sábado, 28 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15418: Os manuais escolares que nos forma(ta)ram (2): Geografia, Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, de A. de Vasconcelos, c. 1940 - Parte II: Angola, com uma superfície 14,5 vezes maior que a de Portugal Continental, teria uma população que "regula(va) por uns 6 milhões de habitantes, a maior parte pretos (sic)"... Esta estimativa parece-nos grosseira... Oz densos aponmtavam para 3,7 (em 1940), 4,1 (em 1950), 4,8 (em 1960) e 5,7 milhões (e em 1970)...


VASCONCELOS. A[ugusto Pinto Duarte] de - Geografia Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, nova edição. Porto: Editorial Domingos Barreira, [1940], 118 + 1 pp., ilustrado, 18 cm.





Geografia... op. cit. p. 103: vejam-se as fronteiras de Angola, de antes da II Guerra Mundial: Congo Francês, Congo Belga, Rodésia Inglesa e África do Sudoeste (Inglaterra) ou Botelândia (antiga África Ocidental alemã, perdida para os ingleses na sequência da I Grande Guerra, e hoje Namíbia)...




Geografia..., op cit., pp. 103-106


2. Comentário do editor:


Não sabemos onde o autor foi buscar um valor de 6 milhões de habitantes para a época [, 1940,] em Angola...

"A notícia da primeira tentativa para a contagem da população angolana data do último quartel do séc. XVIII, mais precisamente do tempo em que foi governador de Angola D. António de Lencastre (1777-1778), com a execução da ordem de 21 de maio de 1770, da autoria do então,ministro Martinho de Melo Castro. Foram contados, nessa altura, 1.581 brancos, 1.013 mestiços e168.493 pretos avassalados."

Por Carta de Lei de 17 de agosto de 1899, foi mandado proceder-se  ao recenseamento da da população no Ultramar de dez em dez anos

O primeiro censo, na realidade, só foi realizado em 1940.  A população total de Angola era então de 3.738.010 indivíduos.  

O censo de 1950 apontava para um total de  4.145.266  indivíduos e o de 1960 apurava um crescimento de 700 mil (Total; 4.840.719 pessoas).

Em 1970,  a população estimada de Angola era  de 5.673.064 habitantes.  [E já aaora acrescente-se que a população de origem europeia continuava a ser diminuta: cerca de 44 mil em 1940; 172.529 em 1960...].


3 comentários:

Antº Rosinha disse...

Naquele tempo o livro fala em Ouro e não fala em diamantes, para compreendermos como se desconhecia Angola.

Ouro, continua-se a insinuar na existência, mas ninguém o vê, hoje 2015, só com muita pachorra, apenas, (fala-se 31 de boca), de aluvião.

No entanto os diamantes nesse tempo talvez seria meio desconhecido, e afinal mais tarde, foi uma das principais explorações mineiras.

Este livro traz uma inexistente linha ferroviária e que provavelmente jamais a engenharia angolana a poderá executar, entre NOQUI e o Rio Chiloango.

Chiloango é um rio no enclave de Cabinda conhecido pela evacuação de madeiras por flutuação até ao mar.

Esta do comboio é estranho, nem se pode chamar uma gralha, é desconhecimento total.

Sobre os recenseamentos, ainda hoje em países no centro da chamada África negra, como Angola, ex-Congos Francês e Belga, Ruanda e Burundi, Uganda etc. nada é fiável, devido ao conceito de fronteiras a dividir etnias e aos conflitos constantes que obrigam a emigrações, de lá para cá e vice-versa.

Mas estes livros escolares, mesmo que ensinassem errado não prejudicavam muita gente, pois os nossos irmãos mais velhos e os nossos pais, poucos foram à escola.

As escolas das aldeias só nesse tempo estavam a ser construídas.



Luís Graça disse...

Rosinha, havia por certo muita ignorância, na época, sobre as nossas colónias (termo usado pela República e pelo Estado Novo até 1951)...

Este senhor professor do ensino oficial, Augusto de Vasconcelos, que devia ser do Porto, nunca deve ter posto os pés em África...

Tu detetaste uma linha de comboio fantasma... Eu chamei a atenção para a estimativa (fantasiosa) dos 6 milhões de angolanos (nos anos 30), "a maior parte pretos" (sic)...E, no que diz respeito à Guiné, eu fartei-me de rir com a existência de "tigres"!... Ora, nunca houve tigres em África, pelo menos na época do quaternário, que é a atual idade geológica... O tigre é hoje um felino asiático, e infelizmente uma das muitas espécies que vão desaparecer em breve...

Quanto à escola do nosso tempo não pode (nem deve) ser comparada com a de hoje: por exemplo, o conceito de cidadania não existia, a escola não preparava para a cidadania, a instrução pública republicana passou a ser um projeto de "educação nacional"m, de cariz autoritário... Privilegiava a memorização do saber, e não o espírito crítico ou a criatividade... Recordo-me de, no meu exame de admissão do liceu, feito em Lisboa (a 70 km de casa!), fiz um "brilharete", na prova oral, ao papaguear todos os reis, e respetivos cognomes, desde o "pai fundador", D. Afonso Henriques ao infortunado DS. Manuel II... Recebio palmas dos professores... mas ainda hoje tenho amigos/as que sabem todas as estações e apeadeiros de caminho de ferro... E os pobres alunos das escolças ultramarinas tinham, que saber todos os nossos rios e afluentes... Em, contrapartida, fazia-se tábua do seu passado, e do facto de África ter sido o berço do "homo sapiens sapiens"...

Antº Rosinha disse...

"muita ignorância, na época, sobre as nossas colónias (termo usado pela República e pelo Estado Novo até 1951).."

Luís, a ignorância continua, mas de toda a Europa, não só de Portugal, sobre África e os africanos (pessoas, gente, etnias...riquezas e misérias)

E como digo há mais de 4 ou 5 anos, a Europa vai pagar essa "ignorância" que só leva a asneiras, a principal foi aquelas independências, que todos conhecemos, inglesas e francesas com maior irresponsabilidade que as nossas.

(Quando digo estas coisas, de a Europa "pagar" as favas, podem chamar e alguns chamam, que estou lélé da cuca).

Luís, a ignorância era tanta, que quando emigrávamos para as colónias, nos anos 50 como eu fui, eramos alvo de "brincadeiras" e piadas e chacotas pelos brancos antigos ou naturais, mas principalmente por mestiços e pretos citadinos.

Mas enquanto os que íamos daqui eramos uns ignorantes, como vemos por aquela do ouro e da linha férrea e dos tigres, eles sabiam de tudo sobre nós e sobre a Metrópole.

Já vinham para cá os estudantes do império e os jogadores de futebol e guineenses para o arroz do Sado e todos informavam ao pormenor os patrícios.

Luís, a maioria dos chefes de posto e intendentes coloniais já era baseada em estudantes do império, angolanos, caboverdeanos, moçambicanos, Sãotomenses, guineenses e goeses.

Muita gente dessa, enfileirou no MPLA e no PAIGC, (independentistas)mas a maioria recuou quando em Angola apareceu a UPA, e viram que o "buraco era mais abaixo" e viam a ilusão enganadora das independências, que não podia ser assim.

Já havia Congo Belga e Ruanda e Burundi para exemplo, muito negativo.

Ainda ontem ouvi na televisão um professor francês de uma escola suburbana de Paris, com alunos do Mali e a reacção dos rapazes abriram-lhe os olhos, para compreender um pouco do que se passa na Europa hoje.

Luís, não conhecíamos e ainda desconhecemos muita coisa do além mar.

Mas eles vêm cá para nos "abrir os olhos".