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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17615: Efemérides (261): D. Manuel II (1889-1932), último rei de Portugal, no Vimeiro, Lourinhã, em 21/8/1908, para a inauguração do monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro (1808): Reconstituição histórica.


 Lourinhã > Vimeiro > Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro [1808] > 14 de julho de 2017 > Reconstituição histórica da chegada de D. Manuel II que  veio inaugurar, em 21/8/1908, o monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro.

Vídeo (0' 42'') > You Tube > Luís Graça (2017)




Foto nº 1


Foto nº 2  

Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7



Foto nº 8



Foto nº 9


Foto nº 10



Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14

Lourinhã > Vimeiro > Local do Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro [1808] e Monumento do 1º Centenário da Batalha do Vimeiro > 14 de julho de 2017 > Reconstituição da chegada de D. Manuel que inaugurou, em 21/8/1908, o monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro.


Vídeo, fotos e legendas: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi um evento que atraiu ao Vimeiro, Lourinhã, milhares de turistas, a recriação da batalha do Vimeiro (1808) e o mercado oitocentista, nos dias 14, 15 e 16 do corrente. (*)

Fomos lá inauguração do evento, eu, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e o Joaquim Pinto de Carvalho (mais as "respetivas": Alice, Dina e Maria do Céu) e tivemos oportunidade de dar um abraço ao nosso amigo e camarada Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74, presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro  e um dos naturais da terra mais entusiastas desta recriação. É ele, de resto, quem dá a instrução militar aos voluntários do Vimeiro que fazem parte das forças portuguesas (Fotos nº 2, 3, 4).

O Eduardo tem subido rápido na hierarquia militar, começou como  simples 1º cabo exército português, foi promovido por mérito a sargento, agora deve ser alferes:  ainda não vi o seu CV militar atualizado. Mas a responsabilidade é grande, a de comandar homens... para a glória e para a morte (foto nº 4). Sei que empunha uma enorme lança com mais de 3 metros: "Infelizmente não é para usar contra os franceses, sim contra os portugueses, metade dos quais aproveita a mais pequena oportunidade para desertar!!!"... Ontem como hoje, o patriotismo é uma "folha de tipo excel" com duas colunas, o deve e o haver... Os figurões não morriam no campo de batalha e o seu patriotismo era da treta. (Parece que não era o caso do D. Manuel II que, mesmo no exílio, pouco dourado, não deixou esmorecer o amor à sua Pátria.).

Assistimos, mais de 100 anos depois, à chegada do nosso pobre rei D. Manuel II  que vinha inaugurar o monumento do 1º centenário da batalha (fotos nº 11 a 14), na sua primeira visita oficial fora de Lisboa.  Parece que na época o concelho da Lourinhã não lhe era muito favorável, nem a ele nem à casa de Bragança, nem à bandeira azul e branca. Mesmo assim foi recebido pelas "forças vivas" da terra (nobreza, clero e povo....) com vivas à Monarquia (fotos nº 6 a 10). 


O jovem rei Dom Manuel II (Lisboa, 15/11/1889-Londres, 2 de julho
de 1932).

Fonte: Arquivo da Junta de Freguesia do Vimeiro,
Lourinhã,disponível aqui
.
2. O jovem, que as trágicas circunstâncias do regicídio de 1908, obrigaram a ser rei, terá proferido o seguinte discurso, depois dos discursos oficiais, em que intervieram o gen João Carlos Rodrigues da Costa, presidente da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário da Guerra Peninsular, e o gen Sebastião Custódio de Sousa Teles, ministro da guerra:
«Meus senhores (**):

Celebra-se, hoje, o centenário do combate do Vimeiro.

Aqui nos reunimos para solenemente consagrar imorredoiro padrão ao brilhante feito de armas, primeiro, dessa longa série, através da qual se afirmaram o patriotismo dos nossos maiores e a sublime decisão do nosso povo na defesa da sua independência e libertação do solo sagrado da Pátria!

O General Rodrigues da Costa e o meu Ministro da Guerra, sr. General Sebastião Teles, deram-nos a impressão quente e sentida de que foi essa Guerra Peninsular, esses período doloroso da nossa história, dos mais difíceis que Portugal tem ultrapassado e do qual ressurgiu coberto de louros e de glória, colhidos pelo seu exército, alcançados pelo seu povo!

Angustiosa mas extraordinária época, em que
Vimeiro, 14/7/2017.  "E vivó o Rei!"!... Foto de LG.
 tivemos a lutar a nosso lado, quem não posso, nem quero neste momento esquecer, a Inglaterra, a grandiosa Nação, desde séculos nossa aliada e empenhada na mesma contenda, e a vizinha e amiga Espanha, nossa irmã na Península.

Não me cabe, nem me proponho fazer o quadro brilhante, que perante os vossos olhos foi posto nas orações precedentes. Mas, não podia faltar neste lugar e nesta ocasião, e vindo, não me consinta o meu coração de verdadeiro Português o indiferente silêncio.

Aqui se reúne o Povo em piedosa e patriótica romagem; e, vindo o Povo com ele vem o seu Rei para o acompanhar nas suas patrióticas expansões que em absoluto sente, para proferir estas singelas palavras à memória daqueles que há cem anos neste mesmo lugar e neste mesmo dia, aqui pelejaram e venceram o combate do Vimeiro!

Honra e Glória aos libertadores da Pátria!

Meus senhores:

Quando releio e relembro toda a nossa História, a formação da nossa nacionalidade, as nossas descobertas e conquistas, a nossa expansão e domínio, a áspera defesa da nossa independência, por vezes ameaçada e sempre mantida, e como foi durante esta Guerra Peninsular, de que hoje celebramos o primeiro episódio, sinto evadir-me o orgulho, de um modo tão sublime, expresso nos versos do nosso grande épico:

“E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.”
Sim: Rei de tal gente! Com ela e ao lado dela sempre.» (***)

Para saber mais ver aqui a página do Facebook do Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro.



Lourinhã > Vimeiro > 21 de agosto de 1908 > O Zé Povinho que nunca tinha visto o rei... O mesmo Zé Povinho que lutou com toscas armas (foto nº 5) contra o invasor francês (e seus aliados), no  âmbito da guerra peninsular (1807-1814). Em 1908 alguns dos seus filhos combatiam em África no âmbito das "guerras de pacificação",  na sequência do Ultimato Inglês de 1890 e da Conferência de Berlim de 1884/85 que apressaram o fim da  monarquia em Portugal (5 de outubro de 1910). E, meio século depois, eram mobilizados para a "guerra do ultramar" (1961-1974). Um dos camaradas que morrerá em combate, na Guiné, será o soldado paraquedista da 3ª CCP / BCP 12, Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), natural de Toledo, freguesia do Vimeiro, concelho de Lourinhã.


Foto:  Arquivo da Junta de Freguesia do Vimeiro, Lourinhã,disponível aqui. (Com a devida vénia...)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17546 Agenda cultural (571): Recrição da batalha do Vimeiro, de 1808, e mercado oitocentista: Vimeiro, Lourinhã, 14, 15 e 16 de julho de 2017 (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74; presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro)

(**) In: CIPRIANO, Rui Marques -  Comemorações do Primeiro Centenário da Batalha do Vimeiro. Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã, 2008.

Vd. também a página de Ribamar - Agrupamento de Escolas > A República na Lourinhã

(***) Último poste da série > 17 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17592: Efemérides (260): O dia em que entrei para a tropa... Foi há 50 anos, em 10/7/1967, na EPC, Santarém (Valdemar Queiroz, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15374: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (4): aberto um crédito especial de 250 contos, em 27/2/1908 (escassas semanas depois do regicídio), para fazer face às despesaas com operações militares na "província da Guiné", ao tempo do governador Oliveira Muzanty, 1º tenente da armada


Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura >  1908 > "Bissau: Soldados em grupo dentro da fortaleza"... Foto proveniente do Arquivo Histórico Militar.  Ainda hoje a fortaleza está coberta de poilões centenários como este, seguramente contemporâneos das "campanhas de pacificação" da Guiné e do capitão Teixeira Pinto (1913-1915) (LG).


1. 

MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS DA MARINHA E DO ULTRAMAR

Direcção Geral do Ultramar



Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > PORTARIA, 14 DE AGOSTO DE 1900 > Portaria (ministerio da marinha e Ultramar — Diario do governo n.° 210, de 18 de setembro) determinando que as duas companhias de infanteria da guarnição da provincia da Guiné formem uma unidade administrativa com a designação de «grupo de companhias de infanteria da Guiné»
MINISTÉRIO DA MARINHA E ULTRAMAR, Livro 1900.




Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > DECRETO, 29 DE AGOSTO DE 1901 > Decreto (Ministerio da Marinha e Ultramar — Diario do Governo, n.º 213, de 23 de setembro) approvando a reorganização do pessoal das officinas da esquadrilha da Guiné e seus vencimentos
MINISTÉRIO DA MARINHA E ULTRAMAR, Livro 1901.





Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > DECRETO, 25 DE AGOSTO DE 1903 > Decreto (Ministerio da Marinha e Ultramar — Diario do Governo, n.° 19, de 26 de janeiro de 1904) determinando que os dois pelotões independentes de dragões da provincia da Guiné Portuguesa sejam substituidos por um esquadrão de dragões indigenas conformo o quadro annexo
MINISTÉRIO DA MARINHA E ULTRAMAR, Livro 1903.





Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > DECRETO, 22 DE FEVEREIRO DE 1908 > Decreto (Ministerio da Guerra — Diario do Governo, n.° 56, de 10 março) pondo á disposição do Ministerio da Marinha e Ultramar um corpo expedicionario de tropas para a provincia da Guiné
MINISTÉRIO DA GUERRA, Livro 1908




Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > DECRETO, 27 DE FEVEREIRO DE 1908 > Decreto (Ministerio da Marinha e Ultramar — Diario do Governo, n.° 49, de 29 de fevereiro) determinando a abertura de um credito especial destinado ás despesas a fazer com as operações militares da Guiné
MINISTÉRIO DA MARINHA E ULTRAMAR, Livro 1908.


PROPOSTA DE ORÇAMENTO DE ESTADO PARA O ANO DE 1908-09




Proposta de orçamento geral do Estado para o ano de 1908-1909: o total das receitas era de cerca 70,5  mil contos e o total de despesas de 71,8 mil contos: Défice; mais de 1,3 mil contos. No final da monarquia, em 1910, o nosso PIB (Produto Interno Bruto) andava por volta de 1 milhão de contos (1.000.000.000$000), sendo 1 conto igual a 1.000$000 (equivalente à importância de mil réis - 1$000 - multiplicada por mil,  ou seja,  1 milhão de réis). Com a República, em 1910, o real foi substituído pelo escudo ($) e, em 2002, pelo euro (€).


Discriminação das despesas (ordinárias e extraordinárias) do Direção Geral do Ultramar: 150 contos é a verba originalmente proposta para custear o envio de coluna militar para o sul de Angola...

Fonte: Portugal. Ministério das Finanças - Orçamento Geral e proposta de lei das receitas e despesas ordinárias e extraordinárias do Estado na Metrópole para o ano económico de ... Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1884 - 1925. [Consult em 14 de novembro de 2015]. Disponível em
http://purl.sgmf.pt/OE-1908/1/




Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque da cidade com a estátua de Oliveira Muzanty e,  ao fundo, a Casa Gouveia, dois símbolos do colonialismo... A estátua foi apeada depois da independência da Guiné-Bissau. 


Foto: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Para melhor se entender estas peças, soltas, da legislação régia, datadas da primeira década do século XX, é preciso recordar que a "campanha de pacificação" (sic) da Guiné é um longo e sangrento processo que vai da década de 80 do séc. XIX até aos anos 30 do séc. XX... E nesse processo tiverem particular dois grandes militares portugueses, Oliveira Muzantey 8em 1907-08) e Teixeira Pinto (1913-1915)... Foram 70 anos a fazer a ocupação, "efetiva", do interior da Guiné... 

Este período tem de ser entendido à luz do processo de "partilha" de África pelas potências coloniais europeias, na sequência da Conferência de Berlim de 1884/85... O que se passava em 1908, o ano do regicídio (que ocorreu em 1/2/1908, na Praça do Comércio, em Lisboa, na cabeça do império) ?

Escassas semanas depois da trágica morte do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro Luís Filipe, o Governo do almirante Ferreira do Amaral  aprova,  em 27/2/1908, a abertura de um crédito especial de 250 contos para fazer face às despesas com operações militares na "província da Guiné" (, nesta época, o legislador nunca usa o termo "colónia" para designar os territrórios ultramarinos portugueses; "colónias" são as britãnicas)... Convenhamos que 250 contos (250 milhões de réis= 1000 x 1000 x 1$000) na época era muito dinheiro, que o tesouro não tinha...

Deslocava 1757 t, tinha de comprimento  73,8 m, 4 mil cv de
propulsão (2 máquinas a vapor,  com 4 caldeiras alimentadas a
carvão).  Velocidade: 18 nós. Tripulação: 208 elementos.
O seu primeiro comandante foi o capitão de mar e guerra
Ferreira  do Amaral,  Participou,  na I Grande Guerra,
em operações 
militares  contra os alemães no norte
de  Moçambique.  Foi abatido ao efetivo em 1934

Fonte: Wikipedia.
Como termo de comparação, cite-se o custo do cruzador Adamastor: cerca de 382 contos, em 1897 (equivalente a 8 milhões de euros em valores atuais). Construído nos estaleiros navais de Livorno, Itália, em 1896, e lançado à água em 1897, foi financiado por uma patriótica subscrição pública, organizada em resposta ao ultimato inglês de 1890.

Estava então à frente dos destinos da província o governador João Augusto de Oliveira Muzanty (1906-1909),  1º tenente da Marinha.  Sobre as campanhas de Oliveira Muzanty, nos anos de 1907-08, vd., aqui texto do José Martins.

Recorde-se também as campanhas militares de Oliveira Muzanty foram acompanhadas pelo primeiro fotógrafo de guerra português, José Henriques de Mello.

E acrescente-se também este pequeno trabalho de historiografia, que nos vem do Brasil (e que merece uma leitura mais atenta):


“A campanha da Guiné é um diário de guerra escrito pelo tenente de artilharia da marinha portuguesa Luiz Nunes da Ponte, onde ele narra a sua primeira experiência em uma guerra [Luiz Nunes da Ponte, A campanha da Guiné 1908, Porto, typographia a vapor da Empresa Guedes,108 pags.]. 

"O diário é de recordação pessoal, que foi impresso, em março de 1909, em numero limitado e presenteado a amigos militares próximos. O tenente Nunes inicia o seu diário relatando a noticia que leu no jornal O Século, do dia 05 de dezembro de 1907, que dizia: 'pelo Ministério da Marinha foi feita ao Ministério da Guerra requisição de forças para uma expedição á Guiné', nesse mesmo mês chegou a Portugal D. José relatando horrores da colônia, a sua missão na metrópole era conseguir uma expedição para a 'pacificação' da Guiné, de imediato não foi atendido, mas com a mudança no comando do ministério da Guerra mais uma vez ele solicitou essa expedição o que conseguiu para o mês de março de 1908. 

"O contexto da produção deste diário encontra-se nos desdobramentos da partilha e colonização do continente africano pela Europa no final do século XIX, apesar de que Portugal já se encontrava em partes do que hoje é a Guiné antes da partilha, nessa nova fase do contato português com os reis da região da Guiné muitos se levantam para repelir essa 'dominação'. 

"Quais seriam as causas dessas reações? O que verdadeiramente mudou na relação entre Portugal e os reis da região após 1880? Com um novo desenho espacial da região, o que isso afetou nessa relação? São questões que estão aqui postas para reflexão e que junto com o diário, publicações periódicas e leitura de texto,s serão desenvolvidas a partir deste trabalho” (…).

Fonte: Barreto, F. e Carvalho, J. - A Campanha da Guiné 1908. [Em linha] Anais Electrónicos. VI Encontro Estadual de História. Associação Nacional de História, Seção Bahía [ANPUH/BA]. 2013. [Consult em 15 nov 2015]. Disponível em http://anpuhba.org/wp-content/uploads/2013/12/Fabio-Barreto.pdf

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa em África (39): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte III) (Carlos Cordeiro)




Guiné > Bissau >  Fortaleza da Amura >  1908 > Expedição enviada pela metrópole em 1908 . Foto do Arquivo Histórico Militar, Lisboa.  Fonte: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (ed. lit.), Nova História Militar de Portugal, Vol. 3.  Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, p. 266

(Foto editada e reproduzida por L.G. , com a devida vénia... Digam lá se não parecem mesmo uns soldadinhos de chumbo, estes camaradas que combateram forte e feio no Oio, em 1908; estive em 7 de Março de 2008 na fortaleza da Amura, em Bissau,  e juro ter reconhecido o fabuloso poilão que aparece aqui na foto de 1908...).

Da cronologia constante da obra acima citada (e cuja leitura se recomenda), retira-se a seguinte informação: 

17 de Junho de 1913: "A campanha do Oio termina vitoriosa com a implantação de um posto militar em Mansabá e a captura de elevado número de armas!" (p.450)... 

Em relação ao ano de 1908, pode ler-se,  p. 490:  

(i) "O capitão José Carlos Botelho Moniz parte de Cacheu contra os felupes de Varela que se  negavam a pagar impostos, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os Brancos não entrarem em território felupe e desarmando os de Jufunco e Egim (10 a 16 de Março)";

(ii) "O governador Oliveira Muzanty, obtendo reforços da Metrópole, organiza a maior expedição efectuada na Guiné até 1963. vencendo a resistância biafada emcabeçada por Unfali Soncó em Cuor e Ganturé e restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril)";

(iii) "A expedição enviada à Guiné no tempo do governo Muzanty regressa à metrópole (15 de Maio)".

Sobre o Arquivo Histórico Militar convirá dizer que é o fiel depositário do principal património documental do Exército, incluindo valiosos fundos e colecções, relativos às campanhas militares em Portugal, na Europa e nos territórios coloniais e ultramarinos, em especial dos séculos XVIII a XX. Para mais informações consultar Actividades/Serviço de Atendimento Público e também o Guia de Fundos. Horários: Seg a Sex: 10h30-18h (requisições até às 16h30h). Endereço: Largo dos Caminhos de Ferro, 2, 1100-105 Lisboa / Telefone: 218 842 563 / Fax: 218 842 514 / E-Mail: ahm@mail.exercito.pt. / Acessos: Autocarros: 9, 12, 28, 35, 39, 46, 90, 104, 107, 203, 206, 210. Metro: Santa Apolónia. (LG)
 














Lisboa > Câmara dos Deputados > Intervenção do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné  > Sessão de 19 de Junho de 1913  (Com a devida vénia... 

Fonte:  Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República, a quem, na qualidade de ex-combatentes na Guiné,  estamos reconhecidos pelo trabalho de digitalização efectuado e pela sua divulgação na Net).


1. Continuação da publicação de excertos de intervenções do deputado António Silva Gouveia, empresário, fundador dsa Casa Gouveia, representante da Guiné na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1911-1915.  Pesquisa de  Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca Grande, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, Região Autónoma dos Açores  (foto à esquerda). 





Nota de CC

Nesta sua nova intervenção, também curta e directa como é timbre de um “prático”, como por vezes se autodefinia, o deputado Silva Gouveia trata de três assuntos. As dúvidas, que convosco partilho, dirigem-se sobretudo ao caso dos “grumetes”.

Os grumetes eram nativos mais ou menos cristianizados, de diversificadas origens étnicas. Como tinham familiares nas povoações, eram óptimos intermediários no comércio de Bissau e Bolama, além de servirem nas diversas tarefas ligadas ao comércio e à navegação. Viviam em Bissau, fora das muralhas, e em Bolama, misturados com a população local. Variavam de alianças conforme os interesses em jogo[1]

Em 1892, nas negociações para pôr termo a sangrentos combates entre as tropas fiéis a Portugal e os papéis auxiliados pelos grumetes, estes reconheceram­‑se súbditos de Portugal, devendo obediência aos administradores. A partir daí, os grumetes foram chamados a participar em campanhas de ocupação efectiva do território.

É possível que aquela “última guerra” de que falava o deputado se referisse aos combates contra os papéis para a conquista da ilha de Bissau. De facto, nessa campanha de 1908-1909, os grumetes afirmaram-se aliados dos portugueses, sendo pois natural que daí tivesse resultado a destruição, pelos papéis, das suas casas.

Compreende-se, assim, a posição do deputado relativamente aos grumetes: no fundo, além de serem essenciais à boa marcha dos negócios, demonstravam também fidelidade aos portugueses, partilhando com as nossas tropas as agruras e os dramas de campanhas bem violentas contra diversos régulos e suas tropas. Como homem de negócios, era natural que pretendesse a poupança nos gastos públicos, sobretudo os respeitantes à Guiné. Daí, talvez, o seu pedido para que não fossem enviadas tropas da metrópole, como tinha acontecido em 1908, com o desembarque de uma força metropolitana de cerca de três centenas e meia de oficiais e praças que se manteve na Guiné dois meses.

Só que… afinal nem António Silva Gouveia conseguiu antecipar o comportamento futuro dos grumetes, que tanto louvara. Em 1915, aliados aos papéis, os grumetes atacaram tropas portuguesas, comandadas por Teixeira Pinto. Com a vitória dos portugueses, dava-se por finda a “pacificação” da Guiné[2].
 


[1] Veja-se Wilson Trajano Filho, “O trabalho da Crioulização: as práticas de nomeação na Guiné colonial”, consultável em  www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/etn/v12n1/v12n1a06.pdf

[2] As informações relativas às campanhas militares na Guiné nesses anos foram retiradas de: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir.), Nova História Militar de Portugal, III vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, pp. 264-270.


[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]


__________

Nota de L.G.: 


Ainda sobre a figura dos grumetes, acima referida :

"Os grumetes eram africanos que, vivendo nas povoações luso-africanas e adoptando com grande liberdade os hábitos cristãos e os modos lusitanizados de ser, operavam como remadores, construtores e pilotos de barcos, carregadores e auxiliares no comércio.

"Como categoria sociológica, eles desempenhavam um papel chave no frágil compromisso em que a sociedade crioula se fundava, sendo os intermediários que faziam a delicada mediação nos relacionamentos entre a minoria de comerciantes europeus e luso-africanos e os régulos das sociedades tradicionais africanas que produziam bens para exportação".  (Wilson Trajano Filho, da Universidade de Brasília, in Outros Rumores de Identidade na Guiné-Bissau)".