sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12753: (De)caras (15): O meu primo Agnelo Dantas, e meu conterrâneo da ilha de Santo Antão, comandante do PAIGC, com quem me reencontrei no pós-25 de abril, em Bissau, era eu empregado bancário, no BNU - Banco Nacional Ultramarino (António Medina, ex-fur mil op esp, CART 527, Teixeira Pinto, 1963/65, a viver nos EUA, desde 1980)


Guiné > Região do Cacheu > CART 527 (Teixeira Pinto,  Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > António Medina,  fur mil  op esp.


Foto: © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


António Medina, hoje, nos EUA
1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, Antóno Medina, natural da ilha de  Santo Antão, Cabo Verde, e a viver nos Estados Unidos da América, tendo sido fur mil  op esp,  CART 527 (Teixeira Pinto,  Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/651963/65)  e depois empregado bancário, no BNU, em Bissau, até á data da independência:


Data: 20 de Fevereiro de 2014 às 04:05
Assunto: Meu Primo Agnelo


Ei, amigo Graca, estou de regresso com um anexo versando as minhas memórias do encontro que tive em Bissau com um meu primo, soldado do PAIGC. (*)

Trata-se de uma história interessante de dois primos que pertenceram a facções contrárias. Agradeço que o leias e, se achares que merece ser publicado no Blogue, segue em frente. Por favor deixa-me saber o que tiveres por conveniente.

Saúde e um abraço, Medina.


2. A Minha Experiência Pós-Guerra na Guiné-Bissau >  Encontro com o Primo Agnelo Dantas, militante do PAIGC

por Antonio Medina


Ano de 1974, da revolução de cravos em Portugal.

A voz da liberdade e a derrota do fascismo soou aos residentes civis em Bissau, Guiné, bastante cedo do dia 26 de Abril .

Era eu empregado do BNU desde 1967 e vivia como é obvio em Bissau com a minha mulher e três filhos pequenos, os dois primeiros já quase em idade escolar .

Nao me vou alongar nesta estória mas julgo ser um facto bastante interessante que merece ser mencionado, até porque os protagonistas são relacionados com a Guerra e tem laços de família. Todavia deixarei ao vosso critério a publicação dessa mesma estória, se assim ela merecer e se se enquadrar dentro dos parâmetros estabelecidos.

Depressa reinou uma grande euforia em toda a cidade de Bissau. A caça ao homem e o saneamento começou, alguns que por qualquer divisionismo familiar eram falsamente acusados, outros por terem sido informadores da PIDE, perseguição e prisão para aqueles que exerciam cargos de chefia nas repartições públicas ou privadas e que não mais mereciam confiança, aqueles que supostamente apoiaram o regime fascista, etc. Arruaças, espancamentos, ofensas, fuzilamentos (o mais notório foi do respeitado Régulo Batican Ferreira, de Teixeira Pinto, que foi do meu conhecimento pessoal quando estive no chão manjaco em 1963/65)

.Tempos difícieis vividos sob a pressão constante de ser perseguido, espancado ou aprisionado, aliado àfalta de géneros alimenticios que se fazia sentir em todos os aspectos.



Antiga sede do BNU em Lisboa, na Rua Augusta, que hoje aloja o Museu do Design e da Moda (MUDE),  Um dos escudos do escultor Leopoldo de Almeida (1964), que representa a expansão do BNU pelo antigo território ultramarino português, incluindo a Guiné. 

Fonte: BNU. /Reproduzido com a devida vénia...)



Entretanto chegam as forçaas do PAIGC a Bissau depois da maioria das tropas Portuguesas terem regressado a Lisboa e se instalam em quartéis e ocupam outras instalações. O Banco Nacional Ultramarino continuava fazendo as suas operações dirias sem qualquer inconveniente.

Num daqueles dias de calor e humidade, depois das 10:00 da manhã, fui chamado para atender um cliente que me procurava - era um militar natural da Guiné, das forçaas do PAIGC, armado com uma Kalashnikov.

Senti um calafrio pela espinha abaixo quando me aproximei dele que, sem qualquer preâmbulo, apenas me comunicou que eu teria de estar ao meio dia na Sede do Partido, ao lado do Palácio. Esperando o pior, prontifiquei-me a estar presente, não perguntando de quem ou de onde vinha tal ordem, o militar mais não disse, retirando-se apressadamente.

Comuniquei imediatamente à minha mulher o assunto, pedindo-lhe que se mantivesse calma, que se me pusessem sob custódia deveria ela deveria seguir quanto antes para Cabo Verde, Ilha do Fogo, onde tinha familiares. Aliás, ia sendo este o procedimento com quantos prontos para embarcarem foram proibidos de seguir viagem, sem justa causa.

Imaginem o meu sofrimento durante aquele tempo de espera contando os minutos e segundos no meu Cortebert. Foram os piores momentos da minha vida, os nervos e o medo não me deixaram mais trabalhar. Irrequieto e preocupado, sem qualquer concentração, andava de um lado para outro sem saber o que se me adivinhava. Na hora certa, saí correndo em direcção à Sede do Partido para me apresentar a quem (?), no edifício da antiga messe dos Oficiais da Força Aérea Portuguesa.

Quando chego ao pé do sentinela, deparo-me com um sujeito, a uma curta distância, de meia estatura, barba cerrada , com a farda dos revolucionários mas desarmado, sorrindo para mim. Era o meu primo Agnelo Dantas, filho de uma tia, irmã do meu pai . Fiquei deveras surpreendido quando vi a realidade à minha frente, meu primo, um dos combatentes do PAIGC

Ponderei surpreso por alguns momentos, me aproximei sem qualquer relutância e demo-nos então um caloroso e prolongado abraço fraterno. A convite dele entramos no edifício e depois de um trago de whisky John Walker Black que me ofereceu, senti-me mais relaxado para se conversar.

O ambiente era confuso e barulhento, alguns deles sentados cavaqueando com outros das mesas ao lado, à espera que o almoço lhes fosse servido, outros de pé, encostados ao balcão do Bar conversando em alta voz, pessoas entrando e saindo, mostrando falta de preconceitos e princípios pela maneira como se sentavam e se comportavam à mesa, fruto de terem andado longe da civilização na floresta da Guiné, durante aqueles anos todos.

Sentamo-nos os dois numa mesa mesmo no canto da sala, foi ele pessoalmente ao balcão, pediu duas cervejas fresquinhas. Falamos da nossa infância e dos familiares que se queixavam da falta de notícias dele desde que seguiu para estudar em Françaa. Atentamente ia eu ouvindo o tecer da sua experiência no mato, satisfazendo a minha curiosidade com as perguntas que lhe fazia.

Fiquei sabendo que nao desconhecia a minha presença na Guiné, nao só do tempo militar assim como de empregado bancário. Que tinha sido aliciado e recrutado com a idade de 20 anos por Amílcar Cabral, para a luta de Libertaçao da Guiné e Cabo Verde. Que embarcou para Cuba e se formou na Escola Militar em Havana. Que no tempo do General Spinola foi ele quem numa das noites bombardeou Bissau com três misseis teleguiados disparados da Ponta de Cumeré. Carregava com ele um diário replecto de informações recebidas dos colaboradores do Partido.

Chegam mais elementos, identifiquei-os como cabo.verdeanos e reconhecemo-nos como amigos de infância, alguns ex-colegas do Liceu Gil Eanes em S. Vicente, Cabo Verde:

  • Honório Chantre,
  • Silvino da Luz,
  • Júlio de Carvalho,
  • Osvaldo Lopes da Silva, etc.

Era um grupo que também queria exteriorizar a sua alegria pelo fim da guerra e Independência da Guiné, reconhecida por Portugal, aguardando a vez de também lhes ser servido o almoço logo após haver mesas desocupadas.

Reinou grande alegria entre todos nos pelo reencontro e amizade, rejuvenescida no momento. Foi bebida à vontade para quem quisesse, cerveja Sagres bem geladinha, goles de whisky Johny Walker com gelo, eram sobras da velha senhora deixadas aí a custo zero por aqueles que partiram. Como petisco,  ostras e camarões cozidos e temperados com molho de piri-piri forte, mancarra torrada sem casca, tudo para matar a sede e o suor que trazia aquele calor asfixiante. De Jure, não sabia absolutamente nada que fossem filiados no Partido como combatentes. Apenas se ouvia dizer que saíram à procura de trabalho no estrangeiro.

Quando regresso a casa para o meu almoço, encontro a minha esposa bastante preocupada, com os nervos à flor da pele, sem ainda saber do que se tratava. Teve ela um grande alívio quando pela primeira vez conheceu o primo Agnelo mas discretamente me consciencializou e me convenceu que devíamos deixar a Guiné para outras paragens onde pudéssemos cuidar da educação dos nossos filhos e viver com mais tranquilidade.

Durante algum tempo o primo Agnelo esteve em Bissau e mantivemos óptimas relações. A minha mulher passou a cuidar das roupas dele, com frequência se juntava-se a nós para o nosso rancho. Depois seguiu para Cabo Verde e ocupou o cargo de Chefe das Forças Armadas Revolucionárias do Povo ( FARP ). Mais tarde foi Chefe do Estado Maior das Forcas Armadas. Hoje é reformado como Coronel do Exército Caboverdeano e vive na cidade da Praia.


Antonio Cândido Medina

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

(**) vd,.  A Semana, [Em Linha], 27 de janeiro de 2007. "Retratos:  Agnelo Dantas, soldado de Cabo Verde", por  Gláucia Nogueira

Reprodução de excertos com a devida vénia:

(...) Agnelo Medina Dantas Pereira, coronel reformado das Forças Armadas, foi condecorado a 15 de Janeiro último com a medalha da Estrela de Honra pelo chefe do Estado-Maior das FA. Ele que foi o primeiro a ocupar este cargo e ainda antes de existir esta designação foi o comandante geral das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) e das Milícias Populares, recorda para asemanaonline   os primórdios do exército cabo-verdiano. (...)

Agnelo Dantas.
Foto do Arquivo Amílcar
Cabral. Fonte:  Casa Comum 
(Reproduzido
com a devida vénia, em formato
 reduzido. (LG)

(...) Dantas Pereira, cujo pai é da Brava e a mãe de Santo Antão, nasceu nesta ilha em 1945. Assim, nem tinha completado 20 anos quando integrou, como o mais jovem entre eles, o “grupo de Cuba” - razão pela qual foi agora escolhido para receber a medalha representando os combatentes que rumaram àquele país da América Central para dois anos de treino militar com o objectivo de fazer um desembarque armado em Cabo Verde.

“Em 1965, encontrava-me em Paris quando fui contactado por Pedro Pires, e depois por Cabral, e convidado a integrar o grupo de estudantes e operários que iria fazer um treino militar - inicialmente nem sabíamos onde, depois é que soubemos que era Cuba”. Chegaram a esta ilha da América Central depois de uma passagem pela Argélia, onde já se encontrava uma parte do grupo, formado por 30 homens e uma mulher.

Nessa época, diz Dantas Pereira, “ninguém pensava na Guiné”. “Para nós tratava-se de lutar pela independência de Cabo Verde”. A formação militar, salienta, tinha como objectivo um desembarque armado em Cabo Verde. “Penso que seria difícil a nossa mobilização para irmos para a Guiné, pois não havia um nível de consciência que nos fizesse ter aquela visão estratégica da luta única. Só mais tarde é que viemos a perceber isso”, considera.

A ida de um grupo do PAIGC para a terra que havia seis anos vivia sob a revolução de Fidel Castro fora organizada por Che Guevara, a quem, numa passagem por Conacri, a direcção do partido terá solicitado apoio nesse sentido. “Refira-se que eles já tinham experiência de treinar grupos, em especial latino-americanos”, diz o militar.

“Foram cerca de dois anos, isolados nas montanhas, ou em quartéis formados ad hoc, para nós. Foi muito exercício táctico, físico, até o dia do juramento - 15 de Janeiro de 1967 - quando Cabral se desloca a Cuba para se reunir connosco”, conta Agnelo Dantas, que diz, estarem, na altura, todos “prontos para o desembarque”. “Não tínhamos a noção do perigo que se ia enfrentar, havia era a vontade de fazer alguma coisa”, recorda.

Contudo, pouco tempo depois, com a morte de Che Guevara (em Outubro de 1967), os cubanos têm a noção de que os seus serviços de informação estavam infiltrados, já que o próprio cerco a Che terá resultado desse facto. Foi então adiada sine die a ida para Cabo Verde, e os militantes partiram para a União Soviética para complementar a formação.

“Se em Cuba fizemos a guerra de guerrilha contra guerrilha, na URSS fizemos a guerra clássica”. Assim, ao longo de 1968, Dantas especializa-se em artilharia e explosivos. Enquanto isso, a ida para Cabo Verde ia ficando cada vez mais longínqua. Para não ficarem indefinidamente inactivos põe-se-lhes pela direcção do partido a ideia de ir para a Guiné. “Então, já com a consciência de que o adversário era um só, a aceitação foi unânime, mas se fosse no início penso que seria muito difícil."

(...) Agnelo Dantas tem o seu baptismo de fogo no início de 1969, quando abrem a Frente Leste. Daí em diante e até 1974, ora ao lado de Nino Vieira, ora de Pedro Pires, entre outros camaradas, participou em todas as frentes de combate, sempre no mato. Primeiro, foi chefe de pelotão, depois chefe de bateria e em 1973 já tinha o seu posto de comando, na Frente Norte.

Questionado sobre a pior recordação desses tempos, afirma: “Cada dia é um dia mau, pois a guerra é uma situação anormal. Em certos combates perdemos um amigo que estava ao lado, mas temos a sorte de não apanhar com uma bala, enterramos pessoas que nos são próximas...”

Questionado sobre a pior recordação desses tempos, afirma: “Cada dia é um dia mau, pois a guerra é uma situação anormal. Em certos combates perdemos um amigo que estava ao lado, mas temos a sorte de não apanhar com uma bala, enterramos pessoas que nos são próximas...”

E boas recordações, também ficaram algumas? “Os melhores momentos eram quando estávamos a descansar, entre duas operações, e à noite íamos dançar ao som dos tambores e à luz das fogueiras nas bases civis. Éramos jovens!”

Para Dantas Pereira, a contribuição do “grupo de Cuba” foi de grande qualidade, entre outros aspectos por terem melhorado a utilização de armas mais sofisticadas e influenciado nas questões de organização e disciplina. “Mais tarde, com os foguetes terra-ar [Strela], conseguimos diminuir a autonomia que o adversário tinha no ar. E quando o exército perde a iniciativa perde a guerra. Isso fez-nos também perder o medo dos aviões, que é uma arma terrível quando não se tem o antídoto contra ele.”

(...) Depois do 25 de Abril e durante o período de transição para a independência de Cabo Verde, altura de intensa luta política e diplomática, em que segundo Dantas, foram trazidas armas da Guiné, para qualquer eventualidade, o militar continuou “ligado a esta parte mais barulhenta”. Recorda desse “momento de reforço do nacionalismo cabo-verdiano, a adesão em massa de jovens voluntários, gente que veio das Forças Armadas portuguesas, desertores... Começamos então a erigir as Forças Armadas cabo-verdianas. Tanto é que a 5 de Julho [de 1975, data da independência de Cabo Vercde,]  já tínhamos exército!”

Cerca de 20 anos depois, o primeiro chefe do Estado-Maior do exército cabo-verdiano iria para a reforma. Antes disso, licenciou-se em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (1988 a 1992) e participou de uma missão de paz em Moçambique. Ao regressar do Brasil, já se tinha dado a mudança do governo do PAICV para MpD e, dos oficiais dos tempos do partido único, foi o único que continuou em funções. Fê-lo, “para incómodo de alguns”, por entender que “um soldado é soldado de Cabo Verde e não de qualquer partido”. (...)


(**) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

6 comentários:

Anónimo disse...

Antonio C. Medina
31 fev 2014 15:13


Olá, amigo Graça, agradeço imenso a tua apreciação ao meu artigo. É ele mesmo, Agnelo Medina Dantas Pereira, tudo se passou em Junho de 1974 quando nos reencontrámos em Bissau.

Comunicamo-nos com frequência através da Net mas nunca voltámos a falar da guerra, águas passadas nao movem moinhos.

Uma pergunta, tenho uma versão do meu escrito um pouco mais alongado mas com mais pormenores do burburim que se vivia na altura, será que preferes o que já tens em teu poder ?
Saúde e aquele abraço,

Luís Graça disse...

Esta é uma realidade, ignorada ou esquecida por muitos de nós... Na Guiné, no teatro de operações da Guiné, houve famailares e parentes que se combateram de armas na mão, em campos opostos, quer guineenses, quer caboverdianos...

Não foi o caso do nosso camarada António Medina, já que o primo Agnelo era mais novo e aimda devia estar em Paris, quando o primo António terminou a sua comissão em 1965 e regressou à vida civil...

Não temos (eu não tenho...) estatísticas sobre os caboverdianos que combateram de um lado e do outro... De qualquer modo, é interessante a referência do António à presença, nesse encontro com o primo Agnelo, em Bissau, em junho de 1974, de outros combatentes do PAIGC, de origem caboverdiano, ex-colegas do Liceu Gil Eanes, no Mindelo, em São Vicente...

No Liceu Gil Eanes, fundado no tempo da I Repúblcia, em 1917, com a designação de Infante Dom Henrique (que manteve até 1938) estudou Amílcar Cabral bem como a "elite portuguesa-cabo-verdiana". Até 1961 era o único estabelecimento de ensino secundário do arquipélago, e por lá passou praticamenter toda a elite local...

Os mais afortunados, os filhos das famílias com posses, seguiam depois para a metrópole para prosseguir os estudops superiores na universidade... Eram os/as "m'ninos /as de São V'cente"...

(Fonte: Luís Batalha, investigador do ISCPS, autor do capº 6º ("A elite portuguesa cabo-verdiana: ascensão e queda de um grupo social intermediário") do livro coordenado por Clara Carvalho e João Pina Cabral, "A persistência da história. Passado e contemporaneidade em África" (Lisboa, ICS, 2004, pp. 191-225).

Ver aqui em formato pdf:

http://www.iscsp.utl.pt/~lbatalha/downloads/eliteportuguesacaboverdiana.pdf

Antº Rosinha disse...

António Medina, os bancários ultramarinos em geral deram-se bem com a revolução quando retornaram à Metropole.

Com as nacionalizações e consequentes reprivatizações, muita malta defendeu-se bem.

Não terás tu emigrado sem aproveitar o «Retorno»?

É que o "caminho das pedras" não foi mostrado a toda a gente.

Imagina que neste momento já tem gente com 65 anos a emigrar para as américas porque perdeu o tal caminho das pedras.

António é bom ouvir a experiência de Caboverdeanos.

Anónimo disse...

Antonio C. Medina
21 bfev 2014 22:30


Desculpa lah tomar-te tanto tempo com este meu artigo. Eh que fiz alguns ajustamentos para que caisse melhor dentro da realidade do que se viveu. Assim, se puderes substituir o primeiro que te enviei por este, agradecia.

Vou preparar uma outra estoria relacionada com a chegada da CART 527 na Guine e o nosso primeiro encontro com as FARP, etc. Procurarei ser o mais realista possivel desenhando as dificuldades daquela vida sem quartel propriamente dito.

Um optimo fim de semana e um abraco.

Luís Graça disse...

António, as tuas histórias da CART 537 serão bem vindas, tal como as do teu tempo, como civil, em Bissau...

Entretanto, já substitui, como pediste a 1ª versão do teu poste...

Fica bem. Luis Graça

PS - Quando deixaste Bissau, em 1974 (?), foste para Cabo Verde ? Ou para Lisboa ? Continuaste no BNU ? E, já agora, o que te levou a emigrar para os States em 1980, aos 40 anos, a meio da vida ? Razões económicas, políticas, outras ?

Se voltaste para Cabo Verde, imagino que os primeiros tempos também não tenham sido fáceis, com o PAICV no poder e a dsicriminação dos que "colaboraram com o colonialismo"... Mesmo com o primo Agnelo bem colocado nas altas esferas do poder...

Claro que não tens que responder, para mais em público, a estas questões do foro pessoal... Mas sabes como é a curiosidade dos sociólogos...

Hélder Valério disse...

Caro camarada António Medina

Os meus afazeres não me permitiram saudar-te aquando da tua apresentação.
Faço-o agora, na esperança de que te possas sentir bem e que nos vás contemplando com as tuas memórias, tanto a da vida militar como a da vida civil na Guiné, já que isso também é nosso contemporâneo. Por exemplo, sendo funcionário do BNU a partir de 1965 até à independência, estavas por lá quando fiz a minha comissão e precisei de tratar assuntos no Banco. Quem sabe se não foi contigo? Não tenho memória disso mas lá que, por aí, fomos contemporâneos, isso fomos.

Não tenhas a preocupação de 'contares tudo de uma só vez' porque o Blogue precisa de ser 'alimentado' e corres o risco de pensares que esgotaste as recordações. Vai com calma.

Este teu relato é interessante. O teu primo Agnelo deve ter resolvido fazer-te uma surpresa agradável mas não contou com a angústia que viveste (que podia ter sido fatal) até chegares ao 'bom momento'.
Quando se bate por ideais tudo parece bom, tudo se supera.

Falas aí de um conjunto de 'caboverdeanos' que se envolveram e de forma decisiva na luta pela emancipação.

Conheci e conheço alguns cabo-verdeanos. Fui aluno de Terêncio Anahory, que pertenceu à geração de jovens poetas desses anos 60. Fui aluno dum excelente professor de matemática, Francelino Gomes, do qual guardo a lembrança de grande professor e de quem me ajudou a abrir perspectivas escolares, conheço também Orlando Barbosa, Luís Figueiredo, Nilton Vieira, os dois primeiros "regentes agrícolas", sendo o Luís familiar do actual Presidente da Câmara do Sal.

Abraço
Hélder S.