segunda-feira, 21 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13424: Blogoterapia (256): "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", para que as minhas memórias não se percam no tempo (Manuel Luís R. Sousa)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luis R. Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 27 de Junho de 2014:


SENTIMENTAIS AUTÓGRAFOS

Como é do conhecimento de alguns de vós, em 2012, escrevi, editei e publiquei o livro com o título "PRECE DE UM COMBATENTE – NOS TRILHOS E TRINCHEIRAS DA GUERRA COLONIAL".

É frequente ouvir dizer a nossos camaradas ex-combatentes que guardam religiosamente na velha mala que os acompanhou em campanha na guerra colonial boas e más lembranças desse tempo, e que ela só é aberta em momentos especiais em família, que os leva a reviver esse tempo difícil da sua juventude, revendo uma carta, um aerograma, uma fotografia, um objecto, etc.

Como ex-combatente que sou, também guardo a minha velha e carcomida mala, que me acompanhou nesses tempos, com danos visíveis provocados pelos solavancos das viaturas em que era transportada pelas sinuosas picadas do norte da Guiné e ainda impregnada de pó da terra vermelha que caracteriza aquele chão africano.

Como material perecível que é essa mala, e porque eu também não sou eterno, prevendo que um dia essas memórias ali guardadas se iriam perder no tempo, decidi então transferir todas essas lembranças para este livro, perpetuando assim as minhas memórias desse tempo.

Para quem não conhece o livro, e para contextualizar o significado dos meus autógrafos, fica a reprodução da contracapa do mesmo livro.

É uma súmula de todo o seu conteúdo, que retrata todas as vicissitudes porque passei em campanha, transversais a todos os meus companheiros de cativeiro de guerra, que são comuns, também, a todos aqueles que estiveram ao serviço da Pátria durante a guerra colonial:


“PELA PÁTRIA, LUTAR!

“A Portuguesa”, poema adoptado como Hino Nacional de Portugal a 19 de Junho de 1911, após a implantação da República, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, é um símbolo patriótico que, ao longo das suas estrofes, enaltece os feitos gloriosos de todo um “nobre povo”.

É arrebatadora a melodia dos seus acordes musicais que se misturam com o significado de cada palavra, cada verso, cada estrofe.

Esse enlevo atinge o seu auge, o seu pino, chega a ser arrepiante até, com a parte final do refrão, num dos seus versos, que exorta e apela também à luta em defesa do chão pátrio: “Pela Pátria, Lutar!”.

Ao fechar este livro, utilizei precisamente este verso, o “grito do Ipiranga” português, para sintetizar o conteúdo da obra, que retrata e traduz todo o esforço dos ex-combatentes, distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas Portuguesas, Exército, Marinha e Força Aérea, nas três frentes da guerra colonial, Guiné, Angola e Moçambique, que, em campanha, responderam a esse apelo patriótico, muitos deles com o sacrifício da própria vida.


Contracapa do Livro "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial"

Todo este rosário de adversidades suportadas em campanha, vincou os laços inquebrantáveis de amizade e companheirismo gerados entre os ex-combatentes, independentemente de eles terem pertencido a escalões hierárquicos militares diferentes, oficiais, sargentos e praças.

Toda essa diferença hierárquica se esbateu e o denominador comum a todos é o estatuto de ex-combatente.

Movidos por esses sentimentos recíprocos de afectividade que perduram no tempo tantos anos depois, eles não hesitam em calcorrear as estradas do país com destino a um ponte de encontro pré estabelecido, para, entre afectuosos cumprimentos, bom repasto e alguns copos bem bebidos, conviverem e lembrarem as peripécias de guerra, e não só, em que se viram envolvidos em campanha, ao serviço da Pátria.

É como que o renovar do oxigénio que lhes falta, consumido ao longo de todo o ano longe uns dos outros.

Como se tudo isto não bastasse para atestar os sólidos laços que os unem, e era aqui que eu queria chegar, nos autógrafos, ou dedicatórias, como quiserem, que tenho concedido aos companheiros que têm adquirido o livro, esse sentimento está bem presente.

Ei-los, alguns deles: 

“…O cheiro a pólvora queimada em campanha por terras de Jumbembém, Guiné, fortaleceu a nossa amizade”.

“…Os cumprimentos, estima e consideração do autor deste livro que, tal como tu, sob perigo iminente constante, trilhou as matas, bolanhas e picadas de Jumbembém, Guiné”.

“…A estima e o apreço que tenho por ti emergiu, por paradoxal que pareça, por entre vivências de guerra que tivemos em terras de Jumbembém, Guiné”. 

“…Matas, picadas e bolanhas, entre o troar de morteiros e o silvo das balas da “costureirinha”, lá em terras Jumbembém, Guiné, vincaram a amizade que nos une”. 

“…Trilhámos juntos as matas, picadas e bolanhas de Jumbembém, Guiné, entre ferradelas de mosquitos e cheiro a pólvora queimada. Essas vicissitudes uniram-nos para sempre na amizade”.

“…A perda de dois anos da nossa juventude da guerra colonial em que nos vimos envolvidos, concretamente em Jumbembém, Guiné, não foi em vão: Aí teve origem a amizade que nos une”.

“…A poeira vermelha das picadas de Jumbembém, Guiné, as ferradas de insectos, o troar de morteiros e canhões e o sibilar das balas são memórias indissociáveis do nosso inabalável companheirismo”. 

“…Por paradoxal que pareça, a nossa amizade emergiu dos destroços da guerra colonial, entre mortos e estropiados, em que nos vimos envolvidos lá em terras de Jumbembém, Guiné”.

“…Minas, canhões, morteiros, metralhadoras e outros artifícios bélicos, entre mortos e estropiados, atormentaram-nos a alma durante os dois anos de campanha na Guiné, em terras de Jumbembém. A nossa amizade, que aí teve origem, ameniza essas inesquecíveis e más memórias”.

“…De todas as tormentas de guerra que passámos juntos em Jumbembém, na Guiné, resultaram os laços de amizade que nos uniram para sempre”.

“…Quarenta anos depois, perdura a amizade que nos une, consolidada por momentos difíceis que nos martirizaram a alma na guerra em que nos vimos envolvidos ao serviço da Pátria, em terras de Jumbembém, Guiné”.

 “…A ansiedade que, juntos, vivemos entre mato e capim no isolamento e pavor da guerra de Jumbembém é hoje compensada com a afectividade e companheirismo recíprocos que nos ligam". 

“…A nossa inquebrantável amizade ficará sempre associada aos momentos marcantes em que nos vimos envolvidos na guerra colonial, na Guiné".

“A ti, António Bastos: 

Ofereço-te especialmente este livro para que, cada vez que o leres, em cada palavra e em cada história aqui expressas, sintas a simpatia e a estima de alguém que, tal como tu, em campanha ao serviço da Pátria, trilhou as mesmas matas e picadas do chão colonial da Guiné. Esse alguém que te está reconhecidamente grato pela teu abnegado esforço em prol do reencontro, muitos anos depois, de toda a nossa “família” militar de Jumbembém. Esse mesmo alguém é o teu companheiro de armas, amigo e autor:”

“Para ti, camarada Carlos Vinhal: 

Com os cumprimentos, estima e consideração de alguém que, tal como tu, há muitos anos atrás, se bateu em defesa da Pátria por trilhos e picadas da Guiné. Esse alguém é o teu camarada, companheiro de blogue, amigo e autor:”
____________



Fotografia dos ex-combatentes junto à vivenda do anfitrião José Carvalho de Sousa, assinalado pela seta.

Este último é uma dedicatória especial, a título póstumo, ao meu camarada José Carvalho de Sousa. Em Maio de 2011, organizou a festa de convívio da nossa companhia, a expensas suas, na sua própria casa, numa bonita vivenda em Ruivães, Vila Nova de Famalicão. Dois meses depois, voltávamos lá para o acompanharmos à sua última morada. Paz à sua alma.

“A título póstumo, ofereço especialmente este livro ao meu companheiro ex-combatente, José Carvalho de Sousa, nas pessoas da esposa, D.Goretti, e da filha, Alzira, para que, cada vez que o lerem, sintam a energia e a presença desse seu ente querido, em cujas histórias aqui contadas ele esteve envolvido, tal como eu, na defesa da Pátria. O amigo e autor”.

São estes os sentimentos expressos nos meus autógrafos que traduzem a sólida amizade que une os ex-combatentes.

Junho de 2014
Manuel Luís Rodrigues Sousa

************

Nota do editor:

Ontem tive o prazer de receber em minha casa o nosso camarada Manuel Sousa, acompanhado da sua companheira, e namorada de sempre, Silvina.

Em conversa, fatalmente (des)caída para a Guiné e para o Blogue, percebi no Manuel um certo constrangimento quando referiu que me tinha mandado há já algumas semanas uma mensagem com um texto para publicar, precisamente o de hoje, e que eu não tinha dado resposta nem publicado.

À sua frente fui consultar o correio pendente, e lá estava um conjunto de  mensagens suas, por acaso assinaladas por outro motivo que não os seus Sentimentais Autógrafos.

Concluímos que o meu "esquecimento" se deveu à anexação da sua última mensagem a outras duas que nada tinham a ver com o assunto.

Face a este lamentável lapso, involuntário, peço novamente aos nossos amigos e camaradas que não mandem textos e fotos para publicação pendurados em mensagens de resposta ou reencaminhadas. Por favor preencham sempre o espaço "assunto" e dêem títulos aos textos, para não correrem o risco de o editor criar um título não do agrado do autor.

CV
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

2 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10219: Bibliografia de uma guerra (59): "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", de Manuel Luís Rodrigues Sousa

17 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10811: Notas de leitura (440): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (Mário Beja Santos)
e
21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10835: Notas de leitura (441): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13412: Blogoterapia (255): Em homenagem a dois transmontanos, bravos soldados, o José Tomás Costa (CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), e o Tomás Baptista, meu irmão (Moçambique, 1966/68) [Francisco Baptista, ex-alf mil inf, CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Sem comentários: