segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12524: Os Nossos Regressos (29): Chegados a 2 de Abril de 1974, mal podíamos imaginar que a guerra estava a acabar (António Eduardo Ferreira)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 28 de Dezembro de 2013:

Amigo Carlos
Votos de boa saúde extensivos a todos os camaradas que passaram pela Guiné.

Hoje vou falar da viagem mais desejada, o regresso a casa.


Aqui estava encostado a uma papaeira, no local onde passei os últimos meses de comissão, COMBIS, faltavam poucos dias para regressar à metrópole, mas a incerteza quanto ao regresso era total, o tempo “normal” de comissão já há muito que terminara. Só no dia, e com o avião no ar, nos convencemos que era mesmo verdade, estávamos a deixar a guerra e a regressar a casa, eram cerca de dez horas locais quando embarcamos no aeroporto de Bissalanca.

Antes, tinha aproveitado para gastar o resto dos pesos que tinham sobrado, eram poucos, depois foi o tão desejado embarque.

Durante cerca de vinte minutos o avião esteve sujeito a uma turbulência nada agradável, mas pensar que aquela era a viagem que muitos de nós chegamos a pensar que poderíamos não chegar a fazer…
Depois desses minutos agitados, a que fomos sujeitos, o resto da viagem decorreu normalmente, na tarde desse dia “2 de Abril de 1974” o avião aterrava no Aeroporto da Portela com saída por Figo Maduro e, dali para o RAL 1, (creio que se chamava assim) onde fizemos o resto do espólio, depois foi o regresso à vida civil.

A guerra já não viria a durar muito tempo porque tinha acontecido já o 16 de Março e poucos dias depois, a 25 de Abril, aconteceu o movimento dos capitães.

Com tantas ocorrências, em tão pouco tempo, fiquei de algum modo confuso.
A grande preocupação, e que bastante me afligia, era pensar se o material de guerra faltava, particularmente aos que nos tinham ido render a Cobumba, como seria que conseguiam dar conta do “recado… assim como todos aqueles que estavam nas piores zonas de guerra, que eram muitas.
Politicamente, não tinha nenhum conhecimento daquilo que estava a acontecer, daí que enquanto a maioria das pessoas vivia intensamente em clima de festa, eu, só depois de saber que os combates na Guiné tinham terminado, fiquei mais tranquilo, porque até então passei alguns dias bastante perturbado.

Felizmente aquilo que mais me preocupava, não aconteceu. Outras situações aconteceram, de que muitos se deviam de envergonhar, mas a guerra é assim, todos saem a perder, só que uns mais que outros…

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarada António Ferreira

É curiosa esta narrativa em que descreves a tua dificuldade em 'digerir' o que se estava a passar à tua volta, com os acontecimentos a correrem a grande velocidade, sem que te tivesses ainda tempo de te habituares à nova situação.

Com mais ou menos 'pressão' acho que aconteceu um pouco com todos nós, principalmente aquando dos regressos em avião.

Recordo-me que nos primeiros dias, talvez uma semana ou duas, após o meu regresso, andava 'estranho', taciturno, as pessoas, amigos e familiares perguntavam o que tinha, mas não havia resposta para dar....

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caros Combatentes:

A mesma realidade vivida Sentida) de forma diferente: nós que estávamos lá, eufóricos e optimistas em relação ao desfecho da guerra; o Eduardo, chegado há poucos dias, a Lisboa, preocupado com a eventualidade de não haver reabastecimento de munições.
Um abração e Bom Ano para todos.
Carvalho de Mampatá.