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sábado, 14 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23982: Blogues da nossa blogosfera (171): Cerca de metade dos nossos "favoritos" de há uns anos atrás já não existem ou mudaram de URL



Guiné >Região do Oio > Morés > Op Jaguar Vermelho > 9/6/1970 >  Criança encontrada pelos "páras" no mato, os quais tomaram conta dela, dando-lhe pão, e uma "kalash" (para a foto). Pela foto devia ter uma idade semelhante ao que a CCAÇ 13 também encontrou noutra ocasião.


Guiné >Região do Oio > Morés > Operação Jaguar Vermelho > 9/6/1970 > Uma escola

Fotos de César Dias ex-furriel do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), as quais lhe foram dadas por um furriel dos paraquedistas sediados em Mansabá. Disponíveis em:


Fotos (e legendas): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tínhamos uma lista de cento e poucos blogues e outras páginas na Net  (c. 110) que faziam parte da nossa blogosfera... e constavam / constam da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo. Há anos que não era atualizada.   

Fomos hoje fazer uma verificação, dos nomes,  de A a C (n=54) , e metade dessas páginas já não existem, foram descontinuadas, mudaram de URL.  É o preço que se paga por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores... 

Os blogues e outras páginas que deixaram de estar "on line" vêm assinalados, em baixo, com um asterico (*). Nalguns casos têm novos endereços. Alguns destes "sítios" poderão ser recuperados através do Arquivo.pt , caso por exemplo da página da CCAÇ 13, Os Leões Negros, que estava alojada no Sapo... (O Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do SAPO foi descontinuado em dezembro de 2012.)

Endereço antigo: 
 
http://leoesnegros.com.sapo.pt/index.html

URL recuperada (em 1 de julho de 2011): 

https://arquivo.pt/wayback/20110701044300/http://leoesnegros.com.sapo.pt/index.html


Blogues, páginas do Facebook e outros sítios da nossa Blogosfera (camaradas e amigos da Guiné) 

Variações da Perda (poesia, Companhia das Ilhas, 2020).
Há rios que não desaguam a jusante (romance, Companhia das Ilhas, 2018).
Na luz inclinada (poesia, Companhia das Ilhas, 2014).
Uma paisagem na Web (poesia, & etc, 2013).
Elegias de Cronos (poesia, Artefacto Edições, 2012).
O papel de prata, o reflexo e outros contos pelo meio (Companhia das Ilhas, 2012).
Pedro e Inês. Dolce Stil Nuovo (poesia, Edições Sempre-em-Pé, 2011).
K3 (poema, & etc, 2011).
Uma flor de chuva (poesia, Escola Portuguesa de Moçambique, Maputo, 2011).
Londres (poema, & etc, 2010).
Dispersão – Poesia reunida (Edições Sempre-em-Pé, 2008).

(Era um dos nossos interlocutores privilegiados na Guiné-Bissau ao tempo do Pepito, cofundador e diretor executivo desta ONG; nascido em Bissau, em 1949, morreu em Lisboa, por doença, em 2012: Carlos Schwarz da Silva era engenheiro agrónomo, formado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, Lisboa; tem 245 referências no nosso blogue).

(Jornalista e viajante, o Jorge Rosmaninho esteve muito  ativo entre 2006 e 2009; perdemos-lhe o rasto)


(Novo endereço: http://www.ajudaamiga.com/)


(Novo endereço: https://fmsoaresbarroso.pt/)


(Tem um novo endereço: https://apoiar-stressdeguerra.com/pt/)

(Tem um novo endereço:  https://ahm-exercito.defesa.gov.pt/)

(Tem um novo endereço: https://ahu.dglab.gov.pt/)


(Novo endereço: 

https://a25abril.pt/



(Ativo desde meados de  2009)


(Ativo desde o início de 2008)

(Ativo desde 2009 a 2016)


(Ativo de 2003 a 2013)

(Tem agora uma página no Facebook: https://www.facebook.com/BoinasVerdesEParaQuedistas/ )

(Um dos blogues mais antigos, e dos mais belos, literariamente falando: ativo de 2003 a 2020; o Manuel Bastos esteve em Moçambique)

(Um dos nossos blogues mais antigos, centrado numa só subunidade)
(Uma unidade madeirense; blogue ativo desde 2009; um dos coeditores é o nosso Carlos Vinhal)

(Ativo desde 2008, continua a ser animado pelo nosso camarada Sousa de Castro)

(Deixou de estar disponível, com pena nossa; um dos "sites" mais antigos, datando de 2003 )

(Lá vai resistindo desde 2009, sob o comando do coimbrão Fernando Barata)

(Ativo desde 2008)

(Ativo desde 2008, sob o comando do Luís Dias)

(Novo endereço: https://www.cd25a.uc.pt/pt )


(Ativo de 2010 a 2012)

(Desde 2008, com o nosso MR, sempre!)

(Tem agora página no Facebook:

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Nota do editor:

Último poste da série> 18 de deembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23890: Blogues da nossa blogosfera (170): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (75): Palavras e poesia

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23855: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XII: Emboscada no Oio, em dezembro de 1964, com o grupo "Fantasmas" reduzido a 12 comandos...

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Cutia > Destacamento de Cutia > c. 1970 > Foto enviada  pelo César Dias, ex-fur mil sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde maio de 1969 a março de 1971, e a que pertencia a CCAÇ 2589, de que o Jorge Picado foi um dos comandantes, de  24/2/1970 a 15/2/1971. Estranhamente, Cutia não vem nas cartas nem de Mansoa nem de Farim. Ficava a nordeste de Mansoa, na estrada Mansoa-Mansabá.

Foto (e legenda): © César Dias (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Mais um excerto das memórias do nosso camarada Amadu Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), membro da nossa Tabanca Grande desde 2010, autor do livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.).  

O Virgínio Briote, nosso coeditor jubilado (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965,  e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) disponibilizou-nos o manuscrito,  em formato digital. 

Recorde-se que, durante cerca de um ano,  com infinita paciência,  generosidade, rigor e saber, ele exerceu as funções de "copydesk" (editor literário) do livro do Amadu Djaló, ajudando-o a reescrever o livro,  a partir dos seus rascunhos e da sua prodigiosa memória.


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria >
IV Encontro Nacional do nosso blogue >
20 de Junho de 2009... O VB e o Amadu.
Foto: LG (2010)
A edição de 2010, da Associação de Comandos, com o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está infelizmente há muito esgotada. E não é previsível  que haja, em breve, uma segunda edição, revista e melhorada. Entretanto, muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro, nem muito menos o privilégio de conhecer o autor, em vida. 

Recorde-se, aqui,  o último poste 
desta série (*):  O  Grupo de  Comandos "Fantasmas", da Companhia de Comandos do CTIG,  comandado pelo alf mil 'comando' Maurício Saraiva, nascido em Angola, sofre o seu primeiro grande revés,  a sudoeste  de Madina do Boé, na estrada para Contabane, junto a um pontão sobre o rio Gobige, quando uma coluna auto aciona uma mina anticarro, em 28 novembro de 1964. Irá perder 8 dos seus homens, ficando reduzida a 12 operacionais,


Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.





  Emboscada no Oio, em dezembro de 1964,  com o grupo "Fantasmas" reduzido a 12 comandos...

(pp. 105/108)

por Amadu Djaló (*)




Guiné > Região do Oio > Carta de Mansoa (1954)  / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cutia (a nordeste de Mansoa, já na carta de Farim), Morés, Iaron, Talicó e Santambato.

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2022)



Depois do descanso, no quartel, em Brá, fizemos uma reunião entre nós, como fazíamos habitualmente. No dia seguinte pegámos nas armas e fomos para a mata de Nhacra. Muitos tiros, depois regressámos a Brá e no dia seguinte, formámos o grupo com doze comandos. Tinha regressado de férias o Furriel Morais [1], agora o 2º comandante do grupo ["Os Fantasmas"].

Depois da mina de Gobige, em que tínhamos sofrido aquelas baixas todas, nós não estávamos muito animados. Mas o alferes  [mil 'comando'  Maurício] Saraiva não parou. Com 12 homens e um guia, de nome Mamasaliu Djaló, natural do Oio, preparámo-nos para sair.

De Brá arrancámos em viaturas com destino a Mansoa.

O batalhão [2] de Mansoa tinha preparado uma coluna que nos transportou até Cutia, de onde partimos a pé, Oio dentro, até Tambato.

Quando aqui chegámos, por volta do meio-dia [3]   [,  quarta-feira,  9 de Dezembro de 1964] , emboscámo-nos na tabanca abandonada, junto ao cruzamento do carreiro que vem de Talicó e de outro que vem de Santambato. Mantivemo-nos ali até ao pôr-do-sol, levantámos a emboscada e prosseguimos para Santambato, sempre no máximo silêncio. Chegados aqui, emboscámo-nos de novo, junto ao caminho que vem de Iaron, com o acampamento de Talicó à nossa direita e o de Sinre à nossa esquerda.

A missão devia durar três noites, progredindo em emboscadas sucessivas. A primeira em Santambato, perto de Cutia, a segunda em Iaron, e a terceira e última à entrada de Bissorã.

Durante a primeira noite não aconteceu nada. De manhã  [, quinta-feira,  9 de Dezembro de 1964], o alferes mandou levantar a emboscada. No caminho vimos umas bananeiras, mesmo junto à tabanca abandonada e espalhámo-nos por ali. Como o caminho passava mesmo encostado às bananeiras, passados para aí cinco minutos, ouvimos vozes de uma mulher a aproximar-se. Vinha acompanhada por um homem. A mulher trazia roupa lavada e o homem uma sangra [4] com galinhas.

O alferes disse-nos para ninguém disparar, que eram civis. Assim que chegaram junto de nós, o alferes disparou uma rajada curta para o ar, a mulher deixou cair a roupa e o homem largou a sangra com as galinhas. Eu disse que era melhor sairmos dali, o alferes queria avançar mas concordou comigo.

Regressámos para o local onde nos tínhamos emboscado durante a noite. Dispersou-nos dois a dois e eu, ele e o guia ficámos juntos. Neste local onde estávamos fazia muito frio. Pousei a minha arma no chão, para puxar para baixo as mangas da camisola e o alferes fez o mesmo. Quando me estava a arranjar, vi um homem com uma Mauser, muito perto de nós, a olhar para longe. Ninguém pensaria que, junto a estes pequenos arbustos estivesse alguém, mesmo ali à beira dele. Ele olhava para uma mata mais densa, junto ao rio.

Quando o vi, não deu tempo para falar. Peguei na arma, que era a do alferes, que estava em cima da minha, apontei, o alferes pegou na minha e também apontou. A três metros, à direita do homem estavam companheiros nossos deitados. Um deles, que estava tão perto que nem podia respirar, disparou um tiro. O homem nem mexeu um dedo. Saí do esconderijo e corri para lhe tirar a arma. Largámos a correr, até ao rio.

O alferes queria atravessá-lo através de uma árvore que servia de ponte, e eu achava que não se devia atravessar porque o PAIGC devia lá estar, era uma passagem quase obrigatória. Que era melhor seguirmos pela margem, ao longo do rio. Descemos todos para a água e passámos até à outra margem, com a água muito fria até à cintura. Depois de a atingirmos, encontrámos o caminho para Tambato e ouvimos tiros vindos do lado da ponte. Estavam ali à nossa espera, como eu pensara.

Agora daqui para Cutia, só com apoio aéreo, disse o alferes. Estabeleceu contacto rádio e a resposta foi que só podíamos ter apoio dos aviões à tarde, porque os T-6 estavam todos no sul. Na conversa com a Dornier, foi-nos perguntado se nós tínhamos alguns dos nossos para trás, porque do ar viam fumo de troca de tiros.

Nós não estávamos dispostos a ficar até à tarde, neste local. Pouco tempo depois, ouvi um berro de uma perdiz a levantar voo. O alferes perguntou o que era e eu respondi que podia ser alguém que andava por ali. Quando uma choca levanta voo a berrar é porque alguém está a passar perto. 

Saímos cautelosamente dali, sempre no caminho até Cutia, onde finalmente chegámos sem mais incidentes. Recolhidos em viaturas, fomos transportados para Bissau, com passagem por Mansoa, onde nem parámos.

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Notas do autor e/ou do editor literário (VB):

[1] Furriel Mil. Joaquim Carlos Ferreira Morais.

[2] Nota do editor: Batalhão de Artilharia 645

[3] Nota do editor: 9 de Dezembro de 1964

[4] Cesto com galinhas

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22770: Efemérides (359): o 1º de Dezembro, as bandas filarmónicas e o patriotismo de ontem e de hoje...



Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 >   6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres,  diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau)  e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Brasão da SEA - Sociedade Euterpe Alhandrense, Alhandra. Diversas bandas filarmónicas por esse país fora foram criadas no 1º de dezembro (ou em homenagem ao 1º de dezembro): por exemplo,  Alhandra, Alpiarça, Atouguia da Baleia (Peniche), Azinhaga do Ribatejo (Golegã), Cuba, Encarnação (Mafra), Moncarapacho (Olhão), Montijo, Nossa Sra. das Misericórdias (Ourém), Pragança (Cadaval) ...  As bandas filarmónicas foram (e ainda são) "sociedades de recreio" mas também escolas de educação musical, artística e cívica... Em 2013 existiam 720 bandas filarmónicas, muitas delas centenárias.

1. Este ano, e devido ao agravamento da situação sanitária provocada pela 5ª vaga da pandemia de COVID-19, não haverá o já tradicional "Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas 1º de Dezembro", integrado nas comemorações do Dia da Independência, e que estava previsto para Lisboa.  Já o ano passado não se realizara, pelos mesmos motivos.

Estava previsto realizar-se hoje o 9.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, mesmo com um número  reduzido de bandas participantes (19, por comparação com as 37 que atuaram em 2019, espectáulo que teve transmissão direta pela RTP), e juntando músicos de várias gerações e dos mais diversos pontos do país. A saúde pública falou mais alto.

É uma evento organizada pelo Movimento 1º de Dezembro, Câmara Municipal de Lisboa e EGEAC, em parceria com a RTP. O 1º Desfile foi em 2012. Recorde-se que nessa altura  houve diversas reações da sociedade civil  em resposta à eliminação do feriado civil do dia 1 de Dezembro, determinada pela Lei nº 23/2012, de 25 de Junho de 2012.Dessas reações nasceu, por exemplo,  o Movimento 1º de Dezembro.

O desfile, entre a Avenida da Liberdade e a Praça dos Restauradores, juntando sempre para cima de 1500 músicos e mais de 3 dezenas de bandas, acaba com a interpretação final e conjunta, na Praça dos Restauradores, dos 3 hinos patrióticos, o Hino da Restauração, o Hino da Maria da Fonte e o Hino Nacional.

2. O nosso editor LG tem acarinhado, no nosso blogue, esta iniciativa (e outras mais antigas), sobretudo pelas suas recordações desta efeméride, que remontam à sua infância. Mesmo sem música, podemos recordar aqui alguns comentários que foram sendo deixados nos diversos postes (*):

(i) Tabanca Grande Luís Graça (Poste P18033)

Era uma festa, o 1º de dezembro, na minha vila da Lourinhã . Primeiro, porque era feriado, não se ia à escola, e segundo, porque a filarmónica local  (, fndadada em 2 de janeiro de 1878) percorria as ruas principais, com o povo e os putos atrás... Era um tradição que já vinha da Monarquia Constitucional, da República e que se manteve no tempo do Estado Novo... Como não sabíamos a letra do hino da restauração, cantarolávamos: "Ó Tí Zé da pêra branca"...

1 de dezembro de 2017 às 11:24

Vou ter o prazer de ver a banda da minha infãncia, a AMAL Associação Musical e Artística Lourinhanense, participar hoje. na Av da Liberdade, em Lisboa, na 6ª Desfile Nacional de Bandas Filarmónica...

É um banda centenária, fundada em 1878... Creio que é a 1ª vez que vemn a este desfile...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/11/guine-6174-p18029-agenda-cultural-614.html

1 de dezembro de 2017 às 12:04

(ii) Mário Vitorino Gaspar (Poste P18033)

O 1.º de Dezembro na vila de Alhandra é celebrado desde as 6/7 horas. A Banda Filarmónica da SEA (, Sociedade Euterpe Alhandrense, fundada em 1/12/1861) percorre toda a vila e presta Homenagens a todas as colectividades da terra. Curiosamente,  quase todas foram fundadas a 1 de Dezembro. Em cada sede tocam e sobem os músicos para beberem um copo. 

Todo o trabalhador acorda, tenha estado ou não de serviço durante a noite.  E os putos acompanhavam a Banda. Para a criançada da minha época a letra era: - "Tu não queres é trabalhar... Tum, tum, tum...". Gostaria de ter sido acordado em Gadamael com esta letra...

1 de dezembro de 2017 às 18:22 

(iii) César Dias  (Poste P18033)

Tinha 12/13 anos, no dia 1º de dezembro lá estavam as escolas da Grande Lisboa, representadas nos Restauradores, devidamente perfiladas com os uniformes da Mocidade Portuguesa, cantando o hino da Restauração.

Eram 4 horas difíceis para a rapaziada que nem podia arredar pé para as necessidades, daí os charcos q
ue se viam na Praça depois do toque de destroçar. Outros tempos.

(iv) Luís Graça (Poste  P18047)

Estive, como é habitual, nos Restauradores no desfile nacional de bandas filarmónicas, no 1º de dezembro, gosto que me vem da infância, quando seguia, atrás da banda local, agarrado ao capote do meu pai, pelas ruas da então vilória da Lourinhã, parodiando a letra do hino da 

Restauração: "Ó ti Zé da Pera Branca..., pum, pum, pum..."

Ao meu lado estava um casal de turistas, dinamarqueses, com ar de reformados, pessoas viajadas, instalados num hotel da Av da Liberdade... Metemo-nos à conversa, em inglês... Eles estavam encantados com toda esta movimentação de bandas filarmónicas e sobretudo com as crianças, os putos, muito compenetrados do seu papel, que compunham muitas das bandas... Foi um festival de alegria, juventude e saudável patriotismo... Os dinamarqueses, que adoram Portugal mais do que Espanha, diziam-me que no seu país (que eu, de resto, admiro) não havia nada disto...

(v) Luís Graça (excerto do poste P18047)

(...) Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...

Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.

Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].

Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo... E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...

Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte 
das armas? (...) (**)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


1 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16784: Agenda cultural (525): comemoração do 1º de dezembro: 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas: Lisboa, av da Liberdade, hoje , a partir das 15h: 1600 músicos, 35 bandas e agrupamentos de todo o país... Desfile culmina com a interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21702: (De)Caras (167): o ten inf Esteves Pinto (1934-2020), que foi instrutor de alguns de nós no CISMI, em Tavira, e que morreu no passado dia 18, com o posto de cor inf ref



Tavira > CISMI > Parada > Outubro de 1968 > Atiradores de infantaria > 6º Pelotão, 3ª Companhia  > Da esquerda para a direita, de pé: Eduardo Estrela (, futuro fur mil. CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71), Fonseca, Pereira, João, Torres, Chichorro (já falecido)  e Joaquim Fernandes (, futuro fur mil, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Na primeira fila, tambémda esquerda para a direita: Santos, Chora, Salas, Paulo , Loureiro e Saramago.

Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tavira > Quartel da Atalaia > Antigo CISMI, hoje RI 1 > 1 de fevereiro de 2014 > Belo exemplar da nossa arquitetura militar, fica situado na Rua Isidoro Pais. Imóvel classificado como de interesse público, segundo o excelente síio da Câmara Municipald e Tavira

 O Quartel da Atalaia, um dos mais antigos do país, foi começado a construir em 1795, sob o reinado de D. Maria I. Mas a sja construção foi entretanto interrompia e só retomada em 1856 devido á conjuntura nacional desfavorável (ida da corte para o Brasil, invasões napoleónicas, revolução liberal de 1820, guerra civuil de 1828-1834, etc.). Com a extinção das Ordens Religiosas, é entregue ao exército o antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, que alguns de nós também conheceram. O Quartel da Atalaia, ainda por concluir, serviu ainda de hospital das vítimas de peste de cólera que se abateu sobre a cidade (e grande parte do país, a começar pela capital) em 1833, em plena guerra civil. Em boa verdade o edifício só ficará concluído  nos primeiros anos do século XX, sendo  então para lá transferida a guarnição de Tavira. Sofreu alguns alterações funcionais em 1950, 1954 e 1970.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tavira > CISMI > Julho de 1968 >   A chegada ao quartel da Atalaia dos novos instruendos do 1º Ciclo do CSM, vindos de todo o país.  Fila do pessoal para receber fardamento, Foto do Fernando Hipólito, gentilmente cedida ao César Dias e ao nosso blogue.

Esta rapaziada de finais da década de 1960 já tem um outro "look", a começar pelo vestuário... Presume-se que as belas cabeleiras, à moda dos "Beatles", já tinham ficado ingloriamente no chão do barbearia lá da terra ou de Tavira... Muitos fotam tosquiados à máquina zero, suprema humilhação para um jovem da época!... Não, já não é a mesma malta que parte, de caqui amarelo e mauser, para defender as Índias & as Angolas, uns anos antes ... O velho Portugal onde tínhamos nascido,  estava a mudar, lenta mas inexoravelmente.  E a nossa geração já não estava disposta a suportar os mesmos sacrifícios dos seus pais.


Foto (e legenda).  © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: logue Luís Graça & Camaradas da Guiné]]

 


1. Através do nosso leitor e camarada cor inf ref Manuel Bernardo tivemos a triste notícia  do falecimento do cor inf António Rebordão Esteves Pinto, instrutor no CISMI, em Tavira, no tempo em que alguns de nós, membros da Tabanca Grande, lá fizemos a recruta e/ou a especialidade. (Estou-me a lembrar de camaradas como o César Dias, o António Levezinho, o Humberti Reis, o Eduardo Estrela, o Joaquim Fernanses, o José Fernando Almeida, o Manuel  Carvalho, o Carlos Silva, u próprio e tantos outros.)

O cor inf ref  Esteves Pinto faleceu no dia 18 do corrente mês. Nunca esteve no TO da Guiné. Mas queremos lembrá-lo aqui, na qualidade de nosso antigo instrutor e comandante de companhia no CISMI, Tavira. À família enlutada a Tabanca Grande apresenta as suas condolências. (****).

De acordo com o seu currículo militar, o cor inf Esteves Pinto:

(i) era natural do Fundão;

(ii)  estudante na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa,  em 1957, foi  chamado a cumprir o Serviço Militar Obrigatório, tendo assentado praça em Mafra;

(iii) fez uma primeira comissão de serviço (1961/63), em Angola como o posto de alferes miliciano;

(iv) foi condecorado em 1963 com a Cruz de Guerra de 4ª classe, por atos de bravura em combate;

(v) de regresso à Metrópole, foi convidado a frequentar a Academia Militar,. tendo seguido a carreira militar:

(vi) tenente do quadro, foi  colocado, em 1965 (e até 1969), juntamente com o ten Fernando Robles, em Tavira, como instrutor do CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos;

(vii) foi mobilizado, de novo  desta vez para Timor, terra que ficou no seu coração, como comandante da CCAÇ 2682 (1970-1972);

(viii) terminou a sua carreira militar com o posto de coronel, não sem ter passado ainda por Angola, em 1975.

Uma nota biográfica mais detalhada está disponível no portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, 1954-1975.


2. Da notícia do falecimento do cor Esteves Pinto demos conhecimento de alguns camaradas que o conheceram, em Tavira, e que comentaram, em resposta ao meu mail de 26 do corrente:

(i) César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, Maio de 1969 / Março de 1971)

Luis, lembro-me do Esteves Pinto (Tenente), foi o nosso comandante da 2ª companhia, tentava moralizar as tropas, " O militar é a parte válida do povo", daí ter que ser forte, "não há fim de semana para ninguém",,, ,  isto na formatura de 6ª feira após o almoço.

Fiquei com boa impressão dele, embora os nossos caminhos não se tivessem cruzado mais
Presto-lhe homenagem.. Aos seus familiares e amigos manifesto o meu pesar.


(ii) Eduardo Estrela (ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)

Morreu o (do nosso tempo no CISMI ) ten Esteves Pinto, que comandava no último trimestre de 1968 a 2ª  Companhia. O homem que, nas marchas finais de Dezembro de 68, perto do Cerro da Cabeça em Quelfes/Moncarapacho , perante o dilúvio que se abateu sobre a zona do acampamento dizia: " o rei manda marchar, não manda chover ".

Á família enlutada os meus pêsames. Que descanse em paz.


3. Algumas referência no nosso blogue ao nosso antigo instrutor ten Esteves Pinto e a outros instrutores do CISMI de Tavira (1965/69), militares que, de uma maneira ou de outra, nos marcaram, tal como nos marcou a passagem por Tavira, na recruta e/ou especialidade. 

Temos meia centena de referências ao CISMI  e sessenta a Tavira


(i) Eduardo Estrela [ fez recruta no CISMI,  e a instrução de especialidade de atirador de infantaria, integrado  no 3º Pelotão da 4ª Companhia, no 2º semestre de 1968; foi fur mil, CCAÇ 14, Cuntina, 1969/71]:

(...) O comandante da 3ª Companhia do CISMI, Tavira, era o cap Eduardo Fernandes, militar íntegro e respeitador.

O ten Madeira era o adjunto e era uma flor sem cheiro. Mau e sádico. Uma vez, levou durante a noite a  
companhia para as salinas (, o capitão estava ausente). Dei-lhe a volta e vim de lá com trampa só até aos joelhos. 

Já tive o privilégio de lhe dizer isso pessoalmente num almoço no CISMI. O homem agora é coronel reformado e mora, como sempre morou, em Castro Marim. (...) (*)

(ii) César Dias:

(...) Concordo com os adjectivos de classificação atribuídos quer ao Capitão Fernandes quer ao seu adjunto nesse terceiro turno de 68, e no caso do Tenente Madeira os adjectivos poderiam ir mais além. 

Também integrei esse grupo nessa noite das salinas,  aproveitando a ausência do Comandante foi uma diversão para ele, já passaram quase 52 anos mas são coisas que não esquecem, apesar de tudo o que se passou na Guiné. 

Já agora digo que era do 7º pelotão do Aspirante Coelho, outro homem integro. (...) (*)

(iii) Eduardo Estrela:

(...) Acabo de ver o comentário do César Dias no blogue, a propósito do agora coronel Madeira e a sua referência ao Aspirante Coelho. O Asp Coelho era realmente um homem íntegro e respeitador. Lembro-me bem dele e da sua já visível falta de cabelo á época. Abraço fraterno a todos. (...) (*)

(iv) Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70):

(...) Também andei por Tavira no verão de 67, 3º turno,  Armas Pesadas.

Tenho algumas memórias do dia em que fizemos fogo para a ilha de Tavira a partir da costa. O comandante de companhoa era o Cap Madeira,  natural de Cabo Verde,  e de Pelotão era o Alf Chumbinho,  exigente mas que nos tratava com respeito,  por 'senhor instruendo'. 

Quando íamos iniciar o fogo de canhão sem recuo 10,6 vimos que estavam na zona dois barcos pequenos com um pescador cada. o Chumbinho disse que resolvia o problema com uma canhoada e resolveu,  embora um oficial superior que lá estava tivesse dito:  não me arranje problemas".

Ainda hoje me rio com a cena dos dois homens a remar cada um para seu lado e nem a recolha do material fizeram. Na ilha havia um silvado que foi incendiado com uma granada de fósforo e depois apagado com uma normal que atirou areia para cima do lume. Alguém pôs um burnal velho atrás do canhão para vermos o efeito e vimos que não é lugar para se estar.

Também fui dos que escolheram Armas Pesadas a pensar que ficaria mais resguardado mas tinha uma secção distribuída como qualquer Atirador e muitas vezes o Pelotão todo, é a vida. (...)

(v) Luís Graça:
 
 (...) Passei pelo RI 5 (Caldas da Rainha) (15 de Julho de 1968) e CISMI (Tavira) (29 de Setembro de 1968)... 

De quem me lembro, [em Tavira,] foi do Tenente Esteves [Pinto], que era o comandante da minha companhia [, a 2º,]  (estava a tirar a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria), e do parvo de um alferes miliciano, lateiro, que nos dava instrução, no campo da feira (adorava, o sádico, pôr-nos a rebolar em cima da bosta de boi, enquanto ele passava o tempo a "namorar" à janela, uma das meninas ou coironas lá da terra....). Era algarvio, com sotaque, nunca pusera os pés em África... Deve ter apodrecido nos CISMI...

 (...) Do Esteves recordo-me apenas a sua lengalenga patrioteira e já gasta, lembrando-nos, a propósito e a despropósito, que "nós éramos a fina flor da nação"... Nós: emendávamos, entre dentes: "a fina flor do entulho"...

E, claro, não posso esquecer o inefável comandante do CISMI que me proibiu, a mim e mais um camarada, a inauguração de um exposição documental sobre a II Guerra Mundial (que estávamos a organizar, na caserna, e estava praticamente pronta...) com o argumento, mesquinho, safado, de que "para guerras já bastava a nossa" (...) 
 (**)

(vi) Mário Fitas (ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67);

(...) Fui para o CISMI em Agosto de 1963 e acabei o curso em Dezembro do mesmo ano. O curso de sargentos milicianos era composto de dois meses de Instrução Básica e mais dois de especialidade.

Não esperava ir parar ao Ultramar, nem tão pouco à Guiné. Pois...só que precisamente em Janeiro de 1964 os cursos passaram a seis meses. Aqui tens como o teu camarada Mário Fitas foi fornicado e ir parar com os costados na Guiné. Fomos os últimos a envergar a célebre farda colonial amarela.

(...) Por curiosidade, o comandante do meu pelotão em Tavira foi o então alferes, hoje coronel Cadete, que esteve em Mejo,  julgo que com o José Brás, já mais tarde em Moçambique o Cadete levou um tiro no ventre. Um dos instrutores de Lamego, o alferes hoje tenente general Rino, que comandou a CCAÇ. 764 em Cumbijã. O mundo é muito pequeno! (,,,)

Hoje em dia o meu amigo coronel Manuel Amaro Bernardo,  dos comandos e escritor, era o comandante da 1ª. Companhia de instrução em Tavira.(...) (**)


(vii) José Brás (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68)

(...) Aqui, neste terraço de que se avista o quadriculado da antepara, vivi eu uma aventura imoderada.

Sexta-Feira, formutura para saída, o oficial de dia, Ajferes Cadete, olha-me na cara e diz que tenho as botas mal engraxadas. 

Formatura desfeita, volto à caserna e, ainda que sabendo da mentira, ponho as botas a brilhar. Nova formatura e lá vou eu de novo e o gajo olha-me para as botas e diz que tenho a barba mal aparada. De novo na caserna, espero por nova formatura para tentar ir passar o fim de semana na Ilha, de novo entro para a revista e o bicho diz-me: 'você é parvo, não viu já que não sai?'

 A minha vontade era mesmo partir-lhe o focinho e, nessa altura, sendo o que era, juro que o machucaria bem. Contive a raiva e puz-me a estudar a forma de sair dali, aparecendo-me o terraço como a única salvação. Disfarcei, andei por alí, subi as escadas, atrás de mim veio um camarada amedrontado mas desejoso de sair também. Passei para fora da antepara, desci para uma das janelas ainda agarrado acima, ajudei o camarada medroso a descer e saltámos correndo de imediato dali para fora. 

No Domingo, na praia, camaradas que sairam nesse dia,  avisaram-me que o Cadete dera pela minha falta e andara de bicicleta a ver os riscos da borracha das botas na parede, jurando que me esperaria na entrada na Segunda de manhã. De facto, apesar da apreensão, entrei sem problemas e ninguém me perguntou por onde tinha andado. Já antes, eu havia tido uma questão com o Cadete que não era o Comandante do meu Pelotão mas tinha metido o bico numa pega comigo. Acabei por reencontrá-lo quando a minha Companhia saiu de Aldeia Formosa e, por troca com a dele, fomos para Medjo onde ele estava antes. (...) (***)
__________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6496: Controvérsias (79): Os nossos instrutores militares não tinham experiência de contra-guerrilha (Manuel Joaquim)

 (***) 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

Vd. também:


21 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12750: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhidi por Fernando Hipólito o digitalizado por César Dias) (3) : Parte III (pp. 13-16)

22 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12759: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (4) : Parte IV (pp. 16-18): Regime disciplinar; Pretensões, dispensas e licenças


domingo, 21 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21095: Memórias cruzadas nas 'matas' da região do Oio-Morés em 1963/64 (Jorge Araújo) - Parte I


Foto 1 – Bissum-Naga (Região do Óio) - Tabanca reordenada. (Foto do álbum de Aníbal Magalhães, da CCAÇ 2465, 1969/70), com a devida vénia. - P10427.
Foto 2 – Mansoa (Região do Óio) – Mulheres a lavar. (Foto do álbum de César Dias, do BCAÇ 2885, Mansoa e Mansabá, 1969/71), com a devida vénia. - P3066.

 
O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 256 registos no nosso blogue.


MEMÓRIAS CRUZADAS
NAS 'MATAS' DA REGIÃO DO ÓIO-MORÉS EM 1963-1964
- O CASO DE ENCHEIA -
PARTE I 
 
Mapa da região do Óio, com indicação de alguns dos locais de "memórias cruzadas".
Em todos eles, e em todas as gerações de combatentes, com início em 1963, ocorreram factos marcantes para o resto da vida… (de todas as vidas)… em que alguns não tiveram direito a "viagem" de regresso... lamentavelmente!


1.   - INTRODUÇÃO

Em teoria, e na prática, aceita-se que a documentação histórica expressa-se e manifesta-se de diferentes modos ou formas, onde a sua consulta, análise e divulgação, permitem que ela deixe de estar em silêncio nos arquivos, em vez de ficar por conta do passado, caso não seja usada ou recuperada.

Foi exactamente isso o que aconteceu a mais um documento que recuperámos dos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), existentes na CasaComum, Fundação Mário Soares, este elaborado por Bebiano Policarpo Cabral d'Almada (Farim; 02.12.1915 / Senegal; 22.07.1970), datado de 15 de Fevereiro de 1964, com o título: «Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné».

As dezanove páginas que dão forma ao corpo deste relatório, na sua globalidade considerado como mais um "estilhaço" da "historiografia" do conflito armado em análise, serão cotejadas com outras fontes bibliográficas com elas relacionadas, por se "encaixarem" no primeiro objectivo da «Tabanca Grande», enquanto espaço de partilha, que é (e continuará a ser): "ajudar os ex-combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial, na Guiné", daí a razão de ser do título escolhido.

Esse grande "puzzle" (ou pequenos "puzzles", se o dividirmos por marcadores) é constituído, passe a imagem metafórica, por um número indeterminado de "peças" desiguais recortadas segundo a dimensão da imagem ou do quadro (temático), onde se verifique o seu encaixe com as restantes, que no presente caso aborda a temática da «actividade operacional desenvolvida na região do Óio-Morés» (de cada um dos lados do combate), durante o período identificado abaixo.

Recordamos que não se pretende fazer o "culto do passado", nem tampouco fazê-lo reviver, pois o primeiro já não existe mais e os seus observadores e actores já não estão disponíveis para outros "ensaios". O que se pretende é, tão só, relembrar que a estrutura deste documento (de todos os documentos anteriores e os que se seguirem), consciente ou inconscientemente, é/são produto do contexto onde foi/foram elaborado/s, ainda que saibamos que não existem documentos inocentes.

2.   - A VIAGEM À REGIÃO DE CASAMANSA E ÀS BASES DO NORTE DA GUINÉ: - MISSÃO ATRIBUÍDA A BEBIANO POLICARPO CABRAL D'ALMADA, EM JANEIRO/FEVEREIRO DE 1964

Um ano depois do início da luta armada, levada à prática por um grupo de guerrilheiros do PAIGC, em 23 de Janeiro de 1963, com o ataque ao aquartelamento de Tite, onde se encontrava estacionado o Batalhão de Caçadores 237 [BCAÇ 237], e um mês antes do início do "I Congresso", realizado entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, em Cassacá (Frente Sul), coube a Bebiano Cabral d'Almada cumprir uma outra "missão", esta reservada, agora, para a Frente Norte.

Bebiano Cabral d'Almada, "braço direito" de Pedro Pires na direcção do "Bureau Político" em Dakar, filial do PAIGC criada a partir de Outubro de 1960, foi incumbido de realizar esta "missão" dividia em duas partes: a 1.ª a ter lugar em território da República do Senegal, na região de Casamansa, entre 11 e 21 de Janeiro de 1964;  e a 2.ª, no interior da Guiné, entre 22 de Janeiro e 05 de Fevereiro de 1964.



Citação: (1964), "Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41387, com a devida vénia.

2.1 - PRIMEIRA PARTE: CIRCUITO NA REGIÃO DE CASAMANSA

A análise do documento referente à primeira parte da viagem será superficial, na medida em que muitos dos assuntos tratados em cada etapa (paragem nos principais locais situados na linha da fronteira Norte da Guiné, onde existiam responsáveis por grupos de militantes do partido), não são relevantes para a presente questão de partida.

Ainda assim, e como mera informação/curiosidade, daremos conta de alguns pormenores desta primeira parte da viagem, tipo "legendas de curta-metragem".

◙ 11-01-1964 (sábado) – Partida de Dakar

Sendo portador do bote que me deve servir para a viagem de deslocação no interior do País [Guiné] e levando em meu poder os respectivos documentos, referentes ao mesmo bote, passados pelo Ministério das Finanças e pela Direcção dos Serviços Aduaneiros da República do Senegal, iniciei nesta data a missão que me foi superiormente incumbida.

◙ 12-01-1964 (domingo) – Reunião em Ziguinchor

Reunião para apuramento de responsabilidades dos factos ocorridos em Ziguinchor, entre os membros do Bureau daquele Comité, com a presença de Lourenço Gomes e todos os membros do referido Bureau composto por Indjaibá Lamine, Malan Nanqui, Djau, Apolinário da Costa e Aniceto Lima da Costa, tendo assistido os camaradas, Samba Djaló, Lassemá Silá e José Évora Ramos. (…)

◙ 13-01-1964 (2.ª feira) – Viagem a Sedhiou

Acompanhado dos camaradas Lourenço Gomes e Yaya Koté, segui nesta data para Sedhiou, tendo logo após a chegada, discutidos com eles, assuntos concernentes à nossa luta e a actos que o camarada Saido Baró tem vindo a praticar, desorganizando todo o trabalho e causando perturbações entre os fulas (…).

◙ 14-01-1964 (3.ª feira) – Viagem a Kolda

Com os camaradas Yaya Koté e Duarte da Mota, segui para Kolda a fim de procurar regularizar a situação dos nossos militantes que o Saldo Baró, fomentando um racismo, tem procurado desmobilizar, incitando-os a não acatarem as instruções do Yaya Koté.

◙ 15-01-1964 (4.ª feira) – Convocação dos responsáveis

Por falta de transporte, não foi possível deslocar-me pessoalmente a Sintchã El Hadje, como era meu desejo, tendo contudo para lá seguido o camarada Yaya Koté. (…)

◙ 16-01-1964 (5.ª feira) – Reunião em Kolda

Nada se fez neste dia digno de menção, aguardando-se somente a chegada dos responsáveis.

◙ 17-01-1964 (6.ª feira) – Reunião

Com o fim de procurarmos uma solução para as divergências surgidas entre o camarada Yaya Koté e os outros responsáveis, reunimo-nos nesta data, com a presença do referido camarada Yaya Koté, e dos outros responsáveis, Maunde Embaló, Boncó e Saido Baró, tendo também ainda assistido o camarada Duarte da Mota. (…)

◙ 18-01-1964 (sábado) – Partida para Ziguinchor

Partida de Koldá para Ziguinchor, escalando Sedhiou, onde não encontrei o camarada Lourenço Gomes, que se deslocara a Samine para preparar a minha viagem a Óio, quer dizer, mandar fazer reconhecimento do caminho e do rio Farim, para efeitos de travessia.

◙ 19 e 20-01-1964 (domingo e 2.ª feira)

Aguardo em Ziguinchor a chegada do camarada Lourenço Gomes, que aqui deixou um recado pedindo para o esperar, a fim de combinarmos melhor a nossa viagem.

◙ 21-01-1964 (3.ª feira) – Partida para Samine

Partida de Ziguinchor, acompanhado dos camaradas Lourenço Gomes e Marcelino Indi, este último encontrava-se em tratamento em Ziguinchor, ferido na base do camarada Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Já restabelecido,  vai regressar à base.

◙ 22-01-1964 (4.ª feira) – Em Samine - viagem a Sanú

Esperando em Samine o regresso do guia, que foi fazer o reconhecimento do caminho, aproveitei a oportunidade de deslocar-me à povoação de Sanú na fronteira de Barro, acompanhando os camaradas Lourenço Gomes e Biagué, que tinham combinado ali uma reunião para este dia, de acordo com o comerciante António Jamil Sarr, filho de pai libanês e mãe caboverdeana, que nesta fronteira tem desempenhado bons serviços em prol da nossa luta. 

No caminho e já perto daquela povoação, veio ter connosco um portador vindo de Samine, para nos comunicar que o guia já tinha vindo do interior, "trazendo nove feridos evacuados da base de Morés".

# «MC [Memóras Cruzadas]» ▼ A referência a este caso é descrita na bibliografia Oficial, nos seguintes termos: 

"Em 20Jan64, dois Grs Comb da CCAV 567 e duas Sec PCaç 857 (ambas aquarteladas em Binar) bateram a região de Umpabá, armadilhando caminhos. Tendo sido emboscados, reagiram energicamente causando baixas ao In e sofrendo 4 feridos (um dos quais veio a falecer: o fur mil Eurico de Jesus Augusto, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa)" (Ceca; Vol VI, p.191).

■ Reunião em Sanú

No marco 132, que delimita a fronteira do Senegal com a Guiné, foi efectuada esta reunião, na presença do Chefe daquela povoação de nome Issife Mançal e dos grandes de morança, Dembel Djata, Quebá Mançal, Assià Mané, Beber Mançal, Kussá Djata, Adulai Mançal, Comissere Mançal, Finca Mançal e Infali Mançal, e ainda do responsável do nosso Partido, Poncinho Djata, estando ainda presente Mamadu Biai da povoação de Geba, que esteve preso em Farim, por suspeitas de colaboração com os nacionalistas. 

(…) No mesmo dia passei pela povoação de Sadjuna, onde fotografei o responsável do nosso Partido, Tombom Fati, que ali vive com a sua mulher Imbrunha Sedi, também conhecida por Salimata Sedi e que, desde Bissorã, tem vindo a trabalhar para o nosso Partido.



Foto 3 – Citação: (1963-1973), "Combatentes do PAIGC durante a refeição, base no interior da Guiné", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, Disponível http:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43222, com a devida vénia.


◙ 23-01-1964 (5.ª feira)

Vindos do interior do nosso País em fuga, passou hoje por Samine um numeroso grupo de habitantes da povoação de Bironque, no Óio, que foi incendiada pelos nossos camaradas, em virtude de ter sido lá instalada, a seu pedido, uma base de tropas coloniais. As tropas foram atacadas pelos nossos guerrilheiros e expulsas.

2.2 - SEGUNDA PARTE: CIRCUITO PELAS BASES DA REGIÃO DO ÓIO

Neste ponto, procuraremos aprofundar cada um dos eventos assinalados, cotejando-os com outras fontes bibliográficas, entre oficiais e particulares.

◙ 24-01-1964 (6.ª feira) – Viagem ao interior da Guiné

Em virtude do camarada Lourenço Gomes ter resolvido seguir para Dakar, não fixando data certa do seu regresso, resolvi arranjar um outro guia para não demorar mais a missão que me foi incumbida. Mandei chamar o Augusto Indam, que imediatamente acedeu a servir de guia, tendo sido marcada a partida para a base Central na noite desse mesmo dia, via Bigene.

Fizeram parte da caravana, além de mim e do guia Augusto Indam, um pequeno grupo de camaradas militantes, constituído por Bela Camará, Marciano Djata, Embatate Bessama, Iaia Seidi, Paulo d'Almada e Quebá Mané, que vão ficar na base. 

De Samine para o rio Farim que atravessámos, gastámos cinco horas. Em virtude da escuridão da noite o guia desorientou-se, perdemos o rumo e tivemos de passar a noite no tarrafe.

◙ 25-01-1964 (sábado)

Só hoje de manhã nos foi possível prosseguir a viagem, devido ao facto que atrás referi, o guia ter-se desorientado, tendo por isso dormido alguns camaradas numa margem e outros noutra.

Chegamos à povoação de Iador, onde fomos recebidos pelos camaradas Infamará Sedi e Imbulo Dafé, que nos conduziu a local seguro no mato, onde almoçámos e descansámos. O citado Infamará Sedi, desde há muito que tem vindo a facilitar aos nossos camaradas a travessia do rio Cacheu. 

Partimos de Iador às seis horas da tarde, altura que assim acharam por mais conveniente para prosseguirmos a viagem, evitando que viessem a surgir dificuldades pelo caminho por parte das autoridades coloniais. Chegámos à povoação de Banculém perto da meia-noite, onde pernoitámos. (…)

◙ 26-01-1964 (domingo)

De manhã e antes de partimos de Banculém, reuni-me com o Chefe e "grandes" da morança, aos quais, em nome do Secretário-Geral do nosso Partido, apresentei cumprimentos. (…) 

Finalmente às 08,30 horas, partimos de Banculém com destino a uma nova base recentemente criada pelo camarada Mamadu Indjai e que ficava no nosso caminho junto à povoação de Maqué. 

Esta base foi criada com o fim de serem defendidas as povoações de Gam-Uale, Canjogude e Maqué, situadas na estrada Bissorã-Olossato, ameaçadas de serem incendiadas pelas tropas coloniais portuguesas. Antes de chegarmos ao local onde está instalada a nova base, passámos pela povoação de Bissajar que visitámos e que fica também próxima da base. (…)

À chegada na base de Maqué, apresentaram-me guardas de honra um grupo de militantes, constituído por dois pelotões, um de raparigas e outro de rapazes, chefiados pelo camarada Quebá Mussá Seidi, que desfilaram perante mim, demonstrando o maior garbo e disciplina, tudo orientado pelo camarada responsável da base, Mamadu Indjai. (…) 

O camarada Mamadu Indjai, disse-me não puder na altura acompanhar-me pessoalmente à sua base principal, em virtude de ir partir para Iador, a fim de preparar uma emboscada a uma vedeta portuguesa que tem estado a fiscalizar ultimamente o rio Cacheu, junto ao porto de Iador, onde atravessei no início da minha vagem.

Parti pelas cinco horas da tarde, tendo chegado a Fajonquito já de noite, pernoitando ali, onde encontrei o camarada António Embaná, que dirige a mesma na ausência do camarada Mamadu Indjai.

◙ 27-01-1964 (2.ª feira)

(…) Pelas 11,45 horas, parti deste acampamento, agora interinamente e na ausência do camarada Mamadu Indjai, chefiado pelo camarada António Embaná, a caminho da base principal em Morés, aonde cheguei pelas 16,20 horas. Não fui encontrar o camarada Osvaldo Vieira, que segundo me informaram, tinha seguido para Cubajal [área de Gampará], onde foi chamado, para além do mais, transportar material para a Zona Norte, que se encontra na base do camarada Rui Djassi [onde morreu em combate em 24Abr64].

◙ 28-01-1964 (3.ª feira)

Neste mesmo dia, e já depois de se encontrar no Morés, na base Central, chegou o camarada Agostinho Silva, mais conhecido por "Gazela", vindo da base de Biambe de que é responsável, com o fim de pedir mais munições ao camarada Osvaldo Vieira, pois tem sofrido constantemente ataques das forças coloniais portuguesas, vindas de Bissorã, Bula, Bissau, Canchungo e Cacheu, escoltadas por aviões de reconhecimento, bombardeiros e jactos. 

Recebeu do Encarregado do Material [Manuel Azevedo], tudo o que requisitou excepto balas para metralhadoras "Pachangas", por não existirem em depósito na altura. Reclamou o mesmo responsável, armas anti-aéreas, em virtude dos insistentes ataques de aviação, pois quanto a ataques terrestres, embora seja sempre atacado por forças superiores às suas, isso não lhe preocupa muito. Disse-me ter trazido quatro comunicados de acções empreendidas, que foram entregues ao camarada Quintino Robalo.

Aproveitei o resto do dia para descansar.

◙ 29-01-1964 (4.ª feira)

Na madrugada deste dia, saí de Morés para Dando, a fim de visitar aquela base, de que é responsável o camarada Leandro Vaz. (…) 
Nesta base, existem 700 militantes, sendo aproximadamente 600 rapazes e 100 raparigas. Acabada a visita da base do camarada Leandro Vaz, visitei em seguida uma nova base recentemente criada, situada a poucos quilómetros de Dando e de que é responsável o camarada Augusto Pique. (…) 

Encontrei ainda naquela base, um prisioneiro de nacionalidade espanhola, de nome Benigno Gonzalez, que comprava peles de lagarto na Guiné, para a firma Samuel Amram & Filhos, que vinha de Mansoa para Bissorã, numa carrinha por ele mesmo conduzida, quando foi atacado por nacionalistas que lhe destruíram a carrinha, retirando primeiramente toda a ferramenta. O mesmo declarou que fugiu para a Guiné, por ter sido chamado para o serviço militar em Espanha, e que para aqui veio, por saber que a mãe que ele não conhecia ainda, se encontrava na nossa Guiné, onde vivera em tempos com o falecido Frederique da Policia. Diz que não quere voltar para a Terra e que prefere ficar em Conacri, se a Direcção assim o entender. Disse ter dois anos na Guiné. 

Ainda neste mesmo dia, chegaram à base Central os camaradas, enfermeiro Maximiano Gama e Irénio Nascimento Lopes, este último vindo a acompanhar o material destinado à base Central, vindo do Sul do País, notícia de que tive conhecimento, quando me encontrava ainda na base do camarada Leandro Vaz [Dando], tendo nessa altura seguido imediatamente para a base Central, o camarada Agostinho Silva "Gazela", para receber material, tendo-lhe sido fornecido dez carabinas "Mauser", algumas minas e balas de "pachanga".

# «MC» ▼ No dia seguinte ao levantamento do material requisitado pelo Cmdt "Gazela" (nome de Guerra de Agostinho Silva), responsável pela base de Biambe, encontramos referência, na bibliografia Oficial, à realização da «Operação Biambiloi» na região do Óio, onde participaram as seguintes forças: "CCAV 567 (aquartelada em Binar), 1 GC/CART 527 (aquartelada em Pelundo), 1 Pel Sap (?), 1 GC/CCAÇ 413 (aquartelada em Mansoa) e 2 GC/CCAÇ 556 (aquartelada em Porto Gole). Durante a operação foram destruídas 11 casas de mato, apreendido muito armamento e documentação". (Ceca; Vol VI, p. 195).

▬ Será que o material e documentos apreendidos se referem ao material levantado na base Central (Morés) pelo Cmdt "Gazela", referido anteriormente?
Não podemos confirmar!

◙ 30-01-1964 (5.ª feira)

Depois de descansar na tarde deste dia, contactei com alguns "grandes" das povoações em redor, que tendo sabido da minha chegada, me vieram cumprimentar e com os quais conversei demoradamente sobre assuntos concernentes à nossa Luta de Libertação Nacional. Nesta mesma data regressei à base Central.

◙ 31-01-1964 (6.ª feira)

Cerca das nove horas da manhã cheguei à base de Mansodé acompanhado do camarada Quintino Robalo. (…) 

Em seguida o camarada Inocêncio Kani agradeceu em nome de todos as palavras proferidas, passando a fazer-me a apresentação dos camaradas, entre eles a camarada responsável das mulheres, Sanú Sedi, e o responsável dos homens Cedi Seidi. Ainda fui também informado pelo camarada Inocêncio Kani, que formou um campo de instrução em Canjajá, perto do rio Cacheu, com a intenção de cortar a fiscalização da vedeta que aí faz serviço de vigilância, impedindo os nossos militantes de atravessarem o rio.

◙ 01-02-1964 (sábado)

Por iniciativa dos camaradas João da Silva e Quintino Robalo, que ficaram encarregados da base de Morés, na ausência do camarada Osvaldo Vieira e ainda do encarregado do depósito de material, munições e outros artigos, camarada Manuel Azevedo, foi-me prestada carinhosa recepção. (…) 

Ainda no período da manhã e a partir das dez horas do mesmo dia, sentimos tiros na direcção da base do camarada Corca Só, em Sansabato, saindo dois pelotões da base Central em seu reforço. 

Mais tarde ouvimos ruído de aviões que passaram por cima da base de Morés em direcção a Sansabato, verificando tratar-se de 2 jactos, 2 bombardeiros e 2 aviões de reconhecimento, que passaram a bombardear e a fazer rajadas de metralhadoras, com grande intensidade. Este combate prolongou-se até às 4,30 horas da tarde, tendo as tropas coloniais sofrido pesadas perdas [?], tendo os mortos e feridos retirados por helicópteros, sendo um deles atingido pelos nossos guerrilheiros. Da nossa parte temos somente a lamentar a morte dos camaradas António Colbert e Armando da Costa.

# «MC» ▼ Encontrámos na bibliografia Oficial uma referência, não aquela que acima é narrada, mas uma outra, relacionada com o rebentamento de uma mina anti-carro accionada por uma viatura na estrada de Bissorã, durante uma coluna da CCAÇ 413 (aquartelada em Mansoa). 

Esta ocorrência causou a explosão do depósito de gasolina da viatura, que ficou destruída, sofrendo as NT 3 feridos graves (dois vieram a falecer: Albano Ferreira Lourenço, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, e Joaquim Maria Lopes, natural de Castanheira de Pera. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bissau, campas 675 e 676, respectivamente. (Ceca, Vol VI, p. 195).

◙ 02-02-1964 (domingo)

Vindos do Regulado de Encheia, apresentam-se na base Central os chefes das povoações de Uenkes, Fajá Intumba; de Tinka, Imbunhe Palna; de Cumbulé, Fona Sime; de Untche, Nhatche Emboca; de Quinaqué, Bernardo Sanhá e de Tchombé, Incussa Matché, que vieram avisar que foram chamados para o pagamento do imposto de capitação dentro do prazo de 20 dias, a contar daquela data. Também pediram pelotões armados, para defenderem as populações do regulado de Encheia. 

(…) Em resposta ao pedido de pelotões armados, ficou assente pelos responsáveis interinos da base, que o assunto seria tratado, logo após a chegada do camarada Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira), que no seu regresso esperam traga material suficiente para a criação duma base em Encheia.

# «MC» ▼ Quanto ao "pagamento do imposto de capitação" trata-se de uma decisão levada à prática pelo Chefe Administrativo do Posto de Encheia, à data, José Cerqueira Leiras, ex-militar da Companhia de Caçadores 153 (1961-1963), sendo este um dos temas abordados no seu livro «Memórias de um esquecido», edição de autor, 2003… agora lembrado!

A este propósito é importante destacar o facto de José Leiras não ter embarcado com a sua CCAÇ 153, de regresso ao Continente, viagem iniciada em 24 de Julho de 1963, a bordo do N/M «Niassa», tendo passado à disponibilidade em Bissau. É nessa qualidade que decide deslocar-se ao palácio para falar com o Governador Peixoto Correia [António Augusto Peixoto Correia (1913-1988)], pois que já lhe tinha destinado o comando do Posto de Encheia.

Na qualidade de administrador local, inicia a sua missão com o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobra impostos, manda efectuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal e trata de reparar o posto sanitário. Neste âmbito escreve: 

"Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efectuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou". (P16503).

Sobre a importância deste documento histórico, escrito na primeira pessoa pelo seu autor, natural do Alto Minho, já o camarada Beja Santos nos apresentou, no P16503 acima citado, a sua apreciação crítica. Aconselha-se, pois, a sua consulta para uma melhor compreensão do contexto da fase inicial da luta armada, ainda que tenhamos de a ela voltar na segunda parte deste trabalho.

◙ 03-02-1964 (2.ª feira)

Manhã muito cedo parti em visita à base do camarada [Mamadu] Corca Só ansioso de saber o resultado da luta ali travada no [sábado] dia 01Fev64.

Vim a saber que os portugueses pretendiam atacar aquela base de surpresa, mas que felizmente um grupo de nossos militantes, que tinham partido em serviço de ronda, avistou-os numa campada de mancarra, aproximadamente a cem metros da base, e apesar da grande desproporção numérica a nosso desfavor, procuraram a melhor posição possível e abriram fogo, enquanto mandaram um camarada avisar na base o que se passava. Isso deu tempo que se preparasse melhor a defesa, dando tempo a que dois pelotões saídos da base Central fossem em seu socorro, sendo um pelotão comandado pelo camarada António Colbert e o outro pelo camarada Domingos Catumbela, não tendo este último chegado a entrar em luta, preferindo esconder-se.

Conforme fui informado pelo camarada Corca Só, responsável da base, que lamentou vivamente emocionado a perda dos camaradas, António Colbert e Armando da Costa, que morreram como dois verdadeiros heróis, pois o primeiro tendo sido avisado por um mouro, que deveria ser gravemente ferido em combate, não se conformou e alheio a todo o perigo prontificou-se imediatamente a seguir em reforço, corajosamente se expõe à luta e tendo despejado todo um carregador da sua metralhadora, voltou-se para pedir um outro carregador ao seu municiador, mas este fugiu levando as munições, pegou então numa "Mauser" que se encontrava em poder de um outro camarada, e abrigado por detrás do tronco de uma palmeira, continuou a fazer fogo, tendo sido então infelizmente atingido por uma bala inimiga que perfurou o tronco que se encontrava podre e se foi alojar no seu ombro esquerdo, conduzido ainda com vida para a base Central veio a morrer momentos depois. 

O camarada Armando da Costa, que lançava granadas, causando enormes perdas ao inimigo [?], entusiasmado com o calor da luta, levantou-se e avançou destemidamente dando vivas ao PAIGC [?], quando foi atingido por uma bala na garganta que o matou. Morreram como dois grandes heróis, estes bravos companheiros de luta, que em todos os camaradas, deixaram uma imensa saudade e a maior admiração por seus actos de valentia.

Sinceramente emocionado pelo que ouvira, soube que os nossos guerrilheiros da base do camarada Inocêncio Kani (Mansodé) tinham apreendido a ambulância do concessionário Manuel Saad, donde retiraram as malas de correio, encomendas postais, diversas mercadorias e alguns livros de instrução primária, que vão ser distribuídos por diversas bases a fim de serem leccionados aos nossos militantes: Incendiaram em seguida o carro, prendendo quatro professores de adaptação, um auxiliar da campanha antituberculosa e um pedreiro da Administração de Bafatá, cujas guias vão anexas ao presente relatório. 

Na mesma data foi ainda apreendido o camião industrial da aguardente e comerciante, de nome Simões [, seria o Manuel Simões, de Jugudul, (1941-2014) ?], estabelecido em Cutanga, área do Posto Administrativo de Nhacra, que também foi incendiado, tendo sido preso o motorista Alberto Buássi, de raça mancanha, bem como o seu ajudante.

▬ Sobre estas últimas ocorrências, não conseguimos obter informações.

◙ 04-02-1964 (3.ª feira)

De regresso à base de Morés, tive ocasião de visitar o depósito geral de material e de diversos artigos apreendidos pelos nossos guerrilheiros, constatando a existência de muitos artigos de uso corrente, conforme o original do balanço, que me informaram ter sido enviado para a Direcção do Partido em Conacri e que se encontram bem arrumados e devidamente conservados. 

Notei também com agrado a rigorosa conservação das armas e munições, a cargo do referido encarregado do Depósito, camarada Manuel Azevedo, que no desempenho das suas funções tem todo o material muito limpo e em devida ordem, notando-se o melhor controlo e limpeza das armas também distribuídas ao pessoal. 

De tarde chegou-nos a notícia, por um camarada vindo da base de Biambe, da prisão do camarada Rafael Barbosa, que tendo vindo até Nhacra, escondeu-se ali numa casa, cujo proprietário, traiçoeiramente, o foi denunciar às tropas colonialistas. (…)

Notei que a melhor eficácia das acções dos nossos guerrilheiros, se deve à utilização de minas nas estradas, que muitas baixas têm causado aos inimigos, tanto em veículos, material e vidas, e de que resulta verificar-se ultimamente raro movimento de carros, nas estradas sob o controlo dos nossos militantes.

◙ 05-02-1964 (4.ª feira)

Iniciei nesta data a viagem de regresso, acompanhado de dois feridos, um rapaz e uma rapariga, por acidente na limpeza e manejo de armas sendo remetidos para o hospital de Ziguinchor.
Continua…
► Fontes consultadas:

Ø  CasaComum, Fundação Mário Soares. Pasta: 07071.123.011. Título: Relatório do Bureau de Dakar sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné. Assunto: Relatório enviado a Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, por Bebiano Cabral de Almada, Membro do Bureau de Dakar, sobre a viagem à região de Casamansa e às bases do Norte da Guiné Bissau. Data: Sábado, 15 de Fevereiro de 1964. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios IV 1963-1965. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).
Ø  Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde
Jorge Araújo.
21MAI2020
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