domingo, 5 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12546: Facebook...ando (32): "Silêncio de Pedra", um texto de Paulo Costa, ilustrado pelo fotógrafo Rui Pires

1. Incitado pela mensagem do dia 3 de Janeiro de 2014 do meu amigo Fernando Jorge Rocha dos Santos, ex-Alf Mil de Eng.ª que fez a sua comissão de serviço em Angola, aqui fica o texto e a foto que ele me mandou e que encontrei publicados, no Facebook, na página "Aldeias de Portugal":




SILÊNCIO DE PEDRA 

As tuas mãos são as que ainda sinto. 
Nem queria acreditar, o teu olhar, quadro que jamais havia sido pintado. 
Recordo, na saudade, o começo do nosso amor, lá atrás, como se fosse ontem. 
Vida madrasta, aquela que te levou à guerra, aquela que a guerra me roubou, tu. 
Dizias que nem sabias ao que ias, quanto mais para onde ias. 
Hoje ninguém fala, apenas preferem divagar sobre as boas relações com África. 
Pobres coitados, aos milhares, jovens, partiram para o Ultramar, muitos para nunca mais voltar. 
Para morrer ou matar, por uma bandeira que um dia nos havia de abandonar. 
Odeio armas, como odeio! 
Malditas guerras, malditos homens, os que as criam. 
Se soubessem o tamanho do amor que um dia sentimos, muitos suicidavam-se. 
Recordo o beijo que me deste, na face, antes de partires. 
Prometeste-me que regressavas, para pedires a minha mão aos meus pais, para casar. 
Coitadinho, foste, para morrer ou matar. 
Não sei quantos mataste, mas sei que morreste. 
Sei!? Talvez não saiba, pois ainda vives dentro de mim, assim, numa forma abundante. 
Pergunto-me, tantas vezes, quem sou eu? 
Não saberei ao certo, mas sei que sou o que sempre desejei ser: tua. 
E cá continuo, sempre, a amar-te eternamente, só, abraçada a este silêncio de pedra. 

Texto: Paulo Costa
Foto: Rui Pires
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Publicado aqui com os devidos créditos aos autores do texto e foto, a partir da página Aldeias de Portugal no Facebook
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12517: Facebook...ando (31): Fotos de armamento do PAIGC apreendido, em 1973, por forças do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) (Angelo Gago, ex-sold cond auto, residente em São Brás de Alportel)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caros Camaradas:
Está aqui, neste poema, um grito contra as guerras, a constatação do sofrimento e infelicidade que elas nos trazem e da sua inutilidade. Mas sempre houve guerras, não se sabendo se sempre as haverá. É que, se o leão só ataca de barriga vazia, os humanos, mesmos gordos e ricos, atacam na mesma.

Um abração
carvalho de Mampatá