terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14037: Estórias cabralianas (85): uma floresta de árvores de Natal... (Jorge Cabral)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Tabanca de Iale Varela > Dezembro de 2010 > Crianças felupes.

Foto:  © Patrício Ribeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem de ontem do Jorge Cabral...(e lá dentro uma estória de encantar, que só podia sair da "pena de ouro" do nosso "alfero Cabral"):


Com os votos de um Natal-Natal! E um GRANDE ABRAÇO! 
 J. Cabral


2. Estórias cabralianas > Uma floresta de árvores de Natal... Ou natalício apanhanço ?

por Jorge Cabral

[ex-alf mil art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71; jurista, prof ensino sup univ, reformado]

A 24 de Dezembro pela manhã, fomos a Bambadinca. Trouxemos bacalhau e o correio. 

Para mim chegou uma carta dos meus sobrinhos, escrita pela minha irmã. Dentro dela, um desenho do Pai Natal. Barba branca e uns óculos na ponta o nariz. Tal e qual eu ,agora…

À noite consoámos. Nem tristes, nem alegres.

No dia 25, como fazia sempre de madrugada, fui atrás do meu abrigo, junto ao arame, aliviar a bexiga. Mas, mesmo antes de iniciar a função, olhei a mata. Olhei e vi todas as árvores enfeitadas com luzes e bolas cintilantes:
 –Venham ver! – gritei.

Toda a gente dormia... Só apareceu um puto, o Braima, neto da Binta, que ficou extasiado.

Ao almoço relatei a maravilha. Ninguém levou a sério.  Chamei o Braima, mas de nada serviu. Natalício apanhanço, comentou o Branquinho…

Quarenta e quatro anos passados, confirmo. Eram milhares de árvores de Natal.!

Já contei ao meu neto. Acreditou…

Jorge Cabral

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Nota do editor:

Últimos cinco  postes da série > 


(...) Um dia, ouvi, em Bambadinca, que ia haver um campeonato de futebol. Para além da CCaç 12 , entravam todos os Pelotões e Serviços da CCS. Inscrevi o Pel Caç Nat 63, embora não tivéssemos equipa, nem sequer bola, que me apressei a adquirir.

Chegado a Fá, ordenei treinos diários. Tarefa difícil, pois os meus soldados africanos nem as regras conheciam. Eram fortes e rápidos, mas pareciam especialistas em sarrafadas. Para tirar a bola ao adversário valia tudo. (...)



26 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12345: Estórias cabralianas (83): Da Gata Catota à Tabanca da Queca... (Jorge Cabral, com bolinha...)

(...) No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco. (...)


2 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12238: Estórias cabralianas (82): Quando cabeças e rabos não são equivalentes, e nem sempre dois mais dois são igual a quatro: O Sitafá, as fracções e as sardinhas (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá durante dois meses, estivemos sem abastecimentos. Época das chuvas, o sintex e os dois unimogues avariados .Ainda tínhamos conservas,mas faltavam as batatas, o vinho e o arroz para os africanos. Um dia porém, o Pechincha conseguiu fazer dos dois burrinhos, um, que andava. Fomos a Bambadinca, deixando a viatura, à beira da bolanha de Finete, que atravessámos até ao rio, o qual cambámos na piroga do Fodé. (...)


30 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12222: Estórias cabralianas (81): Em Vendas Novas, de ronda, na Tasca das Peidocas (Jorge Cabral)

(...) Em Janeiro de 1969, eis-me garboso aspirante na E.P.A. [Escola Prática de Artilharia], em Vendas Novas. Ao contrário dos outros aspirantes, encarregados da instrução no C.S.M. [, Curso de Sargentos Milicianos], eu fui colocado na Secção de Justiça e na Acção Psicológica, sendo ainda nomeado árbitro de andebol da Região Militar. (...)

13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)

(...) Numa noite, no início de Maio de 1968, apareceu-me irritado o meu amigo Filipe. Ia para a tropa.
– Tens a certeza Filipe? Olha vamos passar por lá, pela Junta de Freguesia. (Onde à porta afixavam as listas).

E fomos. Corri os olhos pelo edital e era verdade. Lá constava, Filipe Narciso Gonçalves da Silva. Só que, um pouco mais abaixo, encontrei o meu nome, Jorge Pedro de Almeida Cabral. Devia ser engano, um erro, eu tinha direito a adiamento. Que o Filipe fosse, não era para admirar. De igual idade e entrados ao mesmo tempo na Faculdade, ele não passara do primeiro ano, enquanto eu contava acabar o curso no ano seguinte. (...)


9 comentários:

José Marcelino Martins disse...

GOSTO!

Desta e de todas aquelas que escreves. FELIZ NATAL, com ou sem arvores enfeitadas.

Carlos Vinhal disse...

Caro amigo Jorge Cabral, o Natal não é só quando o homem quer, mas também onde o homem quer.
Abraço natalício
Carlos Vinhal

Fernando Gouveia disse...

Jorge:

Para mim foi talvez estória mais linda que escreveste e contaste.

Um abraço.
Fernando Gouveia

admor disse...

Gostei! E como diz o Vinhal e muito bem, Natal é onde e quando um homem quer.
Abraço

Adriano Moreira

Bispo1419 disse...

Que foto! E que texto! Maravilhosos!
Que dos corpos dos velhos combatentes que por aqui vagueiam, mesmo que árvores carcomidas pelo tempo e pelas agruras da vida, se soltem "luzes e bolas cintilantes"!
Acreditem que é possível tal acontecer. O Jorge Cabral foi testemunha disso e, felizmente, ainda o é.
Boas Festas, meus caros companheiros desta linda Tabanca.

Manuel Joaquim

Luís Graça disse...

Manuel Joaquim:

Estamos de acordo!... É uma foto fantástica do Patrício Ribeiro, editada por mim... E que escolhi porque quis homenagear o nosso "alfero Cabral" e este pequeno conto de realismo fantástico que nos tocou a todos...

Afinal, quantos de nós, que passámos dois ou até três natais no To da Guiné, não fomos capazes de transformar o negrume da noite e do mato à volta de nós em presépios animados e iluminados, regressaando á infância perdida ?

O !"alfero Cabral" escreve pouco (, esteve quase um ano sem nos mandar uma das suas inimitáveis "estórias cabaralinas"), mas o que escreve é de primeira água...e de antologia

É pena que ele desvalorize as sua produção de "short stories"... Em tempos ainda o entusiasmei a publicar um livrinho com este material de cinco esgtrelas, mas ele agora encolhe os ombros, cético e tristonho:
- Ó Luís, quem o vai ler, afinal?!

Bispo1419 disse...

Meu caro Luís Graça:

Concordo plenamente contigo.

Como eu gostaria de ter o poder de síntese, a verve, a ironia, o "non-sens" que o Jorge Cabral usa brilhantemente nos seus escritos!

Olha, o nosso querido camarada não quer publicar? Lá terá as suas razões. O que lhe "proíbo" de fazer é ele destruir os seus textos aqui publicados, os únicos que conheço. Para bem da sociedade tem de os deixar à disposição do futuro. Tenho a certeza que alguém virá mais tarde a pegar-lhes. Ninguém abandona pérolas!
Abração do
Manel Joaquim

Anónimo disse...

Caro Jorge Cabral,
Depois de ler este teu belo texto e os comentários adjacentes fui sentar-me ao lado do teu neto...
Um abraço transatlântico.
José Câmara

Antº Rosinha disse...

Ó Luís, quem o vai ler, afinal?!

Jorge Cabral, tem razão.

Muito poucos querem saber.

Este país não é para "velhos" combatentes do ultramar

Estamos a ficar isolados e esquecidos, e talvez este blog virá um dia a servir para estudiosos.