sábado, 8 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13861: Bom ou mau tempo na bolanha (74): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (14) (Tony Borié)

Septuagésimo terceiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Resumo do dia

Pela manhã ainda fomos à outra margem do “Russian River” pescar e, já era perto do meio dia, quando abandonámos este aprazível local, rumo ao norte, à fronteira com o Canadá, havia uma longa jornada pela frente, mas como nesta altura do ano é quase sempre de dia, não nos metia qualquer dificuldade, poderíamos parar onde muito bem entendêssemos.

Assim, tomando a direcção do norte, passadas algumas milhas, fizemos um desvio para leste, visitando a cidade de Seward, ainda na Península Kenai, cujo nome foi dado à cidade por William H. Seward, que na altura era Secretário de Estado dos USA, pessoa que no ano de 1867 finalizou o negócio da compra do território do Alaska à Russia.




Entre outras coisas, esta cidade é a “Milha 0” do “Historic Iditarod Trail”, que era um caminho sobre a neve, onde as pessoas transitavam, algumas com aqueles “trenós” puxados por cães, que eram autênticos “atletas”, onde por volta dos anos de 1900 era o meio de transporte para pessoas e bens, do porto de Seward para o interior do território do Alaska.

Seguindo rumo ao norte, passámos de novo a cidade de Anchorage, de que já falámos. Para quem vem do sul, um pouco antes da cidade, a estrada tem duas vias que terminam pouco depois, onde quem quer atravessar a cidade, rumo ao norte, tem que seguir por ruas normais, algumas com luzes de tráfico, com pouca sinalização, onde o GPS ajuda bastante, era de dia, a cidade de Wasilla era logo ali, um pouco antes, desviámo-nos para leste, continuando na estrada número 1, a que também chamam “Glen Highway”. Abastecemo-nos de gasolina na cidade de Palmer, onde uma rapaz, com rosto de esquimó, entre outras coisas nos explicou que as cidades de Wasilla e Palmer são as quintas da pequena metrópole, que é a cidade de Anchorage, pois existem por aqui muitas culturas de vegetais e, recebeu o seu nome de um empresário chamado George W. Palmer, que em meados da década de 1880 construiu um posto de trocas, ao lado do rio Matanuska, modificando o estilo de vida e subsistência, fazendo comércio com os “Athabaskan” e, outros grupos nativos que viviam ao longo da rota do Rio Matanuska, onde os Russos já tinham chegado àquela região do Alasca, por volta do ano de 1741, trazendo a tradição religiosa ortodoxa russa, para os povos indígenas da região.


Estávamos a entrar no extenso vale de Matanuska, preparando-nos para um deserto de estrada, entre montanhas e vales, onde o rio Matanuska corre lá no fundo, umas vezes revoltoso, outras espalhando-se por extensos areais, com avionetas estacionadas nas margens do rio e seus afluentes, dando a entender que era o único meio de transporte que existia naquela área, a paisagem era linda, mesmo muito linda, mas um pouco perigosa. Parámos no “Matanuska Glacier”, que fica localizado mais ou menos a 100 milhas, (160 quilómetros) da cidade de Anchorage, é entre montanhas, e dizem que aquela extensão de gelo, com aproximadamente 27 milhas de comprimento (43 quilómetros), por 4 milhas de largura, (6,4 quilómetros), com muitos séculos de idade, vem descendo mais ou menos 1 pé, (30 cm), por dia.



Deixando o Glacier, o seu “welcome”, ao “aquecimento global”, e claro, a sua história para trás, continuámos, pois ainda era de dia, aparecendo sempre povoações que estavam marcadas no mapa com letras grandes, mas assim que nos aproximávamos, eram pequenas, onde não havia estações de serviço, hotéis, parques de campismo ou quaisquer outras facilidades, eram algumas casas isoladas. Numa dessas povoações, que era um encontro de estradas, talvez pela hora tardia, pois o nosso relógio marcava 10h30 da noite, havia um estabelecimento que proporcionava comida e dormida, mas o preço não estava de acordo com a nossa situação financeira, seguimos viagem, o Jeep e a caravana rolavam sem problemas, o sol desapareceu por algum tempo, chegámos à povoação de Tok, era pouco mais das 12h00 horas da noite, mas ainda era de dia.


Aqui, dormimos num motel, com muitas pessoas, principalmente aventureiros que viajam em motos, por quem nós temos muita apreciação, considerando mesmo uns heróis, que se sujeitam a um clima e estado de estradas bastante difícil, que naquela altura confraternizavam com cerveja, oferecendo-nos.

Neste dia percorremos 673 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $4.32 e $4.57 o galão que são aproximadamente 4 litros.


Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13834: Bom ou mau tempo na bolanha (72): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (13) (Tony Borié)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Tony (e 'companhia', claro!)

Cá continuo a acompanhar as tuas jornadas e a imaginar como seria se também eu estivesse a 'viver' os momentos.

As fotos, ilustrativas, revelam realmente paisagens de tirar o fôlego.

Agora, só uma pequena curiosidade: dizes, logo no princípio, que "pela manhã ainda fomos à outra margem do "Russian River" pescar e era já perto do meio dia quando abandonámos este aprazível local....". Ora bem, e que tal a pescaria? Deu para almoçar? Caso positivo quantos peixes 'enganaram'? E que 'nomes' tinham? e, caso positivo, como os comeram?

Abraços
Hélder S.

Tony Borie disse...

Olá Hélder.
Obrigado por acompanhares a "jornada" e, claro, apreciares algumas fotos, oxalá os nossos companheiros também apreciem e, possam "imaginar" os momentos e a paisagem!.
Olha, a "pescaria", no Russian River, naquela época, ou seja naquelas semanas, é quase e só, "silver salmão", que é o normal salmão, de cor prateada, com mais ou menos 60 a 70 centímetros, e está a subir o rio, para o "fenómeno" da "desoba". O rio naquela zona, faz uma curva, a corrente, leva a areia das pedras, os peixes vêm em cardumes, tocam nas pedras e saltam, às vezes ficam fora do rio, e é só simplesmente, agarrá-los e dar-lhes com uma pedra na cabeça, para os matar!. É raro isto acontecer, mas acontece, e nessa altura, os outros pescadores, chamam "nomes", à pessoa que vai apanhar o peixe nas pedras e não o coloca de novo na água!. Os guardas da floresta, que andam por lá, aconselham aos não residentes, dois exemplares por dia e por pessoa, e foi o que fizemos, podemos limpar o peixe, em bancas, montadas na beira do rio, um pouco dentro da água, talvez tipo "a banca da Odete"!.
O maior problema é a conservação do peixe, pois em viagem, não é fácil encontrar gelo e, mudar a arca frigorífica frequentemente vezes e, claro, vai sempre cheia, com outros géneros alimentícios!.
Mas ainda andámos uns dias a comer salmão!.
Um forte abraço Hélder, assim como para os nossos companheiros.
Tony Borie.