domingo, 22 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15393: Convívios (719): A Tabanca de Matosinhos em festa uma vez por mês (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2015:


A Tabanca de Matosinhos em festa uma vez por mês.

Os antigos combatentes na Guiné gostam de se reunir, gostam de conviver, gostam de escrever as suas memórias e sobretudo gostam de partilhar as emoções vividas nas bolanhas da Guiné. Isto está demonstrado pelas diversas “tabancas” que se foram formando por este nosso Portugal, onde se junta o gosto por um bom petisco acompanhado de uma boa pinga. A periodicidade, essa, varia desde a semanal, como é o caso da Tabanca de Matosinhos, à mensal, à trimestral e à que se reúne de vez em quando. Algumas dedicadas aos combatentes da Guiné, mas abertas a todos os combatentes de Portugal, outras têm no seu objetivo atingir os combatentes de Portugal que participaram na guerra colonial.

Vejo e acompanho cada vez mais camaradas que estiveram na Guiné e já voltaram lá para “matar saudades”. Outros, e são cada vez mais, a mostrarem vontade de voltar à Guiné. Tenho ouvido este termo, muitas vezes, e também sinto que aconteceu comigo e continua a acontecer. (Em 10 anos tive necessidade de ir lá cinco vezes incluindo a família e confirmado muitas amizades). Pensando bem, não será estranho termos saudades de um tempo de “sangue suor e lágrimas”? De um tempo em que vivemos uma guerra, onde jogávamos a nossa vida, onde vimos a morte bater-nos à porta e levar o vizinho do lado? E o prazer de reencontrarmos os amigos guineenses que combateram a nosso lado, agora já velhos como nós, mas com o mesmo sorriso de acolhimento? E as bajudas / lavandeiras, hoje rodeadas de filhos e netos, que ao ver-nos se recordam do nosso nome e nos acolhem com toda a simpatia? Tal como quando nos encontramos, agora na nossa “tabanca” para saborear o petisco, também lá se recordam e revivem cenas passadas em comum que nos trouxeram sofrimento e dor. Outras que nos deram grandes alegrias.

Bem, mas eu comecei este artigo com o tema “A Tabanca de Matosinhos em festa uma vez por mês” e parece que me perdi, mas não. De fato, foram as tabancas que deram força a este movimento natural de vontade de regressar às picadas da Guiné.

A Tabanca de Matosinhos, a pioneira nestas andanças do “come e convive”. (À sua frente apenas a Tabanca Grande do Luís Graça e Camaradas da Guiné por motivos diferentes). Nasceu de forma natural em 2005. Três combatentes que não se conheceram na guerra, mas passaram por Empada em épocas diferentes decidiram voltar para “matar saudades”. Uns dias após o regresso decidiram encontrar-se numa quarta-feira em Matosinhos para saborearem a bela sardinha e avaliar a viagem, e recomeçaram uma nova viagem todas as quartas-feiras ininterruptamente, que se prolongou até hoje, agora não três mas muitos mais que vão almoçar e conviver em Matosinhos, dando forma a esta Tabanca, por onde têm passado centenas de combatentes.

Há caras semanais fixas. Outras que vêm de vez em quando. Outras que vêm quando podem e com que sacrifício. Há os que vêm de longe e os que vêm de perto. Há muitos amigos que se reencontraram. Há muitas amizades firmadas. Dali se partiu já para outras aventuras e convívios, outras tabancas localizadas próximo das suas casas. Todos os anos de formam grupos de voluntários para voltarem à Guiné, agora a custos próprios e de livre vontade. Todos os que vão; ficam com vontade de voltar.

E a Tabanca de Matosinhos continua a cumprir a sua missão de fomentar o convívio e fortalecer amizades à vota da mesa, todas as semanas à quarta-feira no Restaurante Milho Rei em Matosinhos, esteja sol ou chuva, calor ou frio. E eu ganhei muitos amigos.

Para dar mais força a esta forma de congregar os combatentes da Guiné, um grupo de nós, combatentes e convivas da Tabanca de Matosinhos, pegou em instrumentos musicais e deu-lhe mais uma razão para nos juntarmos. Assim, nas últimas quartas-feiras de cada mês, o almoço convívio na Tabanca de Matosinhos é abrilhantado com música popular portuguesa sem esquecer o fado. Música tocada e cantada por nós combatentes, onde não falta o toque do silêncio e a canção Adeus Guiné.

Assim tem sido nos últimos meses e assim vai ser na quarta-feira, dia 25 de Novembro.

Juntamos algumas fotos do almoço em festa do dia 28 de Outubro.

O Zé Manel em serviço de faxina

Ao lado do Zé Manel, o seu conterrâneo que foi feito prisioneiro e fugiu de canoa pelo Rio Corubal vindo dar ao Saltinho.

A simpatia do Cancela e do Peixoto

Afinação dos instrumentos.

Aspecto geral da sala

Viva a música popular portuguesa

Aspecto geral da sala

Os instrumentos musicais.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15356: Convívios (718): O próximo Encontro da Magnífica Tabanca da Linha será no dia 19 de Novembro, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Meu caro José Teixeira

Fizeste muito bem em escrever este texto, este 'memorando', este convite.
Às vezes o tempo vai passando e há a tendência para já não nos lembrarmos com as coisas começaram, como estes convívios se impulsionaram e ganharam asas, consistência e até maior sentido.
A longevidade da "Tabanca de Matosinhos" é notável, até na medida em que mantém a sua pujança. E, creio, um bom contributo para isso vem dos projectos que se foram materializando e que mobilizaram cada vez mais, mais camaradas.
Um bom sucesso para os novos eventos.
Hélder Sousa

PS
Vi as fotos e entre algumas caras que desconheço acabei por descortinar muitos rostos conhecidos, ganhos de amizade obtidos a partir destas "Tabancas".