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sábado, 7 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24733: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (10): A proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Nhala - Aldeia Formosa

 
Foto nº 43


Foto nº 46


Foto nº 47


Foto nº 48


Foto nº 49


Foto nº 45


Foto nº 44

Guiné > Região de Quínara> Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > Proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Aldeia Formosa (via Nhala).

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta de Belém, vive em Almada (onde trabalhou na Lisnave)



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 17 referências n0 nosso blogue. O descritor Buba tem 380 referências.

São imagens, que falam por si,  do "suplício de Sísifo" que era a proteção quotidiana dos trabalhos de construção da estrada Bula - Nhala - Aldeia Formosa (presumimos que a empresa adjucatária fosse a TECNIL, responsável por outros troços como Xime-Bambadinca ou Piche-Buruntuma).

Legendagem:

F43 > Regresso a Buba

F44 > Por vezes no final da coluna eram enviadas duas viaturas para dar uma merecida boleia de regresso a Buba.

F45  > Proteção à Engenharia ( com o meu amigo Dinis ) na construção da estrada Buba - Aldeia Formosa.

F46, 47, 48 e 49 >  Máquinas da Engenharia na construção da estrada.
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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24718: Blogues da nossa blogosfera (184): Histórias da vida real, de Fernando Magro (1936-2023): cenas pícaras da vida de um topógrafo

1. O nosso camarada Fernando Valente (Magro) (1936-2023), que nos deixou recentemente aos 87 anos,  tinha um blogue, "Portugal e o Passsado", onde publicou, entre 2011 e 2014, duas dezenas de pequenos textos sobre alguns temas da História de Portugal, que lhe eram caros, e de que já transcrevemos um, sobre a Maria da Fonte (*).

Outro dos seus blogues tinha por título "Histórias da vida real", publicado em 2016. Tem 21 postes ou postagens. Deste blogue, tomamos a liberdade de publicar um apontamento, bem humorado, retirado das sua experència profissional como topógrafo.

Recorde-se que o nosso saudoso camarada Fernando de Pinho Valente Magro (ex-cap mil art, BENG 447, Bissau, 1970/72), era engenheiro técnico de formação. Deixou-nos, em livro (e aqui publicadas no blogue) as suas "Memórias da Guiné" (Lisboa, Edições Polvo, 2005, 86 pp.). 

Era o nosso tabanqueiro nº 622, tendo ingressado na Tabanca Grande em 5/7/2013, pela mão do mano, mais novo, Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74),

"A gesta de seis irmãos Magro que cumpriram Serviço Militar em África (Angola, Guiné e Moçambique)", também pode ser aqui recordada no blogue, criado pelo Abílio Magro, .Os Magros do capim.




2. Blogues da Nossa Blogosfera > "Histórias da vida real",> quarta-feira, 13 de julho de 2016 > Os trabalhos de topografia

Na minha vida profissional procedi a diversos levantamentos topográficos quer para a execução de projectos de vias rodoviárias e de abastecimentos de água a populações quer para a implantação de edifícios.

Utilizava nesses trabalhos um taqueómetro, aparelho destinado à obtenção e registo dos elementos necessários ao cálculo de distâncias e de desníveis e ao desenho dos levantamentos topográficos (plantas, perfis longitudinais e transversais).

O referido aparelho é munido de uma luneta que permite ver à distância como um binóculo. No decorrer desses meus trabalhos de campo algumas vezes me deparei com situações curiosas.

Certa vez em Bissau, na Guiné, prestando serviço para a Empresa Tecnil, tive de proceder ao levantamento topográfico de uma apreciável área de terreno, tendo em vista a implantação no local das novas instalações da referida empresa.

No fim da tarde, com o trabalho terminado, tive a ideia de fazer algumas miradas sobre os arredores do lugar algo ermo e pouco frequentado onde me encontrava. E aconteceu-me a certa altura deparar com um longínquo grupo de jovens mulheres negras e mulatas completamente nuas tomando banho num riacho. Fiquei surpreendido com tal aparição e por alguns momentos não deixei de gozar o espectáculo que elas proporcionavam.

Pude perceber que se tratava de um grupo de lavadeiras de roupa que, depois de executarem o seu trabalho, se banhavam no riacho, todas nuas, para se refrescarem possivelmente pelos seus corpos estarem transpirados devido ao trabalho que haviam efectuado ao calor inclemente da Guiné.

De outra vez estava eu a executar o projecto de uma estrada municipal entre Lamego e Resende, na região do Douro, acompanhado de um topógrafo quando tive outra divertida surpresa.

Depois de ter implantado no terreno diversas bandeirolas definindo a directriz de parte da referida estrada regressei à estação onde operava o referido topógrafo.
Encontrei-o sozinho a rir-se, soltando sonoras gargalhadas. Pensando que o meu colaborador tinha "pirado" perguntei-lhe o que se passava com ele.

- Venha, venha ver ! - foi a sua reposta.

Aproximei-me do taqueómetro, olhei pela luneta e o que vejo: uma jovem rapariga, lá longe com as mamas de fora do corpete, quando tentava atravessar uma corrente de água. A travessia dessa corrente fazia-se caminhando por uma espécie de barragem constituída por calhaus rolados.

A rapariga desequilibrava-se ao caminhar por cima dos calhaus e como era dotada de seios volumosos os mesmo com a ginástica que tinha de fazer para se aguentar de pé na passagem da levada, libertavam-se do "soutien" e saiam cá para fora. Por mais que ela tentasse acomodá-los no interior da roupa nada conseguia pois, desequilibrando-se, eles voltavam a aparecer à luz do dia.

Também me ri com a situação. Depois passei o taqueómetro ao meu companheiro que continuou a seguir a rapariga por alguns minutos e a rir-se como um desalmado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24681: Blogues da nossa blogosfera (183): "Portugal e o passado", de Fernando Magro (1936-2023): a "revolta da Maria da Fonte" (1846)

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24678: In Memoriam (486): Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) (Abílio Magro)

IN MEMORIAM

Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023)
Ex-Cap Mil Art (BENG 447 - 1970/72)


Conforme a notícia veiculada pelo seu mano Abílio Magro, faleceu no passado dia 18, no Hospital Eduardo Santos Silva de Vila Nova de Gaia, o nosso camarada Fernando de Pinho Valente Magro, ex-Cap Mil Art, que entre 1970 e 1972 cumpriu a sua comissão de servço no CTIG ao serviço do BENG 447.

Foi sepultado hoje pelas 10h00 da manhã no jazigo de família, no cemitério de Gulpilhares, onde repousa já a sua esposa, a senhora D. Maria Helena, companheira de toda a vida, até em Bissau.

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, associando-se à dor da família deste nosso amigo e camarada, apresenta, especialmente ao seu filho Fernando Manuel e aos manos Magro, as mais sentidas condolências. 


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O Cap Mil Art Fernando Valente Magro foi apresentado à tertúlia pelo seu irmão Abílio, em 5 de Julho de 2013 - (Vd. P11806), e que assumiu a tarefa de nos enviar, para publicação no Blogue, o livro "Memórias da Guiné", que Fernando Magro escreveu a propósito da sua comissão de serviço.

Neste livro podemos encontar narrativas de ordem pessoal e profissional, usos e costumes do povo guineense assim como os acontecimentos mais importantes, contemporâneos da permanência do autor na Guiné enquanto oficial do BENG e professor na Escola Comercial e Industrial de Bissau. 


Quem não tiver o livro "Memórias da Guiné", que se lêem com agrado, podem aceder a este marcador "Memórias da Guiné".

Por último, lembra-se que o Cap Mil Fernando Magro foi um dos 6 manos Magro que estiveram na Guerra do Ultramar, e um dos 3 que fizeram a sua comissão de serviço na Guiné.

Honremos a sua memória
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24658: In Memoriam (485): Fernando da Silva Costa (1951-2018), ex-fur mil trms da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa 1973/74)... Faleceu em 2018

sábado, 22 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24240: Convívios (955): 38º Encontro Nacional dos Ex-Oficiais, Sargentos e Praças, BENG 447, Brá, Guiné: Caldas da Rainha, 20/5/2023... E ainda: almoço-convívio dos Antigos Aunos do Externato Ramalho Ortigão (ERO), também nas Caldas da Rainha, a 6/5/2023 (João Rodrigues Lobo)


Anúncio do 38.º Encontro Nacional dos Ex-Oficiais, Sargentos e Praças, BENG 447, Brá, Guiné, a realizar nas Caldas da Rainha, no restaurante O Cortiço, em 20 de maio de 2023.



Fonte: Página do Facebook dos Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão



1, Mensagem do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, BENG 447 (Brá, 1968/71):


Data - quinta, 30/03/2023, 10:52Assunto . Almoços de confraternizaçáo

Bom dia,

Primeiro com um grande abraço de solidariedade pelo momento que passas, e esperando também que as maleitas fisicas já estejam ultrapassadas.

Depois solicitando , se possível, a publicação no blog deste dois convites que as organizações me enviaram.

O da Guiné (pessoal do BENG 447) é óbvio, é pena eu não poder ir, mas nesse dia estou longe.(Contactos do BENG 447 : Lima Ferreira 919977304 - F. Araújo 963154718.

O dos Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão (ERO), das Caldas da Rainha é no pressuposto que de tantos alunos que este teve ao longo da sua existência, e pelas datas, é altamente provável que alguns tenham passado pela Guiné e leiam o "nosso" blog. A este vou pois ainda cá estou.

Realiza-se a 6 de maio de 2023, nas Caldas da Rainha, no restaurante a Lareira. Facebook do grupo (público): (20+) ANTIGOS ALUNOS DO EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO | Facebook

Contactos do ERO: João Jales 962638683 - João Santos 968573660 - Audiomanias 262823380)
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24213: Convívios (954): 51.º Almoço/Convívio do pessoal da CCAÇ 414, a levar a efeito no próximo dia 30 de Abril de 2023 em Arcozelo, Vila Nova de Gaia (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24229: Notas de leitura (1573): "Seis Irmãos em África", segunda edição; Porto, 2017; edição de autor, mas os autores são seis: Fernando, Rogério, Dálio, Carlos, Álvaro, Abílio, quem compilou os textos foi o Abílio, trata-se dos manos Magro que percorreram diferentes paragens africanas (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Fernando Magro é um reincidente, no blogue já falei das Memórias da Guiné, ele depois apareceu e mais contou. O que nós não sabíamos é que ele era o mais velho de 6 irmãos que andaram por Angola, Guiné e Moçambique, estiveram 5 deles em simultâneo nas fileiras, entenderam-se para organizar as suas memórias, aqui temos "Seis Irmãos em África". Hoje falamos dos dois mais palradores, Fernando e Rogério, terá sido este o que mais pensou (é esta a opinião de todos os outros), mais adiante falaremos do Dálio, do Carlos, do Álvaro e do Abílio, terão constituído uma família muito unida, lembram no relato deste memorial a mãe Adelina, a 2.ª comandante, é um texto muito bonito: "Os tempos eram difíceis, as bocas eram muitas, os mancebos eram 'levados da breca', mas a 2.ª comandante nunca fraquejava e demonstrava possuir a força mental que um verdadeiro militar deve possuir em situações adversas e era um exemplo vivo para os mancebos em fim de formação. Descansa em paz, mãe. Regressámos todos sãos e salvos."

Um abraço do
Mário



Os seis manos Magro, façanha única, foram todos à guerra (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Seis Irmãos em África", segunda edição, Porto, 2017, edição de autor, mas os autores são seis: Fernando, Rogério, Dálio, Carlos, Álvaro, Abílio, quem compilou os textos foi o Abílio, trata-se dos manos Magro que percorreram diferentes paragens africanas. Nasceram entre 1936 e 1951, a casa paterna, repleta de juventude, ficou num espaço de dois ou três anos, vazia. “Em 1971, estavam quatro dos seis irmãos a cumprir serviço militar em África, e em 1972, quando o irmão mais novo foi incorporado no Exército, estavam ainda esses quatro irmãos em pleno nas Forças Armadas: Fernando e Álvaro na Guiné, Carlos em Angola, e Dálio no Hospital Militar de Doenças Infectocontagiosas, em Lisboa, evacuado de Moçambique.” Será provavelmente um caso único em Portugal.

O Rogério foi o primeiro a partir, mobilizado para a Angola em 1967 e regressado em 1969, passou à disponibilidade antes de qualquer outro irmão ter sido mobilizado. O Fernando (de nós bem conhecido, com histórico detalhado no blogue), o mais velho, depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório entre 1958 e 1960, voltou a ser incorporado em 1969, permaneceu na Guiné de 1970 a 1972.
Dálio, que andava a estudar, foi pedindo adiamento, acabou incorporado em 1969, mobilizado para Moçambique, também de 1970 a 1972, só passou à disponibilidade em janeiro de 1974, este a tratar-se no Hospital Militar de Doenças Infectocontagiosas.
Carlos optou por se oferecer como voluntário para a Força Aérea e foi incorporado também em 1969, seguiu para a Angola, ali permaneceu de 1970 a 1972, e só passou à disponibilidade em 1974, já que o tempo mínimo de prestação de serviço na FAP era de seis anos.
Álvaro, com menos de dois anos de idade do que o Carlos, foi incorporado em 1970 e mobilizado para a Guiné de 1971 a 1974, foi contemporâneo do irmão Fernando.
Abílio, com menos de um ano e meio do que o Álvaro, foi incorporado em 1972 e mobilizado para a Guiné em 1973, onde conviveu com o irmão Álvaro e só regressou em setembro de 1974.
Assim se explica a permanência e simultâneo de cinco irmãos nas Forças Armadas portuguesas.

Os manos Magro decidiram agora fazer a compilação do acervo das suas memórias, como escrevem, “relatos simples, sem bazófias ou falsos heroísmos, de episódios vividos no dia a dia nos três teatros de guerra; na maioria dos casos, só viveram raras situações de perigo.”

Começa-se pelo mano Fernando, bem conhecido no blogue. Andava em vilegiatura nas termas de Monte Real, e conversando com um antigo companheiro da Escola Prática de Vendas Novas, curso de 1958, descobriu que em breve iria ser incorporado, fez curso em Mafra, em 1969 e no processo da mobilização foram revelados graves problemas de saúde, resolve escrever ao General Spínola, põe-se à disposição, como técnico de engenharia, para cooperar de acordo com os seus conhecimentos. Foi colocado nos serviços de reordenamentos populacionais e mais adiante no Batalhão de Engenharia n.º 447, deixa-nos um conjunto de apontamentos onde sobressaem a famosa reunião de abril de 1970 em que o general Spínola convocou para uma reunião na grande sala do Palácio muitos oficiais e anunciou que se entrara numa fase de negociações, ficariam doravante excluídas atitudes ofensivas, dias depois desmoronou-se tal expetativa, foi o massacre de oficiais em Jolmete, em 20 de abril de 1970. Fala-nos do seu quotidiano familiar, dos problemas suscitados pelos reordenamentos populacionais, o trabalho desenvolvido no Batalhão de Engenharia, as aulas que deu na Escola Comercial e Industrial de Bissau, os acontecimentos inerentes à operação Mar Verde, o relato feito pelo tenente Januário nessa operação se entregou com o seu pelotão às autoridades da Guiné-Conacri, a sua recordação das amostras de 1971 e até de uma emboscada a uma coluna militar do BENG 447 em 22 de março de 1974, entre Piche e Nova Lamego.

Temos agora o mano Rogério, furriel de Infantaria, Angola, percorreu Lucusse, Gago Coutinho e Dundo, CCAÇ 1719/BCCAÇ 1920. Os manos Magro admitem que terá sido o Rogério o que terá tido o percurso militar mais duro, o que enfrentou maiores perigos, preparou-se nas Caldas da Rainha e em Tavira. Participou em várias operações na zona militar leste, louvado pelo seu comportamento numa emboscada e pelas suas qualidades militares evidenciadas durante cerca de 2 anos. Fala-nos de 48 dias em Lumbala, a comer rações de combate, não esquece os desarranjos intestinais, as lavagens das fardas no rio Zambeze, um episódio pícaro na compra de frangos, a emboscada na picada de Gago Coutinho para Ninda, paira sempre na narrativa a questão da comida, não esquece no início de 1969, na capital da Diamang uma estadia para descomprimir e repousar, é aqui que se viu no papel de mestre de obras, havia que construir uma escola, conta-nos todo o episódio. Segue-se a peripécia da ordem de prisão a um piquete, cumpriu o castigo na caserna, e conclui, pícaro: “Quinze militares foram presos por não existirem meios que possibilitassem a execução do serviço de que estavam incumbidos; os mesmos quinze militares foram soltos no segundo dia de prisão a fim de participarem numa operação.” São as tais coisas absurdas que só podem acontecer numa atmosfera de guerra.

O mano Rogério é decididamente aquele que mais penou, como descreverá na operação Lumai, depois como a morte lhe passou perto, descreve a coluna para Caripande, depois a coluna que foi buscar o T-6 a Mussuma e os seus aspetos insólitos, o destacamento para Sessa, a missão acabou por se revelar um descanso, e depois partiram com destino ao Dundu, ali a sua companhia ficou até ao fim da comissão. Deixa-nos um retrato humaníssimo do seu comandante de companhia, o capitão Azuil Dias de Carvalho. “Percorremos quase todo o Leste de Angola em operações militares; estivemos no Cazombo, no Lumbala, etc. efetuando operações com os fuzileiros, paraquedistas e comandos. O capitão Azuil foi sempre um acérrimo defensor dos homens que comandava.” Ferido em combate, no helicóptero que o transportou para o Luso terá proferido as seguintes palavras ao comandante de Batalhão: “Meu comandante, espero que os meus homens não sejam prejudicados na transferência que se vai efetuar pelo motivo de me encontrar ferido e ausente.”

E findo este tocante In memorium, vamos agora falar de Dálio Magro, alferes-miliciano de Engenharia, Companhia de Engenharia 2686, Marrupa, Moçambique, 1970-1972.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24222: Notas de leitura (1572): "As Voltas do Passado, A Guerra Colonial e as suas Lutas de Libertação", com organização de Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, com vasto número de colaboradores; Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23654: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (97): os geradores militares: contributos para a história da eletricidade no território (Manfred Stoppok / José Nunes / Eduardo Estrela / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Carlos Silva / Cherno Baldé / José Colaço / Magalhães Ribeiro / Valdemar Queiroz / Manuel Gonçalves / Luís Graça)


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Março / Abril de 1968 > CART 1661 > Trabalhos de electrificação do aquartelamento a cargo de uma equipa do BENG 447, onde se integra o José Nunes, autor desta imagem... (José Silvério Correia Nunes, ex-1º Cabo Mecânico de Eletricidade,  BENG 447m Brá, 1968/70: esteve na Central Elétrica do Quartel General, em Bissau).

Foto (e legenda): José Nunes (2009).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentários ao poste P23647 (*): 

(i) Manfred Stoppok, antropólogo social,  Universidade de Bayreuth, Alemanha

Muito obrigado pelos vossos valiosos comentários! Posso partilhar aqui algumas informações sobre a evolução do sistema de eletricidade na Guiné:

Distribuição e iluminação publica em Bolama e Bissau a partir de 1930; em Bafatá a partir de 1933. Nos anos 1920 já tinha iluminação de alguns prédios em Bubaque, e provavelmente também em Bolama, mas não foi uma distribuição publica.

Em outros lugares somente depois da segunda guerra mundial, respetivamente a partir de 1947 foram instalados geradores em vários sítios (cerca 20 lugares).

O fornecimento de energia elétrica 24/7 somente realizou se em Bissau. Existiam planos para criar uma rede de distribuição em alta tensão mesmo para o interior – mas não foram realizados. A administração optou pelo sistema de pequenos geradores em todos lugares, porque no curto prazo foi o mais viável, o mais barato, o mais rápido. Mesmo que, já naquele tempo, se subesse que um sistema assim iria criar muitas problemas na manutenção e  ser muito fraco ao longo prazo.

Deve ser por isso que os militares instalaram a maior número de geradores no país na sequência da guerra.

A fonte sobre os geradores no país é um relatório do engenheiro José Correia da Cunha Barros,  de 1969. Em anexo ao relatório há uma tabela que lista 73 lugares, dos quais 59 têm gerador. E daqueles, a maioria eram propriedade do exército. Naquele tabela constam de mesmo os nomes e números dos geradores – tudo bem detalhada.

Barros, José Correia da Cunha (16.07.1969): Problemas eléctricos na Província de Guiné - Visita efectuada de 18 a 30 de Junho de 1969. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), PT/IPAD/MU/DGOPC/DSE/1579/00782.

Bem, foi este fonte que me avisou, que os militares têm um certo papel na história da eletricidade na Guiné. E parece que este papel foi maior de que somente iluminar os próprios aquartelamentos.

Sie alguém está interessado nos detalhes dos geradores,  posso partilhar o relatório com a tabela numa versão digital. Parece que esta lista não é completa. Como eu li nos comentários havia mais aquartelamentos, e todos tinham um gerador.

Em geral, o engenheiro Cunha Barros descreve o sistema dos geradores como um sistema muito degradado já no final dos anos 1960. Falta de peças, faltas de manutenção, diferentes marcas, mal instalados, sistemas avariados há muito tempo e ele não entende porquê. Ele deu algumas ideias para melhorar o sistema (entre outras, unificar os geradores, ter somente uma marca, e somente três, quatro diferentes potências), mas aparentemente não se realizou antes da independência.

Depois, aquele sistema de geradores caiu totalmente. Por outro lado, o sistema é persistente. Ate hoje, a distribuição elétrica na Guiné funciona a partir de pequenos grupos de geradores, são frequentemente adquiridos novo grupos, instalados, abandonados, degradados, um circulo vicioso. Mas é desta maneira que o sistema de eletricidade funciona principalmente até hoje. O fundo do poço foi em 2008, quando mesmo a cidade de Bissau raramente tinha luz – isso melhorou bastante desde 2014/15.

Por isso o meu projeto fala de um período de eletrificação (até os anos 1980): eletrificação (anos 1980 – até 2008) e re-eletrificação (a partir de 2008),  na Guiné-Bissau.

Neste sentido, quero comprender melhor qual foi o impacto da electricidade fornecida pelas forças armadas.


(ii) Eduardo Estrela:

Os geradores que operavam no interior do quartel de Bolama, alimentavam os candeeiros de iluminação pública da cidade.

(iii) Fernando Gouveia: 

Tanto quanto me lembro, em Bafatá acontecia um caso curioso. Ali, em 1968/70, o quartel, pelo menos o do Comando de Agrupamento nº 2987 e o do Esquadrão de Cavalaria ao lado, recebiam a energia elétrica pública da Administração a troco do combustíbel para os geradores.

(iv) António J. Pereira da Costa:

Nos quartéis onde estive, quem trabalhava com o gerador era um soldado que tinha jeito e tinha aprendido a reabastecer, mudar o óleo e vigiar os manómetros... Era como se fosse uma viatura. Recordo-me que em Cameconde, os dois condutores "residentes" eram os responsáveis pelo motor.

(v) Carlos Silva:

No meu Sector O2 - Farim que compreendia, além de Farim, o subsector de Jumbembem onde estive 18 meses, o aquartelamento era dotado de um gerador que apenas funcionava durante a noite e a população que até meados de Setembro também beneficiava da iluminação porque estava enquadrada dentro do aquartelamento. Com o reordenamento a partir de meados de 1970 a população ficou fora do arame farpado e, como tal, deixou de beneficiar de iluminação, excepto as tabancas que estavam próximas do arame farpado.

Creio que esta situação também se verificava nos aquartelamentos de Canjambari e Cuntima. Estive no mês de Novembro de 1969 no K3/Saliquinhedim, e o abastecimento/funcionamento eléctrico era igual.
Os frigoríficos eram alimentados a petróleo.

Quanto à vila da Farim onde estive 4 meses até Dezembro 1969, os edifícios militares dispersos, e os arruamentos tinham iluminação pública abastecida por uma central eléctrica que lá existia / existe junto às piscinas. Actualmente creio que não funciona, mas existe iluminação com a implantação de postes solares.

Os comerciantes, alguns, tinham geradores.

Mas para mim, presumo que a electrificação ou fornecimento de energia nos aquartelamentos em toda a Guiné, era semelhante com recurso aos geradores excepto nos grandes aglomerados, como Farim, Mansoa, Teixeira Pinto, Bafatá, Nova Lamego, Cacheu etc, etc

Portanto para mim, esta era a característica geral da Guiné no que se refere à energia.

(vi) Cherrno Baldé:

No quartel de Fajonquito (sede da companhia) situado ao lado da aldeia, havia um pequeno e barulhento gerador a diesel que servia para iluminar dentro e à volta do aquartelamento que, se a memória não me falha, chegou em meados de 1968/69, antes utilizavam-se candeeiros vácuos em alguns sítios (para iluminar a zona do refeitório e a messe de oficiais e sargentos, entre outros). Havia um militar encarregue especialmente dos seus cuidados de manutenção.

Após a independância, ainda funcionou durante alguns meses (penso que enquanto durou a reserva de combustível deixado pela tropa portuguesa), mas com a decisão de acabar com o aquartelamento e centralizar tudo na sede do Sector (Contuboel), destruiram as instalações que eram antigas casas comerciais e levaram consigo o gerador. Ninguém deu satisfação à populaçao local, também não fazia muita falta, porque nunca tinham beneficiado dos seus serviços, salvo a criançada que procurava as zonas iluminadas para brincadeiras nocturnas.

De qualquer modo a nossa aldeia ficou mais escura e triste com a partida da tropa e, mais tarde, da confiscação do gerador. Sou de opinião que a tropa metropolitana concentrada mais nas manobras da sua retirada e regresso a casa, nao teria qualquer interesse em retirar os geradores nos aquartelamentos que já tinha entregue, de forma pacifica e amistosa, aos guerrilheiros.

(vii) Tabanca Grande Luís Graça:

Obrigado, Cherno, mais uma vez, pela partilha das tuas memórias de menino e moço em Fajonquito. Também me parece que, com a retirada das NT, ao longo de julho/agosto/setembro de 1974, o essencial do equipamento (geradores, incluidos...), tirando o armamento, ficou lá nos quartéis do mato, e naturalmente em Bissau... Era um gesto de paz e amizade, depois dos acordos de Argel...

De resto, o custo de transporte para a metrópole era elevado, para não dizer proibitivo...nem havia meios de transporte suficientes... Para os guinenenes, o grande desafio era depois a manutenção... E aí foi um desastre, o PAIGC foi um "bluff", não tinha quadros para desempenhar tarefas, aparentemente tão simples como a manutenção e reparação da "rede elétrica" deixada no mato... Confiaram nos amigos russos, suecos, cubanos e outros... Em Bissau, não sei como foi, mas pelo que vi, "in loco", em 2008, era uma dor de alma aquela cidade... Não consegui sequer entrar nos meus antigos aposentos, em Bambadinca, tive vontade de chorar...

(viii) José Botelho Colaço

Luís,  nem dá para comentar,  é do conhecimento geral o PAIGC só foi rico em propaganda antes da independência, porque após independência não preservou nada, foi a  degradação total tanto de móveis como de imóveis. Enquanto durou e funcionou OLm  a seguir sucata ou ruinas. Veja-se a linda cidade colonial de Bolama como eu a conheci, hoje um abandano total de ruínas, mas é que não foi só Bolama foi a totalidade de quase tudo para não dizer tudo, o que os tugas lá deixaram. É desolador.

(ix) Eduardo Magalhães Ribeiro:

Em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974, naquela que era a central eléctrica, localizada entre o quartel e a cidade, ficaram perfeitamente funcionáveis 2 geradores movidos a diesel, não me lembro se eram de 0.8 ou 1,1 MW. Dias antes e uns dias após, foi explicado e estiveram em estágio conjunto de formação aos futuros donos da central vários elementos da tropa portuguesa e do P.A.I.G.C.

A CCS do BCAÇ 4612/74 e toda a tropa ainda estacionada em Mansoa abandonaram o quartel no dia acima indicado. A CCS a que eu pertencia,  foi deslocada para o Batalhão de Engenharia 447 em Brá.
Três dias depois estava eu de sargento de dia, junto à porta de armas, quando surgiu um jipe com 4 PAIGC a pedirem para falar com o nosso comandante. Perguntei qual o assunto que pretendiam os trazia ali. Resposta de um deles: "Os geradores deixaram de trabalhar."

Liguei então, via telefone, ao coronel Américo Varino a narrar a informação recebida. Passado um tempo vem o nosso furriel mecânico com 2 soldados num jipe dos nossos que seguiu atrás dos PAIGC.

Horas mais tarde surge o nosso jipe. Perguntei ao furriel: "Então, pá, o que se passou?"... Resposta: "Aqueles nabos trocaram tudo. Meteram diesel no depósito do óleo, água no sítio do óleo e óleo no depósito do diesel. Está todo partido por dentro e sem reparação possível."

PS - Ainda me segredou que os PAIGC  murmuraram que foram os nossos homens que sabotaram os ditos geradores. Coisa que eu nem vou comentar aqui, para não meter nojo, claro.

(x) Valdemar Queiroz:

Julgo que em Nova Lamego o gerador produzia electricidade para os civis e para a tropa, e penso que a manutenção e a segurança eram feitas por gente da administração e sipaios. Digo isto por, nunca a minha CART 11 ter feito segurança ao gerador, mas montava emboscados e rondas nocturnas como o pessoal do Batalhão.

Quando Nova Lamego foi atacada por foguetões122 mm,  os nosso soldados foram fazer a segurança ao gerador, o meu pelotão não foi e não me lembro se estava assim pré-definido ou se foi alguma ordem ocasional. Mas os frigoríficos da companhia trabalhavam a petróleo.

Não vem a propósito mas pode interessar, o sistema de iluminação que estava montado na fiada interior do arame farpado em volta de Giro Iero Bocari era o cúmulo do desenrasca das invenções. Guiro Iro Bari era um destacamento de Paúnca com dois pelotões junto da população, apenas com umas tendas, valas e duas fiadas de arame farpado em todo o perímetro.

Uma lata vazia, das grandes, de doce/feijão aberta ficando a tampa presa por forma a ser dobrada para se aproveitar ao máximo, como uma pala virada para o céu. Dentro da lata uma garrafa de cerveja com petróleo tapada com uma carica furada e uma torcida. Á noite acendia-se a torcida e a luz refletida na tampa da lata dava um bom candeeiro que só dava luz para a frente.

(xi) Manuel Gonçalves:

O nosso amigo e camarada, transmontano de Bragança, Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Manutenção da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73) (e que estudou nos Pupilos do Exército), disse-me ao telemóvel o seguinte sobre os geradores:

(i) havia dois em Aldeia Formosa, no seu tempo;

(ii) a responsabilidade pela sua gestão era do pelotão de manutenção da CCS/BCAÇ 3852, de que ele era o responsável, enquanto alferes miliciano;

(iii) em caso de avaria, é que se chamava o BENG 447 (que estava em Brá, Bissau);

(iv) funcionavam os dois, alternadamente, até à 1h00 da noite, depois eram desligados;

(iv) forneciam luz para o quartel e parte da tabanca;

(v) não tinham potência para iluminar a tabanca toda;

(vi) ele chegou a sugerir a eletrificação da pista de aviação (onde aterravam todas as aeronaves, exceto o FIAT G-91); mas nunca se concretizaou: em caso de emergência, à noite, usavam-se garrafas a petróleo para balizar a pista (!)...

(vii) ficou de nos dar mais informação técnica sobre os geradores de Aldeia Formosa (hoje Quebo).

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23647: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (96): Os geradores nos quartéis também forneciam eletricidade para a população civil? (Manfred Stoppok, investigador alemão, a fazer um estudo sobre a história da energia elétrica na Guiné-Bissau, 1890-2020)


Diorama de Guileje > 2008 > A casota do gerador Lister: miniatura, da autoria de Nuno Rubim, destinada ao Núcleo Museológico de Guileje, Guileje, região de Tombali, Guiné-Bissau


Fotos (e legenda): © Nuno Rubim (2008). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Um gerador de marca Lister, parecido com o que deveria existir em Guileje. 

Imagem retirada da Net:  Nuno Rubim (2007)



1. Mensagem de Manfred Stoppok (foto à esquerda), antropólogo social, investigador de pós-doutoramento, da Universidade de Bayreuth, Alemanha

 
Data - 26 de setembro de 2022, 16:44
Assunto - A electrificação e os militares na Guiné-Bissau nos anos 1960

Exmos Senhores,

O meu nome é Manfred Stoppok, sou investigador pós-doc na Universidade de Bayreuth,  Alemanha. 

Já fui várias vezes à Guiné-Bissau, e neste momento faço um estudo sobre a história da eletricidade no país.

Eu descobri nos arquivos históricos ultramarinos em Lisboa que, durante a guerra de 1961/74,  uma grande parte da capacidade de produção de eletricidade estava nas mãos das forças armadas portuguesas: dos 59 lugares com geradores fora de Bissau, 47 tinham somente um gerador nas mãos das forças armadas, e somente 19 tinham uma distribuição civil.

Em termos da capacidade de produção, ambas, a administração civil e as forças armadas,  tinham cerca de 1 MW cada um no total.

Este aspeto é provavelmente uma coisa muito especial no desenvolvimento do sector de energia. Neste sentido, tenho algumas perguntas, na resposta às  quais os senhores talvez me possam ajudar.

(i) Os geradores dos militares forneciam eletricidade em geral somente para os quartéis – para uso próprio – ou também forneciam eletricidade para as unidades administrativas, escolas, hospitais,  etc.? Ou até mesmo para alguns particulares ou comerciantes?

(ii) Ou havia uma iluminação pública das ruas naqueles lugares? 
Em pelo menos alguns casos isso acontecia, havia eletricidade para a administração, mas eu não sei se isso  era a regra ou a exceção.

(iii) E, bem interessante para mim, o que é aconteceu com os geradores militares na hora da independência da Guiné-Bissau? O mais provável é que os geradores tenham sido levados para Portugal, o que significou a perda de quase 50% da capacidade de produção fora do capital Bissau. Ou será que estes equipamentos ficaram na Guiné?

Eu agradecia muito se os senhores puderem e quiserem partilhar as suas experiências comigo ou então indicar-me  onde posso encontrar documentação sobre estas coisas.

Eu também estarei em Lisboa por duas ocasiões nos próximos meses – no final do outubro de 2022 e no início de fevereiro de 2023 – e teria muito gosto em ter um encontro pessoal com quem quiser partilhar as suas informações e memórias relativamente a este assunto,

Com os melhores cumprimentos
Dr. Manfred Stoppok

[Revisão e fixação de texto, negritos: L.G.]

Manfred Stoppok | Post-Doc Researcher

f: funded by Fritz Thyssen Foundation
a: University of Bayreuth – Social Anthropology
e: manfred.stoppok@uni-bayreuth.de
w: www.history-electrification.com



Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné: o Batalhão de Engenharia". Coordenação do Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa: Direção de Infra-estruturas do Exército, 2014, 166 pp.


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo, e a saída para leste (no sentido de Bafatá)... Em primeiro plano, lado nordese do quartel e um dos abrigos, sobranceiros à tabanca, e a morança do comerciante português Rodrigo Rendeiro, do outro lado do arame farpado... Ficava do lado direito, quando se subia, vindo de Bafaté e do rio Geba, a famosa rampa de acesso ao quartel e posto administrativo de Bambadinca. São visíveis, na foto (se for ampliada), os postos de iluminação pública, ao longo da rua principal (que ia do quartel até ao porto fluvial).

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Março / Abril de 1968 > CART 1661 > Trabalhos de electrificação do aquartelamento a cargo de uma equipa do BENG 447, onde se integra o José Nunes, autor desta imagem...

Foto (e legenda): José Nunes (2009).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Manfred: vamos tentar  ajudá-lo (*). Obrigado pelo seu contacto. Procurei  melhorar a sua mensagem em português. Mas não temos, à partida, grande informação (e muito menos conhecimento)  sobre a eletrificação da Guiné-Bissau no nosso tempo (1961/74). E falta-nos, enquanto antigos combatentes, uma visão geral sobre a situação da eletrificação do território... 

Nos quartéis, havia pelo menos um gerador (nalguns casos, haveria um sobresselente para suprir avarias) que funcionava preferencialmente à noite. Nunca ou raramente estavam a operar 24 horas por dia. Fez-se um esforço por eletrificar todos os aquartelamentos localizados em povoações importantes. E isso competia à engenharia militar (BENG 447).

Havia quartéis maiores do que outros, e alguns estavam implantados nas próprias povoações, sendo natural que contribuissem para a ilumição pública fora do perímetro do arame farpado, nas proximidaxes da porta de armas e na rua principal da localidade (caso de Bambadinca, Teixeira Pinto, Nova Lamego, Farim, Catió...). 

Em localidades como Bambadinca (onde eu estive, de julho de 1969 a março de 1971, e que teria, na altura 2 mil habitantes, e cerca de 400 militares), e que era um posto administrativo fazendo parte do município  de Bafatá (a segunda maior cidade do território, a 30 quilómetros, a nordeste),  o perímetro militar integrava as instalações e a casa do chefe de posto, a escola (com a casa da professora, cabo-verdiana), bem como uma capela cristã... O edifício dos correios, se bem recordo, já ficava fora... As casas comerciais estendiam-se ao longo de uma rua de trezentos metros que era ilumianada, tanto quanto me lembro... O resto (duas tabancas) ficava às escuras... O gerador militar também fornecia luz ao posto de intendência no porto fluvial, na margem esquerda do rio Geba Estreito, a escssas centenas do aquartelamento, sede de um batalhão (BCAÇ 2852 e depois BART 2917)...

Os frigoríficos (tanto dos comerciantes civis como os da tropa, e de um ou outro particular) eram alimentados a petróleo. E alguns de nós, graduados,  tinham também pequenos frigoríficos, nos quartos para manter frescas as bebidas  como a cerveja... (Um luxo, a cerveja gelada, o gelo para o uísque, a água de Vichy e de Perrier...).

Por outro lado, temos ainda a memória do cinema ambulante, que passava, mesmo no tempo da guerra, por algumas povoações mais importantes do leste da Guiné. E havia localidades que tinham sala de cinema (Bafatá, Teixeira Pinto, Nova Lamego...).

É importante que fale com os nossos camaradas do BENG 447, o Batalhão de Engenharia nº 447, que estava sediado em Brá, Bissau, e era responsável também pela construção e eletrificação das instalações militares no mato.

Fica aqui o seu apelo. Vamos ver se aparece informação relevante para si e o seu projeto sobre a história da electricificação da Guiné, terra a que nos ligam fortes laços afetivos e muitas memórias (boas e más). Vejo que fala e/ou escreve português. Isso facilita os contactos. Boa sorte, boa saúde, bom trabalho. LG

PS1 - Temos ideia que houve, no tempo do governador  Sarmento Rodrigues (1945/49) e depois do general António Spínola (1968/73), uma melhoria da eletrificação do território. Mas não temos informação detalhada. Por outro lado, Bissau estava muito melhor iluminada, à noite,  antes da independência do que depois. Em 2008, quando lá voltei, a cidade vivia às escuras. Fale também com o nosso camarada Mário Beja Santos, que é um enciclopédico estudioso da história da presença portuguesa no território, bem como  o nosso camarada Patrício Ribeiro, fundador e diretor da empresa, com sede em Bissau, Impar Lda, do sector de energia.  Dar-lhe-ei depois os contactos,

PS2 - O nosso José Nunes (José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo Mecânico de Eletricidade no BENG 447 (Brá, 15Jan68 - 15Jan70) esteve na Central Elétrica do Quartel General, em Bissau. Tem, por certo, conhecimento da matéria. (Vd. o precioso poste P2470, de 22 de janeiro de 2008 " (**)
___________


(**) Vd. 22 de janeiro de  2008 > Guiné 63/74 - P2470: Diorama de Guileje (5): Geradores na Guiné (José Nunes)

(...) Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 Janeiro de 1970. Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos, Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglés, Bolama, Bissum-Naga.

Acerca dos manuais que o Camarada Coronel NUno Rubim precisa, deve ser difícil pois nunca os vi em 2 anos e um dia de Comissão, nem na escola Militar tivemos acesso a eles.

Os grupos geradores mais utilizados eram: 500/250 KVA, 150, 50/47,5 KVA.

No Quartel General (QG), na Central nova, havia dois Dorman de 250 KVA, com 6 cilindros, refrigeração a água por radiador e, um grupo gerador de emergência Lister de 75 KVA.

Na Central velha, existia operacional um Deutz de 12 cilindros em V, refrigerado a ar e um Lister de 50 KVA.

Na Engenharia 
 [ BENG 447] e no Hospital Militar estavam os grupos geradores maiores.

No mato, normalmente, encontravam-se geradores com potências de 50, 20 e 7,5 KVA.

As marcas Stanford e Frapil para pequenas potências até 20 KVA. As motorizações eram diversas: Dorman, Deutez, Lister e EFI produção nacional.

Em Porto Gole havia um Lister de 47,5/50 KVA, na Ponta do Inglês havia um Gerador de 20 KVA que lá fui levar com um operador de Motores Fixos 
[ e que se avariou, obrigando o pessoal a recorrer à iluminação a petróleo com garrafas de cerevja] .

Ajudei a transferir o grupo gerador, na lama, da LDP (Lancha de Desmbarque Pequena)  para cima do Unimog, a descarregar no local e a fazer ligações de potência.

Por azar, o meu camarada inverteu a polarização na excitação e o gerador ficou inoperacional.

Tive de me pirar porque fui lá desenfiado só para ajudar e para ver se o Operador vinha no mesmo dia para Bissau, mas ficaram sem iluminação e o Engenheiro ficou lá até ao próximo transporte, regressando eu a Porto Gole onde levei uma valente piçada.

Ponta do Inglês 
[destacamento do Xime, na foz do rio Corubal], iluminação? A bazucas [garrafas de cerveja, de 0,6 l] cheias de petróleo penduradas no arame farpado.

A iluminação nos aquartelamentos era feito com cibes 
[ rachas de troncos de palmeira] a fazer de postes, linhas de cobre nú de 2,5 mm2, circuito fechado em anel, lâmpadas Philips 150 Watts spot.

Os quadros eléctricos eram em baquelite, equipados com fusíveis ou disjuntores quando os havia.

Não havia uniformização nos geradores, tal como muita coisa era comprada ao sabor de quem dava melhor percentagem, mas a maioria dos aquartelamentos tinha geradores de 7,5 ou 20 KVA. (...)

 

Vd. também postes de:

26 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4867: Memória dos lugares (35): Porto Gole, Março/Abril de 1968, CART 1661 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23409: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (4): peripécias de um aspirante miliciano, no Depósito de Adidos de Luanda, um mês e tal à espera de transporte para o CTIG (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE / BENG 447, Brá, 1967/71)

1. Mensagem do João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do PTE (Pelotão de Transportes Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971)


Data - 4 jul 2022, 15h06
Assunto - Passagem por Depósito de Adidos

Ao ler artigos interessantes de camaradas nos Depósitos de Adidos (em Lisboa, Bissau e Luanda) comecei a relembrar alguns episódios (pícaros?), que espero tenham  interesse para publicação Talvez sim, talvez não, conforme comentários que li no Blog. (Mas aqui vão.) (*)

Estive no Depósito de Adidos de Luanda um mês e tal. (Novembro/Dezembro de 1968). Estava no QGA (Quartel General de Angola) quando fui mobilizado e fui imediatamente para o Depósito de Adidos a aguardar transporte para a Guiné. (Que não havia directo!)

Solução era  vir a Lisboa e daí para Bissau, mas quando?!... E em navios fretados, quanto tempo mais?

E, enquanto lá permanecesse, continuava como aspirante miliciano pois só seria promovido (a alferes) à data do embarque.

Solução: Lá arranjei uma “cunha” na Força Aérea, tendo conseguido lugar num avião que vinha para Lisboa e com escala na ilha do Sal. Dificil,  pois estava lotado para o destino Lisboa. 

Além disso ainda consegui trazer a minha mala com um pouco mais do peso permitido. Mesmo assim tive de vir com as botas calçadas para aquela não pesar mais... Enfim, mais uma semanita e tal na ilha do Sal, onde na messe me roubaram uma boa camisola, no dia da partida, até me levarem para Bissaslanca num avião de carga da FAP, entre caixotes e demais material.

No Depósito de Adidos, em Luanda, a situação era sempre diferente e interessante, pois por lá passavam todos os camaradas em deslocações, à espera de transportes, para consultas, etc, muitos deles “pirados” e outros muito “pirados”.

Assim, eu embora tenha conseguido não dormir nem comer lá (e raramente lá estava durante o dia), sempre tinha de fazer serviços e nesses dias por lá ficava.

Alguns episódios que recordo:

Todos os dias era recebido pelo Oficial de Dia um telefonema do QGA  (não me recordo do nome da secção, seria ComLad?), para saber da situação no DA. (Esse telefonema era de horário aleatório.)

Certa noite, estando eu lá a dormir, por estar de serviço juntamente com  um Alferes, foi recebido o tal telefonema do QG, o Alferes dormia e ressonava e por mais barulho que fizesse não acordava. Resolvi então atender e, logo do outro lado, o militar disse a senha, à  qual eu teria de responder com a contra-senha. Mas qual contra-senha? 

Não notei que ficasse muito admirado por eu não saber. (Porventura já seria habitual naquele DA.) Lá me explicou que eu teria de ver um cartão (que ainda demorei a encontrar) e, consoante a senha, ver no quadriculado como havia de responder. 

Lá fiz isso e dei-lhe a contra-senha errada! Perguntou-me de imediato o nome e quem eu era, ao que respondi de imediato. Qual o meu espanto quando ele se identificou como capitão e disse que me conhecia muito bem, pois tinha estado comigo no QG. Após alguma boa cavaqueira, “perdoou” o lapso, lá se despediu e me poupou uma provável “porrada”.

Era habitual, todas as noites, haver uma ronda de jeep por algumas unidades de Luanda, com passagem e apresentação aos oficiais ou sargentos de dia das mesmas. Normalmente a ronda era feita por sargento ou furriel e praças. 

Bela noite, estando eu de serviço, o alferes, o sargento e alguns praças escalados já não se encontravam no DA, uns por entretando terem tido transporte, e outros se encontrarem “desenfiados”. Resolvi fazer a ronda sozinho, conduzindo o jeep, o qual consegui, e sendo “compreendido” pelos camaradas das outras unidades. Correu bem, nada se passou no DA,  nem na ronda e regressei ao DA, tudo calmo, nada se passou...

Outra noite, também de serviço e também sem o alferes, fui acordado por um camarada pois nas traseiras de uma casa civil com muro para o quartel, um homem gritava a bom som, pedindo ajuda porque o queriam matar. Com uma escada que encontrámos, trepei até ao cimo do muro e vi-o muito exaltado dizendo que à frente da casa estava um individuo a ameaçá-lo, por causa da mulher, e se nós poderiamos ajudar. 

 Lá lhe disse que era assunto civil e que chamasse a polícia, mas ele dizia que tinha medo de entrar em casa pois o outro poderia estar também a tentar entrar pela frente. Lá ficou mais sossegado quando eu lhe disse que iria mandar o jeep de ronda passar à frente da casa dele. O jeep passou, mas não foi visto homem nenhum, nem mais vimos ou ouvimos o fulano, nem nessa noite nem nunca mais, e também porque nunca mais passei frente à casa dele.

E, por agora é tudo, até ao próximo post.

Abraço, 
João Rodrigues Lobo.
___________

domingo, 3 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23407: Convívios (937): 37º encontro nacional do BENG 447, Caldas da Rainha, 25/6/2022, com 181 participantes (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE, Brá, 1967/71)






Caldas da Rainha > 25 de junho de 2022 > Vários aspetos do convívio que juntou 181 camaradas e familiares

Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do PTE (Pelotão de Transportes Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971)

Data - 25/06/2022, 18:41
Assunto - 37º Convívio do BENG 447

Decorreu hoje no Paraíso do Coto, Caldas da Rainha, mais um encontro dos camaradas do Grande Batalhão. (*)

Estiveram presentes 181 camaradas, com as suas inevitáveis recordações .

Do "meu" PTE  reconhecemo-nos 4, com sentimentos alegres e espontâneos, o Lobo, o Simão, o Leal e o Neves. Boas recordações. O capitão Aguiar também nos trouxe boas memórias bem como a excelente organização do Araújo e outro camarada.

Todos conviveram e recordaram tempos de há 50 anos atrás. Pró ano há mais. (**)

Grande abraço,
João

Anexo - 6 fotos
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23372: Lembrete (41): 37º Encontro Nacional do Pessoal do BENG 447, Brá, Bissau, sábado, 25 de junho, Restaurante O Paraíso do Coto, Caldas da Rainha: há autocarros a partir do Porto e de Lisboa

(**) Último poste da série > 27 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23387: Convívios (936): 26º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) + CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 28/5/2022: Fotos - Parte II (João Crisóstomo)