terça-feira, 16 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14752: Inquérito online: Resultados finais (n=194): 45% do pessoal que passou pelo CTIG admite que não teve relações sexuais com nenhuma mulher guineense... Se a nossa amostra fosse representativa dos 200 mil militares metropolitanos que passaram pelo CTIG, a proporção deveria ser bem maior (talvez c. 75%)




Quadro - Resultados da sondagem  "on line" que decorreu no nosso blogue entre 8 e 14 de junho de 2015. Total de respostas: n=194


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. Resumindo, podemos dizer que;

(i) Cerca de 45% dos votantes, admite nunca ter tido relações sexuais com mulheres guineenses, ao tempo da guerra colonial (1961/74);

(ii) Um total de 68 (cerca de 35%)  diz que teve relações pelo menos uma vez (12%) ou mais do que uma vez (23%);

(iii) Há uma minoria (n=38) (menos de 20%) que tinha relações sexuais com mulheres guineenses "bastantes vezes" (10%) ou com "muita frequência" (9%).

(iv) Apenas um respondente votou na hipótese "não sei/não me recordo".


2.  Estamos longe da célebre estimativa do Jorge Cabral que apontava para um total de 80% a 90% de militares,  metropolitanos, que nunca terão tido relações sexuais com mulheres guineenses (*)... 

O "alfero Cabral" não se baseia em quaisquer estudos, de resto inexistentes, sobre esta matéria (que não terá merecido qualquer especial atenção por parte da hierarquia das nossas Forças Armada). Baseia-se, isso sim, na sua perceção e na sua experiência "no terreno". 

É o conhecimento de causa que lhe permito, inclusive, desenvolver a curiosa "teoria da alferofilia", ou seja, a particular atração sexual de que eram objeto (e não apenas sujeito) os oficiais milicianos, em especial os que tinham funções de comando... Espero que ele se ponha fino e bom para explicar e exemplificar melhor a sua "teoria do caneco" (**), de resto, verosímil, já que, como é sabido, o poder é afrodisíaco...






Um caneco que ainda vai fazer furor entre as bajudas da Guiné-Bissau, na próxima incarnação dos guerreiros do Império: "Kiss me, I'm an Alfero" [Beija-me, sou um Alfero] (**)...

Foto: © Jorge Cabral (2009). Todos os direitos reservados.



Para se ler corretamente os resultados da sondagem, é preciso ter em conta, em todo o caso, que nesta amostra de 194  ex-combatentes, é muito provável que haja uma sobrerrepresentação dos milicianos (alferes e furrieis) em detrimento do pessoal do recrutamento geral (1ºs  cabos e soldados), reflectindo a estrutura populacional da Tabanca Grande (onde tendem a predominar  os antigos milicianos).

As contas são fáceis de fazer: passaram pelo TO da Guiné, ao longo dsa guerra (1961/74) cerca de mil unidades e subunidades (batalhões, conpanhias, pelotões)... A nossa Tabanca Grande tem menos de 700 elementos formalmente registados, entre "amigos" e "camaradas" ( mais exatamente, 691)... A grande maioria são ex-combatentes. Em todo o casoo, cerca de 6% de grã-tabanqueiros já morreram. Portanto, nem todas as unidades e subunidades têm um representante no blogue.  Algunas têm meia dúzia. E naquelas que têm pelo menos um representante,  é mais provável esse camarada seja um miliciano (alferes ou furriel)....

A explicação é intuitiva: os ex-milicianos, muitos deles continuaram a estudar, depois de passarem à peluda, tendo portanto um maior nível de literacia (funcional e informática) do que a generalidade do pessoal do recrutamnento geral...

De qualquer modo, se esta sondagem fosse representativa do contingente militar que passou pela Guiné (cerca de 200 mil homens), a proporção  de respondentes que adnitiram nunca ter tido relações sexuais com nenhum mulher local deveria ser da ordem dos 3 para 4 (75%).


A mãe da "menina do Gabu" que viveu em "união de facto" com um furriel
miliciano em  Nova Lamego, em meados dos anos 60
(Foto de José Saúde, 2011)
3. Não menos interessante é a existência de um minoria de camaradas nossos (9%) que tinham "relações sexuais com muita frequência", o que só pode ser explicado pelo facto de terem vivido maritalmente com uma mulher (guineense) no TO da Guiné...

Temos conhecimento de alguns (poucos)  casos de "bajuda com morança posta" por militar metropolitano, em geral não operacional (pessoal de apoio: saúde, manutenção, transmissões, secretariado, alimentação, transportes, etc.), vivendo fora do quartel,  e em aglomerados populacionais de maior dimensão (como era o caso de Bissau, Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego)... Estas "uniões de facto" eram mais propícias à "geração" de "filhos do vento" ou "filhos da guerra"...

Achamos, todavia, que essa proporação (9%) peca por excesso... Quando muito, poderia haver um caso ou outro por companhia (que era constituída por 150/160 homens, incluindo 1 capitão, 4 alferes, 20 sargentos e furrieis)...

Atenção, que nos nossos aquartelamentos não havia qualquer privacidade: na melhor das hipóteses, quem tinha um quarto privativo era o capitão ou o comandante (alferes, no caso dos destacamentos), para além dos oficiais superiores (nas sedes de batalhão)...

Por outro lado, todos sabemos que, em tempo de guerra,  a "procura" (de favores sexuais) era muito superior à "oferta", nomeadamente no interior do território... E que casos (pontuais) de violação eram punidos disciplinar e/ou criminalmente,,, (É bom que isso se diga e se escreva!)...

Aguardemos os comentários e as demais achegas dos nossos leitores, que serão muito bem vindos (***)... LG

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Notas do editor:


(...) Comentário do editor LG:

A propósito da conferência “Filhos da guerra”, no âmbito do Festival Rotas & Rituais (Lisboa, Cinema São Jorge, 22 de maio de 2015), tomei nota no meu canhenho:

“Temos dificuldade em abordar em público este problema, o das nossas relações com as mulheres guineenses no tempo da guerra colonial. Pior ainda, num público feminino ( e senão mesmo feminista), português e africano, ou de origem africana… Somos, os homens, facilmente “suspeitos de cumplicidade” uns com os outros… Os homens são todos iguais, em toda a parte, defendem-se uns aos outros, dizem elas…

"A intervenção, longa e incisiva, do Jorge Cabral, em tempo de debate, acabou por provocar algum sururu na sala. Disse ele, em síntese:

- Defenderei até à morte a honra do soldiado português na Guiné. Nós não eramos nenhum emprenhadores compulsivos. Mais: atrevo-me a dizer que 80% a 90% dos soldados portugueses na Guiné não tiveram quaisquer relações sexuais com mulheres africanos… E se querem falar de prostituição organizada (que no meu tempo praticamente se restringia a Bissau e, em pequena escala, a Bafatá), pois tenho a dizer que é muito maior hoje, só na capital da Guiné-Bissau, do que no meu tempo" (...)

(**) Vd. poste de 28 de outubro de  2009 > Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)

9 comentários:

Juvenal Amado disse...

Não será disparate acrescentar que os detentores de galões o mesmo divisas douradas, tinham preferência no convivido mais próximo com as mulheres mais receptivas a essas relações.
Assim os soldados e cabos eram raramente alvo do interesse feminino e por conseguinte, não conheci nenhum soldado, que tivesse tido um romance ao ponto haver relacionamento sexual.
Quanto aos nosso "alfero" e ao nosso furriel a coisa já se passava de outra maneira. Diziam que nem tudo que brilha é ouro, mas no caso não era bem assim.
A esmagadora maioria que teve relações pagou para isso e às vezes de duas maneiras- no acto e depois na enfermaria.

Um abraço

Torcato Mendonca disse...

Não tenho tempo e a vontade é pouca para falar sobre este assunto. escrevi há dias, com colagem de um Poste antigo, umas linhas sobre o tema.Não era comentário, talvez um escrito em bruto. Só que este assunto e os dos hipotéticos filhos de miltares são dificeis de tratar. Se formos ver a sondagem podemos dizer"": - 1 responde não se lembrar se teve ou não relações sexuais; 106 tiveram uma ou várias ;87 não tiveram nenhuma.
Podia até passaar-se certificado de virgindade a pedido do interessado.
Só dois pontos,
-não se deve diabolizar o comportamento do militar português, repito do militar português ido da Metropole e não incluamos os nossos camaradas africanos;
- não critiquemos a mulher africana. Elas eram mulher- objecto devido ao tratamento que a sua cuktura lhes impunha, se comparada com a nossa. Respeitemo-la, la e los. Foi isso que fizemos, savo alguma excepção. Mas e em séculos de colonialismo? Dá pano para mangas, oque devido ao calor africano provoca "lica".
Ah o meu voto, é secreto o voto. Nada disso estou incluido nos 106 e em nada me arrependo.

As sondagens e o que dizes ou escreves,Luís Graça, mostram teres razão a 98%.

Abraços T.

(não era bem assim Juvenal e que não sejam os mesmos a levar sempre nas orelhas)

Luís Graça disse...

Estamos de acordo num ponto, camaradas: em mátéria de sexo, quando pomos os "machos" a falar, há um duplo risco: a gabarolice e a diabolização... Não faltarão histórias de "sussexo" de cabos e soldados que, em matéria de "conversa giro" e de sedução", eram catedráticos em relação à grande maioria dos furriéis, sargentos e alferes, para não falar dos capitães e oficiais superiores...

Por outro lado, é preciso não esquecer que havia uma parte dos nossos camaradas cabos e soldados que já eram casados, quando vieram para a Guiné, e portanto com uma vida sexual muito mais ativa e saudável do que a maioria...

E há até quem defende que o soldado que parte para a guerra tem a uma tendência quase compulsiva para ter relações com a namorada ou noiva... Era a maior prova de amor, para alguns casais de namorados, que esperavam o feliz regresso para depois se casarem... Alguns, infelizmente, casados ou solteiros, deixaram, na metrópole, filhos pequenos, órfãos, que nunca chegaram a conhecer...

Luís Graça disse...

Mensagem enviada hioje, de manhã, pelo correio interno da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas da Guiné:

Que ninguém nos acuse de ter "esqueletos" escondidos no armário... Um dia vamos todos "bater a bota", mas temos a consciência de que falámos de tudo ou quase tudo o que tínhamos a falar, entre nós, e para as gerações que nos sucedem, as dos nossos filhso e netos...

Não sei se há muitos blogues de antigos combatentes, em Portugal e noutras partes do mundo, que tenham abordado "temas sensíveis" como, por exemplo, este, o da nossa sexualidade...

Desta vez tivemos um nº de respostas próximo dos 200. Votaram, na sondagem "on line", 194 leitores (que eu espero que tenham sido só "camaradas", "antigos combatentes"...).

Como eu tenho dito e redito, este tipo de sondagem não se insere em nenhum "estudo científico", as amostras com que trabalhamos são sempre de conveniência: os camaradas que não leem o blogue, não têm igual oportunidade de responder como os leitores assíduos...

Por outro lado, nunca sabemos quem vota (nem quem deixou de votar)... Em todo o caso, é uma amostra dos "nossos leitores" (, parte dos quais nem sequer estão registados na Tabanca Grande)... Enfim, a sondagem vale o que vale, há aqui dados interessantes para serem comentados....

Obrigado a todos os que participaram, mais uma vez. Não quero abusar da vossa generosidade e paciência. Todos estamos a contribuir para que o nosso blogue seja uma importante fonte de informação e conhecimento sobre a guerra na Guiné, entre 1961 e 1974... Importante e insubstituível... Todos vocês são especialistas deste tema, todos vocês podem falar de cátedra!...

Enfim, façam os vossos comentários e mandem mais "achegas" (sob a forma de fotos e pequenas histórias)... Não se esqueçam que o blogue tem que ser alimentado todos os dias...

Um alfabravo fraterno para todos.... Luís Graça

Anónimo disse...

Virgínio Briote
16 jun 2015 14:56

Luís e Carlos, caros Camaradas,

Estão no fim as estórias, vistas pelos meus olhos, dos meus dois anos de Guiné. Não é extenso, está muito longe de ser uma obra literária. É um relato de alguns acontecimentos vividos, outros só vistos, de um jovem de 21, 22 anos, a quem entregaram farda, armas e homens para cumprir missões.

Peço autorização aos autores pela inserção de algumas fotos (poucas) que me ajudam a compor as estórias. As outras imagens são minhas, algumas tiradas por mim, outras por camaradas nossos daqueles anos. São as minhas “memórias” de um dos cerca de um milhão de jovens que estiveram naquelas terras e que encerraram cinco centenas de anos da nossa presença em África.

Fico a aguardar as vossas indicações sobre como o fazer: envio por partes ou tudo de uma vez?

Sou um atento diário ao que se escreve no blogue e vou continuar a ser. Sensibilidades diferentes sobre histórias autênticas só ajudam a entender e ajuizar melhor este período da nossa História.

Maqueiros, enfermeiras/os, páras, cozinheiros, condutores, escriturários, fuzileiros, guias, médicos, pilotos de aeronaves, lanchas e navios, radiotelegrafistas, administrativos, vagomestres, comandos, Praças, Sargentos e Oficiais, alguns condecorados, punidos outros, condecorados, louvados e punidos ainda outros, todos os que passaram pela Guiné merecem ser lembrados, nunca esquecidos.

E quando vamos instituir o dia da Memória, destinado a recordar os que não fizeram mais nada a não ser dar a vida pela Pátria? Não é necessário que seja feriado, basta parar um minuto de um certo dia. E se ninguém nos seguir, que sejamos nós, os que lá estiveram, que dediquem esse minuto para parar e recordar os nossos Camaradas que lá deixaram a Vida.

Para o Luís Graça, fundador do blogue, e para o persistente e organizado Editor Carlos Vinhal, o meu testemunha de gratidão.

Um abraço do V Briote

Luís Graça disse...

Virgínio:

Folgo em saber que estás em boa forma! E que retomaste a escrita!...

Fico(ficamos) sensibillizado(s) pelas tuas palavras, bem como pelo teu carinho, camaradagem, coerência e generosidade...Vamos conmeçar a publicar os teus textos quando nos deres luz verde... Podes ir mandando o material...Da nossa parte faremos o nosso melhor, como sempre...Defines a periodicidade e sugeres o título para a série... Quanto às ilustrações, a gente também dá um jeito, procurando sempre citar a fonte/autoria das fotos e melhorando a sua qualidade...

Quanto ao dia da Memória, acho uma ideia brilhante!... Vamos trabalhá-la. Tens alguma preferência ou sugestão ? Uma efeméride ligada à guerra e ao TO da Guiné ? Ou às nossas várias guerras de África ? É importante que a data seja "instituída" por nós e aceite por todos ou por um largo consenso...Podemos debater o assunto no blogue e recolher ideias e sugestões...Sim, não é preciso que seja feriado...Algumas datas estão "hipotecadas" ou "demasiados conotadas"...

Vamos falando. Tens o meu nº de telemóvel. Um abraço fraterno. Luis. Beijinho para a Irene

Anónimo disse...

mario gualter rodrigues pinto Pinto
16 junho 2015 17:36

Caro Luis Graça

Sabes que cada vez é mais dificil encontrar temas para publicar pois o pessoal já esgotou praticamente todos os assuntos e histórias passadas na Guiné, tantas foram as postagens até aqui. Só com a entrada de novos membros possivelmente poderemos ter novas histórias vividas.

Quanto aos temas creio eu que já todos foram descritos de várias maneiras.

Em tempos enviei-te a história da Maria, por mim vivida em Mampatá e julgo que está dentro do tema que nos propões, se quiseres publicá-la novamente eu agradeço...

Um abraço

Mário Pinto

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

Telefonei hoje ao Jorge Cabral, ao fim da manhã, da Fundação Champalimaud (onde só se vai por más razões, neste caso fui acompanhar uma amiga que foi "fazer uns exames"...), e devo-vos dizer que fiquei feliz por ter (boas) notícias dele... Estava animado e prometeu-me mandar amanhã 2 (duas!) estórias cabralianas!... E logo ele, o nosso "alfero" Cabral, que não tem paciência para os médicos e nunca esteve doente, que eu saiba, quando esteve à frente dos destacamentos de Fá Mandinga e Missirá, no séculos passado, nos já longínquos anos de 1969/71!...

Glória e longa vida para o nosso "alfero Cabral"|

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Sou de opiniao que a presente sondagem e ainda de acordo com a leitura feita por luis Graca, passou um pouco ao lado. Concordo com a estimative do Jorge Cabral que, mesmo assim ja representaria um volume elevado de sexo em tempo de Guerra tendo em conta o tamanho do territorio e da populacao, em especial a feminine.

Escrevi algures na serie das minhas 'memorias de infancia' que os oficiais eram os campeoes do sexo, mas na altura e por ignorancia minha, tambem incluia na lista os Furrieis no grupo dos oficiais. A confusao vem da designacao de "messe de oficiais" onde se juntavam o Capitao, os Alferes e o grupo dos Sargentos/Furrieis numa companhia em quadricula no Leste da Guine.

Na minha opiniao e em relacao ao assunto, os Furrieis destacavam-se a frente dos outros, pela simples razao de que eram relativamente mais novos e estavam, muitas vezes, numa posicao privilegiada. Na verdade, terao deixado poucos filhos porque eram mais cautelosos relativamente aos locais e faziam-no quase sempre com proteccao (uso de preservativos). Tinham alguma preferencia por mulheres adultas, quase sempre lavadeiras.

Na generalidade da tropa, como ja se disse, o pessoal de apoio ia a frente, com particular incidencia no pessoal ligado a alimentacao (cozinha, padaria, armazem de generos), os vagomestres e seus auxiliares eram especialmente cobicados.

Posso estar a dizer uma grande asneira, mas na minha opiniao, os potenciais violadores devem ser procurados entre os operacionais que teriam pouco tempo e fracos recursos para atrair amizades e os chamados 'basicos' que, modo geral, tambem eram menosprezados pelos nativos e teriam poucas de conquistar amizades no meio feminine que, como eh sabido, eh sempre muito exigente vis-à-vis do sexo oposto.

Com um abraco amigo,

Cherno AB