura, mas para a tropa Comando nada podia ser duro e a nossa função era cumprirmos, fosse qual fosse o fardo.

Quando estávamos reunidos na pista com o comandante aproximou-se de nós uma carrinha com um homem branco, chamado Mário Soares[10], ainda com sabão da barba na cara. Este Mário Soares era um comerciante que nos dava informações e havia quem dissesse que também as dava ao PAIGC. Vinha acompanhado por um homem negro, senegalês, que trazia uma informação. Que nessa manhã uma companhia do PAIGC tinha entrado no nosso território e, que nesta altura, devia estar na ponte[11]. 

O capitão João Bacar Jaló pediu logo ao comandante Calvão que autorizasse que a 1ª CCmds patrulhasse a zona até à ponte. Mas o comandante não esteve de acordo, que quem ia tratar do assunto iam ser os homens do batalhão[12].

Enquanto estávamos em reunião com o comandante, ele chamou o capitão da companhia[13] aquartelada em Pirada e deu-lhe instruções para mandar patrulhar até à zona da ponte. Momentos depois, ouvimo-los a regressar, dizendo que tinham patrulhado a estrada até à ponte e que não tinham encontrado nada. Ficámos a olhar uns para os outros, admirados com tanta rapidez.

Quando nos estávamos a preparar para a saída, estava a chegar um grupo da nossa Companhia, comandada pelo tenente Januário, com uma coluna de viaturas civis, carregadas com géneros. Saudámo-nos, mas não houve tempo para muitos cumprimentos. Eles seguiram para Bajocunda e nós para a fronteira com o Senegal. Quando a coluna deles[14] chegou à zona da ponte, caíram numa emboscada no pontão do Maul-Jaubé, no itinerário de Pirada a Tabassi. Estávamos nós ainda junto ao arame farpado, quando ouvimos o tiroteio e os estrondos dos rebentamentos. Sigam aos vossos destinos, foi a ordem que recebemos do batalhão.


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Carta de Pirada (1957) > Escala 1/50 mil  > Posição relativa de Pirada, Tabassi e Bajocunda, e já no Senegal as tabancas de Perim e Sinchã Sari. Pirada estava nas proximidades do marco fromnteiriço 69.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

 
Pirada ficava a pouco mais de um quilómetro da fronteira com o Senegal. As tabancas de Perim, a nem um quilómetro, Sinchã Sore [gralha ?, na carta de Pirada está grafado o topónimo  Sinchã Sari] a pouco mais de dois da linha da fronteira e Sare Bocar a pouco mais de cinco.

Guinjé > Bissau > 10 de junho de 1967 > O Abdulai Jamanca, então 1º Cabo, a ser condecorado. Foto reproduzida na pág. 161.

Fomos a corta mato, sem qualquer problema e entrámos pela tabanca de Sare Bocar. Era mais ou menos meia-noite quando o Alferes Jamanca bateu à porta de uma casa. Saiu um homem.

   Onde é a casa do chefe da tabanca?  − perguntou o alferes.

O homem apontou para uma casa e o Jamanca disse para vir connosco. Acordado o chefe da tabanca, cumprimentaram-se e o João Bacar Jaló, o comandante da nossa companhia, disse ao Jamanca para ele dizer ao chefe da tabanca que dissesse à população que retirasse todos os seus haveres, porque a tabanca ia ser incendiada.

Três ou quatro homens da tabanca acordaram e juntaram-se ao chefe da tabanca. Este, depois de ouvir o Jamanca, perguntou:

− Mas de onde vocês vieram?

− Guiné Portuguesa  − respondeu o João Bacar.

O chefe da tabanca, que só via africanos à sua volta, pensou que éramos do PAIGC.

− Mas vocês estão enganados. Isto aqui é Senegal!

− Nós somos obrigados a queimar as vossas tabancas porque o PAIGC sai daqui e vai ao nosso território queimar as nossas tabancas e depois volta para aqui respondeu o Jamanca.

Depressa os residentes da tabanca começaram a retirar as suas coisas, enquanto os soldados começavam a chegar fogo às casas.

Quando o primeiro soldado ateou o lume, um morador, surpreendido, gritou:

− Mas é verdade, isto não é brincadeira!

A certa altura, a situação parecia ter tomado conta dos soldados que, entusiasmados, pareciam não querer sair dali. O alferes Justo conseguiu pôr ordem, avisando-os que se algum deles ficasse ferido havia ordem para lhe tirar a arma, equipamento e farda e deixá-lo no local. 

Acalmaram rapidamente e seguimos para a Sinchã Sore, onde a acção se repetiu, praticamente da mesma forma. E quando o dia[15] já estava a nascer chegámos a Perim e a única diferença foi ser já de dia. Estas duas tabancas eram de menor dimensão e arderam quase na totalidade. Depois retirámos, sem incidentes na direcção de Pirada, utilizando o carreiro.

A partir desta data, confirmou-se mais tarde, as nossas tabancas na zona da fronteira deixaram de ser queimadas pelo PAIGC e nós passámos a proceder da mesma forma, também deixámos de importunar as tabancas do Senegal.

Quando entrámos em Pirada, o comandante Calvão estava à nossa espera. Depois de ouvir as nossas notícias, meteu-se numa avioneta e foi fazer um voo de reconhecimento para ver os resultados. Só a primeira tabanca, a de Sare Bocar não tinha ardido completamente, mas mais de metade tinha ficado em cinzas.

Nesta altura soubemos o resultado da emboscada ao nosso grupo que, no dia anterior, escoltava viaturas civis. Tinha tido dois mortos, um cabo miliciano[16] e um soldado[17]. O cabo miliciano tinha acabado a escola de rádio telegrafista e tinha sido colocado na 1ª CCmds Africanos. Nem se chegou a apresentar ao comandante da companhia, morreu no caminho. Na emboscada morreram ainda dois civis, um condutor chamado Fernandes[18], residente em Bafatá,  e um ajudante[19]. Depois destas notícias, regressámos a Bajocunda, onde a nossa companhia estava sedeada.

Corremos aquela área toda, todos os dias um grupo nosso saía para a mata das zona da fronteira.

(Continua)

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Notas do autor ou do editor:

[1] Nota do editor: em 11 Fevereiro 1970.

[2] Nota do editor: em 18 Junho de 1970

[3] Nota do editor: Soldado Nicolau Tomás Cabral.

[4] A este local, onde se concentra a população, os Mandingas chamam bantaba e os Fulas Banta.

[5] Nota do editor: da CArt 2438, comandada pelo Cap Art Veiga Vaz e a pouco mais de um mês do termo da respectiva comissão; em Bajocunda estava instalado, desde 27 Junho 1970, o COT1 (Comando Operacional Transitório 1), comandado pelo Major Inf Nuno Valdez dos Santos, então recém-criado “com a finalidade de fazer face a uma intensificação da actividade inimiga sobre a região de Pirada/Bajocunda (...) e ficando na dependência do Comandante do Agrupamento 2957”, sediado em Bafatá sob o comando do Coronel Art Neves Cardoso.

[6] Nota do editor: em 04 Julho de 1970

[7] Nota do editor: desde 17 Março 1970, sede da CCaç 2571.

[8] Comandante Alpoim Calvão.

[9] Nota do editor: desde 23 Junho 1970, guarnecida com 3 pelotões da CCaç 2658 e 3 pelotões “Fulas” da CArt 11/CTIG.

[10] Nota do editor: Mário Rodrigues Soares instalou-se na Guiné em 1948 e montou no posto fronteiriço de Pirada um estabelecimento comercial ligado à “Casa Gouveia”. Em Setembro de 1974, em risco de ser fuzilado pelo PAIGC, conseguiu escapar e chegar a Lisboa, onde ficou detido 45 dias em Caxias. Morreu em Abril de 1995.

[11] Nota do editor: sobre o rio Mael-Jaubé, quase paralelo à fronteira desde Pirada a Oribodé, para leste.

[12] Nota do editor: BArt 2857.

[13] Nota do editor: CCaç 2571.

[14] Nota do editor: da CArt 2438, instalada em Bajocunda

[15] Nota do editor: 5 Julho de 1970.

[16] Nota do editor: Cabo Mil Julião Albano Cabral.

[17] Nota do editor: Soldado José Augusto Maru Djaná.

[18] Nota do editor: Rufino Gomes Fernandes.

[19] Nota do editor: Mamadu Bobo Jaló, residente em Nova Lamego.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Subtítulo / Negritos: LG]

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Nota do editor: