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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13517: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (4): "Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
É redundante referir que a descolonização deixou feridas por sarar, em vários países.
Neste livro, Jacques Soustelle profere uma dolorosa litania a pensar fundamentalmente na Argélia que ele tão bem conheceu e tanto amou. Estudou o dossiê português, do lado nacionalista, e faz a sua defesa, ponto por ponto.
É um documento muito bem escrito, não é por acaso que ele foi alçapremado à Academia Francesa. Há quem continue a insistir, no caso português, que outra descolonização era possível. Há nacionalistas corajosos, caso de Jaime Nogueira Pinto, que já veio a público dizer que depois de muito estudar considera que outra via para a descolonização portuguesa não teria andado longe do que aconteceu com a que se praticou e está abundantemente documentada. Ora cá está um bom tema para férias, questionar o passado mais pela razão e menos pelo coração.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (4)

Carta aberta às vítimas da descolonização

Beja Santos

“Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle, Parceria A. M. Pereira, Lda., 1973, foi uma obra que deu brado em França mas também em Portugal, onde recebeu grande aplauso de praticamente todos os adeptos da causa do Ultramar. Acrescia o facto desta carta-libelo sair do punho de uma personalidade eminente: Soustelle (1912-1990) tinha elevadas credenciais no campo da etnologia (os seus estudos na investigação da América Pré-Colombiana ainda hoje são de referência obrigatória), combateu na França Livre e foi ministro por várias vezes de Charles De Gaulle, teve elevadas responsabilidades na Argélia francesa, comprometeu-se com a OAS, o que o levou ao exílio; foi deputado e membro da Academia Francesa.

Esta carta dedicada à descolonização tem sempre a Argélia na mira, é pungente, documentada, elogia o esforço português na guerra em África. Tem um interlocutor, é Ibrahima Gueye, fala saudosamente de um projeto: “Sabíamos que já mais poderiam desaparecer entre os nossos povos as relações entre dominante e dominado, os complexos de superioridade ou de inferioridade, o desprezo racista. Pensávamos que as colónias deviam ser transformadas em províncias, regiões, Estados de uma grande federação multirracial, em redor da República Francesa”. Lê-se hoje e pensa-se no federalismo de Spínola. É uma carta onde se fala de destroços, da África arruinada, comandada por tiranos megalómanos, mas os mortos-mártires da Argélia pesam sempre, tanto ou mais que os franceses expulsos, o que dói mais é a sorte de cinco ou seis mil franceses e francesas desaparecidos para sempre, a morte no meio dos suplícios mais cruéis de cento e cinquenta mil muçulmanos culpados por terem acreditado na Argélia francesa, os muitos chacinados.

Increpa-se contra a denominação de Terceiro Mundo, eufemisticamente tratados como países em vias de desenvolvimento e diz frontalmente: “Os seus recursos insuficientes não conseguem fazer face a uma população que aumenta sem cessar. A esse desequilíbrio fundamental juntam-se, muitas vezes, os erros de uma administração incapaz ou corrompida, a exploração cínica de alguns países por um neocolonialismo que revela todos os defeitos do antigo, o militarismo desencadeado nos Estados sem elites formadas, o gosto pelo dinheiro e pelo luxo entre alguns privilegiados em confronto com a profunda miséria do povo. Com raríssimas exceções, é este o panorama que se revela na maioria dos antigos territórios coloniais: emancipados sob a férula de generais, coronéis e comandantes, com certeza mais ditatoriais e tirânicos – e até menos competentes – do que os piores governadores de outros tempos”.

É a carta de um europeu que se dirige àqueles que foram os seus compatriotas de além-mar. Alude nostalgicamente à vocação euro-africana na França, de que foi grande participante. Todos perderam com as soluções precipitadas daquelas independências: voltou o tribalismo, a mais degradante tirania feudal, enumera as violências de Bokassa, de Sekou Touré, e de tantos outros. É inadmissível, diz, haver um progresso nestes países em comparação ao que vivia no período colonial: “A verdade é que os povos nada ganharam com a nova situação, a não ser o fato de terem conhecido novos patrões”. A descolonização falhou em toda a parte, regrediu-se, esbanjou-se em projetos megalómanos de industrialização descurando as potencialidades que estavam a ser aproveitadas, e de novo fala na Argélia.

Antigo amigo de De Gaulle, refere a conferência de Brazzaville, de 1944, onde alguns dos mentores da França Livre se comprometeram a garantir a unidade política do mundo francês e a respeitar a liberdade local de cada um dos territórios além-mar, e critica profundamente as opções de De Gaulle que levaram ao abandono da Argélia. É neste contexto que elogia a política de Lisboa com a África portuguesa. Faz a ironia com a propaganda do PAIGC: “Amílcar Cabral pretende afirmar a cada passo que libertou dois terços ou quatro quintos da Guiné portuguesa, que assim se revela como um dos países mais extensos do mundo, porque as guerrilhas de Cabral avançam sem cessar desde há perto de dez anos, sem nunca chegarem a ocupar inteiramente esse território”. Recorda igualmente que a escravatura não foi uma invenção dos europeus, os africanos foram espancados, exterminados e escravizados, sem qualquer intervenção exterior, durante muitos séculos e observa: “Os árabes muçulmanos foram durante séculos os mais encarniçados caçadores de homens através dos seus mercados de escravos e de mulheres que alimentassem os haréns, e sabe-se ainda que nas Nações Unidas alguns países, que têm direito a voto e condenam virtuosamente o colonialismo, continuam a praticar a escravatura”.

Procura realçar paradoxos como ninguém se chocar com o império Russo na Ásia com os seus muçulmanos colonizados enquanto a opinião mundial anda permanentemente agitada com os muçulmanos argelinos, os árabes israelitas e palestinianos. Os ditadores africanos dedicam-se a práticas tribais e a um racismo que os revolucionários tenham a ignorar caso de Idi Amin Dada, Bokassa, Mobutu, entre outros. E regressa à África portuguesa, Soustelle considera que os portugueses são um povo isente de racismo, que não há discriminação racial nos territórios portugueses, que a despeito de muito atraso se progrediu muito na saúde e que o governo de Caetano tem implementado reformas corajosas. E questiona quem são os responsáveis da luta desencadeada contra as províncias portuguesas do Ultramar: aponta o dedo para Argel, para o coronel Boumediène, que deu guarida aos partidos terroristas. Fala nos apoios militares soviético e chinês, e também cubano, das armas soviéticas, checas e chinesas. Fala dos perigos do controle soviético nestas paragens, parece um general português da velha escola: “Possuir as ilhas de Cabo Verde, como também Moçambique, é possuir uma enorme vantagem, talvez decisiva, no caso de conflito mundial. Nas mãos de um país neutro, despojado de todo o intento agressivo, mas pró-ocidental, estas ilhas constituem um elemento de segurança da Europa, especialmente porque que cobrem as linhas de comunicação à volta de África. Em poder de um estado imperialista, ameaçariam estas linhas vitais; a experiência da última guerra demostra que o Mediterrânio pode ser parcial ou completamente fechado, e é então que o acesso ao oceano Índico, ao Golfo Pérsico, ao petróleo do Médio Oriente, depende da possibilidade dos navios contornarem o continente africano”.

Jacques Soustelle estudou o dossier português na perfeição, no todo as suas posições confluem para as do governo de Marcello Caetano. E, por último, a carta-libelo regressa aos problemas da francofonia em África, aos demandos governamentais dos adeptos do socialismo africano, alerta para o perigo de se estar a falar cada vez menos francês em África. Ponto por ponto, desmonta o fiasco da descolonização argelina, mas também a cooperação que se envolve em projetos inúteis. Jacques Soustelle é frontal, é hipercrítico e é emotivo. E ao despedir-se questionando o seu interlocutor como será possível fazer frente às pesadas ameaças que cobrem o futuro, escreve; “Ninguém poderá dar uma resposta a esta pergunta, atualmente. Eis a razão, Ibrahima, porque escrevo uma carta tão longa e sem rodeios: já que as minhas inquietações e as minhas queixas são as de um homem que amou o vosso país e o vosso povo e que, por que não confessá-lo, os ama ainda hoje com todo o seu coração”. Pense o que se pensar desta catilinária, foi um documento que fez época e que caiu bem nas hostes já muito desorientadas dos ultranacionalistas portugueses.

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Na mesma manhã e no mesmo bricabraque onde comprei o livro de Jacques Soustelle, há muitos anos emprestado e desaparecido, encontrei numa caixa esta estampa, um primor de trabalho daqueles tempos em que qualquer livro que se prezasse trazia gravuras e estampas.
Gostei muito desta Aixa, sultana de Granada, e é com satisfação que a ofereço ao blogue.

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13491: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (3): A literatura de Mickey Spillane

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13386: Inquérito online: num total de 107 respostas, 74 (69%) não tiveram conhecimento de eventuais execuções sumárias de prisioneiros no CTIG... Só 7 dizem que foram testemunhas presenciais. Comentários de Virgínio Briote, Augusto Silva, Manuel Lomba e Cherno Baldé


Guiné > Região do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Um prisioneiro, elemento suspeito de ser do PAIGC.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


I. Terminou,  às 22h de 3 de julho de 2014,  uma das nossas pequenas "sondagens",  desta vez  sobre um tema "melindroso", que pode ferir as suscetibilidiades de alguns camaradas nossos, mas em relação ao qual não podemos deixar de ter opinião, em nome do nosso direito à memória mas também ao nosso direito ao bom nome... Não temos cadáveres escondidos no armário, falamos de tudo (ou quase tudo) com serenidade, isenção, preocupação de rigor e verdade e direito ao contraditório...

E sobretudo não queremos que daqui a 10, 20, 30, 40 ou 50 anos, quando nós já não estivermos cá, venham fazer acusações gratuitas a uma geração que, na sua generalidade, combateu nas bolanhas e matas da Guiné com honra, coragem e humanidade, dando oportunidade aos políticos da época para encontrarem soluções para a paz...

A guerra que travámos na Guiné não se compara com outras que, histórica e geograficamente, lhe estiveram próximas: por exemplo, a guerra da Argélia (1954-1962), uma dupla guerra de descolonização e uma guerra civil, uma das mais violentas e cruéis do séc. XX. Ainda hoje são polémicos os números das baixas entre civis, guerrilheiros e militares. Para não falarmos da ocorrências, e das acusações, de um lado e doutro, de massacres, tortura e execuções sumárias...

Em todo o caso, a investigação historiográfica (e a documentação) sobre a guerra da Guiné é muito pobre e limitada quando comparada com a da guerra da Argélia... Nem a Argélia era a Guiné, nem a FLN - Frente de Libertação Nacional era o PAIGC, nem Ben Bella (1916-2012) foi o Amílcar Cabral (1924-1973), nem o nosso exército era o exército francês, e muito menos eram os mesmos os interesses em jogo... Recorde-se que numa população de 10 milhões,  em 1954, 1 em cada 10 era de origem europeia, colonos ou descendentes de colonos (mais tarde chamados "pieds noires").

Os resultados da nossa sondagem, que obteve 107 respostas, têm de ser interpretados com todas as reservas, já que o voto é anónimo, não sabemos quem votou, não podemos sequer controlar os votos de gente eventualmente mal intencionada ou que nem sequer tenha combatido no TO da Guiné. Além disso, o voto pode ser feito pela mesma pessoa em computadores diferentes... Portanto, há risco de vieses e sobretudo a amostra de modo algum representa (nem era essa a intenção) o vasto e complexo de universo combatentes  que passaram pela Guiné, entre 1959 e 1974. Cremos, em todo o caso, que as respostas são-no de camaradas que fazem parte da Tabanca Grande, que nos leem regularmente, que partilham dos nossos princípios e  valores, e que responderam de boa fé. Apresentamos a seguir alguns comentários sobre este tema.


II. Sondagem sobre "eventuais execuções sumárias de elementos IN, por parte das NT, no CTIG"...

Respostas (n=107)

1. Nunca participei
11 (10,3%)

2. Nunca assisti
12 (11,2%)

3. Nunca ouvi falar
51 (47,7%)

4. Participei
1 (0,9%)

5. Assisti
6 (5,6%)

6. Ouvi falar
25 (23,4%)

7. Não sei ou não me lembro
1 (0,9%)

3. Comentários de 3 camaradas nossos,  V. Briote, A. Silva Santos, M. Lomba, e 1 amigo guineense, o Cherno Baldé, todos grã-tabanqueiros (*)


(i) Virgínio Briote [ex-al mil cmd, cmtd Gr Diabólicos, CCmds, CTIG, Brá, 1965/67] [, foto à direita do Café Bento, maio de 1965]

Estive lá [, em Jolmete,]  com o meu grupo cerca de uma semana em Out/Nov 65, a render o grupo do Luís Rainha (o Júlio Abreu deve ter lá estado) que durante o ataque (que julgo ter sido o 1.º) teve três feridos, um dos quais com muita gravidade. A Companhia que lá estava era comandada, salvo erro, pelo cap. Corte Real (mais tarde morto numa mina a/c entre Farim e o K3. 

Durante o tempo em que lá permaneci não me lembro de ter ouvido qualquer alusão a esses fuzilamentos. Contactámos com a população, nomadizámos na zona, vimos barracas abandonadas, notava-se agitação recente naquela zona. Mesmo em Teixeira Pinto, onde estivemos em trânsito, à ida e no regresso, não me lembro de ter ouvido o que quer que fosse sobre o assunto. 

Não ponho em dúvida que tal facto tenha ocorrido, quem participou em confrontos armados sabe o que é a Guerra e como ela transforma os homens. Algo surpreendente é que tal facto tenha escapado a tanta informação produzida durante treze anos de luta e surja apenas 40 anos depois da guerra ter terminado. (...)


(ii) Augusto Silva Santos [ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73]

(...) Eu estive em Jolmete durante todo o ano de 1972, incorporado na CCaç 3306 / BCaç 3833. Apesar da distância temporal entre os factos relatados e a minha presença em Jolmete, nunca senti da parte da população da tabanca, qualquer animosidade para com as NT relacionadas com essa possível ocorrência, nem nunca ouvi falar desse eventual massacre.

Sem querer pôr em causa o que relatou o nosso camarada António Medina, julgo que se tal acontecimento tivesse de facto ocorrido, o mesmo seria por certo perpetuado ao longo dos tempos, até por implicar morte de familiares. Gostaria ainda de salientar que, na altura da minha passagem por Jolmete, o filho do então régulo era o Cajan, que pertencia ao Pelotão de Caçadores Nativos, e com o qual eu tinha um relacionamento próximo e com quem falava com alguma frequência sobre os mais variados assuntos, e nunca o ouvi mencionar fosse o que fosse sobre semelhante ocorrência, embora tenhamos por exemplo falado sobre a morte dos oficiais portugueses ocorrida na estrada Pelundo / Jolmete. 

O Cajan, como sucessor legítimo por morte do pai, é ainda hoje o régulo de Jolmete, apesar de ter colaborado com as NT. Porque me poderia na altura ter escapado alguma informação sobre este possível caso, e para não estar aqui a relatar algo incorrecto, entrei em contacto com ex-camaradas meus daquela CCaç, um dos quais muito próximo do comando da Companhia,  e todos eles foram unânimes em afirmar que não ouviram falar sobre semelhante situação. 

Talvez o camarada António Medina (**) esteja na posse de mais elementos que possam esclarecer melhor o que de facto ocorreu. (...)


(iii) Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]

Como ciência e arte humana de matar em escala, a guerra contém de tudo - até crimes.

Em 1964/65, o Comando-chefe (gen A. Schulz) lançou-nos como tropa de intervenção pelo norte, centro e sul da Guiné, em missões de emboscadas, batidas e "cerco, assalto, busca e destruição" às tabancas onde as populações já estariam para o PAIGC como a água para o peixe. E era o medo que nos impelia a metralhar instintivamente tudo o que bulisse, folha, bicho ou gente. E assim fomos colhendo algumas eliminações, mais de populares que do IN, que não serão a mesma coisa que execuções premeditadas, aqui invocadas como sumárias - crimes abomináveis.

Fomos lançados na guerra da Guiné não como criminosos, mas como soldados. Os combates foram recorrentes, durante toda a nossa comissão e foi o seu contexto que nos formou a consciência e a ética de realizar as missões subordinados ao seu primado.

Aconteceram episódios de execução, de prisioneiros sob custódia, em pequeníssima escala, não pelo código de guerra das nossas FA, mas pela multiplicidade das idiossincrasias dos seus membros. Fiz público o conhecimento dum caso e da sua generalizada reprovação.

Se Amílcar Cabral mandasse entregar à tropa os seus correlegionários que condenou à morte, no I Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, por crimes de delito comum, eles teriam escapado à execução dessa pena, porque seriam tratados não como cidadãos bissau-guineenses, mas como cidadãos portugueses. Sob a bandeira de Portugal, a Guiné funcionava como Estado; o Estado que aquele líder acabava de criar nesse congresso não passaria da ficção. 

A partir da execução por enforcamento do famigerado Vegueiro, no século XIX, jamais haverá em Portugal julgamentos ou condenações à morte. 

Amílcar Cabral coexistiu em Bissau e Fá com o governador e com a PIDE e os fundadores do MLG, provocadores do "massacre" do Pidjiquiti e do terrorismo em Susana e Varela e os principais quadros do PAIGCV que a PIDE prendeu, com a ajuda do Exército, foram sujeitos a julgamento judicial, uns absolvidos e outros condenados a prisão, que cumpriram em Bissau ou no Tarrafal. Esses acontecimentos serão coevos ao "massacre de Jolmete". (...)


(iv) Cherno Baldé [, foto à esquerda,  jovem estudante em Kichinev, Moldavia, dezembro de 1985; é quadro superior, vive em Bissau]

(...) Acho que assistimos a um debate importante e muito interessante sob todos os pontos de vista que, de certo modo, confirma uma das forças do pensamento europeu e ocidental, que é a força da contradição.

Gostei do comentário de Manuel Carvalho, tão directo e profundo que faz recordar os clássicos da filosofia grega.

Prestei especial atenção ao texto do amigo Manuel L. Lomba que resume a situação e acaba com o vazio das dúvidas que podiam existir.

Facto relevante e uma possível pista a explorar sobre o episódio da emboscada em Jolmete pode estar relacionado com o MLG  [, Movimento de Libertação da Guiné,.] que tinha um contencioso, no meio de grandes rivalidades, com o PAI de Amílcar Cabral (ver o livro de Julião Soares). Assim, os homens da tal emboscada podiam pertencer a um outro movimento que não o PAIGC. É uma mera hipótese que poderá explicar o desconhecimento ou o silêncio por parte do PAIGC sobre este trágico acontecimento.

Eu acredito na versão do A. Medina que, a meu ver, não tem nenhum interesse em denegrir a imagem de Portugal e das forças armadas que o próprio serviu na juventude.

Precisamos é  reflectir, sem tabus, sobre as causas que poderiam ter levado a tais excessos. Não é segredo nenhum se se disser que a colonização sempre se fez com base na utilização da repressão, logo da violência, a mesma que serviu de pretexto, aos nacionalistas, para a Guerra de "libertação" que acabou por nos prender nas malhas da tirania que hoje conhecemos. (...)
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Notas do editor

(*) Vd. postes de:

30 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13349: Sondagem sobre a ocorrência de eventuais execuções sumárias de elementos IN ou pop, por parte das NT, no CTIG

26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina

(**) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois