segunda-feira, 2 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13226:Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XV): Uma grande fotografia que representa o epílogo da minha passagem pela guerra






Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > Rua principal da povoação... O Valdemar com miúdos, filhos de soldados da CART 11.

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Mensagem de Valdemar Queiroz:

Data: 1 de Junho de 2014 às 22:49
Assunto: Uma grande fotografia que representa o meu epílogo na Guiné


Caro Luís Graça:

Esta grande fotografia é,  para mim,  o meu epílogo da passagem pela guerra na Guiné.

Com excepção de um ataque de misseis a Nova Lamego, eu nunca tive contacto directo ou com a acção de combate, ou ataques a aquartelamentos.

Eu tive muita sorte, mas é verdade. Eu nunca dei um tiro, a não ser a alguma rola.

Não quero dizer, com isto, que eu não fizesse muitas operações  ou de que a nossa CART 11 não tivesse problemas em combate, que os teve e graves, mas eu o ex-fur.mil Valdemar Queiroz, por várias razões ou por sorte, nunca os tive, ....mas a  guerra não é só feita de  combates e eu estive lá.

Esta fotografia retrata bem o que para mim foi (enganosamente) um epílogo de guerra: uma  tabanca sossegada, sem o mínimo vestígio de violências, eu em trajos civis passeando com crianças alegres (as crianças eram filhos dos nossos soldados e tinhamos acabado de jogar à bola).

Foi a minha última fotografia  tirada na Guiné, se calhar foi a primeira daquelas crianças na rua principal em Guiro Iero Bocari.

INESQUECIVEL!

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

6 comentários:

Luís Graça disse...

Belíssima foto, que eu editei em 3 planos...

Valdemar, o que será feito destes meninos e dos pais deste meninos ?...

Luís Graça disse...

Valdemar, a guerra estava por toda a parte... Mesmo em Bissau, ouviam-se ao longe os ataques e flagelações na região de Quínara... Havia um nervoso miudinho em Bissau que eu não sentia no interior, onde nos adaptámos depressa à realidade, mais próxima da guerra... Insidiosa, traiçoeira...


Em Bambadinca, no meu tempo os não operacionais (do vagomestre ao alferes de transmissõe,s do mecânico ao cripto) nucna ouviram (nem sentiram) diretamente as kalash, as costureirinhas, as Degtyarev, os morteiros, os canhões s/r, os foguetões 122, etc., do PAIGC...

Mas alguns (por ex.,os condutores) morreram ou foram feridos gravemenmte com minas A/C, a escassos quilómetros...

Bambadinca nunca foi atacada no meu tempo (julho de 1969/março de 1971)... E o no entanto a guerra, à volta, foi feia e brava (a norte do Rio Geba, e na margem dierita do Rio Corubal)... Que o digam as uniades adidas aos batalhões sediados em Bambadinca...

A porrada que eu levei foi sempre no mato. Nunca conheci a angústia de sair da cama para o abrigo... Enfim, cada um de nós, todos nós, tivemos a nossa guerra, e todos respirámos o ar pesado da guerra... Mesmo em Bissau, mesmo em Bafatá...

Anónimo disse...



Amigo Valdemar

Esta fotografia é um poema, um hino, à amizade e à fraternidade entre os povos!
Tu não és um lacrau, tu és um mensageiro da paz e da concórdia entre os homens de todas as cores, tribos, lugares e etnias.

Um grande abraço

Francisco Baptista

Torcato Mendonca disse...

Concordo com o Francisco Batista, Caro Valdemar

As crianças, nas guerras ou nas sociedades resrespeitadoras dos direitos do homem, quanto mais das crianças,são elas as que mais sofrem

Está na matriz do nosso Povo minorar esse sofrimento e, esta foto diz-nos isso.

Era dificil? Era. fazia-se o possivel.

Ab,T.

(o Google ou outra "coisa" palmou-me o primeiro comentário...vai a sintese e esperamos que passe)

Joaquim Luís Fernandes disse...

Camarigo Valdemar Queiroz

A graciosidade que emana desta foto toca-me profundamente. Ela é um bom testemunho em como a nossa missão não foi só fazer a guerra. No nosso melhor, soubemos partilhar a vida e cultivar amizades. Era bom que os nossos detratores, de dentro e de fora, soubessem o quanto de bem fizemos, com o sentimento de fraternidade ou por altruismo.
Também faço minhas as palavras do amigo Francisco Baptista.

Um abraço
JLFernandes

antonio graça de abreu disse...


Excepcional fotografia!

Colonialistas, esmagando o pobre povo das colónias, metralhando as suas vidas, saqueando o seu território?
Uma pequena parte da nossa História.

Sobretudo, acima de todos os vulgares e depreciativos entendimentos, fomos gente de bem.

A foto fala. É só ver.

Abraço,

António Graça de Abreu