terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...



O novo sítio da Fundação Nelson Mandela, o projeto de arquivo digital Nelson Mandela, com apoio do Google > Nelson Mandela Centre of Memory


1. Mensagem de  António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993] [foto à direita, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, 2007]


Data: 10 de Dezembro de 2013 às 00:20

Assunto: Ouro da terra de Mandela e os "invejosos"


Envio, com a devida vénia ao © Google Earth (2013), uma imagem geral e um pormenor de uma das montanhas de solos doirados, retirados por mais de 100 anos das minas sul-africanas. (É possível calcular aproximadamente os metros cúbico daqueles montes.)

Durante 24 sobre 24 horas, ouro de 24 kilates saíu das minas e do esforço dos milhares de "carcamanos" e de milhões de negros vindos de Namíbia, Moçambique, Angola, Rodésia, Botsuana, Malawi , Zâmbia e mais países que a indiferença dos meus vinte e trinta anos esqueceu.

Até me admiro como me ficou tanto nome na cabeça. Mas agora aqui entra a explicação que se ouvia constantemente em Angola por muitos angolanos, moçambicanos e guineenses justificarem uma das razões para quererem ser independentes.

Principalmente brancos e mestiços em Angola diziam, nos anos da "paz colonial" antes de 1961, que se fossem independentes como os sul-africanos...!

E já falavam nas "paletes", "resmas" de oiro, que o Salazar e os portugueses atrasados escondiam e não deixavam explorar, principalmente em Angola que ainda era "mais rica" que a África do Sul. Sem falar no petróleo e nos diamantes e cobre que já eram conhecidos e explorados em Angola mas pouco!... Porque se fossem eles a tomar conta da terra deles...! [Não adivinhavam(mos) que haveria um ouro mais valioso de muitos kilates que foi Mandela.]

Claro que nunca se ouviam estas conversas aos milhares de velhos régulos, sobas que com seus filhos de zagaia na mão, e suas mulheres de enxada na lavra e filho às costas, também eram gente,

No tempo da "paz colonial" de Salazar,  e de certa maneira de Norton de Matos, de Henrique Galvão que também calcorreou um pouco de Angola, e foi governante, até parecia que era fácil fazer mais e melhor do que aquilo que se fazia com Salazar a mandar para lá o cólon.

Até se dizia que no caso de Angola ainda se faria de Luanda uma Nova York.

Os angolanos sempre tiveram a mania das grandezas e, lá está, Luanda até parece uma coisa descomunal. (Tabancas na vertical deve ser fantástico.)

Estas conversas não eram habituais em caboverdeanos, e no caso de Angola, onde eram muitos milhares, enchiam tudo quanto é repartição, e não se pronunciavam, principalmente de ilhas que não talvez Santiago.

Os caboverdeanos em Angola eram tantos e ocupavam tantos espaços, que quem tivesse um amigo caboverdeano, nem precisava de se dirigir às repartições tratar de qualquer assunto,  era um simples telefonema. Desde Notários, Alfandega, Finanças (fazenda),  Registos, Judiciária, Câmaras...lá estava um amigo verdeano para tratar do assunto, não era preciso ir para a forma.

As conversas naquela "paz colonial",  por exemplo quando foi das eleições de Delgado, em 1958, muitos falavam abertamente na perspectiva que sem o Antoninho a independência era possível. Não sei se pensavam qual seria o papel dos sobas e sua família.

Isto digo eu hoje, porque com 19/20 anos, sem direito a voto, eu só pensava em coisas mais interessantes.

O que era mais habitual ouvir a quem era funcionário, era o desejo de ver Salazar caír com a eleição de Delgado, pois há muitos anos que o Antoninho não n(os) aumentava.

Evidentemente que havia muitos angolanos, guineenses e moçambicanos que pensavam numa independência não só a pensar nas riquezas que "Salazar" não deixava explorar.

Mas havia muitos a misturar salazarismo e colonialismo, como se com outros como Delgado seria diferente, o que não era uma certeza, mas que havia na cabeça de muitos a ilusão que se fosse como na África do Sul, sem apartheid, era uma maravilha, havia muito "branquinho e mesticinho" com uma grande, enorme, descomunal ilusão.

E,  a provar isto, podemos constatar hoje, mas também logo em Março de 1961, foi o aparecimento no norte de Angola, de Holden Roberto e a sua UPA com suas chacinas racistas,  tribalistas, e até mesmo com laivos de separatistas, que marcou a luta do MPLA, PAIGC e FRELIMO.

Holden Roberto era mais pró Mugabe do que pró-Mandela. Mandela só houve um, infelizmente só um. Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo na país do oiro.

É bom que assim seja. Muitos outros homens africanos foram errados no momento errado no país certo. Mais do que o ouro, o grande valor da África do Sul foi Mandela.

Todos os Africanos deviam ser Mandelas, mas há muitos que são mais Mugabe.

Cumprimentos e fico-me por aqui,

Antº Rosinha





África do Sul > Joanesburgo > Soveto > Restos de explorações mineiras ("mine dumps") > Imagens do © Google Earth (2013), selecionadas pelo nosso topógrafo António Rosinha, e  reproduzidas aqui  com a devida vénia...

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12373: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (26): Nós, tugas, somos mesmo estranhos...

6 comentários:

constantino disse...

Caro António Rosinha:

Venerar um declarado, ASSASSINO e RACISTA, não lembraria ao diabo!!!

Cumprimentos,
Constantino Costa

JD disse...

A vida é uma coisa séria, muitas vezes trágica, às vezes cómica (ou confragedora).
Cito a Primeira Lei Fundamental da Estupidez Humana:
"Cada um de nós substima, sempre e inevitavelmente, o número de individuos estúpidos em circulação"
Os autores do Antigo Testamento estavam cientes da existência da Primeira Lei Fundamental e parafrasearam-na quando afirmaram que "stultorum infinitus est numerus", mas cairam num exagero poético. O número de pessoas estúpidas não pode ser infinito, porque o número de pessoas vivas é finito - Carlo Cipolla.
Já agora coloco uma questão ao pessoal:
Já é sabido que o nosso Presidente vetou uma decisão das UN com vista à libertação de Mandela. Já lá vão umas duas décadas. Agora, deslocou-se à África do Sul para as cerimónias fúnebres. Não sei de quantas pessoas se compõe a comitiva nacional, nem o custo colectivo da deslocação, mas faço votos de que, no mínimo, o Presidente venha persuadido a imitar Mandela na simplicidade, na solidariedade, e na harmonização das diferentes raças que vivem no nosso País, e que essas manifestações comecem a verificar-se em conformidade com os sacrificios que estão a ser pedidos à esnagadora maioria da população. Que o Presidente regresse probo.
Regresso à lei fundamental da estupidez, para recordar que Mugabe foi um dos favoritos da Internacional Socialista, e que evoluíu para o monstro que destruíu o Zimbabwe, pela simples razão de que não cai do céu, quando se gasta sem produzir. E ali o gastar assemelhou-se a pilhar.
Talvez não tenha andado longe do que tem feito a plutocracia em Portugal.
JD

Anónimo disse...

Caro JD,
Vamos fazer justica ao Sr. Pr. da República.
Na ONU foram votadas duas moções sobre a libertação de Mandela. Uma em que se pedia a libertação de Mandela e o uso de violência, se necessária, para derrubar o governo de então. Portugal votou contra, julgo que bem. Portugal votou a favor naquela em que apenas se clamava pela libertação de Mandela.
Abraço,
José Câmara

JD disse...

Viva Zé Câmara!

Fui ver a moção da Assembleia-Geral, de 20NOV1987, e no ponto 2, cfr a minha tradução, refere sobre a luta do povo... e o seu direito para a escolha dos meios necessários, incluindo a resistência armada, com vista à erradicação do apartheid.
Assim, não notei que a "resistência" tivesse o objectivo tolerada, ou estimulado, para derrubar o governo.
Esta pequena diferença, pode ter-se estribado no princípio do direito que legitima (em certas circunstâncias) a auto-defesa, com especial enfase nos EUA.
Já passou muito tempo, e hoje temos outro olhar para os problemas daquela época, mas não deixa de ser sigmificativo que só 3 nações tivessem votado contra.
Com isto, não me custa aceitar que Portugal tivesse regeitado a moção, bem acompanhado, como forma de consolidar (já tinha captado) o apoio americano para as lutas que travava em Àfrica, e para a defesa dos interesses económicos que representava para os americanos, eles sim, os maiores beneficiários do nosso "colonialisno" pelo controle sobre os mercados. Por outras palavras, os EUA garantiam apoio politico, e Portugal(subserviente) continuava a entregar-lhes riqueza.
Um grande abraço
JD

JD disse...

Zé Câmara,
Baralhei-me todo, e o final do meu comentário é absurdo, na medida em que em 1987 já não havia colónias portuguesas. Mas havia outras dependências geo-estratégicas, e Portugal era uma plataforma para a América. E continuava subserviente, pois claro.
Peço desculpa pela baralhação.
Um abraço
JD

Antº Rosinha disse...

Vivas a Mandela porquè?

Também por isto:

A Guiné Bissau só já lá vai entregando-se definitivamente nas mãos da Legião Francesa como o Mali, República Centro Africana, etc.

Voltamos às guerras de Pacificação.

Já no tempo do próprio Luís Cabral a Guiné fazia ameaças de trocar Lisboa-Bissau por Paris-Bissau (TAPporAir France)

Tinha poupado muitos milhões de viagens pagas em Pesos que o Banco de Portugal pagou a Guineenses, compensando a TAP, atravez dos "perdões da dívida"

Dá vontade de dizer que se juntem à Casamance e desapareçam, que desculpem aqueles caboverdeanos e guineenses que adivinham a bagunça e se juntaram na luta contra aquelas independências com "MUgabes" e "Holden Robertos" etc."Netos, Nitos e Ninos".

O que é que Amilcar tinha na cabeça!

Já Amílcar dizia e escrevia que Portugal não dava independência porque não tinha força para um "Neo-colonialismo"

Viva Mandela!