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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13645: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XI: dezembro de 1972: (i) talvez a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN; (ii) por outro lado, o comandante 'Nino' Vieira vem pessoalmente à frente Bafatá-Xitole para censurar e punir maus tratos infligidos às populações locais pelos seus guerrilheiros


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/71)  > 1969 > A capela de Bambadinca (onde havia uma pequena comunidade cristã).. Também servia de "capela mortuária"...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/71)  > O fur mil at inf Arlando  Roda,  fotografado no presépio montado em Bambadinca, possivelmente no Natal de 1969, no primeiro ano da CCAÇ 12 (que esteve ao serviço, no meu tempo, de dois batalhões, o BCAÇ 2852 e o BART 2917 (1970/72). Este último foi rendido pelo BART 3873 (1972/74).

Fotos: © Arlindo Roda (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].


Dois destaques, no mês de dezembro de 1972 (com o BART 3873 a fazer um ano de comissão no TO da Guiné: a partida em Lisboa, no T/T NIassa foi em 22/12/1971):

(i)  o Natal e o Ano Novo  foram tranquilos, no setor L1 (que inclui os subsetores de Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole); contrariamente à tradição, o PAIGC deixou a rapaziada comer as rabanadas, beber o vinho finho e contar as janeiras na santa paz do senhor: não houve, nesta época festiva, nem ataques nem flagelações aos numerosos aquartelamentos e destacamentos guarnecidos por forças o BART 3873;

(ii)  há indícios de que o IN, na região (a frente Bafatá-Xitole), anda desorientado e nervoso, a dar tiros nos pés, a maltratar a população tradicionalmente sob o seu controlo ou onde, sob duplo controlo, em tabancas, "dosso nosso lado", onde  há simpatizantes (, muitas vezes por razões de parentesco): é o caso por exemplo das populações (balantas) de Mero e de Bissaque; numa visita de inspeção (sic) à "frente Bafatá-Xitole", é o próprio 'Nino', o então mítico  comandante João Bernardo Vieira 'Nino, quem vem em pessoa censurar e reprimir abusos dos guerrilheiros locais contra a população... (´É o que se pode ler na história da unidade - BART 3873, Bambadinca, 1972/74).

Por outro lado, Spínola está de novo em Bambdinca, em 19 de dezembro, para presidir às cerimónias de encerramentop do 4º turno de milícias...Um dos pelotões, o Pel MIl 358, composto por gente de Mero, vai defender a sua própria tabanca... É um revés muito sério para o partido de Amílcar Cabral. Algo impensável no meu tempo, em 1969, em que éramos (a CCAÇ 12) recebidos com hostilidade passiva, em Mero...

Por outro lado, na sua alocução, Spínola utiliza um fraseologia política que é nova, conceitos como "participação" ou "Guiné mais justa e mais rica"...

É feita ainda uma referência ao jornalista francês Dominique le Roux, que uns meses antes visitara o CTIG e o setor L1,  e que é  apresentrado como um simpatizante dos movimentos nacionalistas africanos, mas ao mesmo tempo capaz de protestar junto da histórica e influente revista  "Jeune Afrique" pela publicação de uma reportagem tendenciosa em relação ao PAIGC e à Guiné portuguesa.  (LG)

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Dezembro de 1972: talvez  a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN

terça-feira, 7 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4651: Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > Bajuda Balanta > Série de postais ilustrados do tempo da Guiné Portuguesa, s/d nem editor... Colecção do nosso amigo e camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1973/74).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral (*), ex-cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário (*):


Caros Amigos!

Passada a euforia do nosso glorioso Encontro, eis-me perante mais uma grande Alegria – a colaboração do Cherno Baldé (**). E assim eu que havia resolvido finalizar as cabralianas, vejo-me obrigado a continuar pois ele consegue trazer-me à lembrança mais estórias.

Aí vai uma.

Abraços
Jorge Cabral



2. Estórias cabralianas (***) > Alfero esfregador entre Balantas


Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador.

Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ](****), e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral… Face à pouca simpatia com que foi recebido, não ousou sequer qualquer gesto que fizesse jus ao referido cognome.

Mas aquela visão idílica espevitou-lhe a imaginação e logo uma semana depois voltou.

Através do intérprete Albino, seu único Soldado Balanta, explicou que ia proceder a um tratamento com uma boa mezinha, afastadora de doenças… Para tanto, colocadas em fila todas as bajudas, o Alfero esfregou-lhes o peito com um bálsamo, ao mesmo tempo que proferia umas palavras, mágicas é claro… Na semana seguinte regressou e repetiu. As melhoras das Bajudas eram já evidentes…

À terceira vez aconteceu porém um facto extraordinário. Chegado à Tabanca, constatou que nem uma só Bajuda se vislumbrava.

Esperando o Alfero, já em fila e preparadas para a função encontravam-se todas as velhas da aldeia, de seios pendentes, quase pelos joelhos…

Estoicamente o Alfero esfregou, esfregou…

Não houve quarta vez…

Jorge Cabral

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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio


(***) 3 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)


(****) 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. (...)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

Guiné >Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma bela bajuda local, numa das 150 fotos de Guileje que nos deixou o saudoso Cap Zé Neto (1927-2007)... Enquanto que as feministas da Europa, do oós-Maio de 1968, queimavam os seus soutiens, símbolo da opressão sexista, na Guiné, o supremo luxo, para as bajudas, era ostentar um corpinho (soutien), como este que se vê na foto... O Jorge Cabral foi o primeiro dos régulos da Guiné a dar-se conta desta tendência comportamental da mulher guineense...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Abril de 2005 > O Zé Teixeira, que voltou lá em 2005, escreveu no verso desta foto: "Em 2005, tal como em 1968"... Muitos de nós, na casa dos vinte, vinte e poucos anos, oriundos de uma cultura antifeminista, patriarcal, machista, misógina, de matriz judaico-cristã, deixaram-se impressionar (ou até seduzir) pela beleza da mulher guineense e pelo orgulho com que esta assumia (e cuidava de) o seu corpo...

Foto (editada por L.G.), tirada pelo Zé Teixeira (ex-1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, actualmente residente em Matosinhos, bancário, reformado, um homem bem disposto que tem por alcunha, entre os escuteiros de que é dirigente, o Esquilo Sorridente...

Foto: © Zé Teixeira / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Guiné >Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Bajuda local. Foto do Cap Zé Neto (1927-2007).

Foto: © Zé Teixeira / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Guiné > Fá Mandinga > c. 1970 > Jorge Cabral, um felizardo tuga, bendito entre as bajudas mandingas...

Foto: © Jorge Cabral (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem do Jorge Cabral, advogado e professor universitário, datada de Dezembro de 2005, na altura em que formalizou a sua entrada para a nossa Tabanca Grande (1):

Luís,

Muito obrigado! Através do blogue, recordo. E sinto. Vejo os rostos dos camaradas, oiço os sorrisos das crianças, e até, calcula, consigo admirar de novo os belos seios das bajudas.

Peço permissão para pertencer à Tertúlia,, oferecendo o pícaro de alguns episódios que vivi.


2. Estórias cabralianas (29) > A festa do corpinho...

Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque (2). Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho (3).
Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50.

Embora existisse uma estrada para Bissaque [, a norte de Fá Mandinga, na margem esquerda do Geba Estreito], o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do inimigo ter retirado. O ataque, referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei-lhe alguns pormenores, (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca[, sede do BCAÇ 2852, 1968/70].

Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses.

Coincidência? Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 35 soutiens de todos os tamanhos e cores.

Regressado à Guiné, em plena Tabanca de Fá Mandinga, organizei a festa do corpinho, para a alegria das bajudas, que envergaram o seu primeiro soutien.

Tivesse esta história acontecido nos dias de hoje, e certamente sentiria dificuldades no aeroporto, até porque os soutiens constituíam a minha única bagagem. Armas secretas? Indícios de terrorismo? Não sei mesmo, se não teria ido parar a... Guantanamo.

Jorge Cabral
(ex-alferes miliciano,
comandante do Pel Caç Nat 53,
Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) (4)
2. Comentário de L.G.:
Só tu, meu querido Jorge, consegues pôr a malta e o resto a tropa a fazer... o pino!...Tu és a subversão total, o iconoclasta, o bombista-suicida, o terrorista intelectual, o humorista-mor e outras figuras que tais, que em muito contribuiram para o fim do nosso longo, vasto e glorioso Império... O teu humor é(era) subversivo, corrosivo, demolidor... Depois de te ler, um homem, um tuga, já não é mais o mesmo... Tu devias ir a tribunal militar, porque tu tiras a tusa... a qualquer combatente... Depois de te ler, quem é o combatente (até mesmo o de Alá!) que se sentirá para combater na guerra, na próxima guerra...
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIII: Bendito Cabral, entre as mandingas de Fá e as balantas de Bissaque

(2) Vd. post de 18 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXVII: O meu Natal de 1969 em Bambadincazinha (Luís Graça)

(...) Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos que retirou para a região de Bucol, cambando o RGeba [atravesando o Rio Geba de canoa, para norte]" (Excertos da História da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71] (...).

(3) Sobre o Marinho, vd. post de 15 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2353: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Devolvam o bode ao dono... e às cabras de Fá Mandinga, terra de Cabrais

(...) Íamos abandonar um óptimo aquartelamento, [Fá]. Tinha sido uma antiga Estação Agronómica de Amílcar Cabral. Hoje restavam os edifícios, o guarda Marinho (um mandinga dependente da Administração), a recordação, nos mais velhos, do Engenheiro Cabral e os restos de alguma agricultura. Deixávamos Fá com desgosto. Chegara a nossa hora de partida. Éramos o terceiro grupo a ir para a construção do novo aquartelamento e as ordens cumprem-se (...).

(4) Vd. post anterior desta série: