segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18331: Notas de leitura (1042): História do Dia do Combatente Limiano”, por Mário Leitão (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,

Mário Leitão entra por vezes pela nossa sala de conversa adentro e conta-nos o que faz em Ponte de Lima, no dever de memória. Ciranda pelos estabelecimentos de ensino, faz convergência com instituições cívicas, lança os seus apelos nos jornais. Acha que os combatentes da I Guerra Mundial e das guerras de África ainda não receberam a merecida homenagem, ele estuda afincadamente os que tombaram e neste livro menciona-os com elevo e ternura. É um combate que nos comove e enquanto lia o seu livro lembrava o privilégio que me tinha sido dado de ir a Fafe falar a antigos combatentes de um livro que fora escrito para cinzelar o seu esforço e os seus sacrificos.

Um abraço do
Mário


Honra e glória ao combatente limiano

Beja Santos

Mário Leitão costuma vir conversar connosco, é com toda a justeza o mais denodado estudioso e promotor em Ponte de Lima do dever de memória, não se cansa de lembrar que durante 100 anos Ponte de Lima esqueceu-se dos seus filhos sacrificados na I Grande Guerra e pouco faz por recordar os mais de 50 limianos que tombaram em África, entre 1961 e 1974. Desse labor, e em edição sua, publicou em 2017 a “História do Dia do Combatente Limiano”, honrou-me com a oferta do seu trabalho.

É sobretudo um documento tocante de alguém que não desfalece e que anda pelas escolas, pelas associações cívicas e pelos jornais a batalhar pela sua causa, a nossa causa. Logo no prefácio o Coronel Luís Gonzaga Coutinho de Almeida explica o sentimento que os irmana, conta uma história:

“Um dia, a ouvir a lancinante dor de uma mãe por não poder fazer o luto do filho que morreu em combate no Ultramar, onde ficou sepultado, também a minha vida mudou no dia em que soube que um jovem da minha terra havia tombado pela Pátria, em 1917, na batalha de La Lys, e que jazia esquecido no cemitério francês de Richebourg L’Avoué, no Norte de França.

Nesse Verão, peguei no meu automóvel e percorri mais de 4 mil quilómetros à sua procura. Quando o encontrei (no Talhão A, Fila 10, Coval 13) pus-me em sentido à sua frente e benzi-me. Depois, baixei-me e abracei a sua lápide. Chorei e pedi-lhe desculpa, em nome de todos os habitantes da minha freguesia, por o termos esquecido durante 96 anos. E, quando à noite, voltei ao hotel a Lille, sentia-me outra pessoa, com o sentimento de um dever cumprido, mas essencialmente feliz e livre”.

Evocam-se partidas e sacrifícios, páginas de exaltação, como aquela situação de Júlio Dantas a propósito do embarque das tropas portuguesas da primeira expedição para Angola, no início da I Grande Guerra:

“Vi-os passar. Caminhavam quase nos braços do povo. Pequenos, robustos, tisnados do sol, curvados sobre as mochilas enormes, os trigueiros doirados das cabeças espreitando da sombra dos capacetes de feltro, as pernas curtas apertadas nas grevas, avançando, cinzentos, baços, compactos, como uma espessa coluna de poeira que tivesse aberto o caminho entre uma multidão – respirava neles, nas suas figuras desmanchadas, truncadas e alegres, aquela simples e ingénua bravura, aquele risonho e resignado heroísmo, que foi sempre, desde que os burgueses escuros e bárbaros dos primitivos concelhos se bateram em Navas de Tolosa, a caraterística fundamental da nossa raça”.

Há 6 corpos de limianos que ficaram na guerra, 5 em Moçambique e 1 na Guiné, que se transformaram num luto incompleto, nunca cumprido e permanentemente recordado. O mesmo, ou pior, se passa com os corpos de Celestino Sousa e Júlio Lemos, não recuperados de afogamentos ocorridos em rios guineenses. Isto escreveu Mário Leitão na sua coluna regular em Cardeal Saraiva, um dos jornais de Ponte de Lima. Ele vai descrever com detalhe toda a sua militância para que se comemore o dia do combatente limiano, lembra que Ponte de Lima foi o primeiro município a celebrar a memória dos seus filhos mortos ao serviço da Pátria em territórios ultramarinos, o que aconteceu em 1986. 10 anos depois foi colocado uma placa alusiva à homenagem de Ponte de Lima com o nome de todos os cidadãos do concelho mortos em missão militar. Investigações ulteriores revelaram mais nomes, o número ultrapassa os 50. Tem havido homenagens, mas, ao que ele nos revela, há em Ponte de Lima uma rivalidade sem quartel entre o CDS e o PSD, decretou-se temporariamente que esse dia do combatente não tem razão de ser, é suficiente o que se comemora sob a égide da Liga dos Combatentes.

É uma edição profusamente ilustrada, com textos alusivos e de várias proveniências. Numa dessas homenagens aparece o Coronel António Feijó a recolher a última Bandeira Nacional que esteve hasteada na Guiné até à hora da sua independência. Aqui fica o seu registo e um abraço ao Mário Leitão, um corredor de fundo que acompanhamos de perto.


A última bandeira nacional a ser hasteada na Guiné. Foi trazida pelo Coronel Bruno Pereira de Castro, conjuntamente com o clarim usado na cerimónia de transmissão da soberania para a República da Guiné-Bissau. Foram confiados ao Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima para fins museológicos. Cobriu a urna do Coronel Pereira de Castro do dia do seu funeral
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18324: Notas de leitura (1041): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (22) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

ESte livro do meu grande amigo António Mario Leitão, ve demonstrar como os politicos de agora comprometem-se publicamente e depis na hora da verdade dizem o dito por não dito e influenciam uma Assembleia Municipal formada na maioria pelos seus carneiros e fogem com o r..... à seringa.
António Mario nunca te falte a coragem de te bateres por tão enorme e justa causa.
O António Mario Leitão está a escrever um livro sobre todos os jovens Limianos que deram a vida pela PÁTRIA, (agora, estes politicos, não conhecem esta palavra)
Abraço amigo António Mario e no dia 10 de Junho lá estamos a dizer presente.