sábado, 19 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15129: Convívios (708): 6º almoço/convivio da CCS do B.CAÇ. 2834 (Flavio Ribeiro)


1. O nosso Camarada Flavio Ribeiro, enviou-nos a seguinte mensagem.

6º Almoço/Convívio da CCS do BCAÇ 2834 

Boa tarde caros amigos e camaradas de armas,

Dado ainda não me encontrar registado na TABANCA GRANDE, mas prometo faze-lo muito em breve, em referência ao assunto em epigrafe, solicito a publicação do mesmo, com os seguintes elementos;

6º.ALMOÇO/CONVIVIO DA CCS DO BCAÇ 2834 

DIA 20.06.2015

RESTAURANTE MILÉNIO

Via do Infante D. Pedro /Leitões – 3070-212 Mira


Agradecendo desde já a Vossa melhor atenção para o exposto, apresento os meus melhores cpts.

Flavio Ribeiro
Ex. Op. Cripto 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P15128: (Ex)citações (294): A vida é uma cabra-cega (A. Marques Lopes)



Lisboa, ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, 17 de setembro de 2015. Apresentação do   livro "Cabra-cega: do seminário à guerra colonial" (Lisboa: Chiado Ediora, 2015). Intervenção do autor, A. Marques Lopes, de que Aiveca, o personagem, do livro,  é o "alter ego". O livro.


Vídeo (5' 13''): © Luís Graça (2015), Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15115: (Ex)citações (293): Os MiG fantásticos que determinaram o abandono da Guiné (Manuel Luís Lomba)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15127: Agenda cultural (424): "Canções da Guerra", um programa da Antena 1, todos os dias, a partir de 14 do corrente, de 2ª a 6ª feira, às 10h45, 14h55 e 20h55, com António Luís Marinho...

1. Canções da Guerra, um programa da RTP, Antena 1, todos os dias, de 2ª a 6ª feira, a partir de 14 do corrente:

Sinopse:

A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções. Desde logo, o hino "Angola é Nossa", criado logo após o início da rebelião em Angola que levou a uma guerra que durou 14 anos.

As canções ligadas à guerra falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam, de forma mais dissimulada ou mais direta, a própria guerra.

Em programas diários de cerca de 5 minutos, vão apresentar-se as canções cujo tema é a guerra colonial, enquadradas por uma pequena história, que pode ser a da própria canção, do seu autor, ou um episódio que com ela esteja relacionado.

Antena 1, de 2ª a 6ª feira às 10h45, 14h55 e 20h55. (*)


2. Ficha Técnica:

Título Original: Canções da Guerra
Com: António Luis Marinho
Produção: Joana Jorge
Autoria: António Luis Marinho (**)

3. Cinco episódios disponíveis até hoje:



(...) Como sigo o seu blog, que é um referencial importante para quem se interessa pelo tema da guerra de África, gostaria de lhe propor que divulgasse o programa mas, sobretudo, que incentive os seguidores do seu blog a enviarem sugestões de músicas e histórias ligadas a elas. (...)

(***) Letra de Santos Braga e música de Duarte Pestana:

(...) Quando a guerra teve início em Angola, em Março de 1961, o governo português decidiu responder prontamente, enviando milhares de soldados para combater naquele território africano. No final de 1961, já combatem em Angola 33 mil e 500 soldados portugueses. Era necessário, no entanto, convencer a população portuguesa, de aquém e além- mar, para a necessidade daquela guerra.

Era preciso que ninguém duvidasse de que Angola fazia parte de Portugal.

Assim nasceu, em Junho de 1961, o hino “Angola é nossa”, com música de Duarte Pestana e letra de Santos Braga, interpretado pelo coro e orquestra da FNAT – Federação Nacional para a Alegria no Trabalho.

Trata-se de uma notável peça de propaganda. Um hino heróico e triunfalista, que se tornou de imediato numa espécie de hino de Angola, que fechava e abria as emissões de rádio e era cantado nas escolas. (...)




(****) Letra de Felix Bermudes e João Bastos, música de António Melo:

(...) Nos primeiros meses a seguir ao início da guerra em Angola, não houve inspiração para construir canções inspiradas no conflito. Só quando a guerra entrou na rotina das famílias portuguesas é que começaram também a surgir as primeiras canções, inicialmente de apoio aos soldados e à sua participação naquela guerra.

Por isso, o “Fado das trincheiras”, composto em 1940 para o filme “João Ratão”, de Jorge Brum do Canto, que conta o regresso de um soldado português da frente de batalha da I guerra mundial, começou na ser tocado assiduamente nas rádios, agora interpretado pelo grande fadista Fernando Farinha.

A letra é de Felix Bermudes e João Bastos, e a música de António Melo. (...)



(*****) Na Hora da Despedida:

(..:) Em 1966, a fadista Ada de Castro estreia-se no teatro de revista, no teatro Maria Vitória, na peça “Tudo à Mostra”. Foi ali que cantou o fado “Na hora da despedida”, que se tornaria num grande êxito.

Numa altura em que as opiniões já se dividiam claramente entre o apoio e a rejeição à guerra do ultramar, este fado cumpria inteiramente as três características destas canções de apoio aos soldados portugueses: a resposta ao apelo da pátria e o cumprimento do dever, a despedida e as saudades e desejo de regresso. (...)




(******) Raul Solnado:

(...) Com a guerra no ultramar ainda localizada só na frente de Angola, Raul Solnado apresenta, em outubro de 1961, na revista “Bate o Pé”, um dos maiores êxitos da sua longa carreira: “A guerra de 1908”.

O disco seria editado em abril de 1962 e bateu todos os recordes de venda de discos.

Ainda em 1962, Raul Solnado volta ao tema da guerra, com um número genial: “É do inimigo?”, na revista “Lisboa à Noite”, no Teatro Variedades.

A ridicularização da guerra, num texto notável, que a implacável censura deixou passar. (...)



(*******) Letra de Reinaldo Ferreira e música de Adriano Correia de Oliveira:

(...) Em 1964, Adriano Correia de Oliveira grava um disco de quatro faixas, onde inclui um poema do luso-moçambicano Reinaldo Ferreira, musicado por José Afonso: “Menina dos olhos tristes”.

O disco é rapidamente proibido, mas a canção fica e circula pelos meios clandestinos.

Em 1969, José Afonso grava um single com o título “Menina dos olhos tristes”, também retirado pela censura.

Falar de soldados que morriam, não era possível para a censura do regime. Na verdade, nos 14 anos de guerra, morreram perto de nove mil soldados portugueses, 14 mil ficaram deficientes físicos e muitas dezenas de milhares afetados psicologicamente. (...)



Guiné 63/74 - P15126: Estórias avulsas (83): Um velório no início da Comissão (José Vargues, ex-1.º Cabo escriturário)

1. Mensagem do nosso camarada José Vargues (ex-1.º Cabo Escriturário da CCS do BART 733, Bissau e Farim, 1964/66), com data de 8 de Setembro de 2015:

Camarada Carlos Vinhal
Quero agradecer-te a publicação da minha carta(1).
O vosso blog é na verdade bom, em termos redactoriais e apresentação, pois gostei da maneira como fui apresentado e mesmo da fotografia, que ampliaram, pois eu não sei trabalhar bem a fotografia como vocês gostariam.

Os camaradas que têm apresentado do meu Batalhão, especialmente da CCS, não têm sido muitos. Já contactei o ex-soldado da CCS Camolas e li a sua história, foi na verdade o único dos que eu me lembro, mas com ele não privei na Guiné, embora o visse muitas vezes.

A minha vida lá, não foi de muitas aventuras, mas sim de casos, que de qualquer maneira mexe connosco. Recordo aqui, que quando chegámos a Brá eu e mais 5 camaradas fomos destacados para velar um combatente, na Igreja de Brá. Era mais uma formalidade do que outra coisa.
Não me lembro do nome. Estava fardado de camuflado e capacete.
Um dos camaradas descobriu que ele tinha o capacete furado por uma bala, bala essa que lhe ditou o fim.
Deu para pensar um bocado, como a vida, que nós tanto presamos, especialmente os pais, acaba daquela maneira.

Não tínhamos nenhum superior e achámos que o que importava é que chegasse a manhã.
Houve um que descobriu uma garrafa de vinho do Porto. Já não me lembro se ele o provou. O que me lembro, é que cada um escolheu um banco para se deitar e foi assim que fizemos a vigília. Que me desculpe a sua família, mas foi o que fizemos. Tínhamos 21 anos e nenhum de nós tinha qualquer experiência dos procedimentos que deveríamos ter tido.

Convivi com a população das tabancas um pouco. Gostei daquela gente, que com pouco se contentavam.
Aqui vos mando mais uma fotografia, que também não está como gostariam.

 José Vargues em Brá

Um abraço
José Vargues
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Nota do editor

(1) Vd poste de 7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15082: Tabanca Grande (473): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 733 (Bissau e Farim, 1964/66), tertuliano 702

Último poste da série de 18 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14632: Estórias avulsas (82): Viatura todo terreno em Camamudo (Fernando Chapouto)

Guiné 63/74 - P15125: Efemérides (198): Descerramento de uma placa de homenagem aos Combatentes caídos em Campanha na Guerra do Ultramar, a levar a efeito no dia 10 de Outubro de 2015, no Cemitério de Guifões-Matosinhos (Albano Costa)

Guifões - Matosinhos - Ponte do Carro sobre o Rio Leça, que liga Guifões a Santa Cruz do Bispo
Com a devida vénia a majosilveiro



1. Em mensagem, com data de 16 de Setembro de 2015, enviada ao Blogue, o nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), dá-nos conta da cerimónia de descerramento de uma placa evocativa da memória dos ex-Combatentes de Guifões caídos em campanha na Guerra do Ultramar, a levar a efeito no próximo dia 10 de Outubro, no Cemitério local.



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Nota do editor

Último poste da série de 17 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15123: Efemérides (197): O baptismo de fogo da CART 494 foi há 52 anos (Coutinho e Lima, Cor Art.ª Ref)

Guiné 63/74 - P15124: Notas de leitura (758): “Organização económica e social dos Bijagós”, por Augusto J. Santos Lima e prefácio de Avelino Teixeira da Mota (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Confesso que a grande, muito grande, surpresa, é o prefácio de Avelino Teixeira da Mota a este modesto mas inovador trabalho, um jovem segundo-tenente que assessora Sarmento Rodrigues e que será o dinamizador cultural e científico de tudo o que de melhor ocorrerá na colónia, nesse pós-guerra que acalenta tantos sonhos. Estas monografias são também produto do fervor e talento organizativo de Teixeira da Mota, não se pode, ainda hoje, estudar etnologia e etnografia guineenses sem as ler, são pioneiras de um novo modo científico em que os autóctones deixaram de ser encarados como entidades exóticas e seres abrutados, foram estudados como produto do meio, tinham passado, manifestações artísticas, curvavam-se respeitosamente perante os mistérios da vida.

Um abraço do
Mário


Organização económica e social dos Bijagós

Beja Santos

O Governador Sarmento Rodrigues tinha como adjunto o Segundo-Tenente Avelino Teixeira da Mota, que será o obreiro do Museu da Guiné, do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, do Boletim da Guiné Portuguesa e das comemorações do V centenário da descoberta da Guiné. O jovem oficial da Marinha acomete-se a estas empreitadas com 24, 25 anos, é inacreditável esta capacidade de trabalho, esta organização e os seus invulgares dotes de sapiência. Elabora um inquérito etnográfico e espalha-o por toda a administração da colónia. E incita os funcionários à testa das circunscrições a produzirem monografias, aproveitando os elementos recolhidos do inquérito. O administrador de circunscrição Augusto Santos Lima, colocado nos Bijagós, estuda este povo, redige um estudo singelo que é dado à estampa em 1947.

O prefácio é Teixeira da Mota, é um texto notabilíssimo, permite avaliar os dotes daquele que será o mais importante historiador da Guiné, do período colonial aos dias de hoje. Refere as navegações de Cadamosto, 1456, a acreditar neste comerciante veneziano, é a primeira referência ao arquipélago dos Bijagós que se conhece. E cita-o, luminosamente: “e olhavam para nós extraordinariamente maravilhados, vendo que éramos homens brancos; admiravam também a forma do nosso navio, com o mastro e antena encruzada, porque é coisa que eles não usam, nem sabem o que é”. Diogo Gomes ali viaja depois de Cadamosto, chefiando uma frota de três caravelas. Pedro de Cintra desembarcou numa das ilhas do arquipélago e meteu-se pela terra dentro. Não se entabulou a conversa, brancos e Bijagós não entendem patavina do que dizem. A partir de 1463, ou mesmo antes, o arquipélago entra na cartografia. A explanação de Teixeira da Mota ganha vivacidade, convoca toda a historiografia da época, os nomes proeminentes são citados, os possíveis nomes das ilhas, quem as habita, como vivem. E adianta: “Os bijagós eram guerreiros e piratas desenfreados. Continuamente assaltavam o continente fronteiro, fazendo presa nos bens e pessoa de Buramos (Brâmes, Papéis e Manjacos) e Beafadas. Nas suas correrias chegavam mesmo a Cacheu”. Sucedem-se os relatos dos viajantes e navegadores do século XVII em diante. Desmonta mitos acerca do matriarcado e até aspetos sensacionalistas como aqueles que diziam que os Bijagós tinham como ancestrais a Etiópia, a Fenícia, o Egipto e o Hindustão, diz não haver provas sobre estas misteriosas ligações com tais povos nem estar provado que os Bijagós tinham rainhas. E adianta a descrição do tenente Manuel Marques Duarte, redigida em 1937, diz mesmo tratar-se do trabalho etnográfico mais extenso até então feito sobre os Bijagós. E exalta o trabalho que está a prefaciar, que saiu do punho de Augusto Santos Lima, recorda-nos que não existe uma sociedade Bijagó, mas sim várias sociedades, distintas de ilha para ilha, e até de povoação para povoação. E propõe ao administrador que continue os seus estudos, que investigue mais sobre a vida material, a vida psíquica, a vida familiar e os dialetos dos Bijagós.


O autor refere a geografia do arquipélago, as classes etárias, a organização económica, fala nos “chefados” e chama à atenção para as grandes dificuldades do cultivo do solo: uma orla marítima cheia de plantas, o tarrafo; os riquíssimos palmares; e a porção arenosa, por natureza estéril para as culturas. Queixa-se da falta de trabalho na produção de riqueza pecuária, na falta de trabalho na exploração intensiva dos palmares, na falta de trabalho nos riquíssimos mares circundantes. Enumera as categorias da realeza e de sacerdotes, o mundo de interdições e até o fascínio animista deste povo. Diz abertamente que não há nem nunca houve entre os Bijagós rainhas. Regista as atividades dos sacerdotes e das sacerdotisas, o feiticismo, o totemismo e o culto dos tabus. Observa o regime familiar, o conteúdo da habitação, as iniciações até adulto, como se processa o casamento, desmonta o matriarcado, como se organiza a hierarquia social. Quanto à moral, adianta o seguinte: “O Bijagó não se limita à moral relativa e utilitária, antes a eleva à filantropia, especialmente no que diz respeito à criança, mulher, velhice, cegos, aleijados, etc. Faz parte dela a correção, a seriedade e a verdade. A mentira é repelida. É quase atirada para o campo patológico”. Vê-se que observou, que separou a lenda ou o exotismo das práticas quotidianas: “Entre o Bijagó não existe o conceito de honra tal como nós o concebemos. Existe um sentimento que eles denominam falta de respeito. Deve ter-se em vista que a mulher tem um período de livre mancebia, sem restrições, em que predomina o seu arbítrio e o seu temperamento. Tudo porém muda completamente quando casa”. E faz-nos compreender o sentido da justiça, a natureza da sua hospitalidade e as relações hostis e como se processavam. Terá sido um relato escrito a grande velocidade, para corresponder aos apelos de Avelino Teixeira da Mota, o instigador da aventura destas monografias que ajudaram a pôr os guineenses no circuito mais amplo da etnografia, da etnologia, da investigação de toda a ordem, tudo o que então faltava àquela Guiné que foi posta no mapa por Sarmento Rodrigues e a este seu discreto adjunto que nunca mais largará o fascínio guineense, a despeito de se ter abalançado, finda a sua participação na missão geo-hidrográfica, na Monumenta Cartográfica, um dos trabalhos mais valiosos das comemorações henriquinas.


Folheia-se o trabalho de Augusto Santos Lima e admira-se o portentoso trabalho de Teixeira da Mota e de muitos administradores coloniais que passaram ao papel aquilo que era fábula ou conhecimento oral. Eram monografias que incluíam muitas imagens, era dever obrigatório que o texto fosse complementado e assim ajudasse a melhor compreender a gente de carne e osso, mostrando habitações e no caso dos Bijagós que pudéssemos ver a genialidade das suas esculturas, de primeiríssima água.
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15120: Notas de leitura (757): "O seminarista e o guerrilheiro", de Cândido Matos Gago, ex-presidente do município de Grãndola... Uma obra de ficção sobre a guerra colonial no leste de Angola, sobre a dupla perspetiva de um combatente português e de um guerrilheiro do MPLA

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15123: Efemérides (197): O baptismo de fogo da CART 494 foi há 52 anos (Coutinho e Lima, Cor Art.ª Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal 
A CART 494, que eu comandei na minha 1.ª comissão na Guiné (63/65), teve o seu batismo de fogo, em 17SET63, em Ganjola (Norte de Catió), isto é, faz hoje 52 anos. 
Sobre este assunto foi publicado, no nosso blogue, em 17SET2004, um texto relatando os factos - P13617.

A CART 494 comemorou, no passado dia 29 de Agosto, os 50 ANOS DE REGRESSO DA GUINÉ, com o seguinte programa: 
- 10H00 - Concentração no Quartel da Serra do Pilar 
- 10H30 -Colocação de uma placa comemorativa, no local a isso destinado
- 11H30 - Missa na Igreja de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, celebrada pelo Sr. Padre Joaquim Soares, Capelão do Batalhão . 
- 13H00 - Almoço convívio num restaurante na ribeira de Vila Nova de Gaia

Estiveram presentes 33 elementos da Companhia, juntamente com suas famílias (incluindo 3 netos), no total de 73 pessoas. 

Com um abraço amigo 
Alexandre C C Lima 
(Coronel de Art.ª Reformado
Comandante da CART 494 - Guiné (63/65) 

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Nota do editor:
Do Poste 13617 de 17 de Setembro de 2004:

[...]
Na manhã de 17SET, quando a maré o permitiu, partimos de Catió para Ganjola; quando aqui chegamos (cerca da 11 horas), verificamos, que os GC da CI ainda não tinham feito a travessia do rio (Catió ficava a Sul do rio Ganjola e a posição a ocupar a Norte do mesmo rio), pelo que atracamos ao pequeno cais, sem estar montada qualquer espécie de segurança.


 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Começamos a descarregar os batelões, enquanto era montada a segurança; o atraso verificado nesta era preocupante porque, seguramente, o Inimigo (IN), com muita probabilidade, tinha tido conhecimento da nossa chegada.

Uma das primeiras medidas foi montar a Metralhadora Breda e os Morteiros de 60mm, para permitir a reacção a qualquer acção do IN.

Às 16H45, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento, com grande intensidade de fogo, tendo-se aproximado a poucos metros do arame farpado (nas zonas onde já estava instalado), a coberto das bananeiras e de outras árvores de fruto, bem como do alto capim, que, obviamente, não houvera ainda tempo de cortar.
O ataque durou cerca de uma hora. O pessoal da Companhia, juntamente com os 2 GC da Companhia de Catió, reagiu ao fogo inimigo, tendo o IN retirado. Às 22H45, verificou-se novo ataque, igualmente com grande poder de fogo e foi novamente rechaçado.

No dia seguinte, foram encontrados 4 mortos do IN, deixados no meio do capim. Pelos rastos de sangue observados, o IN teve, certamente, mais baixas.
Foi capturado o seguinte material: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina, 1 pistola metralhadora PPSH e 1 pistola de sinais; 1 cunhete de Metralhadora Ligeira Browning com 1 fita de munições completa e outras incompletas, bem como grande quantidade de granadas de mão. Durante os trabalhos de capinagem subsequentes, com o objectivo de abrir campos de tiro, foram encontradas dezenas de granadas de mão, que o IN tinha abandonado.
As Nossas Tropas (NT), com uma enorme dose de felicidade, não tiveram uma beliscadura sequer. 

[...]
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15084: Efemérides (196): Homenagem aos Combatentes Limianos caídos ao serviço da Pátria, levada a efeito no passado dia 29 de Agosto, em Ponte de Lima (António Mário Leitão)

Guiné 63/74 - P15122: Da Suécia com saudade (50): A propósito do 'massacre de Sangonhá' (ou Sanconhá), de 6/1/1969... Contrariamente ao que escreve o gen pilav ref José Nico no poste P15038, não encontrei, até agora, nos arquivos do reino da Suécia, qualquer referência à eventual presença, nesse dia e local, de uma equipa cinematográfica sueca...


Guiné-Bissau > Bissau > ONG AD - Acção para o Desenvolvimento > 12 de dezembro de 2013 > Atelier ambiental transfronteiriço em Sanconhá (sic). Foto: cortesia da página da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, cofundada e dirigida, até à sua morte, pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014).

 "De 6 a 7 de dezembro de 2013, realizou-se em Sanconhá, junto à fronteira com a Republica da Guiné, o 2º atelier transfronteiriço, o qual tomou decisões muito importantes. Salienta-se a criação do 'Parque Comunitário Para a Paz, de N’Compá', a primeira área transfronteiriça dos dois países, a partir do qual se estabelecerá um processo de cooperação para o desenvolvimento das populações de ambos os lados da fronteira."

Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia...

[ foto atual à esquerda: José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); atualmente é cap inf ref e vive na Suécia há quase 40 anos]

Data: 17 de setembro de 2015 às 17:36
Assunto: O poste 15038 e..."Os olhos azuis"


"Romanceamentos"


Os antigos combatentes continuam,e continuarão,a sentir profundo orgulho no seu serviço prestado na Guiné.

Existem dificuldades, mais do que compreensíveis,  em esquecer que algumas das ajudas humanitárias e económicas dadas por outros países aos movimentos de libertação que nos combatiam,  acabavam por, indirectamente, aumentar as suas capacidades militares e o número de mortos e feridos que nos iam causando.

Independentemente das ideias políticas de cada um, não o reconhecer seria mais do que falacioso na injustiça para com os camaradas que directamente vieram a sofrer as consequências destes auxílios.

Uma política nacional de apoio económico e social aos movimentos de libertação em África, América Central e do Sul, assim como ao Vietname, foi a dominante sueca nos anos sessenta e inícios de setenta.

Mas terá alguma vez havido "amizades" entre as políticas nacionais dos diversos países europeus, independentemente de o facto aparentamente poder "chocar" alguns militares com altos postos?

Assim como o governo português, no que julgava ser uma política colonial de defesa dos interesses nacionais, näo foi pedir sugestões aos suecos, não se pode estranhar que estes também o não tenham feito quanto aos seus interesses.

A Força Aérea de que todos nos devemos orgulhar

O sr. general José Nico apresentou de forma interessante, e profissional, a actuação da nossa Forçaa Aérea aquando das operações em Sangonhá [ou Sanconhá, para os guineenses, antes e depois da independência].

Mais uma vez se pode verificar com profundo orgulho a coragem, voluntarismo, eficácia e dedicação demonstradas pelos profissionais que faziam os possíveis, e os "impossíveis", para obterem o melhor rendimento e resultados do material de que dispunham, arriscando muitas vezes a vida ao procurar contornar muitas das limitações enfrentadas diariamente.

O mesmo näo o posso fazer quando o sr. general começa a divagar em análises político-sociais que de tudo um pouco envolvem no respeitante à Suécia, suas gentes, realidades económicas. Não menos, por leituras aparentemente fáceis sobre o luteranismo e suas influências histórico-actuais.

O sr. general terá, obviamente, todo o direito de ter as opiniöes que achar por boas.

Ao ponderar sobre assuntos técnico-operacionais da sua Arma e Especialidade há que humildemente saber ouvir.

No entanto, ao entrar por divagações políticas, alguns de nós, com a mesma humildade e respeito anteriormente referido, pdoerão... discordar.

Toda a divagação pós-operacional se situa na hipótese de que o nosso sucesso em Sangonhá [ou Sanconhá] se tornou possível pelo facto de os guerrilheiros do PAIGC estarem a participar ,como figurantes, em filme sueco de propaganda quanto às suas capacidades militares.

Tal conclusão é unicamente baseada num relatório apresentado pela polícia política da ditadura, que o sr. general cita de memória, pois acaba por admitir não ter até à data podido provar a [sua] existência por... [ter] desaparecido.

Basear täo "nuanceadas" conclusões em relatório único da polícia política, envolvida na guerra de propaganda e contra-propaganda, será, pelo menos, um pouco limitado nas fontes.

Muitas e díspares opiniões se poderão ter sobre a Direção Geral de Seguranca [, DGS],mas será pouco admissível acreditar-se serem os mesmos ingénuos e incompetentes na contra-propaganda da zona de guerra na Guiné.

Nem a nível oficial, nem a níveis pessoais, existe qualquer referência a tal filme entre as gentes do PAIGC,

Sabendo-se o gosto pelo "ronco" por parte da maioria dos locais, ou mesmo a lógica utilização de tão grande desastre militar como arma de arremesso (então ou posterior) entre as inúmeras facções políticas guineenses, este não documentado desastre é, pelo menos, estranho.

As [escrutinadíssimas] fontes suecas

Decidi então procurar na Suécia respostas.

Primeiro junto do Partido do Governo na data da ocorrência (socialistas), não encontrando nos arquivos qualquer referência a filmagens em Sangonhá [ou Sanconhá].

Forneceram-me contactos quanto aos arquivos do Departamento Estatal que trata dos assuntos relacionados com os apoios aos países em desenvolvimento e, tanto referido à Guiné como ao PAIGC em particular,  nada está referenciado quanto a tal ocorrência.

Para acalmar o nosso gosto mórbido quanto a possíveis "conspirações do silêncio" acabei por também contactar os sindicatos dos cineastas, fotógrafos e jornalistas na busca de participantes vivos, mortos ou feridos nas pessoas dos profissionais neles registados.

Nada quanto ao filme, participações, e muito menos quanto a mortos ou feridos.

Quanto aos últimos, numa sociedade totalmente aberta ao escrutínio dos cidadãos como é a sueca, mortos e feridos em África sem terem surgido nos jornais,TV, rádio, ou em discussões inter-parlamentares, é algo de impossível.

Temos portanto até hoje o tal relatório da Direção Geral de Segurança misteriosamente desaparecido em Portugal.

A não ter uma das tais suecas de olhos azuis ido aí para o destruir,  restam-nos sentimentos de fé, certamente muito válidos quanto aos Arquivos do Vaticano mas...quanto à política da ditadura e seus agentes?

Não tendo qualquer procuração jurídica, necessidade ideológica ou desejo pessoal de defender as políticas do reino da Suécia ( e quem sou eu para o fazer?), ficamos à espera que alguém encontre referências documentadas sobre o assunto, e deste modo, evitando intrepretações subjectivas,  passíveis de debates mais ou menos... romanceados.

Um grande abraço, desde Estocolmo,
do José Belo.

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(...) Segunda parte do trabalho da autoria do General PilAv José Francisco Fernando Nico, versando a ajuda da Suécia aos Movimentos de Libertação africanos, durante a guerra colonial, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74) em 22 de Agosto de 2015.

(...) A razão para o suicídio do PAIGC em Sangonhá

(...) Por acaso tudo se aclarou alguns dias mais tarde ao ler um relatório da DGS que chegou ao gabinete do Comandante do Grupo Operacional 1201. Para mim foi uma espécie de relâmpago que tudo iluminou e desvendou, num instante, a lógica daquele comportamento estranho do PAIGC. Não consegui agora encontrar nenhum registo desse documento mas o facto é que me marcou tanto que nunca mais esqueci o essencial do que li. Resumidamente, a DGS dava conta de que o ataque se tinha enquadrado numa acção de propaganda promovida pela Suécia. Na minha opinião, muito provavelmente a pedido do próprio Amílcar Cabral, resolveram aproveitar o abandono de Sangonhá para simular a tomada do aquartelamento pela guerrilha. O cenário não podia ser mais perfeito. Antes de abandonar a posição, as instalações do aquartelamento tinham sido destruídas pelo Exército e essa imagem podia ser facilmente mostrada em fotografia e filme como sendo consequência dos ataques do PAIGC. Depois, a posição “acabada de conquistar” podia ser utilizada para mostrar o poder de fogo do PAIGC contra as posições que se preparavam para conquistar a seguir: Ganturé e Gadamael. Uma equipa de repórteres, incluindo fotógrafos e cineastas,  deslocou-se para esse efeito à Guiné-Conacri onde se juntou aos guerrilheiros. Um total de 400 pessoas terão estado envolvidas em toda a operação,  segundo as informações do régulo Abibo,  de Ganturé.

Ficou assim explicado porque razão o PAIGC se tinha exposto em pleno dia a levar com as bombas da aviação. É que não era possível fotografar nem filmar sem luz. Também não fazia sentido estarem escondidos quando tinham acabado de derrotar e afugentar o inimigo. Tinham, é claro, a noção de que iam correr um grande risco e por isso o terem levado a ZPU-4 para se defenderem. Mas cometeram um segundo erro, este gravíssimo. Foram detectados e,  em vez de embalarem a trouxa e rumarem novamente à Guiné-Conacri, deixaram-se ficar. Pessoalmente penso que, como os dois primeiros aviões não abriram fogo, assumiram que, ou os tinham atingido, ou os tinham dissuadido e resolveram continuar a fazer a “fita”.

Faltava explicar a utilização das peças anti-carro porque, como já foi dito, não eram, nem armas de guerrilha, nem adequadas às flagelações aos aquartelamentos. Não há mesmo conhecimento de terem sido utilizadas em qualquer outra ocasião.

Uma explicação muito credível ocorreu-me quando descobri algumas fotos dessas armas no arquivo Amílcar Cabral da Fundação Mário Soares. Fiquei até convencido que respeitam à acção do dia 6 de Janeiro de 1969. Passo a explicar.

O objectivo da operação era produzir propaganda, como referiu a DGS no seu relatório. Havia, por isso, necessidade de mostrar grande capacidade militar e poder de fogo, factores esses que estariam a determinar avanços do PAIGC no terreno nomeadamente a conquista de posições ocupadas pelos portugueses. Acontecia que aquelas peças anti-carro tinham um reparo longo, tinham rodas e um cano comprido. As eventuais audiências alvo da propaganda ficariam certamente muito mais impressionadas se o ataque fosse feito com estas peças de artilharia em vez dos tradicionais morteiros ou dos canhões sem recuo que eram armas relativamente pequenas. Só uma razão desta natureza os poderá ter levado a não utilizar o armamento tradicional nesta flagelação a Ganturé: nenhuma granada rebentou no perímetro do destacamento. (...)

(...) Concluindo, ironicamente pelo menos desta vez, a bondosa ajuda humanitária sueca cujo objectivo foi soprar “os ventos da história”,  contribuindo para a derrota militar dos portugueses,  não conseguiu infligir baixas às nossas forças. Ao invés, provocou um número substancial de mortos, feridos e incapacitados entre os guerrilheiros e, muito provavelmente, também entre os apoiantes cubanos, repórteres, fotógrafos e cineastas suecos. Que foram encontrados diversos despojos de pele branca é um facto,  mas nunca se conseguiu saber a quem teriam pertencido. O PAIGC e o governo sueco, em escrupulosa obediência às regras da propaganda nunca revelaram, nem durante a guerra, nem depois, este desastroso embate. (...)


Guiné 63/74 - P15121: Convívios (707): Inauguração de monumento em honra dos combatentes de Ribamar da Lourinhã, às 11h00, domingo, 20 de setembro de 2015 (José João da Costa Pereira, ten cor ref, presidente da direcção do Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã, da Liga dos Combatentes)

1. Mensagem de José Pereira, presidente da direção do Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã da Liga dos Combatentes, com data de 16 do corrente:

Assunto: Inauguração de monumento em honra dos combatentes de Ribamar da Lourinhã - 20Set2015

Exmos. Senhores,

Com o apoio da Liga dos Combatentes, através do Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã, os antigos combatentes da Vila de Ribamar - Lourinhã vão inaugurar um monumento que recorda todos os que combateram por Portugal, no próximo dia 20 de Setembro com o seguinte programa:

10h00 - missa na igreja de Ribamar

11h00 - Inauguração do Monumento com honras militares,  prestadas por militares  da Escola das Armas

12h30 - Imposição de condecorações a antigos combatentes da guerra de África pelo senhor Tenente-general ref Jorge Silvério  [, que é natural de Ribamar, Lourinhã]

Agradecemos divulgação do evento e contamos com a presença de todos os combatentes.

O Presidente da Direcção
José João da Costa Pereira
Tenente-coronel



Liga dos Combatentes

Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã​
Rua 9 de Abril, 8 – 1º 
Apartado 81
2560-301 Torres Vedras
Telf 261096496 / telem  925303511

PS . Aproveito a oportunidade para lhe pedir o favor de, se aparecer alguém para a Delegação e que não encontre o senhor Moura, que a pessoa ligue para os números acima; se não atenderem que liguem para o meu particular (964123931) que depois alguém de Torres lhe trata do problema.​
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de setembro de  2015 > Guné 63/74 - P15102: Convívios (706): O pessoal da Magnífica Tabanca da Linha vai encontrar-se no próximo dia 24 de Setembro, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P15120: Notas de leitura (757): "O seminarista e o guerrilheiro", de Cândido Matos Gago, ex-presidente do município de Grãndola... Uma obra de ficção sobre a guerra colonial no leste de Angola, sobre a dupla perspetiva de um combatente português e de um guerrilheiro do MPLA

1. "O Seminarista e o Guerrilheiro” é o título do livro de Cândido Matos Gago (edição de autor, 2015),  que já foi apresentado em 28 de março passado, no Teatro da Comuna, em Lisboa, por João Mota,  ex-diretor do Teatro Nacional,  e em 17 de abril, em Grândola.

O livro, de ficção,  aborda a guerra colonial em Angola,  de um dupla perspetivaa: (a) do combatente português, oficial miliciano, ex-seminarista; e (ii) a do nacionalista angolano, comandante do MPLA.

Natural de Grândola,  Cândido Matos Gago  foi presidente da edilidade local  entre 1990 e 1994 e é atualmente deputado na assembleia municipal.

Fez a guerra em África, como a maioria dos jovens da sua geração. Fez o INEF - Instituto Nacional de Educação Física, é hoje  professor reformado, tem 70 anos, e tem também publicações sobre  a temática lúdico-desportiva do Alentejo.

“O Seminarista e o Guerrilheiro” conta com a parceria do município de Grândola e da junta de freguesia de Grândola e Santa Margarida da Serra. O livro pode ser encomendado através da CM Grândola. O autor tem página no Facebook.

Pedimos ao nosso camarada e amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, que foi alf mil paraquedista em Angola, BCP 21 (1970/72), e que é também professor de educação física reformado, ex-autarca em Fafe com o pelouro da cultura e desportp, para nos apresentar uma nota de leitura desta publicação que tem entre mãos.

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Nota do editor:


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15119: Lembrete (13): A apresentação do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", da autoria de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes): amanhã, 5ª feira, dia 17, pelas 15h00, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), av Padre Cruz, Lisboa

1. Aqui vai um lembrete para todos os leitores deste blogue: conforme foi há dias noticiado (*), o nosso grã-tabanqueiro A. Marques Lopes, depois de Matosinhos,  vai fazer o lançamento do seu livro "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial", aqui em Lisboa, na ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, av Padre Cruz, 5ª feira, dia 17 do corrente.

A apresentação está a cargo de outro grã-tabanqueiro, o Mário Beja Santos [, que já aqui publicou três postes sobre o livro]..

O evento realiza-se  às 15h00, no auditório Jorge Maurício.

Aqui fica a localização da ADFA no mapa. (**)





Ficha técnica:

Título: Cabra-Cega
Autor: João Gaspar Carrasqueira  [ pseudonimo de A,Marques Lopes]
Editora: Chiado Editora
Local: Lisboa
Data de publicação: Junho de 2015
Número de páginas: 582
ISBN: 978-989-51-3510-3
Colecção: Bíos
Género: Biografia
Preço de capa: 19,00 euros (papel)


2. Nota de leitura de Mário Gonçalves [Portal Livros & Leituras, 2/7/2015] (reproduzido com a devida vénia...]

(...) António Aiveca é o protagonista desta grande história. O homem que, tal como eu, também foi obrigado a ir para a Escola Prática de Infantaria (Mafra) conhecer o “calhau”, imortalizado por José Saramago no Memorial do Convento, para tirar a especialidade de sniper (atirador) no curso de oficiais milicianos, é o centro de todas as atenções desta narrativa.

Aliás, a personagem existiu mesmo. Foi um homem de carne e osso. Apesar de já ter falecido, foi amigo do autor. Foi confidente. E foi precisamente com base em conversas e até em muitos documentos deixados que João Gaspar Carrasqueira montou este romance.

Aiveca tem um percurso de vida sui generis. Vai, imaginem, da vida eclesiástica (controversa) à guerra de ultramar, na Guiné.

As peripécias cruzam-se com lugares, pessoas e tempos. As descrições, os cenários e as ações, no teatro de operações, são fabulosas.

Há armas, medo e aventura. O verde dos camuflados e as alcunhas. A G3 em luta com a catana e a fisga. A cabra-cega. As divisas dos sargentos e os galões dos oficiais. Há cavalheiros e dinâmica própria dos heróis. Apelidos, muitos apelidos. Há muito combate. Há o silvo dos ricochetes no capim. Há o peso das armas, as rações de combate, as casernas, as formaturas e até alguma estupidez dos superiores. Há o capitão, o furriel, o cabo e o soldado. Há a chuva e o calor. Muito calor!

Nas palavras, há magia. Interessante! (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15111: Agenda cultural (423): Convite para a apresentação do livro "Cabra-Cega: Do seminário para a guerra colonial", da autoria de João Gaspar Carrasqueira, dia 17 de Setembro de 2015, pelas 15 horas, na ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas), Av. Padre Cruz, em Lisboa. A apresentação estará a cargo do Dr. Mário Beja Santos (António Marques Lopes)

(**) Último poste da série > 20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14904: Lembrete (12): Repasto da Magnífica Tabanca da Linha, em Oitavos, Guincho, Cascais, dia 23, 5ª feira... O prazo de inscrição termina hoje à meia-noite... Espera-se meia centena de convivas, entre eles, três "periquitos": (i) o mítico comandante Pombo; (ii) a sua dedicada filha Maria João; e (iii) o maj gen PQ Avelar de Sousa (que foi cmdt da CCP 123 / BCP 12, 1972/74)

Guiné 63/74 - P15118: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (13): a Op Mar Verde, a casa de Amílcar Cabral, os prisioneiros portugueses da prisão "Montanha", as alegadas declarações do ten cmd João Januário Lopes (em que um dos seus objetivos era a destruição dos MiG no aeroporto de Conacri) e, por fim, os "internacionalistas cubanos"...

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1. Documentos do Arquivo Amílcar Cabral, alojados no portal Casa Comum, Fundação Mário Soares, reproduzidos com a devida vénia...

Recorde-se as normas deste portal, Casa Comum, sobre os  direitos de autor: a publicação, total ou parcial, deste(s) documento(s) exige prévia autorização da entidade detentora. Devemos respeitar esta norma, tal como gostamos que os outros respeitem as nossas, não utilizando, por exemplo,  abusivamente, sem autorização, ou sem sequer a  identificação da fonte, os nossos textos, vídeos e imagens.

No nosso caso, chegámos a um 'acordo de cavalheiros' sobre a utilização, por parte do nosso blogue, de imagens e documentos disponibilizados pelo portal Casa Comum, e muito em particular os que estão relacionados com a guerra colonial na Guiné (1961/74) (*).

Sobre os tão falados MiG da Guiné-Conacri que terão violado, alguns vezes, o espaço aéreo da então Guiné portuguesa (, de acordo com o José Matos, autor do artigo "A ameaça dos MiG na guerra da Guiné", que publicámos recentemente em 4 postes), bem como sobre os eventuais pilotos do PAIGC em formação na antiga URSS, não encontrámos, até agora, nenhuma referência no Arquivo Amílcar Cabral.  Referências há, e muitas,  mas é aos alunos da Escola... Piloto do PAIGC, em Conacri, onde estudavam os filhos da "nomenclatura" do partido...

Todavia, encontrámos alguns documentos (e nomeadamente fotos) direta ou indiretamente relacionados com a Op Mar Verde (22 de novembro de 1970) que achamos por bem selecionar e reproduzir. Este acontecimento irá levar a uma escalada da guerra, e a um maior apoio não só político como militar por parte da ex-URSS e do seu bloco, incluindo a Cuba de Fidel Castro (que já apoiava o PAIGC desde 1966, em homens, diplomacia  e instrução militar).

Há diversos telegramas com mensagens de repúdio pela invasão de Conacri e de solidariedade e apoio ao PAIGC e ao seu secretário geral, com data posterior a 22/11/1970. Mas não é percetível que esse apoio se traduzisse, de imediato,  em fornecimento de mais armamento ou de novos tipos de armamento (muito menos aviões e pilotos). Os mísseis terra-ar Strela só virão depois da morte de Amílcar Cabral.... Ou pelo menos a sua utilização no TO da Guiné.

Dois anos depois da invasão de Conacri e da tentativa de golpe de Estado contra Sékou Touré (em dezembro de 1972, a um mês do seu assassinato), Amílcar Cabral continuava a frequentar a embaixada cubana em Conacri. Era então embaixador o nosso conhecido Óscar Oramas (que vai ser um dos  biógrafos,  ou hagiógrafo, do dirigente histórico do PAIGC).



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de março de 2008 >

Os únicos participantes cubanos, convidados pela organização: (i)  Óscar Oramas [Oliva], antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri (nascido em 1936, na província de Cienfuegos, diplomata e escritor, estava em Conacri aquando da Op Mar Verde, em 22/11/1970, e aquando do assassinato de Amílcar Cabral, em 22/1/1973); e  (ii) Ulises Estrada [Lescaille] (Santiago de Cuba, 1934 - La Habana, 2014), antigo combatente da Sierra Maestra e "combatente internacionalista" que integrou, como "voluntário", as fileiras do PAIGC. [Chegou à Guiné em meados de 1966, e estava ao lado de Domingos Ramos, chefe da Frente Leste e comissário político do PAIGC, quando este foi atingido mortalmente em 10 de novembro de 1966, por um estilhaço de morteiro, num ataque de artilharia (1 canhão s/r) e infantaria ao quartel de Madina do Boé, segundo a informação que me prestou em Bissau, em 3/3/2008.] (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



2. Convenhamos que grande parte da documentação deste período, disponível no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum,  terá, para nós, pouco interesse historiográfico, trazendo poucas ou nenhumas novidades, a não ser eventualmente o último documento abaixo reproduzido (Pasta: 07066.087.006): trata-se de um texto, de 11 páginas, manuscritas, em papel quadriculado, e em que se relata as declarações, proferidas  perante a Comissão de Inquérito da ONU, alegadamente pelo tenente João Januário Lopes,   da 1ª CCmds Africanos, que foi feito prisioneiro em 22/11/1970.  Não sabemos quem é o autor do documento.

Recorde-se que o cmdt da Op Mar Verde, Alpoim Calvão,  deu o ten cmd Januário Lopes como "desertor" (vd. "Operação Mar Verde: um documento para a história”, livro de António Luís Marinho, Círculo de Leitores, 2005).

Neste documento do Arquivo Amílcar Cabral o ten cmd Januário é referido como tendo declarado que um dos objetivos a atingir pelo seu grupo, liderado pelo capitão paraquedista Morais,  era a tomada do aeroporto internacional de Conacri e a destruição dos MiG da aviação guineense", além da sabotagem da pista... O documento, em português, datado  de 29/11/1970, tem por título "Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Kundara" (sic).

Não é demais reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade  e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira. (**) (LG)
____________________



05222.000.418
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Pasta: 05222.000.418
Título: Destruição do Secretariado Geral do PAIGC após o ataque português a Conakry
Assunto: Destruição do Secretariado Geral do PAIGC em Conakry, após o ataque português àquela cidade, em 22 de Novembro de 1970 [Operação Mar Verde].
Data: Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1


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Pasta: 05222.000.364
Título: Militantes da FLGC capturados após o ataque português a Conakry, em Novembro de 1970
Assunto: Militantes da Frente de Libertação da Guiné-Conakry [oposicionistas ao regime de Sekou Touré] capturados após o ataque português a Conakry [Operação Mar Verde], em Novembro de 1970.
Data: Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1

05222.000.417
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Pasta: 05222.000.417
Título: Casa de Amílcar Cabral em Conakry, destruída após o ataque português àquela cidade
Assunto: Casa de Amílcar Cabral em Conakry, destruída após o ataque português a Conakry, na República da Guiné, em 22 de Novembro de 1970 [Operação Mar Verde].
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1.

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Pasta: 05222.000.417 
Título: Casa de Amílcar Cabral, parcialmente destruída após o ataque português a Conakry
Assunto: Estado da casa de Amílcar Cabral, depois do ataque português a Conakry [Operação Mar Verde, comandada por Alpoim Calvão].
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Pàgina8s): 1

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Pasta: 05222.000.412
Título: Convívio entre prisioneiros portugueses e elementos do PAIGC.
Assunto: Jogo de futebol entre militares portugueses, feitos prisioneiros, e militantes do PAIGC.
Data: 1963 - 1973
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1


Pasta: 05222.000.204
05222.000.204
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05360.000.026



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Título: Prisioneiros de guerra portugueses em Conakry.
Assunto: Prisioneiros de guerra portugueses nas instalações do PAIGC em Conakry [alguns destes militares pertenciam à Companhia de Artilharia 1690, Geba, 1967/69].
Data: 1967 - 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1

Pasta: 07066.087.006
Título: Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Koundara
Assunto: Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Koundara dando conta da liquidação de trinta e seis "mercenários" e captura de dezoito na Região Administrativa de Koundara. Relatório do procedimento da Missão de Inquérito da ONU encarregue de recolher dados sobre o ataque a Conakry [Operação Mar Verde].
Data: Domingo, 29 de Novembro de 1970 - Segunda, 30 de Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Páginas: 11.


Pasta: 05360.000.026
Título: Amílcar Cabral, Aristides Pereira [e Oscar Oramas] durante uma reunião com internacionalistas cubanos, em Conakry
Assunto: Amílcar Cabral, Aristides Pereira [e Oscar Oramas, Embaixador de Cuba] durante uma reunião com internacionalistas cubanos, na Embaixada de Cuba em Conakry.
Inscrições: Dec. 1972. Reunião com camaradas cubanos.
Data: Dezembro de 1972,
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Fotografias.
Página(s): 1


______________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte´

(...) Caro Luís Graça,


Obrigado pela tua mensagem e, como sempre tenho referido, pelo trabalho fantástico que tens feito no blog.

Quanto às imagens solicitadas, levantam-se alguns problemas, que temos procurado evitar. Por isso, proponho a seguinte solução:

(i) Fotografias: cedemos cópia das fotografias com 72dpi de resolução e a dimensão máxima de 400 pixels;

(ii) Documentos: podem ser referenciados com um thumbnail (dimensão máxima 200 pixels) que serve de link para o documento em www.casacomum.org.

Todos estes elementos devem ser devidamente referenciados, conforme consta do campo "Fundo" na descrição que encontra no site.

Espero que entendas a solução proposta, que resulta de compromissos e equilíbrios com outras instituições.

Um grande abraço,
Alfredo Caldeira

Administrador
Arquivo & Biblioteca
Fundação Mário Soares
Rua de São Bento, 176
1200-821 - Lisboa
Tel: (+351) 21 396 4179

Fax: (+351) 21 396 4156
www.fmsoares.pt
www.casacomum.org


(**) Último poste da série > 23 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13787: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (12): Em meados de 1962, seis meses antes do início oficial da guerra, já a região de Quínara está "a ferro e fogo", a avaliar por um comunicado de 30/6/1962, assinado pelo comandante do PAIGC Rui Djassi (nome de guerra, Faicam)

Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
Acreditem que é verdade, para quem gosta da Antiguidade, belos jardins e natureza edénica, Tivoli é um destino fabuloso.
Já vos tinha falado de Villa d'Este, um interior cheio de arte e jardins inesquecíveis.
Quando lera o clássico de Marguerite Yourcenar "Memórias de Adriano" ficara-me aquele travo de conhecer o complexo monumental que ele aqui construíra, com magnificência e requinte. E lera que Villa Gregoriana era um dos lugares mais cantados de sempre, Goethe sentira-se deslumbrado quando aqui viera visitar a grande cascata, o Vale do Inferno dentro de uma envolvente prodigiosa. Asseguro-vos que foi um dos dias inesquecíveis da minha vida.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (6)

Beja Santos

Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana


Foi um dia inteiro, de manhã cedo a quase o sol-posto, a deambular por estas duas famosas maravilhas de Tivoli e do património mundial. Villa Adriana espalha-se pelo vale e em termos arqueológicos é um dos sítios de maior significado da Roma antiga. A vila foi construída pela vontade de Adriano que acompanhou pessoalmente o projeto (118-138 depois de Cristo). Tem estas muralhas gigantescas, pode-se adivinhar a monumentalidade dos conjuntos, ruas e pontos de passagem, espelhos de água, termas, bibliotecas, teatros e templos. Adriano é imperador quando Roma está no auge das fronteiras e do acesso às riquezas. Deve ter tido meios suficientes para pôr de pé esta vila com 300 hectares. Para sabermos um pouco dele, temos uma obra-prima de Marguerite Yourcenar, “Memórias de Adriano”, à nossa disposição, e é bem fácil: a sua cultura, o seu humanismo, a sua conceção do poder, a sua tristeza e reflexão sobre a mortalidade depois de ter morrido Antínoo, a paixão da sua vida.




O turista é confrontado por uma manhã com um sol de fornalha, há felizmente água nalgumas bicas, é sempre urgente dessedentar-se, e então parar pausadamente nas construções que restam desta vila monumental: as habitações da guarda pessoal do imperador, o vestígio de umas termas, um lago onde o imperador tinha refeições, podendo ver do outro lado um templo de grandes dimensões.




O lago foi concebido com todos os requintes, com imensa estatuária, há para ali umas cariátides que lembram o Pártenon, de Atenas, o templo era imenso, e não resisti a guardar imagem deste crocodilo que Adriano deve ter contemplado muitas vezes.


Para quê torturar o leitor com dezenas e dezenas de imagens com o que resta das pequenas e grandes termas, o Canópio, o Palácio Imperial com a Praça Dourada, o Teatro Marítimo, o edifício dos Cem Pequenos Quartos, o Poecilo? Como num jogo do rato e do gato, a fugir ao braseiro do sol, e a suspirar por um granitado ou uma coisa mais fresca pelas goelas abaixo, por ali circulava e aconteceu esta imagem que tanto me compraz, é o resto de um templo ao lado das grandes termas, e se não é exatamente assim o imperador Adriano que me perdoe, mas presto-lhe homenagem por ter construído o que construiu, estou satisfeito pelo claro-escuro e o céu azul de tons ferretes. Já chega, ando aqui há horas a fio, o estômago a bater horas, impõe-se o repouso, espera-me outro espetáculo, a Villa Gregoriana.


Ainda o imperador Adriano não sonhava em construir aquele complexo monumental e houve para aqui uma vila de Manlio Vopisco que foi destruída por uma enxurrada, este rio Anio não é para brincadeiras. Mas as cascatas deste lugar fazem parte deste antigo lugar romano então chamado Tibur, passou a ser uma etapa obrigatória para peregrinos, viajantes e artistas que iam a caminho de Roma. Goethe passou pelo Tivoli e escreveu que tinha visto um dos espetáculos naturais mais extraordinários, tratava-se de uma paisagem que “nos enriquece o mais íntimo da alma”. De onde vem a fama multisecular da Villa Gregoriana? Aqui entrelaçam-se mito, natureza e história, o mito de bosques sagrados, das águas que descem para os infernos, passando pelas grutas de Neptuno e das sereias, aqui se escondia a Sibila, a divindade dos oráculos, e a Vila impôs-se tendo no topo a acrópole e os templos.




Visita-se a Villa Gregoriana não só para admirar a grande cascata, mais de 100 metros de água a jorrar em catadupa, mas há condutas realizadas artificialmente após a grande catástrofe de 1826 que levaram a redefinir a organização deste espaço edénico, o turista sabe que tem um mar de tranquilidade à sua espera, um desfrute paisagístico ímpar, alguém trabalhou para isso. Em 1828, o governo pontifício (Tivoli pertencia ao Papado) decretou grandes obras, e é no tempo de Gregório XVI (1831-1846) que se encontrou uma solução para salvar a cidade da fúria das águas construindo canais artificiais que levam as águas do rio diretamente para fora da cidade. E por ali andamos a subir e a descer, a bisbilhotar grutas, a ouvir a água em cachoada, os lugares selvagens e a composição harmónica do ecossistema, entramos em túneis das águas, admiramos o Vale do Inferno e até podemos imaginar o efeito devastador que terá tido o bombardeamento de 26 de Maio de 1944. Depois, este espaço de natureza eleita ficou transformado em vazador do lixo, foi necessário uma grande recuperação que ainda hoje é tutelada pelo Fundo Ambiental Italiano. Foi um dia e peras. Vou jantar um excelente ossobuco, a contemplar esta bela cidade de Tivoli. Parto amanhã cedo para a mais esperada das paragens, Assis. Ainda não sei que uma maravilhosa experiência está à minha espera. Eu depois conto.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15116: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (20): De 5 a 21 de Agosto de 1973

1. Em mensagem do dia 12 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 20.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

20 - De 5 a 21 de Agosto de 1973


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

AGO73/05 – Durante a Op. “OUSADIA SATÂNICA”, na região (GUILEGE 3 E 8-93) foi detectado GR IN NEST (grupo inimigo não estimado) progredindo no sentido S/N que ao aperceber-se da presença das NT, após breves disparos, se pôs em fuga, não tendo resultado a perseguição que lhe foi movida. Dada a ausência absoluta de guias para a região do UNAL era fundamental conseguir-se capturar algum elemento IN que pudesse servir de guia. Chuvas intensas e constantes prejudicaram toda esta acção.

AGO73/06 – No prosseguimento da Op. “OUSADIA SATÂNICA”, surgiram alguns casos de doença entre as NT (paludismo, esgotamento, etc.) que obrigaram a fazer regressar uma das CCAÇ até BOLOLA para promover as evacuações. Três horas depois novos casos de doença surgiram e dada a impossibilidade de prosseguir a operação, por o objectivo ainda estar muito distante, não haver guias, se ter perdido o trilho e as NT se encontrarem esgotadas pelo esforço e pelas chuvas que continuam a cair insistentemente, foi determinado o regresso das forças a BUBA. [Sublinhados meus].

AGO73/07 – As forças empenhadas na Op. “OUSADIA SATÂNICA” foram autotransportadas para os respectivos aquartelamentos.


Do Resumo dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513: [Tudo em maiúsculas no original]

D – Por determinação do CCFA o BCAÇ 3852 que já havia terminado a comissão, desloca-se para BISSAU a fim de embarcar para a Metrópole. O BCAÇ 4513/72 assume a responsabilidade do Sector S-2, com as suas companhias sediadas em A. FORMOSA, BUBA e NHALA, além de duas companhias de reforço sediadas respectivamente em MAMPATÁ e CUMBIJÃ. É durante este período que chega ao sector o BCAÇ 4516, que substitui na missão de intervenção na área de CUMBIJÃ-NHACOBÁ o BCAÇ 4513/72. A missão do Batalhão agora de quadrícula, abrange todo o Sector S-2, com excepção da subsector de CUMBIJÃ atribuída ao BCAÇ 4516.


Das minhas memórias:

7 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – O regresso a “casa”. 

Era o tão aguardado regresso a casa: Nhala, finalmente. Ainda que quase todos combalidos, ainda que com um futuro de muito esforço pela frente, ainda que sujeitos a actividades de risco, nada importava, se pudéssemos sempre regressar a casa. Por poucos dias ainda estaríamos em sobreposição com a CCAÇ 3400 do BCAÇ 3852 que viemos render, mas depois tudo ficaria por nossa conta. Era uma sensação indescritível, que nos incutia confiança e optimismo. Quando cheguei a Nhala vi que a cobertura da minha palhota-estúdio/fotográfico tinha sido arrancada em parte, por maldade de um macaquinho domesticado pela população (segundo me disseram). Em plena época das chuvas o efeito no material e nos equipamentos foi devastador e definitivo. O que numa situação normal me causaria profunda tristeza, naquelas circunstâncias somente me deu pena. Às urtigas o “estúdio”! O importante era que tinha regressado a casa.

Às 00h01 do dia 10, (preciosismo da tropa), o Sector S-2 passou para a responsabilidade do BCAÇ 4513. Era como se nos houvessem devolvido os territórios que tinham sido sempre nossos. Para os protegermos, protegendo-nos a nós, ainda teríamos muitas canseiras mas, no final regressaríamos a casa. Já não era sem tempo: tínhamos chegado ali em Abril e só então, já entrados em Agosto, parecia termos destino definitivo. Havia que limpar os lustres e os espelhos, mudar os cantos à casa, arejar e sermos felizes. Patacoadas... No resto dos dias nem sempre foi assim.

Carta para a Metrópole:

Com data de 10 de Agosto, em carta para a namorada, depois de pedir desculpa pela longa ausência de correspondência e como que a justificar essa ausência, dou nota de detalhes das operações atrás referidas a caminho do Unal, que se me haviam apagado completamente da memória, mas também do meu optimismo em relação ao regresso a Nhala. (...).

”Estou há três dias em Nhala e, desta vez, creio que será definitiva a minha estadia aqui, a menos que, novamente surjam alterações imprevistas. Estou a recompor-me lindamente dos efeitos causados por estes últimos tempos. [Sobre a ida ao Unal]: Houve uma altura em que se supôs que já lá não iríamos, até que o Comandante do Batalhão foi a Bissau falar com o Spínola para que ele autorizasse o nosso regresso aos locais que nos tinham distribuído ao princípio, ou seja, a minha Companhia vinha para Nhala, e as outras iriam para os respectivos sítios, enquanto Cumbijã e Nhacobá seriam ocupados pelo Batalhão novo que está a chegar. O General autorizou os nossos regressos, mas pouco depois impôs como condição a nossa ida ao Unal. [Não tenho a menor ideia desta informação].
(...) Todas as companhias estão desfalcadas de pessoal por doença e, o meu grupo, por exemplo, tinha passado de 21 para 7 homens apenas.
(...) [Sobre a primeira operação, “Ousadia”]. Saída no dia 1 do destacamento de Cumbijã para o mato. Algumas horas a andar à chuva e dormida no mato. Noite perturbada pelo ruído de barcos a motor no estreitíssimo rio que teríamos que atravessar, mas não podemos denunciar a nossa presença. Partida de manhã (cerca de 250 homens). Depois de algum tempo a andar, caímos numa emboscada junto ao tal rio.
(...)  [Depois do regresso a Cumbijã], descansámos o resto do dia mas, no dia seguinte, fazem-nos sair em viaturas até Buba, onde também descansámos o resto do dia. Nessa altura eu já não aguentava mais e resolvi não alinhar no dia seguinte. [Inicia-se a operação “Ousadia Satânica”].
(...) Chegaram a pouco mais de meio caminho e houve novo contacto com os turras, quando os nossos surpreenderam uma enorme coluna apeada de carregadores, fortemente defendida por militares. Houve “festa rija” e o pessoal prosseguiu, chegando a andar cerca de 30 km. Como já tinham dormido no mato duas noites, e já se tinham acabado as rações de combate, além de andarem já com mais doentes nas macas, resolveram regressar. [A seguir faço comentários a uma reportagem passada aqui na televisão sobre a inauguração – não sei de quê -, feita pelo Ministro do Ultramar na Guiné. Ao cenário montado para a cerimónia, chamo-lhe uma fantochada que envolveu cerca de 3000 homens (não visíveis) na protecção e que, ainda assim, na véspera, entre eles houve um soldado pára-quedista morto e vários feridos].

[Acabo a carta dizendo que eram 24 horas e estava a escrever ao livre, de vez em quando sobressaltado por disparos na cercadura do aquartelamento].

“(...) É que os rapazes que estão de vigia nos postos são da Companhia “velhinha” que nós viemos render e, como daqui a 6 dias vão embora por terem terminado a comissão, estão excitadíssimos e não param de dar tiros”.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

AGO73/08Regressou a CUFAR o Exmo. Coronel CURADO LEITÃO, Comandante do CAOP-1. que fizera PC (Posto de Comando) em A. FORMOSA durante a Op. “OUSADIA” e Op. “OUSADIA SATÂNICA”. [Sublinhados meus].

AGO73/09 – (...)

AGO73/10 – A partir das 00.01 o Sector S-2 passou à responsabilidade do BCAÇ 4513.

AGO73/12 – Em 121315AGO73, GR IN estimado em 40 elementos foi interceptado por forças da 1.ª CCAÇ na região (XITOLE 2 F 0-20). O IN reagiu com armas automáticas e RPG sem consequências para as NT. O IN sofreu 3 ou 4 feridos a avaliar pelos rastos de sangue. Foram capturados 3 elementos da população, um dos quais DEMBA DJASSI, de 17 anos, aluno da ESCOLA PREPARATÓRIA MARECHAL CARMONA DE BISSAU, confessou estar voluntariamente com o GR IN. Foram todos enviados à REPINFO/CCHEFE. Foram apreendidas 2 GR/RPG ao IN.

AGO73/14 – Deslocamento para Buba do Comando e CCS/BCAÇ 3852 e CCAÇ 3399.

AGO73/15Chegada ao Cumbijã do 1.º escalão do BCAÇ 4516, constituído pela sua 1.ª CCAÇ.


Das minhas memórias: 

15 de Agosto de 1973 – (quarta-feira) – Os que partem e os que chegam.

Começou o movimento extraordinário de colunas auto entre A. Formosa/Buba/A. Formosa. De saída, passou no dia anterior para Buba parte do BCAÇ 3852. Deviam ir felizes, imagino, mas exauridos por uma comissão muito prolongada para além do tempo normal. Nesta data (15), passaria no sentido Buba/A. Formosa a 1.ª CCAÇ do novo batalhão (BCAÇ 4516) com destino ao Cumbijã. Fui com o meu grupo fazer a protecção à coluna na picada Nhala/Mampatá. Saímos cedo e instalámo-nos perto de Samba-Sabali, creio, sob uma chuva gelada. Gelada, mas pior que todas as outras que antes nos flagelaram. (Seguem-se umas fotografias de um dia assim, mas no aquartelamento de Nhala, submetido a verdadeiro dilúvio).

Foto 1 - Aproximação do dilúvio. Cada um foge como pode.

Foto 2 - Começa o dilúvio. Seria assim também para quem estivesse no mato.

Foto 3 - Fotografia na direcção da luz, que era cada vez menos embora se estivesse a meio da tarde.

Foto 4 - Fotografia feita para o lado oposto, que era a saída para a fonte. Parecia noite.

Voltando à mata de Samba-Sabali. Foi uma espera longa e martirizante e, apesar de estarmos habituados à chuva, nunca antes tínhamos passado tanto frio. Recordo bem que tive de sair da mata para ficar na picada em pé, de braços e pernas abertos, por não suportar o contacto da roupa gelada com a pele. E foram horas assim. Num aerograma para a Metrópole refiro que estava um céu de chumbo, dia escuro, e de chuva tão prolongada e fria que, apesar de serem 15 horas, tinha as mãos azuis.

Só mais tarde e com menos chuva, passou então a coluna. Como era hábito, o meu pelotão estava invisível na mata e eu junto à picada a dar sinal da nossa presença e de que tudo estava bem.

Fiquei a ver passar aqueles rostos assustados, ainda sem saberem que iam para o inferno. Às tantas, entre todos aqueles soldados anónimos, reconheci um e tive um “baque”. Fitei-o sempre até perder de vista a sua viatura e, julgo, ele também me reconheceu. Era o Manel. O Manel era um rapazinho do interior, - Beiras ou Norte -, do nosso querido Portugal que, como tantos outros, era analfabeto. Isto nos anos 1972/73 do século XX e em plena Europa Ocidental, etc., etc. (Tinha acrescentado mais uma notas mas nem as transcrevo, porque se o tema já na época me era insuportável, ainda hoje me deixa furibundo. Podem-me vir falar do colégio de Bissau, de Luanda ou de Lourenço Marques, para as elites já se vê, mas neste rectângulo de 1 por 2 metros, fora das grandes cidades e do litoral, poucos completavam a instrução primária. Era o atraso, a miséria e o desamparo que imperavam. Sei do que falo, pois fiz a minha instrução primária por várias escolas do Norte e do Centro e fiquei marcado por tanta miséria que vi. Cheguei a ir descalço sobre a neve para a escola da Praia de Esmoriz, (1961-62), quase 2 km, em solidariedade com os desgraçados dos meus companheiros que era assim que andavam sempre. Fi-lo à revelia dos meus pais que achavam que eu não resolveria nada com a solidariedade. Mas fi-lo, e depois ainda tinha de dar parte do meu pão com marmelada quando na escola enxameavam a pedir uma “bucha”. Mais a Norte, do concelho de Paredes, nem quero falar).

Voltando ao Manel: era um analfabeto especial, não sendo único. Só sabia que era Manel, não sabia a data de nascimento, não sabia dizer de onde era, tão só o lugarejo onde nascera, não sabia para que lado era o Porto, Lisboa ou o mar. Não sendo doente mental, era tão primário e básico que o seu intelecto não devia ser superior ao de uma criança de menos de dez anos (dessa época). Para saber mais dele, pedi ajuda aos seus novos companheiros na tropa que me explicaram tudo, enquanto ele, com um sorriso de menino, se limitou a ouvir sem abrir a boca. Eram os seus amigos que o traziam no comboio para Tomar e, no sentido inverso, o deixavam na estação mais próxima do seu lugarejo, bem como lhe resolviam todos os pequenos problemas que se lhe deparavam na sua nova vida.

Quando formámos batalhão em Tomar e eu dei a formação de Especialidade ao que seria o meu pelotão, ele integrava-o como muitos outros analfabetos. (Em Nhala cheguei a ter uma classe de alunos que começaram pelo ABC e outros para fazerem a 4.ª classe). Salvo erro, dei como inaptos três soldados nessa Especialidade de Tomar, ele obviamente incluído, não sem alguma resistência dos superiores que viam escassear os homens que, para canhão, serviam perfeitamente. A minha ideia era safá-los da Guiné, nessa altura com a pior reputação em termos de guerra, e quando se dizia que os próximos batalhões iriam para Angola e Moçambique. Agora constato que, com as boas intenções, apenas prolonguei em muitos meses o seu tempo de tropa. Não recordo se tive oportunidade de o procurar após a instalação em Cumbijã.

O novo batalhão, agora a chegar, foi flagelado em Bolama com 8 foguetões. Houve 6 mortos e 15 feridos, quase todos da população. O meu batalhão escapou à regra, porque houve flagelações antes e depois de te termos lá estado.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

AGO73/17 – Em 172230AGO73, GR IN NEST dinamitou a estrada MAMPATÁ-COLIBUIA, numa extensão de 40 metros na região (GUILEGE 4 G 6-21) local situado entre os dois pontões destruídos anteriormente. NT reagiram com fogo de artilharia e morteiro.

AGO73/18A CCAÇ 3400 foi deslocada para BUBA, para seguir para BISSAU. [De Buba partiu, juntamente com a CCAÇ 3398, em LDG para Bissau no dia 19 e, para a Metrópole, em 8 de Setembro. (Da H. da U. do BCAÇ 3852)].

[Finalmente iria abandonar a minha palhota e passar a dispor de instalações boas e quase novas. Passaria a dormir numa cama de madeira, ter casa-de-banho, tudo paredes meias com a messe e o bar. O que é que se poderia querer mais? Sorte...].

AGO73/19 – Apresentou-se em A. FORMOSA vindo de BISSAU no NORDATLAS o novo Comandante do Batalhão – TEN COR INF.ª C. A. S. R.
- Chegaram a A.FORMOSA, vindos de BUBA o Comando e CCS/BCAÇ 4516 e a sua 2.ª CCAÇ.
- Em 191500AGO73, forças da CART 6250, quando procediam ao levantamento de minas NT na região (XITOLE 4G 7-22) encontraram cerca de 30 cargas trotil em petardos de 200gr, abandonados pelo IN aquando da sabotagem da estrada em 172230AGO73.

AGO73/20 – (...)

AGO73/21 – Comandante do Batalhão deslocou-se a NHALA e BUBA.
- Chegou de BUBA a 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4516.
- Em 211815AGO73 GR IN NEST flagelou durante 25 minutos o destacamento de CUMBIJÃ da direcção de NHACOBÁ com cerca de 40 GR CAN S/R 82 da região (GUILEGE 6 A 2-34) e 30 GR MORT 82 da região (GUILEGE 6 A 7-54) causando 1 morto e 3 feridos ligeiros às NT. NT reagiram com fogo de Artª e Mort. [Sublinhei a negrito].


Das minhas memórias: 

21 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – Grande flagelação a Cumbijã).

Apenas chegados há quatro meses ao Sector e parecia já ter decorrido uma vida, tal a intensidade com que se viveu esse curto período de tempo. Este dia não fugiu à regra. Em Nhala recebemos o novo Comandante do Batalhão, a quem foi apresentado o pessoal e mostradas as instalações. Pessoa simpática e acessível, no final deixou-se fotografar com alguns dos graduados presentes.

Foto 5 - O novo Comandante do Batalhão Ten Cor C. A. S. R. ao centro com o Comandante da Companhia Cap. B. C. e um grupo de alguns graduados. Eu sou o primeiro da direita à frente. (Fotografia adquirida em Nhala)

Não era sem tempo a sua vinda para o Batalhão, substituindo o Comandante Interino Major D. M. sobre quem, até à data, tinha pendido toda a responsabilidade dos atribulados meses antecedentes.

Chegou de Buba com destino ao inverosímil aquartelamento de Nhacobá a 3.ª CCAÇ do novo BCAÇ 4516. Nem quero pensar no choque que deve ter sido para estes “periquitos”.

Cumbijã foi mais uma vez flagelada mas, agora, com uma brutalidade inusitada, havendo um morto a registar e vários feridos. Mereciam melhor sorte, estes infaustos valentes. Em carta de 23-08-1973 para a Metrópole, dou conta de mais este duro golpe para a CCAV 8351 de Cumbijã, e refiro ter sofrido um morto a Companhia do Cap. Vasco da Gama que ainda devia estar na Metrópole de férias. Dos feridos, um em estado grave, digo que pertenciam à nova Companhia ali instalada há uns dias apenas, (1.ª CCAÇ do BCAÇ 4516). (...).

Este ataque certeiro a Cumbijã, sempre o supus, devia ter sido o resultado do aperfeiçoamento, ao longo das anteriores flagelações, dos militares de IOL (Informação, Observação e Ligação) do PAIGC formados na ex-URSS. Isto sabia-se mas faltavam elementos que o confirmassem. Dizia-se que conseguiam pôr uma granada de canhão dentro do espaldão dos nossos obuses. Só precisavam de um bom ponto de observação próximo do alvo. Certo dia, no regresso do mato com o meu grupo vi, acima das copas altas das árvores, uma palmeira que sobressaía em altura das demais e que tinha algo de diferente que, de longe, parecia um serrote vertical. Andámos às voltas até chegar junto dela e, nunca visto, tínhamos à nossa frente um tronco enorme com degraus desde o chão até ao topo. Eram travessas de madeira pregadas ao tronco pelo centro, fazendo um “degrau” para cada lado. Isto aconteceu nas imediações de Cumbijã. Era, de certeza, um posto IOL. Já não recordo mas, devo ter destruído o escadório ou registado a sua posição para a comunicar ao Comandante de Companhia.

Resumindo este 21 de Agosto, diria que foi muito marcante para todos: para nós do BCAÇ 4513 porque, várias vezes flagelados em Cumbijã sem consequências, pensámos então com alívio, mas sem gáudio, obviamente, que sorte tivemos de já não estarmos lá; para os “periquitos” do novo Batalhão porque, mal chegados, apanharam um susto que os deve ter deixado em pânico e a maldizer a sorte; e para a CCAV 8351 que, repito, tem sido martirizada no seu próprio aquartelamento, para não falar das acções espinhosas em que esteve envolvida. Aproveito para, a todos esses bravos Tigres do Cumbijã, render a minha sincera homenagem: aos seus mortos e aos que resistiram e ainda resistem.

(continua)
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Nota do editor

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