terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12528: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (17): Doença do sono: investigação sobre conhecimentos, atitudes e comportamentos (Luís Costa, Universidade de Coimbra)


A mosca tsé-tsé  (vocábulo que vem do banto), transmissora da Doença do Sono. Fonte: Wikipédia (reproduzida com a devida vénia...)


1. Do investigador da Universidade de Coimbra, o antrópologo Luís Costa, com datas de  3 e 4 do corente:


(i) Bom dia.

Sou investigador da universidade de Coimbra a realizar investigação sobre a doença do sono na Guiné no tempo colonial.

Pedia se tem conhecimento ou conhece alguém no seu circulo de antigos combatentes na Guiné (enfermeiros, médicos, ou outros militares) que pudessem falar sobre a doença, a Missão do Sono, e os serviços de saúde (militares e civis) na Guiné colonial.

Peço-Lhe AJUDA, para poder aceder ao testemunho importante de pessoas importante para a minha investigação.

Cumprimentos, Luís Costa


(ii) Obrigado pela Vossa ajuda.

Esta investigação é de cariz histórico/ antropológico, pelo que todas as informações são importantes.

Prof. Luis Graça, sabe de alguma documentação/ arquivo onde possa ter acesso a como eram os serviços de saúde no tempo da Guiné colonial?

Agradecia a divulgação no vosso blogue, pois talvez encontre pessoas que me possam dar informações preciosas.
Muito obrigado, Luis Costa

2. Respostas do nosso editor L.G.:

(i) Luís Costa: OK. Obrigado. Vou ver o que há (**)...Podemos fazer um apelo à malta do blogue. Em Bambadinca, havia a "Missão do Sono", desativada. Passei lá muitas noites... com os meus soldados africanos... Depois do ataque a Bambadinca, em 28/5/1969, a "Missão do Sono" (uma morança, no reordenamento de Bambadincazinho) passou a ser, de noite, guarnecida por um Grupo de Combate, funcionando como segurança imediata do quartel de Bambadinca (que ficava a menos de 1 km)... Um abraço. Luis

(ii) Luís: Eu nessa altura não estava... na saúde. Mas vamos fazer o nosso melhor para encontrar fotos e documentos que são relevantes para o seu trabalho ou deem algumas pistas... Para já fica a saber que havia em certas circunscrições e postos administrativos, no chão fula (caso de Bambadinca) "Missõesdo Sono" (... mas já desativadas quando eu lá cheguei, em Julho de 1969)... Os fulas, como sabe, são grandes criadores de gado...

Um abraço. Luis Graça

3. Comentário final de Luis Costa

Bom dia Prof. Luis,

Bambadinca deveria ser o caso de uma Tabanca-Enfermaria, como outras existentes na Guiné. No que diz respeito aos antigos militares, interessam-me muito especialmente questões como: 

(i) o que sabiam da doença quando partiam de Portugal? tinham alguma preparação prévia? (já houve um militar que me disse que eram todos vacinados contra a mosca tsétsé...) (***):

(ii)  representações, medos e receios da doença no terreno;

(iii) se alguém teve/ ou viu a experiência da doença, etc, etc...

Devo ir no próximo ano à Guiné fazer investigação no terreno e decerto a zona dos fulas e mandingas (Bafatá e Gabú) será uma das minhas atenções, não só por a doença atingir as pessoas, mas também os animais....

Numa investigação antropológica, são todas estas representações sociais e práticas culturais em torno da doença que me interessam.

Muito obrigado pela sua ajuda, Luis Costa

_________

Notas de leitura:

(*) Último poste da série > 11 de novembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

(**) Vd. postes de:

27 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12511: Notas de leitura (547): "Portugal em África", por Richard Pattee (Mário Beja Santos)

30 de junho de  2011 >  Guiné 63/74 - P8492: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (6): A Doença do Sono (Rui Silva)
(***) Para saber mais sobre a doença do sono, procurar aqui, no sítio do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

11 comentários:

Luís Graça disse...

Na realidade, há poucas referências, no nosso blogue, à doença do sono que, no nosso tempo, ainda era um problema de saúde pública na Guiné...

Confesso, publicamente, a minha (pouco santa) ignorância sobre esta doença, ignorada ou esquecida... Mas o assunto interessa-me, vou procurar documentar-me melhor sobre o problema e as medidas que foram tomadas (ou não), na Guiné, para prevenir e combater a doença...

Não tenho, no entanto, lembrança de nenhuma medida especial, no meu tempo (1969/71), tomada pelas autoridades de saúde (militares)...

Nunca me falaram da doença, não tenho ideia de ter feito qualquer profilaxia... A única "mezinha" que tomávamos, para além do pacotinho diário de "cloreto de sódio" contra a desidratação, era o velho quinino para fazer a prolifaxia do paludismo.,,

De pouco nos valeu: muitos de nós apanhámos o paludismo... Mas do raio da doença do sono, não tive conhecimento de nenhum caso entre os tugas... Em contrapartida, passei muitas noites na "missão do sono" de Bambadincazinho...

Anónimo disse...

DOENÇA DO SONO

Doença provocada por um protozoário.

Existem vários tipos em África.

Aquele que interessa, no caso da Guiné, é o tripanossoma brucei gambiense e é transmitido pela mosca tsé-tsé (vector)proveniente de outros mamíferos infectados, nomeadamente a vaca.

É uma doença com uma evolução muito lenta (décadas)atingindo na fase final o sistema nervoso central,provocando apatia e sonolência diurna..e normalmente insónia à noite.

Julgo que na década de 60 se considerou quase extinta na Guiné,por isso o abandono das denominadas "missões do sono".

Como é uma doença muito arrastada no tempo e a média de vida na Guiné infelizmente é baixa a grande maioria das pessoas morre por outras causas podendo estar infectada pela doença.

Não vi nenhum caso ou pelo menos suspeitei, na região de Gabú,quando aí estive como voluntário da AMI em 98.

Devido às condições sanitárias existentes actualmente é muito provável que a doença tenha recrudescido.

Tem tratamento e cura com excepção da fase final da evolução da doença onde os danos neurológicos são irreversíveis.

C.Martins

Luís Graça disse...

Obrigado, C. Martins, e sê bem aparecido.

Um bom ano para ti, em termos pessoais e profissionais.

Importas-te que dê o teu contacto ao antropólago Luís Costa ?

Anónimo disse...

Caro camarada L.Graça

Não me importo nada.

Só que em relação à investigação antropológica em causa não serei de grande utilidade porque pouco sei sobre o tema.

Um alfa bravo

C.Martins

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camadas .
Antes de mais nada espero que tenham tido umas excelentes entradas neste novo ano.
Em relação à mosca tsé-tsé posso testemunhar que quando estive no Biambe no ano de 1972 e durante uma missão de patrulhamento tivemos um Alferes que foi picado por essa dita mosca e foi o cabo dos trabalhos para conseguirmos chegar ao aquartelamento pois que o Alferes de seu nome Barros e que era de Cascais ,adormeceu literalmente e conseguíamos fazer com que caminhasse mais completamente adormecido, por mais agua que jogasse-mos sobre a sua cabeça na tentativa de ele reagir nada adiantava e na verdade nem sei como conseguimos fazer com que ele caminhasse , embora parte do percurso lá o íamos transportando ás costas que como sabem em pleno mato e atravessamento de bolanhas não era nada fácil. Só quando chegamos ao aquartelamento é que foi analisado pelo médico que entretanto veio de Bissorã da sede do batalhão e nos disse que o dito Alferes tinha sido mordido pela tal mosca.
Na verdade o nosso camarada e amigo Barros já era de natureza dorminhoco ,mas era um grande camarada que até hoje nada mais soube da sua existência. Era um dos nossos Alferes mais carismáticos da nossa 3ª Companhia no sediada no Biambe penso até que ele conseguiu passar a comissão sem "reparar" onde estava, conseguia sempre enfrentar todas as vicissitudes do mato de maneira que parecia nunca lá estar. Tenho saudades deste camarada de seu nome Barros que carinhosamente o apelidámos de "Dona Antónia" porque segundo se constava ele era de famílias "Brasonadas" e um dos descendentes da dita Dª.Antónia .
Bom esta questão da mosca fez-me lembrar esse episódio e logo com a personagem que mencionei.
Um abraço a todos e lembrar que cá no nosso país há cada vês mais gente a "dormir" em pé e nem precisa de mosca (ou seja, tal vês nos façam é andar COM A MOSCA)
Mais uma vês BOM ANO
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Caro camarada H.Cerqueira

Se é assim como dizes..vou passar a prescrever uma picada de mosca tsé-tsé, atulhada de tripanossomas, à noite..para quem tem insónias.

Só que têm que ser importadas e nos tempos que correm devem ser caríssimas.

Um alfa bravo

C.Martins

Henrique Cerqueira disse...

Camarada C. Martins
Bem me parece que o teu receituário será ideal em certas circunstâncias, noutras talvez não pois que segundo a tua informação no comentário anterior a picada pode provocar insónias á noite. Ora esse "receituário" seria o ideal para os tais que passam a vida a "dormir em pé ". Um abraço C. Martins e sempre "alerta".
Henrique Cerqueira

Arménio Estorninho disse...

Caro Amigo Luís Costa Saudações,

Quanto ao seu pedido a solicitar informação sobre a doença do sono, pretendo eventualmente dar-lhe alguma ajuda e no entanto para contato necessito do vosso numero de telefone fixo, bem como do seu E-mail.

Quando estive em Ingoré - Guiné, (Maio/Junho-1968) presenciei um caso da doença do sono.

Relativamente a Moçambique, também tenho um suplemento do Diário da Manhã de 09/07/1968, onde consta duas crónicas sobre a luta contra a tripanossomiase e combate à doença do sono pelos sectores da pecuária.

Arménio Estorninho

CT1FDB - Delfim Rodrigues disse...

Em Suzana existia uma delegação da missão da tripanossomíase mas apenas tinha um enfermeiro africano, não me lembro de ter, na população, pessoas com essa doença dizia-se que em tempos era endémica mas que foi quase eliminada e não constituia problema quando eu por lá passei

Delfim Rodrigues
Ex 1º cabo Aux Enf
Suzana e Varela 1971/73

VOX UNIUS VOX NULLIUS disse...

O meu contacto mail é:

luismncosta@gmail.com

Agradeço a todos quantos possam contribuir com pequenas "estórias", factos, entendimentos sobre a doença na vossa estada na Guiné... é precisamente isso que me interessa...
Muito Obrigado.

Unknown disse...

Caro Luis Graca ja alma vez ouviu falar da doenca HISTOPLASMA AFRICANA DUBOZIL?
fui um dos comtenplados por esta terrivel doenca que mata sem darmos por ela; silenciosa, mortifora, que nos vai conssumindo aos poucos,nao sei quantos a terao contraido, nao deveria ser so eu,e provavel que foram mais e que alguns terao falecido sem saber o que lhes conssumui a vida a mim foram 6 meses no hospital o pior foram os danos da cura, mas e outra historia


sem mais um abraco de um ex combatente

Jose Camara

ps,esta doenca tanben e provocada pelos nossos (AMIGOS MOSQUITOS0S) Jose Camara