sábado, 2 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18704: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (I)


Foto nº 9 > – Nas instalações da EPAM [, Escola Prática de Administração Militar], no Lumiar, em Lisboa: o meu último dia de Cadete... No dia seguinte seria promovido a aspirantes miliciano com divisas na diagonal, e direito a continência. Estava vestido com a farda nº 1 daquela época. Fins de Junho de 67.


Foto nº 10 > A minha foto tirada para o Bilhete de Identidade Militar, já como alferes miliciano, uns dias antes de embarcar para a Guiné. Porto, Setembro de 1967.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem 56 referências no nosso blogue.

GUINÉ 1967 /69 1967/69  > ÁLBUM DE TEMAS >  T001 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO  > CURSO DE OFICIAIS MILICIANOS  (COM)  > EPI | MAFRA; EPAM | LUMIAR, LISBOA  - Parte I


Virgílio Teixeira, hoje
(i) Como cheguei a Alferes Miliciano SAM (Serviço de Administração Militar)

Este devia ser o primeiro tema da minha participação no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, isto é, a incorporação militar, a instrução básica, o juramento de bandeira, a especialidade, a promoção a aspirante miliciano, os Estágios, a mobilização e a integração no Batalhão de Caçadores 1933 em Santa Margarida.

Mas,  como não foi, vai agora e ainda com tempo, pois tenho inesgotáveis temas para participar, não falando da vida ‘pós serviço militar’ que não é para aqui chamada.

Assim:

Com os meus 18 anos, isto é,  em 1961,  vou dar os chamados ‘sinais’ na minha Junta de Freguesia de Paranhos,  no Porto. Neste ano,  e na altura dos sinais, já tinha rebentado a guerra em Angola – a 4 de Fevereiro (em Luanda) e  a 15 de Março de 1961 (no noroeste),  com a ‘matança’ dos inocentes. 

O meu irmão mais velho – um ano e meio de diferença  - estava já na Índia há mais de um ano, pois a rebelião tinha também começado, em Dadra e Nagar Aveli, com os "satiagrás" a fazer o mesmo papel que futuramente coube aos nossos terroristas na nossa guerra de África. 

O meu pai já lá tinha estado na Índia, entre 1955 e 1958, no início da rebelião, por isso estou muito familiarizado com estas guerras todas. Nesse ano, em 18 de Dezembro de 1961, a União Indiana invadiu os territórios do Estado Português da Índia – Goa, Damão e Diu -, e fez prisioneiros os militares que lá estavam a cumprir o serviço, entre eles o meu irmão, sargento Rádio Montador. 

Esteve cinco meses em cativeiro no campo de concentração de Pondá, e curiosamente li aqui um artigo sobre este tema, e ele esteve a dois passos da relatada tentativa de fuzilamento de uma quantidade enorme de militares, por causa de uma fuga abortada de alguns, e depois um padre capelão veio salvar tudo [, Joaquim Ferreira da Silva, jesuita,d e Santo Tirso], temos na memória de estarem todos perfilados, e os "shiks" com as metralhadoras apontadas à espera da ordem de disparar. 

Tudo acabou em bem, tendo o meu irmão e restantes prisioneiros sido libertados em Maio de 1962, quando a guerra em Angola já estava em força com os primeiros contingentes militares a embarcar para lá. 

O espectro de vir a fazer o serviço militar como soldado tomou conta de mim. Tinha de dar a volta a isto.  Quando fui dar os 'sinais', isto é, em Junho de 1961, tive de dar as habilitações literárias. Apesar de estar a frequentar um curso comercial à noite, já no 4º ano, ainda não o tinha completado, pelo que o diploma que tinha para apresentar era apenas o da 4ª classe, nada mais.

Em 1962 começam a aparecer os primeiros mortos, militares, e dá-se um volte-face na minha vida. Como já conhecia o que era ser militar, pois passava alguns tempos nos quartéis onde o meu pai prestava serviço, e em especial a vida de um soldado, passou-me um clique pela cabeça, ‘eu tinha de ir fazer a tropa como oficial miliciano’... Era outra coisa, e ganhava mais. Eu já trabalhava de dia e estudava à noite. Não tinha muito tempo, mas imaginei, fiz as contas e atirei-me de cabeça.

Em poucos meses tinha de fazer um exame de admissão ao Instituto Comercial do Porto, pois tinha sido lançada uma experiência no ensino, com um curso de 2 anos, que daria equivalência ao 7º ano do Liceu, habilitação  mínima para ser admitido no COM.

Mas,  para esse exame, tinha de ter o 2º ano dos liceus, que nunca frequentei, pois quando acabei a primária, fui logo trabalhar, e aos 14 anos inscrevi-me no curso comercial, mas à noite, as matérias eram diferentes, e muito pouco sabia, pois a escola comercial tinha um curriculum escolar muito diferente dos liceus. 

Então preparo-me sozinho para esse exame do 2º ano liceal na época normal, e ao mesmo tempo começo em força a estudar tudo o que era do 5º ano, para fazer a admissão ao Instituto,  na 2ª época de Setembro de 1962.

Não sabia uma única palavra de Inglês, não sabia Física, nem Química, nem Ciências, nem Desenho, tinha umas noções de Português, Francês, Geografia, História e pouco mais. Uma senhora minha vizinha, ex-professora de Letras, oferece-se para me dar explicações de Inglês e aproveitei também para receber umas de Português, e não pagava nada, nem podia pagar.

Faltava-me a Matemática, o que eu sabia da escola comercial era cálculo comercial e aritmética, mas nada de Álgebra, Geometria e coisas dessas do liceu. Um amigo, que já frequentava a faculdade de economia, prontificou-se a dar-me umas explicações de Matemática num café ali para os lados do Campo Lindo, onde ele morava. Em pouco tempo consegui ‘perceber’ a matemática, e já não tinha problemas com isso, já sabia tudo até ao 5º ano.

As lições de Inglês e Português continuavam a bom ritmo e também absorvi rápido, porque era individual e intensivo, ao fim da tarde e fins de semana.  Veio a época de fazer o exame do 2º ano em Junho de 1962, e lá fui, tive algumas dificuldades em Desenho, pois nunca tinha feito ou estudado nada sobre desenho.

Mas safei-me e passei no exame do 2º ano liceal. Com esse diploma já me vou inscrever no exame de admissão ao Instituto Comercial. Ainda tinha uns dois meses e meio até lá, ia fazer na época de Setembro.

Mas o meu trabalho continuava, os horários mantinham-se por isso a alternativa era fazer verdadeiras maratonas e muitas directas com alguns, mas poucos que me acompanharam mas acabaram de desistir, não aguentaram este ‘ritmo’ alucinante. Estudava só nos cafés, com predominância do Café Cenáculo, inaugurado em 11 de Novembro de 1961. Era a minha sala de aulas e explicações, ficava sempre até fechar, já depois das 2 horas da manhã.

Na época de Setembro de 1962, faço o exame de admissão, e fico espantado comigo mesmo, pois tirei média acima de 14 valores, o que me dava acesso imediato á matrícula, sem fazer exames orais, que para mim era uma praga, não gostava nada.

Assim já tenho o 5º ano do Liceu, já podia ir para o Curso de Sargentos Milicianos (CSM)  Mas havia um preço a pagar, tive um esgotamento cerebral, não dormia, tinha de tomar comprimidos para não dormir e estudar até esgotar, todos os sítios e minutos eram para estudar, não comia muito bem, e perdi muito peso, fiquei esgotado, e comecei a tomar comprimidos de ‘ferro’ pela primeira vez.

Com 19 anos, em Outubro de 1962 inscrevo-me no Instituto, no 1º ano do ‘curso de acesso ao ensino superior’, era assim que se chamava. Só frequentava as aulas fora dos horários de trabalho, isto é das 8 às 10, e depois das 18 horas da tarde.

Era o curso da noite, sem rodeios nem vergonhas, era assim e ponto final. Tinha de competir com aqueles que tiveram um ciclo normal, com idades 2 a 3 anos mais novos, e todo o tempo do mundo para estudar. Comigo também entraram mais uns tantos, todos também com idades de adulto, para os cursos da noite, mas os exames eram feitos ao mesmo tempo dos de dia, não havia distinções nenhumas, nem benesses.

E aos 20 anos, em meados de 1963, vou à primeira inspecção militar, ali para os lados das Taipas,  na Cordoaria,  no Porto, onde existia um quartel velho. Ainda estava a frequentar o 1º ano do Instituto, ou seja o equivalente ao 6º ano do liceu.

Como pesava apenas uns 43 kg, os médicos acharam por bem mandar-me para casa e engordar um pouco mais. Fiquei adiado um ano. Foi-me dado logo o primeiro número de identificação militar – NIM – 00439364. Os dois últimos dígitos significam e ano previsto da minha incorporação – 1964 – o que não veio a acontecer.

Não sei porque fui adiado, mas hoje imagino que a tropa nessa altura não tinha muita gente letrada, para sargentos e oficiais milicianos, e eu tinha uma grande vantagem competitiva, frequentava um curso da área comercial, cujo objectivo era o curso de Economia, e tinha já nessa altura, em 1963, quase 9 anos de trabalho regular dentro da mesma área do curso que frequentava, uma área administrativa. E pessoal para servir como operacionais não faltava, era preciso quadros e técnicos, e havia aqui uma possibilidade comigo, penso eu agora, sem saber nada do que se passou.

Voltei no ano de 1964, novamente em meados desse ano e,  como estava mais ou menos na mesma, já não havia direito a mais um adiamento, por isso sou considerado ‘apto’ para toda o serviço militar e mantive o mesmo NIM, que viria a ser alterado.

Nesta época já estava praticamente feito o 7º ano, por isso já pertencia à próxima incorporação de Janeiro de 1965, para o Curso de Oficiais Milicianos (COM).

Acabei o Instituto também com média superior a 14 valores e assim entro directamente para a Universidade, sem precisar de exame de admissão, a que todos estavam sujeitos se não tivessem essa média do 7º ano.

Em Setembro de 1964 inscrevi-me no 1º ano do curso de Economia da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Um feito que sempre o considerei épico, para pessoas vindas da minha classe social, uma vez que nunca nasci num berço de ouro.

E o trabalho tem de continuar, pois é preciso pagar os estudos, e isso é tudo por minha conta, também é verdade que ganhava bem, acima da média, pois já exercia funções importantes nas empresas, apesar da pouca idade e habilitações básicas.

Novamente dou início a um novo curso, agora um curso superior, nas velhas instalações da Faculdade de Economia, na Praça dos Leões,  no Porto, em duas salas emprestadas pela Faculdade de Ciências, a Economia era um curso novo no Porto.

Mas não ia, ou ia muito raramente às aulas teóricas, porque eram em horário laboral, e eu estava matriculado como aluno ‘extraordinário’, que significava,  em termos mais práticos, alunos da noite, ou alunos de... segunda categoria.

Tinha aulas práticas obrigatórias das 8 às 10 da manhã, e depois da 6 horas da tarde. Os exames e provas correntes eram todas em conjunto, não havia distinções. Foi muito difícil, como também já havia sido no anterior Instituto Comercial, a cabeça estava cansada, tomava muitos comprimidos para as dores de cabeça – ainda me lembro do Optalidon, entretanto retirado do mercado. Passei a usar óculos devido ao cansaço da vista, mas lá fui por diante.

Conheci muita gente que mais tarde viria a ocupar os cargos mais importantes na administração e no Estado. Não vou mencionar ninguém porque não é importante agora. Não ganhei amizades nem confiança com esta gente, pois mal nos encontrávamos, só por mero acaso, nas aulas práticas para todos.

Entretanto já estava apurado, e pensei noutra possibilidade, já que aqui estou, com 21 anos em 1964, estou no 1º ano, mais 5 anos faço o curso, e em 1970, com 26 anos, estou a tempo de ir para a tropa, e se assim pensei assim executei. Pedi adiamento na incorporação do próximo ano de 1965, o ano normal da minha incorporação.

Faço o primeiro e segundo ano do curso, e já estamos em Setembro de 1966.  Mas surgem imprevistos, já conhecia a minha namorada, a estava perdido por ela, e com vontade de casar, e neste andar só com 30 anos lá chegaria e era tarde demais para mim, para ela não tanto, que tinha menos 5 anos, ainda ia a tempo com 25 anos.

E, afinal,  para quê?

Nunca tinha pensado chegar tão longe, havia outros, muitos outros problemas, isto que contei não foi assim tão fácil, na vida nada foi fácil para mim, eu tive de subir a pulso, nunca recebi nada de ninguém, nunca herdei um tostão até o dia de hoje. Mas,  como estas coisas, estas ‘histórias’ andam a percorrer as redes sociais, eu não queria adiantar muito mais, toda a gente tem acesso a estes conteúdos, e não quero, e muito menos a minha mulher que não gosta mesmo nada de redes sociais, mas tudo está já escrito no meu livro ‘não editado’ “A Minha Vida” (, está fechado a 7 chaves).

Assim,  num laivo de mais uma loucura das minhas, vou a Lisboa ao Ministério da Defesa Nacional, informando que queria desistir dos adiamentos, isto por volta de Novembro a Dezembro de 1966, e queria ser incorporada na próxima molhada.

E ainda avisei que, se não fosse feita a minha vontade, poderia até desertar. Não levaram a sério, senão metiam-me na gaiola. Assim ainda antes do Natal de 1966 já estou a receber a Guia de Marcha para Mafra, no dia 3 de Janeiro de 1967, teria de me apresentar pela 8 horas da manhã.

Ia fazer nesse mês os meus 24 anos, e nessa altura era uma idade ainda muito jovem, não se sabia de nada daquilo que os meus netos hoje sabem. Os tempos mudaram.

Um amigo meu com quem fiz algumas incursões pelo país, à boleia, de capa e batina, ele frequentava Direito em Coimbra, só viria a ir para a tropa muito mais tarde, e estava na Guiné no QG – no serviço de Justiça -, já era juiz de Direito, e com 31 anos estava lá no tal dia do golpe de estado do 25A4, e eu já estava casado e com 3 filhos menores. Este meu amigo é hoje ainda Juiz Conselheiro na Relação de Lisboa.

Em termos de comparação, os tempos em que os meus filhos estudaram, as mordomias que tiveram, os cursos superiores que frequentaram, os carros que tiveram para irem para as suas universidades, isto era tudo pago do meu bolso, não havia ajudas do Estado, também diga-se que nessa altura não me custava assim muito, pois trabalhava muito e ganhava bem.

Mas a vida dos meus netos, comparada com a minha e da minha mulher, é a noite do dia, não há termo de comparação, não é só com os meus, foi tudo com a maioria dos filhos da revolução. O país e o mundo mudaram muito nestes últimos 50 anos.

Quis exprimir isto para se ver até que ponto a força de vontade leva tudo à frente, não tive ajudas familiares, bem pelo contrário, acho que nunca acreditaram no que eu seria capaz de fazer, nem mais tarde reconheceram até onde cheguei. São coisas pessoais que estão encravadas na garganta como espinhas, por isso passemos à frente.

Fui para a tropa tirar o curso de oficiais milicianos porque fixei este objectivo que tinha de alcançar, não desisti nunca, não havia espaço temporal para nada, a não ser estudar e fazer exames. Devorava livros e Sebentas, decorei tudo, e agora a minha memória vai-me atraiçoando.

Gostava que em devido tempo, a minha família, pais, irmãos, conjugues, tivessem reconhecido esta façanha, mas não. Acho que ficou a inveja, e sei do que falo.

É desta forma que começa assim a minha saga, a vida militar, que viria a alterar por completo a minha forma de ser, de pensar, de agir, a irritabilidade e agressividade fáceis, importar-me apenas comigo e da minha nova família, a superproteção que imponho a mim próprio, a minha incapacidade de poder ver as consequências dos meus actos, devido ao excesso de fármacos que vou tomando diariamente até hoje, seguindo a minha própria automedicação.

Não vou continuar, ficamos por aqui e vou fazer os meus comentários às poucas fotos que tenho da minha vida militar até chegar à Guiné, e como nunca tive uma máquina fotográfica, estas fotos devem ter sido fornecidas pelos fotógrafos que acompanhavam a tropa e ganhavam a sua vida com este trabalho.

(Continua) 
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18703: Os nossos seres, saberes e lazeres (270): De Aix-en-Provence até Marselha (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Março de 2018:

Queridos amigos,
O tempo, à chegada a Aix-en-Provence, não estava de feição, desaguaram umas boas chuvadas, o viandante tem que aprender a dar a volta aos imprevistos meteorológicos, os museus são um bom refúgio. Aqui se chegara com boas ideias, até de fazer caminhadas por sítios onde Cézanne pintou alguns dos seus quadros mais famosos, com as ruas a alagarem-se preferiu-se ver Cézanne e os seus quadros, aguarelas e desenhos no Museu Granet, não havia ânimo para passeios nos arredores e curiosidade de ir mirar o Castelo de Vauvenargues, que Picasso adquiriu em 1959 e onde está sepultado no parque era muita. Mas como escreveu Saramago, as viagens nunca acabam, o que pode acabar é o ânimo do viajante, e este mantém o orgulho de que esse ânimo ainda continua jovem, ou quase.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (2)

Beja Santos

O acervo artístico do Museu de Belas-Artes de Aix-en-Provence é de um valor incalculável, o viandante leu em vários textos que é um dos mais importantes de França, não tem conhecimentos para ajuizar, facto é que encerra obras da Antiguidade Clássica, esculturas medievais, pintura flamenga e italiana, obras de Cézanne e do colecionador e pintor que dá nome ao museu, Granet. A digressão previra começar exatamente numa exposição Cézanne at home, começou-se no subsolo, na arqueologia, e depois percorreram-se as salas da pintura francesa nórdica e italiana. Por ali andou o viandante embebecido, de facto o museu tem escultura e estatuária antigas que metem respeito. Em dado momento misturou-se a visita convencional com a exposição a Cézanne, não tem importância, o resultado final da fruição é que conta.



Salta-se agora para Cézanne, celebra-se o grande regresso do mestre graças ao empréstimo de obras da Fundação Henry et Rose Pearlman. O que a exposição retraça é a rejeição do artista pela sua cidade natal, pela quantidade de visitantes que por ali deambulavam, é certo e seguro que a reconciliação está mais do que feita, Cézanne está completamente reconhecido como o pintor de Aix-en-Provence.


Retrato de Emile Zola

As Banhistas, de que há várias versões, é um dos ícones do mestre

Usines à l’Estaque, aguarela e guache sobre cartão, é património do Museu Granet

Natureza morta, açucareiro, peras e caneca azul, depósito do Museu de Orsay no Museu Granet

Um biombo onde Cézanne também trabalhou

Entrada da exposição Cézanne at home mostrando o genial artista junto de uma das versões de As banhistas

Um belíssimo quadro da escola de Rubens


Saindo da exposição de Cézanne, o viandante foi até às coleções permanentes onde estão expostas obras como estas de Giacometti, aqui se pode ver a altíssima qualidade museográfica, é preciso ter muito talento para saber expor, permitindo ver as obras deste espantoso escultor como que em caleidoscópio, por aqui se ciranda com contemplação e devoção, que riquíssima coleção de Giacometti!


Trata-se de uma doação de Philippe Meyer onde se pode encontrar obras de Picasso, Léger e outros grandes mestres como Chardin e Guardi, Mondrian, Paul Klee, Balthus e Giorgio Morandi, que grande panorâmica de algumas das maiores ousadias do passado à modernidade…


O viandante andou às voltas desta escultura de Giraud, já não se comenta o valor escultórico, só por pudor é que não se mostra o rosto de Aquiles ferido mortalmente no calcanhar, afinal, parece querer dizer o grande escultor, mesmo os heróis de Homero morrem como nós. Ainda há muito mais a ver, e do Museu Granet se irá partir para o chamado Granet do século XX, para a coleção Jean Planque, um galerista suíço que em Basileia juntou 120 obras que incluem Monet, Van Gogh, Picasso, Braque, Dufy, de Stael, Dubuffet e tantos outros. Até já.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18678: Os nossos seres, saberes e lazeres (269): De Aix-en-Provence até Marselha (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18702: (D)o outro lado do combate (31): Os dois aviões DO-27-A1, da FAP, nºs 3333 e 3470, abatidos em 6 de abril de 1973... Fotos do médico holandês Roel Coutinho (Jorge Araújo)



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).



GUINÉ > (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS DOIS AVIÕES DORNIER, DO 27-A1,  ABATIDOS POR MÍSSEIS SAM 7 STRELA EM 6 DE ABRIL DE 1973  NA FRENTE NORTE




1. INTRODUÇÃO

Durante o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, realizado no passado dia 5 de Maio em Monte Real, tive a oportunidade de conversar com os nossos ilustres aviadores da FAP, e camaradas, Miguel Pessoa e António Martins de Matos a propósito dos acidentes da aviação militar durante a guerra na Guiné e, de entre estes, sobre os dois Dornier - DO 27-A1, com as matrículas FAP 3333 e FAP 3470, abatidos em 6 de Abril de 1973, na região Norte do território, pelo grupo de artilharia antiaérea do PAIGC, do cmdt Manuel dos Santos, 'Manecas', com recurso a mísseis Sam 7 Strela.

No aprofundamento desta temática,  apresentei-lhes um conjunto de imagens recolhidas na Net pertencentes à colecção de fotos do médico holandês Roel Coutinho que cooperou, nos anos de 1973 e 1974, com o PAIGC, tendo prestado apoio clínico aos guerrilheiros na Região Norte, tanto em bases no interior do território como no hospital em Ziguinchor, no Senegal.

E as imagens apresentadas tinham a ver com aqueles dois Dornier abatidos. No final, concluímos que sobre estes dois casos não se conhecem registos fotográficos dos "acidentes" pelo que é credível estarmos perante "imagens únicas",  gravadas pela câmara do clínico holandês.

De acordo com a decisão tomada pelo doutor Roel Coutinho [hoje reputado médico microbiologista, epidemiologista e professor universitário jubilado] de autorizar o uso das suas imagens para qualquer finalidade, desde que a sua autoria seja devidamente atribuída, conforme consta na caixa abaixo, decidi partilhá-las convosco como provas históricas, e "memórias", gravadas durante a nossa presença no CTIGuiné.



Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > G05 > Ziguinchor, Senegal > Infirmary ambulance stuck in the mud [Ambulância atolada na picada; Roel Coutinho, o médico e fotógrafo holandês, junto à viatura, do lado do condutor]

[Foto da série  Roel Coutinho Guinea-Bissau & Senegal Photographs (1973 - 1974) Fonte: Wikimedia Commons, com a devida vénia].





2. OS AVIÕES DORNIER - DO 27-A EM 6 DE ABRIL DE 1973

Foram dois os aviões abatidos no dia 6 de Abril de 1973 - "DO 27-A1, matrícula «FAP 3333» e DO 27-A1, matrícula «FAP 3470».

Segundo informações recolhidas no blogue Acidentes da Aviação Militar, no poste de 28 de novembro de 2016, "Dornier DO 27, o "DO 3333" cai em Guidaje, tendo falecido o piloto furriel Fernando António Carvalho Ferreira e mais três ocupantes [vidé caixa abaixo].

De acordo com o referido por Nuno Mira Vaz, coronel de cavalaria na reserva, no seu livro "Guiné -1968 e 1973 – Soldados uma vez, sempre soldados!" (Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, 2003, p.60), "este avião nunca mais foi visto".




Será que a imagem abaixo é a do DO 27-A1 3333 [submerso],  desaparecido,  que foi captada pela câmara do doutor Roel Coutinho? É possível.

Fonte: Wikimedia Commons, com a devida vénia].


Quanto ao outro "DO 3470", e de acordo com a mesma fonte anterior, este é perdido em Talicó, tendo falecido o piloto furriel João Manuel Baltazar da Silva e mais dois tripulantes [vidé caixa abaixo].

Ainda, segundo Nuno Mira Vaz, este refere no livro acima citado, p. 60,  que "um DO-27 pilotado pelo furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de batalhão a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino. […] O DO-27 desaparecido acabou por ser localizado algures no mato, entre Bigene e Guidaje. Transportado de imediato para o local, em helicópteros, um pelotão de paraquedistas limitou-se a constatar a morte de quatro [três?] ocupantes".



Eis algumas imagens do DO 27-A1, matrícula FAP 3470,  caído entre Bigene e Guidage, como é referido na literatura consultada, obtidas pela câmara do doutor Roel Coutinho, que se encontra ao centro da foto acima reproduzida [Foto nº D09]

Mais fotos do DO 27-A1, FAP 3470, abatido pelo PAIGC, por uma míssil SA - 7, Strela, em 6 de abril de 1973.













 Foto, a seguir,  do DO 27-A1 3430, cruzando os céus da Guiné… como exemplo.



O Dornier DO 27 é um avião monomotor, asa alta, trem de aterragem convencional fixo com a capacidade de transportar seis passageiros ou o equivalente em carga. [Fonte; Blogue Últimas curiosidades > 19 de março de 2012 >  Guerra Colonial - O Dornier DO 27 na Guerra do Ultramar, com a devida vénia...]

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

31MAI2018.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18701: Parabéns a você (1445): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1973/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18696: Parabéns a você (1444): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1968/70)

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18700: Notas de leitura (1071): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (37) (Mário Beja Santos)

Uma das plantas do que seria a nova sede do BNU em Bissau


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
O aspeto mais importante que se observa da leitura destes relatórios do fim da década de 1950 é que eles ganharam uma tépida neutralidade, o gerente agarra-se permanentemente à terminologia da crise, há cada vez mais comerciantes que não se coadunam com a escassez do poder de compra. A crítica mais acerada do relatório dirige-se a esses arrivistas que demandam a Guiné em pequenos negócios particulares, mesmo quando são caixeiros-viajantes de empresas.
Já lá vai o tempo em que os relatórios esmiuçavam os transportes, os equipamentos, o estado das estradas, agora está tudo centrado no comércio, na liquidez e nas letras protestadas. Não há uma só menção a tudo que mudou com dois países independentes à volta da Guiné Portuguesa, isto no exato momento em que fervilha agitação em Dakar, Ziguinchor e Conacri, onde chegou Amílcar Cabral.
Lamentavelmente, este discurso será uma constante durante o período correspondente à guerra colonial, como é óbvio, com alguns matizes e alusões ao terrorismo.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (37)

Beja Santos

Impressiona a ausência de referências à pesca, é como se não existissem tais riquezas, seriam mesmo ignoradas? Um dos grandes acontecimentos de 1940 foi a missão geo-hidrográfica na Guiné, é impossível que não tenha havido uma referência mínima aos recursos marítimos. Até agora, os relatórios estão centrados naquilo que interessa predominantemente à administração em Lisboa: como vai a praça, como estão a evoluir as colheitas, quais os dados sobre a produção agrícola, se os comerciantes pagam a tempo e horas. O património do BNU na Guiné continua a crescer. Mas é em 1958 que pela primeira vez se fala em minas e petróleo. E da seguinte maneira:

“1 – Bauxite

No ano findo, a atividade da Companhia dos Alumínios da Guiné e Angola, SARL, firma a quem foi concedido o exclusivo da prospeção e exploração da bauxite nesta Província, não foi além do género de trabalhos já levados a cabo em 1957.
Apenas trabalhando durante o período seco, a sua ação pouco mais foi que prosseguir na prospeção e na abertura de picadas de acesso a novas zonas.
Parece não haver dúvidas sobre a existência deste minério em quantidade, bem como a respeito da sua boa qualidade, se bem que não seja a melhor, mas consta que a exploração só será economicamente viável desde que o Estado comparticipe em certos investimentos que se prendem com o transporte.
A exploração deste recurso representaria um grande passo em frente na economia desta Província, até porque poderia contribuir para o desenvolvimento industrial se aqui se desse a transformação da bauxite em alumina, já que não seria possível obter-se o alumínio por falta de condições par se conseguir a eletricidade necessária à sua produção – da ordem dos 20 000 Kw mais 6,6 toneladas de bauxite para uma tonelada de alumínio, segundo nos consta.
Na Guiné Francesa – atualmente a República da Guiné – existem e são já hoje exploradas grandes quantidades de bauxite que não tardarão a ser transformadas em alumínio no próprio território, visto estar prevista para muito breve a construção de uma grande barragem – a do Kouillou.

2 – Petróleo

Em Março do ano findo, por ocasião da visita que o então ministro do Ultramar, professor doutor Raúl Ventura, fez a esta Província, foi a Guiné informada pelo mesmo Senhor, de que iam ser oportunamente feitas, numa parte do seu território, pesquisas e prospeções de petróleo, por uma companhia associada da Standard Oil Corporation, de Nova Jérsia, que se denominaria Esso Exploration Guinea, Inc.
Com efeito, em 8 de Abril de 1958 foi celebrado entre esta Província e a referida Esso Exploration Guinea, Inc, o respetivo contrato para a concessão exclusiva de pesquisas e explorações de jazigos de carboretos de hidrogénios e produtos afins”.

Dá informações sobre o capital da empresa (40.000 contos) o prazo de concessão (40 anos, prorrogável por mais 20), período de pesquisas (3 anos), os investimentos obrigatórios durante o prazo de pesquisas e a renda de superfície (a Esso pagará à Província a quantidade de 3.22$65 por quilómetro quadrado da área de concessão, o que corresponde a 72.000 contos). E o relator adianta os seguintes dados:

“Este contrato obedeceu ao tipo conhecido pela regra do fifty-fifty, isto é, metade dos lucros para o Estado e metade para a companhia concessionária.
O pessoal técnico e administrativo da Esso instalou-se em Bissau em princípios de Setembro. Anteriormente, porém, já uma equipa de geólogos havia iniciado a investigação dos afloramentos antigos na Guiné.
As investigações geofísicas, consistindo de levantamento sísmicos e gravimétricos, foram iniciadas em Setembro por companhias geofísicas independentes (Western Geophisical Company e Robert H. Ray Exploration Company) contratadas pela Esso. Em fins de 1958, o número de técnicos e operadores ao serviço destas duas companhias era de 50 aproximadamente, acrescido de 40 trabalhadores indígenas. No que respeita a material, as três companhias dispõem de equipamento técnico, de instalações para os acampamentos portáteis das equipas encarregadas dos levantamentos geofísicos e cerca de 30 veículos automóveis, na maioria camiões e jipes com tração às quatro rodas.
Segundo estamos informados, os levantamentos sísmico e gravimétrico estão em progressão e continuarão ativamente”.


No relatório de 1959, o gerente privilegiou um relato financeiro muito apurado, foi de um inusitado laconismo quanto à situação da praça, dizendo:

“A praça continua a ressentir-se das deficiências já conhecidas: excesso de comerciantes, escassa produção e importação superior Às necessidades e ao poder de compra da população civilizada e indígena.
São tradicionais os seguintes fatores: insuficiência de cambiais para satisfazer uma importação sem controlo, agravada com necessidades sempre crescentes de transferências e mesadas para particulares; o hábito de imobilizar em prédios, não apenas os excedentes do capital, mas a parte dele indispensável ao giro comercial; incapacidade financeira e técnico-profissional de boa parte do comércio lojista; facilidades excessivas ao consumidor; fraco poder de compra do funcionalismo público e de quase todos os trabalhadores, por elevação do custo de vida, etc. Sintoma do agravamento da situação da praça é o facto de no exercício decorrente se terem protestado 218 letras no total de 3002 contos, em contrate com as 100 letras no valor de 1586 contos protestadas em 1958”.
Estamos já muitíssimo longe de relatórios onde se explanam detalhadamente a situação das colheitas, as obras dos portos, a vida económica e financeira dos municípios, a evolução das vias de comunicação, a evolução linhas aéreas e até o cuidado em elencar o preço médio local dos géneros alimentícios. Parece que esmoreceu o interesse em falar nas oleaginosas e no comércio com os territórios vizinhos. Dera-se o aparecimento, ainda que incipiente, de pequenas indústrias e falava-se na exploração das riquezas do subsolo. Mas instalara-se uma trama discursiva circulando à volta da crise. É bem curioso registar que quem analisou estes relatórios vai fazendo notas à margem, pondo até pontos de interrogação e de exclamação, e a certa altura escreve-se: “Em que ficamos, há ou não há crise?”.

Isto vem a propósito do que se vai escrever no relatório de 1960 acerca da situação da praça:

“A praça compõe-se de sete firmas consideradas grandes, bem dirigidas e organizadas. Existem ainda outras tantas de categoria média, e o restante comércio é constituído por indivíduos sem formação comercial, que o mesmo é dizer de comerciantes sem noção nenhuma da sua função económica, nem da ética. Apesar de não terem dinheiro nem condições materiais e morais para usufruir crédito, são, todavia jactanciosos e atrevidos.
Porque constituem a maioria, são os que mais reclamam a crise e as dificuldades, quando a verdade é que uma e outra coisa só existem neles e em relação a eles. No entanto, porque fazem barulho e agitação, induzem em erro de apreciação o observador desprevenido.
De facto, a Província está a braços com uma produção agrícola que baixa de ano para ano.
Consequentemente, a exportação diminui, reduzindo os meios de pagamento no exterior. A orgânica administrativa, por antiquada e cheia de vícios, não possibilita as condições para progressos nos objetivos fundamentais que seria míster alcançar. Estes e outros elementos concorrem para uma situação depressiva a que urge acudir com soluções práticas.
A maioria do comércio não tem capacidade para compreender estes fenómenos e seus reflexos, e conclui que o mal deriva de dois fatores únicos: o Estado querer arrecadar impostos e taxas e o Banco não dar crédito. Daí a propaganda, o clamor, à volta de uma crise que em regra só se verifica nos incapacitados, nos ambiciosos e nos tolos. Este é, quanto a nós, o panorama da situação da praça”.

Outra curiosidade que chama à atenção do leitor é o desinteresse em registar o que se passa à volta: nem uma palavra sobre a situação social que se vive na Guiné, como se não houvesse agitação, não há qualquer comentário ao protesto dos estivadores, no Pidjiquiti, em 3 de Agosto de 1959. Enfim, é um relatório um tanto sofismado e cabalístico, uma verdadeira assepsia, fica-se mesmo na dúvida se não houvera instruções para pôr termo a comentários de índole sociopolítica, parece que agora, para Lisboa, só interessa repertoriar o que vai na praça, isto no preciso momento em que Amílcar Cabral já está instalado em Conacri.

(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 25 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18676: Notas de leitura (1069): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (36) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 28 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18688: Notas de leitura (1070): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18699: Convívios (860): Rescaldo do XXVIII Encontro dos Maiorais da CCAÇ 2381, levado a efeito no passado dia 5 de Maio de 2018, em Abrantes (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

Alguns dos Maiorais presentes no XXVIII Convívio


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada, 1968/70), datada de 28 de Maio de 2018, com o rescaldo do XXVIII convívio dos Maiorais, levado a efeito no passado dia 5 de Maio.


OS MAIORAIS – CCAÇ 2381 COMEMORARAM OS CINQUENTA ANOS DA PARTIDA PARA A GUINÉ

Os MAIORAIS - CCaç 2381, embarcaram para a Guiné no dia 1 de Maio de 1968. Andaram pelas picadas de Ingoré, até finais de julho e seguiram para o Sul. No restante tempo de comissão, até ao regresso em abril de 1970, palmilharam as matas de Buba, Quebo (Aldeia Formosa) Mampatá Forreá, Chamarra e Empada. Estacionaram em Quebo, Mampatá e Chamarra. Desgastaram-se nas colunas de Quebo para Buba e vice-versa e de Quebo a Gandembel. Quedaram-se em Buba na proteção à construção da estrada nova para Quebo. Em maio de 1969, dois Grupos foram para Empada, mantendo-se o restante pessoal entre Buba e Mampatá no apoio e segurança à estrada. Acabaram a comissão em Empada onde se juntaram em novembro de 1969.

Comemoraram os cinquenta anos da partida para a Guiné num convívio que começou com uma visita ao Quartel de Abrantes. Tinham partido deste quartel no dia 30 de abril de 1968, já de noite com destino a Lisboa, onde chegaram de manhã. Depois do desfile ouviram o discurso de um alto graduado que disse, recordo-me perfeitamente: “Todos vocês têm na Guiné uma pequena parcela de terra e é vosso dever defendê-la, com o sangue se necessário”, ao que eu retorqui em pensamento: "dou-te o meu bocadinho, podes ir para lá tu". Claro que, ele não ouviu, e se ouvisse, ria-se de mim e dava-me uma “porrada”.

Neste reviver da partida para a guerra, os Maiorais presentes foram recebidos pelas autoridades militares. No mesmo dia, um batalhão, que tinha cumprido a comissão em Angola, comemorava o cinquentenário do seu regresso. As duas unidades de ex-combatentes foram recebidas pelas autoridades militares com uma guarda de honra em parada, tenho um senhor Major discursado para dar as boas vindas, usando uma linguagem de circunstância que sensibilizou os ex-combatentes. Seguiu-se a deposição de uma coroa de flores no monumento aos combatentes do Regimento de Infantaria 2 de Abrantes. Procedeu-se à chamada dos camaradas falecidos em combate o toque a silêncio em sua honra, e foram 8 no total. Três Maiorais e cinco do Batalhão.

Os Maiorais seguiram para a Capela do quartel para celebrarem uma Missa em Ação de Graças pelos Maiorais que regressaram e estão vivos e em sufrágio das almas dos que já partiram para o eterno aquartelamento.

Findo este ato religioso, os Maiorais, abandonaram o Quartel e seguiram para o convívio que se vem fazendo há vinte oito anos, com um almoço num restaurante em Alferrarede.

Ao fim do dia, os Maiorais partiram para suas casas, felizes e contentes com promessas de voltarem para o ano que vem.

José Teixeira


Receção às Unidades de ex-combatentes presentes no antigo RI 2 Com o representante do comandante da Unidade a discursar


O orgulho do Fernando Cardoso em transportar o Guião, ladeado pelo Zé Coelho e pelo Catarino


Jaime Mota, Zé Costa, Querido e Lagrante


Malta da Silva


Marques e esposa, Zé Teixeira, Azevedo e Raúl


Carlos, Freire Marques, Mota e Zé Coelho


Jaime Mota e Zé Teixeira


Zé Querido, Leandro e esposa


Leandro, Lagrante, Estorninho e Zé Costa


Cardoso, Batalha, Zé Coelho e Malta


Raul Brás

Samouco e Vítor, ex-furriéis presentes

Batalha, Dário Raúl e Freire


Zé Teixeira e Dário - o braço do padeiro ao enfermeiro


Leandro, Dário e Acácio
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18691: Convívios (859): XII Encontro do pessoal da CCAÇ 4740 e Cufarianos, a levar a efeito no próximo dia 16 de Junho de 2018, em Fátima (Armando Faria, ex-Fur Mil Inf MA)