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terça-feira, 20 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13168: Convívios (597): Rescaldo do Convívio da CART 2679 e Pel Caç Nat 65, realizado nos passados dias 10 e 11 de Maio de 2014 em Tomar (José Manuel Matos Dinis)

Saída em desfile, do 4.º Pelotão da CCAÇ 2679, do acanhado BII-19 para o porto do Funchal, onda apanharam o Uíge com rumo à Guiné, onde, não tenho a certeza, parece que acabaram com a guerra. Ainda hoje se ouvem choros de bajudas, depende da orientação do vento.


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 12 de Maio de 2014:

Viva Carlos!
Não sei se vou ser muito chato (porque sem aquela medida de quantidade, já sei que sou), por enviar uma troca de meiles depois do encontro de confraternização da CCaç 2679 e Pel Caç Nat 65 realizado durante o último fim-de-semana (10 e 11) em Tomar.

Sob a batuta da Donzília e do Leal tudo se revelou com grande afinação.
Reunidos em permanência na Estalagem Sta Iria, no jardim que margina o Nabão, no centro da cidade, ninguém foi nabo, mesmo os madeirenses Valentim e Agostinho, que eram escoltados por uma tropa de familiares, só chegaram atrasados, por causa dos atrasos de vida do rent-a-car, mas ainda tiveram ocasião para matar a malvada e participar activamente nas actividades lúdico-culturais que decorreram durante a tarde, sempre aconchegadas com bolinhos regionais e líquidos de boa cepa, produtos da dedicação do alfero.

De comboio fomos até ao Convento de Cristo - que foi visto a retorcer-se de inveja para integrar o animado grupo; visitaram-se as dependências do imóvel, e a janela do Capítulo foi centro de atraqueções; adquiriram-se recuerdos; voltámos ao comboio que, lampeiro, nos transportou ao Museu do Fósforo; recebemos indicações sobre os magnos estabelecimentos onde se aconchegam os estômagos de delícias tradicionais, mas o pessoal queria era ordem unida, pelo que até ao jantar e depois dele, a varanda foi ponto de encontro, de emboscadas, de armadilhas, tudo sabiamente neutralizado, e depois convenientemente regado e celebrado.

Lá para a uma da matina, quando acabaram os very-lights, o pessoal cansado, mas muito bem disposto, recolheu ao tabancal, onde as respectivas bajudas já aguardavam os heróis.
Como dizia o outro, depois da tempestade vem a bonança.

Se tiveres pachorra, e não encontrares inconveniências, peço-te que dês notícia da feliz ocorrência.

Com um abraço
JD

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2. Diz também a propósito do Convívio o nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caros amigos
De regresso do nosso encontro deste ano em Tomar, deixo aqui expressa a minha satisfação pela forma cordial como decorreu, e pela comunicação que proporcionou.
Gostaria que a todos tivesse corrido bem a viagem de regresso, tal como nos aconteceu a nós.
Foi bom rever alguns rostos que já não víamos há algum tempo e expresso a minha pena por não poder enviar esta mensagem a todos, pois a exemplo do Guerra ou do Calvo ou do Vítor, não tenho os respectivos endereços.

Ao Leal e à esposa, os melhores agradecimentos. Acho que acabaram por ter prejuízo pessoal com a nossa presença em Tomar, mas sei que o fizeram com prazer e sem reservas de qualquer espécie.
Sendo certo que tudo correu da melhor maneira, tal só aconteceu devido aos cuidados que tiveram para nos receber.

Quanto aos licores... bem, acho que que deveriam comercializá-los, para vergonha de algumas coisas que circulam por aí nos mercados.

Um grande abraço para presentes e ausentes, pois a amizade está cimentada entre todos.
Cândido Morais

De cima para baixo: Tito e Aquino; Abreu e Salvador; Gonçalves e Dinis; Marino e Azevedo; Morais; Ramalho e Vieira de Sousa; Viçoso e Pedro. 
Particularidade: nota-se, bastante evidentemente, que estes cavalheiros estão prontos a ingressar noutra guerra, com pose e determinação.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13146: Convívios (596): V Encontro do pessoal da CCAÇ 617/BCAÇ 619 e do Pel Mort 942 (Catió, Cachil, Ilha do Como, 1964/66), dia 31 de Maio de 2014, na Tocha

sexta-feira, 21 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12873: Blogpoesia (379): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (X): "Canção", de Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546) e "Soneto de guerra", de Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova LamegoFá Mandinga e Binta, 1966/68):

Prezado Dr. Luís Graça:
Naqueles tempos a inspiração já escasseava. Ainda era, no entanto, suficiente para gravar no papel algumas quadras toscas.
Envio algumas.
Um abraço.


Canção

Quem repara na doçura do meu verso?
Eu não canto, senão para alegrar
A alma de quem sofrer e amar,
E em funda tristeza andar imerso.

Como a água que desliza num ribeiro,
Nas pedras a bater, leve e serena,
Seja minha canção assim amena,
E o meu verso, assim, fagueiro.

Alguém recordará a voz amada
A murmurar, baixinho, aos seu ouvidos,
Talvez exangue, triste e desolada,
Sonhos distantes, quase já perdidos.

Quem não sofreu a dor, o desengano?
Quem não viu a tristeza, nos seus dias?
Quem não teve ilusões fugidias,
E não sondou, do amor, o fundo arcano?

Viúva desolada, entristecida,
É filha da verdade a minha voz,
Alento para quem sofrer na vida
Alguma dor, demasiado atroz.

Prenúncio final, de uma vitória,
Do triunfo final, da irmã virtude,
Espalhe-se o meu canto na amplitude,
Alcance o homem bom, a maior glória.

Domingos Gonçalves
Mafra, Maio/1965

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1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Um dia, para um livrito que produzi, incluí este soneto de guerra que nos retrata alguma coisa e que tenho todo o gosto em mandar-te, após ler o teu apelo:


Soneto de Guerra

O tempo parou e a folhagem densa
suspendeu também todo o movimento,
irmanando-se aos homens no momento
da angústia maior e mais intensa.

E todos os sons foram proibidos,
calando-se as aves sem detença,
porque pulsavam pela selva imensa
os medos doutros medos reprimidos.

Demorou o momento do trovão,
alvorada que ergueu, enfurecidos,
os rostos esmagados contra o chão.

Nos gestos maquinais, embrutecidos
o homem surgiu besta e a razão
cedeu ao mundo louco dos sentidos.

Cândido Morais
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12871: Blogpoesia (378): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IX): La crise, c'est fini, vive la poésie! (Luís Graça / Joana Graça)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12679: Direito à indignação (11): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Belarmino Sardinha / Cândido Morais)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 6 de Dezembro de 2009 > O menino de Iemberém 

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74):

Meus Caros Editores,
Desculpem se tenho andado ausente e de repente apareço sem mais nem porquê, mas há coisas que, mesmo não sendo engraçadas têm a sua piada, mesmo falando de guerra…

Leitor diário do blogue, nem sempre lhe dou a devida atenção e reconheço que isso leva-me a deixar para trás algumas coisas sobre as quais podia comentar ou até falar, mas está tudo dito e bem, para quê chover no molhado, mas sobre o P12669 achei que me apetecia dizer alguma coisa, por isso, se acharem bem podem publicar, garanto que é verdade e nada mais que a verdade tudo o que aqui escrevo.
Também quero que os meus filhos e os filhos dos outros se regozijem deste pai de família. Sempre achei que este espaço deveria servir para deixarmos um testemunho sério e verdadeiro, relatos dos acontecimentos marcantes de várias gerações de sacrificados pela luta com armas, mas o P12669 explica muita coisa, nunca pensei ter feito parte de um Western Hollywoodesco de Cowboys (o estrangeirismo fica sempre mais bonito na escrita) se escrevesse cinema do oeste português e rapaz das vacas poderiam pensar que estava a falar de alguma casa de alterne.

Tudo parece ter ocorrido em Outubro do ano da graça de 1968, tinha eu então dezoito anitos, mas se não foi em Outubro, foi nesse ano. Não sei se conseguirei escrever tudo que gostava ou quero, só agora me debrucei mais atentamente sobre as intervenções neste blogue e confesso-me de cara-à-banda. Estou feliz finalmente, descobri a razão da minha mobilização para a Guiné em 1972, sei agora, sem margem para dúvidas que foi para limpar a porcaria que lá ficou pelos milhares de mortos inimigos feitos num só dia, por pouco quando lá cheguei já não havia para mim.

Caíam como todos, abanávam as árvores e caíam pelo efeito do shelltox (mata que se farta, passe a publicidade). Lembrei-me até que um deles, meu amigo, ficou cego de uma vista, estava a espreitar num buraco de uma árvore, veio de lá o chefe da família do Pica-pau Amarelo e deu-lhe uma bicada num olho, chamava-se Luiz Vaz de Camões, mais tarde escreveu um livro muito apreciado chamado Lusíadas. 
Desculpem mas estou tão “emulsionado” que vou parar aqui este escrito. Acreditem em mim, ainda ando a bater mal pois conhecia-os a todos, de um e outro lado e até tinha os seus contactos de telemóvel.
Aos que ainda restam e por cá andam, são e vão continuar a serem penalizados, pois além das pensões, se chegaram a este ponto da leitura já levaram comigo, para todos, aqueles que vão escrevendo a história dos acontecimentos e aos que não são maus rapazes, os progenitores é que não deviam ter nascido, o meu abraço.

BS

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1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Considero também que estas iniciativas locais ("recolher história" sobre a guerra colonial), não deveriam ser levadas a cabo de qualquer maneira.
Como militar, estive também na Guiné, na zona leste (Piche, Buruntuma, Canquelifá, Bajocunda, Copá, Tabassai, Amedalai...) e revoltam-me comentários como aquele que tive oportunidade de ler: "despachamos milhares de inimigos"...

Hoje, dada a convivência que recordo ter mantido com a gente das tabancas que o arame farpado e os postos avançados dos quartéis protegiam das incursões do IN, sinto até uma certa repugnância pelos termos em foi descrita uma pseudo-acção militar, algures no território do Senegal. Aliás, mesmo quando refiro algumas das minhas memórias do tempo da guerra colonial, eu confesso que me custa escrever a palavra "inimigo", e quase sempre encontro forma de contornar esse obstáculo, às vezes utilizando o termo "IN".
Eu acho que nós, ex-combatentes, temos um enorme manancial de histórias para contar, mas nem precisamos sair do âmbito das lições de humanidade, de entreajuda, de amizade... que vivemos no teatro da guerra. O soldado português, penso eu, tinha uma inigualável capacidade para se fundir com as populações locais, com quem se confundiria se conseguisse mudar a cor da pele... Violência? Morte? Infelizmente existem em todas as guerras, mas não fomos nós que as inventámos. No entanto, existe na guerra uma quantidade tal de exemplos de grandeza e de elevação, que facilmente fazem esquecer as maiores vicissitudes e os maiores erros.

Sugiro que se recomende ao Sr. Presidente da Câmara um maior cuidado na recolha de relatos da guerra colonial. Primeiro, porque já passou muito tempo e as coisas podem ser deturpadas, depois, porque existem espíritos inquietos que não se preocupam com a exigível fiabilidade dos seus relatos, depois ainda, há quem pense que "matar gente" é a grande missão de um soldado.
Que diabo, por que é que nós, últimos soldados de um Império grandioso que a nossa História descreve e se ufana, mormente quando fala nos Descobrimentos, continuamos a ser massacrados de mil e uma formas?

Penso que, para quem não sabe, há sempre instituições credíveis que podem ler e avaliar textos que farão parte de uma qualquer memória futura. É preciso muito cuidado, e é preciso que prevaleça a verdade.

Um grande abraço
Cândido Morais

PS: - Estive na Guiné em 70/71, e passei o meu último mês de comissão em Bafatá (em merecidas férias com o meu pelotão) e a população ainda ouvia com espanto alguns rebentamentos a quilómetros de distância (a Guiné é plana e ajuda nisso), e por isso eu concluo que por ali não havia memórias perceptíveis de guerra. Quanto a Bissau, ouvi falar de um qualquer acontecimento, uma flagelação à distância...
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Nota do editor:

Último poste da série de 4 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12677: Direito à indignação (10): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Luís Graça / Carlos Pinheiro / Sousa de Castro / José A. Câmara)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12566: História da CCAÇ 2679 (66): Amizade que ficou (Cândido Morais)

1. Mais um episódio para a série da História da CCAÇ 2679, desta vez a cargo do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) que nos fala de amizade, aquela que nos marca indelevelmente:


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

66 - Amizade que ficou 
(a veracidade dos factos aqui relatados, não implica realidade nos nomes dos intervenientes…)

Nos quintais da minha aldeia há sempre alguma coisa para fazer, e o meu não escapa a essa certeza. Se quisermos, podemos dispor de permanente entretenimento, que vai das tarefas mais rotineiras às mais pesadas ou mais complexas. Mas há também aqueles momentos em que decidimos intimamente ultrapassar as preocupações pelos trabalhos que nunca encontrarão o seu termo, aproveitando as condições de que dispomos, para usufruirmos alguns momentos de repouso e de libertação, apreciando as dádivas de Deus que tantas vezes nos passam despercebidas e temos ali sempre à mão.

Foi num desses momentos, numa amena tarde primaveril, que - estendido ao sol de um leve calor reflectido pelo empedrado do chão - espraiei o pensamento pelos anos vividos na Guiné-Bissau ao tempo da guerra colonial, dando comigo a reflectir sobre amizades firmes e indestrutíveis que lá consolidei. Na verdade, essas amizades foram de tal modo fortalecidas pelo tempo e pelas adversidades, que ainda hoje, passados tantos anos, estão declaradamente presentes nas palavras e na emoção dos nossos encontros, como se fosse ontem que nos despedimos no cais da cidade do Funchal.

Nessas cogitações, lembrei-me dum facto passado em pleno destacamento de Copá, que foi o local mais isolado que conheci na ex-colónia - na sua ponta leste -, e que quase penetrava o solo hostil dum dos países vizinhos que davam guarida ao IN.
A quietude do dia, a sensação agradável que sentia sob o sol ameno que me visitava no quintal, deram-me tempo para sentir saudade daqueles tempos difíceis, que não me inibo de abordar em conversas com os amigos, embora com muito pouca frequência. Intimamente, instalou-se em mim a convicção de que não albergo problemas de consciência relativamente à guerra, na qual compareci por imposição da pátria que todos tínhamos na altura, e durante a qual nunca me desviei dos caminhos que tiveram o seu inicio na minha terra natal, bem como das minhas mais profundas convicções sobre a convivência entre os homens, mesmo que sejam elementos activos e contrários duma dura guerra, e senhores de diferentes convicções.

Por vezes, passam-nos ao lado alguns factos da vida real em que fomos intervenientes ou que sucederam próximos. Por isso, penso que é bom que os rememoremos, para melhor entendermos a sua dimensão e os seus possíveis efeitos sobre a nossa própria vida: Os Silvestres do meu pelotão nada tinham a ver um com o outro. Nem parentesco, nem proximidade que se enxergasse nas suas características pessoais. Sempre distingui um do outro, conhecedor que era de cada uma das personalidades, que eles também não disfarçavam. Os únicos pontos que detinham em comum eram o facto de ambos usarem o apelido Silvestre, ambos serem casados (na Madeira, muitas vezes os casamentos ocorriam muito cedo…) e se não incorro em erro, ambos terem já deixado alguma descendência na pérola do Atlântico.

Um dia, descansava eu na espécie de palhota que utilizava para me proteger do sol abrasador em pleno dia - localizada no centro do destacamento -, dedicando quase exclusivamente o pensamento às questões do dia a dia do aquartelamento, por vezes também desviado para o Minho distante onde pairava a minha saudade, ou para problemas menores que se me apresentavam para resolver naquele inóspito local. De dia, raramente éramos atacados no aquartelamento, pois dispúnhamos de boa visibilidade para o exterior e o IN não conseguiria aproximar-se muito sem ser detectado pelos homens destacados nos abrigos e valas exteriores que cercavam completamente a tabanca e as instalações militares que com ela se misturavam. Seriam, por isso mesmo, um alvo fácil, e por isso também preferiam mover-nos ataques nocturnos, durante os quais conseguiam aproximar-se mais do arame farpado que era a nossa primeira resistência no terreno, imediatamente antes das valas que interligavam os vários abrigos entre si, em círculo de razoável dimensão. Na altura, a guarnição do aquartelamento era composta por dois pelotões, sendo um nativo – de homens recrutados no próprio território e que podiam ser de diversas etnias – e, o outro, um dos quatro pelotões da Companhia de Caçadores madeirenses (CCAÇ 2679), neste caso o 1.º pelotão, no qual me encontrava integrado.
O sossego que reinava naquele momento, acabou por ser bruscamente interrompido pelo José António, Cabo do meu pelotão a quem fora confiada a HK, que era natural da ilha de Porto Santo, onde ainda há pouco tempo detinha funções de funcionário camarário. Vinha ofegante, e transmitiu-me apressadamente:
- Meu furriel, venha ali a baixo, que os Silvestres estão engalfinhados! E parece-me que isto não vai acabar bem…

Levantei-me de imediato e parti em direcção ao local onde se desenrolava a contenda, tendo de imediato verificado que já havia bastante população local a assistir, de semblante carregado e aparentando reprovação. Dei imediatamente ordem, em voz alta, para que parassem com a briga, mas verifiquei, um pouco surpreso, que não me prestaram a mínima atenção. E por isso concluí que a coisa estava mesmo azeda e seria necessário tomar uma medida drástica, tanto no sentido de que se apercebessem da minha presença e acabassem com a contenda, como também para que a população se compenetrasse que a tropa tinha uma disciplina a cumprir, mesmo que fosse preciso que alguém de tal se encarregasse. Por isso, avancei sobre ambos – que se encontravam aos tombos pelo chão, agredindo-se mutuamente – e peguei o que na altura estava por cima, segurando-o firmemente pelos sovacos e atirando-o de imediato contra a parede de uma cubata próxima. O segundo levantou-se então e, sem ver sequer quem o separara do seu opositor, correu novamente sobre ele, recomeçando a luta, agora em pé. E foi esse momento que me deu azo a que, dispondo de ambos em posição normal e erecta, os agredisse uma ou duas vezes – não me lembro bem -, “fazendo-lhes ver” que era eu que estava presente e que era necessário que a briga acabasse ali mesmo.

Na verdade, sucedeu aquilo que lhes era exigido. Ambos pararam de se agredir e ambos se quedaram numa posição submissa, que muito me consternou na altura, de tal modo os vi abatidos e conscientes de que tinham participado numa grande asneirada. Não me detive muito tempo por ali e, vendo os ânimos serenados definitivamente, afastei-me aparentando calma e serenidade, mas intimamente envolvido num turbilhão de pensamentos e de interrogações sobre se eu próprio teria procedido da melhor maneira.

Para mim, as decisões que normalmente se seguem a grandes e inesperados acontecimentos, nunca devem ser tomadas a quente. E por isso me dirigi para a palhota, onde voltei a estender-me sobre a esteira de verga, reflectindo agora no incidente em que acabara de participar. “Que diabo, homens casados e com filhos na Madeira, a portarem-se assim”! E eu? Não acabara também por fazer o mesmo? Bem… não foi exactamente a mesma coisa, eu fiz isso apenas para separá-los e para impor a necessária disciplina, coisa que a mim competia nessa altura! Mas não haveria outro modo, sem ser a bater? Talvez houvesse, mas eles não obedeceram doutra forma…”

Foi longa a minha meditação sobre o assunto, que continuei a amadurecer durante a noite, julgando-me apto a reagir na manhã seguinte. E a primeira coisa que fiz foi mandar chamar os soldados Silvestre, a quem fiz questão de receber juntos. Quando os vi entrar – ambos de rosto alterado e demonstrando preocupação -, concluí de imediato que também eles não tinham passado bem a noite. Era sabido que atitudes como aquela, se participadas, poderiam ser alvo de duro castigo, e isso eles não queriam, a poucos meses do final da comissão de serviço. Por isso optei por falar com eles utilizando firmeza na voz mas alguma compreensão no semblante.

- Dá licença, meu furriel?
- Entrem, se fazem favor e fechem a porta.
- O “nosso” furriel mandou chamar?
- Mandei, mandei. Que é que vos parece?
- Pois…

E foi então que eu, com alguma verborreia para não correr o risco de eles me interromperem, lhes fiz ver a gravidade do que tinham feito. Falei-lhes no único inimigo que tínhamos de enfrentar e que se encontrava lá fora, na defesa da imagem da guarnição perante as populações nativas, na necessidade de preservação da harmonia no interior do pelotão, no perigo de um deles se magoar seriamente, nas “notícias” que poderiam ser enviadas para a Madeira pelos seus próprios colegas, nas questões disciplinares ligadas a factos como aquele, mas também no problema que me tinham criado quando me vi obrigado a agredi-los para manter a ordem e a disciplina, a eles, homens casados e já com filhos a crescer…

Conforme ia falando, também os fixava intensamente. E comecei a aperceber-me que os rostos crispados que detinham até ao início da conversa, se iam distendendo quase imperceptivelmente, e o olhar tenso se ia transformando, parecendo dar a entender algum alívio e compreensão pelo que eu ia dizendo, e que eles escutavam atentamente.
Quando acabei de falar, gerou-se um silêncio pesado dentro daquele exíguo espaço fechado, tardando a ser quebrado por um deles, que entendeu dizer-me:
- Meu furriel! É só isso que tem para nos dizer?
- É, Silvestre. É só isso que tenho para vos dizer…
- Pois, meu furriel, nós pensávamos que vínhamos cá para ouvir qual era a “porrada” que íamos apanhar…
- Não Silvestre, não há “porrada” nenhuma. Eu queria é que vocês tivessem mais juízo e não me obrigassem nunca mais a fazer uma figura daquelas!
- Mas, meu furriel, nós os dois já fizemos as pazes ontem, e até viemos juntos para cá. Aquilo foi um bocado de cerveja a mais, e passou logo…
- Pois passou – acrescentei eu – mas o espectáculo toda a gente o viu ou soube dele, e eu não escapei a isso tudo que vocês criaram. E isso não tinha que acontecer!
- O meu furriel dá licença que lhe diga? Pois bateu e bateu muito bem! Nós até vínhamos para cá a dizer que ainda tínhamos levado poucas, depois do sarilho que armamos. E até vamos ser muito mais francos, pois vínhamos também a conversar que, se apanhássemos uma “porrada”, ela seria muito bem merecida! O “nosso” furriel que nos desculpe, mas isto também nunca mais torna a acontecer.

Fiquei sentado por uns instantes, que julgo que foram breves. E avaliei a simplicidade daqueles homens endurecidos por uma vida adversa na Madeira, e depois por longos meses de isolamento no mato da Guiné, por noites sem dormir, e por tantas, tantas saudades que mal caberiam na pequena ilha onde os tínhamos ido buscar, e que não podiam visitar, mesmo no gozo das férias a que tinham direito, pois não dispunham de dinheiro suficiente para a viagem de avião. Intimamente, senti-me ainda pior do que quando decidi chamá-los, e experimentei um estranho aperto na garganta face àquela demonstração de genuína humildade, contendo a possibilidade de qualquer outra palavra que pudesse indiciar um pedido de desculpas que decerto eles não compreenderiam mas eu achava muito natural nesse momento.
Depois, em comedido impulso, dei eu próprio dois passos em frente, torneando a mesa que tinha entre mim e eles, e abracei ambos sem levar em conta a eventual existência de alguma regra militar que me impedisse de o fazer. Foi apenas um curto momento, resultante dum gesto espontâneo e imediatamente correspondido, qual bálsamo salutar e mitigador das asperezas duma guerra crua.

No calor ameno de um sol primaveril que me visitava no quintal, eu trouxe à memória o rosto dos Silvestres do meu pelotão, emergentes daquele grupo de homens rudes e humildes, que nos olhavam directamente nos olhos, e que eram solidariamente firmes como as rochas são dos montes, quando as incidências da guerra aconteciam. Os Silvestres nada tinham a ver um com o outro, a não ser o facto de terem nascido na mesma ilha, e de serem tão bravios quanto ela era há mais de 40 anos. Mas eram os homens do meu pelotão, em quem confiava cegamente e que me alegraram sempre com a sua amizade, presente ainda nestas cogitações - que por vezes alimento - sobre a crueza duma guerra que alguns querem fazer esquecer, mas que foi apenas mais uma, entre tantas que o mundo alimentou.

Nestes curtos momentos em que lhes dedico o meu pensamento, eu sinto por eles a mesma gratidão e a mesma amizade.

(Com esta história verídica, pretendo apenas prestar homenagem aos madeirenses de quem guardo grata memória)

Cândido Morais
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12448: História da CCAÇ 2679 (65): Dia da Raça (José Manuel Matos Dinis)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

1. Respostas ao questionário do nosso camarada Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Há já bastante tempo. 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Por informação do camarada José Dinis. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Há cerca de meio ano. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - De tempos a tempos. 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Já mandei dois artigos e gostaria de mandar mais, de acordo com o tempo de que disponho. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Não. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Eu não acedo ao facebook. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - Gosto de ler alguns artigos e gosto de ver fotografias de sítios da Guiné. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Eu penso que não há nada que goste menos. As intervenções podem ser mais ou menos interessantes, mas trata-se de coisas que gosto sempre de ler. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Representa a permanência de uma fase da nossa vida, que certamente marcou a todos. Eu sei que, ao fim de muitos anos, o blogue acabará por fenecer, juntamente connosco. Contudo, a vida vive-se enquanto estamos vivos... 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Este ano ainda não posso. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Neste momento, penso que se encontra com bastante força anímica, suportado por alguns entusiastas. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Nada me ocorre como crítica. Endereço, apenas, uma palavra de ânimo a quem mais se dedica a esta causa.

Cândido Morais

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2. Respostas do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974):

1 - Entre 5 e 6 anos 

2 - Através de informações de camaradas 

3 - Considero-me membro e participo regularmente com comentários/opiniões 

4 - Em média será uma vez por semana 

5 - Tenho mandado 

6 - Sim 

7 - Alterno sem tendência definida 

8 - De acompanhar as diversas opiniões e relatos de factos vividos em pleno TO 


9 - Não tenho opinião negativa, a não ser a lentidão que é frequente 

10 - No acesso não, mas com referi a excessiva lentidão 

11 - É uma fonte de actualização e renovação de contactos com os ex-camaradas 

12 - Ainda não, embora este ano já tenha estado em 2 encontros da companhia e do batalhão 

13 - Provavelmente não por várias razões uma delas ainda estar na vida activa em regime de turnos

14 - Sim, parar é morrer. Se necessário fazer renovações no sentido de o tornar mais ágil e atrativo 

15 - Em resumo dos parágrafos, devemos prosseguir este caminho, tornando-o mais largo de forma a crescer o caudal de camaradas a participar/colaborar, em suma comunicar que é uma fonte de vida saudável 

OBS: A foto anexa mostra a chegada a Cadique pelo rio Cumbijã da 1.ª CART e CCS do BART 6520/73 

Um abraço a todos, um bom 1º de Maio (há 39 anos estava no TO da Guiné - Bolama) 
Manuel Luís Nogueira de Sousa

********************

3. Mensagem do nosso camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69), com as suas respostas ao nosso questionário:

1 - Descobri o blogue no princípio de 2007

2 - Descobri o blogue por acaso, ao navegar na Net 

3 - Sou membro desde 12 de Julho de 2007 

4 - Visito o blogue todos os dias 

5 - Já enviei material para o blogue, mas ultimamente não 

6 - Não conheço o Facebook 

7 - Resposta anterior 

8 - Gosto dos temas que cheirem a pólvora 

9 - Poesias, aniversários, etc. 

10 - Tenho tido dificuldades porque o blogue não cabe no Meu monitor, tenho que utilizar o zoom 95 

11 - O blogue representa para mim o reviver de uma fase muito importante da minha vida 

12 - Participei no encontro da Ameira 

13 - Este ano também não vou. A minha vida em 2010 deu Uma volta de 180º e a minha saúde é escassa 

14 - Acho que o blogue tem que continuar. Representa muito Para alguns de nós, sobretudo para aqueles que se apaixonaram Por aquela terra e por lá deixaram algo de si 

15 - Não tenho críticas a fazer. Cada um de nós tem feito o melhor que Pode e sabe. A estrada está picada, mas por favor não vão todos Em cima da mesma viatura 

Um abraço a todos os camaradas desta magnífica tabanca
Aires Ferreira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11519: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (40): Respostas (nº 78/79/80): Carlos Pedreño Ferreira, ex- Fur Mil Inf Op COMBIS e COP 8 (Bissau e Nhacra, 1971/73); Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, BART 1913 (Catió, 1967/69) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 (Cufar e Buruntuma, 1964/66)

domingo, 10 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11226: Ser solidário (143): Rádio Comunitária Papagaio, Buba: "SOS!!!!... Querem fechar-nos as portas!... Ajudem-nos a adquirir um filtro de harmónicos!".... (Luís da Silva, diretor)


Guiné-Bissau < Região de Quínara > Buba >> Rádio Papagaio, criada em 2002: diretor, jornalistas e técnicos... 


Guiné-Bissau < Região de Quínara > Buba > Rádio Papagaio... Diretor Luís da Silva



Guiné-Bissau < Região de Quínara > Buba > Edifício da Rádio Comunitária Papagaio, propriedade da ONG AMIN - Associação dos Amigos da Natureza. É uma das 30 rádios comunitárias que cobrem o país e são a verdadeira voz da população guineense. Faz parte da RENARC - Rede Nacional das Redes Comunitárias da Guiné-Bissau 

Fotos: Rádio Comunitária Papagaio (2013)






1. Mensagem recebida em 8 de fevereiro último:

Amigos e Camaradas da Guiné Bissau

Somos a Rádio Papagaio em Buba, Sul da Guiné-Bissau. Conforme podem ver nos anexos Aviso e Notificação, estamos prestes a encerrar as nossas portas e de perder nossos materiais por falta de 1000 euros para comprarmos um filtro harmónico e pagar seu transporte até  à Guiné.

Precisamos da vossa ajuda e da vossa solidareiedade de sempre que tem para o nosso Pais. Ajudem a salvar a Rádio Papagaio. O prazo do aviso expirou. Solicitamos à ARN [Autoridade Reguladora Nacional das TIC] para nos atenuar até ao mês de Março. Não sabemos o que vai acontecer...

Luis da Silva
Telefone 00245 6634323

PS - Cumprimentos ao Sr António Camilo.

2. Novo apelo, dramático, com data de 15 de fevereiro:

Buba, Guiné-Bissau 15 de Fevereiro de 2013

Amigos da expedição portuguesa.  Somos a Rádio Comunitária Papagaio. Estamos em Buba, Região de Quínara, sul da Guiné-Bissau. Estamos num momento de aflição e recorremos a vocês, pedindo vossa
ajuda, para ultrapassarmos as exigências da ARN. A nossa Rádio está a ser ameaçada de multas, encerramento de suas portas e apreensão dos seus materiais, se não cumprirmos com o Aviso e
Notificação em anexo.

Já cumprimos com duas exigências: a sinalização aérea e a licença radioeléctrica. Mas não estamos em condições financeiras de comprar o filtro harmónico num pais europeu. Na Itália custa 800 euros incluindo seu transporte para a Guiné. Com o trabalho do técnico, vamos precisar ao todo de 1000 euros.
Esta é a razão desta mensagem enviada a vocês para nos apoiar.

O FILTRO HARMONICO DEVE TER FREQUÊNCIA DE 93.10 MHZ
É
 tudo e esperamos vosso apoio
Luís da Silva
Coordenador da AMIN/ Rádio Papagaio

3. Na mesma data fizemos um apelo (interno) à solidariedade de todo o pessoal da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas: A maior parte das rádios comunitárias da Guiné-Bissau são ilegais, mas prestam uma serviço relevante...É o 2º ou o 3º email, de aflição, que recebo da Rádio Papagaio, de Buba. É malta que conhece alguns de nós, o António Camilo e outros "amigos da expedição portuguesa" (sic). Não sei como podemos ajudá-los. Mas dou-vos conhecimento do seu dramático apelo e vou publicar um poste no nosso blogue (quando tiver mais informação concreta da malta que conhece a Buba de hoje e esta rádio) . Bom fim de semana. Luís Graça

PS - Informação que me deu o Pepito sobre esta situação:

"1. Radio Papagaio: é verdade que todas as rádios têm de pagar ao Estado uma licença de emissão, mesmo sabendo o dito cujo que as rádios fornecem um excelente trabalho nos domínios da saúde, informação, divulgação da cultura, promoção de um espírito de tolerância étnica, etc. Por outro lado, há pequenas avarias difíceis de solucionar por falta de recursos financeiros (estas rádios trabalham em regime de voluntariado)."...

4. Recebemos várias respostas de camaradas nossos ao nosso apelo:

(i) Do nosso camarada Osvaldo Colaço recebemos de imediato uma resposta, com conhecimento à Rádio Papagaio:

Colaço, Osvaldo
15 Fev
 
Boa tarde amigos

Li o vosso apelo através do Luís e do Carlos

Digam-me como posso enviar uma pequena ajuda monetária
Ex-furriel mil  (Empada-Catió 72-74)

Osvaldo Colaço
Responsável Oficina Máquinas & Moldes
Verallia Portugal

Tel: +351 233 403 224
Mob: +351 964 857 804
www.verallia.com

(ii) Júlio Madaleno
15 Fev

Luís Graça, quero ajudá-los. Não faço nem quero usar a Net para assuntos de bancos. Por favor dá-me um NIB e lá constará uma transferência minha de € 50,00 que é do que posso dispor. Sem esquecer as necessidades do meu país,  não me passa ao lado o apelo de gente que aprendi a admirar.

Júlio T S Madaleno ex- fur mil das CCAAÇ 1685 e 2317.


(iii) Fernando Súcio
15 Fev


Caro camarada Luis Graça: da minha parte estou disposto a colabarar. Digam-me como posso enviar a minha contribuição que faço da melhor vontade. Com um abraço para toda essa boa gente,
e para ti,  Luís.
Fernando Súcio


(iv)  Cândido Morais
19 Fev


Pois... Só se formos solicitados a contribuir com alguma coisa, através de um NIB comummente aceite. Por mim, estou disponível para colaborar, na medida das minhas possibilidades e mau grado a crise...
Não conheço Buba. A CCAÇ 2679, de que fiz parte em 70/71, esteve no leste, desde Piche a Buruntuma e depois em Bajocunda/Copá, mas sempre me sensiblizou aquela gente, no interior da Guiné. Um abraço para todos.

6.  Conta bancária > IBAN:GWO96 01001 011111 010185 38 

 Buba, 16 de Fevereiro de 2013

Amigos Osvaldo Colaço, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro, Luis Graça,

Antonio Camilo...

recebam a coordenada bancária e espero o vosso apoio.
_______________________________________________

Coordenada Bancária
BAO Banco da Africa Ocidental SA
Guine-Bissau

REMITTANCE DETAILS
Instructions for Receipt of Wire Transfer

Pay To-Caixa económica-Montepio Geral
Lisbon, Portugal
Swift code : MPIOPTPL

For Credit : Banco da Africa Ocidental, SA
Rua Guerra Mendes, 18 A/C
CP 1360 – Bissau, Guiné-Bissau
TEL: 00245 320 34 18/ 19
FAX: 00245 320 34 12


SWIFT: BAOBGWGWXXX

For Further Credit To:
Account Name: Luis da Silva
Account Number: 011111/010185.
MONTEPIO GERAL, RUA DO OURO 219-241, LISBOA,
PORTUGAL- TEL(. 351-21-3248000)
IBAN:GWO96 01001 011111 010185 38


7. Mensagm da Rádio Papagaio

28 de fevereiro de 2013

Amigos, Camaradas da Guiné e da Rádio Papagaio: comunico-os que já recebi 2 ajudas de 50 euros cada : uma de Osvaldo e outra de Sr Súcio. Depois de muitas solicitações a ARN prorrogou para este mês do Março próximo o prazo para colocar filtros harmónicos na Rádio.
um forte abraço
Luis da Silva
espero o vosso apoio
telef 00 245 66343235. 

8. Nova mensagem, de 3 do corrente

Amigos,  camaradas da Guiné: Rádio Papagaio está vivendo os momentos de incerteza da sua vida. Se vai calar definitivamente a sua boca tanto apreciada pela comunidade local, mas tambem esperando uma resposta da vossa parte, sempre com esperanças de que podem ajudar segundo as vossas possibilidades.

Já temos confirmação de 2 apoios de 50 euros cada. enviados através de SOFIB WESTERN UNION.  Queríamos saber se já foi depositado na Caixa Económica-Montepio Geral,  segundo a coordenada que enviei, para assim me poder deslocar a Bissau e fazer a encomenda do Filtro harmónico para a Rádio.
Mais uma vez obrigado pela atenção.
Luis da Silva
telef 002456634323

9.  Nova mensagem, de 5 do corrente

Amin Papagaio
Amigos da Guiné e da Rádio Papagaio, Senhores, Osvaldo Colaço e Fernando Súcio

Recebemos as vossas contribuições, o muito significantes para nós. Dos grãos em que se enche o papo duma ave. Assim, e esperamos que exerçam vossas influências junto aos restantes amigos da Guiné para que façam o mesmo gesto de solidariedade.

De todos os pedidos enviados aos vossos companheiros, só vocês os dois é que até então deram a sua mãozinha num total de 100 euros. É para a instalação do filtro na rádio que termina neste mês de Março. Esperamos que as vossas influências junto aos vossos colegas possam surtir algum resultado positivo.

Um abraço do vosso amigo, Luis da Silva.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > óniosGuiné 63/74 - P11117: Ser solidário (142): Movimento Lionístico em favor da solidariedade para com o povo da Guiné-Bissau (Jaime Machado / José Rodrigues)

domingo, 3 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11186: História da CCAÇ 2679 (62): Um caso com o Vieira (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 20 de Fevereiro de 2013:

Meus amigos Carlos e Cândido,
Aqui vai um novo trecho da História da CCaç 2679, desta vez subscrito pelo Cândido Morais, e que reporta num estilo bem comunicativo, mais uma estória sobre a sageza e oportunidade do nosso capitão Trapinhos.
O Cândido centraliza a estória na atitude tomada pelo Vieira, mas eu considero que é ele mesmo, o Cândido, o ilustre herói da narrativa. Porque heróis foram também todos aqueles que não se queixavam e estavam prontos para a solidariedade. É característica dele a altruísta entreajuda manifestada. A ele não caíam os parentes na lama, sempre que decidia ajudar um subordinado em dificuldades, pois a todos considerava camaradas.
Era um exemplo a seguir.

Daqui envio um grande abraço para ambos
JD

************

HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

62 - Um caso com o Vieira

Cândido Morais

O Vieira era um homem calmo, por natureza. Com ele podiamos conversar, sem corrermos riscos de algum atropelo verbal, pois media cuidadosamente tudo o que dizia, tornando-se evidente que se preocupava com o interlocutor, não pretendendo maçá-lo e deixando ao seu critério a duração duma conversa. A ele, ninguém poderia apelidar de cansativo, pois estava ali apenas para conversar e não para se constituír parte integrante de uma enfadonha conversa.
Não sei como e quando isso lhe aconteceu, mas chegou ao meu conhecimento que o Vieira tinha grandes dificuldades para dormir. Na verdade, tinha sido atingido pelos efeitos colaterais de uma "roquetada", que, pelos vistos, embatera na frente do abrigo de um posto avançado, projectando os seus estilhaços para as costas do Vieira, que se soerguera um pouco na vala quando respondia a fogo do IN. Pelo menos, foi essa a informação que chegou ao meu conhecimento.

A minha preocupação principal não se concentrou nos tais estilhaços. Segundo me fora dito, os mesmos poderiam manter-se por ali indefinidamente, e o Vieira poderia viver até aos 100 anos com eles nas costas, e não seria por causa disso que entregaria a alma ao Criador. O que realmente me preocupava, era o sacrificio que me fora confidenciado por um camarada de armas, que acrescentara a enorme dificuldade que o Vieira sentia quando fazia reforço nos abrigos, pois, como lhe era dado dormir pouco, acabava por executar duplo esforço, enquanto olhava para lá do arame farpado na solidão que se proectava savana fora.

Um dia, tive com ele uma das tais conversas, durante a qual me contou grande parte da sua vida e me confessou as dificuldades que passava, por causa dos tais estilhaços. Acabei a ouvi-lo atentamente, e a pensar como poderia ajudá-lo em tão doloroso sofrimento, definindo lentamente uma decisão:
- Olhe, Vieira, eu não me importo de fazer o seu turno de reforço. Ao fim e ao cabo, são duas horinhas que tiro ao sono, e a essas horas da noite, até dá para pensar um pouco mais, ali sozinho, longe de tudo e de todos.

Eu não contava que o Vieira aceitasse tão prontamente, desfazendo-se em elogios e agradecimentos endereçados à minha pessoa. Disse-lhe que nada tinha a agradecer, e antes era meu dever colaborar com todos os camaradas, para levarmos aqueles dois anos a bom termo, dentro da maior amizade e camaradagem. Pedi-lhe, por isso, que não comentasse a minha disponibilidade, e que o facto ficasse apenas entre nós, pois não havia vantagem nenhuma em que mais alguém soubesse.

Mas soube. Não foi preciso passar muito tempo para se saber que o furriel estava a fazer os turnos de reforço do Vieira, não por que este tivesse falseado a sua promessa de sigilo, mas por que talvez não fosse habitual os furriéis consagrarem-se a essa actividade. Ao fim e ao cabo, eu teria sempre de ir acordar o reforço seguinte, que estranharia a minha presença nessa missão diária...

Passou-se, contudo, um mês, sem qualquer ocorrência, ligada ao facto, que importunasse esse desempenho. Até que, um dia, me vieram dizer que o Comandante de Companhia soubera do que se passava e, mais uma vez, decidira dar o seu ar de mando, chamando o Vieira e perguntando-lhe se tal era verdade. Este, segundo me informaram, respondeu prontamente que sim, voltando a referir a minha pessoa em tom elogioso e dizendo que isso lhe aliviava, e muito, o sofrimento. O nosso Comandante ouviu-o atentamente e, depois, mandou-o embora, dizendo-lhe que o chamaria brevemente, para continuarem a conversa.

Essa conversa, não chegou a acontecer, nem com o Vieira, nem comigo. Mandou-lhe recado por um cabo da secção, dizendo-lhe que teria de reiniciar o reforço, pois as necessidades de pessoal eram grandes e o sacrificio tinha de ser repartido por todos. Nesta justificação, não teve oportunidade de ponderar a minha disponibilidade, e eu ainda hoje não sei quais foram as razões que o impeliram a proferir essa ordem por interposta pessoa.

Eu não assisti à cena que se seguiu, mas vieram contar-ma à camarata onde dormitava, e confesso que sorri ao ouvir esse relato, conhecedor que era das falas mansas do Vieira e da sua enorme vontade de não chatear ninguém, mesmo que fosse para levar a cabo uma acção radical. Disse-me então a minha fonte que o Vieira, depois de lhe ser transmitida a decisão do Comando, pegou numa granada de mão e dirigiu-se ao gabinete do nosso Comandante, onde pediu educadamente licença para entrar:
- O meu Comandante dá-me licença?
- Entre! O que o traz por cá?
- Disseram-me que o meu Comandante mandou que eu fizesse reforço outra vez, e eu vim cá confirmar...
- Sim senhor! Você vai ter de fazer reforço outra vez, e aliás nunca devia ter deixado de o fazer! - Disse-lhe o Comandante.
- Mas sabe, meu capitão, é que me doem tanto as costas!... argumentou o Vieira.

E, se havia uma coisa que o Vieira honrava, era não ser medroso. Por isso, mentalmente, engendrou a melhor forma de levar a cabo aquilo que se determinara fazer e, muito mansamente como era seu timbre, descavilhou a granada e, segurando a respectiva alavanca entre ela e a mão, pousou-a sobre a secretária:
- É que sabe, meu Comandante, as costas estão mesmo a doer-me muito...

Talvez influenciado pelo conhecimento de outros factos do género que, infelizmente, não rareavam entre a tropa e não só em terras da Guiné, o visado ponderou a situação.

 - Que acha, meu Capitão? Acha mesmo que devo fazer reforço?
- Ora, ora, senhor Vieira! Claro que vai deixar de fazer reforço. Eu só estava mesmo a ver se era tudo verdade o que se passava consigo!
- Eu bem me parecia, meu Capitão! Que diabo, as costas doem-me mesmo! Muito obrigado, meu Capitão, e se me dá licença, retiro-me.

Como já disse, eu não assisti a esta conversa. Contaram-ma depois e não foi preciso assistir a ela, conhecendo como conhecia o Soldado Vieira. Mentalmente, idealizei a cena e deu-me uma enorme vontade de sorrir novamente. No íntimo, penso que o Comandante procedeu sensatamente, pois ainda hoje não sei o que teria acontecido no Gabinete (eram três, as pessoas lá presentes), se o Vieira recebesse uma recusa pura e simples. Quanto a mim, que não fui tido nem achado em todo o processo, continuei calmamente a fazer o reforço do Vieira, remetendo insistentemente para o Minho o meu pensamento, naquelas longas e negras noites a olhar o mato ali tão próximo, donde por vezes surgiam ruidos estranhos, uns rápidos e fugazes, outros cansativamente persistentes, entremeados com o irritante riso das hienas, que não tinham pejo em tocar o arame farpado junto ao posto avançado, fazendo tilintar as garrafas de cerveja estrategicamente lá posicionadas para nos alertarem da presença dum intruso

Cândido Morais
ex-Fur Mil
CCAÇ 2679
Bajocunda
1970/71
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11002: História da CCAÇ 2679 (61): A vingança serve-se fria (José Manuel Matos Dinis)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11002: História da CCAÇ 2679 (61): A vingança serve-se fria (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 23 de Janeiro de 2013:

Ora viva Carlos,
Depois da pompa e circunstância de apresentação do Cândido Morais, quiçá a personagem mais importante de Perre desde que integrou o blogue, hoje apresento-te uma página negra da estória daquele furriel miliciano.
Está ali tudo, tim-tim-por-tim-tim. Que o traste seja julgado na praça pública, e se não houver galés, que seja condenado a presentear-me com outro salsichão de que ele herdou a mestria da composição.
E ainda tem que dar o vinho.
Que comigo não há imunidade, nem prescrição.

Se repararem, na fotografia da tela sobre o Morais, não faltam os acepipes, nem o vinho, entre outras coisas. Espero que se divirtam com uma estória verdadeira.

Para ti e para a Tabanca vai aquele abraço
JD


A VINGANÇA SERVE-SE FRIA

Tinha saído com os primeiros alvores para uma patrulha pela fronteira, com emboscada num imaginado trilho de penetração. O dia fora igual a tantos outros: palmilhámos uns quilómetros pela mata, abancámos junto a um trilho à espera de ninguém, prolongámos o passeio ao longo da fronteira por mais algum tempo, comemos meia ração, e bebemos a água do cantil, que naqueles azimutes parecia uma bebida fina. A meio da tarde, quando andava próximo da ZA de Pirada, decidi regressar à base. Tínhamos ainda tempo diurno para o que fosse necessário.

Despedimo-nos à entrada do arame, e cada um tomou o rumo do alojamento. Encostei a arma no lugar do costume, junto à cama onde dormia. Abri o armário do bacalhau, e remexi à procura de uma camisa ou camisola (na época ainda não se usava o termo t'shirt) sem pó, despi-me, enfiei os chinelos, peguei na saboneteira, e dirigi-me para a "sala das orgias". Ali, convenientemente nuzinho, abri a torneira da espécie de duche, e recebi a água morna numa torrente de muito agrado. Lembrei-me do que um gajo qualquer me contou à chegada: que naquele dia o Morais tinha recebido uma encomenda com vários salpicões que o pai lhe mandara. E rematou com uma superlativa apreciação à qualidade dos enchidos. Enquanto passava a toalha pelo corpo, afiava o dente para atacar um bocado da maravilha.

A "sala das orgias" deve a designação a uma inspiração pictórica da minha parte. 
O segundo painel representa uma pintura abstracta, como abstractos seriam a maior parte dos pensamentos dos utilizadores da cagadeira. 
O painel que segue, representa um penico estilizado, indicador da função atribuída ao local. 
O último dos painéis homenageia os aflitos, ali representados pelo cãozinho que só tinha 3 patas, e um dia, muito aflito para chichizar, levantou uma pata e caiu

Saí daquela sala, e ouvi vozes na messe, logo ali à frente. Para lá me dirigi pois tinha distinguido o Morais entre os palrantes.

- Então Morais, hoje houve salpicãozinho de Perre? - Perguntei, mas com uma sonoridade afirmativa.
- Eh pá, o meu pai mandou-me uns salpicões de categoria, - afirmou visivelmente agradado o nosso tropa.
- Porreiro pá, arranja aí um bocadinho, que eu venho com uma fome do diabo.
- Oh pá, já não há nada, estes gajos são uns brutos a comer. Estava a ver que nem chegava para mim, - retorquiu tranquilo.
- O quê? Então não tiveste a lembrança de guardar um bocadinho para mim? - Interroguei-o acusadora e ofendidamente.
- Eh pá, que é que queres? Para já não eram muitos, e depois estes gajos atacaram neles que nem selvagens.

E para acentuar a sua inocência, virou-se para os outros e perguntou-lhes:
- Oh rapazes, eram bons ou não?

Os rapazes, apalermados, responderam quase ensaiadamente que sim, que o pai dele devia mandar mais e mais vezes.

- Foda-se pá!!! - Reagi com indignação. - Quando recebo uma encomenda tenho sempre a preocupação de me lembrar de ti, e agora pregas-me a partida,-  respondi com desagrado.

Virei costas e fui para o quarto, por uma camisa e calções, que a hora do jantar aproximava-se. Dirigi-me ao armário para qualquer coisa, para colocar umas gotas de Old Spice para me preservar do cheiro a catinga, ou por outra razão, e deparei com alguns aerogramas ali amontoados na desorganização arrumativa que me caracteriza. Tan-Tan!!! fez-se-me uma luz.

Tirei um dos aerogramas, peguei na esferográfica, sentei-me na cama, e com um livro a fazer de base escrevinhadora, endossei o correio para o Exmo. Senhor Manuel Luís Morais, Perre, Viana do Castelo, Metrópole.

Depois escrevi-lhe a dar boas notícias do filho, da amizade que todos nutríamos por ele, e expus a razão da minha comunicação. Estava-se mesmo a ver, claro, que os salpicões não tinham chegado para mim, e que o filho cometera a enorme falha de não me guardar um bocadinho para prova. Como sabia que o senhor era inexcedível nas relações familiares, e sendo eu um amigo indefectível do Cândido, imaginava quanta alegria lhe iria proporcionar, por poder enviar-me uma pequenina encomenda com um salpicão.

Não veio um. Vieram quatro ou cinco, numa embalagem destinada ao Fur Mil José Dinis.

Ao jantar ainda gozaram comigo, uns sacanas ordinários, que não só realçavam a qualidade dos aromatizados enchidos, como me tratavam por lorpa, como se tivesse ido voluntariamente para o mato, para mais, calculem, com meia ração de combate. Alinhei naquilo, e a rapaziada divertia-se à minha custa.

Poucos dias depois, antes do almoço, tirei um salpicão, abarbatei-me a uma cervejola e a um naco de pão, e sentei-me à mesa quando o pessoal se dispunha para almoçar.

- Que é isso pá? - Alguém questionou.
- Não tens óculos? Vai buscá-los que logo vês, já que pelo cheirinho não distingues uma salsicha de uma bota da tropa. - E ferrei a naifa na carne apetitosa.
- Eh pá, dá-me um bocadinho, - pediu outro.
- Não posso! - Respondi seco, enquanto mastigava uma fatia do gostoso salpicão.

Não demorou nada para que se iniciasse o burburinho. Eles pediam, tratavam-me de merdoso egoísta, ameaçavam roubar-me o salpicão, e eu respondia que não podia dar, que da última vez também não me deram nada, e que fodia com tiros o primeiro que ousasse roubar-me.

Afastei-me da mesa e apercebi-me de como aceitaram o argumento. Daquela multidão indignada, acerco-se o Morais, muito cuidadosamente, a referir-me que o salpicão era mesmo parecido com os salpicões do pai dele. Respondi-lhe que os salpicões são todos parecidos. Pediu-me para provar, mas lembrei-lhe que não senhor, ele ainda há poucos dias não tivera o misericordioso acto de me guardar uma fatia quando o pai lhe enviara éne salpicões.

De repente o Morais transforma-se em provocador perigoso, e dizia que o salpicão, de certeza, era de casa do pai, e questionava-me onde é fui arranjar aquilo. Desfeiteei-o mais uma vez, e insinuei que fosse ao Vítor pedir um vallium para acalmar. Mas o Morais estava a perder a cabeça, e insistia que sabia muito bem que o salpicão era da sua casa. Onde é que eu arranjara aquilo?

O pessoal, entre o divertido e o indignado, se não fazia apostas, já se mostrava tenso com o desenvolvimento da contenda. O Morais estava mais que desconsolado, estava irritado e ameaçador.

Arrumei o salpicão na folha de papel, e, provocadoramente, prometi oferecer a alguns depois do jantar. Mas só a alguns, sublinhei. Com o serviço da bianda (ou seria esparguete?) o pessoal amainou.
No fim da refeição disse a um para ir ao meu armário buscar a encomenda, que eu estava mais generoso. Quando veio a encomenda o Morais foi logo identificar a letra do pai, e quase perdia a cabeça.

- Eu sabia! Eu sabia que o salpicão era da casa do meu pai.
- Pois sabias, - confirmei eu, - o que tu não sabias, e parece que não queres saber, é que os salpicões são meus, e foram oferecidos pelo teu pai, um gajo porreiro, aliás, que não tem comparação com o merdoso do filho que está na Guiné.

Desatámos a rir, a trinchar e a comer os milagrosos salpicões que, de facto, revelavam grande saber na composição e manifestavam uma tão grande satisfação ao palato
Acabou em festa, e os outros sacanas nunca mais pensaram em ressarcir-me daquele inopinado extra.

JMMD


2. Comentário de CV:

Ainda sobre esta saborosa (literalmente) estória, que só podia ter sido urdida por "um José Manuel Matos Dinis", cabe aqui e agora um aditamento por parte do visado, o nosso recente camarada Morais:

Meus caros
Eu tinha medo que esta história viesse a lume... na verdade, eu lembro-me desse episódio, mas infelizmente só na parte da minha zanga com o Dinis.
Eu recebia realmente várias encomendas de Perre e lembro-me que gozava de boa saúde porque pegava no presunto e no chouriço que sobrava para mim, dirigia-me à padaria e pedia lá um casqueiro dos grandes, que enchia com alho e cebola, que depois cobria com presunto ou chouriço, conforme a circunstância. Eu creio que isso ajudou a preservar, e muito, a minha saúde física e mental.


O motivo da minha zanga, não estava relacionado com o facto dos amigos se alambazarem com o conteúdo das minhas encomendas, pois eu acabava por distribuir por eles quase tudo, mesmo até aqueles frascos de uvas engarrafadas com aguardente, que tantas angústias me suavizaram, ou as latas de conserva que o meu pai esvaziava em casa, para encher com rojões de porco da última matança caseira, envoltos na sua própria banha (uma delícia!).
Eu zanguei-me porque estava persuadido que o Dinis violara uma coisa que para mim era sagrada, que era a encomenda do meu pai, vinda da minha terra, que todos os dias lembrava com saudade. Eu creio que ele até é benevolente comigo quando agora fala na minha zanga, porque eu penso que passei para além do que ele relata (se não sabeis, sou do signo Touro, afeiçoado à terra, parece que meigo e paciente, mas violento...).


Mas, se o Dinis diz que escreveu para o meu pai, também sei que o meu pai não teria hesitado em corresponder a esse apelo, e por isso acredito no que ele diz. Aliás, foi o meu pai que quis ter o prazer e a honra de ser o primeiro dos progenitores a receber os meus amigos (aquela cambada...) na nossa casa depois do regresso da Guiné.

Só desejo que o Dinis me perdoe o ar irado dessa altura, embora eu pense ter, logo a partir do dia seguinte, abrandado a pressão e continuado a cimentar a grande amizade que preservamos.

Um abraço.
Cândido Morais

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10979: História da CCAÇ 2679 (60): Ir ou não ir para a vala... eis a questão (Cândido Morais)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10979: História da CCAÇ 2679 (60): Ir ou não ir para a vala... eis a questão (Cândido Morais)

1. Importa fazer uma espécie de introdução a mais esta História da CCAÇ 2679, apresentando uma troca de mensagens entre os camarada José Manuel Matos Dinis e Cândido Morais, este muito recentemente entrado para o nosso convívio:

Assim, em 5 de Janeiro dizia Zé Dinis ao Cândido:

Viva Morais,
[...]  Entretanto, lembro-te de que prometeste enviar duas estórias da tua passagem pela heróica 2679.
Cá fico a aguardar para lhes dar a relevância que os heróis merecem.

Um abraço
JD

E, ainda no mesmo dia, a resposta foi:

Pois, meu caro,
Vou escrever isso neste fim de semana.
Uma de cada vez...
[...]
Um abraço
CMorais

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2. O resultado veio no dia 8 de Janeiro

Pois és. Tu sempre foste um sacana dum amigo. Mas aqui vai, em traços largos, para tu poderes fazer o relato segundo os cânones do blog. 
A história é verdadeira e, curiosamente, alguns deles lembram-se dela, mas outros não. 
Já lá vão 40 anitos bem contados...
CMorais

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HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (60)

IR OU NÃO IR PARA A VALA... EIS A QUESTÃO

Por Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71

Durante toda a minha comissão de serviço, sempre passada na zona leste da Guiné-Bissau, que detinha maioritariamente fronteira com a Guiné Conakry, tive oportunidade de comandar três pelotões da minha Companhia, uma Companhia de Caçadores cujos pelotões operacionais eram compostos por madeirenses, com graduados do Continente.

Obviamente que sempre estive englobado num Pelotão, mas, por ausência dos oficiais e sargentos do 2.º e 4.º Pelotões - fossem eles de férias ou estivessem adoentados -, tive ensejo de contactar mais intensivamente com os dois citados. E foi no comando efectivo do meu Pelotão, o 1.º que se passou o episódio que vou relatar e que ainda hoje me impressiona e marca, pela lealdade dos homens que tive a honra de comandar.

Os outros Pelotões, na altura, estavam todos comandados por alferes, sendo eu portanto, na minha condição de furriel, o menos graduado de todos os comandantes. Ora, na altura, era necessário abrir uma vala na frente norte, constituindo-se essa tarefa de extrema dificuldade, dado o calor que se fazia sentir. Por esse motivo, os homens descansavam nos abrigos e nas casernas, aproveitando todas as sombras e locais mais frescos que pudessem encontrar.

Contudo, o Comandante da Companhia resolveu lembrar-se que seria nessa precisa altura que a vala seria aberta, e por isso mandou chamar-me ao seu gabinete, dando-me ordem para reunir os homens e iniciar os trabalhos. Respeitosamente, disse-lhe que seria mais adequado iniciar os trabalhos noutra altura do dia, aproveitando o tempo mais fresco e menos desmotivador, e lembrei-lhe também que, na respectiva escala, não era ao meu Pelotão que competia tal tarefa, indicando-lhe aquele a quem pertencia essa responsabilidade no momento.

A resposta foi peremptória e também muito irritante:
 - Eu disse que é agora que se vai fazer esse trabalho, e disse que são os seus homens que terão de o fazer!

Na verdade, eu sempre alimentei uma grande admiração e empatia por aqueles homens e a experiência dizia-me que, quando enfrentavamos um trabalho do mesmo género, bastava eu chamá-los e, pegando na picareta ou na pá, exemplificar-lhes o que pretendia. De imediato me retiravam esse instrumento da mão, atirando-se ao trabalho de modo a completá-lo com a maior brevidade possível. E eu sabia disso.

Ora, talvez fosse por isso mesmo e por que o tom do nosso Comandante foi bastante irritante, que resolvi insistir:
- O meu Comandante desculpe, mas será um mau exemplo para os homens prejudicá-los na escala de serviço, ainda para mais dando-se a circunstância de eu ser um furriel e demonstrar, assim, fraca resistência a uma ordem que não se afigura justa. O meu Comandante sabe que eu tenho de lhes transmitir a máxima confiança, para poder contar com eles nas alturas difíceis.

E a resposta, não trouxe qualquer espécie de vacilação:
- O senhor faz porque eu mandei e não admito mais contestação!

Disse-lhe eu então, no mesmo tom e na mesma velocidade:
- Saiba o meu Comandante que não o farei, porque acho injusto o seu posicionamento!
- Pois, se não reunir já os homens para efectuar o trabalho, pode ficar certo que será alvo duma valente "porrada"! - informou-me ele de imediato.
- Pois, saiba o meu Comandante que eu respeito os meus homens acima de tudo, e nunca lhes pregarei tal partida. Fará o favor de mandar proceder disciplinarmente contra mim.

E saí do gabinete, confesso que visivelmente irritado, dirigindo-me para a caserna onde me deitei a descansar, cogitando nas injustiças que podem acontecer por força de um Comando que se afirmava prioritariamente junto dos menos graduados.
Passado cerca de um quarto de hora o Cabo da Secretaria veio ter comigo dizendo que o Comandante queria saber se continuava com a mesma ideia, ao que eu respondi que sim, e logo adormeci, pouco preocupado.

Não sei quanto tempo passou, quando novamente o Cabo escriturário me acordou, dizendo que o nosso Capitão queria que eu lá fosse. Disse-lhe que não valia a pena, a minha resolução era inabalável e ele que procedesse conforme entendesse. E foi aí que o Cabo me disse, algo agitado:
- Mas é que não é por isso, é por causa dos seus homens!
- Dos meus homens? E que têm eles a ver com isso?
- Por favor, venha comigo e já vai ver! - disse-me ele, ostentando certa preocupação.

Fiz-lhe a vontade, e ainda meio ensonado dirigi-me às instalações do Comando do Quartel de Bajocunda - pois foi aí que isto aconteceu -, pensando para comigo o que estaria a acontecer. E não foi preciso andar muito para ver o que se passava: o meu Pelotão estava todo formado em frente ao Comando, armado até aos dentes, com todo o armamento que, habitualmente, levava para o mato, desde dilagramas, HK, morteiro, bazooka... E creio que foi o Cabo Freitas que me dirigiu a pergunta fulcral, depois de eu lhes perguntar o que estavam ali a fazer:
- Disseram-nos que o meu furriel vai levar uma "porrada" por defender o nosso Pelotão. É verdade?
- Parece-me que é, disse eu. Mas não se preocupem, eu saberei defender-me disso e só tomei esta atitude porque a considerei justa.
- Pois então, vai fazer o favor de dizer ao nosso Comandante que nós não sairemos daqui, até sabermos se o nosso furriel vai levar uma "porrada". E diga-lhe também que, se a porrada sair, a caserna do Comando vai levar com tudo isto em cima, e hoje não ficará em pé.
- Oh rapazes, disse eu já bastante preocupado. Eu posso dizer-lhe isso, mas acho que é melhor vocês irem embora, o problema é meu e vou ser eu a resolvê-lo. Por favor não se metam nisto.
- Meu furriel, vá para dentro e diga isso ao nosso Capitão!

E lá fui. Logo que entrei, o Capitão deu-me ordem para mandar dispersar os homens, ao que eu respondi que já o tinha feito, mas eles desobedeceram-me. O Capitão insistiu e eu voltei a dizer-lhe que me achava incapaz de os obrigar a retirar, pelo que sugeria que fosse lá ele, pois certamente lhe obedeceriam melhor.

Mantivemos ali uma acesa troca de argumentos durante fartos minutos, ambos com posições inamovíveis, até que ele cedeu e disse para dizer aos homens para se retirarem, que ele reconsideraria a "porrada". Eu disse-lhe que nunca gostei de mentir ao Pelotão e perguntei-lhe se havia "porrada" ou não havia. Ele reflectiu algum tempo e, depois, disse-me:
- Pode ir e dizer-lhes isso. Tem a minha palavra.

Saí então e dirigi-me aos homens, dizendo-lhes:
- O nosso Capitão garantiu-me que não me atingirá com nenhum castigo e manda-os ir para a caserna.
- Tem a certeza disso, meu furriel?
- Tenho. e agradeço a vossa atitude, que eu não pedi, mas registo.

E foram mesmo para a caserna. Entretanto, não foi o meu Pelotão a fazer o trabalho que nos eras requerido - também já não me lembro qual foi - e, mais tarde, já na ausência do Capitão e quando a Companhia era comandada pelo Alferes do meu Pelotão, fui surpreendido com um significativo louvor. Não com o fundamento deste relato, mas por ouitras ocorrências que lá se encontravam devidamente descritas.

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Finaliza a conversa com esta troca de mensagens:

Lindo menino!
Às vezes precisas de ser espicaçado, mas depois compensas-nos com belos resultados.
Ainda assim, faço dois reparos à descrição: esqueceste-te de citar a fronteira com o Senegal, afinal aquela onde se situava Bajocunda e onde permanecemos mais tempo?

"Os outros Pelotões, na altura, estavam todos comandados por alferes" - referes a seguir. 
Se a acção decorreu entre a deslocação para Bajocunda e Setembro de 70, então não há nada a alterar, mas se foi noutra ocasião posterior, devo dizer-te que o Foxtrot já não estaria nessa situação.

São apenas dois pormenores, porque o que é relevante é o conteúdo da tua descrição.
Com um abraço agradecido
JD
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Olá meu velho 
Na verdade, eu não posso localizar isso no tempo, e apenas fiquei com a ideia de que os outros eram todos alferes, na altura. De qualquer modo, podes "ajeitar" à tua maneira, de modo a que não ocorra contestação, falando, talvez, em termos gerais. 
Quanto ao que dizes sobre a fronteira, quando me refiro à zona leste, estou convencido de que ela é maioritariamente ligada à Guiné Conakry. Sobre Bajocunda, vou revelar-te a minha inteira ignorância sobre se ainda é com o Senegal ou não. Mas podes alterar o que quiseres. O miolo da história é esse. 
Depois, se quiseres, conto-te a do soldado Vieira e do reforço nocturno. 

Um abraço 
CM


3. Cabe agora um comentário do editor para esclarecer que das duas histórias referidas, sendo a de hoje a segunda, a primeira foi publicada no P10947.

Esperemos que o Cândido não esmoreça e nos continue a brindar, assim como o "velho" Zé Manel Dinis, com histórias para a História da CCAÇ 2679.
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Nota de CV:

Vd. poste anterior da série de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10947: História da CCAÇ 2679 (59): Grande farra no Funchal (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10959: Tabanca Grande (382): Cândido Luís Carvalho Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)

1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2013, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis [foto à direita] (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), falava-nos assim do nosso camarada e novo tertuliano Cândido Luís Carvalho de Morais (ex-Fur Mil, também da CCAÇ 2679), aquando do envio de um texto*, deste último, para publicação no nosso Blogue:

Viva Carlos,
Hoje reservo-te uma surpresa.
Envio-te um texto da lavra do Cândido Morais, um camarada e amigo desde que nos conhecemos na Madeira.
O Morais [foto à civil à esquerda], que é voyeur do blogue, foi convencido a descrever pelo menos esta e outra situação, mas é um repositório de estórias com muito para contar.
É um tipo brilhante, de muito fácil contacto, linha direita, generoso e afectivo. Mas, se for preciso, também é teso. Prima pela inteligência e simplicidade, pelo que declaro com grande orgulho a nossa amizade.
Foi director de uma empresa de construção naval, mantém o culto do desporto, agora com particular atenção para o Kayak Clube de Perre, a sua terra, e já me ajudou em dois passeios para o meu grupo de montanhismo.

Assim, se não te importas, vou enviar-te sucessivamente, umas trocas de impressões prévias, e depois o texto e fotografias. Ele não pede ainda a aceitação na Tabanca Grande, mas cumpre a obrigação antecipadamente, isto é, conta-nos uma estória, e depois é que pede licença. E, já agora, se for preciso um fiador, conta comigo, que este é dos poucos por quem ponho as mãos.

Um grande abraço
JMMD


2. E ainda numa outra mensagem do dia 14, o José Dinis dizia-nos:

Viva Carlos, boa noite,
De facto enviei-te dois textos: um, o principal, da autoria do Cândido Luís Carvalho de Morais [foto à direita], residente em Perre, Viana do Castelo, que foi Fur Mil da mesma CCaç 2679, mas do 1.º Pelotão.
Pelas linhas dos textos anteriores deixei algumas impressões sobre ele, e adianto, se tivéssemos que eleger o melhor dos furriéis da Companhia, ele, muito provavelmente, seria o eleito. Foi ele que algumas vezes, e durante as minhas ausências, era incumbido do 2.º Pelotão.
Em geral, os pelotões aceitavam com grande à-vontade essas rotações, pois entre os milicianos havia o sentido da camaradagem, mas o Cândido tinha uma peculiar forma de relacionamento, que não prescindia da autoridade, mas era sempre transmitida com grande delicadeza.

Não estou a exagerar, estou a dar a minha avaliação, e não menosprezo os restantes furriéis, que também, e tão bem, contribuíram para que a Companhia não se desestruturasse e mantivesse um bom nível operacional e de relacionamento com a população.

Se pretenderes mais alguma coisa, faz o favor de mandar vir.
Um grande abraço
JD


Nesta foto, o autor da pintura Zé Tito Martins e o retratado Cândido Morais

Nesta foto a cópia e o original

Por ordem de grandeza: Dinis, Tito, Morais e Marino. A oportunidade está na bola, ou luz, ou mancha avermelhada, que deve representar um sinal transcendental, de que os meninos eram jovens, espertos, e divertidos, pelo que teriam ainda longas vidas para puxar pelo tutano.
Foto e legenda de JMMD


3. Comentário de CV:

Caro camarada Cândido Morais, o teu "padrinho" fala de ti de uma maneira que te deve provocar algum rubor. Tens aqui um amigo a valer que acreditamos não está a exagerar.

Julgo que irás partilhar com o Zé Dinis a série da História da CCAÇ 2679, o que será inédito no Blogue. Tens campo aberto para trabalhar, até porque as tuas histórias serão na maioria passadas contigo no teu 1.º Pelotão.

Temos cá um texto que sairá talvez segunda-feira pelo que podes começar a pensar já no próximo.

Resta-me enviar-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10947: História da CCAÇ 2679 (59): Grande farra no Funchal (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10935: Tabanca Grande (381): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (1973/74), 600.º tabanqueiro desta tertúlia