terça-feira, 26 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16334: (Ex)citações (312): O que nós (não) sabíamos sobre a nossa faca de mato... Tal como a G3, veio da Alemanha, e não de Guimarães, capital da cutelaria portuguesa... O fornecedor da lâmina de aço inoxidável era, passe a publicidade, a Solingen! (José Colaço / António J. Pereira da Costa / Henrique Cerqueira / Sousa e Faro / Hélder Sousa / Manuel Carvalho)




A faca de mato do nosso camarada José Colaço  (ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008 com 70 referência no nosso blogue....

Sobreviveu a uma incêndio, no paiol, em Camamude, setor de Bafatá, por volta  de 1965 (*)... Emopra "destempertada",  a lâmina aguentou... O dono pôs-lhe um novo cabo, de madeira, A lâmina, da aço inoxidável ("stainless"), era alemã, da célebre marca de cutelaria SOLINGEN. Aqui tem o leitor o sítio oficial do fabricante, passe a indevida publicidade.  O negócio é chorudo, continuam a fabricar "military knifes"...

Foto: © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continua em curso, até quinta-feira, dia 28, um inquérito "on line" (, visível no canto superior esquerdo do nosso blogue)  sobre as nossas facas de mato (**) que, afinal, não eram nossas, "made in Portugal", tal como a G3 não era nossa,  tal como a Kalash não era do PAIGC, era russa...

Enfim, e a talhe de foice, pergunto-me o que é que andámos a fazer naquela p... de guerra, com material  que nem sequer era nosso, da bazuca ao Fiat G-91, do obus à faca de mato... Que raio de imperialistas e colonialistas eram nós ?!... Não admira que a lâmina da faca de mata fosse importada da Alemanha... A nossa Siderurgia Nacional só foi inaugurada em 1961... Em suma, era a carne para canhão é que era nossa!...Valha-nos o bom humor (negro)...


 2. Mensagem do José Colaço, de ontem:

Escreveu o camarada António J. Pereira da Costa: "As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...)" (*9[poste P16332}.

Pequena dica: por curiosidade, estive a fazer uma pequena limpeza à minha faca de mato e notei a sua origem que se pode comprovar na foto que envio aos nossos editores: SOLIGEN STAINLESS GERMANY.

Por este motivo, além das dos artesãos, a sua maioria teria origem na importação da Alemanha, Solingen Stadt Messer, tal como por cá Guimarães cidade das facas.

Um abraço,
Colaço.


3. Comentário do editor:

O que sabemos (ou não sabemos) mais sobre a nossa faca de mato ? 

Eis alguns contributos, generosos, de camaradas nossos que nos têm escrito sobre o tema (por email ou na caixa de comentários):

(i) António J. Pereira da Costa (27/7/2016):

Agradecido pela dica. Embora a maioria usasse a faca no cinturão, existiam no ombro dos camuflados debaixo da platina do lado esquerdo, duas pequenas "meias-platinas": uma implanta à esquerda e outra à direita e onde era possível colocar a bainha da faca que ficava pendente no ombro. Era uma maneira de a ter à mão, dispersando a carga de equipamento pelo corpo do militar. Vejam o desenho da bainha.

(ii) Henrique Cerqueira (25/7/2016):

A minha faca de mato era um sabre baioneta da espingarda Mauser ou Mannlicher. Era uma faca com uma bainha executada em pele por um soldado milícia Mandinga que ma ofereceu em troca de algo que já não me lembro. Essa faca na altura eu a usava àcinta pois que,  estando eu numa CCAÇ Africana [, CCAÇ 13]  dava um certo ar de valentia, pois que era muito importante nós darmos esse ar junto das tropas africanas que chefiávamos. De resto,  a faca era tendencialmente usada para abrir as latas de conserva que compunham a ração de combate. Mas que dava um certo ronco,  lá isso dava. Enfim,  velhos tempos...

Já agora,  e segundo me lembro,  a faca de mato não fazia parte do equipamento obrigatório da nossa tropa. Mas também pode ser que em algumas unidades tenha sido diferente.

(iii) José Colaço (25/7/2016):

Henrique,  penso ter sido o primeiro a contestar e afirmar que a faca de mato no meu tempo, 1963/65, não fazia parte do equipamento militar, mas podia ser adquirida/comprada em Bissau. O sabre baioneta, esse, sim, no meu tempo era parte integrante do equipamento militar embora a minha companhia tenha recebido a G3 e não a Mauser a que o sabre se adaptava, mas tinha que ser 
devolvido no espólio no final da campanha militar obrigatória. 

Em resposta passo o termo de um comentário de um camarada que disse que a faca de mato fazia parte do equipamento militar.

Um abraço
Colaço

PS - Resumindo a história do meu sabre baioneta que foi utilizado como ferramenta de sapador para abrir um caixote de um camarada em Catió: com a azáfama na partida da saída para o mato (Operação tridente),  ficou lá esquecido e eu se há coisas que a memória não guarda essa foi uma delas, já tinha falado com o capitão e uma das hipóteses possíveis era o desaparecimento numa nas passagem de um dos muitos canais existentes na Ilha para evitar o levantamento de um auto,  caso o mesmo não aparecesse.
Mas eis que um dia,  em conversa com um camarada,  ele me disse que dentro do caixote dele vindo de Catió tinham-lhe roubado a colher, mas em contrapartida tinham lá deixado um sabre baioneta e aí se fez luz sobre a minha memória,  contei-lhe a história e pelo número, verificou-se que o sabre era o meu, tudo ficou resolvido sem processo disciplinar auto de guerra sei lá mais quê e só com umas "bejecas" na cantina que nessa altura já contemplava o aquartelamento do Cachil. 

(iv) Henrique Cerquerias (25/7/2016)

Camarada José Colaço: eu, na realidade,  sou um periquito á tua beira pois que estive na Guiné em 72/74. Isto porque eu não tive a Mauser mas sim a G3. Quem ainda tinha essas armas e até sem controlo rigoroso eram alguns milícias mais antigos e certamente o dito sabre baioneta era de uma dessas armas.E como saberás não era muito difícil,  a troco de umas bebidas ou uns patacões,  comprar esses artefactos que foi esse o meu caso. Inclusivamente e como quase toda a gente comprei outras facas artesanais e embelezadas com a arte Mandinga ou Bijagó. Que serviram mais tarde para pendurar na parede.Hoje já lhes perdi o rasto.

Também é certo que as armas, facas ou não,  nunca foram o meu forte. Mas quando deram jeito lá se foram usando conforme as situações.

(v) Manuel  Carvalho (25/7/2016)

Tinha uma faca de mato Solingen que comprei no Niassa. No pelotão julgo que era o único que tinha e na companhia penso que haviam mais algumas mas poucas.Naqueles lugares era usada para muitas tarefas.No mato pediam-ma muitas vezes e eu nem sempre sabia muito bem para quê. Havia quem levasse catanas normais e algumas mais pequenas e afiadas e de bom aço. Numa operação abatemos uma vaca,  já não me lembro muito bem em que circunstancias, que retalhamos e veio para o quartel toda,  até as tripas.

(vi) Hélder Sousa (22/7/2016):

Ao inquérito respondi que "nunca tive" mas isso é uma verdade relativa. De facto não a tive para uso pessoal ou de serviço mas recordo de ter adquirido uma que veio comigo no final, só que com as mudanças de casa perdi-lhe a pista e não sei onde possa estar. Recordei-me disso ao ver as fotos do Valdemar Queiroz e tenho ideia que a decoração da minha era semelhante.


(vii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro (22/7/2016):

A minha faca/punhal foi feita por um artesão de Cacine em 1968 com o cartucho da granada do obus. Andava sempre comigo. Foi feito uma mézinha pelo Homem Grande da tabanca. Acredito, ão sei, mas que cheguei são e salvo, cheguei e ainda cá estou com o meu Ronco.

(viii) António J. Pereira da Costa (22/7/2016):

Creio que as últimas unidades recebiam uma faca de mato por homem. Não fazia parte do equipamento individual.

O artesão de que o Brito e Faro fala deve ser o "Ferreiro de Cacoca". Veio de lá e fixou-se em casa de familiares, na altura em que a tabanca foi abandonada. Era hemiplégico e tinha a oficina "adapatada". A saber: deslocava-se à força de braços, arrastando-se, sentado numa almofade de cabedal; as ferramentas estavam dispersas pelo chão; a bigorna era pequena e estava solidamente cravada no chão; a fornalha era aquecida por um daqueles dispositivos que havia nas oficinas para o mesmo efeito, só que quase enterrado no chão e o ar que soprava as brasas corria por uma espécie de tubo cavado no chão.

6 comentários:

Unknown disse...

Que me lembre nunca recebi uma faca de mato. Mas lembro-me de abrir latas de conserva com uma. Agora já não sei se foi em Vendas Novas.
Há uns anos, apareceu no meu quintal uma caixa de ferramentas ligeiras mas pobres. Juntamente vinha uma requintada faca de mato. Ainda hei-de pegar nela e fotografá-la para a mostrar ao mundo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas:

A pergunta pode ser posta ao contrário, e continua a ser válida ontem como hoje: o que é que naquela guerra era nacional ? O fardamento ? As rações de combate ? A "água de Lisboa" ? As pastilhas LM ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais coment+arios na página do Facebook da Tabanca Grande:

(i) Fernando Pereira Ambrósio:

Servia para tudo, até para levantar minas


(ii) José Henrique Costa Sousa Companheira inseparavel, de um Atirador de Infantaria, mais a G 3, as cartucheiras, mais as granadas ofensivas, ou defensivas nalgumas operações.


(iii) José Augusto de Araújo:

A faca de mato era a 2ª melhor companheira que tinhamos na guerra! Dava para tudo! Desenterrar minas, esfolar caça, abrir latas, e mais importante! Abrir a barriga ao inimigo quando a ocasião se apresentava!...
Gosto · Responder · 10 h

(iv) Luis Filipe Nascimento:

Companhia inseparável


https://www.facebook.com/profile.php?id=100001808348667

alma disse...

Nunca tive faca de mato! A verdade é que também nunca abri a barriga a nenhum inimigo! ABRAÇO! J.Cabral

Unknown disse...

Bom dia,
Uma correcção ao mencionado pelo amigo António J. Pereira da Costa:
O meu Apelido é Sousa e Faro e não Brito e Faro que na altura, era capitão e
comandante da B.A.C 1. Abraço.

António J. P. Costa disse...

Bom dia Oh Sousa e Faro
Tens razão camarada, mas isto já não é o que era.
Um bj à
Kokoxa
António J. P. Costa