quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16459: Os nossos seres, saberes e lazeres (172): From London to Surrey (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2016:

Queridos amigos,
Sentia-me embalado e a falta de chuva ajudou à festa, lá fui arrastando o trólei por uma zona central de Londres.
A Primavera em flor, as cartilagens dos joelhos calmas, não contestaram os alguns quilómetros que durou a passeata.
Viajar com carga num território onde há cada vez mais videovigilância e presença policial, não é benfazejo, só traz problemas, entrei na Casa do Canadá para ver uma exposição, a máquina espiolhou o que eu trazia, até tive que tirar o cinto, desisti, depois da visita, de mais confrontos culturais, tudo na rua e apreciar o ar livre, é económico e seguro.
Londres é uma cidades mais caras do mundo, a ironia é que os seus esplêndidos museus são grátis. Adorei a passeata, tomo agora um comboio para East Croydon, depois tomo um autocarro. Ignorava na altura que mudaram as regras, tem que se comprar o bilhete num estabelecimento, fiquei aparvalhado com a conversa do condutor quando me disse ou traz bilhete ou usa o cartão de crédito. Veio uma alma salvadora e botou um cartão no leitor e não me aceitou o dinheiro, ainda há gente boa que nos safa destes pequenos sarilhos.

Um abraço do
Mário


From London to Surrey (2)

Beja Santos

Já me curvei respeitosamente perante Nelson Mandela e Winston Churchill, sigo para Whitehall, paro em frente do Cenotáfio, faça sol ou faça chuva todo o poder político britânico aqui vem em 11 de Novembro recordar os mortos da I Guerra Mundial, depositar coroas com papoilas, as imortais papoilas que lembraram ao poeta Auden as pétalas de sangue que se derramaram pela Flandres, prezo esta arquitetura dos anos 1980, uma modernidade que se ajusta completamente aos volumes e escalas deste quarteirão histórico, aqui funciona o Ministério da Saúde. Já passei o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Downing Street que não tem nada a ver com a rua calmíssima que eu conheci há 40 anos, agora são vigilâncias atrás de vigilâncias, creio que nem o mais potente esquadrão da morte por aqui passa, detive-me frente ao Museu da Cavalaria e a sua guarda imponente a cavalo, os turistas a colaborar com o folclore e os solípedes a defecarem a bosta na maior das calmas.



Prossegue a itinerância, ainda hoje estou a compreender porquê este meu comprazimento com o Arco do Almirantado, talvez por ser um fecho feliz do Mall, aqui perto Churchill trabalhava no seu bunker, e vou depois até Trafalgar, andei às voltas da Coluna de Nelson, escureceu mas o céu está admirável, não andasse eu com o tempo limitado, não me sentisse tão feliz com esta deambulação com trólei e saco às costas e enfiava-me umas horas na National Gallery, há uma exposição de Delacroix, paciência, fica para a próxima, peregrinação obrigatória é entrar em Saint Martin-in-the-Fields, tenho razões de sobra para vir aqui rezar e ouvir música. Aqui pontificaram alguns dos maestros de maior fama mundial, caso de Sir Neville Marrimer, à frente da Academia com o mesmo nome, pelo menos dois dos seus discos de vinil com gravações dos anos 1960 arderam na Guiné, mas não esqueço a companhia que ele me fez.




Está na hora de regressar, estou a fazer contas à vida se devo já fazer a inversão de marcha, palavra de honra que não importava de ir até Convent Garden e infletir por Oxford Street, mas é um risco para um septuagenário com trólei e saco às costas, o melhor é subir o Mall e resistir também à tentação de ir a Piccadilly, nunca percebi a atração por um local tão apertado, reconhecendo embora que a estátua de Eros tem graciosidade. Resignado, entro em Pall Mall, rua chiquérrima de antiquários, não resisti a esta minha inclusão na imagem, não é a qualquer momento que se está diante de um quadro adquirível por meio milhão de libras, fotografo um belo edifício no fim de Pall Mall, atravesso Buckingham, tenho que descansar os pés e encontro um lugar num banco frente à Galeria da Rainha, e já estou por tudo, ou estou diante de uma réplica do século XIX ou de uma fachada de templo grego pirateado. À cautela, vim até ao Google onde verifiquei que se trata de uma construção recente, aproveitaram as ruínas de uma capela que foi bombardeada na II Guerra Mundial. E agora vou partir para Selsdon, no Surrey, o trabalho espera por mim.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16434: Os nossos seres, saberes e lazeres (171): From London to Surrey (1) (Mário Beja Santos)

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