sábado, 18 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16213: Os nossos camaradas guineenses (44): Criada, em Bissau, a Associação dos Filhos e Viúvas dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas (AFVCFAP): presidente Suleimane Camará (Idrissa Iafa, jornalista, Rádio Pindjiguiti)


Guiné-Bissau, Bissau > 2016 > Suleimane Camará,  presidente da Associação dos Filhos e Viúvas dos ex-Combatente das Forças Armadas Portuguesas. Cortesia da página do Facebook de Idrissa Iafa.



1. Mensagem de Idrissa Iafa, jornalista da Rádio Pindjiguiti, Bissau, com data de ontem:


Bom dia. 

Foi legalizada na semana passada a Associação dos Filhos e Viúvas dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas, denominada AFVCFAP, [com sede] em Bissau.


Neste âmbito queremos uma parceria convosco, afim de se unirem [connosco], para que aos nossos pais sejam pagos os seus direitos pelo Governo português, como faziam os outros países das [antigas] colónia portuguesas.

Em anexo esta uma reportagem sobre a legalização do referido associação. [

Obrigado e boa compreensão

Idrissa Iafa.


2. Comentário de LG:

Idrissa, infelizmente não conseguimos abrir o ficheiro (áudio ?)  que acompanhava a  tua mensagem, a qual temos todo o gosto em divulgar. Não temos, na Internet, qualquer informação sobre esta  nova associação. De qualquer modo, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são, costumamos nós dizer aqui, entre nós, neste blogue... e não é uma mera figura de retórica. 

Isto é válido para os nossos camaradas guineenses que integraram as Forças Armadas Portuguesas. Mesmo tardia, há alguma justiça que pode ser feita a esses nossos camaradas, que na sua grande maioria já morreram.  E, pelo menos, alguma da nossa ajuda humanitária pode doravante ser  encaminhada para a nova Associação.

Temos um série sobre Os Nossos Camaradas Guineenses. Queremo ser úteis e solidários. Mas precisamos de saber quais são os vossos objetivos. O Suleimane Camará, que nos contacte por email. Pomos desde o nosso blogue à vossa disposição. Mantenhas
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15284: Os nossos camaradas guineenses (43): Quem se lembra do Madjo Baldé, natural de Mampatá, nascido em 1936, sold at inf, Madjo Baldé. que serviu o exército português desde 1961 a 1966, incluindo a 1ª Companhia de Caçadores (Umaro Baldé, filho, a viver na ilha do Sal, Cabo Verde)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16212: Nota de leitura (848): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Não é um ensaio historiográfico, porém e doravante não se poderá prescindir para quem estudar Bolama e a Guiné-Bissau de ler este relato apaixonado e íntimo.
É um retorno à juventude, uma homenagem aos seus amigos, há uma descrição que António Estácio faz de Bolama que nos arrasta, viajamos com ele por ruas, praças e jardins, entramos em festas e piqueniques, visitamos amigos conhecidos, comemos fruta e vamos à praia.
Retrato de um mundo que se desvaneceu para todo o sempre e que mereceu um registo empolgante, tão empolgante que os guineenses são merecedores de o conhecer, cabem ali bolamenses e portugueses que fazem parte da sua história.
Que feliz ideia teve o António Estácio ao coligir estas memórias, repartindo connosco a sua infância.

Um abraço do
Mário


Bolama, um indefetível amor do António Estácio (2)

Beja Santos

Em “Bolama, a saudosa…”, o nosso confrade António Júlio Emerenciano Estácio surpreende-nos com uma pesquisa em torno das suas memórias bolamenses, edição de autor, 2016. Não se trata de uma pesquisa histórica, um levantamento minucioso sobre essa Bolama que deu querela internacional, foi capital da colónia quando no terceiro quartel do século XIX se deu a desafetação de Cabo Verde, uma Bolama que teve a Imprensa Nacional, uma unidade militar que formou o contingente local e em cuja baía aterravam e levantavam os Clippers da Pan American. Este livro é um contrato pessoal com um tempo, uma infância, muitos amigos. Mas não deixa de ser um levantamento apaixonante. Logo em 1935, quando havia sérios indícios da transição da capital de Bolama para Bissau, a associação comercial de Bolama move-se, segue uma carta para um deputado, é literatura modelar da época, pintalgada de romantismo:
“Bolama, Senhor Deputado, com a sua atmosfera de trabalho, calma e sadia, sem aquele marulhar de movimento que distrai e cansa aqueles que, pelo cérebro, têm que produzir; onde o Estado possui boas instalações valorizadas em alguns milhões de escudos e a vida dos seus servidores decorre graduada pelo sossego espiritual e por um ambiente materialmente saudável que com pouco mais se completará; Bolama, Senhor Deputado, em nada desmerece para que deva ser abandonado ao triste destino das inutilidades, a uma ruína completa que arrastará a uma vida de necessidades dezenas de contribuintes do Estado, que são hoje detentores de muitos milhares de contos que valorizam o património nacional precipitando tantos outros – a maior parte, na mais negra miséria”.
A decisão estava tomada, Bissau era o centro nervoso dos negócios, a partir de então todos mostraram compunção com a sorte de Bolama, mas a decadência tornou-se inexorável.

A recolha de António Estácio engrandece a história da colónia e há um poderoso ponto de reflexão para quem quer ver a Guiné-Bissau no mapa. Colige depoimentos de quem por lá passou, juízes, sacerdotes como o eminente Vigário Geral da Guiné, Marcelino Marques de Barros, junta efemérides, presta elementar justiça e Fausto Duarte, cabo-verdiano de nascimento, grande servidor da cultura guineense, foi responsável pelos anuários de 1946 e 1948, colaborador do boletim cultural da Guiné Portuguesa, romancista premiado, precocemente desaparecido. Estampa no seu livro imagem de magnificência e de ternura; homenageia gente absolutamente esquecida como António Augusto Cardoso, nascido em Freixo de Espada-à-Cinta, trazido pelo Governador Sarmento Rodrigues com o intuito de ensinar a construir carros de bois, foi ativo na Granja de Pessubé, e ficamos a saber que foram utilizadas madeiras como Bissilão, Pau-Sangue, Pau-Veludo, Pau-Conta, Pau-Bicho Rijo, Macete, Fára, Pau-Miséria e Farroba de Lala. Anota impressões de viagem incluindo estudantes de Coimbra que cantaram o fado em Bissau. Há inclusivamente o relato com o desastre de aviação que sofreu o Governador Vaz Monteiro em 1944. A notícia do jornal Arauto tem tensão e emoção, a descrever o desaparecimento e o reaparecimento de governador e filho:
“Afinal o que acontecera? Foi o caso que Sua Excelência o governador, tendo urgência de vir a Bolama, saiu de Bissau às 16,35 na avioneta pilotada pelo seu filho Fernando. Mas no caminho o vento redobrou de fúria, como é usual neste período, e o pequeno avião viu-se forçado a aterrar precipitadamente, vindo a cair em cima do tarrafo da costa do continente, próxima da Ilha das Cobras, visto não conseguir alcançar uma lala que ficava próxima. Na queda foram cuspidos fora do avião, tendo ficado sem sentidos. Quando voltaram a si e viram que não havia ferimentos graves, graças à perícia e serenidade do piloto, tentaram sair daquele lugar e procurar refúgio, mas com a névoa não conseguiram desemaranhar-se do tarrafo altíssimo e ali passaram a noite ao frio e à chuva. Logo porém, que romperam os primeiros clarões do dia, puseram-se a caminho, e ao fim de três horas de acidentada viagem conseguiram alcançar a praia; dali fizeram sinal cujo ruído ouviam há muito mas sem o poder ver. Foi nesta altura que a própria vedeta divulgou a feliz notícia”. Houve regozijo geral, realizou-se um solene “Te Deum” a que assistiram funcionários, comércio e numerosíssimo público.

Fala-se da viagem de um dos maiores dos jornalistas portugueses à Guiné, Norberto Lopes, da inauguração da estátua de Ulysses Grant, que muito mais tarde o Comandante Alpoim Calvão comprou parte do busto por cinco milhões de francos CFA. Há também memórias de Alexandre Barbosa e Hélder Proença e depois António Estácio lança-se num relato empolgante na descrição de Bolama, descreve os seus diferentes setores, toca-nos o coração, até porque há impressões pessoais:  
“Não posso deixar de realçar que, certo dia do mês de Maio de 1957, a minha mãe atarefada com a esgotante tarefa de dar aula a duas classes em simultâneo, ralhava para nós nos alhearmos da barulheira que se ouvia na sala de aulas. Nós desconhecíamos o que se passava, procuravam apedrejar uma cobra que tentava esconder-se em qualquer canto. Mas, aos poucos, o barulho aumentava cada vez mais e eis que vemos entrar na sala uma cobra escura e que se apresentava já ferida. Os alunos da 4.ª classe pegaram em mapas que estavam dependurados nas paredes, enrolaram-nos bem, acertando com boas cacetadas, imobilizando a cobra”.


Craveiro Lopes, em Maio de 1955, visitou Bolama e António Estácio conta-nos como foi.

Estamos num ponto crucial da obra, fala-se das grandes famílias de Bolama, sucedem-se os testemunhos como o de Elisé Turpin, um dos fundadores do PAIGC, fala-se de Armando Victor Estácio, momentos há em que Estácio volta à sua juventude, as imagens são indeléveis:  
“Bolama, no tempo da fruta madura, fosse mango, caju, jaca, laranja, goiaba, fruta-pão, tudo era bom. Cada um trazia por hábito no bolso uma embalagem de sal e malagueta, para comerem a manga verde quando iam tomar banho no ‘Pinto’, Fonte de Polícia, Tambacumba grande e Tambacumba pequena, que ficava na zona de Oncalé. Também íamos buscar cocos à Casa Nova, propriedade da Casa Gouveia”.
Não fica esquecido Francisco Valoura, de cuja obra já se fez menção no blogue. O autor dá uma especial atenção a avisos, anúncios, agradecimentos, notícias infaustas, menções comerciais, exibe mesmo um despacho datado de 1972 que é um texto primoroso e aqui se reproduz.

Podemos imaginar o labor e amor que António Estácio imprimiu a um documento tão pessoal, tão cheio de pesquisa, a uma tão grande partilha de intimidade. Fez bem, a Guiné merece-o, oxalá que estas fartas memórias fiquem rapidamente ao alcance da terra onde nasceu.
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Nota do editor

Poste anterior de 13 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16196: Nota de leitura (847): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16211: Banco do Afecto contra a Solidão (16): Destino marcado: camaradas, sucede que, tendo sido um combatente e depois um grande lapidador de diamantes, esgotei as minhas baterias... Estou doente... Aguardo a guia de marcha para o Lar de Runa!... (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem,  de 11 do corrente, enviada, por Mário Gaspar (ex-Fur Mil At Art,  Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68),  e que estranhamente nos soou a "despedida"...  

O Mário arranjou, ao fim de vários anos de espera, uma vaga no Lar dos Veteranos Militares de Runa, mais conhecido por Asilo de Inválidos Militares de Runa.no concelho de Torres Vedras: 

Caros Camaradas da Tabanca

Após a ter partido para aquelas terras, lá no fundo do horizonte, tive de caminhar para a outra linha. Com a mão estendida consigo alcançá-la. Mas é guerra, o único tremor de terra que me quebrou. Parti… Feito em cacos. Com arame e cola pensei vir a ficar... como era… Estúpido que fui.

No dia 6 de novembro de 1968, acendi um fósforo, outro de seguida e queimei os sonhos. A nuvem parecia inicialmente ser cor-de-rosa, ficou como alcatrão, e foi nessa escuridão que permaneci. Atravessei o mundo, de uma ponta a outra. Eu que lera bibliotecas, nem uma linha de escrita a uma amiga ou amigo. 1969… 70… 71… 72… 73, e… alegria das alegrias: – O meu filho Carlos Pedro já não vai para a guerra.

Nunca desistira da luta. Já em janeiro de 74 havia estado numa greve. Escrito no Caderno Reivindicativo: – Considerando que o preço das batatas é de 4$00, valor igual para a Empregada de Limpeza; para o Serralheiro; Escriturário; Lapidador de Diamantes ou mesmo Director da Empresa. Primeiro: 2.500$00 de aumento “per capita”!

Escrever; ler; ir ao Cinema e Teatro? Nada disso, estava dedicado somente ao trabalho. Não havia tempo a perder. Era o carrossel. “Olha aquela menina de amarelo… Mais uma volta, outra ainda”. Sem atropelos atinjo o topo da pirâmide em meros 2/3 anos. “Entrava mudo e saía calado. Parei quando o meu amigo Jorge Manuel Alves dos Santos, Presidente da Associação APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra – ambos fundadores, era eu Secretário da Direcção Nacional, me diz: – Vamos fundar um Jornal e vais ser o Director!
Respondi que não, como nunca fui pessoa de desistir, nem de oferecer como voluntário… Aceitei. E fui Director. Deixara de escrever “na queima dos sonhos – em novembro de 1968, estávamos em dezembro de 1995. Vinte e oito anos (28). E não parei de escrever… Até a exaustão e os leitores ficarem fartos… Fartos mas de mim.

E as frases que alguém escrevera: – “Se não fosse eu… Enfim, o que seria de mim” – “A guerra continua dentro de mim” ou, entre outras: – “Uso-me… Mas não sou para usar”!

Já entretanto comprara um novo traje… Não o de luzes, mas o mesmo que ainda visto. Com um sorriso no colarinho, com um nó da teia de aranha no lugar da gravata, aliás esse nojento bicharoco – animal de estimação do futuro – que em garoto me habituei a adorar. E as baratas? Um pontapé e o bicho virado ao contrário – não de avesso – esse é outro bicho. Mas a barata fica assim, dando à perna e…

Mas recordo também outro, o percevejo – para não falar do “chato”. O camarada coronel Matos Gomes deve recordar, julho de 1966 em Lamego, nos Rangers: – “É chato, é chato... Sambinha chato, mas é... chato o sambinha que é mesmo chato.

Não havia quem desse a volta, mesmo que Oficiais e Sargentos Milicianos, dessem com todas as botas e partissem todos os apetrechos que repeliam tais vómitos… Chamavam àquele barulho ensurdecedor de música.

Pois e os “corredores da morte”; “corredor de Guileje”; o outro “corredor que atravessava, também da morte, quando manuseava minas e armadilhas”; o “corredor da morte do meu coma” e este último “corredor da morte – o Lar de Runa”.
Este último não vou perdoar aos Dirigentes Associativos de Combatentes, por não ser local no País onde se coloque alguém, depois de tanto Quartel ao abandono, nunca pediram para acabarem com o Lar de Runa. Fica longe do nada… Mais perto Torres Vedras e são 6/7 quilómetros. Vou acabar por morrer num local bem semelhante a Gadamael Porto… E não há bajudas. Muito teria a acrescentar.

Não falo das condições, mas da localização.

Tinha tanto a acrescentar no Blogue àquele novo desafio que só tardiamente tive conhecimento, do tempo perdido naquela inglória zona de Cacine a Mejo e Guileje – julgo pertencerem ao Sector 2, com sede em Buba.

Não são horas para estar acordado. Estou no final de uma Operação… E estou deveras cansado. Como dizia o meu amigo Raul Solnado:
– “Senhor, estou farto”.
E outra dele: – “Sejam felizes”!

Um abraço para a Tabanca Grande.
Mário Vitorino Gaspar

PS - Ainda não estou em Runa. Aguardo a Guia de Marcha.

Envio um poema meu declamado pelo amigo João Moutinho Soares. [, ficheiro áudio em formato não compatível; terá que ser oportunamente convertido para vídeo;  optamos por reproduzir apenas a letra do poema, que o autor nos mandou, ontem, com uma explicação adicional,  de uma cruel lucidez, sobre as circunstâncias (dolorosas) em que decidiu aceitar a vaga que obteve no Lar de Runa],


Nu

por Mário Vitorino Gaspar

Se ficar nu… Despido.
Tirar a máscara.
Ser rosto esculpido
Na estátua… Que se encara;
Se for diamante polido
E jóia ou moeda rara,
Ser estátua ou diamante
Melhor seria… Amante.

E se for um livro perdido
E a página toda riscada,
A história não faz sentido
E acaba por não ser nada.
Se for sopro de ar vertido.
Vento ou sonora trovoada,
Se for o nu da lágrima só
Caída na gravata com pó
 

E se for o riso da criança
Ou mesmo se for… O choro
Será o sinal da confiança.
Se for lágrima? Eu decoro
Por acaso for… A fiança.
Nota musical solta do coro.
Criança e lágrima é riso,
E neste mundo é preciso
Bebés… 
Nus e choramos
Crescemos… E amamos.



Lar dos Veteranos Militares, Runa, Torres Vedras (foto gentilmente cedida por Mário Gaspar)
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Nota do editor:

Útimo poste da série > 18 de outubro 2011  >  Guiné 63/74 - P8920: Banco do Afecto contra a Solidão (15): O caso do José António Almeida Rodrigues, ex-prisioneiro de guerra (entre Junho de de 1971 e Março de 1974): uma história de coragem e de abandono (José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P16210: Parabéns a você (1096): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16199: Parabéns a você (1095): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16209: Convívios (755): Grande ronco no 31º Convívio Anual da CART 3494 em Arcozelo – Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)



1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte trabalho sobre o convívio anual da sua Unidade:

GRANDE RONCO NO XXXI CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 EM ARCOZELO – VILA NOVA DE GAIA

No passado dia 11 de Junho de 2016, realizou-se na Vila de Arcozelo do concelho de Vila Nova de Gaia o XXXI encontro/convívio anual dos ex. combatentes da CART 3494 cujo lema é: “NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ”, que estiveram/prestaram ao serviço de Portugal na Guerra da Guiné, nomeadamente no XIME e em Mansambo nos anos de Dezembro e 1971 até Abril de 1974. 

Como sempre nestes casos, conforme o pessoal ia chegando, era uma azáfama de saber uns dos outros, os abraços o repetir as mesmas Estórias, a tristeza e as lamentações sobre a saúde precária de alguns, o desaparecimento de outros.

Convívio com uma boa adesão, diria até, que bateu o record em número de presenças, 104 dos quais 52 veteranos. 











Carlos Teixeira .....................Nelson Cardoso 

O repasto foi servido num restaurante local. Numa breve intervenção, o CMDT Pereira da Costa da CART 3494, para além de expressar o contentamento por estar connosco, sublinhou entre outras coisas não menos importantes, que estes encontros são um acto de cidadania, lembrou da importância das nossas esposas/companheiras, para que nunca se cansem de ouvir sempre as mesmas Estórias, porque se contam sempre as mesmas Estórias, quer dizer que é verdade, salientou da importância de passar esta mensagem aos nossos filhos e netos, para que nunca sejamos esquecidos. Houve muita animação onde não faltou a declamação de poemas, não faltando até quem se atrevesse a mostrar os seus dotes vocais e musicais.

Por fim, já no final da tarde, foi o destroçar, o regresso às suas casas com a promessa de voltar no próximo ano, será o XXXII encontro a realizar em Viseu. A organização está a cargo do Nelson Marques Cardoso e Carlos Duarte Teixeira.

Intervenção do Coronel de Artilharia na Reforma, ex, Cap. Da Cart 3494 no Xime e CART 3567 em Mansabá: 


Momento de descontração por Cmdt. Pereira da Costa:


Algumas fotos do convívio: 

  
O Pessoal da CART   


Da Esq./Drtª. António Gomes Azevedo, António Manuel Sousa de Castro, António de Sousa Bonito e Nelson Marques Cardoso


Da Esq./Drtª: Manuel Amorim do Alto, Lúcio Damiano Monteiro da Silva, Jorge Alves Araújo, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esq./Drtª: António Júlio Peixoto, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esd./Drtª: Manuel Henrique Moreira Martins, Eduardo Augusto da Silva (CAÇ 4512 Farim), Sousa de Castro e João Domingos de Sousa Machado


Do lado Direito o CMDT Pereira da Costa e sua Esposa


Aspecto geral da sala

Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873 
Junho de 2016
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Nota de MR:

Último poste da série em:

Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20


Capa do livro "Corre-me um Rio no Peito", de Luís Jales de Oliveira, ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. Capa de Samara (João Campos). Dedicatória do poeta,  manuscrita, em baixo, ao nosso editor Luís Graça.



Oluveira (2010). p. 7


1. O Luís [Manuel] Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão [, rio e monte referidos no poema abaixo] [, foto à esquerda]:

foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).

O poema qie a seguir se reproduz, com a devida autorização do autor, é um dos mais belos que eu tenho lido. relacionados com a Guiné e a guerra colonial.

Descortino-lhe uma dupla fonte de inspiração:  (i) a biblíca, a do Salmo 137, Livro dos Salmos Antigo Testamento;  e (ii) as não menos célebres redondilhas de Babel e Sião, de Luís de Camões: Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me achei,« / Onde sentado chorei / As lembranças de Sião / E quanto nela passei. (...)

O Luís Jales disse-me que este poema foi "inspirado pelo Rio Cacine", mas com o Rio Tâmego no coração, quando, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocada a sua CCAÇ 20:

(...) Na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir. Já não conheci o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia. 


"Não participei na 'batalha de Gadamael' pois coincidiu com a nossa partida de Bolama e com a chegada a Cacine, onde fiquei acampado, na praia, vários dias a guardar os equipamentos da  Ccaç 20. 

"Vivi a fase posterior de incontáveis bombardeamentos e contactos de cada vez que se punha o nariz de fora do arame farpado. Prometo que hei-de desfiar, na nossa Tabanca, as estórias e aventuras relacionadas com o incrível Gadamael". (...)


Disse-lhe,  a ele, ao Albano de Matos e ao Valdemar Rocha, companheiros de aventura do "Poilão" (Bissau, dezembro de 1973 / fevereiro de 1974):

(...)" Foi pena a Margarida Calafate Ribeiro e o Roberto Vecchi,  'olheiros' dos poetas da guerra colonial,   não vos terem 'apanhado', desconhecendo muito provavelmenet a existência do 'Popilão' (que nem sequer consta da PorBase - Base Nacional de Dados Bibliográficos)... Eles organizaram uma extensa (e de qualidade desigual) antologia de textos poéticos sobre a nossa guerra" (Afrontamento, 2011)" (...).

Aqui fica o meu convite para os nossos leitores lerem  este poema em voz alta, pausadamente, num fim de tarde, à sombra de um choupo, na margem do rio da vossa aldeia. Ao poeta, tiro o quico, o chapéu, e rogo às musas dos rios Tâmega e Cacine que o protejam e que o continuem a inspirar!,,,  (Pequeníssimos detalhes como o "chão manjaco" posto pelo poeta na região de Tombali ou o míssil Strela mal grafado não rmancham em nada este poema quase perfeito, obrigatório numa futura antologia da poesia da guerra colonial, a  organizar um dia pela Tabanca Grande, se Deus, Alá e os bons irãs nos derem tempo de vida e saúde)... (LG)




(Oliveira, 2010, pp. 25/26)
Oliveira (2010). pp. 25-26


In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010,  72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito  Legal nº 307277/10-

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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de junho 2016 > .Guiné 63/74 - P16195: Blogpoesia (452): E, se de repente..." e "Minhas articulações...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16207: Efemérides (231): Leça da Palmeira homenageia os seus Combatentes no Dia de Portugal (Carlos Vinhal)

Foto: Abel Santos

1. No passado dia 10 de Junho, dia de Portugal, em Leça da Palmeira fez-se a habitual romagem ao cemitério local, antecedida do hastear da Bandeira Nacional no edifício da Junta de Freguesia local e da Missa de Sufrágio pelos militares caídos em campanha.


Antes das 10h30 da manhã já alguns Combatentes, familiares e pessoas anónimas se juntavam em frente ao edifício da Junta de Freguesia para assistirem ao hastear de Bandeira de Portugal.

 Guarda de Honra formada com Combatentes

O Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC interpretou o Hino Nacional durante o hastear da Bandeira de Portugal

 A nossa Bandeira
Fotos: Dina Vinhal

 Retrato de família na escadaria do edifício da Junta de Freguesia

Seguiu-se a Missa de Sufrágio pelos Combatentes leceiros caídos em campanha, na Igreja Matriz de Leça da Palmeira, celebrada pelo senhor Pe. Marcelino.

 O Grupo Coral do Núcleo que, durante a Missa, interpretou os diversos cânticos religiosos

Na foto: Combatente Abel Santos; Ten-Cor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC; senhor Fernando Monteiro, em representação do Presidente da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; SAj Joaquim Oliveira, Secretário da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC; e Combatente José Oliveira, 1.º Vogal Suplente da Direcção.
 Fotos: Carlos Vinhal

O Estandarte do Núcleo de Matosinhos da LC
Por trás, a Imagem da Nossa Senhora da Conceição, em pedra de Ançã policromada, datada do Séc XV, com o Menino descansando a sua mão num dos seios de Sua Mãe. Autor: Diogo Pires o Velho.
Foto: José Trindade

O senhor Pe. Marcelino durante a celebração da Missa
Foto: Abel Santos

As celebrações do Dia de Portugal terminaram com a romagem ao Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, para a cerimónia de evocação dos Combatentes leceiros caídos em campanha, junto ao Talhão da Liga dos Combatentes, ali existente.

O combatente Ribeiro Agostinho, Presidente da Mesa da AG do Núcleo de Matosinhos da LC; o senhor Fernando Monteiro, da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; e o Ten-Cor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, depositaram uma coroa de flores no Talhão da LC, homenageando desta forma os leceiros caídos em Combate.

Os toques estiveram a cargo do 2.º Cabo Músico, Pedro Monteiro, da Brigada Ligeira de Intervenção – Coimbra
Fotos: Abel Santos

O senhor Ten-Cor Armando Costa na sua alocução

O senhor Fernando Monteiro na sua breve alocução, dirige-se aos presentes
Fotos: Dina Vinhal

O Grupo Coral do Núcleo interpreta o Hino da Liga dos Combatentes...
Foto: Abel Santos

...acompanhado pelos presentes
Foto: Dina Vinhal

Findo o programa, a Autarquia ofereceu um Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia aos participantes nas cerimónias deste dia.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16192: Efemérides (230): O 10 de junho de 2016, em Belém: um herói vivo, cor inf cmd Raul Folques e um grupo de grã-tabanqueiros que não costumam faltar a este convívio de antigos combatentes, entre outros, António Fernando Marques, Arménio Estorninho, Carlos Silva, E. Magalhães Ribeiro, Fernando Jesus Sousa, Francisco Silva, João Carlos Silva, Joaquim Nunes Sequeira, José Nascimento, Mário Fitas, Miguel & Giselda Pessoa, e Silvério Lobo

Guiné 63/74 - P16206; (Ex)citações (310): (i) lendas e narrativas do MFA de Bissau (a propósito do livro do Jorge Sales Golias); e (ii) o significado do vocábulo "Puto" (a Pátria que tínhamos... e que já não temos) (José Manuel Matos Dinis)

1. Comentário de José Manuel Matos Dinis  ao poste P16204 (*)


Eu adquiri o livro [do Jorge Sales Golias] e por ele constatei que o MFA começou numa viagem de avião para Bissau, em 1 de Julho de 1972, que reuniu o autor, Carlos Matos Gomes ("um camarada informado, lúcido e consciente da ditadura e da inutilidade da guerra"), bem como José Manuel Barroso jornalista do República, respectivamente capitães do QP e capitão miliciano. 

"A conversa evoluíu no sentido de mantermos a ligação e a firme intenção de nos reunirmos em Bissau para análise da situação politico-militar e eventual trabalho político com vista a uma tomada de posição do Exército no futuro do país. E assim havia de ser!" - pag.33, a primeira do texto.

Categoricamente fica agora desmentida a questão da carreira dos capitães-milicianos, que durante tanto tempo serviu de justificação para o movimento dos "prejudicados" capitães do QP, onde, aliás, já não encaixavam muito bem no argumento os oficiais de patentes superiores.

Ao longo do texto não se constata outra preocupação, que não seja a da concretização do golpe que libertaria os militares do QP, que era a preocupação do conjunto de promotores que, segundo a descrição, foi aumentado com mais adesões de oficiais de mais elevadas patentes, golpe que encaixava nas ambições pessoais de Spínola, que deu apoio, e terá provocado perplexidade determinante no Governo.

Jorge Sales Golias
Nestes termos, ganha realce o meu argumento de que os elementos do MFA apenas queriam recolher
ao conforto dos respectivos lares, onde as famílias os esperavam com desejo, pois os envolvidos não tiveram preocupações sérias com o destino dos povos das colónias onde havia Forças Armadas, mesmo em Angola praticamente pacificada. Longe das mulheres e dos filhos é que residiam as preocupações. Esta e outras razões parecem encaminhar as causas do 25 de Abril para a tese de Manuel Godinho Rebocho, constante da publicação "Elites Militares e a Guerra de África".

Também em nenhum lugar do livro de Golias foi aflorada a questão da sobrevivência da nação, cuja economia pujante era estruturada nas três mais importantes parcelas, a metrópolo, Angola e Moçambique. Naquele tempo Portugal só recorreu a um empréstimo externo para financiar Cahora-Bassa, e a metrópole tinha os mercados africanos portugueses como preferentes para a colocação dos seus produtos incapazes de concorrerem noutros mercados. 

Além disso, havia um importante mercado de invisíveis correntes provenientes de matérias-primas africanas e davam conforto aos cofres do Banco de Portugal. Assim, nem o intelectual []Melo] Antunes [1933-1999] vislumbrou qualquer problema com o desmembramento do conjunto, situação relevante do ponto de vista da metrópole.

Ainda somos afectados por essa decisão, pois aos resultados positivos das execuções orçamentais, Portugal não voltou a conseguir idêntico desiderato durante o regime alegadamente democrático, 42 anos depois.

Como dizia o brasuca, "pimenta no cú do outro, para mim é refresco", pelo que ninguém deve admirar-se do abandono ostensivo e surpreendente para os movimentos, pois o importante era o regresso urgente. Sobre os argumentos de "democracia, desenvolvimento e descolonização" já me referi bastante, e há muitas outras ilações sérias sobre a matéria, que evidenciam que a democracia nem sequer era seguida entre o que os revoltosos decidiam. 

Os irresponsáveis capitães aparecem agora a propor-nos compreensão, esquecendo que não foram vítimas de nada, nem do regime opressivo, nem das escolhas que fizeram, salvo, se essas escolhas não foram sérias, como, aliás, parece e avulta das traições praticadas. 

JD.


2. Resposta ao editor que me pediu o seguinte, em 22 de maio passado:

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Zé Dinis (c/c Antº Rosinha): Vês se me esclareces o uso do vocábulo "Puto" (diminuitivo de Portugal), usado no teu tempo em Angola e ainda hoje. Diz-me quem usava o termo: os brancos, em geral, os africanos, também ?... Tinha um sentido depreciativo ou não ?

Estranho que os nossos dicionários ainda não tenham grafado o vocábulo, ao fim destes anos todos... Ab. Luis


Data: 25 de maio de 2016 às 20:59
Assunto: O uso do vocábulo Puto


Olá Luís, boa noite!


Colocas uma questão para a qual não tenho ciência. Mas posso arriscar.
"Puto" é uma expressão que me soou sempre com algum carinho, algum sentido de origem, e ouvi-a tanto em Angola, como em Moçambique.

Se tivermos em conta o significado de pequeno, pode traduzir a referência à metrópole feita nas grandes provincias ultramarinas. Uma referência "simplex", de apenas duas sílabas, e dita tanto por brancos, como por pretos ou mulatos.

Era como se fosse a terra mãe de todos nós, os que aqui nascemos, como os que lá eram governados a partir do "jardim". O governo está no Puto; o Sporting é do Puto; vou passar as férias no Puto; este vinho é do Puto; chegou agora do Puto, são expressões que representam as circunstâncias de referências à metrópole.

Seria uma espécie de idiomática, mas o Rosinha pode dar um contributo mais válido. (**)

Guiné 63/74 - P16205: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (103): O Paul McCartney do Grupo Coral do CISMI... Afinal, o Luís Jales de Oliveira, poeta, músico, ex-fur mil trms, Agr Trms Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael, 1972/74)



Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 > "Não foi assim tão mau [, o CISMI,] e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro. Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode, que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto" .(*)

O guitarrista Jales [, à direita], com aquela guedelha e bigode (!), de repente pareceu-nos mesmo um sósia do Paul McCartney, um dos famosos Beatles que incendiaram o imaginário da nossa geração e ajudaram o mundo a pular e a avançar... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  Comentário. de  9 de outubro de 2014 , do Luís Jales de Oliveira ao poste  P12784, do Henrique Cerqueira, publicado em 1/3/2014 (*):


[Foto à esquerda: o Luís Manuel Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, um antigo vulcão  foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74), companhia africana onde serviu  às ordens do tenente comando graduadoTomás Camará,  que foi ferido em combate e, depois, às ordens do capitão comando graduado Sisseco (ambos oriundos da 1ª companhia  do batalhão de comandos africanos); poeta e escritor, tem já obra vasta, e é membro da Academia Luso-Brasileira de Letras]

 
Meu caro Henrique Cerqueira:

Só hoje descobri esta tua publicação [, com data de 1/3/2014] e confesso que fiquei emocionado. Por várias razões: porque revivi, recordei e evoquei momentos adormecidos nas catacumbas da memória, porque confirmei que já tive uma profusa e escurecida cabeleira (hoje completamente esbranquiçada para mal dos meus pecados) e, também, um pujante bigode, coisa rara e provocatória, à época, aqui no teatro militar metropolitano; e, por fim e principalmente, porque passados 42 anos ainda conseguiste, no meio daquela angelical composição de "querubin"  fardados, identificar-me e arriscar que eu me chamaria "Jales". 

Pois foi na mouche, sim senhor. Notável, meu caro Henrique, a tua pontaria evocatória!

Direi, respondendo também à pergunta do nosso caro "comandante" Luís Graça, que comentou, com muita graça, que eu, de repente, até parecia ser o sósia de um dos Beatles, que sou o Luís Jales de Oliveira, mais conhecido, na tropa, como Luís Jales e que publiquei o P2467 na “Tabanca Grande (54)”, em 21 de Janeiro de 2008.  (*)

Como deves calcular arranjei uma caterva de “imbróglios" por ostentar aquela trunfa exuberante durante todo o meu serviço militar. Em Tavira aconteceu uma coisa muito engraçada: Era forçoso que quando eu estivesse na formatura de revista para sair, e por mais que tentasse esconder, com a boina, o raio daquele excesso capilar, o oficial de dia parava, irremediavelmente, nas minhas costas, batia-me no ombro e mandava-me, em passo de corrida, para a caserna. Mas, naquele dia, depois de me mandar às malvas, voltou para trás e perguntou, pelo sim, pelo não 
–Por acaso o menino não toca no conjunto do senhor abade, pois não?

Eu respondi:
– Toco, toco, meu alferes – e ele imediatamente: 
– Pois então faça o favor de regressar à formatura. A porta d’armas, para si, está escancarada.

Isto serve bem para demonstrar o poder que tinha o nosso capelão de Tavira. Coitado daquele oficial que retivesse um de nós, nos dias marcados para os ensaios da Missa Dominical…

Resta-me dizer que não sou Açoriano, mas genuíno Transmontano de Mondim de Basto, a cerca de 100 km do Porto e que faço questão de te abraçar um dia destes.

Ao nosso caro Luís Graça prometo, agora que sempre consegui a reforma, que começarei a enviar montes de textos com lembranças e evocações:

(i) sobre a revista “ZOE”,  do Agrupamento  de Transmissões  de Bissau onde fui “correspondente de guerra”;

(ii)  sobre “Os Reactores” e “Os gloriosos malucos da aparelhagem electrónica”, onde tocava e que, para além doutras actuações, animavam os fins de semana do Clube de Sargentos de Santa Luzia; 
e, com muito mais interesse julgo eu,

(iii) sobre a “realidade” de Gadamael Porto que sorvi, bomba a bomba, durante 365 intermináveis dias.

Obrigado pelas emoções que me provocaste. O meu contacto é luis.jales.oliveira@gmail.com.
Grande e reconhecido abraço.


2. Comentário do editor LG:

Ao Jales (, afinal "meu vizinho", já que também tenho casa por ali perto, Marco de Canaveses, que integra a bela e nobre região do Vale do Tâmega,  berço da Nação,com o Vale deo Sousa ...), já pedi desculpa, por mail,  por na altura não me ter apercebido do seu comentário (de 9/10/2014) ao poste do Cerqueira (de 1/3/2014)... Não me apercebi ou já não me lembro...

De facto, ninguém tem a pedalada dos 20 anos para acompanhar tudo, fazer tudo, alinhar em tudo... É até por falta de tempo. Houve um desfasamento de vários meses, entre o poste e o comentário,  não conseguindo os editores ir com a devida regularidade à nossa caixa de comentários (que já vai em cerca de 64 mil comentários, alguns extensos e, muitos, interessantes).

Tínhamos prometido recuperar este, integrando-o num poste autónomo e justamente para provar, mais uma vez, a propriedade e a justeza da nossa máxima: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!" (***)...

Os pedidos desculpa são extensivos ao Henrique Cerqueira, sempre leal e generoso greã-tabanqueiro... Ao Jales desejo boa continuação da merecida reforma e das pescarias no rio Tâmega e no mar das letras!.. Quanto às prometidas colaborações, elas serão sempre bem vindas, em prosa ou em verso...

Um abraço do tamanho do Tâmega e do Cacine... 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

(***) Último poste da série >  8 de junho de 2016 >  Guiné 63/74 - P16175: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (101): no convívio deste ano, do pessoal do BCAÇ 3872, quem é que eu vou reencontrar? O meu antecessor, o hoje ilustre prof Pereira Coelho, bem como o Ussumane Baldé que estagiou comigo quando eu era subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)