sexta-feira, 6 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13248: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (13): T/T Uíge: ementa dos sargentos no dia 2 de novembro de 1968, e o filme "Negócio à italiana" com o Alberto Sordi




Ementa no paquete Uíge no Regresso, 2 de novembro de 1968… mas para Sargentos! No porão, os valentes militares bebiam, jogavam à lerpa, ao abafa e vomitavam as tripas…

Já à noite, pelas 21,15 horas, todos tinham “O Negócio à Italiana” – com o iconfundível Alberto Sordi – os que não vomitavam, claro. (*)

No dia 5 de Novembro de 1968, à tarde chegámos à barra. Ficámos até de manhã esperando ordens para desembarcar no dia seguinte… O Uíge tombava todo para terra, virados para a linha do Estoril e ninguém dormiu. Eu tomei um duche de água fria para refrescar as ideias e fumei 7 maços de tabaco.

Foto (e legenda): © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Mensagem do Mário Gaspar, com data de hoje

Assunto: T/T Uíge: Ementa dos Sargentos no dia 2 de novembro de 1968

Camarada e Amigo

Envio uma ementa ferrugenta, e até assinada por alguns Furriéis Milicianos da CART 1659 , "Zorba", de uma refeição no UÍge na viagem de regresso.

Ao encontrar estas relíquias, perdidas por entre papelada que guardo, verifico que muito ficou por contar no Livro "O Corredor da Morte". Não deveria ter omitido umas tantas situações, e tive a oportunidade de as denunciar.

Daquilo que vou conhecendo da guerra - e daquela porque eu passei em particular - e de toda a experiência de quase 11 anos a conversar com combatentes enquanto um dos dirigentes da APOIAR, quero frisar que o soldado português é o melhor de todos os soldados. O soldado acostumado à enxada, a cavar desde o nascer do sol ao pôr do sol, que habitava por entre pedras, longe da civilização; o soldado que nunca vira o mar, nem sequer o comboio; o soldado que palmilhava quilómetros a pé e por vezes descalço, não
necessitava de treino físico.

Dei várias recrutas; uma Especialidade e até uma de Minas e
 Armadilhas a uma Companhia que estava como a minha em Penafiel, e já com o destino marcado, conheci de perto os melhores dos melhores. E temos direito a quê?  Uma estátua plantada numa praça de uma cidade ou vila, e os mortes poucos possuem o seu nome numa rua.

A Guerra Colonial encontra-se na gaveta, e foi a razão que me levou a escrever o livro. Curioso que entrei em contacto com as três freguesias de onde eram oriundos os que morreram da minha Companhia, e até hoje continuo à espera de uma resposta. Convidei os Presidentes das mesmas a se fazerem representar no lançamento do livro.

Em relação à vila de Abitureiras, do concelho e distrito de Santarém, que tem uma rua com o nome do meu grande amigo Furriel Miliciano Vítor José Correia Pestana, curioso a rua onde está instalada a Junta de Freguesia de Abitureiras, consegui falar via telemóvel com o presidente, respondeu-me após lhe ter enviado uma foto do Pestana, e também uma outra tirada no Monumento dito Combatentes do Ultramar, em Belém, onde no Memorial consta o seu nome. E o que me disse o senhor presidente? Simplesmente que lhe enviasse o livro em PDF. Logo pense, e resolvi não o fazer. Se pretendesse o livro que o fosse buscar, até o dava.

E é desta maneira que nos tratam. Mas a questão não vai ficar por aqui. Tenho o curso de Minas e Armadilhas - é uma forma de me expressar - e vou tratar à minha maneira do assunto. Aliás é o que tenho feito nesta minha caminhada que é a vida.

Isto foi escrito por um artista de circo, talvez um trapezista, e sem rede. Como saiu,  saiu.

Em anexo  segue "A Ementa do Uíge para Sargentos" (**)

Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

 ______________

Notas do editor:

(*) Negócio à Italiana [título original., Il boom]. Comédia, 97 m, 1963. Estreado em Portugakl em 1963. Filme iirigido por diirigido por Vittorio di Sicca, com,os atores Alberto Sordi, Gianna Maria Canale and Ettore Geri Runtime. Argumento: Cesare Zavattini. Produtor: Dino di Laurentiis. 

Sinopse: Giovanni Alberti é um pequneno homem de negócios com uma série de problemas financeiros s que gosta muito de sua esposa. Estamos em pleno "milagre económico italiano" ("il boom"), que vai do in+icio dos anos de 1950 a princípios de 1970.. O problema ce Giovanii é que a esposa ama tanto o luxo e a boa vida que Giovanni precisa de cada vez mais dinheiro para satisfazer seus caprichos e manter um nível de vida para o qual não tem fontes de rendimento... Até que surge uma oferta aparentemente irrecusável....
 (**) Último poste da série > 28 de abril de 2014 >  Guiné 63/74 - P13056: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (12): O inferno de Ganturé, Sangonhá e Gadamael Porto... e as fotos para enganar a família

6 comentários:

Hélder Valério disse...

Meu caro camarada Mário Gaspar

Percebe-se, do tom e do conteúdo de muito do que contas neste teu post, do que 'te vai na alma'.

E tens toda a razão.
Não é preciso que nos 'tratem nas palminhas', o que é preciso é respeito, consideração.

O breve retrato que fizeste do 'soldado português' não está mal tirado, mas talvez esteja 'datado'.
Não sei dizer se hoje em dia é aplicável. As condições mudaram, é capaz de haver algum amolecimento.

A receita que aplicas no final está certa. Persistir, insistir, enfrentar, confrontar.

Um abraço
Hélder S.

Mário Vitorino Gaspar disse...

Camarada Hélder Valério

Foi um desabafo, e aquilo que aprendi na tropa, o que foi pouco, tem a ver com os laços de amizade que existiam - é pena que a vida não permita que nos encontremos mais vezes - e continuassem - tem a ver com todas as injustiças que fomos vítimas. Chegaram-me a dizer "então também um daqueles que andaram a matar pretos?". Pela vida fora lutei pela justiça, e tive o cuidado de transmitir esse princípio aos meus filhos.
Não tenho ódio por ninguém, mas não admito ser injustiçado, nem ver pessoas serem vítimas de injustiças.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

Mário Vitorino Gaspar disse...

Camarada Hélder Valério

Foi um desabafo, e aquilo que aprendi na tropa, o que foi pouco, tem a ver com os laços de amizade que existiam - é pena que a vida não permita que nos encontremos mais vezes - e continuassem - tem a ver com todas as injustiças que fomos vítimas. Chegaram-me a dizer "então também um daqueles que andaram a matar pretos?". Pela vida fora lutei pela justiça, e tive o cuidado de transmitir esse princípio aos meus filhos.
Não tenho ódio por ninguém, mas não admito ser injustiçado, nem ver pessoas serem vítimas de injustiças.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

Mário Vitorino Gaspar disse...

Camarada Hélder Valério

Foi um desabafo, e aquilo que aprendi na tropa, o que foi pouco, tem a ver com os laços de amizade que existiam - é pena que a vida não permita que nos encontremos mais vezes - e continuassem - tem a ver com todas as injustiças que fomos vítimas. Chegaram-me a dizer "então também um daqueles que andaram a matar pretos?". Pela vida fora lutei pela justiça, e tive o cuidado de transmitir esse princípio aos meus filhos.
Não tenho ódio por ninguém, mas não admito ser injustiçado, nem ver pessoas serem vítimas de injustiças.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

Mário Vitorino Gaspar disse...

Camarada Hélder Valério

Foi um desabafo, e aquilo que aprendi na tropa, o que foi pouco, tem a ver com os laços de amizade que existiam - é pena que a vida não permita que nos encontremos mais vezes - e continuassem - tem a ver com todas as injustiças que fomos vítimas. Chegaram-me a dizer "então também um daqueles que andaram a matar pretos?". Pela vida fora lutei pela justiça, e tive o cuidado de transmitir esse princípio aos meus filhos.
Não tenho ódio por ninguém, mas não admito ser injustiçado, nem ver pessoas serem vítimas de injustiças.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

Mário Vitorino Gaspar disse...

Camarada Hélder Valério

Foi um desabafo, e aquilo que aprendi na tropa, o que foi pouco, tem a ver com os laços de amizade que existiam - é pena que a vida não permita que nos encontremos mais vezes - e continuassem - tem a ver com todas as injustiças que fomos vítimas. Chegaram-me a dizer "então também um daqueles que andaram a matar pretos?". Pela vida fora lutei pela justiça, e tive o cuidado de transmitir esse princípio aos meus filhos.
Não tenho ódio por ninguém, mas não admito ser injustiçado, nem ver pessoas serem vítimas de injustiças.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar