sexta-feira, 21 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12873: Blogpoesia (379): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (X): "Canção", de Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546) e "Soneto de guerra", de Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova LamegoFá Mandinga e Binta, 1966/68):

Prezado Dr. Luís Graça:
Naqueles tempos a inspiração já escasseava. Ainda era, no entanto, suficiente para gravar no papel algumas quadras toscas.
Envio algumas.
Um abraço.


Canção

Quem repara na doçura do meu verso?
Eu não canto, senão para alegrar
A alma de quem sofrer e amar,
E em funda tristeza andar imerso.

Como a água que desliza num ribeiro,
Nas pedras a bater, leve e serena,
Seja minha canção assim amena,
E o meu verso, assim, fagueiro.

Alguém recordará a voz amada
A murmurar, baixinho, aos seu ouvidos,
Talvez exangue, triste e desolada,
Sonhos distantes, quase já perdidos.

Quem não sofreu a dor, o desengano?
Quem não viu a tristeza, nos seus dias?
Quem não teve ilusões fugidias,
E não sondou, do amor, o fundo arcano?

Viúva desolada, entristecida,
É filha da verdade a minha voz,
Alento para quem sofrer na vida
Alguma dor, demasiado atroz.

Prenúncio final, de uma vitória,
Do triunfo final, da irmã virtude,
Espalhe-se o meu canto na amplitude,
Alcance o homem bom, a maior glória.

Domingos Gonçalves
Mafra, Maio/1965

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1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Um dia, para um livrito que produzi, incluí este soneto de guerra que nos retrata alguma coisa e que tenho todo o gosto em mandar-te, após ler o teu apelo:


Soneto de Guerra

O tempo parou e a folhagem densa
suspendeu também todo o movimento,
irmanando-se aos homens no momento
da angústia maior e mais intensa.

E todos os sons foram proibidos,
calando-se as aves sem detença,
porque pulsavam pela selva imensa
os medos doutros medos reprimidos.

Demorou o momento do trovão,
alvorada que ergueu, enfurecidos,
os rostos esmagados contra o chão.

Nos gestos maquinais, embrutecidos
o homem surgiu besta e a razão
cedeu ao mundo louco dos sentidos.

Cândido Morais
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12871: Blogpoesia (378): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IX): La crise, c'est fini, vive la poésie! (Luís Graça / Joana Graça)

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