sexta-feira, 5 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14702: Notas de leitura (722): “Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Um vendaval de ação e muito sexo com preservativo neste vibrante romance onde o narcotráfico e o radicalismo islâmico e a tirania de Bubo Na Tchuto são omnipresentes.
Iremos rir com o português esfarrapado que Gérard de Villiers forjou. Bubo, como é sabido, caiu numa cilada norte-americana e provavelmente irá apodrecer numa das suas prisões. Impressionam as descrições das rotas da droga neste romance que se lê num ápice, condimentado com os ingredientes clássicos da selvajaria e dos urros no sexo satisfatório, o desfecho é sempre a reparação que cumpre à CIA fazer para quem prevarica e perturba à ordem norte-americana.

Para que conste, um abraço do
Mário


Gérard de Villiers e a Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

“Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014, é a obra em que um dos mais populares autores franceses de livros de aventuras e espionagem abordou a Guiné-Bissau da droga. Um agente da CIA proveniente de Dakar será assassinado por homens do contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, aliado guineense dos narcotraficantes e declarado terror da sociedade civil e política da Guiné. É aqui que entra em cena Malko Linge, o herói dos romances de Gérard de Villiers. Malko chega a Bissau e vem com vários propósitos: vingar a morte de Lemon, apurar o que os radicais islâmicos, sediados no Mali, tramam com a conivência de Bubo Na Tchuto, quem são os colombianos que com este negoceiam e qual o percurso que a droga leva a partir da Bissau.

Os romances de Gérard de Villiers celebrizam-se pela ação e pelo sexo escaldante. Malko irá conhecer a companheira de Bubo, de nome Agustinha, uma verdadeira beldade que comete a leviandade de dizer ao todo-poderoso Bubo que há um branco que lhe faz a corte. Enraivecido, o delinquente dirige-se com os seus mercenários ao Bissau Palace, quer desfazer à catanada o atrevido que importunou Agustinha. Malko escapa de ser retalhado. No bar Kalliste, em Bissau, aluga um quarto e pelo telemóvel conversa com o chefe da estação da CIA em Dakar. Recomendam-lhe que peça proteção a um oficial da União Europeia em Bissau. Malko pede uma entrevista à Ministra do Interior da Guiné, esta confessa-lhe que não lhe pode dar proteção, no entanto informa-o que três mauritanos ligados à Al Qaeda no Magreb islâmico estão num hotel em Quinhamel. É precisamente para Quinhamel que Bubo se dirige, pretende saber quando é que o Emir Mokhtar Ben Mokhtar vem à Guiné para receber milhões de dólares do narcotráfico e que serão carreados para ações terroristas. Só consegue apurar que a sua vinda está para breve. Bubo está inquieto com este branco que pode vir destabilizar a operação da chegada de toneladas de droga aos Bijagós.

Gérard de Villiers

Malko pede ajuda no Kalliste para chegar aos Bijagós incógnito. Em Bubaque, é recebido por Alex que lhe descreve as rotas da droga, quem são os colombianos e o suporte que lhes é dado por Bubo Na Tchuto. Malko terá oportunidade de ver as pistas de aterragem do aeroporto de Bubaca, que são eliminadas à noite por jovens, às ordens dos colombianos, sempre que chegam carregamentos de droga. E regressa a Bissau, continua atormentado com a história dos três mauritanos que são protegidos por Bubo, é nisto que surge Agustinha, que lhe prepara uma cilada, por ordem de Bubo. Luís Miguel Carrera, o importante narcotraficante colombiano, recebe-o em casa, à primeira ocasião agride-o, e dá ordens para o sepultarem numa cova do jardim. Acontece um milagre, claro está. Os executores emborracham-se com vinho de palma, zonzo e dolorido, Malko escapa de ser assassinado, vai começar uma grande perseguição, é impensável que aquele homem possa sair vivo de Bissau. Sidi Oulm Sidani, o representante do Emir Mokhtar, exige a Bubo que mostre a cabeça do espião quando o chefe radical chegar à Guiné-Bissau. Bubo e Luís Miguel, à cautela, preparam o assassinato de um branco para disporem de uma cabeça, aquela operação é demasiado importante para os dois, há que tranquilizar de qualquer maneira o radical islâmico.

Todos os apoiantes de Malko em Bissau lhe pedem para fugir do país, parece completamente impossível ele escapar com vida do cerco que lhe estar a ser feito. Malko interpela imprevistamente Agustinha que fica petrificada com aquele fantasma. Agustinha leva-o para sua casa, exige-lhe informações, fica a saber onde estão os mauritanos, ela não sabe que plano está a ser executado, pede-lhe ajuda para voltar aos Bijagós. Vamos, entretanto, sabendo mais sobre os itinerários da droga entre a Guiné e a Europa: a rota na Mali é percurso obrigatório, dali partem caravanas até Marrocos e a Argélia. A segurança no Mali é indispensável, há que contar com os radicais islâmicos. É aí que entra o Emir Mokhtar que precisa de dinheiro para munições, armas, combustível e comida, muito dinheiro, a maneira mais fácil do arranjar é através da droga guineense. Um dos suportes de Malko é um alto funcionário colocado nos serviços de informação na Amura, Djallo Samdu, dá-lhe a saber que o Emir Mokhtar já vem a caminho. É preciso pedir apoio à estação da CIA em Dakar para montar o cerco ao chefe terrorista.

Enquanto isto se passa, Malko consegue despistar os seus perseguidores, volta para casa de Agustinha temos ali sexo escaldante e depois ela leva-o muito discretamente até ao porto, de novo com destino aos Bijagós. Quem esteve nos Bijagós foi Luís Miguel Carrera para assassinar um branco e trazer-lhe uma cabeça, era uma exigência obrigatória do Emir maliano.

A ação acelera-se, o Emir chega a Quinhamel, é visitado por Luís Miguel Carrera e por Bubo, exige uma quantidade impressionante de dinheiro, ficou mais descansado depois de ver uma cabeça apodrecida, é do chacal norte-americano. Em Bubaque, Malko confirma que a operação de desembarque da droga está para as próximas horas. Steve Younglove, o chefe da estação da CIA em Dakar, informa-o que vai ser lançada uma operação para sequestrar o chefe terrorista, a droga não é assunto que interessa à CIA mas a um outro departamento, a DEA (Drug Enforcement Administration). Tropa especial irá desembarcar em Bissalanca, trará carros de combate especiais para ir até Quinhamel.

“Féroce Guinée” tem todos os condimentos para uma disciplinada tensão, o grande clímax já paira no ar. Alguém denuncia Agustinha a Bubo, ela será cruelmente executada, como abatido será Djallo Samdu dentro da Amura, sem que ninguém intervenha. As “Special Forces” chegaram na hora certa, Malko junta-se-lhes e vão para Quinhamel. Antes, teve lugar mais uma feroz perseguição nas ruas de Bissau, como num bom romance de aventuras, após uma movimentada perseguição, Malko liquida Pablo, o homem de mão de Luís Miguel Carrera. Em Quinhamel estão todos reunidos, há muito dinheiro em jogo.

Omitem-se aqui atos truculentos, sempre que pode Bubo fende o crânio dos seus inimigos e arranca-lhes o coração, besta mais sanguinária não há. Como mandam os bons preceitos, tudo parece estar a correr bem aos criminosos até que em Quinhamel a CIA captura o temível radical islâmico e Malko cumpre as boas leis da justiça, a CIA agradece, como manda o refinamento do cinismo, Steve Younglove lembra a Malko que legalmente lhe está interdito de matar. O bem vence o mal, a derrota da droga foi brutalmente posta em cheque.

Como “literatura de aeroporto” cumpre a sua missão, o herói sobrevive a todos os pesadelos e barbaridades, fica-se a saber que houve um narco-Estado onde a CIA fez justiça não por causa da droga mas por causa do radicalismo islâmico. Isso é que é importante, os africanos que se amanhem e aprendam a libertar-se destes tiranos sanguinários.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14685: Notas de leitura (721): “Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

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