segunda-feira, 14 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13397: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (26): O Honório que eu conheci em Angola e em Cabo Verde (Albertino da Silva, West Palm Beach, Florida, USA, antigo piloto dos TACV, em 1979/80)

1. Mensagem do nosso leitor, residente em WestPalm Beach, Florida, EUA, Albertino Dasilva

Data: 13 de Julho de 2014 às 07:14

Assunto: O Piloto Honorio...

Hoje li um boletim no www.barrosbrito.com, acerca do Piloto Honório [Brito da Costa, nascido na Praia, Cabo Verde, em 28/8/1941; foto à direita, cortesia da página do da família Barros Brito ](*).

O Honório era mulato. Filho de um advogado preto de Cabo Verde. A sua mãe era branca, não sei se nascida na cidade da Praia.

Eu conheci a mãe do Honório.

Eu fui Piloto dos TACV [, Transportes Aéreos de Cabo Verde,] cerca de dois anos (em 1979 e1980). Eu tenho agora 68 anos. Vim de Angola e foi em Luanda que conheci o Honório quando ele saiu da Força Aérea. O Honório fez pulverização aérea nas fazendas de Malange... e depois trabalhou nos Táxis Aéreos em Luanda até à  Independência; tendo regressado a Cabo Verde com medo do MPLA.

Quando chegou a Cabo Verde, o Governo inicial da Independência que tinha um ramo associado aos cubanos, mandou prender o Honório. Pois era um Governo do PAIGC contra o qual o Honório bombardeou na Guiné.

Depois de largos meses na prisão, a sua mãe que por acaso era amiga do Presidente Aristides Pereira (PAIGC),  lá conseguiu que o Honório fosse libertado e depois de uma recuperação de longos meses ele foi admitido nos TACV.

O piloto Alexandre Pina Ferreira, que foi colega do Honório na Força Aérea (neste caso,  em Angola) deu-lhe a mão e ajudou o Honório a entrar na companhia.

Em Luanda éramos todos amigos e sempre prontos aos copos... lá no Baleizão... e uns valentes churrascos com bom vinho e cerveja,  não esquecendo as mulatas bonitas que por lá andavam...
Pois eu também era piloto em Angola e o Alexandre Ferreira também me chamou para trabalhar nos TACV, onde estive 2 anos.

Depois disso vim para os EUA e aqui estou há 32 anos, agora reformado na Flórida.

Tenho um filho (Paulo da Silva) que agora voa nos 777 da US Airways (International).

Soube que o Honório teria morrido antes de 1990. E também o Alexandre Ferreira se passou [...].

Claro que o Honório ainda era meio maluco lá na cidade da Praia. Eu fui co-piloto de alguns voos onde ele era comandante. Confesso que não era nada fácil entendê-lo [...].

Na Praia, quando eu lá estive, assisti a várias palhaçadas...
O Honorio tinha um cão Pastor Alemão... como ele se esquecia de dar comida ao cão, o bicho ia definhando lentamente... E um dia o cão morreu mesmo. O Honório sai-se com esta: 
- Então agora que ele se habituou a não comer é que morre ?!... Tenho que treinar outro cão...

Havia muitas histórias do Honorio lá na Praia.

Ele tinha um feitio que não se explica muito bem... Foi o único filho e muito mimado. Depois deixou Cabo Verde para ir para a Escola Agrícola. Como sabemos, la há bom vinho e presunto... Pois também se contam muitas histórias da sua estadia lá em Santarém...

Pois se esta informação pode ser acrescentada lá na sua página,  pode elucidar alguma gente do tempo da guerra. Mas não ponha lá esta história toda...

Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

8 comentários:

Luís Graça disse...

Albertino:

Muito obrigado pelo seu testemunho sobre o nosso camarada (e seu colega de trabalho e amigo) Honório... Não há histórias a "preto e branco", a vida dos homens e os homens que as vivem são sempre mais ricos e complexos do que os nossos possíveis resumos e descrições...

No seu meio profissional (a aviação) tal como no mundo da tropa e da guerra que foi o nosso, o dos "camaradas da Guiné", quando usamos o humor não é para denegrir ninguém. O Honório não cabe nos "retratos" política, social e profissionalmente corretos...

Seguramente que não haverá problemas com as pessoas da família Barros Brito. Irei contactá-los por mail,. até por que usei uma foto (rara) do Honório que encontrei na página da família.

Sinta-se à vontade para continuar a contactar-nos. Também conheço e estimo a sua terra, Angola. Viva a lusofonia!.. Um kandandu, Luís Graça

Rogerio Cardoso disse...

O Honório era um companheirão, sempre pronto para ajudar quem necessitasse de ajuda, mais própriamente quem estava no mato. Nas evacuações nunca deixou ninguém para trás. Lembro que em 1965 no Olossato, depois de uma operação no Oio, salvo erro Maquê, e depois de uma série de emboscadas de granada de mão, a Cart.643 trazia alguns feridos. Não me lembro quantos, mas passava a lotação da DO 27 que o Honório pilotava. Rápidamente ele resolveu a situação, embarcou a malta toda, fez-se á pista e Bissau com eles. Com este feito que não foi unico, de certeza salvou muitas vidas. Homem bom que não o poderemos esqueçer.
Rogerio Cardoso
Cart.643-AGUIAS NEGRAS

Rui Silva disse...

Amigo Rogério:
Corroboro completamente com o teu comentário.
Conheci-o pessoalmente e com um dos maiores prazeres.
O Honório deve ser sempre recordado como um tipo excepcional e grande amigo.
Resolveu, só por ele, muitas emboscadas.
Um verdadeiro herói; se calhar também esquecido, como tantos outros...

Um abração Rogério

Antº Rosinha disse...

Estes grandes portugueses como este caboverdeano, e muitos angolanos, moçambicanos, guineenses, saotomenses e mesmo goeses e timorenses, apesar de serem imensos os que estiveram ao nosso lado, "mataram" imensamente menos gente que aquela meia dúzia de gatos pingados do MPLA PAIGC e FRELIMO que lutaram ao lado de Cubanos e soviéticos.

Sem falar nos outros que lutaram ao lado de chineses, americanos e quem gostasse de diamantes e petróleo.

Jorge Brito disse...

Prezado Luís Graça,

Estejam completamente a vontade a relatar os feitos do saudoso Honório.

Como tive ocasião de dizer ao Albertino Silva, a família de Honório e a minha são muito ligadas por laços de amizade e parentesco.

Agradeço-vos a publicação destes relatos, pois muito pouco se divulgou em CV o valor de Honório

Cordialmente,

Jorge Brito

Luís Graça disse...

Nada como a franqueza entre gentes que falam a mesma língua e têm muitas mais coisas a uni-las do que a separá-las... É seguramente o caso de Cabo Verde e de Portugal...

Obrigado, Jorge Brito.

PS - Aproveito para reproduzir aqui, para conhecimento público, o 2º mail que o Albertino Dasilva, antigo piloto do TACV que trabalhou como o Honório, me mandou, ontem:

Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA

Pois por engano eu mencionei o a pagina dowww.barrosbrito.com e enviei esta mesma mensagem ao tal Senhor que me parece ser Professor da Universidade na Praia em Cabo Verde.

Pensava eu que estaria a mandar a mensagem para si [, Lu+ís Graça, editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]...

Tive que pedir desculpas ao senhor Dr. Brito... o que me causa uma certa vergonha considerando a linguagem practica em que descrevi o Piloto Honorio...

Pensava eu que estaria a adicionar mais uma informacao acerca do Honório... direccionada a si...

So espero que este erro nâo cause uma guerra entre Portugal e Cabo Verde...

Luís Graça disse...

De acordo com a página criada por Jorge Brito, o Honório (ou o Honoriozinho) Brito da Costa era filho de:


(i) Honório Domingos da COSTA
(1901-1941);

)ii) Sílvia Pinto de BRITO
(1914-2004).

Honório Côrte-real disse...

Boa tarde,
Só agora tive conhecimento deste blog! É um deleite ler estas histórias todas. Dizem que ele tinha muitas para contar! Ele divia ser mesmo um grande "Cromo"!!!!
Sou sobrinho/afilhado do Honório Costa e queria apenas emendar que o ele não era filho único.
A minha mãe, Astrid Brito da Costa era irmã dele!
Um grande abraço para todos e não deixem de contar episódios engraçados que tenham partilhado com ele!
-
Honório Côrte-real