terça-feira, 4 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)

José Belo 
1. Mais alguns dados sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência (*):

Data: 3 de Novembro de 2014 às 22:17
Assunto: Sobre a Guiné-I ( alguns números).


Resumo: Durante a guerra o governo sueco enviou para o PAIGC um total de 53,5 milhöes de coroas,ao valor actual.  Destinaram-se a financiar a maioria das actvidades civis do partido: a limentacäo, transportes, educacäo, saúde,  incluindo  um vasto número de avultados fornecimentos ás Lojas do Povo. 

A Guiné foi posteriormente incluída (como único país da África Ocidental) nos chamados "países programados" para a distribuicäo da assistência sueca ao desenvolvimento. Recebeu  durante o período de 74/75 a 94/95  2,5 mil milhões  de coroas suecas [c. 270 milhões de euros], colocando a Suécia entre os 3 maiores assistentes económicos da Guiné-Bissau.


O programa sueco de cooperacäo civil-humanitária foi, durante largo período, não igualado por qualquer outro país.


"Apoia o PAIGC" (em, sueco).
Cartaz de finais dos anos 60, 
Uppsala South Africa Committee 
(mais tarde, Africa Group).
Cortesia de  
.
A importância da colaboracäo com o PAIGC,  
quanto ao envolvimento futuro da assistência sueca aos movimentos de libertacäo da África Austral, 
näo pode ser subestimada.

Foi em relação ao PAIGC que a Suécia estabeleceu o primeiro programa de assistência directa e oficial a um movimento de libertação africano, estando este envolvido numa luta armada com uma nação europeia (Portugal) que mantinha formais ligações comerciais com a Suécia.

[Recorde-se que faziam ambos parte da EFTA - European Free Trade Association, Associação Europeia de Comércio Livre, fundada a 4 de Janeiro de 1960 na cidade de Estocolmo, por 6 países: Áustria,  Dinamarca,  Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça; Portugal foi membro da EFTA até à sua entrada para a CEE, em 1986].

Este facto veio a determinar o carácter e os limites da assistência sueca, apesar dos contínuos apelos por parte dos movimentos de solidariedade não governamentais em conjunto com os partidos políticos da esquerda, e de um vasto número de membros do partido social democrata que então governava.

Todos eles exigiam um tipo de apoio incondicional, ou seja, que o PAIGC determinasse quais as aplicações dos auxílios económicos recebidos.

Apesar de todas estas pressões, foi mantida a decisão  de o apoio ter como base única o seu aspecto de assistência civil, humanitária....e não militar.

De qualquer modo,e de acordo com Stig Lövgren, responsável pelo programa de cooperação entre a Swedish International Development Authority (SIDA em Sueco) e o PAIGC, em encontro tido com Amilcar Cabral em 1969,  este lhe terá dito ser este  tipo de assistência civil o desejado pelo partido.

Na opiniäo de Cabral, os fornecimentos de armas e outros equipamentos militares por parte da União Soviética e outros países aliados  tornavam desnecessários qualquer apoio nesta área.

José Belo

(continua)
____________

Nota do editor:



8 comentários:

José Teixeira disse...

Zé Belo, meu irmão Maioral
Os meus emails batem no teto. Mudaste novamente de casa?
abraço fraterno.
Zé teixeira

Luís Graça disse...

Zé Teixeira, régulo da Tabanca Pequena:

Vou-te mandar o enésimo endereço de email do Zé Belo... Sabes como é, nos tempos que correm... "a segurança, em primeiro lugar"...

Também nunca sei onde ele dorme, come, vive, trabalha, respira... Já está habituado à devolução do correio...

Um abraço para os dois e em especial para ele, régulo da tabanca da Lapónia, que coligiu uam série de dados interessantes para se ter uma ideia da natureza e da importância da ajuda sueca ao PAIGC, no tempo dos sociais democratas...

Recorde-se que Portugal era, na época, um importante parceiro comercial de Portugal (e vice-versa)... Os suecos era muito cautelosos com o tipo de ajuda (não militar) ao PAIGC... Há um conversa que li, entre o responsável sueco do programa e o Amílcar Cabral, que está na Suécia, sob disfarce, por razões de segurança, creio que em abril de 1969... O Olaf Palme sobe ao poder em 14 outubro de 1969, sucedendo ao não menos histórico Tage Erlander que esteve em funções entre 1946 e 1969, como primeiro ministro também socialdemocrata...

Acho que o Amícalr pediu catanas para a Guiné, e o sueco ficou assustado, porque a catana podia ser usada como uma arma...Então o Amílcar rapuu da sua caneta e retorquiu-lhe: "Isto também é (ou pode ser) uma arma"...

Anónimo disse...

José Belo

Espero que tudo o que vais escrever (ou já está tudo escrito?) vá servir para informar e desfazer equívocos, como aquele que ouvi num colóquio sobre literatura de guerra na Guiné, onde uma excelentíssima Senhora afirmou ter havido cooperantes suecos na Guiné ao lado do PAIGC (em actividades não militares) durante o tempo da guerra.
Abraço
Alberto Branquinho
(P.S. Ou será que estou errado e... houve?)

Anónimo disse...


Caríssimo José Teixeira.
Nada tendo a ver com "cosmopolitismos diletantes" a minha vida familiar e profissional levou-me a ser mais ou menos obrigado a ter casas em Estocolmo,na Lapónia e em Key West/Florida.
Em verdade,näo mudo de casa mas...mudo-me "entre-casas".
Creio já saberes um dos meus e-mail que está sempre ao teu dispor.
Aquele abraco do José Belo.

Anónimo disse...

Meu Caro Alberto Branquinho.
Pelo que fui por aqui sabendo,tanto de viva voz como por documentos,e refiro-me a um período do fim dos anos setenta e princípio dos oitenta,teräo havido ocasiöes em que alguns membros das Associacöes de Solidariedade näo estatais,muitas das vezes ligados a organizacöes religiosas,possam ter participado em campanhas escolares ou colaborado como especialistas da área clínica em assistëncias hospitalares várias.
Exerciam actividades pontuais por períodos limitados, (junto do PAIGC), mas prioritariamente dentro do território da Guiné-Conakri.
O Luís Graca já dispöe de mais números e estatísticas,assim como algumas referências menos conhecidas da "pequena história" nas relacöes entre a Suécia de entäo (!) e a Guiné-Bissau.
Um grande abraco do José Belo.

Luís Graça disse...

José (Belo):

Os materiais que mandaste é para se ir publicando.

Temos que ir fazendo render o "salmão"...

Quentes e boas (saudações, castanhas, e tudo o mais a que tenhas direito, cá da santa terrinha).

Anónimo disse...

Caríssimo (mas não inflaccionado) José Belo

Agradecido! Obrigado.
Ora, segundo dizes, esse tipo de cooperação terá acontecido no fim dos anos setenta/princípios dos anos oitenta. Bem fora dos tempos da guerra, portanto.
Abraço
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Caro Alberto Branquinho.
O teu humor "comprimido" continua fantástico,e por aqui uma gargalhada é sempre mais do que bem vinda, nos 16 graus negativos neste momento.

O que quiz dizer com "os fins dos anos setenta e princípios de oitenta" referia-se á época em que eu por aqui ainda (!) procurava activamente aprofundar conhecimentos sobre a Guiné.
Os tais,e täo voluntariosos, suecos/as a que te referes teräo estado na Guiné-Conakri ,periodicamente, nos fins dos anos 6O e princípios de 70.
Um abraco.