sábado, 10 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16472: Os nossos passatempos de verão (13): "Amarante, princesa do Tâmega" - Parte III: "Não passarão!"... uma lição de história, e de amor pátrios: evocando a heróica defesa da ponte do Rio Tâmega, de 18 de abril a 2 de maio de 1809


Foto nº 1  > A ponte  sobre o Rio Tâmega, em Amarante, com a igreja e o convento de São Gonçalo ao fundo, já na margem direita... 



Foto nº 2 > Lápide comemorativa do 1º centenário da defesa da ponte de Amarante (1809-1909). Reza assim: "As diminutas tropas que sob o comando do general Silveira foram, dispostas em defesa d'esta ponte, resistiram heroicamente durante 14 dias aos sucessivos ataques de fortes colunas francesas, até que, destruído o entrincheiramento principal por um singular estratagema, houveram de retirar-se em 2 de maio de 1808, indo continuar a luta em Trás-os-Montes. Em honra do notável feito e mandada colocar esta lápide comemorativa".


Foto nº 3 > Outra vista da ponte e do centro histórico de Amarante 


Foto nº 4 > Placa a meio da ponte




Foto nº 5 > Marcas dos combates de 18 de abril a 2 de maio de 1809 na parede exterior da igreja do convento de São Gonçalo


Foto nº 6  >  Igreja do convento de São Gonçalo: detalhe exterior


Foto nº 7 > Ponte sobre o Tâmega, visto da margem direita



Foto nº 8 > Relógio da igreja do convento de São Gonçalo


Foto nº 9 > Ponte e igreja do convento de São Gonçalo, vistos da margem esquerda


Foto nº 10 > A ponte vista da margem direita



Foto nº 11 > Rio e ponte, vistos da margem direita (1)


Foto nº 12  Rio e ponte, vistos da margem direita (2)




Foto nº 13 > Rio e árvores seculares


Foto nº 14 > Hotel da Casa da Calçada


Foto nº 15 > Ruínas do solar dos Magalhães, a primeira casa nobre a ser incendiada pelos franceses como retaliação à resistência dos portugueses


Foto nº 16 > Historial do solar dos Magalhães



Amarante > Agosto de 2016 > 


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Terceira (e última parte) dos apontamentos de uma visita,  de um dia de verão, a Amarante... O Rio Tâmega e as suas pontes... Aqui uma pessoa (e não precisa de ser poeta) dá-se conta da importância e da beleza de uma ponte... Física (como a ponte de Amarante) ou simbólica (como o nosso humilde blogue)...

Aqui, em Amarante,  nasceu o convento de São Gonçalo e à sua sombra dele,  desenvolveu-se um  importante local de religiosidade popular e de peregrinação... Aliás, primeiro apareceu o santo, que era minhoto (séc. XIII).

Mas esta bonita terra  (que eu conheci em 1975) só é sede de concelho depois da reforma administrativa de 1855.

O concelho de Amarante tem mais de 300 km2 e a sua população ultrapassa os 56 mil, segundo o último censo (2011). É um território charneira, sendo o  município limitado a norte pelo concelho de  Celorico de Basto, a nordeste por Mondim de Basto, a leste por Vila Real e por Santa Marta de Penaguião... A sul, é ladeado  por Baião, Marco de Canaveses e Penafiel, a oeste por Lousada e a noroeste por Felgueiras.

Pela reforma administrativa de 1855, Amarante agregou   a maioria das  freguesias dos extintos municípios de Gouveia, Gestaçô e Santa Cruz de Ribatâmega, e ainda algumas de Celorico de Basto.

A cidade reclama-se o título de "princesa do Tâmega"... (O nosso poeta e grã-tabanqueiro Luís Jales de Oliveira é capaz de "ranger os dentes" quando ler este poste; mas não... sei que é também um apaixonado por Amarante...).

A célebre ponte de São Gonçalo (que foi reconstruída em finais do séc. XVIII), é uma das mais célebres de Portugal e um verdadeiro ícone da cidade,  por ter sido  palco, durante 14 dias, de 18 de abril a 2 de maio de 1809, de encarniçada e heróica luta das populações e tropas portuguesas contra as tropas napoleónicas em retirada para Trás-os-Montes, na sequência da Segunda Invasão Francesa a Portugal (Guerra Peninsular, 1807-1814).

O gen Silveira (mais tarde nobilitado com o título de "conde de Amarante") e as suas tropas (incluindo milícias e civis mal armados) entrincheiravam-se na margem esquerda (fotos nº 3, 9 e 14), barrando a saída dos franceses em fuga, em direção à fronteira...

A resistência durou 14 dias... O  comando luso-britânico esteve alojado na antiga Casa da Calçada (foto nº 14), entretanto bombardeada e incendiada pelos franceses que acabam por  conseguiram romper as defesas portuguesas, em 2 de maio.

O gen Silveira reconquistou a ponte de Amarante a 12.

Ainda hoje há  marcas da violência dos combates (foto nºs 5, 15, 16). Os portugueses terão perdidos mais de 200 homens e 10 peças de artilharia. Das baixas francesas não rezam as crónicas.

Recorde-se que a II Invasão Francesa, sob o comando do gen Sout, começa com a conquista de Chaves (6 de março de 1809), a que se seguiu Braga (20 de março) e depois Porto (29 de março),.. É nesta ocasião a tragédia da ponte das barcas...

A segunda tentativa de Napoleão conquistar e ocupar o nosso país durou apenas 4 meses... A resistência popular foi heróica...

_____________

Nota do editor;

Vd. Últimos postes da série > 


7 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16460: Os nossos passatempos de verão (12): "Amarante, princesa do Tâmega" - Parte II... Uma terra onde a natureza, a cultura, a história, a religiosidade e a gastronomia se continuam a casar com perfeição...

Guiné 63/74 - P16471: (In)citações (98): "Cartas da guerra" é um filme, não é um documentário... E é um filme de Ivo M. Ferreira, e não de António Lobo Antunes... Mais: é um filme que procura dignificar os ex-combatentes, a quem apelo, como simples espetadora, que o vejam primeiro, antes de pôr um qualquer rótulo no realizador e sua equipa (Marta Léon, produtora O Som e Fúria)

1. Mensagem, de ontem, de Marta Léon, da equipa da produtora O Som e a Fúria,  a propósito dos postes e comentários que surgiram no nosso blogue, referentes ao filme Cartas das Guerra, do realizador Ivo M. Ferreira


Boa tarde Luís,

Desculpe a demora em responder-lhe. Estive a ler os comentários... Nem sei bem o que diga...

CARTAS DA GUERRA é um filme, não é um documentário, mas asseguro-lhe que dignifica os ex-combatentes e que não é um filme panfletário.

Não podemos falar de como as palavras do Ivo são aproveitadas pelos meios de comunicação. Podemos sim desculpar-nos de uma ou outra observação menos feliz.

Não posso falar pelo Ivo, mas penso que o que está implícito nas palavras dele, é que é um assunto que deveria ter sido discutido/falado mais, e não apenas entre os ex-combatentes. A observação refere-se à sociedade que os silenciou, e não aos ex-combatentes. A responsabilidade não é de ninguém, mas sim da situação política que se viveu na época. Ao regresso dos ex-combatentes da Guerra Colonial, deu-se uma Revolução em Portugal, acaba-se com a ditadura e tudo o que a ela dizia respeito fica no passado.

São os que não foram para a frente de combate, que não quiseram ouvir as histórias. E quando se fala da Guerra Colonial, não se fala do impacto que teve na vida de cada um dos soldados.

O filme passa-se na Guerra Colonial, mas não tenta ser um fiel retrato da Guerra. CARTAS DA GUERRA baseia-se nas cartas que o António Lobo Antunes escreveu à mulher, durante o período que esteve em Angola. Este é o foco do filme, as cartas que os soldados trocavam com os seus familiares.

Esta é apenas a minha opinião, Luís.

 Penso apenas que o filme deverá ser visto primeiro e depois então poderá ser feito um debate. Mas não me parece justo, colocar um "rótulo" no Ivo que não o descreve.

Acho também que não podemos evitar que tais comentários surjam. E com certeza haverá sempre quem se identifique com o filme e quem não goste. Mas espero que acredite quando lhe digo que não há qualquer tipo de pretensão da parte do Ivo ou da equipa do filme, em achar que sabemos o que os ex-combatentes viveram.

 Resumindo o filme à sua essência, fala-se de um jovem a quem o seu dia-a-dia é roubado para ir para a frente de combate, servindo de exemplo para falar de toda uma geração e da importância da chegada do correio vindo de um mundo sem Guerra. O filme é também uma história de amor.

Quanto ao aproveitamento de que se fala nos comentários, não consigo compreender. O facto de se falar de um tema da nossa História não creio que isso faça de nós oportunistas. Pelo contrário, acho que demonstra interesse em compreender esse período e que queremos que todo um país se interesse pelo tema.

Foram ouvidas as histórias dos membros da Companhia [de Artilharia] 3313, pois foi nesta companhia que António Lobo Antunes prestou serviço. Mais histórias, seguramente, ficaram por ser contadas, pois que se façam mais filmes, mais documentários, exposições, etc!

Mais uma vez, digo-lhe que, sendo eu um elemento que se juntou à equipa já estando o filme finalizado, como espectadora é para mim um filme que dignifica os ex-combatentes e fez-me refletir, sobretudo, na solidão que um homem sente quando lhe é roubada a vida e quanto isso o modifica. E penso que todos nós deveríamos reflectir sobre esse assunto.
Sei que me alonguei um pouco, mas sou dada ao debate!

Fico à espera do seu feedback.

Bom fim-de-semana,

Marta
________

Marta León

O SOM E A FÚRIA
Av. Almirante Reis, 113 – 5º, Esc. 505
1150-014 Lisboa, PORTUGAL
tel +351 213 582 518 | telem    +351 919 299 133
fax +351 213 582 520
www.osomeafuria.com


2. Comentário de L.G.:

Cara Marta;: como lhe disse, lamentavelmente, por razões da minha agenda  pessoal e profissional ainda não consegui ver o filme... Espero poder fazê-lo no início da semana que vem, se ele não sair do circuito comercial tão cedo. Desejo-lhe, de resto,  todo o sucesso, e costumo acarinhar tudo o que é português, feito por portugueses, seja em Portugal ou lá fora,  do cinema à ciência... Só faço uma exceção, para aquilo que é manifestamente estúpido e intrinsecamente mau.

Secundo o seu apelo ao bom senso: veja-se o filme, que é trabalho honesto, de gente jovem e talentosa, desde o  realizador aos atores, dos argumentistas aos técnicos, dos produtores e demais "staff" de apoio...

Veja-se o filme e depois comente-se...Cinquenta e tal anos depois do início da guerra colonial é ainda tão pobre a sua expressão cinematográfica...Contam-se pelos dedos da mão os filmes portugueses que de uma maneira ou de outra abordam o tema da guerra colonial. Mas,  como a Marta diz e bem, este filme é também um filme de amor. Se calhar, um grande filme de amor, muito mais do que um grande filme de guerra.


31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores

7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16281: Agenda cultural (488): O filme "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes, tem estreia comercial em 1 de setembro próximo

Guiné 63/74 - P16470: Parabéns a você (1135): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Apont Obus 8.8 do BAC 1 (Guiné, 1966/68)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16466: Parabéns a você (1134): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª Comp/BART 6522 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16469: Agenda cultural (498): Festival Todos 2016, na sua 8ª edição: A não perder, espectáculo de teatro documental, "Portugal não é um país pequeno", Academia Militar, Rua Gomes Freire, amanhã, sábado (17h00) e domingo (19h00): entrada gratuita, limitada à lotação do espaço (140 lugares)...


Lisboa > Festival Todos 2016 > Campo de Santana / Campo dos Mártires da Pátria > Antigo palácio do Patriarcado de Lisboa (séc. XVIII/XIX),  ao lado da embaixada alemã  > É aqui que tudo começa: secretariado do festival, quatro  fabulosas exposições de fotografia, "visita à luz da vela" de mais um futuro hotel de charme de Lisboa... (Uma das exposições é do grande fotógrafo português Luís Pavão,conservador de fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa.   que eu tive o privilégio e a honra de conhecer ontem pessoalmente e de com ele comversar sobre a "nossa" Guiné e o nosso blogue...).

Homens poderosos como o cardeal Cerejeira aqui viveram, trabalharam, rezaram, transpiraram e.... conspiraram. Uma oportunidade única para visitar o palácio (e este e outros, além de hospitais, conventos, quartéis, etc,. na colina de Santana e suas imediações), no âmbito do Festival Todos 2016,

O TODOS -  Caminhada de Culturas foi criado em 2009,  tendo vindo deste então a afirmar Lisboa como uma cidade empenhada no diálogo intercultural, interreligioso, interétnico, intersectorial, intersocial e intergeracional.

O TODOS tem contribuído para a destruição de guetos territoriais associados à imigração,  e marginalidade,  e fortemente estigmatizados, como é o caso por exemplo do Intendente / Anjos / Mouraria ou o Poço dos Negros / Calçada do Combro, ajudando a abrir  toda a cidade a todas as pessoas que nela querem (e gostam de ) viver e trabalhar.



O autor e ator André Amálio., a atuar ontem, na Academia Militar, no 1º dia do festival Todos 2016... UIm espetáculo que vale a pena...


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Teatro Documental >  PORTUGAL NÃO É UM PAÍS PEQUENO
André Amálio | Hotel Europa PORTUGAL


Sábado, 10 Set – 17h00
Domingo, 11 Set – 19h00

Duração 90 min | M/12 | Academia Militar – Rua Gomes Freire 
[Requisitar previamente o ingresso na porta de armas, um hora ou meia hora antes do início do espetáculo]





Cartaz do festival Todos 2016, Lisboa, Colina de Santana, Campo dos Mártires da Pátria, de 8 a 11 de setembro de 2016. Ver aqui o desdobrável com o programa em formato pdf


_______________

Guiné 63/74 - P16468: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (48): O filme das cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, realizado por Ivo M. Ferreira


Fotograma do filme "Cartas da Guerra",  do realizador portuguiês Ivo M. Ferreira, em exibição nos cinemas. Diversos "clips" (vídeos) podem ser vistos aui, no sítio O Som e a Fúria 

Sinopse

"1971. António vê a sua vida brutalmente interrompida quando é incorporado no exército português, para servir como médico numa das piores zonas da guerra colonial – o Leste de Angola. Longe de tudo que ama, escreve cartas à mulher à medida que se afunda num cenário de crescente violência. Enquanto percorre diversos aquartelamentos, apaixona-se por África e amadurece politicamente. A seu lado, uma geração desespera pelo regresso. Na incerteza dos acontecimentos de guerra, apenas as cartas o podem fazer sobreviver."



1. Mensagem do Antº Rosinha


[ Antº Rosinha é um dos nossos 'mais velhos', andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado, fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']

Data: 9 de setembro de 2016 às 00:02

Assunto: O Filme das Cartas de Lobo Antunes


Não sei será tão útil a publicação... Mas aqui vão as minhas impressões [, depois de ver o filme, "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado nas cartas que o António Lobo Antunes escreveu à mulher durante a guerra colonial].

Foi uma maneira muito interessante de pôr no cinema o espírito de revolta contra a guerra, nas cartas de amor, e dor da separação de um jovem casal.

O suplício da separação conjugal que aquela guerra provocou no médico sente-se permanentemente na voz permanente feminina (falha aí alguma coisa, apetecia que falasse em inglês e termos as legendas em Português) e num major, que desesperado pede ao médico para lhe inventar uma doença que o devolvesse para o ente querido.

Ora quando o major está desesperado, imagina-se que a tropa toda em geral estará no mesmo estado de espírito.

A fotografia dos quartéis retrata bem o espírito claustrofóbico dos 100 x 100 de arame farpado no meu entender e penso que ALA [, António Lobo Antunes,] também sente da mesma maneira a «preto e branco»

Mas embora para ALA aquilo tudo fosse o Cú de Judas nas cartas e no resto, a fotografia faz o gosto ao espírito negativista da guerra e da terra, do autor das cartas, e aquelas paisagens parecem mesmo um fim do mundo a «preto e branco», o que na realidade é a parte totalmente irreal, pois que ao mostrarem alguns elefantes a banharem-se num rio, que possivelmente será na reserva de caça da Cameia, rio Cassai com quedas maior que o Corubal, paraísos na terra, onde algumas anharas se veem secas num tom a preto e branco, são iguais às maiores bolanhas da Guiné mas com rios de grandes caudais de água limpíssima (e com diamantes), a imagem, tirando uma viagem de helicóptero, não dá ideia da beleza da região.

Portanto aqueles espaços abertos do leste de Angola (cús de Judas), muita água, muita caça muito verde, no filme parece mesmo uma terra triste, pobre e de miséria como refere algures, nas cartas ALA.

Fui ouvir novamente a «cumprimentação»,  as «mantenhas» à maneira do leste dos quiocos, o «moio» que ALA já usava na psico-social.

O médico também se viu de G3 na mão em patrulha a pé, e bolsa de primeiros socorros a tiracolo que na minha guerra de 13 anos nunca tinha visto.

Vemos um soldado atingido nas costas e perde a vida e há feridos e mortos numa mina.

Há uma sanzala queimada, também entram flechas, mas houve um fuzilamento, se não interpretei errado, o que pensava eu que nenhum comandante de batalhão permitia (vivia eu, enganado ?).

Todos estes acontecimentos, com a voz feminina permanentemente a ler as cartas e alguma música de fundo.

Li o livro, não me lembro que fale no elemento "lavadeira",  no filme também não se vê nenhum tropa a dar a roupa a nenhuma lavadeira.

O único assédio que se vê foi de um branco (civil, colonialista) num bar levar um nega da garota, «calcinha»,  "nem qui fossis tinenti".

Há uma cena que não interpretei completamente que é um militar completamente despido, fugir de arma na mão para dentro da mata. Vê-se a seguir militares a percorrer a pé e de Jeep campos e rios,
penso que seria à procura desse nu foragido.

Uma coisa que não se vê, foi ninguém ir de férias ou de folga à cidade mais próxima ou à capital, o que era prática frequente na tropa em Angola.

E os 24 meses obrigatórios não eram passados no "mato", pelo menos alguns meses eram as companhias transferidas para as capitais de distrito sendo que em geral era para Luanda e Sul de Angola. Esse pormenor não se vê no filme mas é mencionado no livro das cartas.

O essencial das cartas está lá.

Não se vê uma lerpa na caserna, só se vê uma suecada ou bisca, num descanso da patrulha.

A intensidade da guerra está bastante bem representada para o que se ouvia dizer naquele tempo.

Como repito às vezes, aqueles domínios também foram meus e nunca ouvi lá um tiro.

Não creio que vá ter muitos jovens a ver o filme, é mais gente que andou lá ou senhoras, antigas madrinhas de guerra.

Pena passar desapercebida a qualidade literária.

Cumprimentos
Antº Rosinha

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16379; Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (47): todas as colonizações são más, até aquelas que os portugueses começaram... e outros, "brancos, amarelos e negros" estão continuando... E vivam os guaranis do Brasil que se recusam a ir aos Jogos Olímpicos do Rio 2016

Guiné 63/74 - P16467: Notas de leitura (878): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Assim se põe termo a uma safra variegada de materiais adquiridos na Feira da Ladra: fotografias bem impressivas de uma unidade militar que andou pela Guiné entre 1959 e 1961, parece da maior utilidade comparar o que eles viram com o que experimentamos; um texto literário do início da década de 1980 assinado por Sérgio Matos Ferreira, muita poesia em prosa, trabalho de laboratório que constituiu moda mas que não resultou; e um texto panfletário assinado por uma senhora que hoje tem assento na Academia Brasileira de Letras e o seu marido diplomata, deviam ser ao tempo em que andaram na Guiné-Bissau (1975) dois utópicos que confundiam à vista desarmada os desejos com as realidades. Também assim se faz a vida.
E a seguir vou-vos falar de alguém que foi para a Guiné em 1961, acabou a comissão e ficou como chefe de posto. Há neste relato muito prosaico informações surpreendentes, como irão ver.

Um abraço do
Mário


Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: 
a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (3)

Beja Santos

“Guiné-Bissau: reinventar a educação”, por Rosiska e Miguel Darcy de Oliveira, Sá da Costa Editora, 1978, é um panfleto político grosseiro, documentalmente incorreto em que os autores se arrogam ao direito de falarem de processos de alfabetização sem oferecerem uma simples proposta à autoridade da Guiné-Bissau que os convidou a visitar o país para contribuir no desenvolvimento de um programa nacional de alfabetização de adultos. Os autores trabalhavam em 1975 no IDAC – Instituo de Ação Cultural, em Genebra onde Rosiska Darcy de Oliveira, cidadã brasileira, se doutorou. Mário Cabral, então ministro da Educação, convidava Paulo Freire, expoente mundial em pedagogia de alfabetização e a equipa do IDAC a visitar a Guiné. Apanhamos de chofre a exaltação da luta do PAIGC, no momento em que esperávamos perceber a missão dos peritos:  
“Um povo, um partido e um homem que souberam enfrentar os bombardeios de napalm, o deslocamento forçado das populações, a tortura e o terror, a agressão indiscriminada à população civil. O dilúvio da violência cega e desesperada de um exército colonial dirigida contra um povo organizado não impediu o surgir, por todo o lado, no campo, nas zonas libertadas do país, de escolas sob as árvores, de postos médicos móveis e de armazéns do povo. Enquanto os portugueses procuravam matar e destruir o povo, os animais e as plantas, o camponês guineense combatia, produzia e educava-se, criando no fogo dos combates as instituições anunciadoras de uma nova sociedade”.

O casal aceita com toda a alegria o convite e partem de Genebra, cidade rica de um Ocidente, pontuam os autores, cheia de mal-estar, onde se procura uma felicidade fugitiva e fugaz, uma civilização que falhou. E é com este menosprezo pela cidade em que estudam que vão aterrar em Bissau e descrevem o país com um grande entusiasmo militante, ali camaradas não quero somente indicar que pertencem a um partido, são camaradas porque se conhecem há muito tempo, lutaram juntos e enfrentam hoje, sempre juntos, novas tarefas. Ainda há marcas de opressão colonial, os portugueses não foram só colonialistas, foram também imperialistas. O PAIGC não é um partido como há tantos no Ocidente, longe de ser uma estrutura rígida, burocrática e inatingível, é verdadeiramente a expressão e o instrumento de realização de uma vontade e de uma consciência comuns.

Chegou o momento de falar de educação e de dois sistemas contraditórios, o da dominação colonial e o das zonas libertadas, houve que encontrar um compromisso, ademais, nos territórios da luta armada havia internatos organizados pelo PAIGC e o estudo estava ligado ao trabalho produtivo e os alunos participavam plenamente da gestão da escola, processo de educação dinâmico e aberto que cria tensões com a sociedade tradicional e com o sistema educativo colonial. No primeiro ano escolar, o PAIGC sentiu-se limitado a assegurar o funcionamento das escolas outrora monitoradas pelas autoridades portuguesas. Inopinadamente, vem nova lengalenga propagandística, as FARP são apresentadas como um caso bem-sucedido de alfabetização, agora, depois da independência encarava-se o papel das FARP num duplo objetivo no trabalho da alfabetização: permitir a redescoberta e a elaboração teórica de toda a experiência política e cultural acumulada pelos combatentes na sua prática de luta; favorecer a sua preparação política e qualificação técnica para novas tarefas, sobretudo a pensar-se na sua reinserção no meio rural. Como é de todos sabido, nada disto aconteceu, os antigos combatentes tiveram que ganhar a vida a lavrar bolanhas e adaptando-se aos mais humildes ofícios.

Teorizando sobre a alfabetização, os autores condenam os métodos conducentes ao individualismo e propugnam uma alfabetização que se torna um instrumento quotidiano de trabalho, há que pensar globalmente na educação, tomando em conta o projeto de sociedade e o modelo de desenvolvimento que se quer construir e para cuja realização a alfabetização e a educação devem contribuir. Como é também sabido, estas preocupações saíram muito cedo da agenda política do PAIGC, antes e depois do corte da Guiné com Cabo Verde.

Retomando a exaltação eufórica do projeto de sociedade guineense, os autores desdobram-se em situações de Amílcar Cabral, no modelo dos armazéns do povo que constituíam uma melhoria concreta da vida quotidiana da população e revelavam aos olhos de todos o fim da exploração do homem pelo homem (sabemos o descalabro em que acabaram os armazéns do povo e os diferentes negócios estatais montados no tempo de Luís Cabral). Chegamos assim à análise concreta do papel que a educação (e dentro dela a alfabetização) pode desempenhar para a realização do desenvolvimento. Há que excluir um sistema educativo que recrie estruturas de classe, que privilegie o sucesso individual, fugir a um sistema educativo de formação de pequenas elites, aproveitem as experiências das zonas libertadas e enraízem a escola no campo e na ligação entre o estudo e o trabalho. Esta reorientação, recordam os autores não é fácil e levanta uma quantidade grande de problemas concretos. Mas eles estão confiantes pois verificaram que na Guiné estão a ser empreendidas as primeiras experiências de união entre estudo e trabalho.

E chegamos assim ao ponto crucial da alfabetização. Aqui a linguagem dos autores modera-se: é preciso proceder por etapas, e justificam:  
“Querer iniciar imediatamente uma campanha massiva de alfabetização seria recair na perspetiva errónea que consiste em reduzir a aquisição da leitura e da escrita a um esforço isolado, como se fosse um fim em si mesmo. Se recusamos esta conceção que conduz apenas ao desperdício de recursos, qual é a alternativa? Como definir as etapas do trabalho a realizar, como identificar as zonas prioritárias por onde começar, como determinar o conteúdo da alfabetização e como encarar os seus prolongamentos?”.

As perguntas são pertinentes mas os autores não têm resposta para qualquer delas, dizem expressamente que têm umas pistas de trabalho. Mas mantêm-se ideologicamente firmes:
“A nossa premissa de base continua a ser a de que a alfabetização só tem sentido lá onde ela se torna um instrumento de trabalho na vida quotidiana da população, instrumento que permite ao grupo que se alfabetiza elaborar o conhecimento da sua realidade, visando aumentar o seu poder de transformação dessa realidade”.

Voltam a invocar o trabalho das FARP (que se demonstrou de importância ínfima), agarram-se a expressões vagas e genéricas do tipo “a alfabetização pode articular-se com o processo que leva a comunidade a assumir a organização e execução de determinados serviços sociais de base. Especialmente no terreno da saúde pública, ela pode associar-se à realização de campanhas de prevenção sanitária e higiénica”.

E alegam não ter respostas porque continuam a fazer análise de um processo em aberto, convidando mesmo os leitores a acompanharem o desenvolvimento desta experiência da escola, da educação e do saber. Desconhecemos se a análise dos autores prosseguiu sobre as novas etapas de alfabetização na Guiné-Bissau. Houve projetos de doadores para a alfabetização, de um modo geral não resultaram por falta de continuidade, por não adesão das próprias autoridades guineenses. Ao longo dos anos foi a cooperação sueca quem pagou aos professores, depois desistiram quando descobriram que o dinheiro era desviado para outras necessidades da administração, ficando os professores mais de meio ano sem receber o seu salário. E a alfabetização tornou-se um epifenómeno, uma quase excrescência do sistema educativo.

De qualquer modo, tem utilidade lermos estes panfletos exaltados e perceber como faltou gente capaz na cooperação internacional para se inserir nos grandes problemas sociais e económicos da Guiné-Bissau e saber abrir portas para o futuro.
Para que conste.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16450: Notas de leitura (877): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16466: Parabéns a você (1134): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª Comp/BART 6522 (Guiné, 1972/74)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16462: Parabéns a você (1133): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Esp do BCAÇ 4513/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)


Foto nº 1 > O Augusto Mota quando criança: "Marinheiro a cavalo kkkkkkk!!


Foto nº 2 > Algures no Brasil: "Eu, esposa e Bolinha (cachorra)"


Foto nº 3 > Algures no Brasil: "Eu e esposa"


Foto nº 4 > Em casa, à mesa: "Eu e empregados".

Fotos (e legendas(: © Augusto Mota (2016). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de ontem,  do nosso novo grã-tabanqueiro, Augusto Mota, que vive no Brasil há mais de 40 anos. com referência ao poste P16452 que precisa de ser corrigido, uma vez que as fotos publicadas não traziam legendas (*)

Caríssimo Luís,

Vou tentar matar de vez vossa curiosidade:

MEMÓRIA

Tal como disse em nosso último “bate-papo”, a memória não é o meu forte. Estou altamente preocupado com o agravamento da faculdade de recordar o passado. O que vem me auxiliando nesse aspeto é o fato de sempre ter sido uma pessoa organizada... mas vamos lá;

CABO CRIPTO

Talvez não tenha me feito entender. Não fui cabo cripto. Fui MATERIAL DE SEGURANÇA CRIPTO. Quer dizer, trabalhava com a criptografia propriamente dita. Confeccionava o material de cifra para os operadores de cripto trabalharem e, de maneira geral, todos os que por função tivessem que usar cifra em comunicação: telefonia, aviação, etc.

Éramos cinco indivíduos e trabalhávamos fechados, em um cofre, sempre no Quartel General. Meu amigo, quem andou pelo mato, sujeito a levar chumbo a todo o instante, pode dizer que o que fazíamos era moleza... mas o silêncio daquela sala, apenas cortado pelo barulho repetitivo do ventilador, algumas vezes me levou a desejar morrer. Era um sono irresistível.


Assim, pela minha atividade como militar será difícil alguém me reconhecer, salvo os outros indivíduos. As instruções eram pela discrição total.

Para melhor entendimento, informo que esse material, até nossa chegada, era produzido na CHERET, em Lisboa, e distribuído pelo “mundo” militar português, revestido da maior segurança. Devido à possibilidade de vazamento, decidiram confeccionar em cada colónia. Bom, me parece que sobre este assunto estamos acertados.

CCAV 488 

Eu não pertencia a esta unidade. Como disse, o meu tempo de militar na Guiné foi passado dentro de um cofre. Nesta unidade havia um amigo meu. Eu mandava jornais para ele e outros, recebia rolos fotográficos para revelar e reproduzir (Eu mesmo tinha um laboratório fotográfico e fazia as fotos. É outra história rsss). Não me perguntem quem era porque não recordo o nome. Convivi com os camaradas de Material de Segurança todos aqueles anos e não me recordo o nome deles. Sei que é uma desgraça mas é a realidade.

Pelo motivo acima não recordo do Armor Pires nem do Vasco Pires. Retribuo o abraço do Armor.

CADERNO DE POESIAS "POILÃO"

Nessa época meu tempo era restrito. Não dava nem para me coçar. Não recordo, tampouco, do Valdemar Rocha, Albano Matos e Luís Jales. Veja bem: tinha duas livrarias, assessorava um hotel, fazia a contabilidade do único jornal e gerenciava o restaurante no parque da cidade. Chega rsss?...

LIVRARIAS

Livraria Portugal (no edifício do hotel Portugal),

Livraria Didáctica (quase em frente ao mercado público)

e Livraria Campião (em frente ao Quartel da Amura).


NATURALIDADE

Nasci no Porto (capital do palavrão hehehe), freguesia de Massarelos. Vivi sempre, enquanto em Portugal, na Boavista.

Pronto! De momento, é tudo.

Um abração para vocês.
Mota

2. Comentário do editor:

Meu caro Augusto: Trabalhar às escuras  é o que dá: asneira... Imaginava-te cripto, e confesso que desconhecia essa tua especialidade, "material de segurança cripto"... Tenho uma desculpa: mandaste-nos as tuas primeiras fotos (*) sem legenda...

Presumo que tenhas dupla nacionalidade e, pelas fotos que agora nos remetes, deduz-se que vivas numa cidadezinha pacata do Brasil (profundo). É bom ter-te por cá. a ti, mais um valente português da diáspora... E ter-te cá. para mais tripeiro...

Acredita, faz-te bem este exercício de treino e musculação da memória. E, por favor, não te penitencies por não te recordares dos nomes dos teus camaradas de "bunker"... Já lá vai mais de meio século!...

Xicoração para a tua esposa, alfabravo fraterno para ti. (LG)
_________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 6 de setembro 2016 > Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Ex-1º cabo cripto (CCAV 488, Bissau e Jumbembem, 1963/65), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há 40 anos...

Guiné 63/74 - P16464: Agenda cultural (497): Festival Todos 2016, Lisboa, Colina de Santana, Campo dos Mártires da Pátria, de 8 a 11 de setembro de 2016: Destaque para a peça de teatro documental "Portugal não é um país pequeno", de e com André Amálio, na Academia Militar, Rua Gomes Freire, hoje (21h00), sábado (17h00) e domingo (19h00): entrada gratuita, limitada a lotação do espaço (140 lugares)... Há também visitas guiadas à Academia Militar no âmbito do festival. Muitas dezenas de eventos: Festival Todos... para Todos, em 8ª edição


Cartaz do festival Todos 2016, Lisboa, Colina de Santana, Campo dos Mártires da Pátria, de 8 a 11 de setembro de 2016.~




"Criado em 2009, o TODOS-Caminhada de Culturas tem afirmado Lisboa como uma cidade empenhada no diálogo entre culturas, entre religiões e entre pessoas de diversas origens e gerações. O TODOS tem contribuído para a destruição de guetos territoriais associados à imigração, abrindo toda a cidade a todas as pessoas interessadas em nela viver e trabalhar."



Destaque: 

Teatro Documental 

PORTUGAL NÃO É UM PAÍS PEQUENO 
André Amálio | Hotel Europa PORTUGAL 

8 SET – 21h00 | 10 SET – 17h00 11 SET – 19h00 [duração 90 min] M/12

Academia Militar – Rua Gomes Freire 

Sinopse1

Portugal sofreu a mais longa ditadura fascista da Europa (48 anos), 
e o mais persistente império colonial (500 anos). 
Partindo dos testemunhos de antigos colonos portugueses entrevistados pelo autor, 
este espetáculo de teatro documental reflete sobre a ditadura 
e a complexidade do fim do colonialismo português. 
Reproduzindo fielmente as suas palavras, 

André Amálio explora situações onde pessoas reais contestam 
e reconstroem identidades culturais. 
Um contributo para a reescrita da história 
e transmissão da memória entre  gerações.

Sinopse2:

Espectáculo que reflete sobre a ditadura e a presença portuguesa em África, 
em particular a vida dos antigos colonos portugueses 
através dos seus testemunhos reais. 

O texto deste espectáculo foi criado através de um processo de verbatim, 
que significa copiado palavra por palavra, 
o que se traduziu na escrita de um texto de teatro
 que utiliza fielmente as palavras das pessoas entrevistadas 
sobre a sua vida em África no Período Colonial Português. 

A metodologia seguida combinou a recolha de testemunhos dessas pessoas 
e uma detalhada pesquisa de historiográfica, 
criando um texto que retrata a complexidade da história recente em Portugal, 
no caso do fim do colonialismo português. 

 Com este trabalho quero investigar histórias reais 
que se tornaram memórias 
e que com o tempo foram herdadas; 
estou interessado em situações onde as pessoas reais 
contribuem para contestar e reconstruir identidades culturais; 
estou interessado na forma como o teatro pode contribuir para a reescrita da história, 
dando voz a um grupo silenciado, 
trabalhando assim na transmissão da memória entre gerações.

André Amálio

Guiné 63/74 - P16463: Memória dos lugares (344): Amarante, boas recordações da minha infância e juventude (1945-1963)... (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)


1. Comentário de Alcídio [José Gonçalves] Marinho [, foto à esquerda, da sua página no Facebook, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65); vive no Porto; é membro da nossa Tabanca Grande desde 23/9/2011]

AMARANTE


Cheguei à Amarante em fevereiro de 1945, com quatro anos e meio. (Nasci em 2/9/1940).

Andei na escola primária, na rua da Cadeia, largo de S. Pedro, onde  fiz a 1ª classe. A 2, 3ª e 4ª classe, passei-as já na Escola nova,  no  Largo Sertório de Carvalho (Campo da Feira).

Andei no Colégio de S. Gonçalo até ao 5º ano dos Liceus.Trata-se de  um Colégio diocesano (Porto) onde havia à época Padres e Freiras e  Professores Civis.

Andei na catequese e fiz a comunhão solene na imponente Igreja de S. Gonçalo.

Até aos 18 anos (inclusive), vivi, conheci e andei pela maior parte das freguesias, pois ia a todas as festas, até ao Alto do Marão, à festa de N. Sra. das Neves (15 de Agosto). Atravessei a pé a Serra da Aboboreira, para ir à festa de S, Bartolomeu, em Baião, dia 24 de Agosto, passando por Loivos do Monte, terra do Alpoim Calvão.

Foto de Manuel Resende (2011)
Um dos factos mais impressivos, que ficaram na minha mente, foi o grande nevão do dia 16 de Junho de 1957, que cobriu a Serra do Marão,e que cortou durante alguns dias a EN 15, para Vila Real

Conheci alguns dos mortos [da guerra do ultramar] constante da lista [, referente ao concelho de Amarante],  nomeadamente o Adão Oliveira  (que estudou comigo) e o Rodrigo Cunha.

A alguns dos soldados e cabos dei instrução militar em Vila Real.

Na época só havia o Colégio, o Salazar fechou o Liceu e a Escola Comercial e Industrial, pois Amarante era conhecida pela Terra dos Bois Pretos e do Reviralho (malta  da oposição ao Regime), como Lago Cerqueira [1880-1945] e outros.

Conheci o poeta Teixeira de Pascoais. O seu funeral foi num dia de inverno em que chovia a cântaros, em 1952. Outro tribuno célebre foi António Cândido.

Ainda vou muitas vezes a Amarante, onde tenho  condiscipulos, camaradas e amigos, infelizmente já não tenho casa de família pois foi vendida por questão de partilhas.

Boas recordações

Abraços
Alcidio Marinho
CCaç 412 (Bafatá, 1963/65)





Amarante > giosto de 2016 > A Casa da Calçada onde nasceu morreu, o político republicano e empresário amarantino António do Lago Cerqueira (1880-1945), conhecido opositor ao regime de Salazar. A Casa da Calçada é hoje um hotel de charme de cinco estrelas, ´É um edifício barroco, mas cuja origem remonta ao séc. XVI, sendo então um dos palácios do Conde Redondo.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16457: Os nossos passatempos de verão (11): "Amarante, princesa do Tâmega" - Parte I: A terra natal de um génio, Amadeo Souza-Cardoso

Guiné 63/74 - P16462: Parabéns a você (1133): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Esp do BCAÇ 4513/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16448: Parabéns a você (1132): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16461: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (18): A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)



1. Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande, tem mais de meia centena de referências no nosso blogue. É professor do ensino básico em Vila Verde e é filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). (tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974). E enviou-nos mais esta achega histórica dos últimos dias do Império.



A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (últimas notícias)





Assinaturas do Acordo entre o Governo Português e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no âmbito da Descolonização de Cabo Verde (19 de Dezembro de 1974). Documento do Arquivo Nacional Torre do Tombo.

Caros Amigos:
Acabei de ler o  o livro da autoria de Jorge Sales Golias, A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães, que vos aconselho a ler vivamente. Neste livro com prefacio de Carlos de Matos Gomes que afirma mesmo que "... é o trabalho sério e rigoroso, pessoal, de colocação no seu devido lugar do que aconteceu na Guiné ...", pude constatar depois de o ler com muita atenção, que apesar de no global, não dizer nenhuma "inverdade" no meu artigo (Retirada Final), já que que os principais acontecimentos históricos, bem como as suas datas coincidem com as apresentadas neste artigo e noutros também da minha autoria, existirá no entanto um erro na "cronologia dos últimos acontecimentos". 

A título de exemplo poderei referir que o pedido do PAIGC  no dia 4 de Outubro de 1974, para que as nossas tropas se retirassem na totalidade da Guiné até 15 de de Outubro, o que invariavelmente obrigou na altura "à revisão total do planeamento de evacuações via aérea e marítima", coincide de facto com os registos do CEM da altura,  pois o coronel Henrique Gonçalves Vaz afirma nos seus registos pessoais a  4 de Outubro de 1974 que:
"...Soubemos hoje que o nosso regresso se efectuaria a 15 deste mês! Novos planos, novas missões e novos aspectos de vários problemas a encarar! ..." 

No entanto, volto a referir que existe neste meu artigo sobre a "Retirada Final" uma incorreção, que gostaria de corrigir com base na Narrativa apresentada neste livro por este oficial do MFA e protagonista muito importante neste processo de descolonização da antiga Província Ultramarina da Guiné, que se relaciona com a (cronologia dos acontecimentos) entrega do último bastião das tropas portuguesas na Guiné, o Forte da Amura, da retirada das últimas forças militares por via marítima e a saída do comandante chefe das tropas portuguesas (Brigadeiro Carlos Fabião), o seu Estado Maior e os oficiais do MFA por via aérea. Como tal e segundo li neste livro do sr. coronel Jorge Sales Golias, a cronologia destes mesmos acontecimentos deu-se da seguinte forma, a saber:


Foto: © João Martins  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

 - O último acto oficial do brigadeiro comandante-chefe Carlos Fabião foi a deslocação ao Boé a pedido Comité Central do PAIGC, no dia 12 de Outubro de 1974 (dois dias antes de abandonar a Guiné) onde foi recebido por Luís Cabral;


In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).
 
- No dia 14 de Outubro, pelas 3 da manhã, o comandante-chefe Carlos Fabião partiu do aeroporto de Bissalanca, juntamente com os comandantes do CTIG, da Zona Aérea, do seu Estado-Maior (onde se encontrava também o seu CEM) e os oficiais da Comissão Coordenadora do MFA na Guiné. Este voo representou o penúltimo contingente das nossas tropas, e não o último. No aeroporto encontravam-se representantes do PAIGC em Bissau, nomeadamente Juvêncio Gomes, Vítor Monteiro, Constantino Teixeira, Paulo Correia e o comandante Silva Cabral (o célebre comandante Gazela); 


O Alto Comissário[1] (Vice Almirante Vicente Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça) ao lado de Aristides Pereira, futuro presidente da República, na abertura da primeira sessão da Assembleia Representativa do Povo de Cabo Verde.

Documento fotográfico do Arquivo Nacional Torre do Tombo.






[1] Nota: O então Comodoro Vicente Manuel de Moura Coutinho de Almeida D´ Eça, além de ter sido nomeado comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no Teatro de Operações da Guiné a partir de 14 de Outubro, posteriormente desempenhou as funções de Governador e Alto-Comissário, de Cabo Verde (Jan75).

- O último comandante das Forças Portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, ainda estacionadas em Bissau, foi o Comodoro Almeida D´ Eça, já que em 7 de outubro o brigadeiro comandante-chefe determinou: "É nomeado comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no TO (Teatro de Operações) a partir de 14 de Outubro à uma hora, o Exmo Senhor comodoro Vicente Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça com a missão de:

- O comandante das Forças Terrestres a embarcar (este sim o último contingente militar a abandonar o TO da Guiné), foi o coronel de infantaria António Marques Lopes;

- O comandante do destacamento da Força Aérea foi o tenente-coronel piloto aviador, Fernando João de Jesus Vasquez;

- Em 9 de outubro foi emanada pelo comandante-chefe a última diretiva, que detalhava o planeamento da entrega das instalações ao PAIGC (Ordem de Operações nº 1/74);

- Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas);

- Segundo o Relatório Final do CDMG (Comando da Defesa Marítima da Guiné),

- Neste mesmo dia e depois da cerimónia do último arriar da Bandeira Nacional, embarcavam as últimas tropas portuguesas (este sim, o último contingente a abandonar o TO da Guiné), para o navio NIASSA, em diversas LDG (Embarque simultâneo em LDG´s entre as 142300 e as 150130 segundo o Programa de embarque das Forças).

Como já disse todas estas informações, são fruto das investigações do sr. coronel Jorge Sales Golias, plasmadas no seu livro "A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", Edições Colibri, com prefácio de Carlos de Matos Gomes. 

Aconselho a sua leitura, pois narra de uma forma sábia o fim do nosso Império nesta antiga Província Portuguesa, mas sempre com uma contextualização dos acontecimentos políticos/militares na Guiné em relação aos acontecimentos políticos que decorriam na "antiga Metrópole", dos encontros de Dakar, de Londres e as negociações/acordos de Argel. Penso que com estas informações terei contribuído para um maior esclarecimento da "Retirada Final da Guiné" no ano de 1974.

Abraço para todos vós
Luís Gonçalves Vaz 


Imagem do Livro do sr. coronel Jorge Sales Golias

____________

Notas:



(**) Vd. postes de