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domingo, 29 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20786: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (4): parados no sudoeste da Austrália, em Fremantle-Perth, a mais de 14 mil km do porto de abrigo



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Sudoeste da Austrália > Fremantle-Perth> 24-26  de março de 2020 > O comandante do navio decidiu seguir diretamente para o Mediterrâneo a mais de 14 mil km de distância, ou sejam, 3 semanas de viagem...

Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016,... Trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; começou a escrever o seu diário de bordo, em 23 de janeiro de 2020, na sua página do Facebook, Viagens no Tempo

Embarcou no MSC - Magnífica, em 6 de janeiro, em Marselha, numa viagem de volta ao mundo em 115 dias, seguindo a Rota de Fernão de Magalhães. O cruzeiro deve (ou devia) voltar ao ponto de partida no dia 1 de maio p.f.. Com ele e a esposa Elisa, vão mais dois "camaradas da Guiné", incluindo o António Graça de Abreu; num total de 2800 pessoas (2000 passageiros, 800 tripulantes). 300 já tima optado por regressar de avião, desistindo da viagem por mar... A boa notícia é que não há, a bordo, até à data, nenhum caso de infecção provocado pelo vírus SARS-CoV-2 (nome oficial dado pela OMS), e que orgina a COVID-19 (nome oficial da doença]

Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Fotos reeditadas pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


1. Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (4):  parados no sudoeste da Austrália,  em Fremantle-Perth, a mais de 14 mil km do porto de abrigo no "Mare Nostrum". (Excertos)

Quinta feira, 26 de março de 2020, 11h40

Hoje, foi o dia da grande decisão, tomada pela companhia MSC, do seu distinto proprietário; Signori Aponti,  e do comandante do MSC-Magnífica; Roberto Leotta.

Eram 18h00 aqui a bordo, quando o sistema áudio anunciou que o Comandante ia fazer um importante comunicado. De imediato, tudo parou a bordo. O Comandante anunciava a decisão de navegar directo, para o Mediterrâneo.

Era a alegria estampada em todas as caras!

O navio tinha que ser reabastecido, mas não tem autorização de reentrar no porto, de onde saiu ontem á noite, com destino ao Dubai, mas entretanto o Dubai fechou o seu porto. Pelo que temos andado aqui ás “voltinhas”, frente a Fremantle-Perth, até que chegou esta boa decisão:  Navegar para o Mediterrâneo!

Agora o navio tem que ser reabastecido, para fazer este trajeto. O governo da Austrália, entretanto proibiu todas entradas no portos. Assim iremos ser reabastecidos por batelão, mas fora do porto !

Entretanto, está provado que não temos nenhum “caso” de coronavirus a bordo. Mas a lei do governo, tem de ser cumprida, cegamente!?...

Se tudo correr bem, com o reabastecimento, dentro de 48 horas, já estaremos a navegar, para o "Mare Nostrum", o  Mediterrâneo !

(...) Para desanuviar, alguma tensão, que ainda subsiste, vou aqui colocar algumas fotografias, destes últimos dias !


Sábado, 28 de março de 2020, 11h53

Continuamos fundeados na baía de Fremantle-Perth, desde ontem ao fim da tarde. Ontem à noite ainda recebemos um batelão, com paletes de alimentos e bebidas. Hoje de manhã recebemos mais dois batelões de alimentos. Mas agora, da parte da tarde, ainda não recebemos mais nenhum batelão.

Agora mesmo, às 4 horas da tarde, está o Comandante a falar, pelo sistema áudio de todo o navio! Acaba de anunciar, que embora o carregamento de víveres, tivesse começado ontem à noite, tem sido muito mais moroso do que o esperado, pelo que o abastecimento, embora lento, vai continuar até amanhã ao meio-dia!

Assim, levantaremos âncora logo a seguir, assim que tenhamos autorização com o piloto da barra. A expectativa de reabastecimento, em poucas horas, foi gorada, mas é absolutamente indispensável este carregamento de víveres, pois o objetivo é navegar direto para o Mediterrâneo, que se espera vencer em cerca de três semanas!

Continuamos “todos” muito bem a bordo; passageiros e tripulantes! Estamos “todos” solidários com o nosso Comandante; Roberto Leotta. A administração da MSC merece toda a nossa solidariedade, nesta decisão, de não sermos “repatriados”, deste fim do mundo, por avião!

Onde não tivemos a solidariedade humana, foi do Senhor Primeiro Ministro do Governo da Austrália. Estamos já há quase três semanas na Austrália, onde demos entrada, saindo a terra no porto de Hobart, na Tasmânia, para vistoria dos passaportes.

Reentrámos de imediato para bordo do navio e nunca mais fomos autorizados a ir á terra, em nenhum porto da Austrália, onde estivemos atracados ao cais! Desde Hobart, Sidney, Melbourne e agora aqui, em Fremantle-Perth, onde já estivemos atracados ao cais, mas saímos do porto com destino ao Dubai, que entretanto também fechou o porto a toda a navegação e, nos obrigou a regressar a Fremantle-Perth.

Mas ao regressarmos, entretanto Governo da Austrália, também fechou todos os portos desta Ilha Continente, obrigando muitos navios a fundearem fora dos respectivos portos de abrigo !

As declarações do Senhor Primeiro Ministro, do Governo Australiano não terão sido as mais apropriadas, nestas circunstâncias, sem solidariedade humana e sem visão global deste problema, da proliferação e difusão do coronavirus, COVID-19.

 (... ) Amanhã, ao princípio da tarde, vai começar para nós, ainda cerca de 2.000 passageiros e 800 tripulantes, esta “Nova Odisseia” de chegarmos em uma única “etapa”, ao "Mare Nostrum"
Ao Mediterrâneo!

Estamos todos no mesmo barco ! Estamos todos solidários, com o nosso Comandante, Roberto Leotta. Para que esta grande viagem, de milhares e milhares de milhas náuticas por estes mares “acima”, decorra sempre o melhor possível !  E, que, ao chegarmos ao Mar Vermelho, o Canal Suez se abra para o Mediterrâneo que nos espera, mas ainda sem porto de abrigo, como destino, na nossa velha e jovem Europa.

[Revisão e fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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terça-feira, 17 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20743: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (116): A COVID-19 não passará!... Até maio ou junho, camaradas! (Constantino Ferreira, MSC - World Cruise, Austrália, Sidney, 16/3/2020)




MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Sidney > 16 de março de 2020 > Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira

[, Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71);   trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; é nosso grã-tabanqueiro desde 16 de fevereiro de 2016.]

1. Mensagem, no Facebook do Constantino Ferreira,  que está na Austrália, a bordo do MSC- Magnífica, em cruzerio de volta ao mundo, juntamente com outros portugueses, incluindo o António Graça de Abreu

Obrigado, Luís, pelas boas palavras escritas com fé e determinação! (*)

Ainda estamos atracados no Cais de Sydney, mas só saíram uma centena de pessoas, esta manhã directamente para o aeroporto, com a obrigação de saírem nos voos de hoje !

Hau Yuan e o António. 
Foto: arquivo do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
A Hai Yuan [, a esposa do António, médica,natural de Xangai, ]  também saiu para voar para Xangai. Eu a Elsa e o António Graça de Abreu, estamos bem, mas não podemos sair do navio desde Hobart na Tasmânia.

Mas procuramos manter o nosso bom humor !

Com muito gosto, nos iremos encontrar em Maio ou Junho !

Tenho pena de me ter descuidado de “escrever” na nosso blogue, na  Tabanca Grande. (**)

E vai um abraço!

2. Mensagens do nosso editor Luís Graça:

Confiança no capitão que vos há de levar a bom porto. Mas sejam proativos e nada de pânico. Vejam o que se passou noutros cruzeiros que estiveram de quarentena. Juntem os portugueses e animem-se. Nós também estamos trancados em casa para evitar o aumento exponencial de infetados. Ânimo!

3. Resposta do Constantino Ferreira:

Estamos a organizar e a criar um grupo de comunicação com todos os portugueses a bordo: “Tugas a bordo do MSC-World Cruise” !

Obrigado, pelo incentivo ao bom humor !

Abraços

4. Cruzeiro de volta ao mundo: diário de bordo (Constantino Ferreira)

Austrália, Sidney > Segund feira, 16 de março de 2020, 7h45:

Entrámos na Baía de Sidney pelas seis horas da manhã. Tivemos que aguardar cerca de duas horas, para avançar e fundear frente á Opera Hause e da ponte de ferro em arco por cima, também chamada de ponte cabide.

São os dois símbolos emblemáticos da cidade, mas devemos acrescentar-lhe um terceiro “ícone”, que é a moderna Sky Tower, de Sydney!

O nosso primeiro olhar, na aproximação, ao navegarmos já na Baía, é realmente esta silhueta inconfundível. Ficamos deslumbrados ao fixar esta silhueta inconfundível.

Estamos aqui ancorados com as próprias âncoras do navio, desde as 8 horas da manhã. Mas pelas 18 joras, já teremos local de acostagem, no Cais dos Cruzeiros. Logo que saia o navio, que está nessa posição, vai o nosso MSC-Magnifica ocupar esse lugar para poder ser abastecido de tudo o que necessita, fundamentalmente alimentos para os cerca de 3.000 passageiros e tripulantes.

Quanto á combustível, já foi abastecido aqui no meio da Baía, por um minipetroleiro que aqui se encostou durante seis horas, para reabastecer cerca de 14 toneladas de fiel, para os seus cinco geradores elétricos de bordo. Toda a restante maquinaria de bordo funciona a electricidade produzida ir estes geradores, inclusive os quatro motores elétricos de propulsão para vante e para ré. Assim como os três motores laterais á ré e os dois de vante.

Esta manhã, pelas 8 Horas, a maioria das pessoas estava nos nos três convés superiores, para ver a a aproximação até ao meio da Baía.

Agora pelas seis da tarde vai ser o mesmo, milhares de pessoas de câmaras fotográficas e telemóveis na mão, para registar imagens únicas, na vida de cada um!

Como já são 17Horas, interrompo aqui esta crónica, vou tomar um chá com dois ou três scones e, vou para o convés superior, para assistir a esta manobra de atracar ao Cais de Cruzeiros e, certamente tirar mais umas fotos para aqui publicar ainda hoje.

Acabei de tirar mais umas fotografias, que já acrescentei ás anteriores, inevitavelmente ao edifício da Ópera, á ponte do arco por cima e á silhueta dos prédios, com a Sky Tower.

Como a mudança do navio para o Cais dos Cruzeiros está demorada e, o dia de amanhã também vai ser a bordo, exceção feita aos passageiros que voluntariamente querem abandonar o navio, que vão sair amanhã, “escoltados” diretamente para o aeroporto, já com os respectivos voos marcados, alguns poucos para Xangai - China, mas a maioria dos sessenta, irão em voos para a Europa, por sua vontade e conta própria.

A tarde está a escurecer, mas o Sol quando rompe por de traz das nuvens, cria um efeito de raios de luz raramente visto, criando uma beleza misteriosa na silhueta desta cidade belíssima.

Amanhã irei enviar estas fotos.

(Reproduzido com a devida vénia)

5. Mensagem de incentivo para os nossos dois grã-tabanqueiros, Constantino Ferreira e António Graça de Abreu:

Bom dia, Constantino e António. Vocês são homens com vasta experiência de viagens pelo mundo. E tu, Constantino, como tripulante de bordo na TAP, sabes bem como é viver em espaços confinados. Aprendeste a lidar com o leque variado de comportamentos humanos dos viajantes aéreos, desde os fumadores compulsivos aos claustrofóbicos... Num avião, são algumas horas de viagem, mais ou menos suportáveis. Num navio, que é um autêntica cidade flutuante, e nas atuais circunstâncias, em que vocês estão a fazer a vossa tão sonhada volta ao mundo em cento e tal dias (, mas agora. com severas restrições devido à situação emergente da pandemia de COVID-19 , provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2),  mais difícil manter, individualmente e em grupo, a serenidade, a presença de espírito, o bom humor...

Há seguramente frustração e medo do que possa vir a acontecer,,,. As emoções vão estar mais à flor da pele...Em todo o caso, vocês estão em segurança, mesmo longe de casa... A vossa casa agora é (ou continua a ser) o MSC Magnífica... Como foi, para ti, Constantino, Aldeia Formosa,em 1969/71...São duas situações-limite. Aproveita-as. 

Esta não se vai repetir. Aproveita para ir escrevendo e fotografando. E comunicando com nós, que também estamos em quarentena social...No final teremos um livro de um camarada da Tabanca Grande que fez a volta ao mundo e, contrariamente ao "tuga" Fernão Magalhães (que tinha um "escriba", mas "sem rede"...), foi contando. dia a dia, aos amigos as peripécias da viagem... 

Ofereço-me, desde já, para te escrever o prefácio...Até lá, até ao vosso regresso, com saúde e em segurança, aumentem a vossa resiliência, apoiem.se uns aos outros, não desanimem, tirem partido das circunstâncias... No séc XVI ir à India e voltar eram quase dois anos... Como dizia o provérbio antigo: "À Índia mais vão do que tornam"...Só gente "louca", como nós... Bem diziam os espanhóis, desconfiados dos "vizinhos": "Portugueses, pocos. pero...locos"!...

Um chicoração para vocês três, Elsa, Constantino e António. E também para a esposa do António que vos deixou, na Austrália, para dar um salto à sua China... que está a sair, ao que parece e felizmente, de uma grande provação: foi lá que tudo começou....



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Taiti > Papeete >  6 de março de 2020 > Foto de grupo: da esquerda para a direita, Hai Yuan, António Graça de Abreu, um casal português, o Constantino Ferreira e a Elsa, tapada pelo rosto da guia local, aqui em primeiro plano). Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira.

[, Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71); trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; é nosso grã-tabanqueiro desde 16 de fevereiro de 2016.]
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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia de Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.

(...) Um alfabravo fraterno e emocionado para ti, Constantino, e para o António, e respetivas esposas!... Que regressem a casa com saúde e em segurança... Por aqui estamos a "aguentar o barco", mas já se grita às janelas das nossas ruas: "Viva o SNS!", "O Covid 19 não passará!"... Haveremos de beber um copo, os três, em maio ou junho, na próximo almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, quando este pesadelo acabar para todos nós!.. Vai escrevendo e mantendo o teu bom humor! (...)

Vd. também poste anterior > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia de coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

segunda-feira, 16 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.



MSC Magnifica > 16 de março de 2020 > Austrália > Hobart, capital da Tasmânia

Cortesia de Constantino Ferreira (2020)


1. Último poste  do Constantino Ferreira d'Alva, publicado na sua página do Facebook, há quatro horas. O Constantino, tal como o António Graça de Abreu (*),  segue num cruzeiro de volta ao mundo,  a bordo do MSC Magnifica (, MSC é a sigla da multinacional Mediterranean Shipping Company, com sede na Suiça)...

A frota da MSC Cruzeiros está praticamente parada devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... O MSC Magnifica deve ser  o único navio que ainda está a operar, segundo nos informa o Constantino, devendo chegar à Europa daqui a mês e meio...

Esta volta ao mundo, que era pressuposto ser uma viagem de sonho, pra muitos dos seus passageiros,  está a tornar-se um pesadelo, devido á pandemia do Coronavírus COVID 19, ... Deve levar a bordo muitos mais portugueses, além dos nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva e António Graça de Abreu, e suas esposas.

A todos desejamos o melhor regresso possível a casa, com saúde e em segurança.

Facebook > Constantino Ferreira > segunda-feira, 16 de março de 2020, 1:52:

Isto foi o Diabo 👿!

Pois foi! ..... Mas não o Diabo da Tasmânia, que nós muito carinhosamente pretendíamos ir conseguir ver, na nossa visita de hoje !

Não! ..... Aqui o Diabo 👿 foi outro ! Foi o “coronavirus” que já apareceu em cinco casos na Tasmânia, que nos impediu a visita programada.


A notícia, foi-nos dada pelo Comandante no Royal Theatre esta manhã, acompanhado pelo segundo comandante, pelo médico-chefe de bordo e o director de comunicação a bordo. (Conforme fotografias que publico!)

As autoridades de fronteiras da Austrália, fecharam todos os portos, por razões de segurança pública! Foi assim, que recebemos a notícia.

No entanto, teríamos que descer a terra para a formalidade de controlo de vistos e passaportes! Uma vez que iríamos passar por mais três portos na Austrália; Sydney, Cairns e Darwin! Podendo a situação modificar-se, para melhor ou ... para pior !

Pois foi para pior, porque também já têm mais casos dentro da Austrália.

Estivemos atracados no cais, durante todo o dia, a cidade e as montanhas lá estavam à nossa frente, fomos tirando umas fotografias, ouvindo as notícias da Europa, tomando consciência da gravidade a nível Mundial, lamentando esta situação, mas sempre com alguma esperança de melhores dias !

A vida a bordo continua, não temos nenhum caso de “coronavirus”, lagarto,... lagarto,.... lagaaarto! Mantemos todas as regras e disciplina de segurança, para que isso não aconteça !

A boa disposição também se mantém, até com algum humor, (é o meu caso!). Mas a “Volta ao Mundo”...... já não vai ser como até aqui !

Tem sido verdadeiramente uma maravilha, em todos os aspectos ! Pelo menos, esta “meia-volta”, foi um espetáculo!
Agora, temos que concluir o que falta, com a máxima segurança, procurando mesmo assim, usufrui o melhor possível!

De toda a frota da MSC-Cruzeiros, este “nosso” navio, MSC-Magnífica, é o único a navegar, toda a frota parou ! Na Europa, América, Caraíbas, China, Japão, ..... tudo parou e “encostou”!

Mas a decisão da companhia, de não nos desembarcar, foi bem acolhida, pelos cerca de três mil passageiros e tripulantes!

Assim, a decisão da MSC e do nosso comandante, é seguirmos nesta “nave”, até á Europa, onde esperamos chegar dentro de um mês e meio, com paragens para reabastecimento de combustível e alimentos.

Se a situação, entretanto melhorar, até podemos manter a esperança de ir ver o Dragão de Cômoro, como estava planeado, mas as belezas de Bali, ainda na Indonésia, ficam para outra oportunidade, assim como todos os outros portos planeados, “nesta” nossa Volta ao Mundo”!

A ver vamos! Como vai ser este mês e meio, aqui a bordo !

Na “nossa” Carreira da Índia, nos Séculos XVI, XVII  e .... XVIII, .... não tinham este conforto a bordo e, ... faziam muito mais tempo em mar alto !

Se pensarmos “assim”, isto vai ser uma festa a bordo ! A “fé”... é que nos salva! ..... Não è o pau da barca !

Até sempre!

(Com a devida vénia ao nosso camarada Constantino Ferreira, tripulante da TAP,  reformado)
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18309: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXX: 30 de outubro a 8 de novembro de 2016: Austrália Ocidental: Fremantle, Mandurah, Burnbury, Bussleton e Perth, antes de o casal rumar de avião, para Singapura, onde voltou a apanhar o "Costa Luminosa"


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Austrália Ocidentaç > 30 de outubro a 8 de novembro de 2016 > Fremantle

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

 2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias":

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016:

(vii) visita à Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois  para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e  percorrem grande parte da costa seguindo  depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

3. Fremantle, Mandurah, Burnbury, Busselton, Austrália Ocidental (pp. 36-40, da parte II)

Depois de Melbourne, apanhámos uma valente tempestade, com um Pacífico furioso a fazer dançar o Costa, para desprazer de toda a gente. Era inevitável encontrar mares agitados e ondas de sete metros numa viagem de mais de três meses em redor do mundo. O navio aguenta-se bem, mas posso imaginar os marinheiros portugueses de quinhentos, naquelas caravelas e naus, casquinhas de noz a avançar na crista das ondas, a afundarem-se no desvão dessas mesmas ondas, a descobrirem o mundo, a caminharem para a morte. (Foto nº1).

Com muito melhor mar, desembarcamos no porto de Fremantle que serve Perth – a cidade situada uns 25 quilómetros mais para o interior e capital deste imenso estado da Austrália Ocidental –, e decidimos, Haiyuan e eu, abandonar o Costa [Luminosa], deixá-lo seguir sem a nossa companhia nos mais seis dias de viagem até Singapura.

Em Fremantle comprámos entretanto bilhetes de avião para Singapura, com chegada na mesma altura do navio. Foi uma boa ideia porque trocámos alguns dos já conhecidos e cada vez mais redundantes, e eventualmente tempestuosos, dias de navegação por uma estadia, ao nosso modo, na Austrália Ocidental.

Vimos o Costa partir e depois de um “adeus, até ao meu regresso”, procurámos instalação em Fremantle, uma interessante cidadezinha com 30 mil habitantes onde começou a colonização de toda esta vasta região [Foto nº 2]. Foi difícil encontrar alojamento porque não havíamos marcado nada e estava tudo quase cheio. Fremantle, ou Freo como o pessoal da terra lhe chama, é um destino turístico para muitos jovens australianos. Acabámos por ir parar aos Pirates, um hostel backpackers de nenhuma qualidade, 65 dólares australianos, cerca de 50 euros, um pobre quarto para dois, sem banho.

O problema foi a música em altos berros, no jardim, logo por baixo do nosso quarto, que durou até às três e meia da manhã. Estes presumivelmente bem educados rapazes e moçoilas australianas esqueceram os bons costumes e a boa educação. Às duas da manhã a minha Haiyuan ainda me pediu para eu ir, com um sorriso nos lábios, solicitar àquele pessoal barulhento para cessarem a música. Eles seriam aí uns dez, quase todos bêbados, e eu pensei que se lhes aparecesse um feio sexagenário à frente, àquela hora, a pedir para eles se calarem, habilitar-me-ia, com largas probabilidades, a levar com uma garrafa de cerveja na cabeça.

Na manhã seguinte mudámos de instalação e fomos direitinhos para a prisão [Foto nº 3]. Eu explico. Fremantle orgulha-se de possuir os mais antigos edifícios construídos na Austrália Ocidental como uma pequena prisão redonda que data de 1830, e uma outra cadeia, ampla, arejada, desconfortável, inaugurada em 1851 e que funcionou em pleno até 1995. São hoje ambas Património Mundial pela Unesco e por esta última passaram 350 mil prisioneiros, tendo aqui sido enforcados, até 1964, 43 homens e uma mulher.

A grande prisão, tipo baluarte em pedra, estende-se por seis hectares e é hoje uma das atracções turísticas de Fremantle. O município local resolveu fazer obras e transformar a cadeia em museu. Parte da ala feminina foi adaptada a YHA, ou seja, um originalíssimo Youth Hostel. É barato, 45 dólares australianos, e lá dormimos na pequena cela 201, pintada de branco onde, para além das duas camas em beliche, tínhamos apenas uma mesa e, em cima, uma janela minúscula, com grossas grades, para vermos o sol aos quadradinhos. Os quartos de banho, unissexo, eram lá fora, mas não havia carcereiro para nos levar até lá.

Tudo espartano, de sobriedade total, as celas sucedendo-se umas às outras em corredores cruzados, os muros à volta com cinco metros de altura, as guaritas de vigilância levantadas nos ângulos das grossas paredes de pedra. Jamais, em dias da minha vida, me senti tão seguro. Como “prisioneiros de luxo”, porque metidos na prisão por livre vontade, éramos contemplados com uma série de regalias como, por exemplo, uma grande cozinha bem equipada -- até grelhadores tinha --, arcas frigoríficas, lavandaria, uma sala de jantar e outra de convívio, com biblioteca, televisão, excelentes sofás. No recreio dos presos havia também um pequeno campo de jogos e um relvado para despir e apanhar sol. Uma maravilha estar na prisão!

Claro que o objectivo nestes dias de Austrália não era propriamente viver num presídio. Alugámos um automóvel, um Toyota Corolla novinho em folha e foi tempo de deixar a prisão e rumar a sul. Passámos, no entanto, mais um dia em Fremantle, uma cidadezinha por demais bonita que conserva um clássico património construído que me dizem ser o mais valioso de toda a Austrália. Tem ruas inteiras com edifícios centenários em estilo vitoriano, impecavelmente restaurados, onde funcionam hotéis, restaurantes, pubs, lojas, galerias de arte, um mercado, museus e teatros. Tem praias logo ali ao lado do porto, um Fishing Boat Harbour, uma espécie de doca dos pescadores com restaurantes de peixe e marisco em plataformas sobre a água, todas as noites com música ao vivo.

Fremantle até tem um cônsul honorário de Portugal, vi a placa num edifício na saída sul da cidade, sinal evidente de que haverá portugueses emigrantes por perto, gente de bom gosto ou a quem calhou em sorte viver num deleitoso lugar.

A Austrália Ocidental conta com 4,5milhões de habitantes num território com 2,6 milhões de quilómetros quadrados, um terço de todo o continente australiano. A orla marítima estende-se por 12,5 mil quilómetros, repletos de praias selvagens onde apetece a estranha, mas sublime diluição na natureza. [Foto nº 4].

Estamos no fim da Primavera, o tempo começa a aquecer, tenho um automóvel para conduzir, não sei o que irei encontrar, mas aí vamos, conduzindo o carro pela esquerda, ou seja, pelo lado errado da estrada, centenas e centenas de quilómetros, quase sempre ao lado do mar. Passamos Rockingham, aterramos em Mandurah. Estão 24 graus, precisamos de praia e ela aí está, chama-se Sands Beach, com água mais quente do a que costumamos ter em Portugal. Grande banho de mar, agora no Oceano Índico porque a parte ocidental da Austrália já está voltada para o Índico. Mandurah tem um parque para ver pinguins, barcos para observar golfinhos e gente bonita, não muita na praia. Quedo-me a aquecer ao sol, mas o lugar não é perfeito, aparecem umas irritantes moscas pequeninas que nos pousam na cara, entram nos ouvidos, zumbem e temos de estar permanentemente a enxotar.

De tarde, mais quilómetros, muitos, atravessando o Yalgorup National Park, com milhares de eucaliptos, mais baixos e redondos do que os de Portugal, uns tantos lagos e uma sucessão de praias selvagens. Na berma da estrada vi um canguru morto, atropelado. Dormida num hotelzinho em Australind, um apartamento grande e confortável, diante de mais um lago. Foram 100 dólares australianos

Outra cidadezinha, Bunbury tem milhas e milhas de praias, mas é sobretudo conhecida por ser o maior centro de compras de todo este sudoeste australiano. Um enormíssimo shopping foi a primeira paragem no dia seguinte. Comprei o que necessitava, uma caixa de clips para agrafar as folhas soltas onde vou rabiscando as notas dos lugares de passagem, nesta volta ao mundo. Bunbury deu para constatar como vive bem esta gente endinheirada da Austrália!

Depois quedámo-nos por Busselton, uns 40 quilómetros mais para sul na Geographe Bay, quase só praias de areia branca, o mar com uma pequena ondulação, um lugar acolhedor, quase vazio de gente. Uma longa caminhada ao longo da baía e em Busselton acabamos por dormir mais uma noite, no descanso dos deuses. A vila tem uma curiosidade, um molhe ou pontão assente numa estrutura em troncos de madeira sobre a qual avança uma plataforma suspensa sobre o mar, com caminho pedonal e uma linha férrea para o trânsito de um pequeno comboio. Construído em 1865, o pontão estende-se sobre as águas do mar ao longo de 1.841 metros, o que faz dele o mais extenso de todo o hemisfério sul.

Ficou por fazer a ida a Margaret River, outros 40 quilómetros mais para sul. A região é famosa porque aqui, dizem-me, se produzem alguns dos melhores vinhos da Austrália. Falaram-me num tinto de excelência, tipo Bordéus, tão bom, tão bom, de que até os golfinhos, mamíferos inteligentes, gostam. Lembrei-me da penicilina e das palavras sábias do seu inventor, o inglês Alexander Fleming: “A penicilina cura os homens, mas é o vinho que os faz felizes.”



Foto nº 5



Foto nº 6


Austrália Ocidental > 30 de outubro a 8 de novembro de 2016 > De Fremantle a Perth

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Perth, Austrália Ocidental (pp. 40-42, da Parte II

Com 2,1 milhões de habitantes, situada a 3.869 quilómetros de Sidney – uma viagem de comboio entre as duas cidades demora três dias –, a 3.352 quilómetros de Melbourne, a mais de 5.000 de Singapura, Perth parece perdida nos extremos austrais do mundo. Porém, perfeitamente integrada no que de melhor a Austrália e o mundo têm, Perth será uma das cidades mais organizada, moderna e civilizada do globo.

Chego a Perth exausto, após mais de 500 quilómetros de estrada num só dia, desde Busselton, no sul, a conduzir no lado incerto da estrada, com o volante no lado errado do carro, e não sei quantos desvios por atalhos para idas a não sei quantas praias, algo semelhantes às nossas da Torreira ou de Vagos, vastos areais onde até dava para os jipes dos jovens australianos irem molhar os pés na água do mar e fazerem corridas na areia dura, na maré vazia.

Cansado, após três dias a conduzir (foram 837 quilómetros!) com extrema atenção e cuidado porque não estou habituado a pôr o carro na outra faixa de rodagem, a entrar ao contrário nas rotundas, desejava apenas um hotel e uma cama limpa para me deitar. Fomos dormir a um razoável paradouro, o City Waters Hotel, em frente ao jardim e ao rio Swan que atravessa Perth. Foram 115 dólares australianos, cerca de 90 euros. Na Austrália, nada é verdadeiramente barato.

Na manhã seguinte subi ao Kings Park, sobranceiro à cidade, com um jardim botânico e um sentido monumento em homenagem aos soldados australianos mortos em combate na I e na II Guerra Mundial. Depois fui devolver o Toyota ao rent-a-car de Fremantle e regressei a Perth de comboio, uns 20 minutos de confortável viagem para 25 quilómetros. Agora, sem rodas próprias, tenho a cidade por minha conta, dois dias a pé ou em transportes públicos. Passeio por Murray Street, por Hay Street, ruas pedonais no centro do burgo, com lojas e shoppings de estarrecer, tudo ordenado, funcional, de qualidade, à moda da Austrália.

Não há muitas compras a fazer, mas o demorado passeio pelo centro histórico de Perth, não desiludirá ninguém. Temos os velhos edifícios coloniais com mais de cem anos de idade, a casa do governador, a câmara municipal, o His Majesty’s Theatre harmoniosamente inseridos na sofisticada malha de arranha-céus recentes, há uma torre de vidro em frente ao rio Swan – que em Perth se assemelha a um lago –, exibindo um conjunto de velhos sinos provenientes da igreja de St. Martin in the Fields, em Londres, oferecidos pelo governo inglês em 1988. Encontro uma surpreendente manifestação de curdos, famílias inteiras com bandeiras e tambores que pretendem mostrar aos australianos que desejam a independência do seu Curdistão e o fim das perseguições e matanças. [Foto nº 5]

Na Austrália creio que os únicos engarrafamentos que existem, a sério e em quantidade, são os de garrafas de vinho, não de automóveis, e em Perth apercebi-me de alguns dos porquês. Além de uma excelente rede de transportes públicos, nesta cidade funcionam cinco carreiras de autocarros, verde, azul, vermelha, amarela e laranja, os chamados CATS (Central Area Transit Service) que transportam quem quer que seja desde os diferentes arredores para o centro da cidade, tudo gratuito. É só vir de longe, estacionar o carro, esperar um autocarro – passam de oito em oito minutos --, entrar, e rapidamente o cidadão chega ao centro de Perth. [Foto nº6]

A comida australiana não me convenceu até porque haverá por lá uma mistura de burguers e batatas fritas, à americana, com pizzas à italiana e fish and chips, à inglesa.

Qual é a verdadeira cozinha australiana? Não deu para ver e provar. A salvação foi a comida chinesa. Como país multi-étnico, a Austrália prima pelos variegados restaurantes que oferecem banquetes ou simples petiscos de tudo quanto é país para cima, ou para baixo do Equador. Até existe uma grande cadeia de restaurantes chamada Oporto, especializada em frangos assados à moda portuguesa.

Na volta pelo autocarro nº. 3, gratuito, atravessámos não propriamente a chinatown, que em Perth parece não existir, mas um bairro com muita loja chinesa, coreana e indiana. E restaurantes, claro. Aí abanquei, ao almoço, nos dois dias de Perth, em espaços diferentes para atestar o estômago e carregar baterias, alimentando gordurinhas que espero derreter na muita viagem pelo mundo que ainda falta cumprir.
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de janeiro de 2018 >  Guiné 61/74 - P18243: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XIX: 29 de outubro de 2016, Melbourne, Austrália

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18243: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XIX: 29 de outubro de 2016, Melbourne, Austrália



Austrália > 29 de outubro de 2016 > Melbourne,  centro da cidade


Austrália > 29 de outubro de 2016 > Melbourne, Flinders Street, o coração da cidade


Austrália > 29 de outubro de 2016 > Melbourne,  plataforma de helicópteros que transportam fãs do Melbourne Spring Cup, a corrida de cavalos mais importante do ano.



Austrália > 29 de outubro de 2016 > Melbourne, uma cidade de 4,3 milhões de habitantes, 




Austrália > 29 de outubro de 2016 > Melbourne > Royal Botanic Gardens, > Shrine of Remembrance [, Memorial aos Antigos Combatentes]

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.  

Prepara-se, entretanto,  para servir de guia em mais uma viagem à China, organizada pela agência Em Viagem, de parceria com a Fundação  do Oriente, de 14 a 29 de março de 2018. As inscrições estão abertas até 26 de janeiro.
 Acrescente-se que o proghrama é muito interessante ma so preço é proibitivo para um pobre ex-combatente da Guiné: 4370,00€  por pessoa, em quarto duplo, tudo incluído...

{Comtacto: +351 966 478 509
Morada: Av. 25 Abril, Loja 8C | 2750-511 Cascais, Portugal
E-mail: andreia.machado@emviagem.pt ]


2. Sinopse da série Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias:

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016;

(ii) três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016:

(vii) visita à Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália.


   
3. Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XIX: 29 de outubro de 2016, Melbourne, Austrália


O navio chega às oito da manhã [ do dia 29 de outubro de 2016] ao Station Pier, o cais de cruzeiros de Melbourne. Meia hora depois já estou fora do porto em busca da cidade considerada uma das mais civilizadas e com melhor qualidade de vida em todo o mundo. 


Compro o cartão Myki, 14 dólares australianos, 10 euros, que me possibilita viajar durante 24 horas em todos os transportes públicos. Trezentos metros adiante estou no eléctrico 109 que vai atravessar o centro de Melbourne e tem por destino Box Hill, a “Colina da Caixa” que não faço a mínima ideia do que seja ou onde se situa.


Atravesso mais de meia cidade, subindo lentamente aí durante uns dois quilómetros por Collins Street que deverá ser a rua central. Antevejo o que me interessará conhecer na viagem de regresso desde Box Hill. Levo já uns quinze quilómetros no eléctrico, verde e branco, rápido e funcional a avançar agora por Victoria Pde., uma infindável avenida com casas baixas dos dois lados, lojas, pequenas oficinas e fabriquetas. Box Hill nunca mais aparece, estarei já num arrabalde no leste de Melbourne e não vim à segunda maior cidade da Austrália, com 4,5 milhões de habitantes, para me estender por subúrbios desconhecidos, com pouquíssimo interesse. 

Olho o mapa, saio e tomo novamente o eléctrico 109, mas na direcção oposta, rumo ao centro. Desço junto à catedral católica de St. Patrick construída em estilo neo-gótico em finais do século XIX. São nove da manhã, ainda não anda quase ninguém pelas ruas mas a igreja já está aberta. Entro. Apenas eu e um chinês nos entretemos a fotografá-la. Ao lado fica o edifício do Parlamento, de 1856, imponente e sóbrio, e quase em frente dois teatrinhos clássicos, o Princess e o vitoriano Her Majesty Theatre. 

Vou descendo a pé, para o centro. O Windsor Hotel é outra estrutura do século XIX na correnteza da rua, um cinco estrelas onde já dormiram reis e príncipes, muita gente boa, excelsas meretrizes e bastantes patifes, enfim, a nata do mundo. À porta do hotel vejo um grupo de pessoas impecavelmente vestidas, as senhoras com chapéuzinhos pretos de veludo e laçarotes com flores no alto da cabeça, os homens aperaltados em fatos de gala. Devem ir para um casamento, penso.

Avanço na rua que conduz à Chinatown. Tinha de ser, há quarenta anos que a China faz parte do meu quotidiano, por isso tudo quanto é chinês funciona para mim como um íman. Edifícios sóbrios, dois pailous (os pórticos) de entrada pintados em vermelhão e dourado, simples e bonitos, e depois os restaurantes, etc. Continuo a descer para Collins Street onde se localizam os melhores hotéis, bancos e as lojas e armazéns mais caros de Melbourne.

À porta do Hotel Sheraton estão a entrar para um autocarro mais umas dezenas de cidadãos e cidadãs “de luxo”, outra vez com farpelas de espantar. As ladies, jovens, ou com idade indefinível, ostentam jóias e os tais chapéus quase todos pretos, com tules e flores de seda como decoração, alguns gentlemen, também de todas as idades, vestem arrebitados fraques e calças de lista. Se vão para o mesmo casamento acredito que deverá ser festa de arromba, ou talvez se trate de uma qualquer recepção ou cerimónia de Estado. A trezentos metros da gente rica, num esconso entre prédios altos, a gente pobre testemunha que a igualdade entre os homens não é deste mundo. Uma dúzia de sem abrigo, ou drogados, cobertos de mantas esfarrapadas estão deitados no chão de pedra protegidos por uns largos guarda-chuvas, a servir de tecto. Desta vez não tirei fotografias, aprendi em Long Beach, EUA, a deixar estas pessoas em paz.

Desço por Swanston Street, chego ao que será o coração de Melbourne, a Flinders Street com a sua icónica e longuíssima estação dos caminhos-de-ferro pintada de amarelo e vermelho, mais a catedral protestante de S. Paulo e a velha ponte sobre o rio Yarra. São onze da manhã, já há pessoas, quase todas jovens, enchendo as ruas e cafés. Tomam um pequeno almoço, nada pequeno, a puxar para um substancial almoço e conversam, cruzam opiniões, exercitam-se na arte de bem falar com os amigos.

Continuo a perambular ao longo do rio e vejo adiante uma plataforma para pousarem helicópteros. Dois deles, brancos, vermelhos e azuis, levantam e aterram quase à vez, aí de cinco em cinco minutos. Penso que estarão transportando turistas para uma breve vista aérea sobre a cidade. Aproximo-me. Afinal os passageiros, umas trinta pessoas em fila, aguardando a sua vez de voar, são semelhantes às que já encontrei atrás na cidade, luxuosamente vestidas a rigor, os espaventosos chapelinhos de veludo nas senhoras, mais trajes de seda de espantar e, nos homens, os fatos e fraques caríssimos.

Qual casamento, qual recepção de Estado?! A um dos jovens, integrado naquela disciplinada molhada de requintada gente, perguntei para onde iam, agora de helicóptero. Muito simples, “horse racing”, a Melbourne Spring Cup, a corrida de cavalos mais importante do ano. Ah, afinal trata-se de perpetuar, ao modo australiano com uma festa grande e chique, a herdada tradição britânica de adorar cavalos e de os pôr a correr, com gente fina a assistir e a apostar.

Da parte da tarde, visita ao Museu de Melbourne, com uma interessante abordagem aos aborígenes, os povos autóctones do território australiano, que nos séculos XVIII e XIX foram vítimas de um quase genocídio por parte dos recém chegados ingleses, irlandeses, escoceses. A História não está esquecida e hoje, absolutamente minoritários, os aborígenes sobrevivem como podem, integrados na malha multi-étnica australiana.

Uma ronda pelos parques e jardins de Melbourne. Nos Alexander Gardens, na margem esquerda do rio Yarra, mesas e bancos para picnics e, ao lado, grelhadores eléctricos. Basta ligar o fogão para estar tudo preparado para uma valente churrascada à moda da Austrália, com uns suculentos lombinhos de porco, umas pequeninas costoletas de borrego, uns celestiais bifinhos de vaca, tenra e gostosa. Dizem-me que este tipo de grelhadores se encontra espalhado por muitos lugares e parques da Austrália.

Mais a sul, no Royal Botanic Gardens, levanta-se, na ondulação dos jardins, um pesado monumento, de 1930, construído em honra dos australianos mortos em combate na I Guerra Mundial. É uma cópia do que terá sido uma das sete maravilhas do mundo antigo, o Mausoléu de Halicarnasso, com um telhado tipo pirâmide e a larga fachada com colunas gregas. Chama-se Shrine of Remembrance, algo como “Altar da Memória” à direita do qual foi acrescentada uma pira com uma chama sempre a arder evocativa dos australianos falecidos na II Guerra Mundial e até na guerra do Vietname, na mesma altura em que nós, portugueses, andávamos pelas guerras de África.

Subo a escadaria. No interior do monumento, bandeiras da Austrália e muitas flores em volta de um quadrado no chão, de mármore negro, onde estão gravadas a letras de ouro GREATER LOVE HATH NO MAN, um versículo do Evangelho Segundo S. João, 15, 13, que significa, em tradução livre “ninguém tem maior amor pelos seus amigos (do que quem dá a sua vida por eles).”



Chego no momento do cornetim de silêncio. Toda a gente em volta, de pé, em sentido. No meu Portugal e na Guiné-Bissau, por causa das “malhas que o império tece”, há muitos anos, também fui soldado numa guerra(*). O toque de silêncio. Uma lágrima a descer pelo rosto.

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Nota do autor:

(*) Eis o testemunho: António Graça de Abreu, Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura, Lisboa, Guerra e Paz Ed., 2007.

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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18167: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XVIII: 24-26 de outubro de 2016, Sidney, Austrália


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Austrália > Sidney

Fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Parte XVIII (Segundo volume, pp. 27-32)





1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Sinopse (*):

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016;
(ii) três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);
(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017). No dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano. Navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;


(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;


(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016:

(vii) visita à Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016)


Sidney, Austrália


We got into Port Jackson( Sidney) early in the afternoon and had the satisfaction of finding
the finest harbour in the world.

Capitão Arthur Philip, em 1788


Três dias em Sidney mas poderiam e deveriam ter sido três meses. Estou num dos mais prodigiosos conglomerados urbanos do globo.

O navio chega a horas improváveis, 11,45 de uma noite de Primavera australiana, límpida e fria. Faz quilómetros e quilómetros por dentro da sinuosa baía, aproxima-se da Opera House, da Harbour Bridge e vai acostar exactamente entre este dois ex-libris de Sidney [Fotos nºs 1 e 2].

A Ópera está iluminada por um azul tenro, meio intenso, meio suave que sobressai entre ténues vapores da noite. A ponte, concluída em 1932, com quatro pilares e o arco duplo de meia volta, mostrase em tons de cinza clara e os pilares num amarelo forte. Subo ao 11º andar do Costa e faço as que serão as minhas melhores fotografias da estadia em Sidney, slides onde o real do lugar e o envolvente fantasmagórico nocturno se interpenetram.

De manhã, começo o reconhecimento da cidade no alto de um autocarro de dois pisos, Hop On, Hop Off. Subir pela Elisabeth Street até ao Hyde Park cá do sítio, avançar para King’s Road, leio que cheia de vida nocturna -- cem mil histórias, infindáveis etecetras do passado relacionados com drogas e sexo --, dar uma vista de olhos pelos cais onde estacionam as novas naus da marinha australiana, subir outra vez em direcção à Estação Central, passar ao lado da Chinatown, descer para Darling Harbour e seguir para The Rocks, completando o itinerário. Em vez de sair, continuo viagem no autocarro para uma segunda volta pelo burgo. Os mesmos lugares, agora com a noção correcta de onde descer e subir.

Saio em Darling Harbour, frente ao Museu Marítimo. Tenho diante dos olhos uma réplica da nau Endeavour [Foto nº 3], comandada pelo capitão James Cook (1728-1779), o homem que, com este barco, aportou à Nova Zelândia e às terras austrais e é tradicionalmente considerado como o descobridor da costa sudeste da  Austrália. No entanto, este vasto continente já teria sido conhecido pelos portugueses, logo no início do século XVI, quando Cristóvão de Mendonça e os seus homens navegaram desde Java até ao norte da Austrália, com chegada em 1522.

A seguir ao Museu Marítimo, a ponte Pyrmont, reservada a peões, atravessa a pequena baía e por aí encaminho os meus passos. Tudo apetecível, colorido, edifícios recentes debruçados sobre as águas, apartamentos de luxo, o museu das figuras de cera da Madame Toussaud, um aquário, outro pequeno museu da Vida Selvagem, e cafés, restaurantes, lojas caras. Até há um gigantesco casino, The Star, também hotel, com apartamentos e mais espaços comerciais. Quanto dinheiro circula todos os dias por esta Sidney?

Avanço por Market Street e subo para o centro da cidade. A Sidney Tower [Foto nº 4], com os outros arranha-céus em redor, ascende elegante aos 268 metros. Em baixo, os edifícios vitorianos de finais do século XIX, com fachadas trabalhadas e os halls de entrada decorados com madeiras e estuques, à moda antiga. Adiante, shoppings e malls do melhor por onde entrei em já tantos anos de vida, lojas de luxo, Dior, Louis Vuitton, Chanel, Versace, etc., e as mais plebeias Zara e H&M. Depois a Town Hall, a câmara municipal, de 1889, com 57 metros de altura, na época o  edifício mais alto da Austrália. 

Desço para Pittstreet e após voltas e mais voltas pelo centro de Sidney, de ter comprado umas calças em saldo, de excelente qualidade – mas made in China, como descobriria na etiqueta, mais tarde --, foram mais de dois quilómetros a pé até ao Costa, ancorado junto a The Rocks, o primeiro porto de Sidney junto ao qual a cidade nasceu e cresceu. No caminho, encontro uma cervejaria apinhada de gente onde se comemora a Oktober Fest com uma pequena banda de jovens alemães – provavelmente nascidos na Austrália --, tocando concertina, trompa e trompete, música da Baviera para alegrar gente da terra e turistas. Há dezenas de chineses debicando salsichas e outros petiscos germânicos, encharcando-se em canecas de litro, esvaziando a cerveja ao ritmo da música, imaginando-se em plena Munique. Para não destoar em tão singular paisagem humana, e porque também tenho sede, sento-me e peço meia caneca de cerveja alemã, seguramente made in Sidney.

Regresso derreado ao navio.

A manhã do segundo dia começa com visita à Ópera de Sidney.

Espantoso edifício com espantosa história. Pensado nos anos cinquenta do século passado, o desenho acabou por ser da autoria do arquitecto dinamarquês Jorn Utzon. Iniciada a construção em 1959, foram tantas as dificuldades e os custos, sempre a disparar, que o homem da Dinamarca, em 1966, deixou subrepticiamente o acompanhamento da obra e abandonou a Austrália. A Opera House teve honras de ser inaugurada em 1973 pela rainha Isabel II, de Inglaterra.

Tem duas grandes salas de concertos e quatro espaços mais pequenos onde acontecem 2.500 eventos culturais por ano. No Concert Hall, a sala maior, temos agora, em Outubro e Novembro 2016, a integral das nove sinfonias de Beethoven e no outro auditório é a My Fair Lady que enche o palco, sob a direcção de uma grande senhora chamada Julie Andrews, a Maria da “Música no Coração.”

Os edifícios, Património Mundial pela Unesco desde 2007, são soberbos. Uma série de estruturas em forma de velas brancas, ou talvez conchas, levantadas para o céu encaixam na base da construção, num todo harmonioso e único. Se soprar o vento, parece que a ópera pode levantar voo, rumo ao infinito. Mas há pessoas convencidas de que os telhados fantásticos não são velas de navio, nem conchas mas pedaços recortados de bolas de rugby, ou gomos de melão. Gente divertida e maldizente de Sidney descobriu que afinal as coberturas da Ópera correspondem a carapaças de tartarugas, com os simpáticos animais, ao alto, encaixados uns nos outros numa desenfreada orgia sexual. Também pode ser.

Por dentro, os auditórios deixam a boca, os olhos, os entendimentos escancarados de espanto. O Concert Hall está todo forrado a madeiras nobres com diferentes tons de creme e castanho a imperar. Os 2.700 lugares têm estofos de veludo vermelho-escuros. Portentosa harmonia com o todo circundante. O palco, rigorosamente afundado no centro da sala, já abaixo das águas exteriores da baía, promete cem mil maravilhas.

A Ópera de Sidney, criada pela genialidade dos homens, inserida nas margens majestosas de uma cidade única, reverenciará os deuses do céu. Os mesmos deuses que, em dia de descanso, se entretiveram, há cem mil séculos, a abrir uma enseada a quinze quilómetros de distância, e a lá colocar Bondi Beach, a mais famosa de todas as praias da Austrália.



Foto nº 5

De tarde, artilhado com fato de banho, protector solar e o meu chapéu todo o terreno, com alguns dólares no bolso, aí estou em Bondi Beach para uma tarde de intimidades pessoais com a areia e as ondas [Foto nº 5]. Estamos no fim da Primavera, com um calorzinho de 23 graus, a água do mar ainda fria mas não tão gelada como nos nossos verões atlânticos de Espinho, Nazaré ou Cascais.

Deu para uns saborosos mergulhos entre a rapaziada que surfava entusiasmada as pequenas ondas. Bondi Beach tem cerca de dois quilómetros de extensão distendidos por uma baía quase fechada, em forma de meia lua. Belo lugar e bonitas as pessoas na praia. À distância até deu para observar baleias, ao vivo e a cores. Caminhei até ao fim do lado esquerdo de Bondi Beach, subi a uma plataforma rochosa chamada Ben Buckler e, do miradouro, a menos de um quilómetro de distância, três baleias, aí de dois em dois minutos, subiam à superfície das águas para respirar, lançavam ondas de vapor e espuma no ar e voltavam a mergulhar.Tubarões é que não vi e, para meu sossego, dizem-me que os dos mares de Sidney são vegetarianos.

Regressei à cidade de autocarro, pelo alto, circundando as baías de Rose Bay e Double Bay, entre milhares de vivendas ajardinadas sossegadamente distribuídas pelo sobe e desce de ruas e avenidas, por espaços alindados que oscilam até o mar. Tanta gente rica com moradas e habitações de excelência na cidade de Sidney!



Foto nº 6



Foto nº 7

Fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Ao terceiro dia, foi tempo de partir ao encontro das Montanhas Azuis, cento e dez quilómetros a noroeste de Sidney [Foto nº 6]. Boa auto-estrada sem portagens –- o que creio acontece em toda a Austrália --, e paragem a meio do caminho, após 45 minutos de viagem para visitar uma espécie de mini-zoo apenas com animais originários da terra austral.


Logo à entrada, uma solícita empregada do parque deposita uma cobra simpática e inofensiva nas mãos da Haiyuan. O réptil sobe-lhe pelos braços e enfia a cabeça no saco que a minha mulher leva suspenso no ombro direito e onde rescende um apetitoso pacote de bolachas. A Haiyuan quase desmaia de susto mas, num ápice, a tratadora dos répteis resolve a questão, pegando na cobra, aconchegando-a em si. ]Foto à esquerda]

Depois da emoção, foi andar pelo meio dos cangurus, emus, koalas dorminhocos, aves esquisitas, até pinguins anões. A propósito, dizem-me que os ingleses, quando chegaram à Austrália, deram de caras com milhares de cangurus à solta por toda a parte e perguntaram, aos primeiros aborígenes que encontraram, qual era o nome de tão estranho animal, que jamais olhos britânicos haviam lobrigado. Os aborígenes, que logicamente não falavam inglês, responderam “kangooroo, kangooroo” o que significa num dos muitos dialectos dos autóctones desta terra “não percebemos, não percebemos nada!” Logo os ingleses, devidamente esclarecidos, passaram a chamar “cangurus” aos estranhos masurpiais.

As Montanhas Azuis, Património Mundial pela Unesco desde 2000, têm apenas 1.100 metros no cume mais elevado, mas a grandiosidade, a cor dos montes e vales que se estendem por um milhão de hectares, ao longo de cem quilómetros, surpreende, extasia, ilumina o viajante. O azulado que cobre os horizontes tem origem na bruma provocada por centenas de milhões de gotículas de óleo libertadas pela respiração das folhas dos eucaliptos gigantes agrupados em enormes florestas que sobem e descem as montanhas. [Foto nº 7]

Leura e Katoomba, duas pequenas vilas encaixadas no trepar da estrada, são poiso de artistas, poetas, amantes da natureza radicados por estes montes, longe da azáfama das grandes cidades, para aqui enxaguar os pulmões, e a alma, de ar puro. Quase todas as casas têm jardins em volta com flores exóticas, agora em tempo de Primavera.

Avanço para o Echo Point, uma plataforma em pedra debruçada sobre o aparentemente infindável vale de Jamison, coberto de bruma rigorosamente azul. Vista de estarrecer! Ao lado, três rochas quebradas pela erosão dos séculos são conhecidas como as Três Irmãs. Uma escadaria com 861 grandes degraus conduz ao fundo do vale. Não desço. Subo para um teleférico que cruza um desfiladeiro a quase trezentos metros do solo. Do outro lado, tomo outro teleférico que desce mais 545 metros até às profundezas do vale. Uma caminhada de quase dois quilómetros no sopé da montanha, que inclui passagem por uma mina de carvão de pedra há muito desactivada, leva-me à mais original estação de comboio que vi em toda a minha vida. Os rails sobem com uma inclinação de 52 graus. Estou na via férrea mais empinada do mundo. A subida é vertiginosa, um chiar e chocalhar constante das pequenas carruagens, numa espécie de mergulho mas ao contrário, em vez de descer, subo a pique por dentro de um túnel rasgado na rocha, saio entre vegetação luxuriante ao lado de uma cascata como que suspensa no ar. Os passageiros debruçados, encavalitados nos assentos do mini-comboio, acabaram de viajar, com todo o rigor, com o coração ao pé da boca.

À saída, lá em cima, da minha parte, nenhuma tensão. Apenas outra vez o sossego, o olhar perdido na névoa das fantásticas Montanhas Azuis.

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