quarta-feira, 26 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12902 Agenda cultural (306): Vila Nova de Famalicão > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e práticas do colonialismo português: dos fins do séc. XIX até 1974 > 4 de abril de 2014, 21h30 > Conferência do doutor Sérgio Neto (CEIS20/UC): "De Goa a Luanda, pensamento e acção de Norton de Matos"




Vila Nova de Famalicão > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e práticas do colonialismo português: dos fins do séc. XIX até 1974 > 4 de abril de 2014, 21h30 > Conferência do doutor Sérgio Neto, do
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidadae de Coimbra (/CEIS20/UC): " De Goa a Luanda, pensamento e ação de Norton de Matos". (*)



1. Divulgação do evento, a pedido do Museu Bernardino Machado.

Entretanto, decorreu já. no passado dia 14 deste mês a segunda conferência deste ciclo subordinado ao título "Ideias e práticas do colonialismo português: dos fins do séc. XIX até 1974".

Fica aqui o resumo dessa sessão, de acordo a página dio Museu Bernardino Macahado (**):

(...) O Prof. Jorge Paulo Fernandes, na última conferência, intitulada “As Ideias Colonialistas de Aires de Ornelas”, realizada no dia 14 de Março do corrente ano no Museu Bernardino Machado, iniciou por evidenciar se faria hoje sentido em recuperar as ideias colonialistas de Aires de Ornelas.

Figura chave portuguesa nos finais do século XIX e nos princípios do século XX, será com Aires de Ornelas que o império colonial se tornou na chave política portuguesa até 1974. Pertencendo à geração colonialista de 1895, o Prof. Jorge Paulo Fernandes evocou Aires de Ornelas em três perspectivas: o homem, a experiência africana e as ideias colonialistas.

Aliás, estas mesmas começaram a ser difundidas pela imprensa, nomeadamente em dois títulos, nomeadamente enquanto director do “Jornal das Colónias” e na “Revista do Exército e da Armada”, fundada por Aires de Ornelas.

Numa fase inicial, Ornelas incorporou no movimento, sem sucesso e numa “fantasia sem preocupação”, nas palavras do Prof. Jorge Paulo Fernandes, que pretendia restaurar Portugal através de uma ditadura militar, numa altura em que o rotativismo estava a ser fortemente criticado pelos republicanos.

Em 1906, perante a dissidência do Partido Regenerador, Ornelas ficará ao lado de João Franco, será Ministro da Marinha e do Ultramar no governo de 1906 a 1907. Estará, assim, com o príncipe Filipe na viagem a África, indo, logo a seguir à implantação da República, para o exílio, chegando a chefiar a revolta militar de Monsanto em 1919.

A questão a saber para o Prof. Jorge Paulo Fernandes é se Aires de Ornelas é um reacionário, tradicionalista ou uma figura do tradicionalismo monárquico. Fiel monárquico, Ornelas nunca nega a ordem pela monarquia constitucional. Será, enquanto conselheiro do Rei D. Manuel em Londres, uma figura de cautela e de moderação, conselhos que incutia no próprio Rei.

No seu contacto com África, Ornelas será o que irá definir a estratégia militar em África, numa altura em que o Estado português irá possuir o armamento mais moderno e completo da época. Desta forma, com um investimento em tecnologia militar e médica, melhor preparação técnica, permitiram tais condições uma série de vitórias africanas, novas proezas que farão olhar para África de forma diferente.

Defendia Ornelas para África a soberania portuguesa pelas soberania das armas, assim como o darwinismo social (isto é, a reacção musculada). Ao mesmo tempo, Ornelas defendia igualmente uma reacção nacionalista africana, reclamando uma política administrativa para as colónias.


Defensor de uma descentralização administrativa, projectando a municipalização (ideia que já vinha de Mariano de Carvalho, uma autonomia administrativa realizada pelos portugueses de Moçambique, não da metrópole), na prática tais ideias não tiveram a sua consequência; e se esteve ao lado dos vencedores, acabou, nas palavras do Prof. Jorge Paulo Fernandes, um derrotado: o império pelo qual sonhou, terá ganho na sua importância estratégica, enquanto que as ideias descentralizadoras não tiveram o seu seguimento. (...)

2. Norton de Matos (1867-1955)

(i) Jorge Maria Mendes Norton de Matos nasceu (1867) e  morreu (1955) em Ponte de Lima; 

(ii) Frequentou o colégio em Braga, tendo ido depois, em 1880, para a Escola Académica, em Lisboa; 

(iii)  Em 1884, iniciou o seu curso na Faculdade de Matemática em Coimbra;

(iv)  Fez o curso da Escola do Exército e, em 1898, partiu para a Índia;

(v) Começou aí a sua carreira na administração colonial, como diretor dos Serviços de Agrimensura;

(vi) Finda a  sua comissão, viajou por Macau e pela China em missão diplomática;

(vii) O seu regresso a Portugal coincidiu com a proclamação da República (1910);

(viii) Dispondo-se a servir o novo regime, Norton de Matos foi nomeado chefe do estado-maior da 5ª  divisão militar;

(ix) Em 1912 tomou posse como governador geral de Angola; s sua atuação nesta  colónia revelou-se extremamente importante, ao impulsionar fortemente o seu desenvolvimento, e protegê-la da ameaça contínua que pairava sobre o domínio colonial português, por parte de potências europeias rivais (Inglaterra, Alemanha e Itália); ficará para sempre associado à criação da cidade de Nova Lisboa (hoje, Huambo), em 1912;

(x) Foi demitido do cargo em 1915, como consequência da nova situação política que se vivia em Portugal durante a Primeira Guerra Mundial;

(xi)  Foi depois chamado, de novo, ao Governo, ocupando o cargo de ministro das Colónias, embora por pouco tempo: em 1917,  é obrigado a exilar-se em Londres;

(xii) Mais tarde, é promovido a general por distinção e nomeado Alto Comissário da República em Angola;

(xiii) Na primavera de 1919, foi delegado português à Conferência da Paz de Veersalhes;

(xiv) Em junho de 1924, exerceu as funções de embaixador de Portugal em Londres, cargo de que foi afastado aquando da instauração da Ditadura Militar (1926-1930);

(xv)  Em 1929, foi eleito grão-mestre da Maçonaria Portuguesa;

(xvi) Recebeu diversas condecorações, entre outras,  a Grã-Cruz de Torre-e-Espada;

(xvii) Em 1948, participou nas eleições presidenciais de 1949, contra o candidato do regime do Estado Novo, o general Óscar Carmona (1869-1951).

Fontes: InfopédiaWikipédia e Almanaque Republicano (, blogue donde retirámos a foto acima, com a devida vénia)

5 comentários:

Antº Rosinha disse...

O Norton de Matos, teve um livro, já disse isso a várias pessoas e aqui também, que há 40 anos ao comprar eu o Portugal e o Futuro do Gen. Spínola, um ex-sargento meu colega de momento nas Estradas em Angola, me mostrou (ainda clandestinamente) e me disse que eram iguais.

Comparámos e eram muito semelhantes, capítulo por capítulo.

"...e protegê-la da ameaça contínua que pairava sobre o domínio colonial português, por parte de potências europeias rivais (Inglaterra, Alemanha e Itália);"

A juntar a Alemanha, Inglaterra e Itália também pudemos juntar nuestros hermanitos aqui do lado.

No caso da Guiné, se não fosse a tripla, Spínola/A.Cabral/URSS, já não existia nada.

Valeu a pena os sacrifícios de Norton de Matos e de nós todos? É que aquelas fronteiras todas, não foram desenhadas a lápis, foi a cinzel e martelo.

JD disse...

Norton de Matos foi duas vezes governador de Angola. Tentou fazer introduções legais em favor da mão-de-obra local, quase escrava, que era arregimentada por corrupção dos sobas.
De ambas das vezes foi destituído do cargo, também por tráfico de influências exercido pelas companhias coloniais, embora se argumentasse a vida de fausto que (se calhar verdadeira) se dizia levar. Assim, foram neutralizadas as tentativas para maior autonomia da colónia.
JD

Antº Rosinha disse...

JD devo-te uma explicação sobre o que pensavam e admiravam alguns antigos colonos de Angola, e seus filhos, em Norton de Matos, muitos mais tarde foram do FUA e do MPLA, e até de outros movimentos.

Mas antes da guerra pensavam uma coisa, depois de 1961, calaram-se.

Gostava muito de poder assistir a essa tal conferência em Vila Nova de Famalicão, mas não me é possível.

Era bestial que alguem assistisse e contasse.

Cumprimentos

Luís Graça disse...

1. Rosinha, publicaremos pelo menos o resumo da conferência... Os organizadores deste ciclo de conferências têm publicado um resumo na página na Fundação Bernardino Macghado...

Já agora, pergunto: qual a relação deste antigo presidente da República com o concelho de Vila Nova de Famalicão ? Não sabia, fui consultra o sítio do PRP:

Bernardino Machado Clique aqui para ouvirClique aqui para ouvirClique aqui para diminuir o tamanho do textoClique aqui para aumentar o tamanho do texto
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Bernardino Luis Machado Guimarães

Nasceu no Rio de Janeiro em 28 de Março de 1851, filho de António Luís Machado Guimarães e da sua segunda esposa D. Praxedes de Sousa Guimarães.

Em 1860, a família regressa definitivamente a Portugal, fixando residência em Joane, concelho de Famalicão. O pai virá a ser o 1.º barão daquela localidade. Em 1872, aquando da sua maioridade, opta pela nacionalidade portuguesa.

Em 1882, casa com Elzira Dantas, filha do conselheiro Miguel Dantas Gonçalves Pereira, de quem teve dezoito filhos.

Faleceu em 28 de Abril de 1944. (...)

Para saber mais, clicar aqui:

http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=36
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2. Rosinha, É bom que se deixe assentar o pó da história, para que possamos olhar e estudar, com distanciamentop físico e afetivo, o pensamento e a ação destes portugueses do passado, que deram, cada um a seu modo, contributos importantes para a afirmação da presença português em África e não só...

Não podemos é julgá-los como julgamos os nossos contemporâneos...

É importante, por outro lado, o conhecimento historiográfico produzido pelos nossos jovens investigadores, nas últimas décadas, sobre as nossas práticas e políticas enquanto país colonizador, desde a Monarquia Constitucional (1820-1910, até à Ditadura Militar (1926-1933) e Estado Novo (1933-1974), passando pela I República (1910-1926)...

Olhemos para este "legado" dos "nossos pais", dos nossos "mais velhos", sem arrogância, sem preconceitos, sem ideias feitas, sem estereótipos, sem a tentação (ideológica) de "vigiar e punir" aqueles que não estão no "nosso campo"... O que não quer dizer que não devemos ser críticos em relação ao passado e aos seus protagonistas...

Mas, para isso, temos que ter um conhecimento mais profundo da nossa história, temos que saber tratar, preservar, acarinhar, divulgar e tornar acessíveis os nossos arquivos históricos, ultramarinos ou outros...

Tu ou qualquer outro cidadão, simples estudioso ou interessado pela história de Angola ou da Guiné, deveria ser acesso rápido, amigável, barato, transparente aos nossos arquivos públicos... Os arquivos são nacionais, são nossos, pagos por nós, contribuintes... Não são dos "doutores" que fazem investigação de arquivo ou dos "documentalistas" que zelam pelos "papéis"...

Modéstia à parte, o nosso blogue tem dado o seu contributo, por pequeno que seja, "como fonte de informação e conhecimento" não só da historiografia militar como também de outros aspetos da nossa presença em África...

Fiquei deveras agradado de termos sido citados, enquanto blogue, numa brochura recente (2012) sobre a arquitetura e o urbanismo da época colonial na Guiné-Bissau, da autoria de uma especialista neste domínio, a professora e investigadora de arquitetura Ana Vaz Milheiro, do ISCTE-IUL...

Hei-de fazer um "nota de leitura" sobre o seu livrinho. "2011: Guiné Bissau",. que resulta de uma viagem de estudo em outubro de 2011..

manuel Batista Traquina disse...

A cerca de 150 quilómetros de Huambo (antiga Nova Lisboa) existe uma pequena localidade de nome Balombo, a deram o nome de Vila Norton de Matos. Era uma bonita localidade onde vivi nos anos de 73/74. gostaria de assistir a essa conferencia, mas ...