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sábado, 29 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24516: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte V: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: as primeiras duas baixas em combate


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió (1956)  (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Catió e alguns rios envolventes: Tombali, Cobade, Umboenque, Ganjola, etc.

Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960)    (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Cabedú, e dos rios Cumbijã e Cacine.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação de alguns alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (*). É mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.

Uma cópia da história da unidade foi oferecida ao Centro de Documentação 25 de Abril, em vida, pelo então major general Monteiro Valente, ex-elemento do MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril. (Foi também comandante da GNR, e era licenciado em História pela Universidade de Coimbra.)
 

Acrescente-se ainda que o cap inf Monteir0 Valente, entre outros cargos e funções, foi instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974). (Foto à direita, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).

Uma cópia (não integral) desta história da CCAÇ 2792, chegou-nos às mãos há uns largos tempos.


História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte V:

Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970:   as primeiras duas baixas em combate


3.Actividades: 

a. Inimigo

(i) Catió: 

Às 20h21, do dia 30 de novembro de 1970, o IN flagelou o reordenamento de Ilhéu de Infandre, à distância,m com armas pesadas (Morte 82), instaladas na bolanha de Catunco (Ilha do Comoo). A reação consistiu na resposta da artlharia de Catió, sendo efetuada uma patrulha ofensiva de reconhecimento na manhã seguinte.

A 28, às 6h30, o IN flagelou Catió com foguetões 122. Os projeteis resultaram curtos no alcance, não produzindo danos, Foi efetauada imediata contraflagelação sonre a base de fogos de Boche-Bissá.

Em 4 de dezembro. às 00h14, nova flagelação de Catió com foguetões 122 mm. Foram ouvidos 4 rebentamentos que resultaram curtos, não provocando danos.

(ii) Cabedú: 

Em 30 de dezembro, pelas 10h11, o IN reagiu a uma patrulha das NT, emboscando-as em Cacine 5 D1-94, e causando-lhe duas baixas.

Apreciação: A atividdae IN não teve expressão significativa. A acção sobre o reordenamenmto de Ilhéu de Infanda teve, provaveelmente,  a intenção de  experimentar a reação das NT, recém-chegadads.

Nas acções de flagelação o IN procurou causar baixas e danos, furtando-se com esses procedimentos ao contacto com as NT que lhe poderiam causar baixas,

b. Nossas Tropas (NT)

Durante o período (novembro-dezembro de 1970) procedeu-se à rendição das guarnições de Catió e Cabedú, Simultaneamente, e ainda durante o perído de sobrepposição,  procurou-se reconhecer a ZA, de modo a permitir o seu conhecimentio e familiarizar os Gr Comb  com o terreno de atuação.

A atividade adotada foi baseada em patrulhamenntos constantes.

(i) Cató:

Foram realizadas as seguintes patrulhas de reconhecimento:
  • Bolanhas situadas entre os rios Cobade e Camechae (21 novembro de 1970);
  • Região de Cubaque (24 nov);
  • Bolanhas situadas a sul do rio Cagopere (1 dez);
  • Estrada Catió-Cufar (2 dez);
  • Região de Cuducó (14 e 20 dez);
  • Região de Cubaque (18 dez).

Diariamente 1 Gr Comb garante a defesa do reordenamento do Ilhéu de Infanda

(ii) Cabedú:

A pequena guarnição de Cabedú, fronteira ao Cantanhez onde o IN dispõe de ampla liberdade de ação e posições muito fortes, continuou a adotar o sistema de armadilhamento, herdado da guarnição anterior, em que procura isolar a área, sob o seu controlo, da que se encointra sujeita ao IN.

Foram realizadas as seguintes patrulhas de reconhecimento:
  • Cabanças do rio Lade (5 e 6 dez);
  • Região de Madina (7  e 23 dez);
  • Região de Cabanta (10 dez)
Nesta ação de patrulhamento ofensivo às região de Cabanta, a 10 de dezembro, as NT foram emboscadas com armas automáticas ligeiras, LGFog e Mor 60, por um Gr IN na região de Cacine 5 D1-94, sofrendo as primeiras baixas em combate no TO da Guiné: 

- Sold at inf, nº mec 00504170, Manuel Pereira Gomes (viria a facelecer a caminho do HM 241);

- Sol at inf, nº mec. 00555870, Josué Ferreira da Silva (viria a ser evacuado para o HMP em 1 de fevereiro de 1971). 

Foram os primeiros militares da Companhia a regar com o seu sangue o solo da Guiné.

Outras patrulhas de reconhecimento:
  • Região de Tarrafo (14 e e 25 de dez);
  • Região da Ponte (16 e 27 dez);
  • Região de Candasse (?)  (19 dez).

No decorrer da patrulha de reconhecimento, do dia 27, as NT accionaram  uma armadilha que por elas havia sido implantada., sofrendo 3 feridos ligeiros (1 militar e 2 milícias): 

- solda at inf nº mec  00777770, Miguel Cuerreiro Correia; 
- cmdt Pel MIl nº 141/66, Duramane Aidorá;
-  sold mil nº 146/60, Lamina Camará.

O 5º Pel Art executou fogos de flagelação.

No campo socioeconómico e psicólófgico, há a destacar o reordenamento do Ilhéud e Infanda:

Recebeu esta sububnidade a missão de cocnluir o reordenamento do Ilhéu de Infanda. trata-se de um reordenamento situado  a cerca de 5 km  a SE de Catió, constituído por 108 casas,e  que agrupa as populações  das antigas tabancas do Ilhéu de Infanda e Quibil, num total de 700 pessoas

Fonte: Excertos da história da unidade, pp. 22/II a 24/II. 

(Seleção / revisão e fixação de texto / substítulos / negritos: LG)
___________

Nota do editor:

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23904: Documentos (41): "Diploma de Cobra", outorgado pelo cap inf Jorge Parracho, cmdt da CCAÇ 3325, "Cobras" (Guileje e Nhacra, 1971/72) ao seu amigo e camarada do tempo da Academia Militar, cap art Morais da Silva, cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael e Nhacra, 1970/72)

 

Diploma de Cobra

Ao Capitão de Art António Carlos Morais 
da Silva como reconhecimento da CCAÇ 3325 pela
amizade e apoio incondicional que dispensou a esta 
unidade se outorga o grau de "Cobra" honorário.
E por ser verdade e como apreço da CCAÇ
3325,  lhe é passado o presente diploma que usurá
"in aeternum"

O Comandante
JSParracho
cap"

[ Cortesia do cor art ref Morais da Silva]




Foto nº 39



Foto nº 39A


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325, "Cobras de Guileje" (jan / dez 1971) > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda > O cap Jorge Parracho (o segundo a contar da direita, na foto nº 39A) com a malta do 5º Pel Art que era comandado pelo alf mil art Cristiano Neves... Operavam três peças de 11,4 cm, apontadas para a fronteira.

O primeiro militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, na foto nº 38B, é o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro. Também passou por Bedanda (CCAÇ 6) e depois pelo HM 241, em Bissau. Os "Cobras de Guileje" estavam longe de imaginar o que aconteceria àquele aquartelamento, um dos melhores da Guiné, dois anos depois... Foi aqui, em 18 de maio de 1973 que começou a Op Amílcar Cabral... (em que o PAIGC mobilizou t0dos os seus meios para "varrer do mapa" o quartel e a tabanca (fula) de Guileje...

As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não traziam legendas, vinham apenas numeradas. Foram por sua vez partilhadas com o nosso blogue pelo nosso saudoso amigo Pepito, o engenheiro agrónomo Carlos Schwarz Silva  (Bissau, 1949-Lisboa. 2014), então diretor da ONG AD e principal promotor do projecto museológico de Guileje. A legendagem é da responsabilidade do editor L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. "Diploma de Cobra" foi um singelo docmnento que me chegou às mãos,  enviado, oportunamente, em 4 de junho de 2022, pelo cor art ref Morais da Silva, na sequência de um mail quem entretanto,  enviara a um grupo de camaradas que tinham passado por Guileje, Gadamael e Bedanda. 

Tinha a intenção de o publicar como prova dos fortes laços de amizade e camaradagem que se criaram, na altura, entre as NT, no TO da Guiné, a par do sentido de humor de caserna que a guerra também cria e alimenta...

Publico, hoje, na série "Documentos" quando se volta a falar de Guileje, com a morte do cor art ref Coutinho e Lima (Viana do Castelo, 1935-Lisboa,2022). Acrescentava na altura o cor art ref Morais da Silva, à laia de legenda:

"A CCaç Ind 2796 (que comandei em Gadamael) e a CCaç 3325 (Jorge Parracho- Guilege) coabitaram a mesma zona durante 1 ano. O Jorge é do meu curso da AM (veterano) e somos amigos e companheiros de canseiras na Guiné. Dele recebi esta prova de estima e reconhecimento quando terminou a comissão."

Sei que o Jorge Parracho é natural de Mafra e o Morais da Silva é de Lamego. Aos dois deixo publicamente o meu agradecimento e os meus votos de Bom Natal e Melhor Ano Novo de 2023.
___________


(**) Último poste da série > 24 de maio de 2022 > Guiné 61/74- P23287: Documentos (40): A conferência do cor inf Hélio Felgas, proferida na Academia Militar, sem papas na língua, em 10/4/1970 (e depois publicada como artigo na Revista Militar, nº 4, abril de 1970, pp. 219-236), que o Amílcar Cabral leu e achou lisonjeiro para si e o seu Partido, citando-o no Conselho de Guerra de 11/5/1970

sábado, 4 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política


Foto nº 39


Foto nº 39A


Foto nº 39B

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325, "Cobras de Guileje" (jan / dez 1971)  > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda > O cap Jorge  Parracho (o segundo a contar da direita, na foto nº 39A) com a malta do 5º Pel Art que era comandado pelo alf mil art Cristiano Neves... Operavam três peças de 11,4 cm, apontadas para a fronteira. 

O primeiro militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, na foto nº 39B, é o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro. Também pssou por Bedanda (CCAÇ 6) e depois pelo HM 241, em Bissau. 

Os "cobras de Guileje" estavam longe de imaginar o que aconteceria àquele aquartelamento, um dos melhores da Guiné, dois anos depois... Foi aqui, em 18 de maio de 1973 que começou a Op Amílcar Cabral... (em que o PAIGC mobilizou t0dos os seus meios para "varrer do mapa" o quartel e a tabanca (fula) de Guileje...

[As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não traziam legendas, vinham apenas numeradas. Foram por sua vez partilhadas com o nosso blogue pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), então diretor da ONG AD e principal promotor do projecto museológico de Guileje. A legendagem é da responsabilidade do editor L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]  


1. A Comissão para o Estudo das Campanhas  de África (1961-1974), mais conhecida pelo acrónimo CECA, fez um trabalho notável de recolha, análise e sistematização da informação sobre o  dispositivo e a actividade operacional no TO da Guiné,  por anos e por contendores (NT e PAIGC). O  título genérico é Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (e abrange os diversos teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique).

Referimo-nos, em particular,  ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos  seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar,  merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, para mais tendo em conta que estamos já recordar uma importante efeméride (que vai ocorrer daqui a um ano):  trata-se dos acontecimentos político-militares de 1973, e em particular de maio/junho de 1973, à volta de 3 aquartelamentos fronteiriços emblemáticos (Guidaje, Guileje e Gadamael), mas também antes e depois daqueles dois meses de brasa (assassinato de Amílcar Cabral, em 20/1/1973, a utilização do míssil terra-ar Strela contra a nossa aviação, pela primeira vez, em 25/3/1973,  o fim do mandato Spínola como com-chefe e governador geral em 6/8/1973, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24/9/1973, etc.).(*)

O ano de 1973 foi um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas.  O PAIGC perde o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, 

Por seu turno, Spínola regressa a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos. 

Aqui vão, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.

É bom lembrar que,  "do outro lado", resta pouca informação documental... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".

Além disso, "os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde estão a ser objecto de digitalização integrados no Arquivo Amílcar Cabral, uma iniciativa de grande mérito", como escreveu aqui há muito o nosso amigo e camarada Nuno Rubim, em poste de 9 de maio de 2010 (**)

Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA.



CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.1. Actividade política


Num dos primeiros dias do ano, Amílcar Cabral proferiu um importante discurso em Conacri, no qual esboçou a sua previsão para a evolução da situação e definiu alguns dos objectivos estratégicos para o ano vindouro.

Assim, referiu que a situação na Guiné iria evoluir de "uma Colónia que dispõe de um movimento de libertação para um País que dispõe de um Estado que tem parte do seu território ocupado por forças armadas estrangeiras", marcando, como sucessivos estádios dessa evolução, a entrada em funcionamento de um órgão supremo de soberania, a proclamação de um estado, a criação de um poder executivo, seguindo-se a proclamação de uma constituição.

Nessa perspectiva, salientou a criação da Assembleia Nacional Popular em 1972, constituída por 120 membros, entre os quais 80 pertencentes às "regiões libertadas", pretendendo dar a ideia de que a Guiné reunia já as condições para ser um estado democrático, independente, com órgãos próprios eleitos pelo seu povo, a que faltava apenas expulsar alguns redutos de forças invasoras vindas de um país estranho.

Amílcar Cabral referiu também a necessidade de intensificar a guerrilha em todas as frentes e nos centros urbanos, com base numa organização clandestina, sabotando meios, destruindo instalações e causando o maior número de baixas na retaguarda, e que, no novo ano, seriam utilizados novas armas e meios mais poderosos.

Os acontecimentos subsequentes, embora ensombrados de início pelo assassinato de Amílcar Cabral, vieram trazer substancial confirmação às expectativas criadas pelo referido discurso, passando a observar-se uma dinâmica mais acelerada em quase todos os domínios, devendo salientar-se a reunião extraordinária do Comité Executivo de Luta e a realização do 2º Congresso do PAIGC, no qual se procedeu à declaração de independência do Estado da Guiné-Bissau.

Assassinato de Amílcar Cabral

Em Janeiro, o Quartel-General das Forças Armadas Portuguesas considerava haver um clima favorável à internacionalização da luta armada que se vivia no interior do território, podendo admitir-se a intervenção de forças estrangeiras de países ou organizações, em reforço ou apoio do PAIGC.

Por isso, foi com surpresa que se tomou conhecimento do assassinato de Amílcar Cabral, ocorrido em 20 de Janeiro em Conacri e levado a efeito por Inocêncio Kani, guinéu natural de Bubaque, o que veio alterar o tempo e o modo de evolução dos acontecimentos a partir daí. O autor confesso do crime ocupava um alto cargo na hierarquia do PAIGC como comandante da Marinha e tinha sido treinado na União Soviética durante um ano.

O acontecimento imediato mais relevante foi a nomeação, em 2 de Fevereiro de 1973, de Aristides Pereira, até aí Secretário-Geral Adjunto, para as funções de primeiro responsável pela direcção superior do Partido, interinamente, até à nomeação ou decisão do Conselho Superior de Luta, órgão supremo das decisões do PAIGC, entre congressos.

O Presidente da República da Guiné, Sekou Touré, passou também a exercer marcada influência na condução dos acontecimentos, quer na intensificação da luta armada no terreno, quer na condução da luta política, quer no sentido de acelerar a proclamação da independência do Estado da Guiné-Bissau. 
[Cinquenta anos depois, ele continua a ser um dos suspeitos da autoria moral do assassinato (não diz a CECA mas acrescentamos nós).]

 Por sua influência, foram transferidas estruturas do PAIGC de Conacri para junto da fronteira e mesmo para o interior do território português e foi pedido o comprometimento de países africanos na intervenção armada no conflito.

Em resultado de rivalidades entre guinéus e cabo-verdianos, que entretanto se tomaram mais vivas, a actividade política do PAIGC foi reduzida nos eses de Janeiro e Fevereiro.

O assassinato de Amílcar Cabral deu origem também a um inquérito levado a efeito por iniciativa de Sekou Touré, no qual participaram representantes de Cuba, Argélia, Egipto, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Zâmbia, Tanzânia e delegados da Frelimo, PAIGC e República da Guiné.

Foram inquiridas 465 testemunhas. Quarenta e três indivíduos foram incriminados por participação no assassinato, nove acusados de cumplicidade e quarenta e dois suspeitos.

Correram também notícias de algumas dezenas de execuções.


Reunião do Conselho Executivo de Luta

A reunião deste órgão do PAIGC decorreu entre 7 e 9 de Fevereiro, tendo ficado decidido:

(i) apressar o inquérito ao assassinato de Amílcar Cabral e proceder com brevidade ao castigo dos culpados e seus cúmplices;

(ii) incrementar os trabalhos tendentes à reunião da Assembleia Nacional Popular numa das regiões libertadas e proclamar o Estado da Guiné-Bissau;

(iii) convocar o Conselho de Guerra visando a intensificação da luta armada no terreno em todas as frentes, nos centros urbanos, a intensificação da luta política clandestina, a mobilização das acções de massas e a reestruturação da Marinha;

(iv) preparar a próxima reunião do Conselho Superior de Luta, recolhendo sugestões e propostas para a nomeação do novo Secretário-Geral;

(v) confirmar a confiança em Aristides Pereira, Secretário-Geral Adjunto, como primeiro responsável, para dirigir o Partido até à reunião do Conselho de Luta;

(vi) reforçar a segurança;

(vii)  reafirmar a decisão inabalável de libertar a Guiné e Cabo Verde do domínio português;

(viii) consolidar as relações de amizade com a República da Guiné, Senegal e outros países, nomeadamente países socialistas e Suécia.

Em resultado das decisões tomadas e dos procedimentos postos em prática, em Março o PAIGC apresentava-se politicamente estabilizado, os incriminados no assassinato de Amílcar Cabral foram condenados à morte por  fuzilamento e os detidos não suspeitos foram libertados. 

Esta acalmia da situação criou as condições indispensáveis ao começo da implantação de efectivos militares e civis no interior da Província da Guiné, na região de Boé, a partir de Abril.

O controlo de Boé e da população ali fixada daria ao PAIGC argumentos para reivindicar atributos de soberania e credibilizar à declaração da independência do novo Estado da Guiné-Bissau no interior do território.


Realização do 2° Congresso do PAIGC

O 2° Congresso do PAIGC decorreu no período de 18 a 22 de Julho. Nele tomaram parte 138 delegados das FARP e órgãos político-administrativos do partido, assim como 60 observadores.

Neste Congresso foram tomadas as seguintes decisões principais:

(i) criar um Secretariado Permanente que passou a substituir o Comité Permanente do Comité Executivo de Luta e para o qual foram nomeados os seguintes membros:

- Aristides Maria Pereira - Secretário-Geral (Cabo Verde)

- Luís Cabral- Secretário Adjunto (Cabo Verde)

- Francisco Mendes - Secretário (Guiné)

- João Bernardo Vieira - Secretário (Guiné);

(ii) tomar extensiva a luta armada ao Arquipélago de Cabo Verde;

(iii) convocar a Assembleia Nacional Popular em ordem à proclamação do Estado da Guiné-Bissau.

Reunião da Assembleia Nacional Popular

A reunião da 1ª Assembleia Nacional Popular veio a ocorrer em 23 e 24 de Setembro, no interior do território da Guiné-Bissau, no Boé Oriental (#), onde, no segunda dia, foi proclamado o Estado da Guiné-Bissau, aprovada a sua l." Constituição e nomeado o respectivo Governo.

Os principais órgãos de soberania da nova República ficaram assim definidos:

(i)  PAIGC - força política dirigente, que, por intermédio do seu Secretariado Permanente, é a expressão suprema da vontade do povo e decide das orientações políticas do Estado.

(ii)  Assembleia Nacional Popular - órgão legislativo supremo, constituído por 120 membros;

(iii) Conselho de Estado - órgão legislativo, constituído por 15 membros, exercendo as suas funções entre sessões da Assembleia Nacional Popular;

(iv)  Conselho de Comissários de Estado - órgão executivo especial do Conselho de Ministros, constituído por 8 Comissários e 8 Subcomissários para a realização do programa político económico e social do Estado, sua segurança e defesa.

Entre os dirigentes, foram nomeados:

- Presidente da Assembleia Nacional Popular - João Bernardo Vieira

- Presidente do Conselho de Estado - Luís Cabral

- Comissário Principal do Conselho de Comissários - Francisco Mendes

No final do ano, o inimigo:

(i) incrementou a sua actividade no âmbito da política externa, tendo vários dirigentes desenvolvido intensa actividade diplomática no plano internacional, com especial destaque com o Senegal, República da Guiné, URSS, China, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Nigéria, Uganda, Argélia, Somália, Jugoslávia, Egipto, etc;

(ii) reforçou a sua acção de propaganda por intermédio das emissoras radiofónicas que lhe eram afectas, aludindo ao isolamento de Portugal,na opinião pública internacional e ao facto do novo Estado da Guiné-Bissau ter sido reconhecido já por diversos países estrangeiros;

(iii) aproveitou a substituição do General Spínola como Comandante-Chefe, ocorrida em finais de Agosto, para a relacionar com o reconhecimento da incapacidade de Portugal vencer a luta armada;

(iv) incrementou a instrução literária e profissional nos países limítrofes: na República da Guiné, em Conacri e em Koundara; no Senegal, em Ziguinchor;

(v)  reocupou tabancas anteriormente abandonadas no Boé Oriental, utilizando para o efeito os refugiados vindos da República da Guiné e colocou aí unidades das suas Forças Armadas Locais (FAL) com a missão de os defender.

Foram-lhe também particularmente favoráveis alguns dos acontecimentos políticos internacionais, dos quais o PAIGC se aproveitou para reforçar a sua projecção e credibilidade externas. Destacam-se nomeadamente as seguintes:

(i)  Em Janeiro, reuniu em Accra o Comité de Libertação da OUA - Organização de Unidade Africana, o qual aprovou a proposta do Chefe do Estado do Gana para a intensificação da luta armada, visando a libertação dos países africanos não autónomos, devendo a comunidade internacional intensificar a sua ajuda aos movimentos de libertação.

A nova estratégia definida nesta reunião específica que a responsabilidade primária pela libertação dos países africanos deverá competir aos movimentos de libertação desses países, cabendo aos Estados prestar-lhes auxílio político-militar e apoio no treino dos seus quadros.

Nesta reunião estiveram presentes representantes do PAIGC, na qualidade de legítimos representantes do povo da Guiné-Bissau.

(ii)  Na Conferência sobre Descolonização e "Apartheid" na África Austral, realizada em Oslo no período de 9 a 14 de Abril sob a égide da ONU e OUA, o PAIGC fez-se representar por Vasco Cabral, que aproveitou a ocasião para declarar que a independência da Guiné-Bissau seria proclamada pela Assembleia Nacional Popular e que o poder executivo funcionaria no interior do território.

Acrescentou que a situação vivida justificava eventualmente a intervenção directa de outros países, nomeadamente africanos ou com apoio da OUA (que tinha preconizado um sistema de defesa regional integrada para África) e também chamou a atenção para os trabalhos da 28ª Assembleia Geral da ONU, a iniciar em Setembro.

Na circunstância, os representantes dos Movimentos de Libertação da África Austral pediram apoio militar ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia.

A conferência não contou com a presença dos representantes dos EUA, França, Bélgica, Itália e Grã-Bretanha.

(iii) Na reunião da 1ª   conferência cimeira da OUA levada a efeito em Addis-Abeba, no período de 26 a 29 de Maio, ficou acordada uma "declaração política geral" na linha de decisões anteriores relativas à libertação de África do regime colonial, que foi considerada o ponto de partida para uma eventual intervenção armada directa, apoiada pela OUA, a favor dos movimentos de libertação africanos.

Representantes do PAIGC assistiram a esta cimeira, na qualidade de observadores.

(iv) No início de Novembro, a ONU aprovou uma resolução na qual exigia a retirada imediata de Portugal da Guiné-Bissau, o que constituiu o reconhecimento implícito do novo "Estado".

A resolução obteve 93 votos a favor e 7 contra (EUA, Brasil, Espanha, Grécia, África do Sul, Grã-Bretanha e Portugal).

(v) Em 19 de Novembro, a Guiné-Bissau foi admitida oficialmente na OUA, tomando-se o seu 42º  membro. Em 26 de Novembro foi também admitida na FAO por 66 votos a favor, 19 contra e 20 abstenções.

(vi) No encerramento da 28ª  Assembleia Geral da ONU, cujos trabalhos terminaram em Nova Iorque em 18 de Dezembro, foram aprovadas várias moções contra a política portuguesa em África.

Uma das moções negava à delegação portuguesa na ONU a representatividade dos territórios e das povoações de Angola, Moçambique e Guiné. Na votação sobre esta moção da Guiné, foram recolhidos 99 votos a favor e 14 contra (EUA, Espanha, Bélgica, Grã-Bretanha, entre outros).

(vii) Na 8ª sessão extraordinária da OUA, o Conselho de Ministros anunciou para Dezembro a reunião do Comité de Defesa, para estudar os meios mais eficazes para uma intervenção militar na Guiné-Bissau.

(viii) Neste ano, os movimentos de libertação africanos reconhecidos pela OUA receberam o estatuto de membros associados da UNESCO.

(ix)A 5ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi dominada pelo bloco dos países africanos, de que resultou a admissão à conferência de delegados do PAIGC, considerados legítimos representantes do povo da Guiné-Bissau.

Portugal reagiu retirando-se da Conferência em sinal de protesto, classificando as decisões tomadas como ilegais e contrárias aos estatuto da OIT. (...)

(Continua) CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.2. Actividade militar
 
Fonte_ Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 239/245

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue:  L.G.]

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(#) Nota da CECA:  "Venduleide, perto de Lugadjol, numa zona pouco povoada, de mata não muito densa, com acessos fáceis de controlar, não longe da Guiné-Conacri, foi o exacto local onde a independência foi proclamada, garante Mário Cabral. 'Tinha a vantagem de nos pudermos reunir rapidamente e dispersarmos também rapidamente', explicou Aristides". ROCHA, João Manuel, Jornal "Público" de 24Set20 13, pp. 30 e 31.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 2 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23319: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (1): A pontaria dos artilheiros... (Morais da Silva / C. Martins)

(**) Vd. poste de 9 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6356: Historiografia da presença portuguesa em África (36): O PAIGC, os nossos arquivos e a Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961/74 (Nuno Rubim)

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20181: Tabanca Grande (485): Carlos Marques de Oliveira, ex-alf mil arm pes inf, cmdt Pel Mort 2115 e, depois, do 5º Pel Art e do 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 796



Carlos Marques de Oliveira, BI Militar


1. Mensagem do Carlos Marques de Oliveira. com data de 26/09/2019 23:36:

Meu caro Luis,

Espero que estejas melhor da intervenção ao joelho e que a recuperação se vá fazendo sem percalços. Que fiques bem o mais rápido possível.

Tenho agora oportunidade de te enviar um breve resumo do meu percurso de vida, enquanto militar.

Fui incorporado no 1.º Turno do COM na Escola Prática de Infantaria, Mafra, em Janeiro de 1968. Após recruta e tendo-me sido atribuída a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria, terminei a formação na EPI em Junho de 1968.

Fui colocado no RI 2, Regimento de Infantaria de Abrantes onde, como Aspirante, dei instrução de Armas Pesadas/ Apontadores de Morteiros e Escola de Cabos. Também, como Adjunto do Comando, fiquei com a responsabilidade do Trem Auto.

O pessoal a que dei instrução foi todo mobilizado para diversos Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo, que entretanto se constituíram, com destino à Guiné, a Angola e a Moçambique.
Em Dezembro de 1968 fui mobilizado para a Guiné como Comandante do Pelotão de Morteiros 2115. 

Em Março de 1969 formei Unidade no RI 15, Regimento de Infantaria 15, em Tomar, onde fizemos a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO)

Terminado o IAO, embarcámos no navio Niassa a 7 de Maio 69. Chegámos a Bissau a 12 de Maio, onde aguardámos destino operacional.

O Pelotão de Morteiros é uma pequena Unidade Independente, constituída por 1 Oficial Subalterno, 1  2.º Sargento, 2 Furriéis Armas Pesadas, 4 Cabos Apontadores, 2 Soldados Condutores Auto, 2 Soldados Transmissões e neste caso, 35 soldados com diversas funções operacionais atribuídas. Actua  normalmente em apoio a outras Unidades de Escalão superior.

A 16 Mai 69 embarcámos em comboio naval com destino a Catió, na Região Sul da Guiné. Chegados a 17 de Maio foi-nos atribuído o apoio ao Batalhão de Artilharia 2865, ficando a depender logística e operacionalmente deste BArt até Dezembro de 1970.

Por ter terminado a Comissão, o BArt 2865 foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2930, para o qual transitámos o apoio até final da nossa Comissão, em Fevereiro de 1971.

Em Setembro de 1969, fiz parte de um grupo de Alferes e Furriéis de Armas Pesadas de Infantaria que, por necessidade operacional, recebeu instrução e formação em Materiais e Tiro de Artilharia, na BAC 1 em Bissau. Fomos depois distribuídos por diversos Pelotões de Artilharia de Campanha. Fui colocado em Cabedú, a comandar o 5.º Pel Art / BAC 1 desde Outubro de 1969 até Junho de 1970, data em que regressei a Catió para comandar o 7.º Pel Art, cujo comandante falecera em combate.

De Junho de 1970 até final da comissão, em Fevereiro de 1971, passei a comandar cumulativamente os Pelotões de Morteiros e de Artilharia. No período de transição entre o BArt 2865 e o BCaç 2930 fui responsável pelo Serviço de Informações Operações e, Administrativamente, das duas Companhias de Milícias sediadas em Catió.

Apesar de Oficial Miliciano de Infantaria, a minha Comissão de Serviço na Guiné foi, operacionalmente, quase que como Artilheiro, dada a enorme actividade dos Pel Art que comandei , em particular o 7.º Pel Art de Catió, não só em defesa de frequentes ataques e flagelações a que éramos sujeitos, como por iniciativas operacionais do BArt 2865.

Terminada a Comissão, em Fevereiro de 1971, regressámos no navio Angra do Heroísmo que, após passagem pelo Funchal, chegou a Lisboa a 12 de Fevereiro. Passei à disponibilidade no dia 13 de Fevereiro de 1971, no Regimento de Infantaria 15, em Tomar.

Meu caro Luís, este é um brevíssimo resumo do que foi o meu SMO. É longo porque foi longo. Os detalhes ficarão para pequenos textos, se assim o entenderes.

Recheado de factos, de estórias, de sensações, de sentimentos que não nos importamos de compartir e partilhar com quem, como tu, os da tua e nossa Tabanca, das Tabancas de que fazemos parte, os que também viveram e passaram pelos mesmos Chãos, sabem do que estamos a falar. E ouvem e escutam e acreditam nos sentimentos que nos irmanam e igualam.

As fotos, em anexo, não sei se te vão chegar bem. Dá notícias.

Um muito forte abraço com ,uma vez mais, os meus desejos de que tenhas uma rápida recuperação.

Carlos

Carlos Marques de Oliveira

PS. Já agora n.º mecanográfico:   NM 08234765


Foto de família do pessoal do Pel Mort 2115 (Catió e Cabedu, 1969/71). Convívio em 2016. Foto da página do Facebook do seu antigo comandante, o ex-alf mil arm pes inf, Carlos Marques de Oliveira. Reproduzida com a devida vénia...


Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1969 > O 7.º Pel Art de Catió, comandando pelo 2.º Sargento Issa Jau, morto em combate em 27/2/1970. Na foto, o único elemento não guineense, na segunda fila, de pé, o terceiro a contar da esquerda, é o major art José Manuel Mello Machado (1928-2012), 2.º cmdt e mais tarde comandante, depois de promovido a tenente coronel, do BART 2865 (Catió, Cufar e Bedanda, fev 1969 - dez de 1970). 

Segundo informação do Carlos Marques de Oliveira,  nesta foto do 7.º Pel Art não está o srgt art  Issa Jau, faltando aliás  mais elementos: os de recrutamento local eram cerca de 16 soldados. O srgt art  Issa Jau foi ferido nos primeiros rebentamentos de um ataque ao quartel de Catió, a 26/2/1970 tendo falecido durante a evacuação para Bissau. Nessa data já era comandante do BART 2865 o ten cor art Mello Machado, já falecido e amigo pessoal do Carlos. 

Foto do cor art Mello Machado, reproduzida no poste P9514, de 21/2/2012.  Fonte: Mello Machado - Aviltados e traídos: resposta a Costa Gomes. Lisboa: Editora Literal, 1977, 120 pp.


2. Comentário do editor:

Meu caro Carlos, fica então regularizada a tua entrada na Tabanca Grande, com o envio das fotos da praxe, que nos chegaram em boas condições. Já sabes qual é o teu lugar à sombra do nosso mágico e protetor poilão, o n.º 796. à direita do Domingos Robalo (n.º 795) e à esquerda do António Manuel Carlão, infelizmente já falecido. (*)

A tua presença honra-nos a todos, independentemente da arma e da especialidade que calhou a cada um de nós. A Tabanca Grande, já com cerca de 8 centenas de amigos e camaradas da Guiné, é uma pequena amostra da gente valorosa que passou pelo CTIG de 1961 a 1974. Mais de 90% são ex-combatentes, os restantes são familiares de ex-combatentes, mas  também guineenses e demais amigos da Guiné.

A nossa missão é simples e clara: partilhar memórias (e afetos).  É o que fazemos desde há 15 anos, contribuindo de algum modo para que os veteranos da guerra da Guiné não morram na "vala comum do esquecimento". 

Os nossos leitores já têm mais informação a teu respeito: (i) és membro da Magnífica Tabanca da Linha (desde 2 de maio de 2017); (ii) nasceste em Lisboa; (iii) praticaste remo (skiff) antes da tropa e foate campeão; (iii) trabalhaste numa multinacional; (iv) está reformado; (v)  vives em Sintra; tens tem página no Facebook: e (vi) és também membro e administrador da página de grupo Artilharia de Campanha na Guiné . BAC 1 / GAC 7, de que o Domingos Robalo é o administrador. (**)

Carlos, temo-nos encontrado, nos almoços da Tabanca da Linha, mas nunca tivemos oportunidade de conversar sobre as "coisas" da Guiné... por coincidência, somos ambos  homem de armas pesadas de infantaria:  mas tu tiveste o privilégio de ser artilheiro e comandar bravos artilheiros (***)...

Por outro lado, confirma-se, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O teu reencontro com o Domingos Robalo, no 45.º Convívio da Tabanca da Linha, no passado dia 19,  já foi aqui devidamente assinalado e documentado.

Espero que outros comandantes de Pel Mort e Pel Art sigam o teu exemplo, dando a cara.  De futuro, já sabes como comunicar connosco: através do email, podes mandar novos textos e fotos. O nosso blogue é voraz e preciso de ser devidamente alimentado todos os dias. 

Bem vindo, camarada!

PS - Obrigado também pela partilha do teu n.º de telemóvel e pelos teus votos de boa saúde... O meu joelhinho esquerdo está em franca recuperação depois de uma artroscopia, no passado dia 24.
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Notas do editor:



quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20122: (De)Caras (135): Carlos Marques de Oliveira, membro da Magnífica Tabanca da Linha, ex-fur mil, Pel Mort 2115, 5º Pel Art e 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): tive o privilégio de comandar valentes artilheiros


Guiné > Região de Quínara > Fulacundia > Obús 10.5 [ Foto do álbum de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)]

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Carlos Marques de Oliveira, membro de A Magnífica Tabanca da Linha (desde  2 de maio de 2017), natural de Lisboa, vivendo em Sintra [, tem página no Facebook, temos cerca de 150 amigos em comum: fica desde já convidado para integrar, de pleno direito, a Tabanca Grande, com o nº 796, a seguir ao Domingos Robalo, o nº 795] (*)


Meu caro Domingos Robalo, felicito-o pelo poste sobre a artilharia na Guiné. (*)

O mundo é pequeno. Para além de termos viajado no Niassa de 7 a 12 de Maio de 1969, foi meu instrutor na BAC1/GAC7, quando da minha formação artilheira, de recurso. Fiz parte do grupo de Furriéis e Alféres Milicianos Armas Pesadas de Infantaria que recebeu instrução de Materiais e Tiro de Artilharia tendo sido colocado no 5º Pel Art  em Cabedu e mais tarde, por falecimento em combate do 2º Sarg. Issa Jau, no 7º Pel Art  em Catió. 

Tive a honra e o privilégio de comandar valentes artilheiros. Conheci pessoalmente o Sarg. Issa Jau, que admirei, pois o meu Pel Mort 2115 foi colocado de reforço ao BART 2865 em Catió. 

Na fotografia dos artilheiros de Catió está o então major de artilharia António José de Mello Machado, 2º Cmdt do BART 2865,  mais tarde promovido a ten cor,  passando a comandar o BART até final de comissão. (*)

Meu caro Luis Graça, obrigado pela possibilidade que nos tens dado de podermos partilhar e recordar tanto do que todos nós , os que estivemos na Guiné , temos de comum. Tanto que temos para conversar. 

Um abraço,  Domingos Robalo, e quero que saiba que a instrução que recebemos valeu a pena. Não o deixámos ficar mal.

Carlos Marques de Oliveira (**)
Magnífica Tabanca da Linha
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segunda-feira, 4 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11192: Tabanca Grande (388): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apontador de Artilharia Pesada do 5.º Pel Art (Cabedu, 1971/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Fernando Macedo (ex-1.º Cabo Apontador de Artilharia Pesada (10,5), 5.º Pel Art, Cabedu, 1971/72), com data de 26 de Fevereiro de 2013:

Boa noite Camarada:

Faz tempo que acompanho este blog assim como outros, onde cheguei a lançar pedido no sentido de encontrar camaradas do 5º pelotão de Artilharia que esteve em Cabedu entre 1971/1972, sem sucesso.

Sou Fernando Macedo, ex-1º Cabo Apontador de Artilharia Pesada (10,5), natural de Bonfim, Porto, nascido a 26 de Janeiro de 1949.

Embarquei para a Guiné em Abril, a bordo do Angra do Heroísmo atracando a 1 Junho de 1971.

Nove dias depois, periquito, tive meu batismo, nem queria acreditar, Bissau era atacada pela primeira vez assim como várias localidades próximas da capital. Tinha-me encontrado com um primo, Policia Militar no território há já longos meses, num café na baixa de Bissau.

Bom, foi um desatino completo com o pessoal a recolher aos quartéis.
Apanhei boleia para a minha Unidade, GA7. Era na verdade uma grande agitação, ao fim de não sei quanto tempo, que me pareceram horas, de formaturas e espera, seguiram várias colunas militares com vários destinos e eu fui parar a Nhacra, regressando a Bissau no dia seguinte, 10 Junho.

Duas semanas depois segui de batelão para Cabedu, onde estava sediada parte da CCAÇ 2792. O destacamento era Comandado pelo Alferes Paiva.

Fui em rendição individual substituir um camarada que estava a acabar a comissão, a bateria de obuses era comandada pelo Alferes Nolasco natural de Macau excelente homem.

Poucos meses depois sofri perfuração do tímpano do ouvido esquerdo, agravado com uma infeção na sequência das detonações, tendo dez meses depois  de ter regressado a casa sido submetido a uma operação no hospital de São João, no Porto, em Dezembro de 1972.
Resultado final, surdez completa do ouvido esquerdo.

De momento, sem outro assunto,
Fernando Macedo.


Vista aérea do destacamento e da tabanca de Cabedu
Foto: © Tony Grilo (2009). Direitos reservados.

2. Comentário do editor:

Caro camarada Fernando Macedo, bem-vindo à Tabanca Grande e a esta tertúlia de ex-combatentes da Guiné.

O episódio que contas do ataque a Bissau, que aconteceu exactamente no dia 9 de Junho de 1971, quase o vivia em directo.

Estava programada uma visita de estudo à Capital da Província, como prémio (de consolação) pelo esforço dispendido à protecção da construção do troço de estrada entre o Bironque e o K3, a dois dos pelotões da minha Companhia, precisamente no dia 10 de Junho, que como sabes era o dia em que a guerra parava para festejar o Dia da Raça, como então se dizia. Cumpriu-se apesar de tudo a promessa, e lá andámos nós a fazer turismo numa Bissau acagaçada, desculpa o termo, e deserta porque a malta ainda estava atordoada pelo fogachal do dia anterior.

Estás a ver a diferença, nós vínhamos do mato onde as morteiradas nos caíam no prato da sopa, não a quilómetros das esplanadas dos cafés.

Voltando a ti, já que te apresentaste, sabendo nós que andaste por Cabedu, lá para o sul da Guiné, tens que nos falar das tuas memórias desse tempo. Se tiveres fotos, também as queremos mostrar à malta. Eu tenho especial curiosidade pela paisagem do sul, muito diferente da do norte por onde andei.

Sabes que o principal objectivo do nosso blogue é o registo de acontecimentos e vivências contados na primeira pessoa, para que não sejam os outros a fazê-lo, um dia,  por nós, gente até que nunca pisou aquela terra vermelha, com a qual se fazia lama misturando o próprio suor.

Para terminar a tua apresentação, deixo-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11114: Tabanca Grande (387): Carlos Afeitos, professor, ex-cooperante na Guiné-Bissau, agora a viver em Inglaterra, novo grã-tabanqueiro nº 606

domingo, 19 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10278: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte III: Atividade operacional, de 31 de janeiro a 29 de abril de 1971 (Orlando Silva)


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nº 12 > O nosso guia Abdulai Jaló, o Alferes Escalera Rodrigues /4º Gr Comb) e o Capitão Jorge Parracho.



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nºs. 15 > Porta de Armas e caminho de acesso para a pista.



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nº 16  >  Visita a Guileje... Da direita para a esquerda, o Alf Rodrigues, Alf. Tavares (CPC/BCP 12), o Cap Parracho no meio, o Alf Cristina (do 5º Pel Art) e eu à esquerda, com o pessoal da DO 27 (piloto e mecânico)





 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos nºs 9 e 10 - Vista da nova rede de arame com postes novos e pintados, e da aeronave que ali se encontrava caída, e que reconstruímos com rolos de palmeira e lona.



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nº 11 > Eu, e ao fundo a porta de armas com o abrigo e os bidões e barris pintados, vendo-se o caminho das garrafas.





 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos nºs. 13 e 14 > O monumento aos mortos e feridos, que construímos junto à Pista. Ao fundo vemos a parede de barris e bidões pintados.  [Em primeiro plano o alf mil Orlando Silva, aveirense. O lema da CCAÇ 3325 era um provérbio popular português, "vencer sem perigo é triunfar sem glória". Na base do monumento pode ainda ler-se: "Homenagem da CCAÇ 3325 aos seus mortos e feridos e aos portugueses de todas as cores, raças e credos que tombaram em defesa da Pátria". A CCAÇ 3325 , depois de Guileje, foi para Nhacra. L.G.]

Fotos (e legendas): © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.)


1. Continuação da publicação da história da CCAÇ 3325, que esteve eem Guileje, de janeiro a dezembro de 1971, reproduzida aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro (*).

ACTIVIDADE OPERACIONAL > Jan/abr 71


De 31 de Janeiro até 29 de Abril de 1971, a CCAÇ 3325, Cobras de Guileje,  realizou 44 patrulhas sem dia nem horas certas.

Como se tratava de uma ZICC (zona de intervenção do Comando-Chefe), trocávamos informações operacionais constantes com aquele Comando.

Foi descoberta entretanto mais uma Base de Fogos do IN,  em Paroldade. O moral das tropas estavam em alta, o que nos ajudava na nossa actividade operacional. Procurou-se,  dentro deste período, realizar algumas acções ao “Corredor de Guileje” e sem qualquer tropa especial, o que conseguimos, e isso teve efeitos altamente moralizantes sobre as nossas tropas.

Mas,  para isso, foi necessário obter a autorização do Comando-Chefe, o que exigiu a colocação de um helicanhão no Quartel, pois contrariamente ao que era hábito, o “Corredor de Guileje” era visto pelos Oficiais de Bissau (de gabinete), como local praticamente inacessível a tropas que não fossem especiais (Comandos e Paraquedistas).

A ocupação dos tempos livres consistia, na limpeza à volta do Quartel, na construção e pintura dos postes de electricidade e abrigos (logo que tivemos cimento, construímos postes para colocar à volta de todo o Quartel), na colocação de arame farpado novo, na construção e pintura de um muro de barris e bidões do lado da pista, na construção de um caminho de garrafas de cerveja em direcção à pista de aviação, na construção de uma porta de armas à entrada da pista, e na construção de um monumento aos mortos e feridos no mesmo local. (Fotos nºs  9, 10, 11, 13, 14)

Num Quartel daqueles, num sítio daqueles, sempre que chegava um avião com visitas (civis ou militares), era bonito ver os dois soldados (um europeu e outro africano) devidamente fardados, de lenço ao pescoço amarelo, fazer a devida continência! (Fotos nºs 15 e 16)

Como era possível,  num local daqueles, as tropas andarem dentro do Quartel, devidamente fardadas e lavadas, e disputarem rijos jogos de futebol no campo junto à pista e fora do arame? Mas era verdade. Havia tempo para tudo, sob o comando do nosso “Capitão Velhinho”, como os nossos soldados carinhosamente lhe chamavam. [Cap Inf Jorge Saraiva Parracho, natural de Mafra] (Foto nº 12).

Quanto mais depressa fossemos atacados, mais depressa saíamos para o mato. Não ficávamos a ver os comboios, e a coçar na barriga com medo.

(Continua)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Foto do álbum do cor inf ref Jorge Parracho >  Foto aérea de Guileje (tabanca, aquartelamento e pista de aviação). São visíveis os espaldões das pelas de artilharia 11.4, apontadas para a fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Foto do álbum do cor Jorge Parracho >  As três peças de artilharia 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma.  




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Foto do álbum do cor Jorge Parracho > Pessoal do 5º Pel Art que guarnecia as peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma.  O 5º Pel Art era comandando pelo Alf Mil Art Cristina. A CCAÇ 3325 foi substituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972), Os Gringos de Guileje, a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973). 

Onze companhias passaram por Guileje, desde Fevereiro de 1964 a 22 de maio de 1973: as CCAÇ 495, 726, 1424, 1477, a CART 1613, a CCAÇ 2316, a CART 2410, as CCAÇ 2617, 3325, 3477, e, por fim, a CCAV 8350.  Esta última foi a unidade, a seguir à CCAÇ 1477, que esteve menos tempo em Guideje: 6 meses e 1 dias (de 21/11/72 a 22/5/73) (segundo informação recolhida pelo nosso grã-tabanqueiro Cor Art Ref Nuno Rubim) (LG).


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10269: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte II (Orlando Silva)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10269: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte II (Orlando Silva)



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 5  de fevereiro de 1971 > Foto nº 7 > Pista de Guileje com algumas visitas militares: à direita, o Alf Rodrigues, Alf Cristina, o Capº Parracho ao centro e o Alf Almeida, com dois pilotos e com o nosso Guia Abdulai Jaló. [Segundo informação do nosso camarada António Martins de Matos, os dois pilotos são o ten cor pilav Almeida Brito e o maj pilava Pedroso de Almeida, e o DO-27 é o 3499].



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 5 de fevereiro de 1971 > Foto nº 8 > Pista de Guileje com algumas visitas militares: à porta de armas, podemos ver da direita para a esquerda, o Alf Cunha, eu, o Cap Parracho ao centro, o Alf Cristina e o Alf Almeida, com alguns Oficiais Superiorers de Bissau.





 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nº 6 > Uma Caserna/Abrigo acabada de construir



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Foto nº 5 > Croquis do aquartelamento de Guileje (1971)

Fotos: © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados.



1. Continuação da publicação da história da CCAÇ 3325, que esteve eem Guileje, de janeiero a dezembro de 1971, reproduzida aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro (*)

CHEGADA A BISSAU – 26 de janeiro de 1971

Cabe aqui referir como aspecto altamente desmoralizante, a “propaganda” negativa de Guileje, que foi feita por elementos das Forças Armadas, inclusivamente por Oficiais, durante o único dia de estadia da Companhia em Bissau, logo que o navio atracou, sem qualquer conhecimento da região e das dificuldades que nos esperavam. De realçar que, tendo chegado num dia à noite, e sem qualquer experiência de combate, fomos enviados no segundo dia para o pior Quartel de toda a Guerra Colonial.

O comando notou, por isso, uma quebra nítida entre a disposição de toda a sua tropa um dia antes e um dia depois da chegada a Bissau, unicamente pelas razões apontadas, perdendo-se assim,  num dia, um trabalho de moralização de meses, obrigando a novo esforço no mesmo sentido, notando-se no entanto que se tinha perdido parte da confiança e alegria anteriores, o que só o tempo havia de voltar a dar. Podia afirmar-se que o IN não precisava de fazer acção psicológica neste aspecto, pois tinha quem a fizesse embora inconscientemente.

GUILEJE – 30 de janeiro de 1971


Como comandante do 2º Grupo de Combate dos Cobras de Guileje, e após ter lido o artigo publicado no jornal Correio da Manhã,  de 25/02/2008, não posso, em homenagem a todos os mortos e feridos, e a todos aqueles que não têm voz que os defenda, calar a revolta que me vai na alma. 

Porque sofremos em silêncio desde 1972 (regresso da Guiné), sem que a verdadeira história do Ultramar Português se fizesse, mais não fosse por homenagem a todos os mortos (que não se podem defender) e a todos os feridos que, como já disse, não são ouvidos por ninguém (só o são pelos seus familiares, que muito têm sofrido com isso), e porque sentimos na pele os rigores, a dureza, os sacrifícios e a dor, motivados pelo árduo cumprimento da n/missão militar e patriótica em Guileje, desde Janeiro/1971, tenho obrigatoriamente que corrigir os factos, e as afirmações de pessoas que, no desempenho das suas funções, e tendo abandonado (fugindo) o nosso Aquartelamento, vieram mais tarde afirmar que tinham sido obrigados a fazê-lo por estarem a ser atacados por todos os lados. NÃO É VERDADE!

A verdade é que os combatentes do PAIGC, como não vissem qualquer reacção às suas flagelações ao Quartel, começaram a aproximar-se lentamente, até que, ao fim de três dias, como viram que não havia nenhuma reacção (a população abandonou com as tropas), entraram à vontade no mesmo. Quem não souber o que aquilo era, até pode acreditar. Agora quem sabe, quem passou pelas mesmas situações mas trabalhou e não virou as costas, esses, apesar do sofrimento, sentem-se tristes com esta situação.

A minha introdução explica tudo isto. O aproveitamento pessoal de situações que o povo desconhece (inclui os Média), e a deturpação dos factos por vergonha da verdade. Mas ao calar, estávamos a ser cúmplices do que se tem afirmado, e estávamos a deixar que meia dúzia de pessoas ridicularizassem e envergonhassem uma mão cheia de Militares que se orgulham de ter defendido com honra as cores da Bandeira Nacional.

A confirmar o que acabo de dizer, basta assistir àquela novela que um Jornalista Português realizou e apresentou e está a apresentar em episódios na Televisão, filmado à volta da Guiné, Angola e Moçambique, mas entrevistando quase somente pessoas que tudo fizeram para ridicularizar de todas as formas a actuação dos Portugueses no Ultramar. Bem sabemos que aquele trabalho não foi feito por ignorância, mas sim direccionado para fins políticos.

E a sua intenção é “ocultar e disfarçar a cobardia de todos os Portugueses, que, arrastados pela degradação de valores que referi, julgam que ser democrático é criticar a História de Portugal e os Portugueses.”

Para demonstrar que não somos iguais, vou falar um pouco sobre a nossa actuação no TO da Guiné e mais propriamente em Guileje: Companhia Independente de Caçadores 3325 – Cobras  de Guileje

OFICIAIS E SARGENTOS


Oficiais:

Capitão Jorge [Saraiva] PARRACHO (hoje Coronel do Exército) – Comandante - Mafra
Alferes Adriano CUNHA (hoje Coronel da GNR) – 1º Grupo – Vila Real
Alferes Almeida e SILVA – 2º Grupo - Aveiro
Alferes Alberto ALMEIDA – 3º Grupo - Estarreja
Alferes Escalera RODRIGUES – 4º Grupo - Lisboa

Neste aquartelamento existia também um pelotão de Artilharia, comandado pelo Alferes Cristina – Portimão;  e um médico permanente: Alferes Acácio Bacelar (Dr) - Oeiras

Furriéis Milicianos:

Marreiro António – 1º Grupo
Maximiano Sousa – 1º Grupo
Bernardino Vale - 2º Grupo (Falecido em 16 de fevereiro de /1971)
Plácido Silva – 2º Grupo
Artur Pimenta – 2º Grupo
Manuel Oliveira – 3º Grupo (Falecido em 18 de abril de 1971)
Mário Prada – 3º Grupo
Acácio Barosa – 3º Grupo (Transferido para outra Unidade)
António Fragoeiro – 3º Grupo
João Noronha – 4º Grupo (minas e armadilhas)
Manuel Ferreira – 4º Grupo
António Bragança (2º Sargento) – 4º Grupo
Carlos Oliveira – 4º Grupo
Júlio Sequeira –Transmissões (Falecido em 17 de maio de 1971)
Alexandre Agra – Transmissões
Artur Alfama – Vaguemestre
José Jorge – Mecânico Auto
Luis Tomé – Enfermeiro


AQUARTELAMENTO

Vd. Foto nº 5, acima

–   Casernas/Abrigo
–  Caserna/Abrigo dos Oficiais
–   Secretaria/Depósito de Géneros e Secretaria
–  Bar dos Soldados/Enfermaria/Gabinete Médico
E
–  Comando/Alojamento do Comandante e Bar de Oficiais
–  Bar dos Sargentos
–  Transmossões
–   Capela
–  Messe
J – Cozha/Padaria
Escola
–  Paiol
M – Motor/Gerador
N – Abrigos de Morteiro 10,7
O – Campo de Futebol/Pista de Aviação
P – Heli-Porto
Q – Trilho para Gadamael por onde fugiu Coutinho Lima
R – Caminho de Garrafas feito pela C.Caç. 3325 (fotos 11/15/16)
–   Monumento aos Mortos feito pela C.Caç.3325 (fotos 13/14)
T – Avioneta que reconstruímos c/palmeira e lona (fotos 4/9/10)
X – Abrigo das Peças de Artilharia 11,4 (foto 19)

Sobre a Caserna/Abrigo (A) situada junto ao Abrigo dos Oficiais, estavam marcadas todas as direcções das Bases de Fogos do IN.

Chegados a 31 de janeiro de 1971 a Guilege, onde fomos render a CCAÇ 2617 que acabava a sua comissão neste Aquartelamento e ia ser transferida para Quinhamel, efectuámos uma sobreposição de 16 dias, realizando-se em 7 de Fevereiro a transmissão do Comando e daí a transferência da responsabilidade da Zona. [A CCAÇ 2617, os Magriços de Guileje, estiveram em Guileje de março de 1970 a fevereiro de 1971, L.G.]


A CCAÇ 3325 recebeu como reforço o 5º Pelotão de Artilharia pertencente à GA 7 que já se encontrava do antecedente em Guileje, comandado pelo Alferes Cristina.

Era uma zona particularmente difícil, com sérios problemas em todos os aspectos, onde a iniciativa pertencia de um modo geral ao inimigo, dado o grande potencial em efectivos e os meios que dispunha na região, dentro e fora do Território Nacional, e, pelo seu isolamento, Guileje só podia ter auxílio em caso de necessidade e rapidamente, através do apoio aéreo, e mesmo esse, só durante o dia.


O Inimigo circulava com um certo à vontade dentro da zona ou nas suas proximidades, utilizando inclusive viaturas no Corredor de Guileje, para as suas deslocações e transporte de material.
Procurou-se por isso, dentro dos condicionalismos impostos e dentro do princípio da economia de meios, ir progressivamente alargando as áreas de acção nas patrulhas que se iam realizando, podendo garantir-se,  ao fim de 3 meses, que não havia inimigo instalado na zona, o que se podia considerar excelente.


Nas primeiras flagelações sofridas, o pessoal reagiu bem de um modo geral e com calma, sem atropelos, nunca evidenciando sinais de pânico, embora logo no dia seguinte à nossa chegada a Guileje, tivéssemos sofrido uma flagelação com Morteiros 120 mm perfurante e Foguetões 122 mm.
A preocupação constante do comando era, a partir dessa altura,  a mentalização das tropas e a ocupação do tempo livre.

Para o nosso reabastecimento, existia unicamente uma picada entre Gadamael e Guileje, só utilizável após a época das chuvas e da intensa desminagem. Convém assinalar que estivemos isolados sem reabastecimento por terra durante 5 meses e meio. Até ovos nos foram lançados de pára-quedas.


Durante o mês de Março [de 1971] os reabastecimentos faltaram, ficando a tropa cerca de 15 dias a alimentar-se exclusivamente de pão e conservas. Também faltou a gasolina durante 8 dias, o que se reflectiu na actividade operacional, pois o pessoal teve de ser todo empregue no transporte a braço de água e lenha.

Todo o pessoal se encontrava bem instalado em abrigos-caserna (alguns em conclusão) à prova de 120 perfurante, com excepção de um Grupo, pois estava ainda a ser construido a caserna/abrigo que lhes era destinado (Foto nº 6).

A actividade da Companhia visava evitar que o IN se instalasse dentro da nossa Zona de Acção, procurando o contacto com ele, e criar-lhes insegurança para se evitarem flagelações frequentes ao Quartel, tanto pela execução frequente (diária) de acções, como utilizando a Artilharia e os Morteiros Pesados para bater a zona, e ainda manter o itinerário de reabastecimento livre. A Artilharia tinha instaladas 3 peças (Obus 11,4).

No dia 2 de Fevereiro de 1971, fomos visitados por Sua Exa, o General Comandante-Chefe António Spínola. No Brifing que se seguiu com todos os Oficiais, Sexa o General Spínola afirmou que, apesar de termos sido enviados para esta zona de guerra, e da inexperiência em combate, pois tratava-se de uma Companhia nova, confiava plenamente nas nossas tropas. Disse também, que iria acompanhar de perto a nossa actividade militar, pois iríamos enfrentar uma zona muito difícil.

Está mais que provado, de facto, que era a zona mais difícil de toda a Guerra do Ultramar.

No dia 5 de Fevereiro de 1971, fomos visitados pelo Comandante-Adjunto, Brigadeiro José Luís Ramires, e pelo Chefe e alguns Oficiais da Repartição de Operações do Comando Chefe. (Fotos nºs  7 e 8).

(Continua)

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10264: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte I (Orlando Silva)