terça-feira, 27 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13200: (In)citações (64) Nunca é demais... reafirmar o apreço pelo alto serviço prestado pela Marinha no apoio às unidades do setor de Catió... [ Manuel Lema Santos / Benito Neves / Victor Condeço (1943-2010) ]


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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67 > 22 de fevereio de 1967 > Regresso da Op Sobreiro. Fotos do álbum de Benito Neves, ex.fur mil

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2010). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 25 do corrente, de Manuel Lema Santos [,1º tenente da Reserva Naval,  imediato na NRP Orion, Guiné1966/68; membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de abril de 2006] [, foto à esquerda]:

Caro Luis Graça e restantes Companheiros Tertulianos,

Não posso passar ao lado da leitura de textos do Benito Neves (*) e outros Camaradas ou Companheiros sem que, tendo partilhado missões e vivências em cenários demolidores da razão humana, me perfile num cumprimento sentido e pesaroso pelo desaparecimento prematuro, quer do Victor Condeço quer de muitos outros camaradas. Alguns, meus amigos pessoais e que por lá deambularam comigo.

Conheci-o [, ao Victor Condeço,]  em escassas mensagens trocadas, grandes na dimensão da partilha e o inquestionável orgulho e gratidão que tanto ele como o Benito Neves reafirmaram no repetido apreço do alto serviço que a Marinha e as imortais LD, LDP ou LDM representaram na sobrevivência daquelas unidade militares sitiadas em remotos aquartelamentos "cus de judas" e outros em "nenhures". Todos lá sabemos ir sem GPS...

Benito Neves
Mais tarde, foi-me concedida a honra e o prazer de integrar o grupo
de um almoço-convívio por eles organizado num restaurante, e imagine-se, com um antigo guerrilheiro do PAIGC, também a senhora, a filha do casal e já com uma neta. A continuidade do Benito Neves no envio de documentos históricos não representa para mim uma novidade. Prefirirei saudá-lo como um necessário e aplaudido regresso. A memória histórica da região de Catió passa necessariamente por testemunhos como o dele. Obviamente que não só o dele, mas também o dele.

Mais do que alargar-me em romagens de saudade à minha memória histórica Guiné, prefiro reencaminhar antigos camaradas e companheiros para as linhas que então publiquei, suportado pelas mensagens trocadas com o saudoso Victor Condeço e o Benito Neves.

Muito grato fico pelo conhecimento que me deste! 

Abraço amigo para todos,

Manuel Lema Santos
 
PS - Vd. poste no meu blogue Reserva Naval > 2 de abril de 2010 > Nunca será demais... .as acções das LD’s, LP’s, LDP’s e LDM’s na Guiné!

Victor Condeço
(1943-2010)
Com especial destaque para a mensagem [, em comentário, de 3 de abril de 2010, ] do Victor Condeço [1943-2010]:

(...) 'Nunca é demais...' afirmar que para Catió, a Marinha foi crucial para a sua sobrevivência como localidade e como região.

A ligação a Bissau e a outras povoações fazia-se antes da guerra, como sabemos, pela estrada para Buba, que a meio percurso ligava com a de Bedanda.

O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada.

As estradas acabariam por ser abandonadas, a partir desta altura o transporte de pessoas e bens era quase integralmente feito por via fluvial.

Até Fevereiro de 1968 a pista de aviação só permitia a operação de Helis, DO-27 e as Cessna dos TAG, só a partir desta data com o aumento da mesma, passaram ali a operar os velhos Dakotas da Força Aérea.

Foi já durante a minha comissão, entre finais de 1967 e início de 68, que foram feitos trabalhos de desmatação ao longo daquela estrada a partir do cruzamento de Camaiupa, na tentativa de a reabrir, o que nunca foi conseguido.

Esta operação mobilizava todos os dias uma enorme quantidade de meios tanto de Catió, como de Cufar de Bedanda.

Os trabalhos, foram interrompidos se não erro, após a chegada do novo CMDT Chefe Brig Spínola e nunca reatados no meu tempo.

Por tudo isto pode avaliar-se a importância que a Marinha teve na criação das condições para a manutenção desta Sede de Circunscrição, que tão disputada foi pelo PAIGC.

Com um abraço
Victor Condeço (...)
___________________

Notas do editor

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade

25 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13191: Memória dos lugares (268): Cachil, que eu conheci em julho/agosto de 1966... Suplício de Sísifo... e de Tântalo: rodeados de água, mas a potável tinha que vir de barco, em garrafões, de Catió ... (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

3 comentários:

Luís Graça disse...

O nosso querido Victor Condeço já não está, infelizmente, entre nós, para confirmar ou corrigir este parágrafo:

(...)"O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada" (...)


O ataque a Tite, a 23 de janeiro de 1963, é considerdao o início "oficial" da guerra na Guiné... Mas há acontecimentso anteriores a ter em conta... Nunca tinha ouvido falar do afundamento da jangada de Bedanda... em 25/6/1962... Ou será 1963 ?

Luís Graça disse...

1. Estou a inclinado a pensar que a data é 25/6/1963 e não 25/61962...

Veja-se aqui este parágrafo, de um poste sobre o 1º comandante do PAIGC, a ser abatido pelas NT, em 1962, em Darsalame:

(...) Sobre esta época, de 1962, em que o PAIGC começou a fazer trabalho de formação político-militar, sobretudo nas regiões de Quínara e de Tombali, sabemos ainda muito pouco. Faltam os testemunhos, orais e escritos. Faltam os relatórios. Faltam as fotos. De resto, era ainda escassa a presença do exército português. Por tudo isso, é um período que se presta à especulação. O filme do George Freire ainda mostra uma Guiné relativamente idílica, calma, tranquila, onde se pode viver e viajar tranquilamente, em segurança, nomeadamente no leste, no chão fula. Mas por quanto tempo ? Quando deixa Nova Lamego e é colocado em Bedanda, em novembro de 1962, com a sua 4ª CCAÇ, o cap Jorge Freire ainda leva consigo a esposa. Mas em dezembro ela é obrigada a regressar a Portugal, por razões de segurança. O que se terá passado ? (...)

Vd. poste de

25 DE JANEIRO DE 2013

Guin é 63/74 - P11005: Efemérides (119): A morte do comandante Vitorino Costa, um revés para o partido de Amílcar Cabral, em 1962, ainda antes do início oficial da guerra

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/01/guin-e-6374-p11005-efemerides-119-morte.html



2. Não estou a imaginar um oficial do Exército Português a levar a esposa para Bedanda, depois dos acontecimentos de "25 de mjunho de 1962": início das hostilidades na zona de Catió, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, e o consequente isolamento da vila de Catió.... isolada" (

Anónimo disse...

Blogue "Reserva Naval": excertos do poste, de 2/4/2010, do Manuel Lema Santos, sobre a açao da Marinha na região de Tombali, e nomeadmaente no apoio a Catió:


(...) Na Guiné, todos os acessos a portos ou simples locais de abicagem que permitissem acesso a localidades habitadas eram demandadas por unidades navais do Comando da Defesa Marítima da Guiné quer em missões de interesse puramente operacional quer, sobretudo, nos contínuos movimentos de apoio logístico às Forças Armadas.

Especial relevo para os comboios logísticos de batelões, organizados pontual ou periodicamente, enquadrados e escoltados por LDM’s, que garantiam transporte a militares, populações, armamento e equipamento. Reabasteciam-se, por essa via, não só aquartelamentos e populações mas, simultaneamente, procedia-se ao necessário escoamento de produtos, parte integrante da economia daquele território.

(...) Se tem sentido referir portos ou simples locais de abicagem, a Vila de Catió (actualmente cidade), não pode deixar de ser uma referência histórica. Situada no sudoeste da Guiné, a norte das ilhas de Como, Caiar e Catunco, e a sul do Cantanhês, pertencia à região do Tombali, ao sector com esse mesmo nome - Catió. Região muito disputada militarmente pelo PAIGC e palco de tão intensos como permanentes conflitos.

Tratava-se de uma localidade que pela localização, acabava por estar encravada e permanentemente sitiada numa zona que o PAIGC controlava na sua quase totalidade. Como um dos principais centros de escoamento do arroz do sul do território, em região densamente povoada, era visitada uma vez por mês por embarcações civis integradas em combóios escoltados.

O acesso fazia-se, quer pelo porto interior, no rio Cadime, afluente do Cagopere, por sua vez afluente do rio Cobade. Este último liga o rio Tombali ao rio Cumbijã e acessível a partir da confluência com o Tombali. Pelo porto exterior, situado no rio Cagopere podia fazer-se o acesso a Catió utilizando a estrada até à povoação.

(...) Esta última solução tinha a vantagem de dispor de maiores fundos e largura do rio para manobra das LDM’s e embarcações civis, embora com meios de abicagem praticamente inexistentes. A estacada existente onde se efectuava a atracação acabou quase em ruínas.

Por outro lado, a utilização do porto exterior estava permanentemente dependente da montagem de um dispositivo de segurança conveniente por parte das forças terrestres durante o tempo de permanência de navios e embarcações, normalmente 3 a 4 dias.

A outra solucão, praticamente a única ultimamente utilizada, era a do porto interior, onde existia um cais de pedra com possibilidade de atracarem as embarcações civis para operações de carga e descarga. As abicagens das LDM’s para o desembarque de viaturas e outro material pesado eram feitas no próprio cais, mas em péssimas condições.

No canal de acesso ao porto interior, a cerca de 30 a 40 metros do alargamento onde se encontrava o cais, havia tendência para um pronunciado assoreamento, com tendência para fechar a entrada o que obrigava à dragagem. Limitação importante era também o porto interior ficar em seco no estofo da baixa-mar, sobretudo para as unidades navais que lá permaneciam durante o tempo de carga e descarga das embarcações civis.

Ali se cruzaram, em diferentes missões, militares de todos os ramos, a maioria do Exército, uma boa parte deles da Marinha e alguns da Reserva Naval. Em encontros ocasionais ou não, ilustres desconhecidos ao tempo, ficou como que emitido um bilhete de identidade definitivo Guiné.

Décadas depois, promove encontros e cavaqueiras descontraídas, suscita relatos contraditórios, renova vivências, esbate diferenças, suscita apoios e amizade. Resumidamente, valores, que hoje configuram tesouros a preservar. (...)

http://reservanaval.blogspot.pt/2010/04/nunca-sera-demais.html