terça-feira, 14 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14468: Notas de leitura (703): Sinopse do livro "Guerra na Bolanha", por Francisco Henriques da Silva

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 7 de Abril de 2015:

Meus caros amigos,
Não é usual e pode até parecer presunçoso que um autor se pronuncie sobre a sua própria obra. Todavia, tendo em conta que as recensões sobre o meu recente livro - “Guerra na Bolanha - de estudante, a militar e diplomata” - foram até à data escassas, decidi publicar uma sinopse sobre a obra, com um ou outro comentário, apenas para despertar a atenção e o interesse dos eventuais leitores. Entendi que devia, de algum modo, divulgar o que escrevi, em especial junto dos antigos combatentes e dos meus contemporâneos e amigos. Adianto que um ou dois excertos da obra já foram publicados neste blog.

O livro lançado pela Âncora Editora, tem o patrocínio da Liga dos Combatentes, da Comissão Portuguesa de História Militar, do Programa Fim do Império e da Câmara Municipal de Oeiras. Já se encontra disponível nas livrarias e pode também ser encomendado on-line.

Mais esclareço todos os interessados que em 5 Maio, pelas 18h00, no Palácio da Independência, ou seja na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Largo de S. Domingos, em Lisboa será levada a efeito uma sessão de apresentação seguida de debate. A entrada é livre e oportunamente darei conhecimento por esta via de mais pormenores e avivarei a memória dos potenciais interessados.

Com um abraço cordial e amigo
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alferes miliciano de infantaria da CCaç 2402
e ex-embaixador de Portugal em Bissau (1997-1999)


"Guerra na Bolanha"

À semelhança de muitos jovens da minha geração, fui alferes miliciano de infantaria na então Guiné Portuguesa, entre 1968 e 1970. 27 anos mais tarde fui nomeado embaixador de Portugal na Guiné-Bissau independente, onde assisti e intervim, como testemunha privilegiada e como mediador, na guerra civil daquele país entre 1998 e 1999, o que já descrevi numa minha obra anterior “Crónicas dos (des)feitos da Guiné” (2012).

Não é de mais salientar que se tratou de uma situação sui generis, na medida em que, tanto quanto sei, fui o único embaixador que exerceu a chefia de uma missão diplomática, num território onde havia previamente combatido como militar.

O presente livro assume um carácter marcadamente intimista e autobiográfico. Para alguns talvez demasiado intimista, quase roçando a linha vermelha do pudor. Mas trata-se, como escreveu o nosso camarada de armas Mário Beja Santos, do “crepúsculo dos combatentes” – ou seja, a nossa hora - em que podemos dizer tudo o que nos vai na alma: para nós, hoje, com a idade que temos, já não existem segredos, nem angústias. Somos transparentes e frontais. Chegou o momento de nos assumirmos plenamente, e com a coragem dos cabelos brancos.

Este livro refere-se a três momentos distintos, na vida de um jovem. Antes da guerra, ou seja, a dia-a-dia de um adolescente no Portugal dos anos 60 do século passado, da classe média urbana, que foi estudante e roqueiro, os seus hábitos, as suas leituras, o seu percurso académico e os respectivos namoros, até ao seu ingresso nas fileiras e as minhas primeiras experiências, como militar.

Durante a guerra, a confrontação com um cenário bélico real numa terra estranha consistiu num reality shock complexo - o quotidiano da luta, as condições de vida, os dramas humanos envolvidos, as questões psicológicas, enfim, tudo o que marca de modo indelével um jovem para sempre.

Depois da guerra, surge uma nova etapa: o regresso definitivo. Como se processou a reinserção na sociedade portuguesa dos anos 70? Que objectivos de vida tinha quando voltou: a retoma ou não dos estudos, o emprego, a vida sentimental e sexual, a diluição dos traumas de guerra? Que acolhimento lhe (nos) reservou o Portugal e os portugueses desse tempo?

Via de regra, a maioria dos autores menciona o que foi o conflito nas suas diferentes dimensões, por vezes, com uma incursão ou outra no passado anterior à ida para África, mas muito poucos mencionam a reintegração na sociedade que deixaram, aspecto que procurei abordar na minha perspectiva própria, com franqueza, sem subterfúgios e sem silêncios.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de Abril de 1025 > Guiné 63/74 - P14466: Notas de leitura (702): "O Meu Avô Andou na Guerra", por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

6 comentários:

Vasco Pires disse...

Bom dia Camarada FHS,
Cordiais saudações.
Eu li o seu notável e abrangente trabalho.
Aproveito para agradecer a amável dedicatória.
Fantástico o retrato da "grande parvonia" dos anos 50/60 donde todos viemos, rico no relato das vivências da guerra, por fim a reinserção,tão difícil, que alguns de nós não a completaram ainda.
Ora,os"sapateiros olham para os sapatos", então, me chamou à atenção a pouca sorte que você teve
com os Artilheiros que cruzaram o seu caminho, um relato (pág. 144) o
outro trapalhão (pag. 137/138.
Sim, aprendemos a fazer cálculos em Vendas Novas,contudo também aprendemos a apoiar tropa em movimento, fazer fogo de contra-bateria,até a fazer tiro direto para impedir invasão a quartéi...
Forte abraço.
VP
Ex-soldado de Artilharia

Vasco Pires disse...

Onde se lê :um relato
Deve ler-se :um relapso
VP

Unknown disse...

Obrigado pelas amáveis palavras, Vasco Pires. Procurei que o relato fosse curto, incisivo e que tocasse nos pontos principais. Podia ter ido mais longe, mas fiquei-me pelo essencial. Falta sempre algo por contar. A memória ainda me ajuda e felizmente não sofro da doença do alemão. Mas fica qualquer coisa para depois...para a sobremesa.
Abraço amigo
FHS

Unknown disse...

Obrigado pelas amáveis palavras, Vasco Pires. Procurei que o relato fosse curto, incisivo e que tocasse nos pontos principais. Podia ter ido mais longe, mas fiquei-me pelo essencial. Falta sempre algo por contar. A memória ainda me ajuda e felizmente não sofro da doença do alemão. Mas fica qualquer coisa para depois...para a sobremesa.
Abraço amigo
FHS

Luís Graça disse...

Meu caro Francisco: Vimo-nos apenas uma vez, numa qualquer livraria de Lisboa, numa tertúlia sobre livros e a guerra colonial...Mal nos conhecemos, a não ser daqui, do blogue... Mas quero dar-te os parabéns por mais este livro com a tua história de vida... È verdade, poucos de nós têm escrito sobre o regresso e a nem sempre fácil reintegração na vida "civil", depois da tropa e da guerra...

Por outro lado, muito provavelmente tens razão quando dizes fostes "o único embaixador que exerceu a chefia de uma missão diplomática, num território onde havia previamente combatido como militar"... Não é um "fait-divers", é um privilégio...

Vou-te desafiar para publicar aqui alguns excertos do teu livro. Boa saúde, longa vida com memória! Luis

Unknown disse...

Meu caro Luis,
Aceito com o maior prazer o desafio e vou enviar-te, nos próximos dias, alguns excertos do meu livro, a fim de aguçar o teu apetite, bem como o dos nossos camaradas e amigos, que frequentam esta página, para que possam interessar-se em adquirir a obra. Esclareço, desde logo, que se trata de um escrito autobiográfico e intimista que não tem grandes pretensões, mas apenas uma: a de contar a verdade, tal como a vivi, sinto e ainda me vai na alma, pois é um acto de libertação.
De facto, devido às circunstâncias da vida, vimo-nos uma só vez numa tertúlia, ao fim da tarde numa livraria em Lisboa. Divido o meu tempo entre Portugal e Espanha, onde vive uma grande parte da minha família e nem sempre me é possível participar, como seria meu desejo, em todas actividades, quer culturais, quer sociais, que me interessam e a que sou sensivel .
O meu primeiro livro - "Crónicas dos (des)Feitos da Guiné" relata, com os possíveis detalhe e rigor, sem ocultar nada de relevante, entenda-se, o que foi a estúpida e cruel guerra civil de 98-99, entre Nino e Mané, que fez recuar irremediavelmente a Guiné-Bissau muitas e muitas décadas, com enorme sofrimento para o seu povo. Nessa obra, incluía-se um relato da minha primeira passagem por essas terras que a editora entendeu por bem cortar, uma vez que a obra era já demasiado extensa. Esse relato, ficou, pois, para estas segundas núpcias, aumentada com narrativas sobre o "antes" (a minha/nossa juventude) e o "depois" (o regresso e reintegração).
Enfim, conta comigo. Farei e darei o meu melhor para responder ao repto que me lançaste.
Com um forte abraço
Francisco