sexta-feira, 15 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14617: Questões politicamente (in)correctas (46): "Não sou 'tuga', sou português"... (António J. Pereira da Costa) / "Confesso que nunca me chocou como português e patriota ser chamado por 'tuga' pelos guineenses" (Francisco Baptista)...

1. Comentário (*) do António José Pereira da Costa
nosso grã-tabanqueiro [, Coronel art ref, ex-alf art.  CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art,  CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; é prortanto oriundo da Academia Militar, e não vem de oficial miliciano, como por lapso é referido mais abaixo, no comentário de outro dos nossos grã-tabanqueiros, o Francisco Baptista. ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Olá, Camaradas

Pese embora a justeza do assunto tratado, considero ofensivo o nome da organização que procura os pais dos filhos dos militares portugueses que prestaram serviço na Guiné.

Não sou "Tuga", sou Português e só fui assim chamado no contexto diferente pelos guerrilheiros do PAIGC. Acho de péssimo gosto que se persista na utilização de uma alcunha do tempo da Guerra.

Não vejo bem o que esta organização espera obter. Se é ver quem foi o pai de quem não tenho nada contra, se calhar, antes pelo contrário. Contudo, parece-me excessivo que se espere mais do que isto.
Excluindo casos de violação, de que nunca ouvi falar, estamos perante leviandades de juventude das quais hoje, se calhar, ninguém sai bem...

Confesso que sempre ouvi chamar aos ciganos "filhos do vento" por não terem terra e andarem sempre e movimento, comerciando.

Mas posso aceitar a designação que foi estabelecida. Uma organização para a procura de pais cujo nome contem uma alcunha de guerra é verdadeiramente inaceitável...

Um Ab.
António J. P. Costa


2. Comentário de Francisco Baptista (*)


Camarada António Costa;

Apesar de algumas clivagens sociais e militares que herdamos da nossa sociedade pequena e demasiado escalonada, confesso que nunca me chocou como português e patriota ser chamado por tuga por naturais da Guiné Bissau. Se pensares bem no dialecto crioulo que eles falavam não existe a palavra inteira "o português" que tu desejavas.

Pessoalmente agradeço-te a ti que talvez tenhas subido a hierarquia militar a partir de oficial miliciano a consideração pelos milhares e milhares de tugas milicianos que mesmo em percentagem,foram o grosso dos mortos, feridos e combatentes das três guerras de Àfrica. Tu sabes isso, amigo e camarada, porque a tua guerra não começou pelos gabinetes de ar condicionado como a de muitos dos nossos superiores, a quem não podemos chamar camaradas mesmo depois de reformados.
O processo de democratização civil e militar deste grande general que se chama Luís Graça é o possível, não é o desejável.

Um dia numa operação em Mansabá, com dois ou três pelotões, eu muito próximo do chefe da mílicia, um guineense alto e atlético, percebo que se cruzam com formigas das mais chatas de lá, seriam as formigas "correção", não sei. Sei, ele disse a pensar que eu não ouvia ; vamos deixar as formigas para os "tugas".

Estavamos de passagem, íamos corrigir a linguagem ou a mentalidade deles? 

Não quero tirar conclusões, todos os que me lêem são homens inteligentes.

Um abraço a todos,

Francisco Baptista

3. O que o dizem os dicionários  e os linguistas...


3.1. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

tu·ga
(redução de portuga)

adjectivo de dois géneros e substantivo de dois géneros

[Informal] O mesmo que português. = PORTUGA

"tuga", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/tuga [consultado em 15-05-2015].


3.2. Infopédia

tu.ga
[ˈtuɡɐ]
nome masculino

1. Guiné-Bissau soldado português
2. Guiné-Bissau designação dada a qualquer português
3. Guiné-Bissau designação dada a qualquer indivíduo de raça branca

tuga in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-05-15 10:31:08]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/tuga

3.3. Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

À volta dos termos galego, portuga e brasuca
Ida Rebelo #

Sobre o termo portuga, convém fazer um comentário que, certamente, não se encontra nos dicionários, mas pode ser verificado em meios digitais de publicação como blogues e também em jornais escritos ou falados.

O termo já foi muito usado no Brasil de forma pejorativa, mas galego é bem mais agressivo e antigo. Galego era a forma de se referirem aos imigrantes portugueses para ofendê-los, enquanto portuga era uma redução deportuguês que, hoje, é usada no mesmo tom que brasuca em Portugal, creio eu.

É possível, também, que, por falta de outro termo para designar informalmente o grupo, se tenha passado a utilizar esse termo em outros contextos que não incluem um tom pejorativo. Cabe aos portugueses dizerem como é usado o termo brasuca em Portugal…

Com o advento da Internet e de grupos como Yahoo, Orkut e os blogues, esses termos passaram a fazer parte de uma espécie de intercâmbio cultural e lingüístico entre integrantes das duas comunidades, portuguesa e brasileira. Hoje, os portugueses referem-se a si mesmos como portugas ou tugas, parecendo ser este último uma indiscutível redução do outro termo.

Acredito, pois, que há mais a dizer sobre o uso do que o que os dicionaristas são capazes, até mesmo devido à rapidez com que os termos são difundidos na Internet, com agilidade/tempo difíceis de ser igualados pelos meios tradicionais de publicação.

(#) Ida Rebelo é uma linguista brasileira. Doutora e mestre em Estudos da Linguagem, Descrição do Português para o Ensino de Português Língua Estrangeira, pelo Departamento de Letras, da PUC - Rio de Janeiro; licenciada em Letras Português-Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte:  Ciberdúvuidas da Lín gua Portuguesa > Artigo 1393  [Reproduzido com a devida vénia)...

3.4. Wikipédia

Tuga
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Tuga(s) é uma expressão utilizada para designar o(s) portugues(es), tal como acontece com Lusitanos, ainda que este último seja um termo mais erudito ou literário. Tuga é uma abreviatura de Portuga que, por sua vez, é uma derivação regressiva de português, com fontes registadas desde 1899.1

"António Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2.ª edição, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, ISBN 85-209-0846-2, p. 625

Tuga na Guerra colonial (...) 

O termo tuga popularizou-se durante os anos 1960, no decurso da dita "Guerra Colonial", como expressão para designar os portugueses por parte dos guerilheiros e oposição independentista africana em geral. Tinha como contraponto o termo turra (para terrorista, influenciada por gíria turra (andar às turras), usado pelos portugueses para designar os guerrilheiros independentistas. Ambas as expressões foram, nessa época, entendidas como depreciativas, por serem usadas pelo inimigo. (...)

3.5. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Abreviaturas, siglas,  acrónimos, gíria, calão, expressões idiiomáticas, crioulo...

Tuga - Português, branco, colonialista (termo depreciativo) (crioulo)
Turra - Terrorista, guerrilheiro, combatente do PAIGC (termo depreciativo)

Temos muitas  referências ao termo "tuga" e/ou  aos "filhos do vento"... Ver aqui alguns postes, a título exemplificativo  (***).


20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)

19 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8798: Memórias de Gabú (José Saúde) (3): reflexos de uma guerra que deixou marcas no tempo: “Filhos do vento”



12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)

12 de julho de  2013 > Guiné 63/74 - P11829: Os filhos do vento (12): "Em busca do pai tuga" ou "Os filhos que os portugueses deixaram para trás"... Reportagem de Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende, a sair no Público, domingo, dia 14

26 comentários:

Luís Graça disse...

Reler o o Antº Rosinha em "A origem da palavra Turra":


(...) Tuga, portuga, caputo, chicoronho, cabeça de porco, baranco, chindele, e por fim cubano, já ouvi esses nomes dirigidos a mim e a outros, ao vivo e a cores. In loco. Nem todos eram depreciativos, mas alguns eram. Logo que sejam ditos em português, ou crioulo, madeirense ou carioca ou baiano, para mim é fabuloso. (...)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2012/11/guine-6374-p10620-questoes.html

Luís Graça disse...

E eis o comentário que na altura (5/11/2012) deixei no poste do Rosinha:

(...) No Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, ainda não vem grafado este nome, "turra", pejorativo, corruptela de "terrorista" (?)...

Quanto a "tuga", é usado nos escritos de Amílcar Cabral, sempre como sinónimo, não de branco ou português, mas de "colonialista, branco, que ocupa a nossa terra e explora o nosso povo"... O termo tem pois uma carga "político-ideológica", designa não um povo, mas um "inimigo" num contexto de conflito.

O mesmo se passou noutros contextos de conflito armado: os franceses (com três guerras no espaço de um século com os alemães, a guerra franco-prussiana de 1870, a I Grande Guerra, e a II Grande Guerra) designavam o vizinho alemão por "boche" (termo insultuoso que tende a desaparecer, felizmente, mas que os mais velhos ainda usam)...

Outro termo pejorativo é, por exemplo, o "pied noire" (pé preto, à letra), expressão usada para designar os europeus (franceses, mas também italianos, malteses e outros), nascidos na Argélia, e que depois da independência (em 1962) se fixaram em França (cerca de 800 mil, contra 200 mil que optaram por ficar)... A origem da expressão é controversa, mas tem um significado negativo, é um estereótipo social...

"Jap", abreviatura do inglês "Japanese" (Japonês) era o termo, ofensivo, insultuso, pelo qual o soldado norte-americano tratava o seu inimigo nipónico...

"Fascho" e "comuna" eram expressões com que os portugueses, a torto e a direito, se cumprimentavam, "amavelmente", uns aos outros, nos idos tempos de 1974/75 (...)

Anónimo disse...

Caros Amigos.

Como único Lusitano-Lapäo-Floridiano sinto-me na obrigacäo de dar o meu contributo para esta dialéctica de.... profundidades variáveis.

Na Suécia ACTUAL(!)- Português=Svart Skalle.
(O que literalmente quer dizer "cranio negro")

E,em alguns dos Estados do Sul (a oeste da Florida) esta cantiga ainda se usa em alguns infantários :"Poruguee he...poruguee she...porugee belly full of flee"

Um grande abraco.

António J. P. Costa disse...

Caros Camaradas
Por mim tenho dificuldade em achar engraçado que me chamem Tuga, portuga, caputo, chicoronho, cabeça de porco (esta acho o "máximo", podre-de-chique), baranco, chindele, e por fim cubano e não consigo compreender como essas designações podem conter algo de amistoso. É um feitio meu!
Posso aceitá-lo em tempo de guerra ou depreciativamente como se dissesse bife, referindo-me aos britânicos ou boches, aos alemães, ou até brazuka relativamente aos brasileiros. Mas livre-me Deus, de num contexto amistoso, como parece ser o caso (será?) de usar essas designações numa conversa.
Todos sabemos que há designações destas para todos os gostos e por toda a parte.
Mas é uma questão de educação... digo eu.
Reporto-me à expressão usada por aquele milícia de Mansabá que vem referido no blog sobre este tema. Ele lá sabia porque estava a usar a expressão. No fundo já sabia como tudo e ia acabar e estava a treinar para depois...
Sabemos que as alemãs foram engravidadas pelos soldados aliados (e com grande violência por parte dos soviéticos) e poderemos admitir que tenham resolvido procurar os pais dos filhos no fim da II Guerra. Nesse caso, acham que ficaria bem terem uma organização que se chamasse: Sohn eines Steak ou Sohn eines Bären?
Ou ao contrário o dos prisioneiros alemães que, em Inglaterra, engravidaram cidadãs inglesas, como é que elas chamariam à referida organização, sugiro Son of a Jerrie?,
Já agora como é que as vietnamitas chamariam à organização?
Volto a dizer que não tenho nada contra a procura dos pais por parte dos filhos de militares portugueses, mas acho que tudo tem o seu limite e a guerra já lá vai. Destilar ódios desta foma não me parece correcto.
Um Ab.
TZ

Torcato Mendonca disse...

Concordo com o Antº. J.Pereira da Costa e estas adjectivações são dispensáveis. Lá, que me lembre, só houvi o IN gritar "Tuga..." e ála que se faz tarde...

Os "filhos do vento" tem que ver com o "Povo Romani"...e, talvez o Zé Saúde tenha aproveitádo o vocábulo fruto de queca fora de tempo...vidas...mas por vezes a moral tinha que ser levantada.

Ab, T.

Torcato Mendonca disse...

O VERBO É OUVIR E AS PRESSAS ....DERAM HOUVIR O QUE NEM D~COM ACORDO ORTOGRÁFICO SE SAFA....

As minhas desculpas...

Os Nórdicos e não só sempre nos "amaram muito2 bárbaros do Sul...

Abração Joseph...

Ab,T.

Mario Tito disse...

Enviei meu comentário-opinião sobre "Tuga". Não vejo publicado. Será que toma seu tempo?

Anónimo disse...



Amigo Mário de Oliveira:

Também escrevi um novo comentário, que não aparece. Já há dois ou três dias, segundo me disse o Carlos Vinhal, há problemas desses. Os nossos editores, não têm culpa. Paciência.

Um grande abraço

Francisco Baptista

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Volto ao tema em apreço.
1.º Vejam a expressão que designa o nome da organização. É português camiliano puro! É uma clara aplicação do acordo ortográfico!
2.º Quanto ao epíteto com que somos brindados gostava saber se algum dos participantes do blog quando vai à Guiné, ou mesmo aqui, mimoseia os guineenses com expressões como "turra" ou "nharro" que eram então correntes. Certamente que não. É uma questão de consideração pelos outros que só nos fica bem.
3.º Por fim, pergunto se alguém espera que os ex-combatentes, hoje no fim da casa dos 60 ou já bem avançados na dos 70, irão assumir a paternidade de alguém com 40 a 50 anos. Estamos a falar de pais de filhos, avós de netos ou bisavós de bisnetos e o assumir de uma paternidade de alguém gerado há mais de 40 anos terá um valor... discutível para além da tempestade afectiva que pode provocar.
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...



Camaradas e amigos:

Vou tentar reconstituir o meu comentário que se perdeu. Vai ser dificil, já jantei e já estou mais velho, a disposição já é outra.
O António Rosinha, um camarada que julgo eu, todos admiramos pela sabedoria que adquiriu em muitos anos de vivências africanas, apresenta um vocabulário enorme sobre nomes que nos deram outros povos em tempos colonizados por nós. O luís Graça que sabe manejar este blogue e a internet, com habilidade e consciência, convida-nos a pensar sobre esses nomes com que fomos apelidados pela comunidade de irmãos de língua portuguesa. Segundo as palavras dele, nem todos eram depreciativos. Pessoalmente ainda penso que nem portuga, nem tuga, em dialecto crioulo eram depreciativos, pois penso que nesse dialecto eles não tinham outras palavras para nos designar.
O Antº. Rosinha nem o Luís Graça, referem o termo "cubano", muito utilizado por um grande político madeirense.
Nós os do "continente", vamos desculpar o "cubano" que é uma adjectivação provocatória e estrangeirada, ou aceitar o "tuga" que é um diminutivo de portugês, usado num falar simples que vive de palavras curtas?
As guerras sobre muitos aspectos são desastres humanitários que alteram todas as regras do bom viver entre comunidades e povos. Na Guiné houve alguns excessos mas penso que nunca chegou a haver casos graves de violação sexual.
Não quero julgar quaisquer camaradas que possam ter tido filhos com mulheres guineenses, em relações sexuais consentidas entre ambos.
Sou natural duma aldeia rural do interior. Nesse tempo havia na terra alguns homens e senhoras que eram filhos de pais incógnitos. Todo o povo sabia quem eram os pais deles, tinham até traços, semelhanças, tiques. Normalmente eram filhos, não reconhecidos dos grandes lavradores da terra. Nunca falei com nenhum deles sobre isso, o respeito pela sua idade não mo consentia. Eu seria da idade dos seus filhos. Com alguns desses jovens eu cheguei a falar sobre esse assunto e apercebi-me da tristeza deles ao não poderem chamar avô a um homem que era avô deles.
Compreendo as razões instintivas e emocionais da juventude, entendo que muitas vezes o instinto mandava mais do que a razão. Entendo também que todos nós sofríamos de alguns preconceitos colonialistas. No fundo muitos de nós comportávamo-nos como os ricaços das nossas terras em relação às raparigas pobres.
Todavia não pudemos culpar esses jovens na idade dos vinte anos em que os homens se tornam mais despertos e expansivos para se relacionarem intimamente com jovens do outro sexo. Sendo doutro continente e doutra cultura, para onde foram enviados, por dois longos anos, eles depois por razões e preconceitos sociais, familiares e culturais naturalmente vão ter dificuldade em assumir o fruto dessas relações.
Pelo que ouvi quando jovem e menino, na minha aldeia, (a minha aldeia é a minha universidade) e por outros depoimentos, há um grito de revolta que não é audível mas corre nas veias e no sangue de todos esses filhos e netos não reconhecidos, que clama pelo abraço e pelo calor do sangue dos pais e avós.
È muito difícil ser juiz nesta causa, compreendo os nossos camaradas e compreendo os "Fidju di Tuga".
Os meus vizinhos mirandeses que falavam há longos anos um dialecto próprio, há alguns anos reconhecido pelo Estado Portugês como "La Lhéngua Mirandesa" acho que apesar do reconhecimento, infelizmente em extinção, diziam que o falar português era falar fidalgo.
Que diremos nós do camarada Joseph que além de falar português, corta tantas lhénguas, até lapão, ou será laponês?

Um grande abraço a todos

Francisco Baptista


Mario Tito disse...

Prezados camaradas:
No meu ponto de vista, sobre o tema, creio que "a raiz" estará na forma de "comunicação" usada naqueles tempos - e diria que até ainda hoje - quando um "estranho" entra em contacto com outro "ser" (estranho também) tendo entre ambos o obstáculo do idioma.

Por mim falo, porque tanto nas lides com africanos como com gentes de outras nacionalidades (e foram muitas) "o gesticular" na intenção de me fazer entender ou o uso de "meias-frases, por vezes numa tentativa de repetir a parte final da mesma, com um enfase mais saliente, quiçá resida a resposta para a origem da palavra "Tuga".

Por exemplo, transportando-me "aqueles tampos" é fácil "ver-me" ali na costa africa num diálogo com um nativo, a tentar dizer-lhe algo, incluindo que "eu sou de Portugal... P o r..."T u g a l"...(T u g a....l). Imagino-me ali num diálogo cheio de gestos e tentativas (se não adarmos já á porrada uns com os outros, rebolando-nos nas areias ou no lodo)

Portanto, não vejo nada de ofensivo na dita palavra, excepto no contexto provocativo "politicamente" inflamado, por parte de alguns artistas especializados a "lixarem o parceiro" seja de que forma for. O importante para esses "artistas" É A PROVOCAÇÃO, sabendo que, o outro, não sabendo bem o significado da palavra...não irá gostar, mesmo que a origem da palavra tenha origem inocente.

EU cá, desde o iníxcio que me dei conta que a origem deveria ter sido o "início dos contactos" entre os nossos e os nativos. Deste modo, fui-me assimilando, compreendendo muito bem que alguns "usavam" o termo "ostensivamente". Mas, deixava passar, absorvido em apreciar outras frases vindas da boca do povo e que, essas sim, representavam a honestidade das pessoas que as proferiam. Por exemplo..."a bó c´ta bai pro "puto" porque abó é nós". Ou seja, no fraco0 crioulo, "Tu não vais embora para Portugal, porque tu es dos nossos". Fazia-me sentir bem, ouvindo a voz do povo - marinbando.me para os "artistas polícos" - carinhosamente a pedir-me para que não me viesse embora. Que ficasse ali com eles. OLhem todos...E sabem uma coisa? Fiquei e fui muito feliz, quase 15 anos. Com guerra, sem guerra, com fartura, com miséria, com água, sem água, com pão, sem pão, mas sempre com muita amizade.

A finalizar, recordo um episódio passado no "O Pelicano", tendo como protagonistas 1) Um cunhado meu, que estava ao Balcão na parte de cima do Pelicano e 2) Um artista ou dois (dos nossos) de modo provocativo, chamou "caipira" ao meu cunhado. Bem, para que co0nste, ele tinha sido PM em Angola. Vive aqui pertinho de mim. Mas na ocasião, ele reagiu, esticando o braço por cima do balcão, esticando o outro tipo ao comprido, no chão de cimento.

No fundo, pensei eu que tinha sido algo que o outro lhe tinha dito, ofensivamente. Na realidade, eu não sabia o significado da palavra "caipira".

Nem o meu cunhado sabia!!! Ali, pergunto-lhe eu..."então se não sabes o significado" porque reagiste assim?... Resposta..."Oh pá, signifique o que signifique, aquilo não é um elogio" Tem que algo ofensivo. E Tinha e tem. Usa-se mais no brasil mas lá esta a intenção da ofensa.

Abraço a todos, e ate breve porque vem aí "Bisaulónia" e espero poder ver muitos dos meus camaradas.

Mario Tito disse...

Peço desculpa por algumas gafes gramaticais. O que vale é que antecipo que os camaradas conseguem corrigir e decifrar o que quero dizer.

Zé teixeira disse...

Creio que se está dar demasiado "peso" à palavra. Peso que não tem, nem nunca teve apesar de já vir nos dicionários.Sobretudo o sentido depreciativo.
Nas minhas idas, e já são cinco, à Guiné, nunca ouvi a palavra na boca de um guineense, mesmo ex-Paigc a não ser quando analisamos cenas de guerrilha vividas, em que eles se identificam com "bandido" ou "turras" e aos Portugueses como "Tugas".
"Bandido bai na mato" gritavam os nossos media da época e eles orgulham-se de ser este tipo de "bandido" - libertador da Pátria. E assim, a palavra bandido ganhou na Guiné-Bissau outro sentido.
A palavra "nharro" perdeu-se e a "turra" também, bem como a "Tuga" com sentido depreciativo.
Tanto nos chamam "tuga" como "baranco" no crioulo e pretendenm apenas identificar-nos como portugueses.
Se formos para os dialetos étnicos, encontramos por exemplo a palavra Portu, como nos mimoseiam as crianças Fula Futas correndo atrás da viatura de qualquer branco e é isso mesmo que a palavra quer dizer-branco, pese embora, para os adeptos do FCP, como eu, seja um prazer ouvir as crianças gritarem Portu! portu! portu!
Creio que o fato da associação assumir a palavra "tuga", pretende referir-se aos eventuais filhos de ex-combatentes portugueses e assim sendo até compreendo a sua utilização, porque na realidade eu era para eles um "tuga" naquele tempo e hoje sou um amigo.
E não podemos esquecer que mais de 80% dos chamados "turras" já morreram e a juventude de lá, tal como cá, não sabe o que é guerra colonial, nem liga a essas questões.
José Teixeira

Anónimo disse...



Amigo e camarada Mário de Oliveira:

É para mim uma grande honra ter-me cruzado contigo, neste espaço cibernético, tu que para mim pela tua coragem e pelo espaço de liberdade que abris-te para os do teu tempo e para os que te antecederam, como eu, foste um herói e um grande guerreiro.
Muito obrigado meu amigo, tenho um grande prazer em homenagear os meus heróis, em vida.
Um grande abraço

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Palavras sensatas meu Camarada nos "Maiorais", e Amigo em toda a vida, José Teixeira.

Quase diria que APRENDEMOS no mesmo Pelotäo.

Um grande e sincero abraco do José Belo.

Anónimo disse...

Caros combatentes:

As palavras "turra e nharro" tinham um caracter pejorativo, ou seja, não eram usadas amistosamente. Os termo "tuga" parece-me que tinha (tem) caracter igualmente pejorativo ou inamistoso. Bem gostaria que o nosso grande amigo guineense, Chico Baldé, homem culto e sincero, nos dissesse aqui algo sobre a palavra "tuga". A opinião dele será, para mim, conclusiva, em relação a este termo.
Quanto aos filhos do vento, sem pretender julgar ninguém, julgo que qualquer filho tem o direito de saber quem são os seus progenitores e que estes devem contribuir para o seu amparo material e imaterial, seja em Bragança, seja em Quínara.
Um abração.
carvalho de Mampatá.

Anónimo disse...

verissimoferreira@sapo.pt
16 mai 2014 13:15
Por qualquer motivo, não consegui comentar no nosso Blog, mas aqui o faço.
Em boa verdade questiono:
Se nem os soldados autóctones e que colaboraram connosco durante a guerra, usam ou usaram o termo tuga e sempre tiveram orgulho em considerar-se Portugueses, não será essa a prova provada de que tal coisa é pejorativa?
UM ABRAÇO AMIGO LUIS.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Volto ao tema das "Questões Politicamente (In)correctas
Creio que o Veríssimo Ferreira fecha o assunto, numa simples frase.
Estamos sempre a resolver o assunto "à portuguesa" desviando o assunto para áreas que não têm que ver com ele e procurando justificações que não lembram ao "careca" (com o devido respeito pelos carecas, claro)
Não devemos discutir semânticas, nem léxicos, linguística. Muito menos andar a tentar justificar o injustificável.
Esta organização precisa de dinheiro para se financiar. Os seus objectivos podem ser considerados válidos ou discutíveis, mas que o seu nome é ofensivo e revela falta de chá e disso não há dúvidas.
Por mim desejo-lhe sorte e êxitos, mas para peditórios desse tipo, já dei!
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...



Sem pretender defender mais as minhas razões perante outras semelhantes ou opostas, pois já tive muito tempo de antena,quero dizer que gostei muito deste debate e peço desculpa a algum camarada se não fui sempre correcto por palavras ou omissões.
Louvo a atitude do camarada Luís que sabe gerir este blogue com tanta inteligência. Que além de escrever, bons textos, belos poemas, textos de opinião e fotografias, ainda sabe procurar discordâncias que possam surgir no blogue, para atear discussões, onde ele, sem querer tomar posição, fica de fora a dar elementos objectivos tirados dos compendios dos estudiosos e dos sábios. Meus caros camaradas confesso que este jogo me diverte e entro nele com prazer, também para dar algum trabalho ao cérebro, que com a idade, por vezes precisa de estímulos para não adormecer. Algumas vezes, confesso sem ter ideias muito fundamentadas sobre certos assuntos, pois nunca tinham requerido muito a minha atenção, vou construindo a minha "verdade" no calor da discussão. Procuro também aprender com as opiniões de todos, pois as verdades universais, só existem pelo trabalho e o contributo de muitos homens.
Muito obrigado a todos, a começar pelo José Saúde e a acabar no António J.P. Costa por me terdes aturado. Obrigado também ao Luís Graça que fabricou a teia, onde nos enredámos.

Um grande abraço a todos

Francisco Baptista

A todos um grande abraço

Anónimo disse...

Meus caros camaradas:

Quanto a turra e nharro, bem sabemos que estes nomes eram proferidos, por nós, com azedume ou acrimónia. Sobre o nome tuga e o seu significado, no decurso da guerra, (desculpem-me a insistência),quem pode, com todo o rigor, explicar o seu significado, sob o ponto de vista social e político, é o Chico Baldé, nosso grande amigo. O dicionário, neste caso, ajuda pouco.
Um abração.
Carvalho de Mampatá.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Venho tarde, mas venho!
Estive mesmo para não fazer qualquer comentário pois a questão em si, e muito mais o conjunto de comentários, embora não esgotem o tema, acabam por cobrir uma boa parte do que se pode dizer.

Apreciei bastante o que de uma forma serena escreveu o Zé Teixeira. Também o que o Mário de Oliveira e o Francisco Baptista fizeram. Gostei do ponto de vista do Francisco quando diz "confesso que este jogo me diverte e entro nele com prazer, também para dar algum trabalho ao cérebro...".

Mas também os pontos de vista de outros, e particularmente do António P. Costa, assim como a interrogação do Veríssimo, me merecem respeito e alguma concordância.

Os factos são, aparentemente, simples. Depois, quando se 'liga o complicador', as coisas 'refinam' e aprofunda-se de tal maneira que fica um 'bicho de sete cabeças'.

Como é natural, dadas as circunstâncias, durante a permanência de inúmeros jovens em idade pujante em terras e locais estranhos, alguns deles produziram filhos em resultado das suas relações. Facto.
É possível, mais uma vez, dadas as circunstâncias, que algumas dessas relações pudessem ter sido forçadas, pela violência mas, trata-se de um mero 'exercício académico', já que não têm chegado ecos dessas situações. Pode-se então especular que resultaram, em larga maioria, de situações 'normais' em todos os locais e em todos os tempos onde estiveram militares deslocados dos seus 'habitats' naturais, aliás como também foi referido em comentários. Facto.
O nosso camarada José Saúde (operacional ranger e um vencedor dos problemas de saúde que o afectaram), com uma grande sensibilidade, deu visibilidade à questão das crianças fruto das tais relações e que por lá ficaram, algumas rejeitadas na paternidade, outras que porventura foram desconhecidas, outras ainda que faltou a coragem para a assumir. Facto.
A expressão "filhos do vento" surgiu, tanto quanto me lembro, sem grande preocupação de procurar o rigor do 'politicamente correcto'. É perfeitamente natural, e possível, que tenha sido 'inspirada' no facto de ter na origem qualquer coisa 'passageira' tal como o vento que passa. É verdade que, pelo menos para os mais 'antigos', essa expressão de 'filhos do vento' esteja mais relacionada com os povos nómadas, ciganos, tal como também foi referido.
Até aqui, parece-me tudo pacífico e tudo aceitável.

A coisa muda de figura quando surge
a palavra "tuga"....
Também não gosto.

Independentemente da origem ou até da forma como possa ser utilizada ou pronunciada (sabe-se como isso pode ser "carinhoso" ou "acintoso, ofensivo"), não foi uma forma 'bonita' de procurar concitar apoios.

Mas, apesar disso, não vou deixar que essa questão sirva para desmerecer os méritos que a iniciativa possa ter, muito menos as boas intenções geradas pelo gesto do Zé Saúde.

Hélder S.

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Acabo de regressar de uma digressao a leste (regioes de Gabu e Bafata) e nao acompanhei o inicio do debate.

Nao sei porque razao este tema volta a baila, novamente, no Blogue da TB.

Pelo pouco que percebi, posso dizer que a introducao do Luis Graca relativamente a palavra "Tuga" eh correcta. No essencial o conteudo eh depreciativo e com grande carga politico-ideological.
Em 2001/2 estava em Portugal a trabalhar nas obras (novo estadio J. Alvalade) e a estudar no ISEG. e confesso que tinha ficado parvo ao ouvir chamar a seleccao das quinas de "os Tugas". Fazia esforco mental para compreender e aceitar, mas qualquer coisa nao estava bem, talvez fosse a minha consciencia, pensava.

Quanto ao conceito de "filhos de vento", tambem acho que nao eh muito feliz e ja expliquei, noutra ocasiao, as minhas razoes. A designacao nao fica bem (nao honra) nem aos portugueses nem aos guineenses, nem os que estiveram envolvidos nem aos familiares dos chamados "filhos de vento".

Mas, atencao meus amigos, qualquer semelhanca com as opinioes de Antonio JP Costa sera mera coincidencia.

Um abraco amigo,

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito).

Anónimo disse...

PS/: Para acalmar os mais cepticos, devo informar que a operacao "filhos de vento" desencadeada pela Jornalista Catarina Gomes teve algum sucesso, melhor dizendo, foi mais positivo do que, a partida, se poderia esperar, de acordo com a informacoes que tive da propria associacao local dos filhos de Tugas.

Cherno AB

Carlos Vinhal disse...

Eu acho perfeitamente descabido que algum(a) jornalista se lembrasse ao fim de mais de 40 anos de andar à procura de pais para "filhos do vento", que expressão mais infeliz. Estamos a passar um atestado de menoridade às jovens guineenses de então que conscientemente assumiram a maternidade, e salvo raras excepções nunca exigiram reparação. Não podemos confundir a situação de uma tropa de quadrícula, como era a situação da maioria das forças colocadas na Guiné, com tropas invasoras, que por onde passavam só deixavam rasto de pilhagens e violações.
Já alguém perguntou que pais (e avôs) estão hoje disponíveis para assumir estas paternidades?
E o caso só se põe na Guiné? E em Angola, e em Moçambique? Ah, isso fica muito longe, dá muito trabalho.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...

Amigo Vinhal. Não desanimes que ainda és muito novo. Deixa que tudo ficará pior.
De Veríssimo Ferreira

Mario Tito disse...

É com todo o prazer que registo as palavras do camarada Francisco Batista, embora as considere "lisonjeiras", porque, ser "herói"...sim, é preciso ter coragem a enfrentar situações de "perigo de vida ou dificuldades extremas". Eu, ali, na Guiné, tudo quanto fiz foi "confiar" na amizade do Povo e assimilar-me com o mesmo.

Neste ponto, sem nunca ter disparado um tiro (nem uma pistola tive) conquistei a simpatia e a amizade - riqueza única e duradoura - do povo da Guiné.

Sim, é certo que nemj tudo foram "rosas"! Houve momentos muito difíceis na minha vida...mas não por culpa da maioria do "povo" mas sim por culpa dos "operativos" políticos - raivosos, alguns deles, de todos aqueles que, tal como eu, lhe trocaram as voltas, convivendo amistosamente com o povo. Aqui, para os "operativos" vendo-se ultrapassados nos seus objetivos, tudo faziam e fizeram para me dificultar a vida.

Aqui, talvez eu tivesse tido "coragem" em os enfrentar cara a cara- SEM MEDO - porque eu tinha as costas "protegidas" pela amizade do povo. Mas, se fui herói, foi na procura de boa harmonia.